Capítulo 2.
Apesar de minha mãe ter ótima condição financeira, eu nunca tinha vindo para essa escola de carro e, possivelmente, nunca havia colocado os pés no estacionamento da mesma. Ele não era tão espaçoso quanto o estacionamento da minha antiga escola.
Que confuso, me senti pobre por alguns minutos, até despachar esse pensamento aleatório.
Enquanto observava alguns alunos entrando em carros não tão chiques quanto os que eu via nos EUA, foquei meu olhar em meu amigo.
Sunghoon estava sentado em uma escada que dava até a sala de monitoramento do estacionamento e, talvez, de outros lugares. Ele bagunçava os cabelos de forma exagerada, e eu já estava descartando a possibilidade de ser mais um de seus chiliques momentâneos.
— Acho bom você falar logo. — Sentei-me ao seu lado naquela escada empoeirada.
Ele hesitou e parecia buscar por palavras.
— O que você faria se estivesse se apaixonando por um dos seus amigos? — Ele jogou a pergunta e me olhou curioso.
Fiquei paralisado. Eu não tinha experiência no assunto e não sabia o que dizer, ou alguma forma de lhe ajudar.
— Hoon, você sabe... — Já estava prestes a explicar que eu não entendia nada sobre esse assunto.
Ele me interrompeu, negando com a cabeça.
— Não tô afim de você, já adiantando. — Seu sorriso sumiu.
— Eu não pensei nisso, só não sei como ajudar. — Dei de ombros.
Ele ficou em silêncio por segundos que pareceram uma eternidade.
Sunghoon não era de me pedir conselhos amorosos, porque ele sabia que eu não tinha experiência em nada. Quando ele estava afim de alguém, sempre jogava o assunto na roda em conversas aleatórias entre nossos amigos. Isso tornava tudo ainda mais estranho, já que estávamos falando disso a sós.
— Se você gosta de alguém, precisa dizer o que sente, certo? — Tentei o óbvio, e ele arqueou as sobrancelhas em minha direção.
— Ah, Você jura? — Ele revirou os olhos. — Está esquecendo o óbvio, você entendeu o que eu falei?
Pensei por alguns instantes.
— Ele ou ela não curte caras? — Achei que havia entendido.
Ele bufou e deu tapinhas na própria testa.
— Eu tô afim do Sunoo, Jay. — Ele disse com uma careta de preocupação.
O olhei incrédulo, realmente surpreso, e Sunghoon pareceu ficar com vergonha. Tive certeza quando seu rosto ficou avermelhado e ele virou a cara.
Sunoo nunca havia falado sobre sua sexualidade com nenhum de nós. Ele sofreu ataques verbais de Seojoon por conta de seu jeito afeminado, mas sabemos que isso não tem nada a ver com sua sexualidade. Eu amava esse jeito único dele. Sunghoon ainda esperava uma resposta ou que eu falasse qualquer coisa.
— Cara, você precisa falar com ele.
Ele me olhou assustado, e eu olhei em volta.
— Tá maluco? Eu não vou fazer isso. — Fez beicinho. — Ele com certeza não sente nada por mim e aposto que isso é apenas coisa da minha cabeça. Não quero estragar nossa amizade.
— Mas ele precisa saber, Hoon. — Toquei seu ombro. — Vai que você tem uma chance?
— Vai ser estranho, ele não me ver da mesma forma. Eu só preciso tirar essa ideia da minha cabeça. — Ele disse, se levantando.
Ele limpou a parte de trás da calça, enquanto eu praguejava mentalmente por ser um amigo tão horrível que não conseguia ajudar ninguém, nem com as melhores palavras. Suspirei e o imitei, limpando minha roupa também.
— Vem, vamos! — Ele pega minha mão, me puxando com rapidez, e só então pude perceber que ele estava fungando baixinho.
O parei e virei seu corpo na minha direção. Lágrimas grossas deslizavam sobre seu rosto pálido, e seus olhos e a pontinha do nariz estavam vermelhos. Em um impulso, o puxei e o abracei com força. Ele pareceu assustado de início, mas logo senti seus braços em volta do meu corpo.
— Não chora. Eu sei que você está confuso, mas vamos encontrar a melhor opção para te ajudar. — Sussurrei enquanto ele parava de soluçar, ainda abraçado a mim.
Ele estava sofrendo. Suspeito que ele guardou tudo isso para si por algum tempo. Hoon estava com medo de nossas reações e, principalmente, da reação de Sunoo. Era nítido. Eu só queria tirá-lo daquele estacionamento, chegar em casa e enchê-lo de sorvete de baunilha até o Hee chegar e nos dar o seu melhor conselho. Ele era o melhor nisso, e eu confiava nele de olhos fechados.
Enquanto saíamos do estacionamento, nossos olhos se chocaram com um carro luxuoso azul que entrou. O carro era muito bonito e parecia que havia acabado de sair da loja. Deveria valer mais do que o prédio em que morávamos — a família de Sunoo que me perdoe.
— Carro bonito. — Hoon comenta. Meu coração ficou quentinho ao ver que ele tinha um pequeno sorriso no rosto. Porém, seu rosto ainda estava um pouco vermelho por conta do choro recente.
— Vale mais do que o tênis que Chan usa quando vai jogar golfe. — Respondo, e ele concorda com a cabeça. — Talvez o filho do Jungkook do BTS estude aqui, pra ter um carro tão caro assim.
— Primeiro, Jungkook não tem filho algum. Segundo, por que ele mandaria o filho estudar logo aqui? E terceiro, por que o filho de um ricasso estudaria nessa escola? — Ele diz, ainda andando para fora da escola comigo em sua cola.
— É, não faz sentido.
[...]
— Sim, eu já sabia. — Foi tudo o que Heeseung disse após Sunghoon se abrir para nós dois, com um pote de sorvete de baunilha como testemunha.
Minha expressão de incredulidade só não era maior do que a de Hoon, que mordiscava uma pequena colher de sorvete. Ele ficou em silêncio por alguns segundos, e Heeseung deu uma risadinha.
A risadinha de quem parecia conhecer todos os nossos pecados e pensamentos.
— É só isso? — Sunghoon perguntou.
— Como assim você sabia? — Às vezes eu desconfiava que Heeseung conseguia ler mentes, mas, na verdade, ele só era muito observador.
— Só um idiota pra não notar sua cara de apaixonado quando está ao lado de Sunoo. — Ele respondeu a Sunghoon, enquanto se deitava preguiçosamente no nosso sofá.
Enquanto Sunghoon e eu estávamos no chão, sentados em cima de almofadas.
— O idiota aqui não notou. — Disse.
Sunghoon me mostrou seus caninos salientes quando deu uma risadinha. Eu sabia que ele estava mais tranquilo, pois Hee não o havia repreendido pelo fato de que Sunoo é mais novo do que ele e também faz parte do nosso grupinho de Vingadores.
Sim, foi o nome que Niki nos deu.
— Ignorando o idiota. — Sunghoon diz provocativo, o que mostrava o quanto ele estava confortável conosco. — Eu acho que não vou dizer nada pra ele. O sentimento nem é recíproco e logo eu já vou estar afim de outro alguém. — Ele pegou o pote de sorvete que estava entre nós e começou a raspar com a pequena colher o resto que havia sobrado.
— O idiota é você nesse momento. Por que não vai dizer pra ele? — Heeseung pergunta, se virando para encarar Sunghoon, e depois se deita novamente.
— Eu concordo com você, hyung. Ele está sendo totalmente idiota. — Me deitei no chão e estiquei minhas pernas.
A porta foi aberta de repente. Sunghoon e eu nos assustamos e encaramos o corpo de Niki atravessar a porta e logo a fechar em seguida. Nosso hyung parecia aéreo e ainda encarava o teto.
— O que tá rolando? — Ele pergunta, jogando a bolsa no chão e deitando no mesmo, colocando a cabeça no colo de Sunghoon.
— Estamos vendo o Sunghoon comer sorvete, só isso. — Heeseung diz, em um sussurro.
Niki encarou o Park, que mostrou o pote vazio para ele e logo fechou os olhos, esperando um bom cafuné no cabelo.
Sunghoon parecia querer fugir do assunto, e eu entendi que ele ainda não queria que Niki soubesse de seus sentimentos por um de nossos Vingadores — vingador esse que passava mais tempo com Niki.
— Onde você estava? — Perguntei, tentando fugir do assunto.
Vi ele tirar o pote vazio da mão de Sunghoon e o colocar no chão. Logo, pegou a mão do mais velho e levou ao seu cabelo. Ele sempre fazia isso conosco depois de Sunoo o mimar tanto.
— Depois que vocês saíram, a gente foi para a saída, mas Jungwon esqueceu algo e voltou correndo para buscar na sala de aula. — Ele dizia, enquanto recebia cafuné das mãos branquinhas de Sunghoon. — Mas ele demorou pra caramba. Sunoo e eu fomos atrás dele, mas não tinha ninguém na sala.
— Eu disse que ele era estranho. — Falei, meus instintos não falham.
— Quem é Jungwon? — Heeseung pergunta, se virando para nossa direção novamente.
— O aluno novo da escola. — Niki respondeu.
— Falando nele, preciso me desculpar com ele... Não quis ser grosso nem nada. — Sunghoon falou.
Niki pareceu se lembrar da cena e se sentou.
— O que você tinha hoje? — perguntou.
A cara que Sunghoon fez foi o suficiente para Heeseung entender e mudar de assunto.
— Ele estava sendo dramático, se vocês forem bonzinhos, levo vocês para a quadra hoje às 21:00. — Heeseung disse, e foi o suficiente para roubar a atenção de Niki.
— Se você tá insistindo. — falei.
Eu adorava jogar basquete na quadra do bairro. Gostávamos de ir tarde da noite porque não tinha ninguém lá nesse horário. Era somente nós e o frio infernal que congelava a alma.
O dia passou tão lentamente que eu me questionava o porquê da demora. O sol havia pegado um engarrafamento no céu? Estava quase acreditando nisso quando Sunghoon voltou do mercado com suas sacolas cheias de comida nada saudável. Heeseung passou a tarde toda inquieto e Niki saiu com Sunoo pra algum lugar. Eu fiquei aqui no sofá, analisando notícias sobre famosos e esperando, mesmo que meu coração gritasse por um "não", uma mensagem da minha mãe.
Um "não" porque eu não queria ir embora.
— Liguem pro Niki vir comer. — Heeseung apareceu no meu campo de visão usando roupas quentes.
Enquanto Sunghoon tirava as coisas das sacolas, eu me levantei.
— Ele tava na recepção com Sunoo, disse que sobe já. — Sunghoon diz.
— Ele vai com a gente? — perguntei. Heeseung olhou para Sunghoon com expectativa, mas a única coisa que nosso amigo fez foi dar de ombros.
— Não convidou ele? — Heeseung perguntou, pegando os copos e colocando-os no balcão.
Sunghoon nos olhou estranho.
— Porque eu? Você quem teve a ideia e, no final das contas, ele acaba indo mesmo sem ser convidado. — Sunghoon respondeu, mas parecia chateado com algo.
— Ok, senta aí. — falei. — Deixa que eu coloco o refrigerante.
— Você sabe que uma hora ou outra ele vai acabar sacando, não sabe? — Heeseung perguntou calmo, parecia estar explicando algo para uma criança de cinco anos.
— E eu já disse que isso é coisa da minha cabeça, já passa. — ele respondeu.
Revirei os olhos.
— Sunghoon, o mínimo que ele pode fazer é dizer um "não". — falei.
— Sabe quantos foras eu já levei na vida? — ele perguntou, e eu neguei com a cabeça.
— Nenhum, Jay. — ele respondeu todo cheio de si.
Escutamos a risada de Sunoo, que por sinal não é baixa.
— Então acho bom o Senhor Muito Gostoso fazer algo a respeito, pois o seu probleminha está vindo aí. — Nosso Hyung mais velho disse, indicando que Sunoo estava chegando.
Nos sentamos à mesa e só então notei os salgados e nossos hambúrgueres favoritos. Quando tomei um gole da bebida gelada, a porta foi aberta e Niki e Sunoo entraram rindo de algo.
Consegui ver Sunghoon revirar os olhos com força. Oh, não pode ser... ciúmes? Minha expressão confusa foi para a de sarcástico no mesmo instante em que Sunoo abraçou Sunghoon pelas costas e Niki lhe acertou um peteleco na cabeça.
Sunghoon ficou vermelho imediatamente. Sunoo se afastou dele e fez o mesmo com Heeseung, lhe dando um abraço. Enquanto isso, Niki se sentou na cadeira de qualquer jeito.
Sunoo veio em minha direção e levantei as mãos, negando.
— Sem abraços, please. — falei, balançando a cabeça, mas foi inútil porque Sunoo, além de me espremer, ainda me sacudiu. Logo depois, ele se sentou ao meu lado.
— Isso é inútil, Jay. — Niki não perde a oportunidade.
— Por favor, comam. Chega de inutilidades por hoje. — Heeseung é quem diz, e vejo Sunghoon fazer bico.
Sunoo foi o único quem ficou confuso com a fala do mais velho.
— Como assim? — ele indagou.
Niki lhe entregou um copo e depois o encheu de refrigerante.
— Nem tenta entender. — disse pra Sunoo.
Ficamos um tempo em silêncio, desfrutando de nossa refeição. De vez em quando alguém dizia algo idiota e sorríamos juntos.
Tudo normal.
— Você vai conosco? — Heeseung perguntou pra Sunoo, que concordou com a cabeça.
Sunghoon deu dois tapinhas na mesa, satisfeito.
— Ok, eu só vou arrumar essa bagunça e, se quiserem ajudar, eu agradeço. — disse me levantando.
— Eu fui comprar as coisas. — Sunghoon diz, se livrando de todo o trabalho da cozinha.
Niki se levantou e me ajudou a tirar tudo do balcão. Comecei a lavar as louças e Niki se pôs a secá-las ao meu lado.
Sunghoon se jogou no sofá, na companhia de Heeseung e Sunoo. Porém, vejo Heeseung se levantar e seguir para o quarto, me lançando um sorriso diabólico.
Ergui as sobrancelhas, sem entender a situação.
Olhei para o sofá e vi que Sunoo e Sunghoon estavam conversando. Oh, merda.
Alguns minutos se passaram e ouço Sunghoon gritar, assustando Niki ao meu lado, que secava um copo de plástico.
— Querem ajuda?
Vi Heeseung sair do quarto e voltar pra sala, soltando uma gargalhada, e Niki me olha confuso.
— Qual o problema de vocês? — ele perguntou. Apenas neguei com a cabeça, sorrindo. Não sei como Niki iria reagir, e também não é da minha conta. Sunghoon é quem deve contar a ele.
[...]
— Ótimo, que legal. — Sunghoon diz, em ironia, reclamando da temperatura.
Minha opinião não era muito diferente da sua. Eu não fazia ideia de quantos graus estavam fazendo, mas meus dentes não paravam de tremer nem por um segundo.
— Acho bom voltarmos, vamos ficar doentes. — Sunoo diz, mas continuava caminhando conosco até a quadra do bairro, tarde da noite. Não havia uma pessoa na rua, de vez em quando passavam alguns entregadores em motocicletas.
— Já estamos aqui, Sunoo. — Niki diz, mas na verdade ainda faltavam alguns metros para chegarmos até a quadra.
Heeseung continua caminhando à nossa frente com a bola de basquete, como se o frio não o abalasse.
— Eu disse para vocês se prepararem, que ia fazer frio. — ele diz sem olhar para nossa cara deprimente.
Olhei para minhas mãos, pálidas de frio.
— Quem que joga usando luvas? — Sunghoon ironiza.
— Quem joga basquete a essa hora, nesse frio, em uma quadra abandonada? — Sunoo rebate, isso nos mostra o quanto idiotas somos.
— E você que só fica assistindo! — Hoon aponta para seu amigo, sua paixonite.
— Sunoo não deve ter nada pra fazer. — Heeseung diz lá da frente.
— Ele nunca tem. — Niki completa. — Espera! — Ele diz, apontando para frente, nos mostrando algo.
Paramos imediatamente.
— A quadra está ocupada. — Heeseung diz, enquanto observamos pessoas distantes na quadra se divertindo. Ainda estávamos um pouco longe.
Mas dava para ver de longe um carro de luxo estacionado ao lado da quadra.
— Espera, esse carro não era... — antes que Sunghoon terminasse sua fala, lembrei do carro que saiu do estacionamento de nossa escola.
— Sim, parece ser o mesmo. — falei.
Sunoo começou a rir, e nós quatro olhamos pra ele confusos.
— Nem pra sermos idiotas de um jeito único servimos. — ele diz, e Heeseung joga a bola nele.
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