Capítulo 13 - Parte II
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Assim que terminaram a refeição eles ajudaram a fazer a sobremesa. Era petit gateau com bastante chantilly e sorvete. Comeram e sentiram-se exaustos. Depois, Denis e Lola assistiram um filme com Matt chamado "Hércules" da Disney. Lola chorou no final e Denis a puxou para perto limpando suas lágrimas. Era perfeito, estar um com o outro parecia perfeito!
À tarde, Antônio apareceu e todos se juntaram para uma refeição da tarde. Tinha torradas, pães, queijos, chás, frutas e torta de maçã. Ashley era muito caprichosa e o aroma de sua casa era sempre aconchegante. Antônio e Ashley tratavam Denis como alguém da família.
A noite veio e ele foi embora — mesmo que Ashley e Antônio ofereceram-lhe estadia — pois ele não tinha roupas e acreditava que era incômodo.
— Talvez outro dia. — ele prometeu.
Tinha que estar na faculdade para sua primeira noite fora do orfanato, em oficial.
Lola e Denis se despedem na sala de estar, beijando uma última vez.
— Eca, que nojo! — Matt diz observando os dois.
— Sai daqui, Matt. Seu bisbilhoteiro! — Lola disse arregalando seus olhos a ele.
Então Denis despede-se mais uma vez e antes de sair, ele beija sua mão.
— Até amanhã, Lola. — ele diz, com vergonha e felicidade.
— Até amanhã, Denis. — ela lhe responde na mesma medida.
Quando ele sai, ela volta para o seu quarto e encontra uma carta que ele deixou ligeiramente em cima da sua escrivaninha. Na carta, dizia:
"Se queremos ficar um com o outro...
Teremos que cumprir a promessa!
Saia de casa às 11:00.
Esteja lá antes do entardecer.
Você já sabe aonde.
Denis."
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— Vamos ter que cancelar. — Lola disse à Denis pelo telefone. Ela havia conseguido seu número ligando para Claire.
— Por quê? — Denis perguntou.
— Parece que vai chover hoje o dia todo na Califórnia.
Denis checou a previsão do tempo.
— Eu vi a probabilidade de chuva e estava em 30%.
— Mesmo assim, você quer arriscar?
— Temos 70% de chance de nos divertir ainda, então quero... — ele tentou convencê-la. — Aliás, hoje é domingo e o meu último dia disponível. A partir de amanhã já começam as minhas aulas na faculdade, esqueceu?
— É verdade... — ela assentiu. — Então a gente deve estar lá até que horas?
— Eu diria antes das 6 da tarde. É um bom horário para ver a lua aparecer...
Lola ficou curiosa e animada.
— Quem chegar lá primeiro ganha? — ela quis saber.
— Sim.
— O quê ganha? — ela pergunta.
— Você disse que tinha uma surpresa para mim, eu também tenho uma para você. Então, que tal fazermos assim: Quem chegar lá primeiro pode mostrar a surpresa primeiro!
— É justo... Porém, eu não posso levar o presente até você.
— Me deixou curioso... — Denis disse. — Bom, eu posso levar o meu até você.
Lola sorriu. — Te encontro lá, e pode apostar que vou chegar antes.
— É o que veremos. — Denis disse sorrindo.
Então, os dois desligaram o telefone e começaram a fazer seu caminho até a praia. Eram 6 horas de viagem e os dois tinham surpresas preparadas. Aquele dia tinha de ser especial! Por isso, cumprir a promessa para os dois significava tanto. Porque eles sabiam que não cumpririam se fosse outra pessoa.
Lola pegava sua mala pronta com algumas roupas e comidas, levando-as até a porta e colocando um calçado confortável. Ela sabia ter vantagem de pegar carona com os seus pais, mas prometeu que não faria isso. Ao invés disso, os dois pegariam ônibus diferentes — de regiões diferentes, porém ainda em San Diego — então a competição seria legítima e justa.
Denis atrasou-se quando viu que o primeiro ônibus estava cheio e teve de esperar o segundo. Por sorte, o segundo estava quase vazio e o motorista consequentemente pararia em menos lugares. Lola pegou um ônibus cheio, mas por sorte algumas pessoas desceram em um único ponto. O dia estava ensolarado e muito quente. Muitas pessoas estavam passando mal no veículo e foi necessário que o ônibus parasse para deixar com que as pessoas bebessem água e comprassem comidas em lojas de conveniência. Lola estava atrasada e sabia disso. Em seu relógio já marcava 16:00. Denis estava adiantado em 15 minutos e ele lembrou-se que tinha vantagem por saber pedalar de bicicleta e Lola não.
Denis olhou dentro de sua mochila que carregava — levava consigo roupas e garrafas com água — mas o que continha de mais especial em sua bolsa era uma caixinha pequena e aveludada em vermelho. Ele a abriu e lá estava seu presente. Ficou se perguntando qual seria o melhor momento de entregá-lo.
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Lola estava com o celular de sua mãe e ligou para Claire.
— Claire, aqui é a Lola.
— Lola! Oi! Sua mãe me avisou que iria ligar. Como está?
— Bem e você? Já está com o presente em mãos? — Lola pergunta, orgulhosa.
— Sim, sim! Muito obrigada por ter ligado, Lola. Estou com os papéis aqui. Ele vai ficar tão emocionado... Como andam as coisas entre vocês?
— Muito bem, eu fico aliviada que as coisas deram certo. — ela diz. — E você? Quer mesmo fazer isso?
— Tenho mais que certeza. Eu sempre quis, na verdade... Ele foi uma das melhores pessoas que já conheci, Lola. Você tem muita sorte.
Ela sorriu. — Obrigada. Você teve mais que eu, por conhecê-lo quase sua vida inteira.
Claire sorri. — Sim, é verdade. Onde encontro vocês?
— Vamos estar na praia de Carmel às 18:00. Tudo bem você estar lá umas 18:30? — Lola pergunta.
— Acho que sem problemas nenhum! Está combinado. Vou estar saindo do serviço esse horário. — ela diz.
— Até mais, Claire. Muito obrigada. — disse Lola.
— Eu agradeço aos seus pais por terem me ajudado. Sei que não deve ter sido fácil, especialmente para sua mãe. — Claire diz, sendo altruísta.
— Vou dizer a ela. Até mais. — então ela desligou.
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Já eram quase 18:00. Depois de várias trocas de ônibus, eles finalmente pararam aonde queriam, mas não no mesmo tempo. Lola estava atrasada. Denis chegou primeiro e colocou toalhas sob a areia da praia, deixando evidente que ele havia chegado antes. Estendeu uma bandeira pequena branca como vitorioso. Sabia que aquele era o exato local onde os dois haviam se beijado pela primeira vez e antes de entrar na água relembrou os momentos que tiveram.
Pensar em Lola trazia boas vibrações em seu coração e pegou se perguntando como poderia amar tanto uma pessoa por tão pouco tempo que ficaram juntos. Ela não desistiria dele e ele não desistiria dela nunca — o amor verdadeiro lhes ensinou isto — e Lola aprendera tudo com Denis.
Quando ela finalmente chegou, sabia exatamente para aonde ir. Ainda bem que o caminho estava fresco em sua memória, pois quando chegou viu as coisas de Denis e escutou um assobio vindo de longe. Ele estava nadando no mar sozinho. Não havia ninguém na praia devido ao clima, mas apesar de o sol ter se escondido, o vento parecia quente e seco demais. Um banho da água do mar faria a diferença.
Lola entrou na água e fez seu caminho até ele, numa região onde seus pés não podiam mais tocar o solo, mas sem problemas, pois ela aprendera a nadar em sua nova escola e Denis sabia disso. Quando chegaram próximos, Lola pulou em seu colo sob a água agarrando-o em suas pernas e beijou-o com alegria e determinação. Ele era o combustível que alimentava seu amor de todas as formas. Fisicamente e espiritualmente. Sabia que foram feitos um para o outro. Apenas de tê-lo beijado, conseguia sentir seu corpo numa mudança magnífica.
— Eu ganhei. — Denis disse quando pararam de se beijar.
Ambos sorriam, mas Denis tinha um ar vitorioso e vanglorioso. Lola balançou a cabeça negativamente, sorrindo e pensando em como ele era tão competitivo e inteligente.
— Acho que você deu sorte. — ela provocou.
— É... Um pouco. — ele admitiu, envergonhado.
— Eaí, tudo bem? — ela lhe pergunta, agarrada em seus braços fortes.
— Estou bem e você?
— Estou melhor agora. A minha viagem foi cansativa. — ela suspirou.
— A minha também. Minha surpresa está lá na areia. Quer voltar?
— Não, vamos ficar aqui por um tempo... — ela pediu.
Ele assentiu.
As ondas começaram a ficar um pouco mais fortes conforme pequenas gotas d'água caíam do céu, mas eles continuaram beijando um ao outro; num delírio intenso. Saboreando o gosto de suas bocas, sentindo o calor emanar de seus corpos muito quentes, por mais que estivessem em ondas geladas.
— Eu falo ou você fala? — Denis perguntou-lhe numa breve parada entre o beijo.
— O quê? — ela pergunta, perdida.
— Quero lhe dizer que não há ninguém melhor para mim do que você e por que tomei essa decisão de vir aqui hoje.
Ela sorri entre os beijos. — E por quê você veio aqui hoje, Denis? — ela o encara sorrindo.
— Porque eu sabia desde o momento que falei com você, que você era intrigante e eu deveria te conhecer melhor. Tivemos tanto em comum e nossos momentos sempre me trouxeram paz e calmaria, excitação e alegria. Eu sei que mais ninguém vai conseguir me fazer feliz do jeito que você me faz. Eu te amo muito, Lola.
Ela sorri ao ouvir essas palavras. Agora deveria lhe dizer o por quê não ficou com mais ninguém além dele durante os tempos separados, mas de repente surgiu uma onda muito grande que estava a dois metros acima de suas cabeças — e como já estavam no fundo — a onda parecia ser uma ameaça.
— Denis! — ela chamou a atenção, olhando para onda que afundaria os dois.
Quando a onda bateu, os dois foram ao fundo, e o pior de tudo, era que a própria onda fazia rodopios abaixo da água, fazendo-os seguir seu rastro e puxando-os para longe. Lola e Denis levantaram-se e encontraram-se distantes. Águas entraram em seus pulmões e, ao mesmo tempo que nadaram um até o outro, iam tossindo e se recuperando.
Escutaram um barulho de trovão ao longe e as ondas começaram a ficar violentas. Quando conseguiram se aproximar, tentaram fazer seu caminho para o raso mas outra onda bateu forte, dessa vez, sem que eles conseguissem ver pois estavam nadando para a direção contrária. Mergulharam fundo sendo puxados e arrastados para longe, Lola que segurava sua mão, agora não sentia mais nada e Denis se afogou e perdeu o fôlego, pois não estava preparado para ser atingido por uma onda.
— Denis! Denis! — Lola exclamava com desespero quando emergiu da água.
Com outra onda prestes a chegar até ela, Lola afundou-se e esforçou-se para abrir os olhos debaixo d'água. Viu Denis no solo do mar e quando chegou perto viu que ele estava ferido. Ele estava sangrando e Lola não conseguia ver muito bem, mas o trouxe de volta à superfície com muito esforço.
— Socorro! Alguém! Ajude! — ela gritava, tentando prender a respiração a cada onda que a atingia com força, afundando e tendo que recolher Denis novamente.
A praia estava vazia e ninguém estava dentro do mar, estavam sozinhos.
Naquela hora, por um milagre, Claire chegara na praia e caminhava pela areia encontrando os pertences de Lola e Denis. De longe, ela conseguiu ver Lola abanando as mãos para cima e gritando. Então Claire fez seu caminho correndo até a água. Nadando por entre as ondas que ficavam violentas, chegou em Lola dentro de cinco minutos.
— Lola! Lola! — Claire nadava debatendo-se com as águas.
— Claire, me ajude! — Lola gritou em desespero e mostrou Denis, inconsciente e ferido.
— Ah meu Deus! O que aconteceu?
— Ele se machucou, temos que levar ele até a praia! — Lola disse tossindo e recuperando-se.
Trouxeram ele até a areia segurando-o dos dois lados. Direita e esquerda. Deitaram-o no chão e viram que sua blusa estava rasgada e nela continham fiapos de madeira. Ao que parecia, ele tinha sido atingido por pedaços de madeira que foram trazidos junto com a onda. Ele estava gravemente ferido. Claire aproximou dois dedos em seu pescoço e o coração batia. Ela começou a fazer respiração boca a boca e reanimação cardiorrespiratória – havia aprendido isso no orfanato – e ele começou a tossir a água dos pulmões e respirava com dificuldade. O sangue começou a jorrar e Claire fazia pressão para que o sangue parasse de sair.
— Rápido, Lola! Ligue para emergência! Vai!
Lola correu até suas bolsas que não estava muito longe e pegou seu telefone. Discou o número da emergência e explicou a situação. Eles demorariam cinco a dez minutos para chegarem na praia de Carmel. Desligou o telefone e voltou para Denis.
— Lola pegue minha bolsa, tenho uma pinça, vou tentar tirar os pequenos pedaços! — Claire comandou.
Ela assentiu e lhe trouxe a pinça depois de uma rápida olhada. Claire pegou a pinça e começou a tirar os pequenos pedaços na região próxima à costela e do peito, abaixo do coração. Lola estava em desespero e com lágrimas nos olhos. Se culpava por tê-lo feito ficar com ela no mar, quando os dois poderiam ter saído juntos e antecipadamente.
— Me diz que ele vai ficar bem! — ela dizia segurando nos braços dele, curvando-se à ele.
— Calma, Lola, ele vai, vai ficar bem!
— Lola... — ele resmungava e então começava a tossir sangue.
— Denis! — Lola exclamou, chorando e sofrendo.
— Denis, fique quieto, você não pode falar sem piorar sua situação! — Claire mandou, seus olhos estavam vermelhos e inchados.
A sirene começou a ser escutada à distância e quando eles chegaram, Denis foi levado à emergência e as duas entraram no veículo para acompanhar. O colocaram numa maca branca e espessa com tubos de respiração e um monitor cardíaco à direita. Conforme Lola explicava a situação, os responsáveis começaram a preencher uma ficha prontamente. Chegaram no hospital e Denis foi levado à uma sala de cirurgia com três médicos e Lola e Claire ficaram na recepção, pois não poderiam entrar junto. Neste momento, perceberam que seu estado era grave.
Ela não podia acreditar no que estava acontecendo e suas mãos ficaram trêmulas e seu olhar distante. Não conseguia pensar em nada mas lágrimas saíam de seus olhos sem nenhum esforço, como se a razão de continuar vivendo era apenas automática.
— Calma Lola! Eles vão nos explicar, logo logo. — ela se aproximou e a acolheu nos seus braços.
Essa atitude a fez voltar à vida e ela aceitou o abraço, chorando em seus ombros. Mesmo que ela estivesse molhada, Claire a acolheu fielmente. O médico então chegou e perguntou:
— Quem é o responsável por ele?
— Eu. — Claire disse levantando-se.
— Precisamos falar com você. — o médico disse, saindo e sendo acompanhado por ela.
Depois de alguns minutos, Claire voltou à cadeira e sentou-se.
— O que eles te disseram? — Lola perguntou.
— Me disseram que há uma grande chance de Denis ficar internado.
— O quê?! Por quê?!
— O pedaço de madeira que retiraram de seu peito era muito grande e atingiu uma parte da costela, passando próximas ao pulmão e ao estômago. Ele perdeu muito sangue durante a operação e a respiração ficou baixa. Ele está em repouso agora, mas não que horas ele vai acordar.
— Mas ele vai ficar bem, certo? Ele vai acordar?
Claire suspirou e a olhou com incerteza. — Ele deve passar a noite aqui, pelo o que o médico disse.
Lola levantou-se e dirigiu-se até a sala onde ele estava. Quando o viu, começou a chorar. Fraco e apagado por dosagens fortes. Tentou esconder isso das pessoas em volta, mas não conseguiu. Claire chegou e lhe deu um último abraço e as duas ficaram pelo hospital até que a noite viesse.
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Lola pegou seus pertences e os levou até a sala onde ele estava – os médicos deixaram-na entrar e fazer companhia à ele – e colocou as bolsas em cima de uma poltrona fofa. Pegou uma simples cadeira e arrastou para perto da cama e ali ficou, esperando que ele acordasse. Com cansaço, ela dormiu completamente segurando sua mão.
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