Capítulo 12 - Uma Nova Vida
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O que acontecera no hotel e depois disso se tornaram meras lembranças. Lola não comentou sobre o que acontecera com ninguém — nem Denis —, e no dia seguinte quando voltaram de Las Vegas para Califórnia, Lola via seu mundo mudar de uma hora para outra. Os pais adotivos — Ashley e Antônio — vieram conhecê-la no orfanato e um dia depois, Lola já estava com as malas prontas para se mudar para San Diego. No último dia no orfanato, antes que pudesse pegar o carro de seus pais, ela dirigiu-se até o quarto de Denis. Como não o achou lá dentro e em nenhum lugar, deixou uma pequena carta em sua porta, e simplesmente se foi.
Depois de algum tempo, Denis encontrou a carta. Entrou no seu quarto rapidamente para ler sentado na cama.
"Sinto muito que não nos falamos esses dias que se passaram... Além de ter me ocupado com a mudança, queria muito ter me desculpado pelo que aconteceu, mas fiquei com vergonha e me escondi de você. Agora sinto que foi a pior coisa que já fiz na vida.
Não sei se você vai conseguir me perdoar, não sei o que vai acontecer daqui para frente, mas saiba que eu te amo, e eu não vou me esquecer de você, nunca! Obrigada pelos ótimos momentos e espero que um dia você possa vir e me reencontrar em San Diego, ou, nos encontraremos novamente e cumpriremos nossa promessa!
Aqui está meu endereço se você quiser me mandar alguma carta...
Com carinho, Lola."
Denis estava com o coração apertado e pequenas lágrimas escorriam de seu rosto. Nunca que ele se imaginaria num estado como esse: Solidão extrema e tristeza. Aproximou a carta próxima aos lábios e fechou os olhos. Meditou por alguns segundos e levou a carta ao coração. Não sabia como respondê-la e não queria jogar a carta fora. Guardou a carta sob à mesa e começou a escrever numa mesma medida. Calculou que ela levaria um dia para chegar e se acomodar em seu novo lar, então no dia seguinte responderia à carta. O correio geralmente funcionava de uma forma extremamente eficaz. Denis anotou o endereço que ela havia deixado atrás da carta e começou a escrever o que lhe via na cabeça.
"Lola, não me importo com as coisas ruins que aconteceram entre a gente. Prefiro pensar que não foi o momento certo e que se não aconteceu, é porque poderíamos ter-nos magoado futuramente.
Eu sempre estarei esperando por você e se a sua nova família me aceitar, eu vou te visitar sempre que puder. É só me falar quando.
Eu te perdoo por tudo, mesmo que para mim não tenha mudado nada do que sinto por você. De agora em diante, sei que a vida te tornará cada vez mais inteligente, linda, independente e feliz.
Nunca vou me esquecer de você. Eu te amo, Lola.
Com carinho, Denis."
Ele deixou a caneta de lado e suspirou, como se sua missão estivesse concluída. Desceu e colocou a carta no correio.
Passou a tarde pensando nisso.
Foi até a biblioteca para tentar estudar, mas sua cabeça voltava em Lola. De alguma forma, tudo que fazia ou tudo que lia lembrava ela de algum jeito.
— Denis, há quanto tempo! — Emily aproximou-se. — Você está ocupado? — ela perguntou, estranhou o jeito que ele se sentava, escondendo o rosto.
— Oi, Emily! Puxa, quanto tempo... Não, pode se sentar. — ele aponta com a cabeça para o assento ao seu lado esquerdo.
Os dois dividiram uma mesa de madeira grande — onde se formavam grupos de estudos — mas eles estavam sozinhos e não estavam estudando.
— Tá tudo bem com você? — Emily pergunta, genuinamente preocupada.
Denis não conseguia disfarçar muito bem.
— Estou, e você?
— Acho que bem. Faz tanto tempo que não nos vemos, que eu achei que você fora adotado. — ela fala com um tom engraçado; o que faz Denis rir um pouco com ironia.
— É, quase isso...
Ela arregalou os olhos.
— Como assim?
— Nada, deixa pra lá.
Ela se aproxima um pouco mais.
— Denis, se precisar conversar com alguém saiba que pode me procurar. Eu quase sempre estou aqui na biblioteca mesmo. Eu notei que Lola foi embora hoje de manhã. — ela diz as últimas palavras com receio. Não sabia se ele ficaria bravo.
Denis assente. — Sim, todos acabam sabendo, né?
— Bom... É novidade quando um de nós ganha uma família. — ela responde displicente.
— É... Eu deveria me concentrar, tenho que fazer um portfólio pessoal.
— Quer que eu te ajude? — Emily perguntou. — Você ainda lembra que eu crio blogs, vídeos e edito fotos né? — ela perguntou amigável.
— É mesmo. Você poderia me ajudar a montar um bom website? — ele perguntou.
— Claro! Aqui, deixe-me te ajudar...
Então os dois trocaram conhecimento e Emily o ajudou a criar uma página onde ele poderia mostrar sua arte e 'designs' que havia criado durante sua vida. Uns melhores que os outros, e não eram trabalhos para alguém e sim, logotipos que Denis havia criado para inúmeras empresas e lojas — desenhos os quais supunha que fariam sucesso —, e retratavam vários significados diferentes. Quem via, acreditava que Denis poderia ter muito futuro no campo profissional. Emily divulgou seu trabalho para vários contatos e Denis conseguiu uma primeira pessoa interessada.
— Muito obrigado, Emily, de verdade!
— De nada! — ela lhe sorriu e então disse: — Já está na hora do almoço, você não vai querer descer?
— Sim, estou morrendo de fome. — ele desligou o computador e os dois foram almoçar juntos.
Durante o almoço, os dois conversaram e Emily o perguntou coisas de seu interesse. Descobriu que Denis saiu duas vezes e que ele e Lola tiveram uma relação um pouco além da amizade. Emily assentiu como se ficasse incomodada mesmo que tenha sido ela quem perguntou, mas iria deixar a história de lado, precisava consultar Claire sobre o assunto. Ela também queria sair do orfanato e visitar um museu de artes.
Em San Diego, Lola via sua vida mudar de bom para perfeito. Ashley a tratava com muito carinho assim como Antônio e seu novo irmão Matt era pilantrinha, mas os dois já se deram bem logo de primeira. Ela seria matriculada numa das melhores escolas da região e tinha certeza que poderia ter um bom futuro olhando pelas matérias que estudaria. Inglês, espanhol, literatura, música, teatro, esportes, história, geografia, ciência, matemática, francês, religião e outras matérias que ela nem sabia existir! Seria muita novidade para ela, mas em sua cabeça não parava de pensar em Denis e como a última noite deles foi vergonhosa. Toda vez que relembrava seu rosto ficava vermelho e suas mãos soavam. Ela teve de falar para sua nova mãe sobre o que aconteceu de alguma forma, e esperar que ela fosse lhe acolher do mesmo jeito que Claire fazia.
Após ter desfeito todas as malas com a ajuda dela, Lola começou a puxar um assunto que não se referia ao colégio.
— Ashley, sei que você me pediu pra te chamar assim se eu quisesse, mas eu já me sinto como a sua filha. Posso te chamar de mãe?
Sua fala fez com que o coração dela acendesse e seus olhos instantaneamente começaram a brilhar. Ela começou a chorar e a abraçou dizendo:
— Claro filha, claro! Sinta-se à vontade de me chamar do que você quiser!
As duas se olharam e Lola também se sentiu sentimental.
— Então mãe, eu queria te dizer que praticamente nos últimos dias que fiquei no orfanato, eu menstruei.
— Ah sim querida, Claire me falou sobre isso. É algo que mulheres precisam saber. Não se preocupe com nada. Eu sempre deixo absorventes no banheiro, você já sabe usar?
— Sim, Claire me ensinou. — Lola parecia triste de algum jeito e Ashley pareceu notar.
— Você parece triste. Aconteceu algo?
— Não, eu só estou com saudades. Não me leve a mal; eu me sinto em casa, mas não sinto como se eu me familiarizasse com tudo. Talvez me acostumei a ter um quarto pequeno no orfanato e aqui eu tenho um espaço só para mim, e eu não consigo parar de pensar na vergonha que passei quando eu menstruei pela primeira vez. — ela sentou-se na quina da cama e colocou as mãos na cabeça.
Ashley sentou ao seu lado e começou a dizer:
— Tudo tem seu tempo, Lola. Eu menstruei com a sua idade também, e eu descobri de um jeito super embaraçoso.
— Como? — ela quis saber.
— Bom... Eu estava num acampamento e minhas amigas estavam em suas cabanas. Depois um grupo de pessoas começaram a se reunir na fogueira e começaram a contar histórias de terror. Eu e minhas amigas nos sentimos atraídas e fomos participar também, e então uma garota começou a contar uma história de terror parecida com o Jason.
— Quem é Jason? — Lola perguntou.
— Ah, é um filme muito ruim, querida. Não queira saber, mas enfim... Falou que o Jason matava as pessoas que se acampavam no nosso território e que ele iria aparecer e matar todos nós, enfim, quando ela disse a história de sua primeira vítima eu sangrei, e o pior é que eu não notei. Então algumas pessoas começaram a sentir um cheiro e quando me viram com a calça cheia de sangue, eu saí correndo. Todos me viram e zombaram de mim, mas as minhas amigas me deram apoio.
— Nossa, que horror! — Lola disse. — Na frente de todos? De meninos e meninas?
— Sim, sim, foi horrível. — ela disse rindo.
Lola não conseguia entender porque ela estava rindo.
— Então quando se lembra disso você não se sente mais envergonhada?
— Não. É algo natural que toda a garota um dia vai passar por isso. Como foi com você? — Ashley perguntou, pois sabia que Lola queria falar sobre isso.
Ela acanhou-se, não sabia como poderia falar. Como não queria mentir pela primeira vez para sua nova mãe, ela disse o que aconteceu de forma sutil:
— Um garoto de quem eu gostava me viu sangrando, e ele me falou. Eu me senti muito envergonhada.
— Quem era esse garoto? — ela já sabia de quem se tratava; mas esperava que fosse a mesma pessoa de quem pensava.
— Denis, um cara. A gente se gostava, sinto saudades dele.
— Você o ama, querida?
— Sim.
— Então um dia vocês talvez venham a se encontrar, querida. Deus tem seu tempo para tudo.
Ela sorriu. — Foi exatamente o que ele me disse.
— Então ele deve ser muito inteligente e eu já gosto dele! Se um dia você quiser trazê-lo aqui para casa... Pode trazer.
— Ele vive no orfanato e muito provavelmente seria difícil ele vir.
— Ah, sim... Tem 6 horas de diferença, não é... — Ela pensou e disse por fim: — Lola, eu me aposentei para eu poder ter tempo com você e o Matt, e se você quiser... Eu poderia muito bem dar-lhe uma carona até aqui.
Lola arregalou os olhos. — É sério? — ela perguntou com um sorriso no rosto.
— Sim! Mas... Concentre-se nos estudos primeiro, ok?
— Ok. — ela lhe prometeu.
— Certo. Vamos ver como você se sai no seu primeiro dia de aula e como serão suas notas nesse semestre.
— Vou ter que esperar até fazer as provas e passar nelas?
— Sim, Lola. Tem muitas matérias e quero que você pense primeiro no seu futuro. Denis pode esperar, certo?
Ela assentiu. Pensou que Denis poderia querer a mesma coisa que sua mãe.
Ashley lhe deu um abraço amigável e Lola retribuiu.
No próximo dia, Lola foi à escola e conheceu diversas pessoas, mas nenhuma delas lhe pareceu muito amigável. As garotas a olhavam diferente e os garotos lhe olhavam como um pedaço de carne, sentiu-se sozinha, mas tentou se concentrar nas matérias em primeiro lugar e logo no seu primeiro dia foi elogiada por alguns professores. Aprendera diversas coisas com Denis.
Chegando em casa ela confere a caixa do correio em frente ao jardim. Viu seu nome em uma das cartas e a letra dele. Abriu a carta e leu ali mesmo. Na calçada de sua casa, ela começou a chorar de felicidade e correu para casa para lhe escrever outra carta.
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