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Ano Novo

╋  ARTHUR WEST ╋

A decoração estava realmente deslumbrante e o prefeito aproveitava a atenção da imprensa. Ele sorria, apertava mãos importantes e posava para fotos. Era um homem gordo, baixinho e careca, na casa dos 50 anos. Mesmo assim era bastante popular, principalmente por manter-se perto dos moradores da cidade, tomando café todos os dias na mesma padaria e fazendo visitas aleatórias a alguns moradores. Na minha opinião ele se achava uma estrela de cinema aposentada.

A taça de champanhe na minha mão estava suando, com gotículas escorrendo pelo vidro e bolhas efervescentes se desgrudando do fundo e flutuando para cima, como fogos de artifício em miniatura. Aquele tipo de álcool era chique demais para o meu paladar acostumado a vinhos baratos comprados em mercados de esquina.

Observando as pessoas que chegavam, comparei aquilo tudo a um evento beneficente, um palanque público cujo objetivo político estava escancarado. A maioria das mulheres possuía mais de 30 anos, os homens mais de 40 e os jovens eram poucos, visto que a taxa de natalidade era baixa demais em Tolson. Reparei no quanto o prefeito se esforçava para parecer jovial e humilde, curvando-se ao falar com todos, sorrindo excessivamente... Revirei os olhos. Resolvi, com um suspiro, deixar de lado minhas críticas ferrenhas àquela administração populista.

Alguns garçons passaram, oferecendo champanhe e comidas tão pequenas que eram possíveis de engolir em apenas uma mordida. Quantos dólares o prefeito havia gastado para distribuir comida daquela maneira? Mas talvez eu estivesse sendo injusto, afinal era o fim do ano.

Olhei para o céu e as nuvens pareciam mais carregadas, brancas e cheias, contrastando com o tom cinza ao redor. Senti um pingo na bochecha e coloquei a taça que eu estava segurando na primeira bandeja que vi, secando meus dedos na calça preta. 

Ao longe enxerguei Sam, que parecia uma versão muito mais autêntica do que eu via diariamente ao espiá-lo. Estava mais bonito e arrumado. Não acreditei quando o vi de terno, porque estava acostumado a enxergá-lo usando pijamas rasgados, furados e, muitas vezes, sujos. Ali ele parecia outro homem. Os cabelos negros, cujos poucos fios grisalhos se espalhavam pelas raízes, estavam penteados para trás, suas ondas emolduravam seu rosto de traços fortes, mas que continha um sorriso gentil e olhos azuis alegres. Eu sabia que ele preferia não estar ali. Sam detestava socializar fora do expediente de trabalho. 

Aproximei-me de maneira sutil, mas não antecipei o olhar de estranhamento que recebi dele. Eu era um estranho e Sam o policial cujo trabalho, mais do que ajudar a resolver crimes e pegar os bandidos, era conhecer cada cidadão de Tolson. Era uma cidade pequena e todos os moradores se consideravam uma grande família (ridículo, eu sei, pois eram mais como uma teia de aranhas fofoqueiras).

━Você é? -as sobrancelhas grossas se arquearam com curiosidade numa expressão investigadora típica de policial, querendo descobrir qual era o meu objetivo

━Arthur West -estendi a mão direita e o cumprimentei com um sorriso medido, nem muito simpático e nem muito polido, que eu havia praticado no espelho inúmeras vezes.

━Você é novo por aqui? -seu cenho franzido e o sorriso que tentava me desvendar me irritaram, mas não transpareci e, com uma risada, respondi:

━Meu irmão morou aqui por muitos anos, mas há dias não tenho notícias dele.

Sam pareceu surpreso com o que eu havia dito e me preparei para a pergunta que viria a seguir.

━Qual o nome do seu irmão? Talvez eu o conheça, sou policial -ele pareceu extremamente interessado e eu quase ri, porque no bolso do meu paletó havia um caderno com detalhes sobre a rotina dele, bem como anotações sobre a rotina de Theo naquela cidade, que eu tinha descoberto após falar com outros moradores.

Observei com enorme atenção a reação que ele teria quando respondi:

━Theo West.

Ele tentou, a todo custo, esconder o choque do olhar. Encarou-me como se eu estivesse lhe acusando de algo, mas rapidamente se recompôs. Sam deu um sorrisinho falso para mim e bebericou da taça de champanhe que segurava.

━Você o conhecia? -indaguei, fingindo não saber que a resposta para minha pergunta era positiva

━Não. Quer dizer, sim -ele gaguejou, deixando-me ainda mais curioso e irritado.- Há dias não o vejo. Ele costumava ir todos os dias até a lanchonete do Ron, por vezes comprava para mim os donuts de lá, que são famosos na Delegacia.

Foi minha vez de arquear as sobrancelhas. Ele estava se incriminando daquela maneira, de cara? Vi uma gota de suor escorrer de sua testa e dei uma risada, fingindo lembrar do jeito solidário de Theo que, aparentemente, só Sam conhecia.

━Quando foi a última vez que o viu? -perguntei, mas ao ver sua expressão desconfiada, acrescentei, coçando a cabeça com preocupação: Pergunto porque estou bastante preocupado, ele é meu único irmão e também meu único familiar vivo -fiz uma expressão triste e seu semblante desconfiado se suavizou

━Há umas três semanas, na lanchonete.

Controlei-me para não reagir àquela mentira e mostrei minha decepção como resposta, suspirando e relaxando os ombros. Quando estava pronto para continuar meu interrogatório disfarçado de conversa, o prefeito aproximou-se e deu um tapinha nas costas de Sam, o típico cumprimento masculino que nunca entendi.

━Sam, meu garoto! -ele tinha uma barba rala igual a de um adolescente entrando na puberdade e os lábios finos estavam molhados de champanhe- Essa festa é para você também, pelo ótimo trabalho na delegacia. Todos são muito gratos por sua dedicação. Algum caso horrendo nesse final de ano? -ele sussurrou a pergunta, como se fosse um segredo, e Sam respondeu de maneira desconfortável:

━Tivemos uma pausa nos assassinatos. O último ocorreu há quase três semanas e, desde então, estamos em paz. Na medida do possível, porque os roubos continuam acontecendo.

Suor escoreu da nuca gorda do prefeito, que possuía um nariz redondo e pequeno, desproporcional com o tamanho da cabeça careca. Perguntei-me se ele iria me cumprimentar ou fingir que eu não existia, mas logo ele olhou-me e abriu um sorriso de surpresa, estendendo a mão gorda e suada em minha direção.

━Não acho que fomos apresentados. Prazer, William Ress.

Apertei sua mão e ele chacoalhou-me com vigor, como se aquele aperto de mão confiante e político fosse capaz de tornar-me seu amigo. Sam colocou uma mão no bolso e olhou ao redor como se estivesse muito ansioso para sair dali.

━Prazer, Arthur West. Meu irmão era morador de Tolson, Theo West, o senhor o conhecia?

━Theo West? Ele é um garoto muito reservado, o vi por vezes na lanchonete do Ron.

A mesma história e o mesmo ar suspeito. Percebi um olhar rápido entre os dois homens e arqueei as sobrancelhas. Por que Theo tinha se envolvido com aquela gente? Ele não era nada reservado, eu sabia bem. 

Fiquei intrigado a falta de curiosidade do prefeito sobre o porquê de eu estar ali e estava pronto para perguntar sobre Theo quando ouvimos um grito feminino e vimos uma mulher correndo em direção ao prefeito, com uma expressão de horror no rosto. Os saltos vermelhos, combinando com o vestido da mesma cor, a impediam de correr mais rápido e tropeçou várias vezes nos paralelepípedos da rua.

Os olhos azuis dela estavam arregalados, pareceram horrorizados com o que quer que tinha visto. Quando ela finalmente chegou perto de William, ofegante, ele segurou-a pelos ombros, encarando-a com choque.

━Pelo amor de Deus! O que houve, Jean? 

━Um homem -ela falou, passando os dedos pelos cabelos loiros curtos, olhando para trás como se houvesse uma assombração a perseguindo- Morto. Atrás da cerca.

━Cerca? Qual cerca? -William perguntou, parecendo perdido

━Mostre-me onde, Jean -Sam pediu, pegou uma arma de dentro do paletó e segurou-a junto ao corpo de maneira defensiva

Jean apontou para uma cerca azul, que separava a estrada da rua onde ficava a lanchonete mais famosa de Tolson, a Donuts do Ron. Todos da festa subitamente pararam de comer, mostrando interesse no que estava acontecendo, ou melhor, ávidos para ter um assunto sobre o qual fofocar no dia seguinte.

Os garçons pararam de servir, as rodas de conversa ficaram silenciosas e só ouvimos alguns pássaros gritando e voando ao longe, como se também estivessem assustados com aquela gritaria. Analisei a postura de Sam, que dava passos cuidadosos até a cerca. 

William passou um guardanapo na careca lustrosa e parecia prestes a desmaiar. Jean comprimiu os lábios, com as mãos no peito como se pudesse segurar a si mesma caso caísse. Percebi um olhar de receio entre os dois. Talvez aquilo pudesse manchar a reeleição do ano seguinte?

Trovoadas foram ouvidas e espalharam-se pelo céu nublado, fazendo o chão estremecer. Algumas gotículas de chuva caíram em meus cabelos e molharam meu terno preto. As pessoas se encararam com apreensão, expressões retorcidas e preocupadas nos rostos. Alguns se abraçaram e outros abriram guarda-chuvas.

Não me movi e fiquei aguardando, nervoso e ansioso. Ninguém ousou perguntar à Jean de quem era o corpo. 

Havia um cadáver para finalizar o ano, afinal, era a tradição de Tolson: a morte marcando o fim de mais um ano.

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