Capítulo 7 - Amor no Papel
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No dia seguinte Denis e Lola se encontraram, e Denis foi direto com ela. Os dois se viram repentinamente no pátio, por sorte.
— Oi Lola, posso falar com você? — Denis lhe perguntou, enquanto Lola saía de dentro de uma das salas de aula.
Não havia nenhuma aula, porém, Lola recebia seus materiais escolares, saindo da sala com vários livros sob os braços, carregando-os como se estivesse dando um abraço apertado em alguém.
— Claro. — ela disse alegremente.
Os dois estavam no pátio aberto e central do orfanato, onde se conheceram. A diferença, é que não ficaram no meio da fonte, e sim, perto das salas dos menores que brincavam e corriam para todos os lados. Denis apontou para a poltrona de pedras que havia ali. Os dois se sentaram e Lola parecia normal.
— Então, o que quer falar? — ela o olhou com ternura.
— Eu ganhei uma permissão das freiras para sair do orfanato por um dia.
— Meu Deus, Denis! É sério? Nossa, isso é ótimo! Para onde? Quando? — ela perguntou num piscar de olhos.
— Bom, será logo no primeiro final de semana útil do calendário. As atividades do começo do ano vão começar, os alunos vão começar a estudar... — ele explica com gestos nas mãos e pega um último suspiro antes de chegar à conclusão. — É um ótimo momento para sair daqui de fininho.
— Como assim "de fininho"? — ela lhe faz gestos com os dedos indicadores. — Achei que você tivesse permissão! — ela o olha duvidosa.
— Sim, e tenho! Porém, só podemos sair se formos acompanhados por Claire, ou qualquer outra pessoa que esteja livre.
Lola assente. — Então, você vai sair de fininho? Como vai passar pelos porteiros? — ela pergunta.
— Eu tenho isto! — ele procura por dentro de seu bolso na parte de trás da bermuda e depois volta a lhe mostrar, o certificado de passeio.
Os olhos de Lola chegam a brilhar assim que vê o papel. Ela o pegou com as mãos e o analisou com o maior cuidado.
— E não é que é verdade? Só que aqui diz que vai estar acompanhado de Claire... Então já foi confirmado? — ela diz para si mesma, mesmo que tenha sido o primeiro pensamento que lhe veio à cabeça e não gostaria de demonstrar tamanha importância.
— Vou convencê-la. É meu aniversário esse mês, e eu sou um ótimo órfão. — ele lhe dá uma piscada. Legal, não? — Denis pergunta, encurvando-se para poder ver a felicidade no rosto dela.
— Muito! Espera... Quando será seu aniversário e quantos anos você vai fazer? — seus olhos brilhavam na luz do sol e eram azuis como o céu.
— Vou fazer 17 anos no dia 24 de janeiro. Está perto, não é?
— Nossa, já é próxima semana. Um dia antes do seu passeio...
— Sim, verdade. Quando é seu aniversário?
Lola fez um rosto um tanto triste. Ela abaixou a cabeça brevemente para os joelhos e se voltou a responder:
— Dia 17 de outubro. Vou fazer 16 anos. Espera, então vai realmente conseguir convencer Claire de te deixar ir para a praia, sozinho?
— Ahn... Acredito que sim? — ele gesticulou os ombros e fez uma cara de dúvida.
— Calma, se quiser, eu posso te ajudar... — Lola disse, um tanto persuasiva.
— Como? — ele pergunta com curiosidade.
— Posso distrair a recepção para você... O que acha?
— Não, não... Eu queria que você fosse comigo. — Seus olhos mostravam mais desejo do que o normal, mas a sua expressão estava triste.
Ela deixa a boca um pouco entreaberta. Por um momento, ficou-se o silêncio. Depois, ela respondeu-lhe:
— Mas Denis, tem certeza de que quer sair comigo? — ela o olha firmemente.
— Claro! Estou te chamando por uma razão. Penso que vai ser o melhor aniversário que já tive... — ele fala, olhando ao chão.
— Jura?
— Sim, já é uma boa forma de comemorar meu pré-aniversário...
— E para onde você quer me levar? — ela pergunta aos sussurros.
— Vamos para a praia?
Ela o olha com mais felicidade agora.
— Eu nunca estive numa praia antes... Deve ser tão bonito... Você já esteve numa praia antes?
— Sim, uma vez, mas faz tempo... — ele disse, abaixando a cabeça e olhando para o chão.
Lola queria perguntar o porquê. Ela se aproximou para mais perto e quando se inclinava, colocando uma de suas mãos em suas costas, uma irmã apareceu.
— Desculpem o incômodo. — Denis, Claire gostaria de conversar com você.
Lola se distancia instantaneamente de Denis. Ela o olha com um pouco de decepção no olhar, mas sente que ele deveria ir e não gostaria de interromper.
— Até mais. — ela diz.
— Até mais. — Denis responde, um pouco inconformado por ser interrompido justo quando estavam tão bem juntos.
Ele se levanta e vá direto para o consultório da Sra. Filtch.
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— Olá Denis, sente-se por favor. — ela diz.
Sua voz estava um pouco distante e ela estava sentada. Depois de alguns minutos mexendo em alguns papéis, obviamente concentrada em fichas peculiares, ela volta a atenção a ele e coloca seus óculos em cima da mesa.
— Desculpe Denis, não quero atrapalhar seu dia, mas gostaria de falar com você.
— Claro... — ele fala, fechando as mãos em cima de suas coxas.
— Eu notei que você anda diferente.
Denis a olha com uma cara duvidosa e um pouco assustada.
— Bom, vou direto ao assunto. Já faz um dia que você foi adotado e você ainda não preencheu os papéis ou veio me ver logo depois para a sessão. Pensei que era seu sonho ser adotado... Você falava sobre isso desde pequeno. — ela diz.
Denis se sente um pouco aliviado por Lola não desconfiar estar tendo sentimentos por ela. Apenas sentia estar muito ocupado ultimamente.
— Bem... Ah... É que eu gostaria de conhecer mais sobre a família. Ainda não li os formulários e as informações sobre eles.
— Ah, entendo... Você deve estar numa correria, eu imagino...
— Sim, é... Você sabe... As aulas começaram, estou aprendendo atividades extras, fazendo um currículo... — Denis continua.
— Uau! Parabéns, Denis. De todos os adolescentes da sua idade, você é o mais aplicado. Com certeza vai se dar muito bem com os seus novos pais. Seu novo pai é dono de uma empresa, sabia?
— Sério? Nossa... — ele diz um pouco espantado.
A primeira coisa que pensou é que a família poderia ter bastante dinheiro e o ajudaria talvez a ter o mesmo destino.
— Pois bem, não vou dar spoilers! Me desculpe. — ela ri consigo mesma. — Fico feliz também que esteja se dando bem com a Lola. — ela fala depois de um tempo em silêncio.
Denis ri de nervoso.
— Sim, nós andamos conversando... — ele responde. — Não conseguia mentir para ela.
— Sim, daqui de dentro eu também consigo ver. — ela brinca com ele.
Denis sente seus pelos do braço se arrepiarem sozinhos.
— Mas não, estou brincando... — ela continua. — Melhor que Lola converse com alguém, do que ficar sozinha pelos cantos.
— Claro. — ele retribui um sorriso verdadeiro. — Claire, tem uma coisa que eu gostaria de pedir.
— O quê, Denis? — ela pergunta, brevemente encantada.
Denis respira profundamente antes de falar.
— Eu gostaria de levar Lola para sair comigo.
— Denis! — exclamou Claire surpresa e estonteada. — Você gosta dela? — ela pousou seus braços à sua frente, apoiadas na mesa e pegou as mãos de Denis que aceitou esse gesto como uma pergunta fraternal.
Denis ficou sem palavras. Seu olhar brilhou e ele disse com toda a sinceridade:
— Estou começando a gostar dela.
Suas mãos estavam juntas apoiadas na mesa, e Claire as olhou enquanto fazia um carinho com o polegar. Antes de falar, ela abriu um sorriso e disse:
— Ah, Denis... Às vezes algumas pessoas entram em nossas vidas e parece que elas foram destinadas a gostarem de nós, ou o contrário... — ela lhe ergue uma sobrancelha.
— Eu sei que faz apenas um mês que nos conhecemos, e que talvez ela não sinta nada por mim, mas, eu gostaria de tentar e ver se... Se... — suas palavras travaram.
— Entendi, Denis. — Claire lhe deu um sorriso. — Mas infelizmente diz no contrato que sou eu quem deve te levar para sair. Órfãos não podem deixar o orfanato sem um acompanhante. Entende isso?
— Sim. — Mas será que não tem nenhum jeito de ela ir junto? Digo... Com a gente? — o pensamento foi muito inocente. Denis nunca foi a um encontro antes.
— Mas se você gosta dela, deveria levá-la para sair apenas com você, Denis.
Ele achou isso muito irônico e não conseguiu ficar quieto.
— Ah, então será que eu poderia levar ela para sair sem ter permissão? — ele levanta uma sobrancelha.
— Touché. Não, desculpe, não pode. Então... Faremos o seguinte... Deixe-me pensar. — ela saiu de sua cadeira e começou a andar de um lado para o outro. Estava com os lábios torcidos e uma mão no queixo. Logo, ela voltou-se a falar:
— Denis, confio em você. Sei que você é um dos órfãos mais centrados deste orfanato e suas intenções são muito puras. Nunca lhe vi tão vivo...
Denis sentiu-se confortado pelas palavras.
— Vamos fazer o seguinte. Eu não conto para ninguém que você saiu com Lola. Vocês podem ir sozinhos. Qualquer coisa, eu levo a culpa. Vou fingir que não sabia de nada se me perguntarem.
Denis assustou-se.
— Espere! Não vai ter nenhum tipo de punição caso alguma outra freira me ver?
— Falarei com o porteiro, falarei com as outras freiras. Terá problemas sérios se isso chegar até Freya.
Claro, Freya é a líder mais rigorosa de todas. — Denis pensou.
— O que poderia acontecer comigo?
Claire deu de ombros.
— Talvez rezar todas as manhãs na mini capela. Talvez limpar todos os banheiros... Só Deus sabe. — ela falava sério.
Denis assentiu.
— E quanto a você? O que pode acontecer com você?
— Nada. Falarei que você desistira, me avisou, então foi de todo o jeito. Não se preocupe, não vão me despedir ou nada do tipo se é isso com o que você se preocupa.
Ele suspirou aliviado.
Claire deu um último sorriso e continuou:
— Quero que você preste atenção, Denis. Vocês dois terão que voltar antes das 22:00.
— Não pode ser até meia-noite? — ele sugere.
— Não! — ela lhe deu um olhar desafiador. — E quero que você me fale agora para aonde vai levá-la.
Denis envergonhou-se e demorou um pouco para responder.
— Gostaria de levá-la até a praia.
— Uma ótima ideia... Acho que você já me comentou uma vez sobre o assunto, não?
— Não estou lembrado...
— Enfim, ótima ideia. Leve-a também para jantar, Denis. Conheço um restaurante perto da praia de Carmel, se é para lá que vocês estão pensando em ir...
Denis não conhecia nenhuma praia, apesar de ter ido numa em sua infância, acompanhado por Claire, algumas freiras e crianças, mas não passava de uma breve memória.
— Não conheço nenhuma praia, Claire.
Ela parecia animada e assustada na mesma medida.
— Vou ser sua guia local! Quer dizer, vou te escrever o roteiro de viagem, e no final do dia, vocês vão estar muito próximos um do outro. — ela lhe aponta um dedo indicador de "comporte-se", mas, ela sabia que isso provavelmente não aconteceria.
Claire pega uma caneta e um papel e começa a escrever com entusiasmo numa folha branca pequena em cima da mesa.
— Vá, Denis. Esse papel é surpresa. Pode deixar comigo e será um sucesso! — ela lhe dá uma piscada.
— Mas espere, quer dizer que você vai mesmo deixar nós dois irmos sozinhos? — ele perguntou, ainda incrédulo.
— Sim. — ela disse normalmente franzindo os lábios em desinteresse. Profundamente ela estava super animada com a ideia de que Denis poderia estar apaixonado e ela mesmo que lhe daria uma ajuda.
— Obrigada, Claire. — ele responde, com os olhos brilhando. — E o papel?
— Pegue no dia que for sair, logo de manhã, mas eu poderia deixar na porta de seu quarto, não se preocupe. Agora vá, anda! Volte a conversar mais com Lola. — ela lhe dá um sorriso enorme.
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Chegou o grande dia.
24 de janeiro de 2017.
Denis acordava muito animado. O coração estava completamente acelerado e seu corpo passava por uma confusão de sensações.
Era seu aniversário de 17 anos.
Assim como ele combinara com Lola, os dois sairiam para comemorar seu aniversário na praia. Os dois eram amigos, mas ambos sentiam faíscas quando conversavam um com o outro. Havia muita química e envolvimento.
Primeiramente, acordou bem cedo para poder ser o primeiro na fila de tomar banho. Depois que tomou banho, cortou seu cabelo nos espelhos do banheiro e fez a barba que já começava a crescer há pouco tempo. Por sorte, não se cortou ou fez alguma bagunça. Deixou que seus cachos ficassem ainda à mostra, ainda amontoados do lado da cabeça. Era um corte comum, mas combinava com ele. Saiu do banheiro e foi direto ao quarto — no final do corredor — dessa vez, sem ser visto por ninguém.
Denis vestiu-se de um jeito diferente neste dia. Aceitou de bom grado algumas roupas novas de Claire, que o faziam parecer um pouco mais "adolescente". Ao invés da blusa colocada nas calças, estava com uma camisa branca sem gola e manga curta. Sua calça (jeans) da cor preta um pouco mais apertada na parte das pernas. Ele se olhava no espelho e viu como que mudou conforme os anos se passaram. De uma forma, ele parecia ser "mais vivo", assim como Claire havia mencionado. Era o que ele pensava.
Saiu animado para buscar o papel que Claire disse que escreveria. Caminhou pelas escadas rapidamente e chegou nos corredores. O dia estava ensolarado assim como ele viu nas previsões climáticas que procurou na internet. Bateu três vezes na porta de Claire, e ela o atendeu como de costume.
— Olá Denis, como vai?
— Olá Claire. — ele olhou-a com ansiedade.
— Entre, sente-se. Deixe-me falar com você, antes de você ir... — ela o convidou, abrindo a porta logo em seguida.
Assim que ele sentou, Claire pegava dentro de sua gaveta um pequeno envelope e uma carta no mesmo. Antes de entregar-lhe, ela leu a carta mais uma vez.
— Aqui está. — ela lhe entrega o papel.
Denis pegou o papel e já se pôs a abri-lo.
— Não! Aqui não. Você abre quando estiver com ela, ou quando estiver fora do orfanato. Mais uma coisa. Eu avisei o porteiro e você deve mostrar-lhe essa mesma carta. Na parte de trás à minha assinatura.
Denis assentiu e agradeceu. — Você não queria me dizer algo?
— Sim. Boa sorte, e divirta-se muito! Eu também dei algumas doações de roupas para Lola. Ela deve chegar a qualquer momento. Encontre ela lá fora, está bem? Não mencione que estou te ajudando.
— Está bem. — Denis disse, por fim.
Assim que ele saiu da sala de Claire, caminhou lentamente em direção ao centro do pátio.
O clima estava ensolarado, sem nuvens, céu limpo. O vento batia suave e crianças começavam a se juntar pelos corredores. As flores e arbustos que ficavam pelo pátio fez com que Denis contemplasse ainda mais àquela deliciosa manhã. Ele conferiu seus bolsos. Havia 30 dólares e a carta de Claire. Quando ele olhou adiante, viu Lola descendo às escadas usando uma roupa mais ousada. Ele ficou extremamente e completamente paralisado. Ela usava um jeans apertado com uma blusa de manga que ia até os cotovelos. Tinha detalhes em renda e botões na frente. Usava uma bota preta com salto bem pequeno, que combinava com as calças. Sua bermuda era preta e sua blusa era roxa. Seus cabelos também estavam diferentes. Ela havia cortado e refinado uma franja para o lado esquerdo do rosto e quando ela o viu, abriu um sorriso sincero que ia de orelha a orelha.
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