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Capítulo 22.


POV: YANG JUNGWON.

. . .

Às vezes, sinto como se estivesse vivendo duas vidas. Uma parte de mim está aqui, no meio de tudo isso, tentando ser... algo, qualquer coisa que se encaixe. Mas outra parte de mim está em um lugar distante, preso no passado, onde o medo e a dor ainda me assombram. É uma sensação estranha, como se meu corpo estivesse em dois lugares ao mesmo tempo, mas minha mente não conseguisse decidir em qual dos dois realmente quer estar.

Olho para Jay e Sunoo que eram os únicos que estavam estranhos comigo depois de terem invadido meu jardim, e sinto uma confusão crescente. Eles não sabem nada sobre o que estou aqui para fazer. Eles veem o Jungwon que sorri, que tenta se encaixar, mas isso é só uma fachada. Eles não sabem que meu verdadeiro eu está em outro lugar, em um tempo que ainda não consigo apagar da minha mente.

A memória daquela noite, a noite em que meu irmão foi levado, e por consequência me deixando com uma ferida aberta. Às vezes, a memória vem à tona, sem aviso, como um fantasma que eu não posso afastar. Eu lembro do grito de Jeongin me pedindo para fugir, e da dor que foi voltar para casa e tentar explicar tudo ao nossos pais. Ele era meu irmão mais velho. Não consegui protegê-lo. Não consegui impedi-lo de ser arrastado para a mesma tragédia que me consumiria meses depois.

〰️

Era para ser uma noite simples, uma noite de irmãos, cheia de risadas e planos para o futuro. Jeongin estava radiante, como se o mundo estivesse ao alcance das suas mãos. Ele havia conseguido o primeiro emprego dele, algo que ele sonhava há tanto tempo. Quase podia ver a felicidade em seu rosto, como se finalmente as coisas estivessem no caminho certo para ele. Eu estava feliz por ele, empolgado até, porque Jeongin sempre foi meu herói, meu protetor. Mas naquela noite... aquela noite tudo mudou.

Estávamos caminhando pelas ruas vazias até o nosso lugar favorito, o som das máquinas de fliperama ecoando à nossa frente, quando um carro preto apareceu do nada, parando bruscamente perto de nós. Eu não entendi imediatamente o que estava acontecendo, mas algo naqueles homens dentro do carro me fez sentir um calafrio. Eles não eram pessoas comuns. Algo estava errado, e o medo se instalou instantaneamente.

Antes que eu pudesse reagir, os caras saíram do carro, aproximando-se de nós com uma velocidade assustadora. Eu tentei puxar Jeongin para trás, mas ele se colocou à minha frente, como se fosse o único capaz de proteger aquele momento. Eu vi o olhar de determinação em seus olhos. Ele sabia o que estava por vir, e eu não fazia ideia.

— Jungwon, corre! — Jeongin gritou, empurrando-me para trás de um poste. Sua voz estava cheia de pavor, mas também de algo mais, uma coragem que eu nunca vou esquecer. Ele estava me protegendo, como sempre fizera.

Mas eu não queria correr. Não queria deixar meu irmão ali sozinho, enfrentando aqueles homens. Não era assim que as coisas deveriam ser. Eu deveria ser o mais velho, eu deveria ser o protetor, mas lá estava ele, se colocando entre mim e o perigo. Eu tentei me aproximar, tentei ajudá-lo a lutar, mas eles eram muitos, e Jeongin estava sendo sobrepujado.

Eu olhei para trás, desesperado, e vi os caras pegando Jeongin. Eu podia ouvir seu grito, sua luta, mas não conseguia fazer nada. Os homens o empurraram para dentro do carro com uma força brutal, e ele tentou se soltar, mas o golpe final foi dado. A última coisa que vi foi seu rosto, o rosto de quem sabia que não ia conseguir escapar. Seu olhar de dor e de despedida, aquele olhar que eu jamais conseguiria apagar da minha memória.

"Jungwon!", ele gritou uma última vez, antes de a porta do carro se fechar com um estrondo.

Eu caí de joelhos no chão, impotente. Meu irmão havia sido levado, e eu nada pude fazer para impedi-los. Eu queria lutar, eu queria gritar, mas as palavras me faltaram. Eu sabia que não havia mais tempo. Não havia mais nada que eu pudesse fazer para trazê-lo de volta.

Quando finalmente consegui me recompor, o carro já tinha desaparecido na escuridão da noite. O silêncio era ensurdecedor, e meu corpo estava paralisado pela dor. Eu não sabia o que fazer, para onde correr, ou como explicar o que tinha acontecido. Só sabia que, naquele momento, eu estava completamente sozinho. Eu não havia conseguido proteger Jeongin. Eu não havia conseguido impedir que ele fosse levado, como se tudo aquilo fosse um pesadelo do qual eu nunca acordaria.

O peso da culpa, da dor, foi imenso. E, no entanto, eu ainda me encontrava ali, preso naquela noite. Naquele momento. Onde eu havia falhado.

Meses se passaram desde aquela noite. E, mesmo sabendo o quanto aquilo estava me consumindo, eu não conseguia parar de voltar ao mesmo lugar. Às vezes, eu me perguntava por que fazia isso, por que continuava indo até aquele ponto da cidade, onde os ecos da perda ainda me assombravam. O fliperama, agora em ruínas, parecia tão vazio quanto meu coração. O lugar onde meu irmão foi arrancado de mim, como se nunca tivesse existido.

Eu ia até lá quase todas as noites, sem razão aparente, apenas para reviver a memória de Jeongin. Não havia ninguém para me impedir. As ruas estavam sempre caladas, e a solidão se tornava minha companhia constante. Às vezes, ficava parado por horas, apenas olhando para o asfalto, esperando que alguma resposta surgisse, esperando que ele voltasse de alguma forma, como se tudo aquilo fosse um pesadelo e eu estivesse prestes a acordar.

Mas, na verdade, eu estava me tornando uma sombra do que eu fui antes. A dor, a saudade, o arrependimento – tudo isso estava me corroendo, mas eu não sabia o que fazer com tudo isso. Yang Jeongin se foi, e eu não conseguia deixá-lo ir.

E então, naquela noite, algo aconteceu. Não havia qualquer sinal de perigo, nenhum carro preto, nada que sugerisse que a história iria se repetir. Eu estava tão imerso em minha própria dor que não percebi quando o carro escuro apareceu. O som do motor era baixo, quase imperceptível, mas, assim que o carro parou ao meu lado, a sensação de terror tomou conta de mim.

Eu sabia o que estava acontecendo, sabia que a mesma coisa que aconteceu com Jeongin estava prestes a se repetir. Os mesmos homens. O mesmo cenário. A única diferença era que agora eu estava no lugar do meu irmão. Eu era a próxima vítima.

O pânico começou a tomar conta de mim, mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim parecia estranhamente resignada. Eu sabia que, de alguma forma, eu já havia assinado meu destino naquele momento, meses atrás, quando vi Jeongin sendo levado. Eu nunca havia conseguido me proteger, e agora era tarde demais.

As portas do carro se abriram. Eu tentei correr, tentei me afastar, mas minha mente estava nublada pelo medo. Minha tentativa de fuga foi inútil. As mãos firmes e cruéis daqueles homens me puxaram para dentro, e o mundo ao meu redor se apagou, como se eu tivesse sido engolido pela escuridão.

— Você é só mais uma cobaia — disse um dos homens, e as palavras cortaram o ar, como se eu estivesse ouvindo a sentença final.

A dor do passado parecia ter me alcançado finalmente. O medo que eu tinha de perder mais uma pessoa da minha vida estava se tornando realidade. E, assim como Jeongin, eu fui levado. Sem chance de lutar. Sem chance de escapar.

A última coisa que eu vi antes de a porta se fechar foi o fliperama, agora longe, sumindo no retrovisor do carro. O mesmo lugar que uma vez foi cheio de risos e alegria agora era o meu fim. E, naquele momento, eu soube que não havia mais volta.

Quando eu acordei, o cenário à minha volta não fazia sentido algum. Estava preso, em um ambiente escuro e úmido. O chão de concreto estava gelado, e o ar cheirava a mofo e metal, como se o lugar fosse um tipo de prisão abandonada. Meu corpo estava dolorido, como se eu tivesse sido espancado, mas não conseguia lembrar direito do que aconteceu. Tudo o que eu sabia era que, de alguma forma, eu havia sido levado até ali, para aquele lugar estranho.

Tentando entender onde estava, meu olhar se fixou nas barras de ferro da cela em que estava. Tudo parecia distante, um pesadelo que eu não conseguia controlar. Mas, quando me movi para me levantar, ouvi um som abafado vindo da cela à frente. Alguém estava lá.

— Ei, você está acordado? — uma voz arrastada perguntou. Era uma voz que parecia cansada, mas também havia uma calma assustadora nela.

Com dificuldades, me levantei e caminhei até a grade da minha cela. Do outro lado, em outra cela, um rapaz estava sentado, encostado na parede. Ele tinha os olhos fundos e cabelos loiros caindo sobre sua testa, parecendo exausto, mas ainda assim havia algo estranho nele. Eu não sabia o que era, mas a sensação de desconforto tomou conta de mim.

— Onde estou? — perguntei, minha voz rouca. — O que está acontecendo?

O rapaz soltou um suspiro pesado, e seus olhos se estreitaram enquanto olhava para mim.

— Você está em algum lugar de Busan. — Ele fez uma pausa, e eu o encarei com mais intensidade. O que ele queria dizer com isso? O jovem riu baixinho, como se tivesse visto muitos como eu antes. — Você foi escolhido para um experimento. E o pior é que, assim como todos, não há como voltar atrás agora.

Eu me afastei um pouco das grades, sentindo um frio na espinha. Meu coração começou a bater mais rápido. Aquelas palavras… "escolhido para um experimento"? O que ele queria dizer com isso?

— Experimento? — perguntei, tentando entender.

O cara assentiu lentamente. A expressão em seu rosto era uma mistura de desespero e aceitação.

— Sim. Você e todos aqui… como cobaias. Um homem cruel os trouxe para cá. Ele... faz experiências com Ghouls. Já deve ter ouvido falar deles, certo? Aqueles que se alimentam de carne humana e possuem habilidades extraordinárias. — Ele fez uma pausa, e uma risada amarga escapou de seus lábios. — Mas, no caso, não é assim simples. O objetivo dele é transformar pessoas em Ghouls, mas em uma versão mais controlada. Você vai ser… metade Ghoul. Ele vai colocar um órgão em você. O mesmo tipo de órgão que os torna humano, mas em você, vai fazer de um jeito diferente.

O medo cresceu dentro de mim como uma avalanche, esmagando meus pensamentos. "Metade Ghoul". A ideia de ter um órgão de um ser como aquele dentro de mim, de ser forçado a virar algo monstruoso, era aterradora. Eu tentei engolir a ideia, mas o pavor não se afastava.

— Eu não... eu não posso ser isso. — Minha voz falhou, e eu senti um nó apertando minha garganta. — O que ele vai fazer comigo?

O homem na cela à frente de mim me olhou com um misto de pena e resignação.

— Ele vai te transformar. Vai te arrancar sua humanidade pouco a pouco até não restar nada de você. Mas não se engane, você não vai ser como eles... será um experimento. Não mais humano, mas nem completamente Ghoul. Ele quer que você sirva a ele, como um... "subproduto".

Eu me afastei da grade, meu corpo tremendo. Era demais para processar. O que eu havia feito para merecer isso? Por que eu? Por que meu irmão?

E, mesmo com a explicação do homem, a única coisa que eu sabia agora era que, a partir daquele momento, minha vida havia mudado para sempre. Eu não tinha mais controle sobre o que aconteceria comigo. Eu já não sabia mais quem eu era, e a transformação estava prestes a começar.

Eu me encostei na parede da cela, tentando processar tudo o que o jovem à minha frente havia dito, mas ainda havia uma pergunta que me martelava na cabeça.

— Quando... quando você vai ser transformado? — Eu perguntei, a voz trêmula, querendo entender o que aconteceria comigo, o que eu teria que enfrentar.

— Pode me chamar de Jake. — ele disse, logo em seguida soltou uma risada baixa, quase zombando da minha dúvida. Ele virou a cabeça para mim com um sorriso frio, aquele tipo de sorriso que só quem já perdeu qualquer resquício de humanidade poderia ter.

— Transformado? — Ele repetiu, e sua risada ecoou pelas paredes da cela. — Isso não vai ser possível.

Eu franzi a testa, não entendendo.

— Mas... — Eu comecei, mas ele não me deixou terminar.

Ele se aproximou das grades da cela dele, encarando-me intensamente, os olhos agora mais sérios, como se ele finalmente fosse me contar algo importante.

— Eu já sou o que eles tentam fazer com você, garoto. — Ele disse, e sua voz soou quase como um sussurro ameaçador. — Já nasci assim. Um Ghoul. Você... Ainda vai ser transformado. Eles vão fazer de você uma cópia, uma tentativa fracassada de um de nós. Mas eu... eu já nasci com isso. Já sou um deles, desde o começo.

Aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago. O medo tomou conta de mim, e por um momento, eu quase não consegui respirar.

— Você... você é um Ghoul? — Eu perguntei, ainda tentando digerir o que ele estava dizendo. Ele não parecia mentir, mas eu não queria acreditar.

Ele deu uma risada amarga, um som vazio e quase triste.

— Sim, eu sou. E o pior é que o responsável por isso... é meu pai. Ele e o amigo dele, aquele médico idiota, que acha que pode brincar de Deus com as nossas vidas. Eles são os culpados. Eles fizeram isso comigo... e agora estão tentando fazer o mesmo com você. Meu pai é um Ghoul de verdade, desde então, seu filhos também são. Desde que meu pai tem um amigo médico, eles acham que transformar as pessoas em nós é um tipo de brincadeira.

Meu coração disparou. O que ele estava dizendo era completamente inacreditável, mas o terror nos seus olhos, e a maneira como ele falava com tanta raiva e desprezo, me fazia acreditar que aquilo era real.

Eu dei um passo para trás, tentando processar a informação, meu cérebro tentando entender o que estava acontecendo.

O silêncio entre nós foi interrompido pelo som distante de correntes sendo arrastadas, mas eu não conseguia desviar o olhar do homem à minha frente. A revelação de que ele era um Ghoul ainda pairava no ar, sufocante, mas uma nova pergunta surgiu em minha mente.

— Então... por que você está aqui? — Minha voz soou fraca, quase quebrada. — Se você já é um Ghoul, se já nasceu assim, por que eles te prenderam?

Ele soltou uma risada amarga, um som carregado de dor e raiva. Seus olhos brilharam, mas não com lágrimas — era algo mais sombrio, mais profundo.

— Você realmente não entende, não é? — Ele perguntou, o tom gélido, enquanto se afastava das grades e se encostava na parede da cela. — Eu não estou aqui por causa de alguma experiência. Estou aqui porque estou sendo punido pelo meu pai.

Eu franzi a testa, confuso e assustado.

— Punido? Por quê?

Ele ficou em silêncio por um momento, como se estivesse decidindo até onde podia me contar. Finalmente, ele levantou a cabeça e me encarou, seus olhos cheios de uma mistura de ódio e resignação.

— Meu pai é o causador de tudo isso. Ele criou eu e meu irmão sozinho,me fez o que sou, mas eu... — Ele fez uma pausa, engolindo em seco. — Eu o desobedeci. Me recusei a seguir as regras dele, a participar das suas experiências malditas. Me recusei a ser o monstro que ele queria que eu fosse.

— Regras? — Eu perguntei, sem entender. — Que tipo de regras?

Ele riu novamente, mas dessa vez o som era mais triste do que cruel.

— Regras para matar. Para caçar. Para me alimentar do jeito que ele acha que um Ghoul deveria. — Ele cruzou os braços, como se estivesse tentando se proteger de algo invisível. — Eu não quis seguir esse caminho. E o motivo principal, eu não impedi que algumas pessoas conseguissem fugir. Então, ele me colocou aqui. Me trancou como uma lição, para mostrar que eu não tenho escolha.

Eu senti meu estômago revirar. A ideia de ser transformado em algo tão monstruoso e, ainda assim, lutar contra isso... era difícil de processar.

— E você? — Ele perguntou de repente, me pegando de surpresa.

Antes que eu pudesse responder à pergunta dele, o som metálico de passos ecoou pelo corredor. Eu me virei na direção do som, vendo três homens imponentes se aproximarem, suas expressões tão frias quanto o ambiente em que estávamos.

Um deles parou na frente da minha cela, segurando um molho de chaves. Ele destrancou a porta com um movimento rápido e eficiente, e meu coração disparou.

— É a sua vez, garoto — disse um dos homens, com um sorriso cruel.

Eu me afastei instintivamente, encostando-me na parede da cela.

— Não... Não! — Minha voz soou mais desesperada do que eu gostaria, mas a verdade era que o medo havia tomado conta de mim.

Do outro lado do corredor, o rapaz da cela oposta se aproximou das grades, os olhos fixos nos homens.

— Vocês vão mesmo fazer isso agora? — Ele perguntou, o tom repleto de sarcasmo, mas havia algo mais: preocupação. — Nem ao menos vão esperar ele entender o que vai acontecer?

Um dos homens riu, um som frio e sem humor.

— Ele não precisa entender nada. Só precisa obedecer.

Eu tentei lutar, empurrar as mãos que me agarravam, mas era inútil. Eles eram fortes demais.

— Por favor, parem! — Eu gritei, me debatendo. — Não quero isso! Não quero!

Antes de me puxarem completamente para fora da cela, eu me virei para o rapaz. As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse pensar.

— Você... você viu algum Jeongin aqui? Por favor, ele é meu irmão. Jeongin!

O nome pareceu congelá-lo. Seus olhos se arregalaram levemente, e por um instante, ele não respondeu. Mas então, lentamente, ele balançou a cabeça algumas vezes, confirmando.

— Sim... — ele disse baixinho, como se estivesse surpreso com a própria resposta.

Eu mal tive tempo de processar suas palavras. Antes que pudesse perguntar mais, senti uma picada aguda no meu braço. Meu corpo ficou pesado quase imediatamente, e o mundo ao meu redor começou a girar.

A última coisa que vi foi o rosto do rapaz, agora mais sério do que nunca, enquanto eu caía no chão, a escuridão me engolindo.

                                          [...]

A dor foi o que me trouxe de volta à consciência, um incômodo quente e latejante logo abaixo das minhas costelas. Soltei um gemido, sentindo como se algo dentro de mim tivesse sido alterado. Passei a mão pelo local e senti o toque áspero de ataduras mal ajustadas. Cada movimento parecia intensificar a dor, como um lembrete de que algo estava terrivelmente errado.

Abri os olhos, mas o mundo ao meu redor parecia... diferente. A cela estava do mesmo jeito, mas tudo parecia mais nítido, mais vivo, quase como se eu enxergasse e sentisse mais do que antes. O ar carregava cheiros que antes eu nunca teria notado. Havia um odor forte de metal no ambiente, algo quase enjoativo, mas, ao mesmo tempo, estranhamente atrativo.

Tentei me sentar, mas meu corpo protestou, como se estivesse se acostumando a algo novo. Quando finalmente consegui me equilibrar, notei uma mancha escura que começava a surgir na atadura. Meu estômago se revirou, mas não por nojo. Era algo mais intenso, algo que eu não sabia explicar.

— Você acordou. — A voz veio da cela em frente. Levantei a cabeça, ainda tonto, e vi o mesmo rapaz de antes, o que havia me contado sobre aquele lugar. Ele estava de braços cruzados, me observando com um olhar que misturava pena e diversão.

— O que fizeram comigo? — Minha voz saiu rouca, quase um sussurro.

Ele soltou uma risada baixa.

— Bem-vindo à sua nova realidade. — Ele inclinou a cabeça, como se estivesse me estudando. — Eles implantaram algo em você.

— O quê? — Minha respiração ficou presa.

— Talvez seja um fígado especial. — Ele se aproximou das barras de sua cela, me analisando. — Um órgão que pode mudar tudo.

Meu coração disparou.

— Isso não é real... não pode ser. — As palavras saíram vacilantes, quase inaudíveis.

Ele deu de ombros, sua expressão calma em contraste com o caos que eu sentia dentro de mim.

— Real ou não, o que você está sentindo agora não vai passar. Vai só aumentar.

Eu quis gritar, exigir respostas, mas algo mais forte me puxou para outra pergunta, algo que estava preso na minha mente desde o início.

— E o meu irmão? Jeongin? Você o viu? — Minha voz quebrou ao pronunciar o nome dele.

Por um momento, o rapaz hesitou. Seus olhos revelaram uma faísca de surpresa, mas ele logo desviou o olhar.

— Um rapaz de olhos afiados? — Ele perguntou e eu concordei. — Ele fugiu com o meu namorado, espero que tenham realmente conseguido.

Meu coração deu um salto ao ouvir aquelas palavras. Fugiu? Jeongin fugiu? Isso queria dizer que ele ainda estava vivo? Minha mente lutava para processar a informação, mas a onda de esperança que se formou dentro de mim foi rapidamente abafada pela desconfiança.

— Fugiu? — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro.

O rapaz suspirou, recostando-se contra as barras da cela, como se estivesse cansado de carregar o peso de tantas verdades.

— Ele estava no lugar errado, na hora errada. — Ele disse, sua voz carregando um tom amargo. — Assim como você.

Fiquei quieto por um momento, tentando juntar as peças. Ele continuou:

— Seu irmão era esperto, isso eu posso dizer. Ele e o... — Ele hesitou, os olhos perdidos por um instante. — Lee. Eles se conheceram aqui, e, de alguma forma, conseguiram bolar um plano para escapar.

— Lee? — Repeti o nome, esperando que ele explicasse mais, mas ele balançou a cabeça como se não quisesse entrar em detalhes.

— Não sei o que aconteceu com eles depois. Se realmente fugiram ou se foram pegos de novo. Mas o fato de não estarem aqui já é um bom sinal, não acha?

Quis acreditar nisso, mas a dor no meu lado e o gosto estranho que parecia dominar minha boca eram lembranças constantes de que eu não havia tido a mesma sorte.

O silêncio entre nós pesou como uma pedra no meu peito. A dor embaixo das minhas costelas parecia pulsar mais forte enquanto eu tentava processar o que acabara de ouvir.

— Meu irmão… — Minha voz saiu trêmula, quase um sussurro. — Eles o transformaram?

O rapaz da cela em frente não respondeu imediatamente. Ele apenas me observou, os olhos carregados de algo que parecia ser culpa misturada com cansaço. Então, finalmente, ele assentiu lentamente, sem desviar o olhar.

— Sim. — Ele disse com simplicidade, mas o peso daquela palavra foi como uma faca atravessando meu peito.

Minhas mãos apertaram as ataduras no meu lado enquanto o desespero crescia dentro de mim. Tudo o que Jeongin havia passado… tudo o que ele havia sacrificado… e agora ele estava preso a isso também.

— Ele conseguiu sobreviver? — Perguntei, com a voz carregada de um fio de esperança desesperada.

O rapaz hesitou por um instante antes de responder.

— Até onde eu sei, sim. — Ele falou, mas seu tom não era nem um pouco reconfortante. — Mas você precisa entender algo... sobreviver aqui não é o mesmo que viver.

Engoli em seco, tentando ignorar o peso daquelas palavras.

— E o que acontece comigo agora? — Perguntei, tentando controlar a tremedeira na minha voz.

Ele me olhou, e pela primeira vez desde que começamos a conversar, havia uma centelha de algo parecido com pena em seus olhos.

— Espero que você seja forte, garoto. — Ele disse, cruzando os braços e recostando-se contra as barras da cela. — Porque todos os que ficaram nessa cela antes de você... morreram.

Minha respiração ficou presa no peito, o impacto das palavras dele caindo sobre mim como uma avalanche.

— Morreram? — Sussurrei, a garganta apertada.

— Isso mesmo. — Ele respondeu com frieza. — Nenhum deles aguentou. Ou foi o corpo que não suportou a transformação, ou o Imbecil do Dr. Park não sabe mais fazer cirurgias.

Eu me afastei da parede da cela, minhas mãos tremendo. A dor no meu lado parecia zombar de mim, como se fosse um lembrete cruel de que eu já estava preso ao mesmo destino.

— Mas e você? — Perguntei, tentando agarrar qualquer pedaço de lógica. — Você disse que nasceu assim... então por que você se importa?

Ele deu uma risada curta, sem humor.

— Não é questão de me importar. É só que... — Ele hesitou, como se buscasse as palavras certas. — Você me lembra alguém. Alguém que tentou lutar contra isso.

Seus olhos se suavizaram por um instante, mas logo ele voltou ao mesmo tom casual de sempre.

— De qualquer forma, é melhor você começar a se acostumar. Porque daqui pra frente, as coisas só vão piorar. Assim que se derem conta, vão fazer vocês participar de alguns testes.

Os dias se arrastaram como semanas. Eu observava meu corpo mudar, incapaz de reconhecer quem eu estava me tornando. O corte abaixo das minhas costelas, que antes latejava constantemente, agora parecia apenas uma cicatriz discreta. Era como se meu corpo tivesse decidido ignorar a dor e seguir em frente, como se fosse feito para se adaptar.

Meus sentidos estavam aguçados de uma maneira quase sobre-humana. Eu podia ouvir o som de passos distantes, distinguir cheiros que antes passariam despercebidos, e meus olhos… bom, eles enxergavam tudo com uma clareza que beirava o desconforto.

A fome era uma presença constante, algo que eu não conseguia ignorar, mas também não sabia como satisfazer. Eles chegaram a enviar uma caixa com minha "refeição", mas eu a atirei para longe. Depois disso, eles não mandaram mais, Jake disse que eles queriam que minha fome aumentasse ainda mais.

Jake  parecia estar tentando medir minha resistência, ou talvez apenas esperando que eu não sobrevivesse. Mas quando eu continuei ali, respirando, mesmo após a transformação, ele começou a conversar comigo.

— Você é mais forte do que eu pensava. — Ele disse uma noite, com um meio sorriso que não alcançava os olhos.

Eu não sabia o que responder, então apenas concordei com um murmúrio. Durante as noites, enquanto o silêncio se estendia pelas celas, eu frequentemente ouvia soluços baixos vindos de Jake. Ele chorava, mas nunca falava sobre isso. Sempre que eu olhava em sua direção, ele se fazia de desentendido, e eu fingia estar dormindo.

Uma manhã, enquanto nos observávamos pelas grades como fazíamos quase todos os dias, Jake parou subitamente, seus olhos se fixando em mim com uma intensidade que me deixou desconfortável.

— O que foi? — Perguntei, passando a mão pelo meu rosto, achando que havia algo errado comigo.

Jake se aproximou das barras da cela, seus olhos se estreitando enquanto me analisava.

— Um dos seus olhos... — Ele começou, a voz carregada de surpresa. — Está vermelho.

Minha respiração ficou presa. Corri para um pequeno pedaço de metal polido que usava como espelho improvisado e, com o coração batendo descompassado, olhei para meu reflexo. Jake tinha razão. Meu olho esquerdo estava completamente vermelho, um contraste gritante com o direito, que permanecia normal.

— Isso… isso é normal? — Perguntei, tentando controlar o pânico que crescia em mim.

Jake balançou a cabeça, ainda me observando como se eu fosse algum tipo de quebra-cabeça que ele precisava resolver.

— Não. — Ele respondeu lentamente. — As últimas cobaias nem chegaram a esse nível recentemente. Normalmente, a transformação começa e eles… bem, morrem antes disso.

— Então por que eu ainda estou aqui? — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, cheia de frustração e medo.

Jake hesitou, claramente tentando escolher suas palavras com cuidado.

— O certo seria ambos os olhos ficarem vermelhos… não somente um. — Ele finalmente disse. — Isso não aconteceu antes. Quer dizer, só com os que deram certo. Mas isso não acontece a um bom tempo.

Meus dedos apertaram o pedaço de metal, o frio dele quase me ajudando a manter o controle. Jake parecia tão surpreso quanto eu.

— E o que isso significa? — Perguntei, mais para mim mesmo do que para ele.

Jake deu de ombros, mas havia algo em sua expressão que me incomodava profundamente.

— Significa que você é diferente, Jungwon. — Ele disse, a voz baixa. — E isso pode ser bom… ou muito ruim.

Os dias que se seguiram à descoberta do olho vermelho foram intensos. Algumas vezes um dos guardas entravam e entregavam uma caixa para Jake, sua "refeição". Jake e eu passamos mais tempo conversando, dividindo pedaços de nossas histórias. Ele não era apenas um estranho na cela oposta; ele se tornou a única pessoa em quem eu podia confiar naquele inferno.

Nosso laço se fortaleceu, uma mistura de companheirismo e necessidade de sobrevivência. Jake me contava histórias de sua vida antes de ser preso ali, e eu retribuía com memórias sobre Jeongin, meu irmão. Ele ouvia com atenção, um peso em seu olhar que eu só entendi mais tarde.

— Precisamos sair daqui — ele disse uma noite, quebrando o silêncio enquanto ambos nos deitávamos em nossas celas.

— Como? — perguntei, cético. — Eles têm controle de tudo, Jake.

Ele sorriu, um sorriso pequeno e cheio de segredos.

— Não se preocupe. Eu tenho um plano.

Nas noites seguintes, Jake me ensinou a usar minhas habilidades recém-descobertas. Ele dizia que eu estava mais forte do que imaginava, que meu corpo era uma arma esperando para ser usada. Combinamos nossos movimentos, observamos os guardas, mapeamos os horários de troca e, finalmente, esperamos o momento perfeito.

Quando a noite certa chegou, tudo aconteceu rápido. Jake conseguiu manipular um dos guardas com palavras afiadas, distraindo-o enquanto eu atacava pelas costas. A adrenalina corria em minhas veias, meu corpo respondendo com uma força que eu ainda não entendia completamente.

Depois de superar os primeiros obstáculos, corremos pelos corredores escuros, meu coração martelando com a mistura de medo e esperança. O alarme soou, mas não paramos. Jake parecia conhecer cada canto do lugar, guiando-me como se tivesse feito isso mil vezes antes, estava admirado e ao mesmo tempo receoso, pois pela primeira vez vi seus olhos mudarem para um vermelho escarlate, era lindo e combinava com seus fios loiros.

Quando finalmente escapamos para o ar livre, nos dobramos, ofegantes, tentando recuperar o fôlego. O céu estava escuro, mas a sensação de liberdade tinha um gosto agridoce, como se a escuridão à nossa volta ainda guardasse segredos. Jake lançou-me um olhar carregado de algo que não consegui decifrar, mas não disse nada. Sem esperar, ele caminhou em direção a uma casa abandonada, visível a poucos metros de onde estávamos. Lá, ele se abaixou e, com cuidado, pegou um pequeno cachorro preto nos braços. O animal era magro, os olhos brilhando de fragilidade e desconfiança. Não perguntei nada — talvez porque, no fundo, soubesse que as respostas não mudariam nada. Jake apenas ajeitou o cachorro contra o peito e, sem uma palavra, seguimos adiante.

— Jungwon, antes de seguirmos em frente… você precisa saber de algumas coisas.

Eu levantei o olhar, confuso.

— O que foi?

Jake respirou fundo, como se se preparasse para uma confissão.

— Seu irmão, Jeongin… ele conseguiu escapar. — Ele começou, as palavras carregadas de hesitação. — Ele fugiu com o Lee.. com o Heeseung.

Meu coração parou por um momento.

— Heeseung? Quem é Heeseung?

Jake olhou para o chão, sua expressão cheia de arrependimento.

— Um amigo meu… e alguém que eu… — Ele fez uma pausa. — Alguém que eu amei.

O choque me atingiu como uma onda. Jake estava me dizendo que ele não só conhecia Jeongin, mas também tinha ajudado ele a escapar.

— Eu fiz de tudo para ajudar os dois, Jungwon. Mas meu pai descobriu… e ele me puniu por isso.

— Puniu como? — perguntei, a voz baixa.

Jake hesitou, mas então continuou:

— Me trancando naquele inferno, como apenas uma das cobaias dele. Mas eu faria tudo novamente, sem hesitar.

Eu dei um passo para trás, felizmente eu só pude ver os guardas e nunca encontrei o causador de tudo aquilo.

— Mas e o seu irmão? Porque ele não ajudou você? — sussurrei, tentando entender.

— Meu irmão morreu, ao que tudo indica  foi um acidente. — Jake continuou, a voz carregada de dor. — Seu coração foi transplantado em outra pessoa.

A revelação deixou o ar ao nosso redor pesado. Olhei para Jake, tentando juntar as peças, tentando entender a conexão entre nossos destinos e as pessoas que nos ligavam.

Ele deu um pequeno sorriso, melancólico.

— Agora você sabe de tudo. Jeongin está lá fora, com Heeseung. E eu… eu só espero que eles tenham conseguido uma vida melhor do que a que eu tive. — Ele disse enquanto apertava o cachorro contra si — E eu espero que ele não nos encontre tão cedo. Comemore por não ter tido a oportunidade de ver o meu pai.

Eu não sabia o que dizer. Parte de mim queria gritar, outra queria abraçá-lo. Mas, acima de tudo, uma coisa estava clara: eu precisava encontrar Jeongin. E, de alguma forma, ajudar Jake a encontrar o que ele havia perdido. Mesmo sabendo que o pai de Jake estaria a nossa procura, fugimos dali.

O tempo passou, e nossa vida como fugitivos nos levou por caminhos que eu jamais imaginei trilhar. Dois homens marcados por traumas e segredos, cada um com um objetivo que parecia tão distante quanto inalcançável. Jake, em busca de Heeseung, o homem que ele amava. Eu, em busca de Jeongin, meu irmão mais velho, que havia se tornado um fantasma em minha mente, uma memória que eu mal conseguia distinguir da realidade.

Jake, sempre tão atento às pequenas coisas, me entregou lentes que agora eram parte da minha rotina.

"Você vai precisar delas," ele havia dito, segurando o pequeno estojo na palma da mão. "Se quiser se misturar e evitar perguntas, essas lentes vão te ajudar."

Na época, eu não sabia se agradecia ou ficava furioso. Meu olho nunca voltou ao normal depois da transformação. Enquanto o esquerdo mantinha a cor natural, o direito brilhava em um vermelho intenso, um lembrete constante de que eu não era mais apenas humano. Jake me dizia que eu era único, mas isso não trazia conforto. Era mais uma responsabilidade do que um presente.

No início, as lentes eram uma solução simples. Eu colocava todas as manhãs. Mas logo descobri que minha nova condição tinha suas próprias regras. Quando emoções fortes tomavam conta de mim — raiva, medo, tristeza ou até felicidade intensa —, as lentes não aguentavam. Elas queimavam como se ácido tivesse sido derramado sobre elas, dissolvendo-se em segundos.

Lembro-me da primeira vez que aconteceu, durante uma discussão intensa com Jake sobre nossas próximas ações. Eu sentia o calor nos olhos, um desconforto que virou uma dor aguda. Jake olhou para mim, alarmado, e antes que eu pudesse dizer algo, ele viu a lente se despedaçar.

"Isso é novo," ele comentou, tentando aliviar a tensão, mas o olhar preocupado dele dizia tudo.

A partir daquele dia, comecei a evitar situações que pudessem me abalar emocionalmente. Não era apenas um inconveniente — era perigoso. Cada vez que isso acontecia, o vermelho brilhante voltava, como um farol, me expondo para quem quisesse olhar.

Chegamos a Seul depois de meses de procura sem rumo. Jake insistiu em nos estabelecermos em um bairro nobre, alegando que as chances de encontrar Heeseung eram maiores lá. No fundo, eu sabia que era apenas uma desculpa para manter viva sua esperança. E, mesmo assim, concordei. A cidade era enorme, mas havia algo de reconfortante em ter um ponto fixo para chamar de lar, mesmo que temporário. O dinheiro de Jake vinha de seus passeios noturnos, que eu não fazia questão de saber para onde era.

Durante meses, Jake se dedicou obsessivamente a encontrar qualquer pista sobre Heeseung. Ele passava horas analisando informações, fazendo contatos, investigando como um detetive amador. Então, um dia, o destino pareceu finalmente responder. Jake descobriu onde Heeseung trabalhava. Soube que ele dividia um apartamento com algumas pessoas.

Quando Jake me contou isso, a esperança em sua voz era inconfundível, mas também havia um receio evidente. Ele tinha medo de se aproximar. Talvez fosse culpa, talvez fosse o peso de tudo o que havia acontecido, mas ele não conseguia reunir coragem para reencontrar Heeseung.

— E quanto a Jeongin? — perguntei, tentando disfarçar minha própria ansiedade.

Jake ficou em silêncio por um momento, antes de finalmente responder:

— Se Jeongin está com Heeseung, eventualmente você o verá também.

Era uma resposta que não me satisfazia, mas não insisti.

Foi então que Jake teve a ideia de me infiltrar no círculo de amigos de Heeseung. Ele sabia que Heeseung não aceitaria sua presença de imediato, mas talvez eu pudesse ser os olhos dele, descobrir mais sem levantar suspeitas. Foi assim que entrei na escola onde os amigos de Heeseung estudavam.

Ao contrário de Jake, que evitava qualquer contato direto, minha abordagem era sutil. Aos poucos, me aproximei do grupo, observando cada um deles com cuidado. Jay, Sunoo, Niki, Sunghoon e Hana… Eles eram acolhedores, ainda que eu sentisse as barreiras que Heeseung erguia toda vez que me via, me impedido de falar consigo sem que seus amigos estivessem próximo. Me tirando a oportunidade de saber sobre meu irmão.

Ele não me queria ali. Isso era claro. Não sabia quem eu era, mas parecia sentir que minha presença trazia algo indesejado, só por estar com Jake.

Ainda assim, continuei.

O medo nunca me abandonou. Eu ainda não tinha visto Jeongin. Ainda não tinha nenhuma prova concreta de que ele estava bem, de que estava vivo. E, cada dia que passava sem respostas, a ansiedade crescia. O que eu faria se descobrisse que algo terrível aconteceu com ele?

Jake me dizia para manter a calma, que era questão de tempo até termos todas as respostas. Mas ele não via as coisas como eu via. Para ele, tudo girava em torno de Heeseung. Para mim, era Jeongin. Era meu irmão. Era o único laço que me mantinha firme, que me dava forças para continuar.

Enquanto Heeseung nos quer longe e deixou isso bem claro depois de Jay e Sunoo invadirem nossa casa, eu continuava preso entre duas verdades que ainda não conseguia alcançar.

Uma das verdades era Jay. Ele sempre conseguia chamar minha atenção, de um jeito que eu não sabia descrever. Não era só sua risada fácil ou os comentários afiados que ele soltava sem pensar. Era algo mais profundo, algo que eu não entendia.

Eu odiava o quanto minha mente vagava para ele, especialmente nas noites em que deitava sozinho. Eu revivia momentos em que ele me olhava diretamente nos olhos ou fazia algum comentário que parecia carregado de um significado maior. Mas, ultimamente, Jay vinha me ignorando. Não era um silêncio direto ou uma rejeição evidente, mas ele havia ficado mais distante. Eu odiava isso.

Assim como odiava sentar na mesa com eles e sentir vontade de vomitar, de tantas vezes que eu tentei comer comida normal e meu estômago recusou. Como se já não bastasse, perder meu apetite por comidas comuns foi outra mudança que me tornou ainda mais consciente do que eu tinha me tornado. Agora, só conseguia comer coisas mal passada, quase crua. Mesmo assim, não era suficiente. Havia uma fome constante, um vazio insaciável que nada parecia preencher.

Jake costumava brincar que eu estava "refinando meu paladar", mas eu sabia que não era nada disso. Ele entendia o que eu sentia, porque sentia o mesmo. Era algo que fazia parte de nós agora, algo que não poderíamos ignorar, mas que eu me recusava a aceitar completamente.

Para tentar enganar meu estômago e afastar o incômodo da fome, comecei a depender de cafeína. Cafés fortes, energéticos, sentir o gosto de sangue em meus lábios já me deixava satisfeito, ou qualquer coisa que me mantivesse em pé e distraído o suficiente para não pensar no que meu corpo realmente desejava.

Às vezes, a cafeína me deixava mais alerta, mas também me tornava mais inquieto. Eu sentia meus sentidos se aguçando ainda mais, o mundo ao meu redor ficando mais claro, mais intenso. Cada som, cada cheiro, cada movimento — era como se meu corpo estivesse em constante estado de prontidão.

Essas mudanças, todas elas, me lembravam diariamente que eu não era o mesmo Jungwon de antes. Meu corpo, meus hábitos, até mesmo a maneira como eu via o mundo ao meu redor, tudo tinha mudado.

E, ainda assim, quando eu olhava para Jay, havia algo dentro de mim que me fazia querer ser visto como alguém normal, como alguém que ele pudesse considerar um amigo... ou talvez algo mais. Mesmo que isso significasse esconder cada parte de mim que gritava para ser revelada.

E aquilo estava me consumindo.

Eu me sentia um intruso, como se estivesse forçando minha presença em um grupo que talvez nunca me aceitasse de verdade. Mas, com Jay, era pior. Porque, de alguma forma, ele tinha se tornado a pessoa que eu mais queria perto. E a distância que ele criava me fazia questionar tudo.

〰️

A manhã passou devagar, cada segundo parecendo um peso que eu tinha que carregar. Jay mal olhou para mim, e a sensação de vazio só crescia. Quando o sinal final tocou, todos começaram a sair da escola em grupos, rindo e conversando como se o mundo fosse fácil para eles. Mas Jay estava sozinho, caminhando devagar na direção oposta ao grupo que sempre voltava pra casa com ele.

Eu o observei um pouco longe da entrada, tentando decidir se o deixava ir ou se fazia algo sobre a confusão em minha mente. Algo dentro de mim venceu o orgulho, e, sem pensar muito, liguei a moto que estava estacionada um pouco distante.

Segui Jay à distância, mantendo o motor baixo para não chamar atenção. Ele parecia perdido em pensamentos, as mãos nos bolsos e o olhar fixo no chão. Não sabia para onde ele estava indo, mas, de alguma forma, senti que precisava saber.

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