Capítulo 8 - Parte III
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Assim que chegaram e sentaram-se ao redor do chafariz central do pátio, Denis pôs-se a falar. Os braços de Lola agora apoiavam-se nele.
— Então, me desculpe hoje de manhã. Eu estava um pouco desanimado.
— Sei porque você está desanimado, Denis. — Sua expressão muda e ela o abraça.
Mesmo sentados de lado, o abraço conseguiu se encaixar perfeitamente e ficaram ali por um bom tempo. Então, gradualmente se soltaram e Lola continuou:
— Deve ter sido tão difícil pra você... Ver todas as pessoas que gostava saírem daqui... E agora, você já sabe, não sabe? — ela perguntou, acanhada.
— Sim, Lola. Eu soube hoje de manhã. — ele disse comovido.
Ela assentiu. Havia lágrimas que tentavam sair de seus olhos e ela pôde notar o mesmo vindo dele.
— Não precisa me desculpar por nada, Denis. — ela disse. — Eu não consigo me imaginar longe daqui, de você... Não quero ir, honestamente.
Denis franziu suas sobrancelhas. — Não diga isso... — Ele pediu. — Você terá uma vida digna de se viver. Vai entrar numa escola de verdade... Você vai gostar! — ele lhe garantiu. Colocou seu cabelo atrás de sua orelha. Viu que ela estava mais triste do que ele esperava, o que por um lado era um sinal de que ela gostava dele. Ele queria pedi-la em namoro, mas não sabia qual seria a sua reação, muito menos como seria o namoro. Decidiu que apenas o tempo iria lhe dizer.
— Ah, Denis... Vou sentir tanta falta de você! — ela o abraçou mais uma vez.
Ele a afastou dessa vez, pois uma freira estava os encarando.
— Lola... — ele pediu gentilmente.
— Ah... Deixa... — ela disse, olhando para a freira e voltando a se sentar normalmente.
— Então... Me diga o que você sabe sobre seus novos pais. — ele pediu, trocando de assunto.
Lola não conseguiu evitar um sorriso, mas foi cuidadosa com as palavras para não o magoar.
Quando terminaram de conversar, prometeram um ao outro que no dia seguinte eles não iriam mencionar sobre a adoção e a partida de Lola. Eles iriam se divertir como nunca. Iriam para a montanha-russa do píer de Santa Monica mesmo que ela fosse pequena e "sem graça". Iriam experimentar bebidas exóticas e até alcoólicas, dançariam e jogariam cassino em Las Vegas e nunca se esqueceriam dos momentos que compartilharam.
No fim do dia, Lola foi até seu quarto arrumar metade da mala, caso ela quisesse partir com seus pais adotivos na sua volta ao orfanato. Também arrumou a mala da praia, colocando o vestido e algumas maquiagens que Claire havia emprestado. Escreveu em seu diário e terminou de ler seu primeiro livro de romance — Diário de uma Paixão — e se lembrou de Denis.
No fundo, ela ficou magoada porque ele não havia lhe pedido em namoro, mas, tinha certeza de que ele a pediria em Las Vegas, por ser um lugar mais especial e bonito.
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O despertador tocou e Denis e Lola estavam se levantando às 5:30. O dia ainda estava um tanto escurecido, havia bastante nuvens no céu. Os dois se arrumaram e se encontraram no pátio. Com olhares ainda cansados, se deram bom dia e andaram juntos. Denis levava uma pequena mochila contendo suas roupas e Lola levava apenas uma mala. Os dois estavam arrumados casualmente, pois ainda tinham um visual de manhã cedo. Denis ofereceu-se para levar a mala de Lola e os dois encontraram-se com Claire. Ela havia acabado de chegar com seu carro preto — ainda não era seu expediente — mas ela possuía um dia de folga.
Eles entraram em seu carro, guardando toda a bagagem e simplesmente foram.
Chegaram até o píer por volta das 6:45. Já havia poucos turistas andando sob as estradas que haviam ao redor da praia. Claire estava dirigindo e os dois pombinhos estavam sentados atrás com seus corpos mais juntos do que de costume.
— Vamos, gente. Peguem seus itens de praia! — disse Claire animada. Ela trouxera muitas coisas consigo. Guarda-sol, toalhas para forrar o chão, espreguiçadeiras, protetores solares e um mini refrigerador portátil guardando lanches e sucos.
Denis a ajudou levando tudo isso à beira da praia e as montando próximas de outras pessoas que já estavam no local. Então, os três foram até cabines que haviam próximas aos banheiros para trocarem de roupa.
Quando Denis saiu, estava usando apenas uma bermuda. Seu peito estava depilado e ele estava em ótima forma. O trabalho duro do orfanato o mantinha com um bom físico, além de ter se exercitado um pouco em seu próprio quarto.
Quando Lola saiu, vestia um biquíni vermelho de bolinhas brancas com rendas ao lado da cintura. Claire estava de regata e saia longa.
Denis não pôde evitar não olhar para o corpo de Lola. Estava fantástica e era a primeira vez que usava poucas roupas. Aliás, não era o tipo de garota que usava biquínis e mostrava o corpo, mas dessa vez, ela queria o impressionar. Ela o olhou e viu seu olhar paralisado. Então pegou um leve pano preto e solto, amarrou-o na cintura, pois se sentia vulgar. Ficou apenas com a parte de cima à mostra. Denis então voltou sua atenção e foi o primeiro a retornar ao espaço deles, xingando baixinho seu membro entre as pernas que estava ficando rígido.
Quando Claire e Lola chegaram, Denis estava sentado na areia com pernas dobradas. Claire deitou-se na espreguiçadeira e começou a passar protetor com óculos solar no rosto. Lola sentou-se ao lado de Denis e o indicou com a cabeça apontando para a praia. Ele já sabia o que isso significava, mas antes que Denis e Lola quisessem fugir para o mar, Claire os parou e disse:
— Ei! Aonde pensam que vão? Podem passar os protetores agora mesmo! — ela mandou.
Denis olhou para Lola e a mesma lhe retribuiu um olhar de quem dizia: "Acho que não vamos ter tanta liberdade assim." Sorriram um ao outro e retornaram.
Lola pensou consigo mesma. "Vou fazê-lo me pedir em namoro, quero seduzi-lo e ver o que acontece. Se ele vai querer ficar comigo, vai morder a isca." Então teve uma ideia incomum.
— Denis, pode passar protetor solar nas minhas costas?
Ele lhe deu um sorriso. Lola deitou-se de barriga para baixo na espreguiçadeira. Denis sentou na beirada e com todo o cuidado começou a passar protetor solar em suas costas.
Claire estava de olho e até abaixou os óculos para ver a cena. Pensou consigo mesma: "Se ele direcionar aquela mão para outra região eu grito." — mas manteve-se calma, pois conhecia Denis.
Denis estava tentando se segurar. Sentir as costas de Lola semi nua, era como viver o mesmo sonho que ele já teve. Dez vezes melhor na realidade do que no sonho. Inconscientemente, colou os lábios tentando não pensar nisso. Passou o protetor em suas costas e no pescoço, passou em sua cintura e até o fim do biquíni. Lola não poderia estar se sentindo mais relaxada do que nunca. Ela virou-se e com olhos sedutores lhe disse:
— Obrigada. Minha vez. — ela sentou-se e Denis deu às costas a ela.
Ele evitou sorrir, pois estava agora de frente com Claire, que fingia estar lendo uma revista, mas estava atenta.
Lola tinha as mãos delicadas e percebeu que quando passava o protetor em suas costas, seus pelos do braço se arrepiaram. Terminou o processo com uma cara travessa.
— Podemos ir agora? — perguntou Lola para Claire.
Ela assentiu. Lola deu uma leve massageada nos ombros de Denis e lhe sussurrou: — Vamos!
Denis sorriu e os dois correram até a água como se fossem crianças, e se arrependeram muito... A água estava muito gelada, pois ainda era de manhã e o sol ainda estava nascendo, mas foi de fato uma cena muito bonita e os dois puderam ver isso acontecendo de perto. Claire não tirava os olhos dos dois, então algo lhe chamou mais a atenção. Pegou o celular e viu três chamadas perdidas de um número de desconhecido.
— É ele de novo... — pensou.
Retribuiu a mensagem do número desconhecido que lhe dizia "Bom dia" e lhe perguntava "O que você vai fazer hoje?". A verdade, era que Claire tinha seus próprios motivos de ter tirado uma folga. Queria se ver livre do trabalho, do stress e problemas alheios. Tinha seus próprios problemas — no máximo um cara perseguidor —, mas isso já mexia com seu psicológico.
Assim que desligou o celular, o guardou dentro de sua mochila e prestou atenção em Lola e Denis. Analisava os gestos, os sinais e como Lola havia mudado repentinamente. Uma garota silenciosa e tímida que perto de Denis se transformava numa garota extrovertida, viva e brincalhona. Chegou a pensar se ela ainda tomava pílulas para a depressão. Deduziu que sim, e que as doses poderiam ser diminuídas; pois, agora via que ela apenas passava por um momento de trauma e que tudo isso já estava no passado.
Denis e Lola voltaram encharcados, mas pelos menos vestiam as roupas de banho. Lola havia desprendido sua saia quando entrou na água, ou será que Denis havia tirado, ou a onda levado?
Os três sentaram-se e lancharam. Quando foram 8:00, os parques de diversões no píer abriram e Denis e Lola decidiram ir. Claire os acompanhou, mas estava andando bem separadamente. Não queria atrapalhá-los.
A primeira coisa que fizeram foi entrar na fila — que só havia eles e mais cinco pessoas —, para a montanha-russa sem graça, mas popular, do píer de Santa Monica. Obviamente sentaram-se juntos e o percurso todo riram e se divertiram. Quando o brinquedo parou, havia tantas pessoas na fila que decidiram não voltar mais. Era incrível como aquele lugar era visitado por tantos turistas. Já havia surfistas e vendedores na praia. Lojas já estavam abertas e eles ficaram um pouco perdidos. Acompanharam a Claire para jogar entre diversas barracas, desafios como: acertar a mira em pirâmides de copos plásticos, acertar bolas brancas em copos que ficavam bem afastados, entre outros. Lola se mostrou muito boa nos tiros, e quando venceu, escolheu ganhar uma pequena coroa de princesa. Denis sorriu com a sua tamanha felicidade ingênua. Colocou-lhe a tiara e lhe deu um beijo na testa. Claire tossiu indicando estar presente, então eles disfarçaram.
— Minha vez. — disse Denis, pegando a arma de Lola e mirando nos copos.
Deu três tiros e não acertou nenhum. No último, acertou de primeira. Fez todos os copos caírem.
— Uau, parabéns! — exclamou Claire.
— Nossa Denis, que profissional! — disse Lola, sorrindo.
— Que prêmio vai querer ganhar? — perguntou o vendedor.
Ele avistou vários ursinhos pendurados na parte do teto da barraca, como se fosse um varal de prêmios. Pensou bem e de todas as coisas ele pediu:
— Quero aquele da direita, por favor.
— Esse conjunto? — o vendedor perguntou.
— Sim. — e foi-lhe entregue.
— Denis, que legal! — Lola exclamou animada.
— Então, não sei como isso funciona... — admitiu, envergonhado.
Claire sabia exatamente o por que ele havia escolhido aquilo.
— Deixe-me lhe ensinar. — Claire se oferece.
Ela abre o pacote e mergulha a arma em um barril cheio de água. Depois puxa-a de volta e começa a dar tiros pequenos de esguichos de água nos dois. Eles tentaram se defender e então os três riem. Lola e Denis pegam as arminhas e começam a atirar um no outro. Primeiro ali mesmo, depois foram se afastando e correndo em direções opostas, se protegendo em colunas de parede e barracas, até que ficaram muito longe e voltaram junto de Claire.
Não era culpa dos dois, pois eles praticamente não tiveram infância e aproveitaram o momento.
Quando voltaram, caminharam de mãos dadas e sorrisos. Até aí, Claire permitia. Seguiram as trilhas até o lugar onde estavam então algo de repente mudou aquele dia. O sol sumira, deixando o clima um pouco abafado e úmido. Então, começaram a cair leves gotas de chuva que ficaram fortes muito rápido.
— Nossa! — Claire exclamou. — Vamos ter que buscar nossas coisas, se não vão se molhar! — ela corre em direção à praia.
Denis chegou primeiro e começou a desfazer todas as coisas montadas. A chuva ia caindo cada vez mais forte, com gotas longas e nervosas. Eles tiveram que voltar ao carro correndo.
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