(🏁) . capitulo trinta.
Marli Mancini.
modelo.
Enquanto eu estava trabalhando, o som dos flashes das câmeras ecoava ao meu redor. Eu tentava me concentrar, mas as conversas nos bastidores começaram a se infiltrar na minha mente. Eram palavras que não consegui ignorar.
——— Você viu? Alguém bateu feio em Imola.
——— Eu vi, foi horrível.
Meu coração disparou. Não era normal para mim sentir aquele pânico repentino, mas naquela hora, não pude evitar. Normalmente, eu ligaria para o Ayrton imediatamente, saberia se ele estava bem ou, se estivesse longe, esperaria pelas notícias na televisão.
Mas naquele dia, algo dentro de mim me dizia que eu precisava sair de lá imediatamente. Sem pensar duas vezes, peguei minhas coisas e dirigi até a pista em Imola.
A ansiedade estava me consumindo de forma silenciosa, e, naquele momento, eu não consegui admitir o quanto ela estava me corroendo. A sensação de impotência tomou conta de mim, e todas as imagens que vi da pista se misturavam em uma sensação de pavor crescente.
Hoje, olhando para trás, consigo ver como aquele desespero não era só uma reação de preocupação, mas uma luta interna contra algo que eu não conseguia controlar. A incerteza e o medo de perder ele.
Enquanto eu dirigia, a estrada parecia se estender infinitamente, cada segundo mais angustiante. Ao chegar perto de Imola, o barulho da ambulância e a movimentação dos socorristas se misturavam com o som abafado das conversas tensas dos repórteres.
Meu coração batia forte, quase como se quisesse escapar do meu peito. O medo era quase palpável, uma sensação que me consumia a cada segundo. E então, entre a multidão, eu o vi. Ele estava parado no meio da pista, calmo, mas preocupado, observando a situação.
Sem pensar, corri em sua direção, atravessando rapidamente os bastidores, até me encontrar nos braços dele. O abraço foi instintivo, uma tentativa desesperada de ancorar a realidade e afastar o pânico que tomava conta de mim.
Fechei os olhos por um momento, sentindo o calor do corpo dele contra o meu, como se, naquele abraço, eu pudesse finalmente me acalmar.
——— Amor... você não tinha trabalho hoje? ——— Ele disse com uma leveza que contrastava com o cenário ao nosso redor.
Eu ainda estava tremendo, as palavras saíram de forma trêmula, carregadas de medo. ——— Eu ouvi sobre o acidente... eu... eu acho que entrei em pânico.
Ele me olhou nos olhos, ainda com aquele sorriso tranquilizador, mas sabia que naquele momento, o que eu sentia era real. Mesmo que nada tivesse acontecido com ele, o susto e a ansiedade já haviam me consumido.
Ayrton me olhou com um olhar suave e compreensivo, como se soubesse exatamente o que eu estava sentindo, sem precisar de palavras. Ele me abraçou mais forte, me envolvendo em seus braços com a segurança que só ele poderia transmitir.
Eu podia sentir o batimento do seu coração, calmo, estável, enquanto o meu parecia descompassado.
——— Eu tô aqui, eu tô bem ——— ele disse, a voz tranquila, como se fosse o único remédio para acalmar o turbilhão de emoções que eu sentia naquele momento.
As lágrimas começaram a cair, não só pelo medo que ainda estava presente, mas por perceber que a tensão e o estresse de sua profissão estavam finalmente me alcançando de uma forma que eu nunca tinha imaginado.
Era difícil para mim admitir, mas na época, o trabalho de Ayrton — a velocidade, o risco, a constante ameaça de algo dar errado — haviam me afetado profundamente, mais do que eu queria admitir.
——— Desculpa... foi exagero, desculpa ——— eu disse, tentando controlar as lágrimas, sentindo um peso no peito ao perceber o quanto o medo tomava conta de mim. Eu sabia que era irracional, mas naquele momento, a ansiedade me dominava.
Ele me olhou com ternura, enxugando minhas lágrimas com os dedos, e me fez sentir que, mesmo naqueles momentos de pânico, eu não estava sozinha. ——— Não precisa pedir desculpa ——— ele disse suavemente. ——— Eu entendo.
( . . . )
Eu estava sozinha dentro do trailer de Ayrton, o som abafado da movimentação fora preenchia o ar. Ele tinha ido ver Rubens, o piloto da Jordan, que havia se envolvido no acidente sério. O frio na barriga, a tensão no ambiente, tudo parecia estar se acumulando dentro de mim. Eu me sentia inútil, sentada ali, esperando, sem poder fazer nada.
Decidi ligar para minha mãe, algo que na época me parecia o mais sensato, mas agora, olhando para trás, me arrebento por ter feito essa decisão. Ela atendeu com a voz calma, mas logo percebi a preocupação em seu tom.
Conversamos brevemente, mas suas palavras ficaram gravadas em minha mente. "A Fórmula 1 acabou com a mente do seu pai, do Carlos, do Ângelo, e agora com a sua."
Aquelas palavras me atravessaram. Minha mãe estava certa, mas eu não queria admitir. Cada corrida, cada risco, cada vitória, também traziam consigo um preço.
Eu sabia o que ela queria dizer: a vida de Ayrton estava em constante risco, e isso afetava a todos ao nosso redor, principalmente a mim.
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