(🏁) . capitulo dois.
Stefano Gallo.
fotógrafo, ex namorado de Marli.
A Marli nunca foi como as namoradas tradicionais. Ela não era como as namoradas dos meus amigos, aquelas que sempre se encaixavam nas expectativas, que seguiam o mesmo padrão.
Eu ainda era estagiário na agência de modelos quando conheci ela. Lembro até hoje, a primeira vez que a vi – ela era a mais bonita de todas. Quando ela entrou naquela sala, parecia que o mundo parou por um segundo. Não sei se era pela beleza ou pela presença dela, mas tudo ficou em câmera lenta. Eu olhava pra ela, sem nunca esperar que ela olhasse de volta. Eu estava apenas ali, observando, sabendo que uma mulher como ela jamais daria bola para um cara como eu.
Mas, surpreendentemente, ela olhou. Ela olhou direto nos meus olhos. E naquele momento, algo mudou.
Eu lembro dos nossos primeiros encontros como se fosse ontem. A Marli, com aquela maneira única de ser, ainda embaralhava as palavras entre o português e o italiano, como se seu cérebro fosse um caldeirão de idiomas. Ela tentava se explicar e, por vezes, trocava palavras sem nem perceber. Às vezes, soltava palavras em francês também, sem nem querer, como se todas essas línguas dançassem em torno dela.
Ela era poliglota, isso era claro. Acho que foi uma das coisas que me fez gostar ainda mais dela.
A gente ficou junto por dois anos. Dois anos que pareceram uma vida inteira, mas que, ao mesmo tempo, passaram tão rápido. Eu sabia que o tempo estava a nosso favor. Aqueles dois anos foram suficientes para que eu conseguisse um emprego melhor, para que minha vida começasse a engrenar de verdade.
E, ao mesmo tempo, a Marli se tornava cada vez mais famosa, uma modelo que o mundo inteiro estava começando a notar. Era como se ela tivesse nascido para aquilo.
Eu queria pedir ela em casamento. Pensava nisso todo dia. Como poderia deixar uma mulher daquelas escapar? Ela era tudo o que eu sempre sonhei, uma mulher forte, inteligente, independente, com uma beleza única que parecia irradiar de dentro pra fora. Eu sabia que não a queria deixar ir. Quando você encontra alguém assim, alguém que te faz sentir como se o mundo fosse um lugar melhor, você quer manter essa pessoa perto de si para sempre.
Mas foi quando eu decidi tomar coragem e falar sobre o casamento que a Marli me surpreendeu. Ela disse que casar não era uma boa ideia para uma garota como ela. Foi uma frase simples, mas com um peso que eu não conseguia entender naquele momento. Ela não queria se prender a algo, não queria perder sua liberdade. Eu, que estava pronto para construir uma vida ao lado dela, me vi de mãos atadas.
Ela me explicou que para uma mulher como ela, que estava no auge da carreira, casamento representava uma prisão. Ela não queria ser vista como a esposa de alguém, queria ser reconhecida por seu próprio nome, por sua própria independência. E, apesar de tudo, eu sabia que ela estava certa.
Naquele momento, percebi que o amor dela por mim não era o suficiente para mudar quem ela era, e eu a amava ainda mais por isso.
Eu acho que foi o pedido de casamento que acabou com a gente. Não de imediato, claro, mas foi ali, naquele momento, que algo começou a se quebrar entre nós. Seis meses depois, veio a separação oficial. Foi como um golpe que eu não vi chegando. Ela não queria mais estar comigo, e eu não podia fazer nada para mudar isso. Eu me mudei para a Inglaterra na mesma época, tentando encontrar alguma forma de lidar com o fim. O que mais me impressionou foi a ironia do destino: foi lá, longe da Itália e do Brasil, que eu conheci o Senna.
Quem diria que, depois de levar um fora de dois anos, eu estaria na Inglaterra, tentando seguir em frente, tomando um café quente em uma manhã qualquer, e veria o futuro homem da vida da minha ex-namorada na capa do jornal, sem nem saber que seria ele? Como as coisas podem ser irônicas, né?
Eu estava lá, distante da Marli, tentando entender o que tinha acontecido, ainda digerindo nossa separação. E, em um momento de distração, vi aquele rosto, aquela presença forte, estampada em todas as manchetes. Ayrton Senna. Eu não fazia ideia de quem ele era, nem o que ele representaria para ela.
O que me surpreendeu mais foi o fato de que eu, de algum jeito, o conheci antes dela. Ele entrou na minha vida, quase como uma premonição de tudo o que estava por vir. Eu vi aquele homem, sem saber que em um estalo ele seria o futuro dela, enquanto eu era apenas o passado.
Foi só quando vi a Marli e o Senna na capa de um jornal besta de fofoca que eu percebi. Eu estava tomando café, de novo, num daqueles dias em que a vida segue sem muita emoção, e lá estava a notícia: "Marli Mancini é vista aos beijos com piloto de Fórmula 1, Ayrton Senna."
Eu não sabia se ria ou se ficava impressionado. Já faziam anos do nosso término, eu já estava noivo da minha atual esposa, e aquela notícia me fez gargalhar. Não porque era engraçado, mas porque, no fundo, eu sabia que aquele jornal estava simplesmente capturando o espírito da Marli, ainda inconfundível, ainda tão cheia daquela energia que eu me lembrava.
Mesmo anos depois, ela ainda tinha aquele espírito jovem, o mesmo que eu conheci. Eu pensei, como era possível? Ela ainda era a mesma menina, com o olhar brilhante, com a vida cheia de intensidade, sem medo de viver a sua verdade. Quando a vi naquela capa, ao lado de Senna, percebi que, de alguma forma, ela nunca mudou. E, em um momento de pura nostalgia, eu pensei: poderia ter sido nós dois naquela capa, há anos atrás.
Acho que nunca deixei de amar a Marli. Nunca me senti frustrado com ela por termos terminado, talvez porque soubesse, no fundo, que ela sempre foi uma mulher que precisava ser livre. E eu entendi isso. Eu amo minha esposa, mais do que amo a minha própria vida. Nós temos uma conexão profunda, algo que me preenche de uma maneira única. Mas isso não significava que não fosse grato por ter sido parte da história de Marli Mancini.
Ela foi uma das mulheres mais intensas que eu já conheci, e estar ao lado dela, mesmo que por um tempo curto, foi algo que eu guardaria para sempre. Quando vi o Senna ao lado dela, não senti raiva ou ciúmes. Ao contrário, senti uma gratidão profunda por tê-la conhecido, por ter tido a chance de fazer parte de sua história, mesmo que de uma forma tão pequena.
Acho que, no fundo, todo homem que passa pela vida dela seria grato por tê-la, nem que fosse por um breve momento.
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