Part 48- Amor e dor
Olá, queridos leitores. Espero que gostem deste capítulo e me enviem seus comentários ao terminar a leitura, pois o incentivo de vocês é sempre bem-vindo. Leiam as notas finais. Tenho algumas perguntas. Beijos, muito obrigada por tudo.Desculpem qualquer erro ortográfico.
GILBERT
Gilbert estava de folga naquele sábado, mas mesmo assim acordara bem cedo. Ele começara a ter problemas para dormir de novo, e isso geralmente acontecia quando suas crises de ansiedade o pegavam de jeito.
Esse problema o perseguia desde a faculdade, principalmente quando tinha uma prova importante. Por mais que estudasse, e soubesse cada capítulo da matéria de cor, ele sempre achava que devia ter estudado mais, e somente se acalmava quando tinha o teste em mãos e podia então se certificar de que tinha conhecimento suficiente para fazê-lo com segurança sem surtar.
Porém, sua ansiedade de agora tinha outro motivo, ou melhor, outros motivos. O primeiro tinha a ver com Sarah não estar respondendo ao tratamento da maneira como esperava, e temia pelo avanço da doença dela.
Como médico, Gilbert sabia que isso podia acontecer, pois a medicina podia ser poderosa, e ter muitos recursos, se tornando cada vez mais sofisticada com o passar dos anos com tantas pesquisas e novas descobertas, mas nem sempre era possível fazer com que uma enfermidade fosse curada ou estacionada em um ponto onde poderia ser tratada adequadamente. E isso não dependia do esforço ou da dedicação do médico em vencer a doença, e sim da capacidade do organismo do paciente em reagir e combater o mal que o afligia.
Mas, como amigo de Sarah, Gilbert não aceitava fracassar. Ele sequer queria pensar nessa possibilidade, pois imaginar que Sarah podia não aguentar por muito mais tempo, definhando lentamente até a morte, fazia-o odiar por ser apenas um homem e não ter superpoderes para livrá-la daquele destino que resolvera castigá-la sem misericórdia.
Por esta razão, falara com o Dr. Philips naquela semana sobre esse assunto, e seu antigo professor e agora amigo lhe dissera com toda experiência que seus anos de trabalho duro como médico e cirurgião lhe trouxeram, enquanto examinava os resultados dos exames que Gilbert recebera:
- Parece-me um caso grave e mesmo com a medicação o tumor não regrediu muito.
- Sim, mas ele também não avançou, o que acho bastante significativo. – Gilbert disse tentando se animar.
- Como colegas de profissão que somos, não preciso lhe fizer que isso não quer dizer muita coisa. - Gilbert balançou a cabeça assentindo, e depois respondeu:
- Eu sei, mas eu pensei que talvez o senhor pudesse me ajudar a ter alguma ideia de como posso continuar o tratamento sem que Sarah precise de quimioterapia.
- Gostaria de ter uma resposta inteligente para te dar, meu querido amigo, mas a única coisa que posso te dizer é que nesse caso você pode tentar aumentar a medicação como estava pensando, mas não sei se será tão eficiente a ponto da paciente não precisar de quimioterapia. – Gilbert ficou pensativo por um momento, sentindo seu ânimo diminuir com as palavras de seu mentor, e o Dr. Philips percebendo sua preocupação continuou.
- Às vezes, por mais que lutemos para salvar uma vida, não conseguimos. Eu sei que é injusto e frustrante, mas temos que nos consolar com o fato de que fizemos o melhor, mesmo que o resultado não seja exatamente o que desejamos.
Gilbert balançou a cabeça enquanto tomava seu café e se lembrava dessas palavras. Embora soubesse que o Dr. Philips tinha razão, ele não estava preparado para perder aquela batalha, e muito menos desistir. Aceitar o fato de que não podia fazer mais por Sarah do que estava fazendo era um pensamento pessimista demais. Sarah merecia mais, e ele iria até atrás de qualquer possibilidade que desse um pouco mais de tempo para ambos.
Ainda assim, não fora fácil falar com Sarah sobre isso naquela semana que a consultara em Charlotte Town. Diferentemente do que ele pensar, ela Aceitara a situação melhor do que ele. E quando Gilbert tentara lhe explicar a complexidade da situação, ela colocara a mão em seu braços, impedindo-o de continuar e disse:
- Gilbert, você não precisa me explicar nada. Esqueceu que sou enfermeira? Eu compreendo a situação muito bem, e faremos o que você decidir. – Gilbert a olhou com espanto e perguntou:
- Não está zangada?
- E por que deveria? Isso não resolveria meu problema, e não me curaria do tumor. É melhor ser otimista do que entrar em desespero. Eu sempre disse isso aos pacientes que cuidava no hospital. Então, eu teria sido hipócrita com todos eles, se não acreditasse nessa minha filosofia. - Gilbert admirou sua coragem e lhe disse:
- Você é uma mulher incrível, Sarah.
- Não, Gilbert, você é que é um ser humano incrível. Veja o que fez por mim até agora. E sei que não foi fácil para você ir para tão longe de seu país apenas para tentar me ajudar. Ninguém mais faria isso por mim.
- E espero sinceramente que tudo isso tenha valido para que eu faça o tratamento funcionar. - Gilbert disse com a voz grave.
- Pare de exigir tanto de si mesmo, Gilbert. Quando é que vai aceitar as coisas como são? Eu realmente admiro o seu esforço, mas se não der certo a culpa não é sua. Não depende somente de você, e nós dois sabemos disso. Você é um bom homem, Gilbert Blythe e se conforme com o destino. - Sarah disse tentando dar-lhe ânimo
- Eu detesto pensar que não há muito mais que eu possa fazer por você. – Gilbert disse angustiado.
- Você não pode salvar todo mundo. Eu estou grata por você tentar. - Sarah disse abraçando-o com carinho. - Eu nunca vou esquecer o que está fazendo por mim.
Gilbert apenas balançara a cabeça, e olhara para Sarah entristecido. Ela parecia mais frágil ainda que a última vez, mas seus olhos continuavam vivos, e mostravam uma sabedoria que não havia ali antes, porém, com a doença ela amadurecera em meses o que levaria anos para ser assimilado e aprendido.
O jovem médico a deixara com seu coração tão pequeno, mas seu espírito de luta ainda estava ali. Ele daria até a última gota de seu sangue para ajudar Sarah a superar aquela doença, pois ainda conseguia ver um desfecho feliz para a história dela, e não se deixaria abater pelos obstáculos e dificuldades que por ventura aparecessem.
Ele terminou o café e resolveu correr. Havia muitas coisas em seu cérebro que o estavam deixando inquieto, e enquanto descia as escadas do seu apartamento, ele se lembrou do outro motivo de sua ansiedade. Anne Shirley Cuthbert havia ocupado boa parte de seus pensamentos naquela semana, e fora por um bom motivo. Na noite da festa beneficente, ele tivera que deixá-la aos cuidados do noivo, o que não o agradara nem um pouco, mas não tivera outra alternativa.
Gabriela estava com ele na festa, e não podia deixá-la sozinha. Não seria nem um pouco cavalheiro de sua parte fazer isso, muito embora sua cabeça e seu coração tivessem ficado com Anne naquele salão, enquanto ela o olhava ir embora com os olhos marejados. Gilbert somente não correra para ela de volta porque sabia que ela não estaria sozinha. Seu noivo e Cole cuidariam dela, mas apesar de saber disso, seu antigo instinto de proteção que tinha em relação a ela estava ativo novamente, e ele nunca a deixara enfrentar uma situação difícil se não estivesse por perto quando eram crianças, e parecia que aquela sensação de que Anne precisava dele não iria desaparecer tão cedo.
Ele cumpriu o primeiro quilômetros até o Central Park, a adrenalina em seu corpo impulsionava-o a continuar enquanto os pensamentos se desenrolavam em sua cabeça, trazendo mais lembranças da última noite em que vira Anne.
Ela parecera aterrorizada, e quando a abraçara, ele a sentira tremer como se temesse algo oculto nas sombras, e ele nunca a vira assim. No primeiro momento, ele quase seguira seus instintos e a levara para a segurança se seu apartamento, porém, sua consciência o alertara a tempo de que ele estava ultrapassando um limite proibido, e que por mais que a conhecesse e soubesse exatamente como fazê-la se acalmar, essa não era mais função dele. Francesco Agipi adquirira todos os direitos em relação a Anne quando colocara o anel em seu dedo, e Gilbert não passava de um mero espectador daquele romance tão badalado.
Entretanto, ele sentiu como se tivesse abandonado sua amiga de infância e amor da sua vida em um momento delicado, e essa sensação perdurou enquanto ele levava Gabriela para casa. Nem mesmo o beijo que ela lhe deu nos lábios quando estacionou em frente da casa dela teve qualquer efeito sobre ele, e Gilbert se sentiu um canalha por não corresponder, o que o fez dizer:
- Desculpe -me, Gabriela. Esse não é um bom momento.
- Anne ainda mexe muito com você, não é? - ela perguntou olhando-o de frente.
- Eu não queria que fosse assim. Mas, toda vez que a vejo não consigo evitar de sentir a atração que sempre me empurra para ela. - Gilbert disse quase se lamentando.
- Eu percebi, e também pude notar que ela se sente da mesma maneira. - Gabriela disse com simpatia.
- Não, eu acho que ela apenas me vê como seu velho amigo de infância que sempre cuidou para que ela fosse feliz.
- Nenhuma mulher olha para seu amigo de infância do jeito que ela olha para você. Mesmo que você se recuse a enxergar, ela ainda te ama. - Gabriela tocou o ombro dele com carinho.
- Não sei se consigo acreditar nisso. Mas, não posso negar que ela me atrai como um imã. Sempre foi assim desde que éramos crianças. – Gilbert abaixou a cabeça se lembrando de um tempo que nunca mais voltaria.
- Não é para menos, ela é maravilhosa. - Gabriela disse aquilo sem um pingo de ressentimento, e Gilbert a olhou admirado dizendo:
- Você também é uma linda mulher.
- Não estou com ciúmes, Gilbert, de verdade. Eu somente estou constatando uma realidade. Anne é realmente linda, mas não é somente isso, ela tem algo mais que atrai as pessoas ao redor dela. Não tive tempo de conversar muito com ela, porém, o pouco que nos falamos, ela me pareceu uma pessoa muito agradável. – Gilbert se espantou mais uma vez por Gabriela perceber tantas coisas sobre Anne, que inegavelmente o prendia a ela. Ela para Gilbert era como chuva em terra seca, o aconchego em um dia de inverno, um bálsamo reconfortante depois de um dia cansativo no trabalho. Anne fora e ainda era a única razão de sua vida valer a pena. Eles não estavam mais juntos, mas nem mesmo a distância era capaz de destruir tudo o que Anne representava, mesmo não desejando aquilo seu coração ainda era todo dela.
- Você ainda a ama muito, não é?
- Eu não quero, digo o tempo todo para mim mesmo que acabou, mas eu nunca fui um grande mentiroso, então, tenho que admitir para você que ela continua vivendo dentro de mim. - ele sorriu, mas não havia nenhuma alegria ali.
- Eu não entendo, porque duas pessoas que visivelmente se amam tanto insistem em viver separadas. - Gabriela disse balançando a cabeça.
- Foi ela quem quis assim. Por mim, o anel de noivado que ela tem no dedo seria meu, e não daquele noivo que ela insiste em exibir como se fosse o homem de sua vida. - ele disse aquilo com ressentimento, e Gabriela percebeu.
- Pelo jeito você não tem nenhuma simpatia por ele.
- Na verdade, eu também não tenho motivos para sentir essa raiva toda. Gilbert disse parecendo envergonhado.
- Claro que tem. Ele mantém a mulher que você ama bem longe de você. - Gilbert percebeu que Gabriela tina razão, mas não soube o que dizer.
- Gilbert, está tudo bem. Não se preocupe. - Gabriela disse ao vê-lo tão infeliz.
- Eu sinto muito, Gabriela.
- Pelo que? Por ser humano, e por amar alguém tanto assim? Você não tem que se sentir assim. E quero que saiba que não espero nada de você. Podemos ser somente amigos, e dividir nossa solidão de vez em quando com um jantar ocasional ou um copo de vinho e nada mais. Gosto de sua companhia, e devo te fizer que você é um homem admirável e um profissional muito competente. Estou feliz de ter te conhecido.
- Eu também. – Gilbert respondeu.
Logo depois, eles se despediram e Gilbert foi para seu apartamento com a cabeça cheia de ideias.
As mesmas que o perturbavam agora, e não conseguia parar de pensar em tudo o que acontecera e em sua conversa com Gabriela. Ele alcançou a Quinta Avenida, e percebeu que se corresse mais um quarteirão, estaria em frente ao prédio de Anne, então, ele fez o caminho inverso, fugindo da tentação que fatalmente o incentivaria a procurá-la e Gilbert queria evitar novas feridas.
Ele deu meia volta, e intensificou a corrida, esvaziando sua mente de qualquer pensamento que o levasse de volta a Anne.
ANNE
Anne olhava pela janela e admirava o dia ensolarado lá fora. Fazia uma semana que saía de casa apenas para trabalhar, e quando seu dia findava, ela corria de volta para a segurança de seu apartamento.
Estava criando uma certa fobia social, e sabia que aquilo não era saudável, mas, depois de todas as coisas que vinham lhe acontecendo, ela não se sentia mais segura em lugar algum. Mesmo quando ia para o trabalho na segurança de um táxi, ela olhava para todos os lados desconfiada. Qualquer barulho a assustava, não fazia mais suas corridas matinais e deixara sua bicicleta mofando em um canto de sua área de serviço.
Aquele seu estado de alerta estava piorando, e Anne sentia que precisava de ajuda, mas era orgulhosa demais para pedir. As únicas pessoas em quem confiava eram Cole e Gilbert, mas ela não queria preocupar o amigo, e Gilbert tinha sua própria vida para cuidar e uma namorada nova que não ficaria nem um pouco satisfeita se soubesse que a ex dele estava solicitando sua ajuda. Talvez fosse tolice pensar assim, mas Anne sempre resolvera seus problemas sozinha. Ela teimosamente não queria admitir que a situação agora era diferente, e que a gravidade da situação lhe mostrava que precisava de ajuda profissional para ajudá-la a se proteger de quem quer que quisesse fazer-lhe algum mal. Anne não queria pensar sobre isso, e na maior parte do tempo fingia que nada estava acontecendo, mas seus pesadelos à noite estavam lhe mostrando que bem lá no fundo ela sabia que corria perigo.
Ela olhou para a praça em frente ao seu prédio, e suspirou ao ver pessoas caminhando e aproveitando aquela manhã agradável. Por esta razão, ela resolveu deixar o medo de lado, pois a manhã estava extremamente convidativa para ficar presa dentro de casa. Ela pegou um livro, uma garrafa de água, uma maçã e saiu do prédio indo se sentar em um banco da praça que há poucos segundos atrás estava admirando.
A calmaria do lugar, apesar de várias pessoas estarem passando por ali a deixava em paz. Assim, ela respirou ar puro enchendo seus pulmões de oxigênio, e pela primeira vez naquela semana não sentiu um aperto de medo em seu estômago. Se fechasse os olhos podia facilmente imaginar que estava em Green Gables. A simplicidade da fazenda dos Cuthberts lhe fazia tanta falta, e ela nunca desejou estar de volta a algum lugar como naquele momento em que ansiava pela companhia de Matthew, o carinho se Marilla, a companhia de suas amigas Diana, Josie e Ruby, e o abraço de Gilbert.
Ela queria tanto que ele estivesse ali e dissesse que tudo ficaria bem de novo, e que não havia nada a temer. Anne precisava dele segurando sua mão, acariciando seus cabelos, e sorrindo para ela daquele jeito especial que ela conhecia bem. Mas, ela o perdera por causa de seu orgulho, seu ciúme exagerado, e seu egoísmo por achar que Gilbert tinha que pertencer a ela e a mais ninguém.
Anne nunca soubera dividir e esse era o seu mal. Ela não aceitava apenas metade de algo, era tudo ou nada, e por isso, se machucava às vezes quando as coisas não saíam como queria, e assim Gilbert lhe escapara por entre os dedos como os grãos de areia na praia.
No dia da festa em que ela ficara trancada no banheiro, ele a tinha salvado como um cavalheiro galante salvando sua dama em perigo, mas a segurança que sentira desaparecera, no momento em que ele se afastara indo em direção à médica bonita que o acompanhara até a festa.
Anne nunca odiara alguém na vida quanto aquela mulher que fora embora com Gilbert. A ruivinha sabia que ela não tinha culpa se deixara Gilbert sair de sua vida, mas em seu ciúme e enorme ressentimento, ela via Gabriela como um obstáculo que a impedia de chegar até o coração de Gilbert, e ela não queria enxergar que foram suas próprias atitudes que afastaram Gilbert e não o interesse dele por outra mulher.
Anne abriu os olhos e fitou O céu azul acima de sua cabeça. Era um daqueles dias perfeitos para ir à praia, caminhar pela rua sem um rumo certo, olhar vitrines, tomar sorvete, se deitar na grama e não pensar em nada triste ou perturbador demais. A brisa em seus rosto a fez sorrir de repente, como se nada no mundo pudesse magoá-la, e Anne desejou que pudesse se sentir assim para sempre, mas havia um drama acontecendo em sua cabeça, como se ela estivesse presa em seu próprio desespero. Não sabia como sair daquele círculo que a estava apertando cada vez mais, e sabia que se não achasse um caminho para sair daquela encrenca toda, corria o risco de nunca mais se libertar daquilo.
Um medo gelado fez sua nuca se arrepiar, sua respiração ficou pesada, e ela sentiu as batidas de seu coração se congelarem por um segundo. Ela inspirou fundo, e soltou o ar devagar como uma terapeuta anos atrás a ensinara fazer. Não chegava a ser uma crise de pânico, mas estava bem perto de ser, e fazia anos que não tinha esse sentimento ruim, mas por conta das tensões dos últimos dias, seu corpo estava reagindo da pior forma possível.
Anne olhou ao redor, tentando focar sua atenção em algo que a distraísse até que seu coração voltasse a bater normalmente, e foi aí que percebeu uma figura familiar passar por ela, e a ruivinha disse seu nome no momento que a reconheceu:
- Monique! - a mulher olhou para ela espantada, parecendo surpresa por vê-la ali àquela hora da manhã. Ela trazia uma menina pequena segurando firmemente em sua mão, e os traços do rostinho infantil pareceu lhe lembrar alguém que no momento não conseguia identificar.
- Olá, Anne. Como você está? Vejo que não está mais usando suas muletas
- Graças a Deus consegui me livrar daquele incômodo. Mas, e você, o que faz por aqui? - Anne perguntou curiosa, ainda olhando para a menina encantadora que agora lhe sorria.
- Estou visitando meu irmão que mora aqui perto. Esta é minha sobrinha Hanna. Eu a estava levando para tomar sorvete.
- Olá, Hanna. Você é muito linda, sabia? - Anne disse acariciando os cabelos macios da menina, e foi recompensada por outro sorriso encantador. – Você não tem filhos, Monique? - Anne viu uma sombra passar pelos olhos da moça enquanto ela respondia;
- Não, nunca me casei. Mas, ficaria feliz se pudesse ter tido um filho ou uma filha.
- Eu também sonho em ser mãe. Sempre amei crianças. – Monique a olhou de maneira estranha e disse:
- O que seu noivo pensa disso?
- Francesco? Para falar a verdade nunca conversamos sobre isso, mas creio que ele um dia vá querer ter seus próprios filhos. – Anne respondeu com cuidado, se dando conta de que pensara em Gilbert quando falara de filhos e não em Francesco.
- Ah, claro. Provavelmente, ele vai desejar um filho homem para continuar o seu império. – Monique disse com certo sarcasmo
- Por que eu tenho a impressão que você conhecer noivo muito bem? - Anne perguntou intrigada.
- Não o conheço tanto assim. Só disse isso porque ouço as pessoas em meu meio social comentarem sobre ele. Desculpe-me se a ofendi. - Monique disse sem graça.
- Você não me ofendeu. Só perguntei isso, porque fiquei curiosa.
- Bem, gostei muito de te encontrar, Anne. Mas, preciso ir andando antes que a mãe dessa coisa linda me esfole viva por demorar tanto. - Monique sorriu, mas seu olhar ainda exibia certo receio que Anne não compreendeu.
- Eu também gostei de te encontrar. Até logo, Hanna. - Anne disse e a menininha usou a não esquerda para se despedir.
- Até logo, Anne.
- Até logo, Monique. - Anne respondeu, e ao vê-la se afastar, a ruivinha pensara no quanto aquela moça era estranha. Ao mesmo tempo em que sorria, ela ficava seria, e seu semblante mudava rapidamente de simpatia para raiva e receio contidos, e ela realmente deixava Anne desconfortável com todos aqueles comentários sobre Francesco. Ela parecia saber de coisas que Anne não sabia, e ela acabaria neurótica se não descobrisse logo o que seu noivo ocultava dela.
Como se pressentisse que Anne pensava nele, Francesco lhe mandou uma mensagem, perguntando como ela estava. Seu noivo não estava na cidade. Ele viajara a negócios para o seu país de origem, e voltaria somente em duas semanas. Assim, Anne estava livre dos compromissos sociais que pouco lhe agradavam, e sentia- se livre para gastar seu tempo como quisesse. Se pudesse ao menos se libertar do medo que rondava seus passos, aqueles dias seriam perfeitos
O noivado começava a lhe pesar, e o anel em seu dedo não fazia mais sentido, e Anne nem mais sabia porque estava levando aquela história adiante. Francesco era um bom homem, mas não conseguia sentir a menor atração por ele, e já perdera suas esperanças iniciais de que com o tempo viria a amá-lo, ela sentia que devia terminar com aquilo, mas não sabia como fazê-lo.
Suspirando, ela voltou parado apartamento e enquanto subia as escadas, Cole ligou. Assim, que ela atendeu ele disse:
- É aí baby. O que vai fazer hoje à noite?
- Não tenho a menor ideia. Francesco está viajando, e não recebi nenhum convite interessante. Então, resolvi ficar em casa mesmo.
- Quer dizer que o poderoso chefão não está na área? - Anne riu do jeito exagerado de Cole dizer aquilo e perguntou:
- Por que o chamou assim, Cole?
- Querida, me perdoe pelo que vou dizer, mas, toda vez que vejo seu noivo, eu me lembro da máfia italiana.
- Cole, não exagere. Da onde tirou isso? - Anne perguntou surpresa.
- Talvez daqueles ternos escuros que ele sempre usa. O homem é realmente atraente, mas ele tem um ar sinistro que me assusta, não sei dizer. E o pior é que você está ficando sombria igual a ele, e não gosto dessa sua nova versão. – Cole disse com a voz séria, o que fez Anne pensar se o que ele dissera era verdade. Ela realmente não andava no melhor dos humores, mas sombria? Será que Cole não estava exagerando?
- Ai, que saudade que estou do Gil...- Anne não o deixou terminar e quase gritou quando disse:
- Cole, não ouse tocar nesse nome ou nossa amizade terá sérios problemas.
- Calma, baby. Não quero deixá-la estressada. Você costumava se divertir mais com minhas ironias. Quando foi que perdeu seu senso de humor? - Cole parecia preocupado, e Anne se sentiu culpada por ter falado com ele de maneira tão dura
- Desculpe-me, Cole. Eu não queria ter falado assim com você.
- Não se preocupe, querida. Eu tenho a casca grossa e não me ofendo com facilidade. E você pode ser rude o quanto quiser comigo, desde que eu veja aquele seu sorriso encantador enquanto faz isso. – Ele disse brincando.
- Cole, eu te amo, o que eu faria sem você? - Anne tinha chegado em seu apartamento e se sentou no sofá para falar com ele.
- Eu sei que sou irresistível, faz parte do meu charme. Eu tenho uma proposta. Por que não saímos para tomar um suco? E depois podemos ir ao cinema. – Anne logo se animou com a ideia e disse:
- Adorei a sugestão. Vou me arrumar e te espero na portaria.
- Está bem. Passo aí em uma hora.- eles se despediram e Anne foi se arrumar, feliz com a possibilidade de se divertir uma tarde inteira com Cole.
Em pouco tempo, ela estava pronta, e saiu de casa com sua bolsa a tiracolo e seus óculos escuros. Como estava com pressa, resolveu pegar o elevador, e enquanto estava esperando que ele fosse liberado em seu andar, seu vizinho do lado apareceu e disse:
- Olá, Anne, a quanto tempo não te vejo.
- Olá, Sr. Moore. Eu tive alguns problemas de saúde, mas agora estou bem. - ela sorriu. Sempre gostara do Sr. Moore, pois era uma pessoa bastante simpática e prestativa. Uma vez, Ela tivera problema com a torneira da cozinha e fora ele quem a consertara para ela.
- Que bom, minha filha. Fico feliz que tenha se recuperado. – Ele disse sorridente.
O elevador se abriu e Anne foi em direção à entrada, mas quando ia pisar dentro dele, um barulho estranho se fez ouvir e ela escutou o Sr. Moore gritar:
- Anne, cuidado! - ele a puxou para longe do elevador no mesmo momento em que ele começou a se mover bem rápido, indo em direção ao poço como se fosse se estatelar lá embaixo, mas então parou no meio do caminho. Anne ficou lívida com o susto e o pensamento do que poderia ter lhe acontecido se tivesse entrado no elevador
- Você está bem? - O Sr. Moore perguntou preocupado. Anne apenas balançou a cabeça em afirmativa, mas então seu celular fez o costumeiro barulho de mensagem chegando, e ela o pegou pensando que era Cole avisando que lá embaixo esperando por ela, mas ficou mais branca que um papel ao ler o teor da mensagem que dizia:
"Está vendo o que pode acontecer quando se faz a escolha errada?"
O horror tomou conta de Anne ao perceber que o incidente do elevador não tinha sido um fato isolado. Ela pediu licença ao Sr. Moore, e correu para dentro do próprio apartamento se atirando no sofá e tremendo sem parar.
Cole a encontrou nessa mesma posição quando chegou minutos depois, e quando perguntou o que tinha acontecido com o elevador, pois quando entrara vira vários homens trabalhando nele, Anne começara a chorar sem conseguir se controlar.
Cole tentara ajudá-la, mas não conseguiu que ela lhe contasse porque estava naquele estado. Sem saber o que fazer, ele ligou para a única pessoa que podia ajuda-lo naquela situação
ANNE E GILBERT
Gilbert e Muddy jogavam cartas naquele momento. Fazia uma eternidade desde que Gilbert passara momentos assim com o amigo. Da última vez, tinha sido há três anos quando se juntaram para comemorarem o aniversário dele. Depois de perder a segunda rodada, Gilbert perguntou indo até a geladeira.
- Quer uma cerveja Muddy?
- Claro. Desde quando o Dr. Blythe afoga as mágoas em uma lata de cerveja? - Muddy disse fazendo graça pelo fato de Gilbert apenas beber suco quando saiam juntos.
- Bem, sou humano, e às vezes preciso de algo mais forte para me deixar mais animado.
- Que foi? A ruivinha tem te dado trabalho?
- Não, eu não tenho a visto muito depois que ela retirou o gesso. - ele disse aborrecido por Muddy tocar no assunto.
- Então, seu mal é a falta dela. – Muddy continuou provocando-o.
- Quer parar de falar assim? Anne está noiva
- É qual é o problema? Vocês podem muito bem se divertirem juntos.
- Como você faz com a Ruby? - Gilbert disse sem pensar e quando percebeu o que tinha falado ficou sem graça
- Esse foi um golpe baixo, meu amigo. – Muddy disse parecendo ofendido.
- Desculpe-me. Mas, você me provocou.
- Eu sei, mas não sabia que ia usar o que te contei contra mim. - Muddy disse tomando um gole de sua cerveja.
- Você vive falando de mim, mas por que não admite logo que ama Ruby?
- E de que adiantaria? Ela vai casar com outro cara. – Muddy disse desanimado.
- Por que não luta por ela? Será que o sentimento que existe entre vocês não vale a pena?
- Por que não segue o próprio conselho, Gilbert? - e então, o jovem médico riu ao perceber que ele e Muddy estavam no mesmo barco.
- Bem-vindo ao clube, meu amigo. - Gilbert disse e ambos bateram as latas de cerveja em sinal de brinde.
Eles jogaram mais algumas rodadas e então, Muddy tivera que ir por conta de um compromisso de família. Gilbert pedira uma pizza e planejava assistir alguns filmes na televisão quando o telefone tocou, Quando viu quem era, Gilbert franziu a testa, mas atendeu mesmo assim.
- Oi, Cole, tudo bem?
- Gilbert, Graças a Deus que te encontrei. Você poderia vir até o apartamento de Anne? Ela está no meio de uma crise nervosa e não sei o que fazer. - Cole estava tão nervoso que a voz dele tremia.
- Aconteceu alguma coisa séria para deixá-la assim? - Gilbert perguntou preocupado
- Eu não sei. Eu já a encontrei assim tremendo e chorando. Perguntei várias vezes se aconteceu alguma coisa, mas ela não responde.
- Fique calmo, que já estou indo. - Gilbert desligou, pegando a chave do carro e saindo em seguida. Ele dirigiu o mais rápido que as leis de trânsito de Nova Iorque permitiam, e logo estava estacionando na frente do edifício de Anne. Gilbert ia pegar o elevador, mas havia uma placa dizendo que estava fora de uso. Então ele subiu as escadas correndo, aliviado por estar em excelente forma física e não desmaiar quando chegou no último degrau por falta de ar.
A porta do apartamento de Anne não estava trancada, e ele a abriu com facilidade, encontrando Cole ajoelhado aos pés de Anne, que tremia tanto que suas mãos não paravam quietas, enquanto lagrimas silenciosas rolavam por seu rosto. Ele abriu a maleta médica que trouxera com ele, e preparou uma injeção calmante, depois de alguns minutos que ele a injetara em Anne, ela adormeceu.
- Há quanto tempo ela está assim? - Gilbert perguntou.
- Faz quase uma hora. Fiz tudo o que podia, mas não pude ajudá-la. - Cole disse aflito.
- Tudo bem, Cole. Tenho certeza de que deu o seu melhor para auxiliá-la nesse momento. - Gilbert disse tentando consolá-lo. Cole balançou a cabeça, e em seguida, olhou para o relógio e se assustou com a hora.
-- Meu Deus! Já é tarde, e preciso ir. Tenho um compromisso importante com um cliente. Mas, como vou deixar Anne assim?
- Pode ir, eu fico com ela. - Gilbert disse.
- Tem certeza? Não vai te atrapalhar?
- Claro que não. Fique tranquilo. - Gilbert respondeu.
- Eu ligo mais tarde para saber como ela está. – Cole disse já saindo pela porta.
Gilbert suspirou e olhou para a garota adormecida no sofá. O rosto estava marcado pelas lágrimas, e ela parecia tão vulnerável que seu coração se enterneceu. Ele a levou para o quarto e a deitou sobre os lençóis macios cobrindo-a com uma manta. Como prometido, Cole ligou assim que pôde, mas Anne continuava adormecida, e Gilbert resolveu passar a noite no apartamento dela, partindo logo pela manhã.
Ele se sentou ao lado dela na cama, lendo alguns artigos médicos em seu celular enquanto ela continuava profundamente adormecida. Perto da meia noite, ela abriu os olhos parecendo confusa ao ver Gilbert sentado ao seu lado. Ele tocou-lhe os cabelos com carinho e perguntou
- Como se sente?
- Estou zonza. - ela disse com a voz fraca, depois perguntou. - O que aconteceu?
- Você passou mal e Cole me chamou. Eu tive que te dar um calmante, pois estava nervosa demais. - Anne parecia não se lembrar de muita coisa por causa do efeito da injeção, por isso, Gilbert não a forçou a nada, e esperaria para falar com ela no dia seguinte e tentar descobrir o que tinha acontecido para deixa-la naquele estado preocupante.
- Está com fome? - ele perguntou.
- Não. – Anne continuava olhando fixo para ele como se não acreditasse que ele estivesse ali.
- Você precisa comer alguma coisa. Espere um instante. – Ele foi até a cozinha, e voltou com um sanduíche e um copo de leite, fazendo Anne comer tudo e tomar o leite até a última gota.
- Eu vou deixar você descansar. - ele disse, se levantando da cama com a intenção de passar a noite no sofá, mas a voz suplicante dela o impediu. –
- Por favor, fique aqui. Não quero ficar sozinha. - Gilbert ia recusar, mas a fragilidade dela o convenceu. – Está bem. - ele respondeu sentando-se de novo na cama, mas começou a ficar incomodado, pois Anne não parava de olhá-lo:
- O que foi, querida? – a palavra querida saiu dos lábios dele sem perceber, mas a mente de Anne mesmo entorpecida a registrou imediatamente.
- Não acredito que está aqui. - ela estendeu a mão e tocou os cabelos dele, depois deslizou as mãos pelo rosto masculino acariciando os lábios dele com os dedos.
- Anne. - ele sussurrou, e a voz dele a fez suspirar, abalando perigosamente o autocontrole de Gilbert. A proximidade dela estava deixando-o louco, e sem pensar ele a puxou para ele, abraçando-a apertado, sentindo o calor daquele corpo tentador contra o seu. Ele deslizou os lábios sobre a testa dela, depois pelo rosto sentindo a maciez de seda facial dela.
Anne sentiu o desejo despertar e em sua mente ainda nebulosa por causa do calmante. Ela ainda não entendia muito bem porque Gilbert estava ali em seu apartamento, pois sua cabeça se recusava a deixar que ela se lembrasse. Tudo o que ela desejava era que Gilbert fizesse amor com ela, e ele parecia estar pensando a mesma coisa, pois a mão dele desceu por suas costas, pressionando Anne contra seu corpo já tão excitado quanto o dela. Seus olhos se encontraram e quando Gilbert se percebeu desejando aquela boca deliciosa, ele fez um movimento indo ao encontro dela, mas então, quando ela passou a mão pelos próprios cabelos para afastar uma mecha que lhe caía sobre o rosto, o seu anel de noivado brilhou no escuro e Gilbert percebeu a loucura que estava a ponto de fazer. Ele a afastou dizendo:
- É melhor dormir. Você precisa descansar. – Anne engoliu a decepção e a frustração por Gilbert a ter recuado no último minuto, e jurou para si mesma que por mais que precisasse dele, não imploraria por qualquer migalha de seu amor. - Ela apenas concordou e se virou de lado, mas não conseguia dormir, mudando de posição várias vezes, então se rendeu ao inevitável e disse como quando eram crianças em sua inocência mais pura, livre ainda dos sentimentos e mundo complicado dos adultos
- Gilbert, será que podia me abraçar. Não consigo dormir. - ele olhou para ela relutante, mas logo cedeu a envolvendo em seus braços. – O calor do corpo de Gilbert a fez se sentir reconfortada, e em instantes Anne adormeceu.
Enquanto isso, o rapaz continuou insone, olhando para a mulher adormecida em seus braços, consciente demais de seus sentimentos, e passou o resto da noite em claro, perdido em seu desejo e paixão por ela.
Então, aqui estão as perguntas. O que vocês acham da Gabriela em relação a Gilbert nesse episódio? Qual será o segredo que Francesco esconde? E o episódio do elevador, vocês tem alguns palpites? Até o próximo, beijos.
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