╋  ARTHUR WEST ╋

Eu conhecia toda a rotina de Sam porque eu havia anotado, todos os dias, cada coisa que ele fazia, desde levantar no meio da noite para pegar um copo d'água até sentar no sofá e ficar olhando para o nada por horas a fio. Pelo que eu observava sua vida era extremamente chata. Nada acontecia naquela maldita casa. Ninguém o visitava, parecia não possuir nenhum parente distante e nenhum amigo. Entretanto eu sabia que ele tinha uma filha, Lucie, e uma esposa, Lauren.

Eu me convencera de que precisava conhecê-lo e tentar descobrir o que estava acontecendo ali naquela cidade. Mas o que eu precisava saber, mais importante do que os mistérios daquele lugar, era o paradeiro de Theo, meu irmão.

Uma parte da vida de Sam, a profissional, tinha me deixado mais curioso ainda. Um dia, enquanto o seguia para o trabalho, me deparei com uma pessoa totalmente diferente. Lá, na delegacia, ele tinha amigos, era recebido com sorrisos, tapinhas nas costas e, claro, os famosos Donuts do Ron. As pessoas se aproximavam dele enquanto patrulhava as ruas de Tolson e perguntavam sobre seu dia, lhe ofereciam água, comida e lhe desejavam um bom trabalho. Ele era popular, pois todos o adoravam. Mas aquelas pessoas não imaginavam a vida solitária e patética que Sam vivia.

Pelo que eu havia percebido, ele não era um policial tão bom assim, visto que nunca tinha me pegado no flagra, o espionando e seguindo. Eu tomava todas as precauções necessárias para não ser pego, mas esperava que ele me desafiasse mais, nem que fosse com uma fuga capaz de fazer a adrenalina encher minhas veias.

Estávamos nos aproximando do Ano Novo, o Natal já tinha passado,  e as pessoas continuavam num clima comemorativo insuportável. Eu nunca havia entendido qual era a felicidade de um novo ano, mas fingia senti-la ao desejar boas festas, apenas para não perder o hábito e para mostrar-me como uma pessoa normal.

Sam passara o Natal sozinho em frente à lareira, comendo rosquinhas que os colegas policiais haviam mandado entregar em sua casa, uma cena realmente lamentável. Mas não posso reclamar do Natal dele, pois passei a data dentro do meu Chevrolet Monza 2002, dormindo.

Logo eu teria que alugar outro veículo para não ser descoberto.

Tolson era uma cidade pequena, de apenas 5 mil habitantes e, por isso, qualquer um pensaria que os crimes ocorressem com pouca frequência ali. Errado. Ultimamente eles ocorriam com regularidade, especialmente no final do ano. Nessa época os assassinos, estupradores e ladrões resolviam fazer suas vítimas. 

A "moda" da vez era o assassinato e parecia haver um padrão específico de vítimas: homens com cabelos negros e acima dos 40 anos. Todos encontrados mortos com pedaços de vidro enterrados na cabeça.

Anotei mais algumas coisas em meu caderno enquanto observava Sam pegar uma lasanha congelada do freezer e colocá-la no microondas. Revirei os olhos enquanto engatava a ré, lamentando que a esposa e a filha dele, Lauren e Lucie, não estivessem ali para lhe fazer companhia.

Os cidadãos de Tolson se encaravam com receio nas ruas silenciosas e escuras. Mas eles não iam deixar a criminalidade estragar suas festas, tanto que muitos andavam apressadamente com sacolas cheias de comidas e presentes. 

Ao contrário de todos, eu não ligava para aquelas comemorações inúteis. Não podia esperar o ano terminar para agir. 

Saí dali elaborando meu plano para cumprimentá-lo, sabendo da festa de ano novo organizada pela prefeitura, na qual quase todos da cidade estariam presentes. O evento seria perfeito para tentar descobrir quem era o assassino e também para procurar por Theo.