Capítulo 8 - O Entardecer
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Após o almoço que estava razoavelmente bom, Lola se perguntava porque ele parecia tão distante. Talvez um pouco sem ânimo ou sem vontade de conversar muito. Ela sabia que algo o estava incomodando, e definitivamente pensou que ele não gostara do seu beijo assim como ela gostou do dele, ou talvez não a queria do mesmo jeito que ela o queria.
— Talvez eu tenha entendido tudo errado. Talvez ele nem mesmo goste de mim, e só se aproveitou. — ela pensou.
Eles se despediram casualmente, e Denis foi para o seu quarto enquanto Lola ficou no pátio lendo um livro.
A verdade era que Denis se sentia culpado por fazer o que fez. Não era de seu feitio, e talvez estivesse fora de si. Seu coração e sua vida estavam nas mãos do destino, mas ele tampouco queria parecer um louco.
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Naquele mesmo dia, Denis tinha horário com Claire. Normalmente seu horário era toda quarta-feira, às 14:00. Porém, não precisava comparecer à maioria das vezes porque ele não tinha diagnóstico de depressão ou coisa do tipo. Ele não sabia o que esperar da reação de Claire assim ela descobrir o que ele fez. Como não tinha escapatória, Denis compareceu em sua sala no horário certo.
Antes de entrar, suspirou fundo e abriu as portas.
— Com licença. — ele disse. Entrou, olhou para os lados e não encontrou Claire.
Ele ficou em pé esperando por ela. Então, conseguiu escutar murmúrios que vinham de uma sala ao lado. Os passos ficaram cada vez mais apressados e barulhentos e então, Claire entrou na sala. Num instante, desligara o telefone e começara a discutir com Denis.
— Denis! Denis, você está aí. Temos que conversar agora mesmo! — ela dizia com uma expressão de assustada; irritada.
— Calma, Claire. Eu posso explicar. — ele pediu.
Claire olhou para as paredes tentando esconder o rosto e o humor.
— Por favor, sente-se. Vai ter que me explicar o que fez agora. O que você fez... Foi... — ela não conseguia nem olhar em seu rosto enquanto ele olhava para ela.
Denis sentou-se, acanhado. Quando ele desviou seu olhar, ela pôs-se a falar encarando-o:
— Você tem noção do que fez? — perguntou Claire, aprofundando seus olhos nos dele, que permaneciam imóveis olhando para a mesa. Ela teve a impressão de que ele estava prestes a chorar, então diminui o tom de voz. — Denis, eu não acredito que você fez isso! Você tinha um futuro pela frente. Como pôde? Como pôde entregar isso tudo nas mãos de uma garota que você mal conheceu? — ela lhe perguntou com um tom triste. Sua voz começou a falhar e ela parou de falar por um minuto. — Você tem noção de que perdeu seu futuro por uma garota? Você pensa que vai ser fácil olhar no rosto daquele pobre casal e ter que dizer que você não quis ser adotado então eles terão que ficar com outra órfã?
— Eu li a ficha deles, Claire. Eles não pareciam quererem eu em específico! Eles queriam ambos! Menino e menina, e a idade não importava. Eles disseram também que queriam alguém mais velho porque já estaria prestes a ter que sair do orfanato e eles queriam dar um sustento à pessoa, mas, Claire... — ele se levanta e caminha até ela.
Claire fechou os olhos e cerrou os lábios, colocou o punho contra a boca e cruzou os braços. Denis chegou à sua frente e continuou:
— Eu não me importo de ficar aqui por mais um ano. Já fiquei 17 anos aqui, o que seria mais um ano? Para mim, tanto faz. Eu consigo arranjar um emprego, um lar por conta própria. Eu consigo me virar. Eu prometo. — ele disse.
Os olhos dela o olharam e ele notou que ela estava lacrimejando.
— Claire, eu senti ser preciso. Eu não preciso de uma família, tenho vocês! — ele disse, por fim.
Ela o continua encarando-o tristemente:
— Olha pra mim, Claire. Eu fui e sempre fui um órfão que ninguém queria, e isso nunca me deixou triste! A Lola tem 14, e ela não merece ficar assim que nem eu. Anos esperando que alguém fosse a adotar e nunca apareceu.
Claire não se conteve e começou a chorar. Ela o abraçou. Denis estava devidamente emocionado, porém, segurou as lágrimas e serviu de exemplo para ela.
— Denis, tenho certeza que você seria adotado muito antes se não fossem as regras burocráticas do orfanato... — ela disse enquanto o abraçava.
Depois que se soltaram, Claire continua.
— Mas eu nunca vou te perdoar por isso, Denis. Deus lhe deu esse presente, foi um ótimo presente de aniversário, um para toda a eternidade! Eu nunca vou conseguir entender...
— Não precisa entender, Claire. Daqui a um ano eu já vou estar fazendo faculdade e Lola provavelmente vai estar no último ano de um colégio caro, e então vai parecer que nossas vidas estão equilibradas. Ambos vamos estar bem, e fazendo coisas que gostaríamos de fazer.
— Denis, fico preocupada com você! Você não sabe como será o dia que vai sair daqui! Nós sempre damos apoio aos jovens quando estão de saída, mas... Você é como um filho para mim, Denis, e, a vida pode ser injusta, as coisas podem não sair como planejado! É muita coisa para você poder garantir em um ano! Você não tem tanto dinheiro assim para poder se sustentar... — Claire fala chorando. — Eu queria vê-lo com uma família completa. Um pai, uma mãe, um irmão ou irmã. Uma escola de verdade... Essas coisas. — ela diz com algumas lágrimas escorrendo sob o rosto. Ela pega o tissue e tenta limpá-las, mas foram praticamente inúteis.
Denis a abraça mais uma vez. Ele sabia que ela tinha razão sobre tudo que dissera; mas estava pensando positivo.
— Eu vou te mostrar que antes mesmo de sair daqui, eu vou conseguir uma vaga na faculdade, ou até mesmo uma bolsa de estudos! — ele fala — dessa vez — segurando seus ombros cruzados.
Ele volta até a porta de saída e antes que ele saia, Claire o interrompe.
— Espere, para onde pensa que vai? Ainda não terminamos! Você vai me ajudar. Sente-se. — ela fala imperativamente.
— Como assim? Ajudar no quê? — ele pergunta, mas cautelosamente vai até à cadeira e senta-se gradualmente.
Claire o acompanha com o olhar.
— Quero que me esclareça muitas coisas, Sr. Humbert!
"Droga. Me chamar pelo sobrenome definitivamente não é um bom sinal." — Denis concluiu.
— O quê você quer que eu esclareça? — ele a perguntou normalmente.
— Primeiro. Como que entrou na minha sala?
— Usei dois clipes.
Ela assustou-se, porém, estava impressionada. — E como fez isso?
— Eu desdobrei os clipes e os encaixei na fechadura, depois os girei em posições paralelas e a porta se abriu.
Mesmo que ela não tivesse entendido, aquilo já foi o suficiente.
— Está bem, e como falsificou a assinatura de Lola?
— Eu peguei a ficha de Lola do seu armário perto da mesa e procurei por sua assinatura. Depois, eu peguei uma folha transparente, pontilhei sua assinatura, passei com lápis e depois quando aprendi, passei tudo à caneta, e então eu voltei, deixei os papéis na ficha, os coloquei de volta e os outros documentos da adoção, tirei cópia e enviei por "fax".
Claire enrubesceu seus lábios e balançava sua cabeça como quem dizia "Parabéns", porém, queria lhe dizer o quanto se sentia enganada, e nunca imaginou que Denis fosse capaz de fazer algo tão calculado.
— Eu não sei nem o que dizer. — ela solta. — Sinceramente, Denis, se isso parar nos ouvidos de Freya, não sei nem o que pode acontecer. É a primeira vez que isso nos ocorre e eu não consigo imaginar o que vamos dizer ao casal que te conheceu.
— É só falar a verdade. — ele disse confiante.
Claire balança a cabeça negativamente. — Não sei se podemos fazer isso. Iria borrar nossa imagem ao público e Deus sabe mais quem...
Denis assente.
— Bom, eu sinto que não fiz uma escolha ruim, mas quanto tempo ainda tenho para ficar com Lola? — ele pergunta, curioso.
Claire olha para Denis com uma expressão de pena.
— Honestamente... No máximo 3 dias.
— Três dias?! — ele pergunta um pouco alto.
Shh! — ela faz um sinal com o dedo indicador.
— Desculpe.
— Denis, eu compreendo você, ok? Já me apaixonei antes, mas às vezes as pessoas não veem nossos esforços, nossas lutas. Elas simplesmente não ligam ou desmerecem nosso amor... — Claire tenta explicar delicadamente.
— Claire, eu não penso que Lola deveria saber.
— O quê? Por quê?
— Porque eu não quero ganhar uma medalha ou coisa do tipo. Só quero garantir que tenha uma vida ótima! — ele lhe diz. Cada palavra era verdadeira.
— Vou ter que conversar com Freya. Reze a Deus que ela te entenda! Não fale com ninguém sobre isso, Denis.
Ele assente.
Claire sai pela porta dos fundos e Denis também deixa a sala.
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Pela tarde, a freira Marie bateu em sua porta do quarto. Quando ele abriu, ela lhe disse:
— Denis, Freya quer falar com você imediatamente.
Denis engoliu seco.
— Já vou.
Ele colocou um casaco e deixou suas coisas em cima da mesa. Montara um portfólio sobre 'design' gráfico. Poderia acumular uma pequena fortuna para o poder ajudar na faculdade.
Chegando na sala de Freya, no último andar, começa a ter calafrios, e por tê-los, lembrou de Lola quando a beijou. Sentiu o braço dela se arrepiar por inteiro. Qualquer emoção negativa que poderia ter seria passageira comparado com os momentos que teve com Lola naquele dia. Respirou fundo e bateu na porta.
— Entre. — ouviu uma voz de dentro dizer.
Assim que ele abre a porta, Freya está com uma posição séria.
— Por favor, sente-se Denis. — ela pediu.
Ele foi e se sentou à sua frente.
— Sabe o por quê te chamei aqui? — ela entona uma voz rouca e severa.
— Sim, eu sei.
Freya assente. — Sabe que suas ações vão mudar completamente as coisas, não sabe?
— Sim, eu sei. — ele respondeu, olhando para mesa.
— Pois bem, Denis. Parabéns. — ela lhe disse com uma voz sincera.
Denis a olhou sem entendê-la.
— Você disse para Claire que essa decisão veio do coração e que sentiu ser a escolha certa a se fazer. Pois, saiba que existem poucas pessoas como você, e por sua alta compaixão com o próximo, vamos dizer à Lola que ela foi adotada. Você vai poder vê-la quando quiser.
Denis se sentiu abençoado pelo fato de Freya o entender e o apoiar.
— Espere, como assim vou poder vê-la? — ele perguntou.
— Conversamos com Antônio e Ashley. Eles estão admirados com a sua atitude. Não omitimos nada, e eles disseram que adorariam tê-lo na casa deles, como visitante a hora que quiser, mas, isso é um assunto interno e não podemos nos envolver. Isso depende de você e de Lola, correto? — ela arruma seus óculos e lhe dá um pequeno sorriso.
— Correto, senhora. — ele respondeu-lhe com os olhos brilhando.
— E mais uma coisa. Eles virão buscá-la em três dias a partir de hoje. Se quiser ter um momento a sós com ela, poderemos lhe dar outra permissão para sair, mas me escute — ela lhe aponta o dedo indicador — dessa vez, vocês vão acompanhados.
Denis arregala os olhos.
"Ela sabe que saímos apenas eu e Lola, sem Claire?" — se questionou.
Ele concorda com a cabeça positivamente.
— E quanto à assinatura que você falsificou...
Ele engole seco.
— Nunca mais repita isso. — ela volta a lhe falar com uma expressão absurdamente séria.
Denis dá um pequeno sorriso.
— Obrigada, Freya. — ele disse, sabendo que ela não gosta quando a chamam de senhora. — E sim, eu gostaria de sair com Lola mais uma última vez, se você permitir.
— Claro. — assine esses papéis novamente.
Ela coloca na mesa a mesma papelada de antes. Novamente, anotou que iriam à praia, mas não sabia exatamente se era isso mesmo que ele queria.
Ela lhe dá um aceno com a cabeça quando viu estar tudo preenchido e Denis agradece mais uma vez, saindo de sua sala logo em seguida.
Quem diria que uma bondade leva à outra, não é mesmo? — Denis assegurou-se.
Agora, era momento de conversar com Lola, mas logo na descida das escadas, ele a viu subindo com Claire.
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