02- Reencontro e ligaçõens
Dois dias depois, Gabriel se encontrou ao lado de sua avó, pronto para o festival. O local estava repleto de barracas coloridas, aromas deliciosos e uma energia vibrante, com pessoas de todas as idades desfrutando das comidas típicas e das apresentações culturais. Como jurada, Antonella estava animada, e Gabriel, embora um pouco fora de seu elemento, não pôde deixar de se envolver na animação ao seu redor.
Ele observou os cozinheiros e chefs que estavam participando do concurso, impressionado com a paixão e o cuidado que cada um colocava em seus pratos. E foi naquele momento, no meio da movimentação, que ele começou a sentir um certo calor no peito. A comida, o festival, a convivência com sua nonna e as pessoas ao redor... tudo aquilo parecia um reflexo do que ele sempre soubera no fundo de sua alma: Gênova era sua casa, e ele ainda tinha muito a aprender e a viver ali.
Eles caminhavam pela feira quando Antonella, com seu olhar atento, chamou o neto e o tirou dos seus pensamentos.
— Querido, aquela moça ali não é a Laís? — perguntou Antonela, apontando discretamente.
Gabriel se virou rapidamente para olhar na direção indicada, mas antes que pudesse responder, Antonella já estava a caminho de encontro a morena.
— Laís! — exclamou, com um sorriso caloroso.
— Sra. Antonella, quanto tempo! — disse a morena, surpresa. — É muito bom ver a senhora.
— Nada de "senhora", me chame de nonna, querida.
— Me scusi, nonna.
— Assim está bem melhor. — Antonella sorriu, satisfeita com a resposta.
— Eu não esperava te encontrar aqui. — Laís comentou.
— Fui convidada para o evento e acabei trazendo o Gabriel, já que ele está tirando umas férias do Japão.
— Oi, Gabriel. — Laís acenou para ele de forma calorosa.
— Oi, Laís, realmente já faz um bom tempo que não nos vemos...
— Pois é... realmente já faz um bom tempo... — disse, desviando o olhar do loiro, visivelmente desconfortável.
— Fiquei sabendo do incêndio na padaria... Eu sinto muito, querida. — Antonella comentou com um tom de empatia, e Gabriel arqueou uma sobrancelha confuso sem entender nada doque a avó estava falando.—
— Pois é, foi um grande susto, nonna... E graças a Deus, minha avó não estava na padaria no momento, e ninguém se machucou. Mas, a saúde dela já não é a mesma de antes, ela passou mal esses dias, e esta no hospital da cidade em observação.
— Houve muitos danos?
— Infelizmente, sim. E a reforma não vai ser barata.
— Você vai reformar?
— Sim... Eu estou voltando para Gênova para ficar com minha avó. Ela foi quem me criou, e acho que é o mínimo que posso fazer depois de tudo que ela fez por mim. Mas isso vai levar um tempo...
— Isso não vai sair barato...
— Não, mas estou pensando em vender meu apartamento no Brasil e até meu carro para poder investir nisso aqui.
— Mas onde você vai morar bambina?
— A Samyra me cedeu a antiga casa dela até eu me estabilizar, e conseguir reformar a propriedade.
Antonella suspirou profundamente.
— Você vai precisar de um bom arquiteto e engenheiro.
— Sim, já conversei com a Milena. Ela me disse que poderia me ajudar...
— O Gabriel também pode ajudar já que ele é um bom engenheiro, não é, bambino?
— Imagine...Eu não quero incomodar...
— Não é incômodo nenhum, tenho certeza de que ele não se importa não é mesmo Gabriel?
— Mas, eu não quero incomodá-lo nonna...
— Não é incômodo, Laís. Eu posso te ajudar sem problema algum... Não me custa nada.
Antes que Laís pudesse responder, uma voz se fez ouvir ao longe chamando seu nome.
— Laís, o concurso de confeitaria vai começar!
— Me desculpem, mas preciso ir. Foi um prazer revê-los, nonna... E você também, Gabriel. — Ela sorriu timidamente, desviando os olhos novamente do loiro.
— Boa sorte no concurso, querida. — Antonella segurou a mão da jovem com carinho, enquanto Gabriel apenas acenava com a cabeça, um leve sorriso no rosto.
— Obrigada, vou precisar! — Laís respondeu, já se afastando, enquanto um organizador do evento a conduzia para outro lado. Antonella observou a jovem desaparecer entre a multidão e, em seguida, voltou-se para o neto com um olhar que misturava curiosidade e satisfação.
— A senhora sabia que ela estaria aqui? — perguntou Gabriel, cruzando os braços, lançando à avó um olhar desconfiado.
— É óbvio que não, bambino. Isso foi uma coincidência. — Antonella respondeu, ofendida pela insinuação.
— Não sei, isso é suspeito demais, nonna.
Antonella parou, colocando a mão no peito dramaticamente.
— Você está desconfiado de mim, uma pobre senhora de 80 anos? Você é um neto muito ingrato. — A voz da idosa carregava um tom teatral, mas seus olhos brilhavam com diversão.
Gabriel bufou, sabendo que sua avó estava exagerando de propósito.
— Só para sua informação, eu não sabia que ela estaria aqui. Como eu disse, foi uma coincidência. — Antonella continuou, séria desta vez. — Mas faz sentido ela estar participando do concurso de confeitaria, pois tem um prêmio em dinheiro, e ela precisa disso para reerguer a padaria.
Gabriel ficou em silêncio, e Antonella aproveitou para desabafar.
— Você sabe melhor do que ninguém que Laís nunca teve uma vida fácil. A família dela é simples e humilde. Ela começou a trabalhar muito jovem na padaria para ajudar a avó e, mesmo quando foi para a faculdade, continuou ajudando. Ao contrário de você e seus amigos, que nasceram em berço de ouro, ela só tinha a avó para apoiá-la.
As palavras da avó pesaram no peito de Gabriel, que abaixou o olhar, sentindo uma pontada de culpa.
— A mãe dela morreu quando ela tinha dez anos. O pai? Casou de novo e foi para o Brasil, deixando-a com a avó. Laís voltou para Gênova por causa dela.
— A saúde da avó está ruim? — Gabriel perguntou, finalmente quebrando o silêncio.
— Sim, muito. — Antonella suspirou profundamente. — Fiquei sabendo que ela está se esquecendo de tudo... Alguns dias atrás, foi internada no hospital da cidade logo após o acidente, mas a transferiram para o Santa Amália, em Gênova. Matteo falou que a situação não é boa. Está debilitada e talvez... talvez não dure muito tempo.
Gabriel sentiu o estômago revirar. As lembranças de Laís, sempre sorrindo, correndo pela padaria enquanto ajudava a avó, inundaram sua mente. Era difícil aceitar que agora ela enfrentava tanto sozinha.
— Nonna, eu vou ajudá-la. Não sei como ainda, mas vou.
Antonella sorriu, orgulhosa.
— Eu sabia que você faria a coisa certa.
Gabriel deu um passo em direção ao palco, mas parou ao ouvir a avó dizer:
— Só não demore, bambino. O tempo é precioso, especialmente para ela.
Ele respirou fundo, ciente de que precisava agir. Não era apenas sobre ajudar Laís a reformar a padaria, mas sobre reconquistar a confiança de alguém que significava mais do que ele estava disposto a admitir.
Enquanto Laís iniciava a competição, Gabriel decidiu que aquele era o momento para começar a se aproximar novamente. E, dessa vez, ele não a deixaria carregar o peso do mundo sozinha.
— Vamos assistir ao concurso? — perguntou ele, mudando de assunto, e Antonella sorriu, balançando a cabeça em concordância.
O local estava repleto de barracas coloridas, aromas deliciosos e uma energia vibrante, com pessoas de todas as idades desfrutando das comidas típicas e das apresentações culturais. Como jurado, Julia estava animada, e Gabriel, embora um pouco fora de seu elemento, não pôde deixar de se envolver na animação ao seu redor.
Ele observou os cozinheiros e chefs que estavam participando do concurso, impressionado com a paixão e o cuidado que cada um colocava em seus pratos. E foi naquele momento, no meio da movimentação, que ele começou a sentir um certo calor no peito. A comida, o festival, a convivência com sua avó e as pessoas ao redor... tudo aquilo parecia um reflexo do que ele sempre soubera no fundo de sua alma: Gênova era sua casa, e ele ainda tinha muito a aprender e a viver ali.
No palco, a competição estava acirrada, e Gabriel acabou se envolvendo mais do que imaginava. Quando sua mãe o puxou para comentar sobre um prato, ele percebeu que, apesar da pressão do trabalho e das incertezas sobre o futuro, aquele momento de descontração e conexão com sua família e sua cidade era exatamente o que ele precisava para fazer as pazes com suas escolhas.
quando o resultado finalmente saiu, ele quase pulou de alegria pela vitória de Laís. Ela não só levaria o troféu para casa, como também a quantia em dinheiro.
Laís caminhava em direção a Gabriel e Antonella, empolgada com seu pequeno troféu e a quantia em dinheiro que havia acabado de ganhar. O sorriso em seu rosto era iluminado, e por um momento, parecia que todo o peso que carregava havia desaparecido.
— Parabéns, querida! — Antonella disse, abrindo os braços para abraçá-la.
— Obrigada, nonna. — respondeu Laís, retribuindo o abraço com carinho.
Gabriel sorriu de lado, observando-a.
— Foi uma boa apresentação. Você mereceu.
Laís abaixou o olhar, tímida, mas o brilho de felicidade ainda estava ali. Antes que pudesse responder, o som do celular interrompeu o momento. Ela pegou o aparelho rapidamente, vendo o nome do hospital na tela. Sua expressão mudou instantaneamente.
— Alô? — Sua voz saiu tremula.
Gabriel e Antonella trocaram um olhar preocupado enquanto Laís ouvia atentamente do outro lado da linha. De repente, suas mãos começaram a tremer, e os olhos ficaram marejados.
— O que foi, querida? — perguntou Antonella, aproximando-se.
Laís desligou a ligação, a voz presa na garganta antes de conseguir falar:
— Minha avó... Eles ligaram do hospital... — Sua respiração ficou acelerada. — Ela piorou. O estado dela é crítico. Eu preciso ir para Gênova agora!
Ela tentou controlar as lágrimas, mas era impossível esconder o desespero. Antonella segurou seus ombros com firmeza.
— Respire, bambina. Nós vamos resolver isso.
— Eu... Eu não posso perder mais tempo! — Laís começou a andar na direção de onde havia estacionado o carro, mas Antonella segurou seu braço.
— Você não está em condições de dirigir bambina. Gabriel, vá com ela.
— O quê? Mas, nonna... — Gabriel começou, surpreso.
— Nada de "mas"! Você vai com ela. Laís não está em condições de pegar a estrada sozinha.
— E a senhora? — perguntou Gabriel, preocupado.
— Não se preocupe comigo. Estou em boas mãos... Lorenzo, pode me buscar mais tarde. Agora vá. Quanto mais cedo saírem, melhor.
Gabriel suspirou, pegando as chaves do carro.
— Vamos, Laís.
Ela hesitou por um segundo, mas assentiu, percebendo que Antonella estava certa. Enquanto caminhavam até o carro, Gabriel percebeu que Laís estava trêmula. Ele abriu a porta para ela, ajudando-a a entrar antes de dar a volta e assumir o volante.
O silêncio tomou conta do carro enquanto ele dirigia pelas estradas sinuosas em direção a Gênova. Laís olhava fixamente pela janela, com os olhos marejados, claramente perdida em seus pensamentos.
— Ela vai ficar bem. — Gabriel disse, sua voz baixa, mas firme.
Laís olhou para ele, surpresa, antes de desviar o olhar novamente.
— Eu só... Eu não sei o que vou fazer se algo acontecer com ela. Ela é tudo o que eu tenho, Gabriel. — Sua voz quebrou no final, e ela levou as mãos ao rosto para esconder as lágrimas.
Gabriel não respondeu imediatamente. Ele apenas estendeu uma das mãos e tocou a dela gentilmente, transmitindo um conforto silencioso.
— Você não está sozinha. Eu estou aqui.
As palavras simples e sinceras fizeram Laís finalmente encará-lo. Ela percebeu algo em seus olhos que não via há muito tempo: sinceridade e preocupação genuína.
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