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Capítulo 29.

Niki soltou um suspiro alto, cruzando os braços e sacudindo a cabeça em descrença.

— Isso parece um filme de terror. Ou sei lá, uma daquelas histórias malucas de ficção científica.

Ele fez uma pausa antes de inclinar a cabeça para o lado, seu olhar carregado de curiosidade.

— Mas e essa pessoa? O que aconteceu com ela?

Foi Heeseung quem respondeu antes que Jake pudesse dizer qualquer coisa. Sua voz estava estranhamente baixa, como se estivesse testando suas próprias palavras antes de pronunciá-las.

— Essa pessoa… era a mãe do Jake.

O impacto das suas palavras atingiu todos nós como um choque. Sunghoon arregalou os olhos, e Sunoo ficou visivelmente tenso, sua mão se fechando contra o tecido da calça. Até mesmo Jungwon, que sempre mantinha uma expressão inabalável, pareceu surpreso.

Jake, por outro lado, não demonstrou qualquer reação. Ele simplesmente continuou a acariciar Thor, como se já estivesse acostumado com aquele peso que carregava.

— Meu pai não parou por aí — ele continuou, sua voz mais baixa, quase fria. — Mesmo depois que minha mãe sobreviveu, ele continuou com seus experimentos. Obcecado em entender o que havia acontecido. Por que havia funcionado com ela e não com os outros.

Ele fez uma pausa, respirando fundo.

— Minha mãe gerou dois filhos. Eu e meu irmão mais velho. Mas ela… — Sua mão parou sobre o pelo do cachorro por um instante. — Ela morreu no segundo parto.

O silêncio na sala era quase sufocante.

— Eu nunca a conheci.

As palavras saíram com uma calma assustadora, mas eu percebi algo na maneira como ele as disse. Uma ponta de algo que Jake tentava esconder. Raiva? Tristeza? Talvez um pouco de ambos.

— Eu sempre soube que tinha algo de errado comigo — ele continuou, seu tom voltando a ser impassível. — Eu via outras crianças e sabia que minha infância não era como a delas. Eu não brincava com os outros, não ia a festas, não tinha amigos. Mas meu irmão… — Ele finalmente ergueu o olhar, seus olhos escuros encontrando os meus. — Ele sempre esteve lá por mim.

Jake desviou o olhar brevemente para Heeseung antes de continuar.

— Meu pai nunca ligou para nós. Ele estava obcecado demais com suas loucuras, com sua busca incessante por respostas. Ele nunca nos viu como filhos. Apenas como experimentos que ele criou.

O peso daquelas palavras caiu sobre nós como uma sombra densa. Ninguém disse nada. Eu olhei para Heeseung, esperando alguma reação, mas ele apenas mantinha os olhos fixos em Jake, seu rosto impassível.

Mas eu sabia que algo dentro dele estava se agitando. Algo que talvez só ele e Jake entendessem.

Eu não sabia como reagir a tudo aquilo. A princípio, tudo parecia absurdo demais para ser verdade, como se eu estivesse preso em um pesadelo bizarro do qual não conseguia acordar. Mas, ao olhar para Jake, percebi que não havia hesitação em sua voz. Nenhuma teatralidade em sua expressão. Era cru, direto. Verdadeiro.

E, por algum motivo, isso me incomodou.

Agora eu entendia um pouco melhor o porque de Jake ser assim. Sua arrogância, sua maneira de falar como se estivesse acima de tudo, seu desprezo por regras e limites… talvez tudo isso fosse apenas um escudo. Um reflexo do que ele viveu. Se tudo o que ele está dizendo for verdade, eu realmente me sinto mal por ele.

O silêncio que se seguiu foi desconfortável. Ninguém sabia o que dizer ou como reagir. Foi Sunoo quem quebrou o silêncio primeiro.

— E o seu irmão? Onde ele está agora?

Jake desviou o olhar por um instante, seus dedos ainda afundando no pelo macio de Thor, como se aquilo o ajudasse a manter o controle.

— Ele não está mais aqui.

Sunoo piscou, claramente não esperando aquela resposta direta.

— O quê?

Jake suspirou profundamente, como se aquele fosse um peso que ele já carregava há muito tempo.

— Ele morreu em um acidente. Mas o pior não foi isso… — Seu olhar ficou mais sombrio, um traço de repulsa tomando sua voz. — O médico amigo do meu pai…

Ele cuspiu a palavra “médico” como se fosse algo nojento.

— Ele fez um transplante. Pegou o coração do meu irmão e colocou em outra pessoa.

A maneira como ele disse aquilo fez minha pele arrepiar.

Sunoo abriu a boca, mas hesitou antes de falar. No fim, ele apenas sussurrou:

— Eu sinto muito.

Jake não respondeu de imediato. Seus olhos estavam fixos em um ponto qualquer da sala, perdidos em memórias que nós não podíamos alcançar.

Mas algo na postura de Heeseung mudou. Eu não sabia dizer o quê, mas senti quando ele ficou tenso ao meu lado. Como se ele já soubesse o desfecho daquela história.

Niki foi o primeiro a romper o silêncio pesado que havia se instalado no ambiente. Sua voz não trazia mais aquele tom debochado e descompromissado de sempre.

— Certo… Mas como você conheceu o Heeseung?

Por um segundo, senti o corpo de Heeseung enrijecer ao meu lado. Seu coração acelerou, e eu quase podia ouvir sua respiração se tornar irregular. Ele sabia o que viria a seguir.

Jake levantou o olhar, seus olhos escuros varrendo a sala antes de pousarem sobre mim. Como se estivesse decidindo se deveria mesmo falar.

— Heeseung morava perto. — Sua voz saiu sem emoção, como se estivesse apenas narrando um fato qualquer. — Ficamos próximos… Depois viramos namorados.

Eu não reagi. Não sabia se deveria.

Mas Sunoo, Niki e Sunghoon trocaram olhares rápidos entre si.

— Quando Heeseung descobriu o que eu era… — Jake continuou, sua expressão endurecendo levemente. — Ele foi embora. Eu também não ficaria...

Aquelas palavras ficaram pairando no ar, pesadas.

Todos permaneceram em silêncio, absorvendo aquilo, até que notei um movimento discreto vindo de Jungwon. Seu olhar estava preso em Jake, mas não era de surpresa ou choque. Era como se ele soubesse que Jake estava mentindo. Ou, no mínimo, escondendo algo.

Minhas sobrancelhas franziram ligeiramente.

— Jungwon… — chamei, atraindo os olhares para ele. — Você não parece muito convencido com essa parte da história.

Jungwon piscou lentamente, como se ponderasse o que deveria dizer. Então, ao perceber que todos o observavam, apenas desviou o olhar.

Jake o encarou por um instante, sua mandíbula tensionada. Não gostei disso. Parecia que uma conversa silenciosa acontecia entre eles, algo que nós não estávamos incluídos.

Antes que eu pudesse insistir no assunto, Niki captou algo nas palavras de Jake e interrompeu a troca de olhares entre ele e Jungwon.

— Espera… — Niki franziu o cenho, como se estivesse reorganizando as peças na própria cabeça. — Isso significa que Jungwon foi transformado à força pelo monstro do seu pai e o médico perturbado?

Jake assentiu sem hesitar.

Sunghoon arregalou os olhos, incrédulo.

— Então… o Jungwon era humano? E foi forçado a isso? — Sua voz transbordava indignação. — Isso é um absurdo!

Seus olhos se voltaram imediatamente para Jungwon, que permaneceu calado, encarando o chão. Eu senti meu estômago revirar.

Era diferente ouvir que Jake e o pai eram Ghouls. Diferente saber que Heeseung de alguma forma estava envolvido nisso.

Eu engoli em seco.

Meu peito se apertou quando olhei para Jungwon. Ele continuava em silêncio, os olhos baixos, os ombros levemente curvados, como se quisesse desaparecer naquele momento. Eu me senti péssimo por ele.

Sunghoon quebrou o silêncio, sua expressão ainda carregada de incredulidade.

— Então é por isso que o Heeseung não queria que a gente se aproximasse de vocês.

E foi como se algo clicasse na minha cabeça. Me lembrei de todas as vezes que Heeseung evitou esse assunto. De todas as vezes que ele me olhou sério e disse que eu deveria manter distância de Jungwon.

Ele nunca explicou o motivo, nunca deu uma justificativa real. Apenas falava para eu confiar nele.

Mas como eu confiaria, se nem ele conseguia contar a verdade?

Sunoo soltou um suspiro pesado ao meu lado.

— Eu ainda tô tentando digerir tudo isso…

Ninguém respondeu. O silêncio voltou, denso e carregado.

Então, como se quisesse desafiar a tensão no ar, Niki abriu a boca com a naturalidade de quem estava perguntando sobre o clima.

— Como se mata um Ghoul?

A sala congelou.

Jake e Heeseung o encararam com expressões surpresas, enquanto Sunoo e Sunghoon pareciam incrédulos com a audácia dele. Jungwon finalmente levantou o olhar, mas sua expressão era ilegível.

Eu não me contive. A risada escapou da minha garganta antes que eu pudesse evitar.

— Niki, sério!

Ele me olhou com uma sobrancelha arqueada, como se não entendesse o problema.

— O quê? É uma pergunta válida.

Jake inclinou a cabeça para o lado, os olhos semicerrados.

— Você está planejando algo?

— Não, só quero saber minhas opções.

Sunghoon bufou.

— Você realmente não tem filtro.

Mas, apesar da surpresa inicial, Jake pareceu relaxar. Talvez até tenha se divertido um pouco com a pergunta.

— Bem, se você quer saber… — Ele apoiou os braços sobre os joelhos, adotando um tom casual. — Não é tão simples assim. Humanos normais não conseguem nos matar facilmente. Mas existem maneiras.

Eu percebi que Jungwon desviou o olhar nesse momento. E eu não sabia por que, mas isso me incomodou mais do que deveria.

Jake fez uma pausa dramática antes de finalmente dizer:

— A primeira maneira de um humano matar um Ghoul… é beijando ele.

O choque foi imediato.

Niki arregalou os olhos. Sunoo e Sunghoon pareciam ter travado no lugar. Eu, por outro lado, senti meu estômago despencar.

Meus olhos instintivamente buscaram Jungwon. E para meu desespero, ele já estava me olhando.

Merda.

Talvez minha expressão tenha sido tão ridícula que ele não conseguiu evitar um sorriso. E então ele, empurrou a cabeça de Jake.

— Para de falar merda.

Eu ainda estava processando. Eu já tinha beijado Jungwon.

E ele ainda estava aqui. Vivo. Respirando. Me olhando daquele jeito que fazia meu coração bater rápido demais.

Niki quebrou o silêncio, cruzando os braços.

— Ok, tô desistindo da minha ideia.

— Você tava realmente considerando matar um Ghoul? — Sunghoon perguntou, incrédulo.

Niki deu de ombros.

— Não custa nada saber as opções.

Sunoo, que parecia menos chocado e mais cético, balançou a cabeça.

— Isso nem faz sentido. Se fosse verdade, Jake não estaria vivo. Ele já namorou com o Hee.

Jake suspirou dramaticamente.

— Sim, é verdade. Isso não é possível. Se não…

Ele olhou diretamente para mim.

— Jay...

Mas ele não teve a chance de terminar.

— Dá pra parar?— Jungwon o interrompeu, a voz firme.

Jake riu baixinho, como se estivesse se divertindo às minhas custas.

E eu?

Eu queria desaparecer.

Senti meu rosto queimar e abaixei o olhar, me concentrando no chão como se minha vida dependesse disso. Me recusei a encarar qualquer um deles.

Porque se eu olhasse, eu sabia que veria as expressões de curiosidade mal disfarçada. E os meninos poderiam desconfiar.

O clima ainda estava carregado de tensão, e eu podia sentir a inquietação de todos.

Niki, sempre curioso, cruzou os braços e perguntou:

— Tá, e quais são as habilidades de vocês? Tipo… o que vocês conseguem fazer? Porque, sinceramente, eu tenho um milhão de perguntas.

Antes que Jake pudesse responder, Heeseung se levantou abruptamente, interrompendo qualquer explicação que viria.

— Por hoje é só. Precisamos voltar para casa.

Havia algo na sua voz que não deixava espaço para discussão.

Meus olhos imediatamente foram até ele. Heeseung não estava bem. Ele tentou disfarçar, mas eu o conhecia bem demais para cair nessa. Seu olhar estava mais sombrio, e ele parecia… cansado.

Enquanto todos começavam a se levantar, Jungwon cutucou Jake discretamente. Foi um movimento rápido, mas eu percebi.

Jake então sorriu e se dirigiu a todos nós:

— Ainda é cedo. Eu posso levar vocês para casa… ou vocês podem dormir aqui.

Eu neguei imediatamente com a cabeça.

— Não.

Heeseung reforçou:

— Não, obrigada.

Sunoo e Sunghoon estavam ocupados se empurrando, até que Sunghoon revirou os olhos e disse:

— Sunoo quer saber se pode ver seus olhos vermelhos, Jake. Como você faz isso?

— Não é hora pra isso. — Falei, me esforçando para manter a paciência. — Sunghoon, liga pra polícia logo. Precisamos dizer que tudo foi resolvido.

Sunghoon bufou, pegando o celular com relutância, enquanto Jake me olhava com um sorrisinho provocador.

— Você é um estraga-prazeres, Jay. Se quer ir embora, então vai logo.

Eu não queria estar ali. Nunca quis.

Mas era impossível simplesmente ignorar quando Heeseung estava envolvido. Eu sabia que, por mais que ele tentasse agir como se estivesse no controle, a verdade era que esse assunto o consumia.

Então, quando Jake fez aquela provocação barata, aquele sorriso irritante no rosto, eu nem hesitei.

— E você acha que eu queria estar aqui? — cuspi as palavras, apontando para Heeseung. — Eu vim por causa dele.

Jake sorriu ainda mais, aquele tipo de sorriso que fazia meu sangue ferver.

— Claro que é por causa dele. — Ele deu de ombros, zombeteiro. — Parece até que nasceu grudado com ele. Dá um tempo, cara.

O que diabos ele queria dizer com isso?

— Do que você tá falando? — perguntei, sentindo minha paciência se esgotar.

Jake então se virou completamente para mim, sua expressão se fechando. Por um instante, parecia que ele me analisava de verdade, como se estivesse tentando encontrar algo no meu rosto. E então, com um tom ácido, ele disparou:

— Não sei por quê, mas seu rosto me lembra alguém que eu odeio muito. Como se não bastasse, você sempre aparece para atrapalhar quando eu quero falar com o Lee. Parece uma assombração.

Eu ri. Incrédulo, irritado. O que mais eu podia fazer?

— Você tá falando merda.

Heeseung, que até então estava ao meu lado em silêncio, segurou meu pulso e me puxou para longe. Mas eu não ia simplesmente deixar passar.

Antes de sair, lancei um último olhar para Jake e soltei:

— Se você não percebeu ainda, você não tem mais nada com Heeseung. E pelo que me lembro do que foi dito minutos atrás, ele saiu da sua vida e não queria que você voltasse.

Eu não esperava nada depois disso. Na minha cabeça, ele ia revirar os olhos, rir, mandar mais alguma provocação idiota. Mas não.

Como se minhas palavras tivessem atingido um ponto fraco, os olhos de Jake brilharam num vermelho profundo, intenso, ameaçador.

Antes que eu pudesse reagir, ele ergueu a mão.

Rápido. Ágil demais.

Eu senti um arrepio subir pela minha espinha. Ele ia fazer alguma coisa.

Mas então, como um raio, Jungwon surgiu entre nós.

Com um movimento firme e preciso, ele segurou a mão de Jake.

O ambiente inteiro pareceu congelar.

Jungwon não disse nada de imediato. Apenas segurou o pulso de Jake com força, seu olhar fixo no dele, como se o desafiasse sem precisar de palavras.

E então, com um tom baixo, firme, que fez o ar ao nosso redor pesar, ele disse:

— Não estrague tudo.

— É a primeira vez que me desafia. — Jake disse olhando firme para Jungwon.

A única coisa que quebrou essa atmosfera foi a voz de Niki.

— É exatamente por isso que eu queria saber como matar um Ghoul. — Ele cruzou os braços, arqueando uma sobrancelha.

Jake bufou e revirou os olhos, como se estivesse ofendido com a ideia.

— Eu não vou machucar o Jay. — Ele falou com desdém, mas também com uma convicção que me fez encará-lo de volta. — Eu não sou louco de fazer isso.

Por um instante, pensei que ele estava falando comigo. Mas então percebi que ele olhava para Heeseung.

Heeseung não disse nada de imediato. Apenas respirou fundo, longo e pesado, como se estivesse se segurando. Depois, sem aviso, me puxou para fora dali.

Não protestei, mas antes de sairmos, ouvi Jake dizer algo que me fez travar no lugar.

— Eu não sei o que esse cara tem pra você gostar tanto dele.

Meus passos pararam involuntariamente.

Senti um arrepio subir pela espinha e meu estômago revirar. Como assim? Ele estava falando de mim? Para Jungwon?

Virei o rosto o suficiente para ver Jake e Jungwon ainda parados um em frente ao outro. Jungwon não respondeu de imediato, apenas desviou o olhar. E meus amigos estavam boquiabertos.

Meu coração bateu forte demais. Mas não queria pensar nisso agora. Não ali.

Heeseung continuou me puxando e, dessa vez, eu o segui sem hesitação.

Assim que saímos, Heeseung chamou os outros e disse para Sunghoon pedir um carro de aplicativo. E foi aí que a ficha caiu.

Foi assim que aconteceu o sequestro de Heeseung mais cedo.

Meus olhos se voltaram para ele no mesmo instante, mas ele parecia exausto demais para lembrar disso. Olhei para Sunghoon, hesitante, mas ao mesmo tempo, também não queria aceitar uma carona de Jake.

Sunoo e Niki se aproximaram, foi quando Jungwon apareceu na porta, olhando diretamente para Heeseung.

— Posso falar com você?

Heeseung estreitou os olhos e olhou para mim por um instante antes de se virar para Jungwon novamente.

— Sobre o quê?

Jungwon hesitou.

— É importante.

A forma como ele disse aquilo fez Heeseung suspirar. Ele então assentiu e se virou para Sunghoon.

— Chama um táxi ou um carro de aplicativo.

Sunghoon pegou o celular e começou a digitar algo.

A chuva parecia prestes a desabar sobre nós a qualquer momento. Sentados no meio-fio, nenhum de nós falava. Era um silêncio estranho, desconfortável.

Eu encarava o chão, a mente girando, tentando absorver tudo o que tinha acontecido naquela noite. A história de Jake. A verdade sobre Jungwon. O olhar de Heeseung quando Jake mencionou o passado deles.

Então, Sunghoon quebrou o silêncio:

— Eu não consigo acreditar no que tá acontecendo.

Sua voz carregava descrença, como se dissesse aquilo para si mesmo.

Niki soltou uma risada seca.

— Eu não consigo acreditar que deixamos o Heeseung voltar para dentro daquela casa sozinho.

Eu suspirei, passando as mãos pelo rosto.

— Esse é o segundo pior dia da minha vida.

O primeiro... eu nem queria lembrar.

Foi aí que Sunoo se inclinou para mim e, sem avisar, me abraçou.

Ele deitou a cabeça no meu ombro, soltando um suspiro pesado. O calor do corpo dele era reconfortante, mas minha mente ainda estava uma bagunça.

Eu observei pelo canto dos olhos e percebi Sunghoon e Niki nos encarando.

E então me perguntei... eles estavam com ciúmes?

Antes que eu pudesse aprofundar esse pensamento, um grito cortou o silêncio da noite. Um trovão ribombou logo em seguida, como se o céu estivesse respondendo ao nosso choque.

Nos levantamos imediatamente.

Meu coração disparou. O grito veio de dentro da casa.

— Merda! — Sunghoon sussurrou, parecendo pronto para correr para lá.

Mas antes que fizéssemos qualquer coisa, a porta se abriu com um estrondo.

Heeseung apareceu.

Ele vinha em nossa direção com passos rápidos, mas seu rosto estava diferente. Ele parecia abalado.

Sunoo foi o primeiro a perguntar:

— O que aconteceu?

Heeseung parou na nossa frente, respirando fundo, como se ainda estivesse processando o que tinha acabado de acontecer.

—  Nada, só o Jungwon que se descontrolou.

O impacto daquelas palavras foi imediato. Um aperto se formou no meu peito.

Eu abri a boca para perguntar algo, mas hesitei. Eu não sabia o que dizer.

Mas meu corpo sabia o que sentia: preocupação.

— Como assim? — Minha voz saiu mais tensa do que eu esperava.

Heeseung olhou diretamente para mim, como se soubesse exatamente o que eu estava sentindo.

Então ele sussurrou:

— Jake disse que Jungwon ainda não tem total controle das emoções.

Eu franzi o cenho.

— E o que isso quer dizer?

Mas antes que Heeseung pudesse responder, o carro finalmente chegou.

O som do motor interrompeu o momento, mas a pressão ainda estava ali. Eu sabia que Heeseung não queria falar sobre isso ali, na rua, na frente de todo mundo. Então me mantive quieto.

                                    ☄️

Meus sentimentos eram como o universo: vastos, caóticos e insondáveis.

Sentado na beira da cama de Niki, eu sentia que minha mente estava em um turbilhão de estrelas em colisão. Cada pensamento era um meteoro cortando minha sanidade, deixando rastros incandescentes de confusão e preocupação.

Niki estava deitado de qualquer jeito na cama, com as pernas apoiadas na parede, balançando os pés distraidamente. Heeseung estava no colchão ao lado, olhando fixamente para o teto, como se esperasse encontrar alguma resposta escondida entre as rachaduras invisíveis do gesso.

E Sunghoon? Ele estava no chão, entre as camas, de olhos fechados, mas eu sabia que não estava dormindo.

Desde que voltamos para casa, ninguém quis começar uma conversa. E, por algum motivo, isso me incomodava ainda mais.

Foi então que peguei o celular, fui para a sala e liguei para minha mãe.

Eu precisava de um escape, algo que me puxasse para fora daquela névoa de incertezas. Também havia esquecido de ter ligado mais cedo por conta do incidente.

— Filho… — A voz dela soou cansada do outro lado.

— Oi, mãe. Eu… queria saber como você está...

Ela hesitou por um momento, depois suspirou. E então, finalmente, me contou tudo.

Sobre a gravidez ectópica.

Sobre como ela não conseguiu me explicar direito mais cedo.

E, mais do que isso… sobre como não estava se sentindo bem desde que perdeu o bebê. Eu não sabia o que dizer.

Havia dor real na voz dela. Uma dor que eu não poderia simplesmente afastar com palavras.

Mas eu tentei.

— Vai ficar tudo bem, mãe. Eu tô aqui.

Ela sorriu do outro lado da linha, mas foi um sorriso quebrado.

— Eu sei, querido. E eu também tô aqui pra você, sempre.

Ficamos conversando um pouco mais, até que ela mencionou algo inesperado.

— Ah, encontrei algo nas minhas coisas antigas e enviei pra você, ainda não chegou?

Eu franzi o cenho.

— O quê?

— Você vai ver quando chegar. Mas pode demorar um pouco… é uma viagem daqui até Seul. Na verdade já era pra ter chegado.

Ela riu baixinho, e eu sorri, ainda confuso, mas de alguma forma curioso.

Depois de nos despedirmos, soltei um suspiro e voltei para o quarto de Niki.

E a cena que encontrei foi exatamente a mesma.

Dois corpos jogados sobre as camas e Sunghoon ainda esparramado no chão.Era como se estivéssemos presos naquela bolha de silêncio.

Eu encostei na porta e cruzei os braços, olhando para eles.

— A gente vai ficar assim até quando? — Perguntei.

Niki suspirou sem abrir os olhos.

— Até o universo decidir.

Se era uma piada, eu não ri.

Porque, no fundo, eu realmente me sentia como se estivesse perdido no meio do universo.

Sunghoon se levantou e sejogou por cima de Heeseung com um impacto exagerado, arrancando um resmungo dele e ficando do seu lado na cama. Sem pensar duas vezes, fiz o mesmo com Niki, que soltou um grunhido de insatisfação quando caí em cima dele.

— Você pesa uma tonelada, Jay — ele reclamou, tentando me empurrar.

— Eu sou puro músculo — respondi, rindo e pressionando todo o meu peso contra ele de propósito.

Sunghoon, do outro lado, se ajeitou por cima de Heeseung e olhou para mim com uma expressão séria.

— Por que você não contou sobre a sua mãe antes?

Fiquei quieto por um momento.

— Não queria incomodar vocês — murmurei.

O silêncio que seguiu foi tão intenso que pude ouvir a chuva começando a cair novamente lá fora.

Niki bufou e empurrou meu ombro.

— Isso é sério, Jay. Você devia ter contado.

Assenti com a cabeça, sem responder, e Niki me olhou como se não estivesse satisfeito com minha falta de palavras. Mas antes que ele pudesse insistir, levantou-se para fechar a janela, resmungando sobre o frio. Quando voltou, simplesmente se deitou ao meu lado, sem me empurrar.

Sunghoon, por outro lado, estava inquieto. Ele se mexia ao lado de Heeseung, como se estivesse esperando o momento certo para falar.

Heeseung percebeu e suspirou.

— Anda logo, fala o que você quer perguntar.

O rosto de Sunghoon se iluminou com um sorriso enorme e suspeito.

E eu já sabia que vinha besteira.

— Então, Heeseung… — Ele se inclinou mais perto, como se fosse contar um segredo. — O Jake ainda tá na sua?

Eu praticamente senti Heeseung revirar os olhos.

— Sunghoon…

— Não, sério! Eu tô curioso. Ele ficou todo diferente quando a gente tava lá.

Niki, ao meu lado, riu.

— O Jay provocou ele de graça! — Sunghoon acrescentou, apontando para mim.

Me endireitei na cama.

— Ei, eu não provoquei! Ele que começou.

— Você cutucou a ferida, cara — Niki zombou.

Heeseung suspirou, cobrindo o rosto com um dos braços.

— Vocês são impossíveis.

— Mas fala a verdade, você ainda sente alguma coisa por ele? — Sunghoon insistiu, apoiando a cabeça nas mãos, animado demais.

Eu não sabia se queria ouvir a resposta. Parte de mim estava curioso.

Heeseung apenas balançou a cabeça em negação.

Mas isso não foi suficiente para Niki.

— Responde direito — ele exigiu, cruzando os braços e o encarando.

Heeseung suspirou, impaciente.

— Eu já respondi.

— Não, você só balançou a cabeça — Niki retrucou. — A gente quer saber direito.

— Vocês não têm nada melhor para fazer? — retruquei, passando a mão no rosto. A última coisa que Heeseung precisava era ser pressionado.

Sunghoon e Niki se entreolharam, e eu podia ver que estavam prontos para continuar insistindo.

Mas então Niki mudou de assunto.

— Tá, então me responde outra coisa — ele começou, ainda encarando Heeseung. — Como foi descobrir que Jake era um Ghoul? Você não ficou com medo?

A pergunta fez Heeseung franzir a testa. Por um momento, ele ficou em silêncio, como se estivesse voltando no tempo.

Então, finalmente respondeu:

— Naquele tempo… para mim, era o de menos.

Isso nos pegou de surpresa.

Sunghoon piscou algumas vezes, confuso.

— Como assim, ‘o de menos’? — ele perguntou, se ajeitando na cama.

Heeseung pareceu cair em si.

— Quero dizer… Eu fiquei um pouco com medo, claro. Mas… eu sabia que o Jake não faria mal a mim.

Fiquei observando Heeseung enquanto ele falava. Havia algo na forma como ele escolhia as palavras.

— Mas você não achou estranho? — Niki insistiu.

— Foi estranho, sim — Heeseung admitiu. — Mas a essa altura… eu já sabia que tinha algo diferente nele. Jake nunca foi… normal.

Sunghoon concordou.

— Isso a gente percebeu.

Eu fiquei calado, observando. Heeseung estava relembrando algo, mas não estava contando tudo.

Ele se deitou de novo, parecendo cansado.

— E você… — comecei, tentando formular minha pergunta da melhor maneira. — Foi por isso então que você sumiu da vida dele? Você nem se despediu dele, para ele não ir até você?

Heeseung me olhou de um jeito estranho, como se não esperasse aquela pergunta.

Mas eu continuei.

— No dia em que eu e Sunoo fomos pegos na casa do Jake, ele disse que você nunca terminou com ele. Então… — pausei por um instante, escolhendo bem as palavras. — Chegando a essa conclusão, você simplesmente sumiu da vida dele?

Heeseung desviou o olhar, como se estivesse se lembrando de algo.

Niki e Sunghoon estavam completamente focados na conversa, e eu percebi que se entreolhavam, como se estivessem tentando entender tudo ao mesmo tempo que eu.

— Você nem se despediu dele? — insisti.

Heeseung abriu a boca para responder, mas fechou de novo. Ele esfregou o rosto com as mãos e soltou um suspiro longo.

— Eu precisava sumir — disse, finalmente.

— Então era isso? — Niki perguntou, inclinando-se um pouco para frente. — Você não terminou com ele, só foi embora?

— E por que ele nunca foi atrás de você? — Sunghoon questionou, desconfiado.

Heeseung respirou fundo, como se estivesse reunindo paciência antes de responder.

— Demorou um pouco, mas Jake conseguiu me encontrar agora.

O jeito que ele disse aquilo me incomodou. Não era só cansaço.

Niki inclinou a cabeça, os olhos semicerrados.

— Você já viu o pai dele?

Foi a primeira vez na conversa que Heeseung hesitou de verdade.

Não foi uma pausa comum, do tipo que alguém faz para lembrar de algo.

Foi uma pausa longa, carregada.

Os olhos dele se perderam no teto por um instante, e quando ele respondeu, parecia estar escolhendo as palavras com cuidado.

— Só algumas vezes. De longe.

Era mentira. Não era difícil perceber.

O jeito como ele engoliu seco, como se algo estivesse machucando ele só por lembrar…

Sunghoon também percebeu.

Ele se ajeitou na cama e perguntou, direto:

— Quando você descobriu a história toda, não ficou com medo de ser transformado pelo pai dele?

A pergunta pairou no ar como um trovão prestes a cair.

Eu prendi a respiração.

Heeseung ficou imóvel. Por um segundo, tão curto que quase passou despercebido, os dedos dele tremeram.

Então ele sorriu.

— Isso se passou pela minha cabeça, por isso decidi me afastar, eu fiquei com medo.

Eu engoli em seco.

Heeseung era um péssimo mentiroso.

— Faz sentido — murmurei, deixando a explicação de Heeseung passar por enquanto.

Sunghoon concordou com a cabeça.

— Eu faria o mesmo.

Niki assentiu também.

Mas Sunghoon, sendo Sunghoon, não conseguiu deixar passar a oportunidade de acrescentar um comentário desnecessário.

— Jake é bonito, forte, tem charme e dinheiro. Mas eu também sumiria.

Eu revirei os olhos.

— Foco, Sunghoon.

Antes que ele respondesse, o celular dele começou a apitar sem parar.

Um alerta atrás do outro, o som preenchendo o quarto.

Heeseung suspirou, colocando a mão na testa como se sentisse dor de cabeça.

— Atende logo, ou eu juro que jogo esse negócio na parede.

Sunghoon bufou, pegou o celular e olhou para a tela. Por um instante, a expressão dele ficou séria. Mas foi rápido. Tão rápido que quase passou despercebido.

Ele respirou fundo e bloqueou o aparelho, colocando no bolso.

— Quem era? — perguntei, por reflexo.

Ele suspirou, sem me olhar nos olhos.

— Ninguém.

Mentira.

O comportamento dele estava estranho. Sunghoon nunca ficava sério desse jeito.

Niki olhou para mim de canto, um olhar rápido, mas cheio de significado.

Ele queria que eu insistisse.

E, sinceramente, eu também queria saber.

— Sunghoon. — Cruzei os braços. — Se não era ninguém, por que você parece tão estranho?

Ele apertou os lábios, como se estivesse debatendo se deveria contar ou não.

— Sunghoon — Niki pressionou, se sentando na cama. — Fala logo.

Ele suspirou outra vez, parecendo incomodado.

O clima no quarto mudou ligeiramente quando Sunghoon pegou o celular e, relutante, virou a tela na nossa direção.

— É um stalker — ele disse, sem rodeios. — Não me deixa em paz.

Eu ri, incrédulo.

— Agora um stalker? Sério, Sunghoon?

— Eu tô falando sério — ele resmungou, me lançando um olhar irritado.

Antes que ele pudesse guardar o telefone de novo, Heeseung se sentou na cama e pegou o aparelho da mão dele.

— Você sabe quem é? — Heeseung perguntou, deslizando os dedos pela tela, analisando as mensagens.

Sunghoon balançou a cabeça, parecendo desconfortável.

— Não faço ideia.

Niki franziu o cenho e cruzou os braços.

— O que essa pessoa quer com você?

Sunghoon suspirou, como se já estivesse cansado do assunto.

— No começo, era só uma conta fofa. Perfil de um cachorrinho, nada suspeito. Comentava nas minhas fotos de vez em quando, umas mensagens normais… Acabamos trocando umas palavras, mas nada exagerado.

Ele fez uma pausa, e eu vi o jeito que os ombros dele ficaram tensos.

— Só que aí começou a ficar frequente demais, sabe? Eu achei melhor parar de responder.

Ele nos olhou, como se estivesse esperando uma reação. E conseguiu.

Heeseung estreitou os olhos para a tela, enquanto Niki e eu nos entreolhamos, já imaginando para onde isso ia.

— A pessoa não gostou — ele continuou. — E agora me manda mensagem o tempo todo.

— E por que você não bloqueia? — perguntei, inclinando um pouco para frente.

— Eu já bloqueei! — Sunghoon resmungou, passando a mão no cabelo, claramente frustrado. — Mas ele… ou ela, sei lá, criou uma segunda conta.

Um silêncio estranho tomou conta do quarto por alguns segundos.

Então, Niki se levantou da cama, parecendo irritado.

— Isso tá errado. A gente tem que chamar a polícia.

Ficamos em silêncio por um momento depois da declaração de Niki. O clima tinha ficado mais pesado, e eu conseguia ver o incômodo no rosto de Sunghoon.

Ele respirou fundo e ergueu as mãos, como se quisesse acalmar a situação.

— Gente, não precisa disso tudo — ele disse, forçando um tom despreocupado. — Eu vou dar um jeito.

Eu o encarei, incrédulo.

— Dar um jeito, como? Fingindo que não tá acontecendo? Sunghoon, isso não é normal.

Ele desviou o olhar, claramente desconfortável.

— Eu já falei pra essa pessoa parar, já disse que não quero mais manter contato.

— E? — perguntei, cruzando os braços.

Ele suspirou, parecendo irritado.

— E essa pessoa disse que não aceita.

Minha expressão se fechou.

— Então eu vou ligar pra polícia.

Sunghoon revirou os olhos.

— Jay…

— O Jay tá certo — Niki disse, cruzando os braços. — Isso é perseguição.

Antes que eu pegasse meu celular, Heeseung interveio.

— Não, a polícia não resolve nada.

Eu e Niki olhamos para ele ao mesmo tempo.

— Como assim, não resolve? — questionei.

— Quer saber? Ele tem razão — Sunghoon concordou. — Eles vão dizer que é só um mal-entendido, que eu exagerei… e não vão fazer nada.

Ele parecia falar com a voz da experiência, e aquilo me incomodou mais do que eu gostaria de admitir.

— Então vocês vão fazer o quê? Esperar essa pessoa aparecer na porta?

Heeseung, que tinha ficado em silêncio por alguns segundos, esfregou a testa como se sentisse uma dor de cabeça.

— Eu tenho uma ideia.

Sunghoon, no entanto, não quis ouvir. Ele já estava se levantando, parecendo impaciente.

— Agora não. Eu só vou comer alguma coisa e dormir.

E sem dizer mais nada, ele saiu do quarto.

Porém , o vi voltar para o quarto com aquele sorriso característico e começou a imitar os passinhos de Michael Jackson como se nada estivesse acontecendo.

Eu franzi a testa.

Era estranho.

Mas era Sunghoon.

Antes que eu ou Niki perguntássemos qualquer coisa, ele parou abruptamente, com os olhos brilhando de animação.

— Eu lembrei de uma coisa importante.

Heeseung, que parecia prestes a deitar de vez, levantou uma sobrancelha.

— O quê?

Sunghoon virou diretamente para mim.

— Jake disse algo para Jungwon naquela hora… quando você e o Heeseung estavam saindo da casa.

Meu corpo ficou tenso.

— O quê? — perguntei,já sabendo que era.

— Ele disse… — Sunghoon fez uma pausa dramática, observando minha reação. — "Eu não sei o que esse cara tem pra você gostar tanto dele."

Eu senti meu rosto esquentar, o coração dando um pequeno salto involuntário.

As palavras ecoaram na minha mente, e eu quase podia ouvir a voz de Jake pronunciando aquilo novamente.

Eu levantei às pressas, tentando disfarçar minha expressão, e me despedi rapidamente de Niki e Heeseung.

— Boa noite, boa noite!

Antes que alguém dissesse mais alguma coisa, agarrei Sunghoon pelo braço e o arrastei para o nosso quarto.

Ele veio rindo, divertido com minha reação.

— Ah, então você se interessou mesmo, hein?

— Cala a boca, Sunghoon.

O sol ainda não tinha nascido quando eu desisti de tentar dormir.

Virei na cama mais uma vez, tentando encontrar uma posição confortável, mas minha mente não me deixava em paz. Os acontecimentos do dia se repetiam na minha cabeça como um filme ruim, sem pausa, sem descanso. Eu me perguntava o que diabos eu fiz de tão errado na vida passada para estar passando por tudo isso agora. Minha mãe estava se recuperando, Meu amigo tinha sofrido uma tentativa de sequestro, Sunghoon estava sendo stalkeado, e, como se não bastasse, agora eu não conseguia parar de pensar em como Jungwon não teve escolha para ser transformado. O jeito que ele interveio quando Jake estava enfurecido.

"Eu não sei o que esse cara tem pra você gostar tanto dele."

Senti o rosto esquentar só de lembrar. Não tinha tempo para pensar nisso, mas, de alguma forma, a frase se prendeu em mim como um espinho. Talvez porque, no fundo, eu também quisesse saber a resposta.

Bufei e me virei de novo, puxando o celular debaixo do travesseiro. Se minha cabeça queria alimentar a paranoia, que fosse de uma vez. Abri o navegador e digitei:

"Ghoul"

O primeiro link era uma definição simples, como um dicionário online:

"Na mitologia árabe, um ghoul é um espírito maligno que devora carne humana e habita cemitérios ou desertos."

Franzi a testa. Não parecia algo que se aplicava a Jungwon… nem a Jake. Continuei descendo a página.

O segundo link levava a um blog cheio de imagens bizarras, ilustrações de criaturas deformadas, de olhos brancos e pele apodrecida. Algumas descrições falavam de dentes enormes e unhas afiadas, de uma aparência horrenda capaz de assustar qualquer um.

Isso não fazia sentido.

Jungwon não era nada disso.

Pelo contrário.

Ele era bonito de um jeito que chegava a incomodar. Bonito demais para ser real. Até Jake, e eu odiava admitir isso, tinha um charme irritante. Mas aqueles monstros das imagens? Eles não eram nada parecidos com os ghouls que eu conhecia.

Continuei lendo.

"Ghouls possuem força sobre-humana e podem se regenerar rapidamente."

Bom, isso fazia sentido. Mas eles tinham mesmo o dom se regenerar?

Eu rolei a página mais um pouco.

"Algumas lendas afirmam que os ghouls possuem olhos de cores incomuns, brilhantes e hipnotizantes."

Meu coração disparou.

Os olhos de Jungwon. Mas ele só tinha um diferente, seria porque ele foi transformado e não é totalmente Ghoul?

Eu me lembrei do momento exato em que vi seu olhar. Como sua íris verdadeira brilhou na escuridão, como se fosse algo que não pertencesse a esse mundo.

Senti um arrepio subir pela minha espinha.

A última frase do artigo me fez soltar um riso sem humor.

"Não há registros reais de ghouls, sendo considerados apenas mitos e superstições de culturas antigas."

Mitos? Eu estava cercado por eles.

Me perguntei se existiam mais deles e como e onde viviam, mas afastei esse pensamento. Não estava afim de descobrir.

Eu não tinha percebido quando finalmente tinha pegado no sono, mas fui arrancado dele de forma nada agradável.

O toque insistente do celular ecoou pelo quarto, e, antes mesmo que eu pudesse reagir, Sunghoon resmungou alto do outro lado da cama.

— Cala essa porcaria, Jay — ele murmurou, a voz abafada pelo travesseiro. — Se não for a droga do Papa, desliga.

Pisquei algumas vezes, ainda preso na névoa do sono, enquanto tentava entender o que estava acontecendo. Os feixes dourados do sol invadiam o quarto, iluminando a poeira flutuando no ar. Pelo menos a chuva parecia ter dado uma trégua.

Peguei o celular debaixo do travesseiro, ainda vibrando, e olhei o nome na tela.

Hanabi.

Atendi, levando o celular ao ouvido.

— Hanabi?

— Finalmente! — A voz dela veio com uma mistura de impaciência e alívio. — Por que nenhum de vocês apareceu na escola hoje?

Meu cérebro deu um curto-circuito.

Olhei para o relógio no canto da tela e senti o estômago afundar. Já passava das onze da manhã.

— Merda — murmurei, esfregando o rosto com a mão livre. — Esqueci de colocar o alarme.

Do outro lado da linha, Hanabi soltou um suspiro pesado.

— O Sunoo bateu muito na porta de vocês, mas ninguém apareceu. Então ele desistiu e veio pra escola sozinho.

Sunoo foi sozinho?

A informação não deveria ter me incomodado, mas incomodou.

— Ah… — cocei a nuca, tentando soar casual, em uma tentativa de saber se Jungwon havia ido para a escola — Bom, pelo menos ele tem o Jungwon como companhia.

A pausa do outro lado foi curta, mas longa o suficiente para me deixar tenso.

— Eita, preciso voltar pra aula — Hanabi cortou, antes de desligar sem mais explicações.

Fiquei olhando para a tela apagada do celular, sentindo um gosto estranho na boca.

Ela não disse nada sobre Jungwon. Nenhuma confirmação. Nenhum "sim, ele tá aqui". Nada.

E isso só podia significar uma coisa.

Jungwon não estava na escola.

O café da manhã foi oficialmente descartado em favor do almoço, e ninguém parecia particularmente chateado com isso. A mesa era uma bagunça, cheia de pratos mal organizados, embalagens de comida aberta e copos espalhados.

Niki, satisfeito, se recostou na cadeira e suspirou com um sorriso preguiçoso.

— Jay, obrigado por não ter colocado o alarme.

Revirei os olhos.

— Você também podia ter colocado no seu, né?

Niki apenas deu de ombros, convencido.

— Mas eu sabia que você ia fazer isso por nós.

Sunghoon, apoiado na mesa com o cotovelo, suspirou satisfeito.

— Cara, acho que nunca dormi tão bem na minha vida. Mas fiquei com pena do Sunoo.

— Eu também — murmurei, pegando meu copo.

Niki pegou o celular e arregalou os olhos.

— Ah… — Ele riu, incrédulo. — Acabei de ver que tenho 17 chamadas perdidas do Sunoo.

Eu quase cuspi o suco.

— Dezessete?!

— E oito mensagens me xingando.

Heeseung, que até então só observava a conversa, sorriu da careta que Niki fez.

— Ele vai te matar.

Sunghoon, no entanto, parecia mais interessado em outra coisa.

— Jay, onde você tá indo?

Foi só aí que percebi que era o único vestido decentemente, enquanto os outros três ainda estavam de pijama ou roupas amassadas.

— Ah. — Peguei meu celular da mesa. — O pessoal da entrega mandou mensagem. Tenho que buscar uma encomenda.

Heeseung ergueu uma sobrancelha.

— Que encomenda?

— Minha mãe enviou. Mas disse que era surpresa.

Heeseung se inclinou para frente, pegando um pedaço de frango da bandeja antes de falar:

— Quer que eu vá junto?

Dei um meio sorriso.

— Não precisa, eu volto logo.

Ele pareceu hesitar um segundo, mas depois deu de ombros.

Tomei o resto do suco de um gole só e me levantei da mesa, pegando o celular e minhas chaves antes de sair. Os outros continuaram conversando.

No elevador, aproveitei o tempo para abrir as mensagens, mas não tinha nada de interessante além de algumas notificações aleatórias. Assim que as portas se abriram no térreo, dei um passo para fora e parei abruptamente.

Lá fora, do outro lado do saguão envidraçado, Sunoo descia da garupa de uma moto vermelha. Meus olhos instintivamente foram para o piloto.

Jungwon.

Ele usava uma jaqueta preta sobre uma camisa rosa, o que deveria parecer uma combinação estranha, mas nele parecia… certo, vi sua mochila também. As mãos firmes no guidão da moto enquanto Sunoo dizia algo para ele.

Os dois ficaram ali, conversando. Por um segundo, considerei me aproximar. Mas resolvi agir como se não tivesse visto nada. Me virei e saí pelo outro lado da entrada do prédio, enfiando as mãos no bolso da jaqueta. De relance, olhei para trás.

Sunoo acenava para Jungwon antes de entrar no prédio. Jungwon ficou parado por um instante, como se estivesse esperando algo. Então, com um leve movimento da cabeça, ele ligou a moto.

Ele realmente tinha ido para a escola.

Acelerei o passo, dobrando na primeira rua que vi. Não queria correr o risco de cruzar com ele, não sabia bem o por quê. Coloquei os fones de ouvido e aumentei o volume no máximo, tentando afogar os pensamentos.

Estava distraído, focado apenas na batida da música e no caminho à minha frente, quando senti um arrepio repentino na nuca.

Uma sombra se moveu no canto da minha visão.
Me virei e meu coração quase saltou pela garganta.

Jungwon.

Pilotando a moto ao meu lado, deslizando devagar como se não tivesse pressa alguma. Os olhos fixos em mim, ou melhor, sua lentes agora castanho escuro focavam em mim.

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