
(🏁) . final alternativo part1.
Marli Mancini.
modelo.
Não fomos para o hospital Maggiore de imediato. Ângelo havia ligado e avisado que estava um caos, lotado de pessoas em silêncio e curiosos na porta. Mas minha preocupação não me deixava descansar. Eu me sentia como um relógio quebrado, contando segundos que não passavam.
Só no dia seguinte conseguimos ir. Lembro-me do silêncio absoluto no hospital, como se todos ao redor carregassem a mesma preocupação. O ar parecia pesado, cada passo pelo corredor ecoava como uma batida surda no meu peito. Quando finalmente disseram que eu podia entrar, meu coração quase parou.
Ele estava lá.
Deitado sobre aquela cama, os aparelhos ao redor emitindo sons rítmicos que eram ao mesmo tempo um alívio e um lembrete da fragilidade daquele momento. Havia cortes no rosto dele, hematomas espalhados pelo corpo, e sua mão direita estava enfaixada – aquela mesma mão que tantas vezes apertou a minha com força e segurança.
Fiquei parada por um momento, como se estivesse congelada no tempo, antes de me aproximar devagar. O barulho do monitor cardíaco marcava o ritmo do meu nervosismo, e tudo que eu podia ouvir era o coração dele batendo.
Me sentei ao lado da cama e segurei a mão dele com cuidado, com medo de machucá-lo mais. Ele parecia tão vulnerável, tão distante, mas ao mesmo tempo ali, vivo.
Era tudo o que importava.
——— Você é tão teimoso, Beco ——— sussurrei, tentando conter as lágrimas.
Os olhos dele estavam fechados, mas, por um momento, jurei que vi seus dedos se mexerem levemente. Não sei se foi real ou apenas meu desejo desesperado, mas foi suficiente para reacender a esperança que eu estava quase perdendo.
Fiquei mais de dois meses cuidando de Ayrton no hospital. Aqueles dias pareciam intermináveis, uma mistura de medo, cansaço e amor. Eu praticamente me mudei para o quarto dele.
Dormia naquele sofá desconfortável, pequeno demais para mim, mas não me importava. Não queria sair de perto dele por nada no mundo.
As enfermeiras até tentavam me convencer a descansar em casa, mas eu recusava todas as vezes.
——— E se ele acordar e eu não estiver aqui? ——— respondia.
Elas sempre me olhavam com aquele sorriso compreensivo, mas eu sabia que achavam que eu estava exagerando.
As noites eram as mais difíceis.
O silêncio do hospital parecia amplificar meus pensamentos. Ficava olhando para ele, os aparelhos monitorando sua recuperação, os curativos cobrindo os ferimentos. Muitas vezes, acabei chorando baixinho, com medo de acordar alguém.
Quando Ayrton mexia os dedos ou fazia algum movimento leve, era como se o mundo ganhasse cor novamente. E cada dia que passava, por menor que fosse a melhora, me dava mais força para continuar.
——— Eu te amo, Beco ——— sussurrava todas as noites, esperando que ele me ouvisse de alguma forma.
( . . . )
Quando Ayrton finalmente começou a melhorar, era como se o mundo tivesse voltado a ter cores. O peso que eu carregava no peito deu lugar a um alívio que não cabia em palavras. Ele ainda estava fraco, os movimentos lentos, mas a consciência nos olhos dele era tudo que eu precisava.
Me sentei na poltrona ao lado da cama, observando a enfermeira trazer seu almoço. Ela ajeitou a bandeja e sorriu para mim antes de sair, como se soubesse que aquele momento era especial.
——— Então ——— comecei, tentando aliviar o silêncio. ——— Isso não vai virar costume, né?
Ayrton sorriu de leve, aquele sorriso que era só dele, mesmo sem a energia de sempre. ——— Eu prefiro um cockpit. A vista é melhor.
Ri baixinho, mas logo o olhar dele ficou mais sério. Ele esticou a mão, ainda um pouco trêmula, e segurou a minha.
———!Você não saiu daqui, né? ——— perguntou, a voz ainda fraca, mas cheia de carinho.
Balancei a cabeça, apertando sua mão com cuidado. ——— Claro que não. Você acha que eu ia te deixar sozinho depois de tudo isso? Nem em sonho.
Ele ficou me olhando por alguns segundos, como se tentasse encontrar as palavras certas. –——!Eu sei que não é fácil. Obrigado por ficar.
——— Você não precisa me agradecer, Ayrton ——— respondi, a voz embargada. ——— Eu faria tudo de novo. Sempre faria.
Ayrton olhou para mim com aqueles olhos cansados, mas ainda brilhando com a curiosidade de sempre. Ele apertou minha mão um pouco mais forte, como se estivesse buscando coragem para perguntar algo que parecia estar entalado.
——— Marli... ——— Ele hesitou por um momento, respirando fundo antes de continuar. ——— E o bebê? Tá tudo bem?
Sorri, sentindo as lágrimas encherem meus olhos, mas dessa vez eram de felicidade. A notícia que eu tinha para dar a ele era tudo que poderia melhorar aquele momento, trazendo um raio de esperança e alegria para nós dois.
——— É um menino, Beco ——— disse, minha voz carregada de emoção.
Por um instante, o silêncio preencheu o quarto, mas logo o sorriso que tomou conta do rosto dele era tão largo que parecia iluminar o ambiente. Ele piscou várias vezes, claramente tentando segurar as próprias lágrimas.
——— Um menino ——— repetiu, como se estivesse testando o som das palavras.
Balancei a cabeça, confirmando, enquanto ele fechava os olhos por um instante, como se estivesse agradecendo silenciosamente. Quando os abriu de novo, havia uma mistura de felicidade e determinação.
——— Gabriel ——— ele disse, como se já tivesse escolhido o nome há muito tempo. ——— Ele vai se chamar Gabriel.
Eu apenas sorri, segurando sua mão com mais força. ——— Gabriel Senna. Vai ser tão incrível quanto o pai dele.
Ayrton riu baixinho, mas logo ficou sério novamente, a emoção ainda clara em seu rosto. E, naquele momento, eu soube que, apesar de tudo o que havíamos passado, a nossa história ainda estava longe de terminar.
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