Part 52- O jardim do Éden
Caros, leitores. Estou postando mais um capítulo e espero agradá-los mais uma vez. Vou deixar que o avaliem e por favor me enviem seus comentários. Me sinto estimulada com suas opiniões e elogios. Desculpem os erros ortográficos, e desejo-lhes uma ótima leitura. e devo dizer que mais uma vez ficou longo. Muito obrigada. Beijos.
ANNE
O dia amanheceu frio e chuvoso, e Anne acordou devagarinho, sentindo a preguiça tomar conta do seu corpo que se recusava a deixar aquela sensação de estar aquecido e relaxado ir embora. Ainda presa em uma certa inconsciência, ela se aconchegou mais às cobertas, estendendo os braços e tocando sem querer um corpo masculino e cheio de músculos deitado ao seu lado. Anne abriu os olhos e encontrou o olhar castanho de Gilbert totalmente concentrados em seu rosto, e sentiu um arrepio involuntário atingi-la da cabeça aos pés.
Ele não disse nada quando a ruivinha acariciou o seu rosto, apenas segurou seu pulso com cuidado e deslizou a língua pela sua palma, sem desviar os olhos dos dela em uma carícia sensual que ateou fogo no sangue de Anne fazendo-a arfar sem perceber. Seus sentidos despertaram em um instante, a sonolência foi embora em um segundo, ao mesmo tempo em que ela enterrava suas mãos na nuca dele, e o puxava para um beijo molhado e quente.
Naquele duelo de lábios que se provocavam, não houve um vencedor ou perdedor. Eram bocas que saboreavam, partilhavam e se entregavam em uma paixão ardente sem controle e sem medida. Gilbert interrompeu o beijo quando o oxigênio entre eles acabou, e Anne sorriu-lhe docemente dizendo:
- Bom dia, Gil. – O jovem médico retribuiu lhe o sorriso, tocando-lhe o queixo com o indicador e respondeu:
- Bom dia, Anne. – a garota ruiva fechou os olhos um instante, deliciando-se com a sonoridade daquela voz tão perto de seus ouvidos, que a fazia ter pensamentos nada decorosos aquela hora da manhã. Ela os abriu novamente, e percebeu que Gilbert mordia com força seu lábio inferior como se também tentasse esconder desejos ocultos no fundo de sua mente.
Então, ele desviou o olhar e observou o relógio em cima da mesa de cabeceira que marcava oito horas da manhã, e disse para Anne:
- Temos que nos levantar.
- Por que? Você não tem que trabalhar e eu também não. Poderíamos passar a manhã na cama. O que acha? O dia está maravilhoso para isso. - ela sugeriu com uma voz manhosa que fez Gilbert rir.
- Anne, nós temos um compromisso, mas acho que você se esqueceu. - Gilbert cruzou os braços e Anne olhou para ele interrogativamente.
- Temos?
- Você me prometeu que iria a polícia denunciar as ameaças, não se lembra? - Gilbert perguntou e Anne fez uma careta:
- Tem mesmo que ser agora? Não podemos adiar só mais um pouquinho? – Ela fez um muxoxo, e Gilbert atirou as cobertas de lado, levantou-se da cama e respondeu:
- Pare de ser mimada, garota. Nos vamos agora mesmo e não se fala mais nisso. - ele pegou um roupão e fez menção de sair do quarto, mas Anne o interrompeu perguntando:
- Onde pensa que vai, Dr. Blythe?
- Vou tomar banho.
- Quer companhia? - ela disse maliciosa, pulando da cama e deixando que Gilbert tivesse uma visão completa do seu corpo escultural sem uma peça de roupa no meio do quarto. O olhar dele se estreitou, e Anne viu Gilbert engolir em seco, ficando em silêncio por um segundo parecendo se decidir se queria a companhia dela ou não durante o banho e depois respondeu:
- Você sabe muito bem que se entrar comigo naquele chuveiro não vamos sair de lá tão cedo.
- E qual é o problema? Você não quer? - ela perguntou provocante, não fazendo nenhum movimento para se cobrir.
- A questão aqui não é se quero, e sim a certeza de que não devo. - ele deu meia volta e foi para o chuveiro, deixando Anne frustrada com sua recusa em deixá-la fazer lhe companhia.
Ela se deitou na cama novamente, e tentou raciocinar com clareza, se lembrando das palavras de Cole para não pressionar Gilbert, ou iria perdê lo. Ela deveria ficar satisfeita com a pequena vitória que tivera. Gilbert fizera amor com ela depois de tanto tempo, e ao se lembrar de cada detalhe, ela sentiu seu corpo formigar. A noite tinha sido perfeita, e o acordar também, embora Gilbert já estivesse dando demonstrações que estava voltando ao seu estado normal, onde tinha todas as suas emoções sobre controle.
Ele a deixava louca com suas múltiplas personalidades, fazendo Anne desejá-lo de um jeito que ultrapassava seu senso comum. Ela sempre gostara do jeito que ele lhe fazia carinhos, mas agora estava ficando completamente viciada em sua forma de fazer amor com ela. Ele exalava sensualidade quando colava seu corpo no dela, e aqueles lábios de fogo em seu pescoço eram de enlouquecer, ela precisava de toda a sua força de vontade para não se render logo no primeiro beijo, mas quando as mãos dele esculpiam seu corpo no auge do desejo ela se entregava de vez. Gilbert Blythe era definitivamente sua perdição.
Anne ouviu a porta do banheiro se abrir, e depois viu Gilbert surgir no quarto novamente. Os cabelos estavam molhados, e ele vestia o roupão por cima de sua calça de moletom, e disse olhando para Anne:
- Se quiser tomar banho, o chuveiro e todo seu. Vou te esperar na cozinha.
- Está bem – Anne respondeu e Gilbert saiu do quarto, enquanto ela pensava em como Gilbert conseguia ter um autocontrole tão grande naqueles momentos entre os dois. Era tão difícil para ela estar no mesmo quarto que ele sem desejar que ele a amasse por horas seguidas, e Gilbert nem precisava tocá-la para inspirar-lhe esse tipo de pensamento. Bastava olhá-la daquele jeito intenso para Anne descobrir que já estava perdida no instante seguinte.
Ela caminhou para o banheiro e tomou uma banho bem quente. Em seguida, hidratou sua pele com óleo pós banho, e depois passou creme corporal de fragrância de morango. Logo, ela foi para a cozinha onde Gilbert preparava o café, ela sentou-se a mesa e respirou fundo ao ver que ele tinha tirado o roupão, e estava sem camisa. Ela nunca fora de observar corpos masculinos com tanta atenção, pois estava tão acostumada a vê-los todo o tempo em seu campo de trabalho, mas aquele homem ali à sua frente era luxúria pura. Anne tinha que concordar com Cole. Gilbert era mesmo uma delícia e ela não se importaria de passar o resto da vida observando-o assim, pois a visão do pecado estava ali diante de seus olhos, e que seu bom senso se danasse, pois se esbaldaria nele naquele instante.
Anne se aproximou e o abraçou pela cintura, suas mãos subindo pelo peito dele, enquanto ela descia seus lábios pelas costas dele. Ela sentiu o coração dele disparar, e a respiração se acelerar conforme as unhas dela arranhavam sua pele de leve. Gilbert gemeu baixinho, se virou de frente, pegando Anne pela cintura e a sentando em cima da mesa, deixando os lábios dela na altura dos seus.
- Eu já te disse para não me provocar assim. Eu não sou de ferro, Anne. - ele estava ofegante, mas tentava se controlar ao máximo, enquanto suas mãos afundavam na carne macia da cintura dela.
- Por que tem que ser tão racional, Dr. Blythe? Não tem nenhum prazer pela aventura? - as mãos dela agora subiam e desciam pelos braços musculosos de Gilbert, ficando maravilhada com sua força.
- Estar perto de você já é aventura suficiente para mim. - ele disse com os lábios quase tocando os dela.
- Talvez deva se soltar mais um pouco, então. – Anne disse provocando-o com seu toque suave.
- Diga-me, o que ganha me provocando desde jeito, Anjo ruivo? – Gilbert perguntou com a voz enrouquecida.
- Anjo ruivo? Você costumava me chamar assim quando éramos crianças, se lembra? Ainda me vê desse jeito? - Anne disse aspirando o odor almiscarado do sabonete que ele usara no banho.
- Acho que tentação ruiva é mais apropriada para você agora – Gilbert mordiscou-lhe o lábio inferior de leve, e Anne sentiu seu corpo inteiro vibrar.
- Isso quer dizer que te provoco tanto assim? - ela perguntou de olhos fechados, enquanto sentia o rosto de Gilbert próximo demais.
- Não, isso quer dizer que me deixa louco. - e a beijou de vez. Seus lábios devorando os dela em uma necessidade urgente de provar o gosto daquela carne macia. Anne deixou que ele explorasse a sua boca como desejasse, assim como explorou a dele também, e entrelaçou suas pernas na cintura dele, fazendo com que seus corpos estivessem tão próximos que Anne sentiu seu estômago se contrair por antecipação ao que viria a seguir, mas com seu controle por um fio Gilbert se afastou, sussurrando em seu ouvido
- O que quer de mim, Anne?
- Eu não quero nada de você, Gil. Eu disse que não haveria cobranças dessa vez. Quero apenas ficar do seu lado pelo tempo que quiser, e juro que vou respeitar seu tempo e suas decisões. - Ela respondeu com a testa encostada na dele, e suas mãos no ombro dele.
- Não sei se isso vai dar certo, Anne. - Gilbert disse olhando-a nos olhos.
- Por que não? Gostamos da companhia um do outro, nos divertimos juntos, e você não pode negar que somos ótimos junto à na cama. - ela disse com uma risadinha safada
- Anne, o que vou fazer com você? Você é perigosa demais para minha paz de espírito, e sei que estou brincando com fogo.
- Bom, talvez te faça bem queimar nesse fogo, Dr. Blythe, pois derrete esse gelo envolta de seu coração. – Ela disse beijando-o mais uma vez, e de novo Gilbert interrompeu o beijo e disse:
- Está bem. Vamos continuar essa conversa mais tarde. Vá se arrumar, pois vou te levar a delegacia – Anne fez uma cara empurrada enquanto Gilbert a ajudava a descer da mesa.
- Quer mesmo fazer isso essa manhã? - ela perguntou.
- Eu acho que você já adiou demais isso, e não sabemos até onde a pessoa que está ameaçando você pode chegar. Eu não quero que se machuque, Anne. - a voz dele era como uma carícia, e a ruivinha concordou sem hesitar mais. Não havia nada que Gilbert pedisse que ela não faria quando ele falava com ela daquele jeito.
Ambos se vestiram, tomaram um café rápido e foram até a delegacia. Ao chegarem lá, Anne se sentiu estranha, pois nunca estivera em um lugar como aquele antes. O ambiente era frio e impessoal, e o delegado a quem fez a denúncia era um tanto rude, talvez por conta da profissão e de lidar com todo o tipo de delito, ele tinha perdido o tato de se dirigir às vítimas de um caso. Depois de quarenta minutos de depoimento, Anne foi liberada e voltou com Gilbert para o apartamento dele.
Ela passar a o resto da tarde lendo o livro que iniciara no dia anterior, pois não se sentia muito propensa a conversar. As lembranças das ameaças e de todo o seu terror a fizeram se sentir um pouco deprimida, e fora da realidade que estava vivendo. Gilbert, percebendo sua sensibilidade, decidiu deixá-la um pouco sozinha com seus pensamentos, enquanto resolvia assuntos pessoais que vinha adiando por um tempo.
Anne de fato não se importou, na verdade agradeceu mentalmente a Gilbert por aquele gesto. Apesar de estar amando ficar na companhia dele, ela preferia ficar um tempo somente consigo mesma, e depois, tinha que pensar no que fazer, porque não poderia ficar na casa de Gilbert para sempre. Depois de seus dois dias de folga, ele voltaria ao trabalho e Anne tinha que cuidar da própria vida. Por mais generoso que Gilbert estivesse sendo com ela, não podia abusar da hospitalidade dele daquela maneira, pois mesmo que estivessem se relacionando intimamente de novo, Gilbert não tinha assumido nenhum compromisso com ela, e ambos mais pareciam estar vivendo uma amizade colorida do qualquer outra coisa. Ela tinha que ser paciente e esperar que Gilbert se acostumasse com ela novamente em sua vida, e por ele, Anne faria qualquer coisa, esperaria para sempre se ele lhe dissesse que ainda tinham chances de ficarem juntos.
Pelo menos a paixão que ele sentira por ela no passado não tinha se acabado, porém, não podia dizer o mesmo do amor. Anne dissera várias vezes que o amava naqueles últimos dias, mas Gilbert apenas se limitara a aceitar o que ela dissera, sem compartilhar seus próprios sentimentos. Por essa razão, Anne decidir a deixar rolar e ver até onde tudo chegaria. Estava disposta a fazer de tudo para tê-lo de volta, até mesmo refrear sua ansiedade crescente de que tudo se resolvesse de uma vez.
A noite chegou após ambos terem tomado banho. Gilbert convidou Anne para assistir a um filme na TV. Eles pediram comida italiana pelo telefone, e depois se enrolaram no edredom e passaram as horas seguintes se divertindo com uma comédia romântica, estilo preferido de filmes de Anne, e ela sentiu como se voltasse no tempo e fosse ainda aquela garotinha sardenta de tranças que passara os melhores momentos de sua infância ao lado de seu melhor amigo, e naquele momento, o único amor que já tivera, e ela não podia imaginar algo mais que quisesse para si mesma, além de eternizar aquele instante em sua memória até últimos dias de sua vida.
GILBERT
Gilbert observava Anne deitada com a cabeça em seu colo, enquanto ria de uma cena hilária do filme que assistiam juntos. Sua risada era musical e tão encantadora quanto ela, e Gilbert não podia negar que naquele instante ela estava maravilhosa de pijama de seda azul, e os cabelos presos em um rabo de cavalo que lhe dava um ar inocente que o enfeitiçava.
Ele já devia saber o que aconteceria quando a trouxera para seu apartamento, mas deixara de lado a cautela, porque não quisera perder as oportunidades de passar um tempo com Anne. Ele dissera a si mesmo que resistiria, e sucumbira na primeira noite e agora se perguntava como aquilo tudo terminaria.
Anne era tentadora demais, e o pior era que ela sabia disso, e também descobrira um jeito de manipular as emoções dele a seu favor. Ela o acusara de ter um coração de gelo, mas se ela soubesse que era apenas uma fachada para se esconder dela, pois ele não queria que Anne descobrisse que o velho Gilbert ainda estava lá, que ele ainda a venerava e amava acima de tudo.
Anne o enlouquecia, e sabia como ter toda a sua atenção. Ela era ousada, principalmente quando usava todos os seus atributos físicos para convencê-lo a fazer o que queria, especialmente naquela manhã ao oferecer sua companhia para tomarem banho juntos, e ele tivera o bom senso de recusar. Se o dia não estivesse tão frio, ele com certeza teria tomado um banho gelado, pois os pensamentos que tivera embaixo do chuveiro só serviram para deixá-lo ainda mais vulnerável aquele desejo que não o abandonava desde que tocara Anne pela primeira vez.
Gilbert bancava o indiferente, fingia que estava no controle de seus sentidos, mas bastava um só toque para Anne tê-lo em suas mãos. Aquela manhã na cozinha fora mais um teste ao seu autocontrole, as mãos dela em seu corpo foram provocantes demais. Anne era tentadora da cabeça aos pés, não havia nada naquele corpo magnífico que não o excitasse, e ela realmente nascera para fazer amor com ele. Anne dissera que eram bons juntos, mas Gilbert tinha que acrescentar que eram formas feitas da mesma medida, e tudo se encaixava como um quebra cabeça de milhares de peças complexas, que quando se juntavam combinavam entre si com perfeição.
Eles tinham tudo para dar certo, mas ainda assim, acabava dando tudo errado por milhares de razões que não daria para colocar em uma lista, mas ele acabou se esquecendo disso, quando a mulher que estava em seus pensamentos o olhou com seus olhos brilhantes feito duas estrelas e perguntou:
- Que tal se fizéssemos chocolate quente, Gil?
- E pipoca caramelada. - ele acrescentou.
- Costumávamos fazer isso todos os domingos, você se lembra? - Anne disse segurando-lhe as mãos.
- Como poderia esquecer? Você me fez assistir Grease, nos tempos da brilhantina, dois meses seguidos, e depois me fez decorar aquela dancinha ridícula do John Travolta, logo eu que tenho dois pés esquerdos. – ele fez uma cara de sofrimento que fez Anne rir e lhe dar um tapinha de leve.
- Não seja modesto, Dr. Blythe. Você aprendeu os passos direitinho, e foi por uma boa causa. O aniversário de Diana foi incrível aquele ano. - Anne disse sorrindo saudosa do passado. E Gilbert teve que concordar com ela, pois foi naquela festa que seus sentimentos por Anne ficaram mais claros para ele. Ela fora seu par de dança a noite toda, e não se desgrudaram nenhum minuto. Isso aconteceu duas semanas antes de se beijarem, mas, ele soube ali que sentia bem mais por ela do que amizade.
- Você tem saudades, Anne? - ele perguntou, acariciando o rosto dela com o dorso das mãos.
- Sim, principalmente de nós dois. - ela respondeu, e a viu fitá-lo com aquele oceano azul que era uma das coisas que ele mais amava no mundo. Poderia perder -se com facilidades nele, e deixar que Anne desvendasse todos os segredos que cuidadosamente escondia dela, mas preferiu quebrar o encanto, dizendo em um jeito brincalhão:
- Vamos logo para cozinha fazer essa pipoca. Eu aposto que meu chocolate quente ainda é melhor que o seu.
- Duvido, Gil. Você costumava adoçar tanto que eu pensava que iria morrer açucarada- Anne disse zombando dele.
- Quer dizer que você dizia que gostava do meu chocolate só para me agradar? - Gilbert se fingiu de indignado e Anne respondeu.
- Você se empenhava tanto que eu não queria ferir seus sentimentos. - Anne explicou, enquanto se levantava do sofá junto com Gilbert e ambos foram para a cozinha. Meia hora depois, voltaram para a sala com a bebida na mão e um balde de pipocas com caramelo para mais uma maratona de filmes.
- Retiro o que disse, seu chocolate quente é divino. - Anne elogiou enquanto sorvia a bebida com um sorriso nos lábios.
- Eu tive tempo para me aperfeiçoar através dos anos. - ele disse maroto.
- Você fazia chocolate quente para as suas namoradas? - Gilbert ficou surpreso com o que ela dissera, mas respondeu assim mesmo:
- Bem, eu não tive tantas namoradas assim, e a única com quem fiquei por bastante tempo foi a Sarah.
- Ah, sim. - Anne disse sem olhá-lo nos olhos.
- Qual é o problema, Anne? Por que falar da Sarah te incomoda tanto assim? Ela é uma ótima pessoa. - Gilbert disse tomando seu chocolate devagar enquanto observava as reações de Anne.
- Eu tenho certeza disso. - a ruivinha parecia incomodada realmente com a conversa e Gilbert suspirou ao falar com ela novamente:
- Não seja irônica, Anne.
- Não estou sendo, de verdade. Eu só pensei que se você não a amava como me disse uma vez, como conseguiram ficar juntos tanto tempo?
- Sarah me ajudou muito em um período difícil, e acho que sempre fomos mais amigos do que namorados. Nos dávamos bem e fazíamos bem um ao outro. - Gilbert concluiu, e Anne continuou de cabeça baixa pensando no que ele dissera.
- Ei, Anne. Não fique chateada. Olha para mim – ele pediu, pegando no queixo dela com o polegar e fazendo -a olhá-lo nos olhos. - Nunca foi com ela como é com você. - Anne apenas se aproximou enterrou seus dedos nos cabelos dele, e o puxou para um beijo.
O gosto dela era de chocolate, e logo Anne estava em seu colo. O beijo se tornou ardente, enquanto seus corpos se chocaram em um abraço tão apertado que pareciam se fundir. Eles se separaram, e Anne deitou sua cabeça no ombro de Gilbert enquanto ele massageava as costas dela devagar.
- E como a Sarah está Gilbert? Eu sei que não tenho perguntado muito sobre ela, me desculpe.
- Ela está sobrevivendo dentro do possível. – Ele respondeu sério. Aquele era um assunto que o chateava, e não falava muito dele fora do hospital.
- E o tratamento? Não tem funcionado? - Anne perguntou olhando-o nos olhos.
- Não como o esperado. – Ele respondeu pegando uma mecha do cabelo dela. - Vamos ter que começar com quimioterapia
- Sinto muito. Eu sei o quanto isso é importante para você. É uma pena que as coisas não estejam acontecendo como você desejou. - Anne tocou-lhe o rosto, e Gilbert a trouxe para mais perto.
- Eu tenho esperanças que ela tenha melhores resultados com a quimioterapia, embora não seja o tratamento que me agrada. - Gilbert se lembrava bem de com o seu pai tinha sofrido com câncer nos rins, e a quimioterapia não o ajudara como o esperado pelos médicos, e apenas acelerara o processo, levando-o a uma morte mais rápida.
- Espero que ela consiga melhorar. Eu também sei que Sarah significa muito para você – Gilbert a olhou com admiração. Anne sempre se mostrara resistente a respeito de qualquer assunto que envolvesse o nome de Sarah, principalmente por considerá-la a responsável por ele ter ido à Alemanha, e por esse motivo ter causado a separação dos dois.
- Obrigado por se importar. - Gilbert disse sorrindo meio de lado, e Anne retribuiu dizendo:
- Eu me importo com tudo que tem a ver com você, Gil. - Deus! Ele pensou. O que tinham aqueles olhos que tinham o poder de tirar tudo dele? Se ela lhe pedisse algo ele não conseguiria negar-lhe nada, por isso, mudou de assunto antes que acabasse cedendo ao apelo mudo que via ali tão claramente exposto. Ele ainda não estava pronto para deixá la ter acesso a todos os seus pensamentos. Apesar de Anne dizer que o amava, Gilbert não sabia se ela não mudaria de ideia como já fizera tantas vezes, suas cicatrizes ainda eram recentes, e queria preservar o mínimo de seu coração, já que perdera controle de seu corpo completamente. Por isso, ele mudou de assunto, tentando abafar o clima sensual que se instalara entre eles
- Ainda temos dois filmes para terminar de ver. Quer continuar ou prefere deixar para amanhã? - Anne arqueou a sobrancelha direita, como se a tivesse desagradado o fato de Gilbert ter se afastado do assunto sobre os dois de novo. Depois, suspirou resignada e disse:
- Vamos terminar de assistir os filmes.
- Tudo bem. - Gilbert respondeu, lhe estendendo a bacia de pipocas.
Era quase meia noite quando o último filme terminou. Gilbert desligou o aparelho de DVD, e olhou para Anne que acabara adormecendo antes do filme acabar. Ele a pegou no colo e a levou para o quarto dele, pensando que não faria sentido nenhum fazê-la dormir no quarto de hóspedes, uma vez que já tinham partilhado tanta intimidade na noite anterior, e mesmo não querendo admitir, Gilbert fazia aquilo por si mesmo, pois por meses sentira falta de dormir com Anne, e agora que ela estava ali não conseguia resistir à aquele prazer.
Ele escovou os dentes e se deitou do lado dela, que parecia profundamente envolvida no mundo dos sonhos. Em pouco segundos adormeceu, mas no meio da madrugada ele foi acordado com um grito, e ao abrir os olhos viu Anne sentada na cama toda encolhida, e os olhos arregalados na penumbra do quarto iluminado apenas pelo abajur.
- Anne, você está bem? - ele perguntou, e a garota apenas balançou a cabeça em negativa, fazendo-o abraça-la pelo ombro.
- Teve um pesadelo? - ela afirmou e Gilbert disse:
- Não tenha medo, eu te protejo. - ela o abraçou pelo pescoço, deitando a cabeça em seu ombro. Gilbert a embalou por um bom, até que ambos adormeceram novamente, e ficaram assim até um novo dia nascer. De manhã, Gilbert se levantou, colocou sua roupa de corrida, tomou seu desjejum matinal, e depois foi acordar Anne. Ele lhe deu um beijo na testa, chamando-a pelo nome suavemente, e quando ela abriu os olhos e o viu de pé ao lado da cama, ela se espreguiçou toda feito uma gatinha e depois perguntou;
- Que horas são?
- São 7:30. - Gilbert respondeu.
- Por que já está de pé? - Anne perguntou bocejando.
- Vou sair para correr e queria saber se gostaria de ir comigo.
- Tão cedo? - ela disse olhando-o com uma cara de preguiça que Gilbert achou adorável.
- Este é o melhor horário para correr, Anne. Mas, se preferir ficar aqui e dormir mais um pouco, fique a vontade. - ele disse passando as mãos nos cabelos.
- E perder a oportunidade de passar mais um tempo com você? De jeito nenhum, Dr. Blythe. Não vai se livrar de mim assim tão fácil. Me dê um minuto, e estarei pronta. - Anne se levantou da cama, e correu para o banheiro. Em pouco tempo, já estava vestida e se aquecendo.
- Não vai tomar café? - Gilbert perguntou, ao vê-la pegar apenas uma maçã da fruteira e mordê-la devagar.
- Eu nunca como muito antes de correr. - Anne respondeu.
- Não sei se estou de acordo com isso, mas se está acostumada. Vamos lá.
Eles desceram até a rua, e começaram em um ritmo lento, depois apressaram mais o passo, passando pela Times Square, e foram até o Central Park onde pararam por dez minutos para descansar, depois retornaram pelo mesmo caminho, e quando sentiram que já tinham se exercitado o suficiente, eles pararam em uma cafeteria para Anne tomar café.
Como Gilbert já tinha se alimentado de manhã, ele pediu apenas um cappuccino para si mesmo, enquanto Anne se decidiu por suco de laranja e panquecas. No meio da refeição, o celular fez um barulho anunciando que chegara uma mensagem, ela deu uma rápida olhada e franziu o cenho, fazendo Gilbert perguntar:
- Algo errado?
- Não. Apenas uma mensagem de Francesco que disse que chegará na próxima semana, e me convidou para jantar. - ao ouvir o nome do ex-noivo de Anne, Gilbert se remexeu inquieto na cadeira e olhando -o com curiosidade, ela perguntou:
- O que foi, Gil? Ficou com ciúmes?
- Não, por que pergunta? - ele se fez de desentendido.
- Por que você está com uma expressão de contrariado no rosto. - Anne disse rindo, parecendo encantada com aquela ideia.
- Eu só acho que esse cara não é a pessoa certa para você.
- É mesmo? E quem seria essa pessoa certa? Você? - Gilbert não sabia como aquela conversa chegará aquele ponto, e agora não sabia como sair da armadilha na qual ele próprio se colocara.
- Eu não disse isso, Anne. É só que fico me perguntando se você tem consciência que ele tem o dobro da sua idade? - Gilbert sabia que o problema não era bem aquele, mas deixou que Anne pensasse que fosse.
- Eu não sabia que era preconceituoso, Dr. Blythe. - Anne estava caçoando dele, fazendo-o se enrolar cada vez mais em suas palavras, ainda assim ele tentou se defender.
- E não sou, Anne. Não tente jogar minhas palavras contra mim. Quer saber? Vamos mudar de assunto. Eu não quero que pense que estou dando palpites na sua vida. - o olhar divertido de Anne o fez perceber o quão ridícula tinha sido aquela afirmação. Assim, ele esperou que Anne terminasse seu café, e voltaram caminhando para casa, no caminho a ruivinha parou de repente, olhando para o lado desconfiada.
- Anne? - Gilbert perguntou assim que viu o rosto dela assustado.
- Por um momento, tive a impressão que alguém nos seguia. - Gilbert olhou ao redor, mas não viu nada que pudesse ser suspeito e respondeu.
- Deve ter sido impressão sua, Anne. Não vejo ninguém estranho por aqui.
- É, acho que foi minha imaginação fértil me pregando peças de novo. Me desculpe. - Anne disse sem graça.
- Não precisa se desculpar. Você tem passado por situações estressantes nos últimos dias. É normal que se sinta assim.
- Tem razão. Vou tentar respirar fundo e me acalmar – mas, ela não pareceu muito convencida pelas palavras de Gilbert.
Então, voltaram para o apartamento, e embora Anne voltasse a apresentar uma fisionomia mais calma, isso não deixou de preocupar Gilbert que prometeu a si mesmo que ficaria de olho nela o dia todo.
ANNE E GILBERT
Anne ainda estava com aquela sensação estranha de estar sendo vigiada quando Cole ligou naquela tarde. Ela tinha ido até a janela várias vezes para observar a rua, e ter certeza de que não estava ficando louca e tendo alucinações, mas não conseguiu confirmar e nem negar nada. Por esta razão, quando o telefone tocou, ela olhou para o aparelho desconfiada e respirou aliviada ao ver que era o seu amigo
- Olá, querida. Como estão as coisas por aí? – Ela sabia sobre o que Cole estava perguntando.
- Estão muito bem, na verdade. - ela respondeu evasivamente, esperando pela enxurrada de perguntas que logo chegaram.
- Estão bem como? Seja mais específica. - Anne riu do tom ansioso na voz de Cole.
- Estão bem, Cole. Já disse. Não tem como ser mais específica que isso. - ela respondeu
- Isso quer dizer que ficaram juntos? - a felicidade de Cole era inconfundível.
- Sim. Mas, não assumimos nada ainda. - Anne respondeu se deitando no sofá e olhando para o teto.
- O que Isso quer dizer?
- Exatamente o que eu disse. Não temos nada sério ainda. - Anne frisou bem o ainda.
- O Dr. Delícia está te dando trabalho? - Cole disse rindo.
- Na verdade, Gil tem sido maravilhoso. Ele me trata bem demais, e cuida muito bem de mim.
- Ah, temos alguém apaixonado por aqui. - Cole calçou dela.
- Sim, apaixonada, rendida, completamente perdida de amor- Anne disse suspirando.
- Nossa, faz tempo que não te vejo falar assim. – Cole disse admirado.
- Fazia tempo que eu não me sentia assim. Gilbert é o único homem para mim, não tenho mais dúvidas. - Anne disse feliz.
- Eu sempre soube disso. Você é que é teimosa demais.
- Eu apenas preciso fazê-lo confiar em mim de novo. Eu sei que os sentimentos de Gilbert por mim são fortes, mas ele não vai ceder fácil. Essa é uma nova versão de Gilbert que eu não conhecia. Ele sempre foi maleável em tudo, principalmente no que dizia sobre a gente, mas, agora percebo uma teimosia e uma dureza em seu caráter que não estavam aí antes. Às vezes ele é incrivelmente apaixonado, e de repente, muda para seu modo atual, frio, prático e distante, e fico sem saber em qual das duas personalidades devo acreditar mais.
- Anne, as pessoas quando se magoam, tendem a se proteger para não serem magoadas de novo. Talvez esse novo comportamento de Gilbert seja exatamente por isso. Se quer esse homem, vai precisar ter paciência. - Cole aconselhou.
- Eu sei. Estou disposta a não pressioná-lo. Estamos tão bem. Não quero afastá-lo de mim de jeito nenhum. - Anne disse suspirando.
- Você está sozinha no apartamento dele agora? - Cole perguntou.
- Não. Ele está no escritório dele estudando. Ele me disse que aproveita as folgas para se atualizar em sua área medica.
- E você não está chateada com isso? Quero dizer. Não ficou brava por ele preferir estudar a ficar com você? - Cole perguntou surpreso por Anne não estar reclamando em seus ouvidos por ter sido deixada de lado por causa da profissão de Gilbert.
- Não. Eu admiro essa dedicação dele. Mesmo porque, ele já passou a manhã toda comigo, então, não posso reclamar de nada. - Anne disse com sinceridade.
- Que evolução, minha amiga. Parece que esses dois dias ao lado de Gilbert te fizeram bem. Nem parece a velha Anne falando. – Cole estava em seu momento de deboche, mas Anne não se importou. Era difícil para ela mudar certas atitudes, mas estava tentando ver as coisas por outro prisma, e dar a elas a importância que mereciam.
- Estou realmente tentando Cole. Não estou fingindo apenas para agradar o Gilbert.
- Eu sei amor. Estou brincando. É muito bom ver que você está se esforçando em entender tudo o que a profissão de Gilbert exige dele. Esse é o primeiro passo para um relacionamento de verdade, Anne. - Cole disse com carinho.
- Bem, não posso dizer que o que temos é um relacionamento mas acho que estamos a caminho de algo assim. – Anne disse, cruzando os dedos. Voltar a ser a namorada oficial de Gilbert Blythe era o que ela mais desejava. Depois, riu do próprio pensamento, ao lembrar que isso era o seu objetivo aos catorze anos, e parecia que estava revivendo aquela época, com a diferença de que ela e Gilbert eram adultos e não mais adolescentes.
- Anne, Quer da. Preciso desligar. Estou voltando para Los Angeles hoje, e espero por mais notícias quentes sobre esse sei affair com nosso querido doutor. - Cole disse com malícia.
- Faça uma boa viagem meu amigo. Espero que possamos nos ver em breve. – Anne disse com o coração apertado, já sabendo de antemão que sentiria falta de seu amigo querido.
- Obrigado. Até breve. - Cole se despediu e desligou, deixando Anne tristonha por sua partida.
Diana, Josie e Ruby também lhe mandaram mensagens naquele dia, e disseram que viriam visita-la na próxima semana. Ruby sugeriu que tivessem uma tarde de meninas como nos velhos tempos, com direito a Spa, manicure e cabelereiro. Anne adorou a ideia, pois fazia tanto tempo que não se divertia com suas velhas amigas, e realmente sentia falta disso.
Em Nova Iorque ela tinha amigas, mas, não era a mesma coisa. Cada uma vivia sua vida, e tinham muito pouco tempo para gastarem com outra coisa que não fosse trabalho ou noitadas com namorados ou o ficante da vez. Elas não tinham a mesa cultura de cidade do interior na qual Anne crescera, onde as amizades tinham um significado diferente, e tudo era partilhado e dividido, e o apoio nas horas difíceis era incondicional.
Anne mandou logo uma mensagem de confirmação, e disse que as hospedaria todas em seu apartamento. Isso a fez se lembrar que devia deixar o apartamento de Gilbert. Ele fora extremamente generoso em permitir que Anne ficasse ali durante aqueles dois dias. Agora estava na hora de voltar à sua casa, pois perturbara a rotina de Gilbert demais. Decidida, ela esperou que ele aparecesse na sala depois de terminar seus estudos para comunicar-lhe o que desejava fazer:
- Gilbert, eu estava pensando se você poderia me levar de volta ao meu apartamento mais tarde? Você volta a trabalhar amanhã, e já fez muito em me deixar ficar aqui nesses dois dias atrapalhando sua folga. - Gilbert sentiu um pequeno coração inesperado. Não esperava que Anne quisesse ir para casa assim tão cedo. Dois dias e ele já tinha se acostumado com a presença dela por ali, principalmente na sua cama, instintivamente ele soube que iria sentir falta dela toda a as manhãs.
- Tem certeza que não quer ficar? – ele perguntou tentando manter a expressão neutra.
- Gilbert, aqui é sua casa e já abusei bastante dela. Tenho que voltar para minha vida. - na verdade, ela adoraria ficar ali para sempre, mas não podia dizer isso a ele, enquanto não soubesse exatamente o que significava para Gilbert tê-la por perto. Por enquanto, tudo o que sabia era que combinavam perfeitamente quando faziam amor, mas, quanto ao resto, Gilbert a deixava no escuro completamente.
- Anne, é realmente isso que deseja? Não quer pensar mais um pouco? - ele queria que ela reconsiderasse, mas não ia implorar para que o fizesse.
- Sim. É o que desejo. - ela sorriu, mas seu cérebro gritava, "mentirosa", por que não diz logo que não quer ficar pelo lugar, mas sim pelo proprietário, sua covarde?
- Está bem. Eu te levo lá mais tarde. Vou sair e me encontrar com o Muddy. Gostaria de ir comigo?
- Eu iria apenas atrapalhar vocês e tenho certeza de que Muddy quer um momento entre amigos masculinos, e não iria gostar nem um pouco da minha companhia. - Anne disse rindo.
- Isso não é verdade. Ele gosta muito de você, Anne. - ela adorava o jeito que Gilbert falava seu nome, era como uma brisa suave entre seus cabelos em uma carícia íntima e excitante.
- Mesmo assim, prefiro ficar e terminar de ler esse livro que comecei ontem. A história é muito interessante. - Anne disse jogando os cabelos para trás.
- Ok. Volto antes do jantar. Me espere. – Ele se aproximou de onde ela estava sentada, e baixou o rosto em direção ao dela, enquanto Anne esperava pelo beijo que viria com ansiedade, mas, Gilbert se desviou de seus lábios e a beijou no rosto, fazendo-a gritar de frustração por dentro. Depois disse, olhando-a nos olhos;
- Até logo.
- Até mais tarde. – Ela respondeu, e Gilbert foi em direção a porta, mas ao sair deu uma olhada nela, antes de fechá-la e entrar no elevador.
Não queria deixar Anne sozinha, mas, já tinha combinado com Muddy de tomarem uma bebida juntos a algum tempo, e já desmarcara milhares de vezes por conta do trabalho, e não queria fazer aquilo de novo. Além do mais, o amigo lhe dissera que precisava conversar, assim, ele não queria desapontá-lo, principalmente, porque Muddy vinha sendo seu ombro de desabafo desde que voltara da Alemanha, e não era justo dar-lhe as costas naquele momento.
Gilbert encontrou Muddy em um barzinho popular no centro da cidade que àquela hora estava quase vazio. Eles se sentaram em uma mesa de canto, e logo foram servidos por um garçom que trouxe suas bebidas quase em seguida.
Assim, Muddy começou a falar algo sobre seu relacionamento com Ruby, mas Gilbert não conseguia tirar Anne da cabeça, ou esquecer a sensação que tivera de que deveria tê-la trazido junto. De repente, a voz de Muddy impaciente o trouxe de volta ao presente, e ele encarou o amigo que lhe dizia:
- Qual é o problema, Gilbert? Parece que não ouviu uma palavra do que eu disse?
- Desculpe me, Muddy. O que estava dizendo? - Gilbert disse totalmente sem graça por ter-se distraído daquela maneira.
- Me diga você no que estava pensando? Estava a quilômetros daqui. - Muddy tomou um gole de sua cerveja gelada.
- Anne está lá em casa. - Gilbert respondeu coçando a nuca.
- O que? Me conta esta história direito – Muddy pediu tomando outro gole de cerveja.
- Você sabe do acidente que ela sofreu? - Muddy concordou com a cabeça, e Gilbert continuou- Então, ela não queria voltar para próprio apartamento, e eu decidi levá-la para o meu.
- Ficou maluco, Gilbert? Você não me disse que estava tentando esquecê-la? - Muddy perguntou olhando-o surpreso.
- E estava. Mas, você me conhece. Não consigo deixa-la para trás quando ela precisa de mim. -ele disse meio envergonhado pelo desabafo.
- Você a ama, esse é o problema. É assim desde que éramos dois moleques e você corria para ela toda vez que Anne caía, e ralava os joelhos. Por que não admite que não consegue esquecê-la? Ela está no seu sangue, até um cego consegue enxergar isso. - Gilbert não respondeu e Muddy perguntou
- E como está sendo ter a ruivinha por perto de novo?
- Tem sido bastante interessante. - Gilbert respondeu tentando ser casual e tomando um gole de vinho para disfarçar, mas Muddy, esperto como era, entendeu na hora o que aquela expressão de Gilbert significava.
- Não acredito! Vocês ficaram! - Gilbert não negou a sua insinuação, e o rapaz riu e balançou a cabeça. – Pelo jeito sua resistência não durou nem um dia Quando vai ser o casamento? Quero ser o padrinho. - Muddy zombava de Gilbert descaradamente e ele respondeu:
- Calma, Muddy. As coisas não estão tão rápidas assim. Nós passamos a noite juntos, mas não disse que vamos nos casar.
- E por que não? Vocês vivem nesse vai e vem, tentam fugir um do outro, e voltam sempre ao começo. Por que não se casa logo com ela e acaba com essa besteira? - Muddy terminou sua cerveja e pediu outra.
- Você sabe porque. Eu não tenho certeza se Anne está pronta para o tipo de relacionamento que eu gostaria de ter com ela. E ela sempre acaba me magoando no final. - Gilbert disse colocando a taça de vinho sobre a mesa, e cruzando as mãos embaixo de seu queixo.
- A quem está tentando enganar, Gilbert? Você é louco por aquela garota, e ela morre por sua causa. São dois teimosos que preferem sofrer separados do que admitirem o que sentem. - Muddy disse impaciente.
- Olha só quem fala. Não o vi até hoje fazendo nenhum esforço para tentar ficar com a Ruby. Esses encontros clandestinos também não levam a nenhum lugar.- Gilbert disse mudando de assunto.
Mas, era isso mesmo que eu estava lhe dizendo enquanto você ficava aí sonhando com sua ruiva. - Muddy disse fazendo graça.
- Quer dizer que se decidiu? - Gilbert fez cara de surpresa e o amigo respondeu;
- Sim, vou pedir a ela que se case comigo. - Muddy disse orgulhoso de si mesmo.
- Espero que ela aceite. Mas? E o noivo atual? - Gilbert perguntou terminando de tomar o sei vinho.
- Ela não o ama. Vou fazê-la enxergar que eu sou o homem certo para ela, apesar de não ter a fortuna que ele tem.
- E como pretende fazer isso?
- Ela virá a Nova Iorque na próxima semana. E então, aproveitarei a chance de dizer como a amo, e pedirei a sua mão. – Muddy respondeu rindo consigo mesmo.
- Te desejo sorte, meu amigo. - Gilbert disse feliz pelo amigo ter coragem de finalmente fazer o que tanto desejava.
- Você devia fazer o mesmo com a Anne. - Muddy aconselhou-o, e o jovem médico ficou pensando nisso até quando voltou ao seu apartamento depois de se despedir do amigo minutos antes.
Anne já estava vestida e com a mala pronta quando Gilbert abriu a porta.
- Está com tanta pressa assim de ir embora? - ele disse fitando a mala dela que estava em cima do sofá.
- Não é isso, Gilbert. Eu achei que deveria facilitar sua vida e estar pronta assim que você chegasse. Mas, quero dizer que adorei ter ficado aqui com você esses dois dias. Me fez lembrar dos velhos tempos.
- Então, por que não fica mais um pouco? - Anne se surpreendeu com a pergunta, mas, não queria ter falsas esperanças, por isso disse logo.
- Eu preciso mesmo ir para casa. - Anne respondeu sem um pingo de sinceridade.
- Bom, se é o que quer, vou levá-la. - Gilbert respondeu sério, pegando a mala dela sobre o sofá e abrindo a porta novamente.
Entraram no elevador em silêncio, e Anne apesar de sua pequena fobia daquela veículo de locomoção, esperou bravamente que ele chegasse ao térreo sem tremer ou ter uma crise de choro. Em seguida, eles foram até o estacionamento onde o carro de Gilbert estava estacionado, e ele dirigiu até o apartamento de Anne sem dizer uma palavra, enquanto a ruivinha observava suas feições sérias e se perguntava no que ele estava pensando, mas não se atreveu a perguntar-lhe nada.
Em questão de minutos, eles chegaram ao apartamento dela, subindo pelas escadas da porta de entrada, pois Anne não quis utilizar as da lateral, por conta das lembranças de seu acidente recente. Assim que Anne abriu a porta, a sensação que teve foi de que não pisava ali a séculos e não apenas cinco dias.
- Quer mesmo ficar aqui, Anne? - foi a primeira coisa que Gilbert disse desde que deixaram o prédio dele, e Anne respondeu
- Aqui é minha casa, Gilbert. Eu não podia ficar hospedada em sua casa para sempre. - ela esperou que o rapaz comentasse alguma coisa, mas estranhamente ele não disse nada, e Anne perguntou ao ver um brilho estranho em seus olhos que se assemelhava a raiva:
- Não vai me dizer nada? - ele continuou calado e Anne percebeu que Gilbert fixava o olhar em um ponto atrás dela. Ela seguiu o olhar dele e ficou petrificada ao ver escrito na porta de seu quarto com tinta vermelha, VADIA RUIVA. Ela deu um passo para trás chocada e seus olhos encontraram mais frases como aquela na porta do banheiro, na cozinha, no quarto de hóspedes e mais ou menos em mais meia dúzia de lugares. Ela colocou a mão sobre a boca se perguntando quem teria entrado em seu apartamento enquanto estava fora, e o barbarizado daquele jeito.
- Anne. – Ela ouviu a voz de Gilbert bem próxima dela, mas não se virou, ela estava horrorizada demais pelo que tinham feito ali.
Ela somente reagiu quando Gilbert colocou a mão em sua cintura e ela escondeu a cabeça no ombro dele que lhe disse baixinho.
- Fique calma. Eu vou ligar para a polícia
No mesmo instante, ele discou o número da delegacia onde haviam feito a denúncia no dia anterior, e em rápidas palavras explicou o que estava acontecendo. O delegado lhe disse que enviaria policiais imediatamente para investigar o caso, e pediu que Gilbert levasse Anne para outro lugar. Após desligar, ele aproveitou para ligar para o Dr. Philips e avisar que não iria trabalhar no dia seguinte, pois teria que resolver um problema importante. O bom doutor disse para que ele não se preocupasse, porque tinha trabalhado muitas horas extras e podia dispor delas como quisesse. Gilbert agradeceu e assim que desligou, ele disse a Anne:
- Vamos, você não pode ficar aqui. Vai voltar comigo para o meu apartamento. - Anne não protestou, estava abalada demais com toda a cena que vira ali, e seguiu Gilbert sem pensar enquanto ele a puxava pela mão. Quando chegaram na portaria, Gilbert achou melhor avisar o porteiro do que havia ocorrido e que a polícia chegaria em poucos minutos. O pobre homem ficou assustado, pediu mil desculpas a Anne, dizendo que aquilo nunca havia acontecido ali antes, e que reforçaria a segurança dali para frente.
Ao pisar de novo no apartamento de Gilbert, Anne foi direto para o quarto de hóspedes e não saiu mais de lá. Gilbert não preparou o jantar, porque Anne se recusou a comer, mas decidiu que cozinharia algo rápido mais tarde se ela sentisse fome, e assim, ficou sentado na sala esperando que ela tivesse se recuperado o suficiente, e viesse falar com ele, mas as horas foram passando e nada de Anne aparecer, então, preocupado, resolveu ver como ela estava.
Gilbert ia bater na porta, mas viu que ela estava a entreaberta, e entrou encontrando Anne sentada na cama olhando para o nada. Ele se sentou ao lado dela e disse:
- Anne, você está bem? - ela somente balançou a cabeça em negativa, e depois disse com a voz entrecortada:
- Por que, Gilbert? Por que isso está acontecendo comigo? Será que ofendi tanto alguém assim. Que mereço todo esse horror? - Gilbert a abraçou pelos ombros e disse:
- Anne, não é necessário que se faça nada para alguém tentar esse tipo de coisa contra outra pessoa. É uma mente doente, Anne. Você não tem culpa. - Gilbert disse tentando acalmá-la.
- Será que sou tão perversa? Tão ruim ou mesquinha para alguém me odiar tanto assim.- Anne olhou para ele, e com o coração apertado, Gilbert viu que ela chorava, e odiava vê-la chorar.
- Claro que não Anne. Você é incrível! - ele disse sem hesitar.
- Sou? Então, por que você também tem raiva de mim?- as palavras dela o pegaram de surpresa, e Gilbert respondeu:
- De onde tirou essa ideia? Eu não tenho raiva de você
- Mas, também não me ama. - a voz magoada dela fez Gilbert querer confessar o que ela tanto queria ouvir, Mas não conseguia dizer. Admitir isso para ela em voz alta era se expor demais, e voltar a ficar vulnerável a todo tipo de sofrimento, e ele desejava evitar aquilo a todo custo. Porém, ele não podia deixa- la acreditar naquelas ideias negativas que estavam em sua mente naquele momento, e por isso colocou as duas mãos na cintura dela, a puxando para mais perto e falou com a voz carregada de emoção.
- Você não sabe o quanto é maravilhosa e linda. - ele beijou a testa dela, e Anne fechou os olhos. - tão sexy. - ele beijou as duas bochechas dela. - e tão enlouquecedoramente provocante. – a voz ficou rouca nesse ponto da conversa, e Anne abriu os olhos para ver Gilbert tão perto. Sem paciência de esperar que ele a beijasse, ela o puxou pelo pescoço e o beijou de um jeito totalmente intenso. Ela precisava dele, e não se importava até onde aquilo os levaria. Assim, ela se deitou na cama e o trouxe com ela, sentindo Gilbert parar de beijá-la para concentrar seus lábios no pescoço dela. Gilbert tentava se controlar, mas já estava pegando fogo. Quisera apenas consolá-la com um beijo, e já estavam de novo a caminho de se unirem com paixão. Seu corpo implorava pelo dela, e ele então desistiu de lutar contra seu desejo. Ele a queria e nada iria impedi-lo de tê-la.
Ele a despiu tão rapidamente que Anne nem percebeu, e quando sentiu o corpo quente e nu de Gilbert sobre o seu, ela já não era dona de sua razão. O medo foi embora como em um passe de mágica, e ela tinha apenas consciência daquele homem lindo que fazia amor com ela com cuidado e carinho. Eram tantos beijos que se perderam entre o enroscar de línguas, toque de lábios sobre a pele, o roçar die corpos intensificando o desejo de ambos. Gilbert a beijou inteira e quando chegou a sua intimidade, ela implorou que ele a possuísse, mas, Gilbert não atendeu seu pedido prontamente, ao invés disso, ele prolongou a tortura até vê-la ofegar. Então, ele se aproximou do ouvido dela e disse
- Não tem ideia do quanto eu quero você, e de como eu quero que seja toda minha. - Anne sentiu os arrepios de prazer percorrendo-a por todas as suas veias, inundando sua corrente sanguínea, e assim disse em um fio de voz.
- Me faça sua Gilbert, agora. Por favor. - ele ainda a provocou mais um pouco com pequenas mordidas, as mãos tocando-lhe os seios e deixando-a louca. Quando sentiu que ela estava totalmente entregue a ele, Gilbert a possuiu e disse:
- Tão minha. – e Anne respondeu enquanto seguia os movimentos dele:
- Toda sua.
É logo o prazer os envolveu em um encantamento difícil de escapar. Eles se pertenciam, porque foram feitos para se amarem da maneira mais primitiva, mais intensa e de completa entrega. E como Adão e Eva perdidos no Éden de seus sentidos, eles deixaram que o amor explodisse em seus corpos e em suas almas em uma fusão incrivelmente excitante, e quando se olharam de novo, suas mãos se entrelaçaram e descobriram nesse instante o que era realmente ser parte de alguém verdadeiramente.
Anne fechou os olhos com seu corpo exausto e relaxado, e ao vê-la adormecer, Gilbert sussurrou baixinho em seu ouvido.
- Eu te amo, meu Anjo ruivo. - e ela sorriu em seus sonhos
-
-
-
-
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro