Marli Mancini.
            modelo.

                                    As palavras do meu pai ecoavam na minha mente enquanto eu passava pelos corredores estreitos e iluminados do estúdio. "Quando amamos algo, temos que ir atrás dela." Era isso que eu fazia agora, com o coração acelerado e uma mistura de medo e determinação em cada passo.

Os sons das conversas e risadas dos bastidores não conseguiam abafar o que eu sentia por dentro. Segurava a alça da bolsa com força, tentando encontrar coragem. Sabia que Ayrton estava ali para uma entrevista. Era minha chance, talvez a única, de consertar o que estava quebrado.

Ao virar um corredor, avistei uma pequena porta com uma placa que indicava "Convidados". Dois seguranças estavam à porta, e, mesmo tentando parecer tranquila, meu nervosismo era óbvio.

——— Posso ajudar? ——— perguntou um deles, educado, mas firme.

——— Eu... preciso falar com Ayrton Senna.

O segurança levantou uma sobrancelha, mas antes que pudesse me questionar, ouvi uma voz familiar vindo do outro lado da porta, abafada, mas inconfundível. Meu coração pulou.

——— Ele está aí? ——— perguntei, minha voz quase um sussurro.

O segurança hesitou, mas nesse momento, a porta se abriu. Era uma das produtoras do programa, que me lançou um olhar curioso.

——— Ele está terminando a preparação. Você é...?

——— Marli Mancini ——— respondi, tentando manter a calma.

O nome pareceu causar uma reação. Ela trocou um olhar com o segurança, então deu um leve aceno de cabeça.

Assim que entrei na sala, meu olhar encontrou o dele. Ayrton estava sentado em uma cadeira, ainda vestindo parte do uniforme do programa, com as mangas dobradas e um ar mais relaxado. Mas quando ele me viu, seus olhos mudaram, como se o mundo tivesse parado por um instante. Ele sorriu — aquele sorriso que me fazia esquecer tudo ao redor.

Eu queria dizer tantas coisas, mas, ao mesmo tempo, me faltavam palavras. Era como se tudo o que eu havia ensaiado tivesse evaporado.

——— Foi lindo... você no Interlagos ——— consegui dizer, minha voz baixa, mas sincera.

Ele inclinou levemente a cabeça, um brilho de curiosidade e surpresa em seus olhos.

——— Você assistiu?

Eu assenti, sentindo um nó na garganta.

——— Eu assisti todos.

Ele respirou fundo, como se estivesse tentando absorver aquelas palavras.

——— Todos?

——— Todos, Ayrton. Mesmo quando eu disse que não podia, eu assisti.

Por um momento, o silêncio tomou conta da sala. Não era desconfortável, mas carregado, como se ambos estivéssemos tentando entender como, depois de tudo, ainda estávamos ali, frente a frente.

Ele levantou devagar, os olhos nunca deixando os meus.

——— Por que você veio?

Eu respirei fundo, tentando encontrar a coragem que meu pai sempre dizia que era necessária.

——— Porque eu nunca parei de te amar.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Ayrton deu um passo rápido em minha direção. Sua mão segurou minha cintura com firmeza enquanto a outra tocou meu rosto, e, sem hesitar, ele me beijou. Era um beijo intenso, quase desesperado, como se quisesse recuperar cada momento perdido entre nós.

Eu não resisti. Meus braços o envolveram automaticamente, segurando-o como se temesse que ele pudesse escapar. Senti o calor de seu corpo contra o meu, suas mãos me puxando para mais perto, e o mundo ao redor desapareceu.

Foi como se todo o tempo que passamos separados não tivesse significado nada. Aquele momento, aquele beijo, parecia apagar qualquer dúvida, qualquer mágoa. Eu podia sentir tudo o que ele não disse, todo o amor, toda a saudade.

Quando nos afastamos, apenas o suficiente para respirar, ele encostou a testa na minha, os olhos ainda fechados.

——— Eu senti tanto a sua falta, ——— Ayrton sussurrou, com a voz embargada de emoção.

——— Eu também, Beco, ——— respondi, quase em um sussurro, enquanto meus dedos tocavam de leve seu rosto.

——— Mesmo lá na Argentina... com o Maradona? Ele sabe que você tá aqui?

Ri de leve, balançando a cabeça.

——— Sabe... Eu disse que ia voltar pro Brasil pra reconquistar meu ex.

Os olhos dele brilharam, e a expressão provocativa deu lugar a algo mais intenso. Ele se aproximou, sua voz baixa como um segredo.

——— Diz pra ele que você não volta mais.

Sem pensar, concordei com um aceno. E antes que qualquer palavra pudesse escapar, ele me puxou de volta para seus braços, e nos beijamos novamente. Dessa vez, o beijo carregava a promessa de um novo começo.

——— Fica aqui e me espera, por favor, não vai embora, ——— Ayrton pediu, os olhos fixos nos meus, com um brilho que parecia implorar por uma resposta.

Eu apenas concordei com um aceno de cabeça, sem conseguir dizer nada. Ele sorriu, aliviado, mas ainda carregando a intensidade de quem tem medo de que aquilo não seja real.

Ayrton caminhou até a porta, ajeitando a camisa rapidamente. Antes de sair, virou-se para me olhar mais uma vez.

——— Você é o amor da minha vida, ——— disse, com a voz carregada de sinceridade.

Eu senti meu coração apertar, mas dessa vez, de forma doce, quase como se ele estivesse sendo curado de algo que nem sabia que estava quebrado.

——— E você é o meu, ——— murmurei para mim mesma, enquanto o via desaparecer pelo corredor.