Sete meses. Esse era o tempo de vida que Rebeca ainda tinha.

Apenas sete meses para viver o que não tinha vivido em seus 24 anos.

Pegou seu celular e viu a mensagem.

Felipe.

Pensou, com pesar, que não poderia seguir adiante com ele. E justo com ele. Tanto tempo investido.

Entrou em seu carro indignada; tudo por conta de uma flor...

"Por conta do seu tipo sanguíneo, você é mais propensa a desenvolver a Miopatia de Puya."

Ou seja, por seu tipo sanguíneo e alguns fatores em seu DNA, o pólen de sua flor preferida lhe causava uma doença. Era tão rara que nem tratamento tinha—  foi o que seu médico disse.

Tinha sete meses. Poderia continuar no seu apartamento, com seu carro e no seu trabalho. Lembrar-se da dor que era ter de abandonar Felipe e tudo o que já tinham passado, e ver o rapaz que sempre amou todos os dias — praticamente.

Sentia que não poderia contar para ninguém da sua doença. Ninguém iria acreditar. Afinal, não existiam sintomas. Só seus órgãos iam parando vagarosamente.

Só não morreu de repente, de parada cardíaca, por sempre fazer exames de rotina.

Não sabia como dizer aos seus pais e irmãs que morreria em breve, então decidiu não dizer.

Decidiu viver. Uma vida que não era sua. Teria o mesmo nome e sobrenome. Rebeca Carvalho, solta pelo mundo.

Pelo mundo não, seu dinheiro não seria suficiente, muito menos o tempo que ainda tinha para viver.

Pela primeira vez na vida, agradeceu por ser romântica e economizar desde criança seu dinheiro. Desde sua mesada, já economizava para seu casamento, casa e possíveis filhos.

Esses sonhos teriam de ser descartados, ela pensava enquanto vagava pela cidade em seu carro laranja.

Lembrou que seu vizinho estava interessado em comprar um apartamento para alugar. Se ia mesmo se jogar no mundo, podia vendê-lo. Morreria em pouco tempo. Não tinha por que manter aquilo.

Chegou em seu prédio e foi diretamente falar com o vizinho.

Em menos de uma semana, já tinha pedido demissão e vendido o apartamento. Só faltava dar adeus a Felipe, sem deixá-lo saber que seria um adeus, e contar para seus pais que viajaria por um tempo.