(🏁) . capitulo trinta e seis.
Marli Mancini.
modelo.
Eu me acomodei ao lado de Ângelo e sua esposa, o ambiente estava tenso, carregado de uma energia diferente dos outros dias de corrida. A expectativa era palpável no ar, mas havia algo mais, uma sensação de apreensão que eu não conseguia afastar.
Olhei para Ayrton na pista, concentrado e imerso no que fazia, mas eu sabia que ele estava preocupado com a segurança, com as feridas que não cicatrizavam, e com o peso da responsabilidade. Tentei ignorar a sensação de medo que crescia em mim, mas não consegui.
As lembranças da tragédia de Roland Ratzenberger ainda estavam frescas, e eu sabia que nada seria o mesmo após aquele acidente.
Então, em silêncio, comecei a rezar. Foi um pedido simples, mas do fundo do coração. Pedi pela segurança de Ayrton, por mais um momento de felicidade para nós dois, e por proteção em cada curva daquela pista.
Estava ali, com as mãos unidas e os olhos fechados, esperando que o destino nos favorecesse.
O ambiente no autódromo ficou pesado, como se o ar estivesse mais denso, carregado de algo que todos temiam, mas ninguém queria admitir. O som das engines, normalmente energizante, parecia agora distante, abafado pela tensão crescente. Pedro Lamy havia batido feio, e logo as notícias começaram a chegar, trazendo o temor para os nossos corações. Ângelo, sempre alerta, havia saído para os boxes, o que só aumentava a apreensão.
A correria dos paramédicos e o murmúrio constante dos repórteres eram abafados pelo silêncio que tomava conta de nós.
——— Dois pneus do carro do Lamy foram parar nas arquibancadas.
A corrida retomou com a adrenalina de sempre, mas havia algo de diferente no ar, como se o tempo tivesse desacelerado apenas para nós que estávamos observando, esperando por cada movimento.
O som dos motores ecoava mais alto, e a visão de Ayrton na pista, correndo com a mesma intensidade e determinação que sempre teve, me fazia sentir um misto de admiração e medo. Cada curva, cada aceleração era um reflexo do talento e da coragem que o definia
——— Hoje aqui em Ímola, Senna largou na frente mais uma vez, e agora tenta manter a liderança.
O barulho dos motores ainda preenchia o ar, mas, por um momento, parecia que o som tinha diminuído. Eu observava cada volta de Ayrton com uma sensação de alívio crescente, como se ele estivesse mais perto da linha de chegada e, com isso, mais perto da segurança.
A tensão que me consumia há minutos, horas, parecia aos poucos se dissipar, substituída por uma ansiedade que até eu mesma me espantei em perceber.
Ele estava fazendo o que fazia de melhor, como sempre, com habilidade, força e uma confiança imbatível.
Cada volta era uma confirmação do que sempre soubera: ele era imbatível na pista. Meu coração batia mais calmo agora, quase convencido de que o pior já havia passado, que o final estava próximo e ele estava em controle da situação.
——— Senna bateu forte!
Foi como se o tempo tivesse parado.
O barulho da corrida, o zumbido dos motores, o som do público ao fundo, tudo isso se apagou de repente. Eu fiquei paralisada na cadeira, os olhos fixos na tela da televisão, tentando entender o que acontecia diante de mim. Ayrton havia batido, e, por um instante, tudo parecia fora de controle.
O medo que eu sentia tomou uma proporção que nem sabia ser possível. Era como se o mundo tivesse desacelerado, como se fosse um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.
Eu não conseguia me mover, as palavras não saíam, o medo me paralisou completamente. Era uma sensação de impotência tão profunda que parecia impossível, como se o tempo e o espaço ao meu redor tivessem parado, me aprisionado nesse momento de angústia.
Eu me lembro de olhar para as imagens na tela, como se tentasse entender o que acontecia, tentando encontrar uma explicação, uma saída, algo que me tirasse dessa situação de angústia. Mas tudo o que eu via era a batida.
Não me lembro de muita coisa naquele dia.
Eu lembro que ele bateu. O som, o impacto. Lembro dos médicos chegando, mas não consigo ver seus rostos, só as sombras apressadas, a agitação. Lembro de sentir um vazio, um peso no peito.
Lembro do Ângelo me colocando no carro, suas mãos me guiando, mas minha mente estava em outro lugar. Eu queria gritar, queria chorar, mas nada saiu. Só o silêncio.
Não ouvi gritos, não ouvi nada, a não ser o som do meu próprio coração, batendo descompassado, tentando entender o que estava acontecendo. A rua estava silenciosa, as pessoas ao meu redor pareciam não existir, como se o tempo tivesse parado.
Lembro de sentir o peso de algo imenso, algo que eu não queria acreditar. E então, aquela frase apareceu. Na TV, nos jornais. Era como se a vida tivesse me dado um golpe mortal.
——— Morreu Ayrton Senna da Silva.
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