Epílogo
Epílogo
Anne ajeitou os cabelos, passou as mãos pela saia do vestido como que para alisar alguma ruga imaginária que pudesse ter ali, e observou no espelho sua maquiagem suave. Tudo parecia estar perfeito em um dia em que estaria realizando mais um sonho.
Quando poderia imaginar que aos vinte e dois anos se tornaria uma empresária e dona do próprio negócio? Quando Cole sugerira uma parceria em um salão de estética, Anne não pensara que poderia dar certo, mas com o incentivo de alguns amigos e principalmente de Gilbert, resolvera aceitar o desafio, e ali estava ela no dia da inauguração do seu espaço e mais ansiosa do que nunca.
A ideia surgira a seis meses atrás, logo após Anne e Gilbert terem adotado Lucy, e Cole e Jordan terem adotado Christian. A vida desde então se tornara intensa. Cuidando de três crianças com a ajuda de Nora, aliviara um pouco a preocupação com os pequenos, e Gilbert também lhe auxiliara demais, não deixando de se o maravilhoso marido que sempre fora, ele lhe dera todo o suporte emocional que precisava para abraçar seu novo desafio profissional, e o melhor de tudo fora que estavam em casa novamente.
Após conversarem sobre como estruturariam sua parceria, o problema maior foi pensar em um lugar para instalar o salão de estética. Ambos pensaram no centro de Nova Iorque por ser mais prático e perto da residência se ambos, mas depois Anne descartou a ideia, por saber que haviam muitos empreendimentos parecidos por ali, e gerenciado por pessoas competentes e famosas também. Assim, se quisessem que o negócio deles desse certo, eles teriam que fixá-lo em um lugar onde as pessoas não tinham fácil acesso àquele tipo de coisa.
Uma noite, enquanto Anne e Cole estavam sentados na sala do apartamento dela e de Gilbert, tentando pensar em uma localização ideal, o jovem médico que amamentava Lucy naquele momento disse:
-Posso dar uma sugestão?
-Claro. Qualquer ideia por menor que seja, pode nos ajudar a solucionar esse problema.
- Cole disse, olhando com atenção para o marido de Anne.
-Já pensaram em abrir esse salão de estética em Avonlea?
-Como assim,? Qual a sua ideia? - Anne perguntou com a testa franzida.
-Você não me disse que abriram um clube familiar por lá? - Anne assentiu, e assim o rapaz continuou.- Por que não conversam com o proprietário e não apresentam o negócio que querem abrir? Vocês podem pagar a ele uma porcentagem de lucros, e assim teriam uma clientela certa e fixa. Nunca tivemos algo assim por lá. Eu tenho certeza de que seria um sucesso.
-Amei a ideia, mas como vamos abrir o salão em Avonlea se moramos em Nova Iorque? Não quero ficar longe de você e dos bebês a semana inteira e vê-los somente no fim de semana. - Anne pontuou. Se separar de seus filhos e de seu marido para se jogar de cabeça em um sonho que não sabia se daria certo estava fora de cogitação. Se não podia tê-los com ela, Anne preferia desistir ou pensar em outras solução. Estava bem financeiramente, e tinha anos de carreira como modelo pela frente, por isso, poderia ter aquele salão no futuro e não necessariamente iria bagunçar toda a sua vida por conta de algo que era mais um capricho do que algo que realmente precisasse.
-Isso não seria necessário. Podemos nos mudar para lá. - Gilbert respondeu com um sorriso.
-Mas e sua carreira no hospital?- Anne perguntou espantada pela sugestão dele.
-Amor, eu só vim para Nova Iorque por sua causa. Sou médico e posso trabalhar em qualquer lugar onde precisem de mim e de meus conhecimentos como cirurgião. O hospital de Charlottetown me fez uma oferta de trabalho não faz muito tempo, e o salário é compatível com o que ganho em Nova Iorque, mas sinceramente isso não me preocupa, pois sempre fui uma pessoa simples, e o que desejo é ajudar pessoas com meu dom para Medicina, e quero mais do que tudo estar com você e os bebês, e se eu tiver que refazer minha rota profissional novamente por sua causa, eu o farei sem sequer pensar duas vezes. O único problema seria o que você faria com sua carreira de modelo.
Anne olhou para o marido em silêncio por alguns minutos, pois o tamanho da generosidade daquele homem lhe deixava sem palavras. Mais uma vez , Gilbert lhe mostrava que seu amor por ela não tinha limites, assim como o dela por ele, e logo que recuperou a voz, ela respondeu:
-Se você pode desistir de Nova Iorque por mim, eu também posso deixar minha carreira de modelo para trás. Você sempre me disse que um dia voltaríamos para Avonlea, e acho que chegou a hora disso acontecer. A carreira de modelo não é tão importante quanto a minha família é para mim, e sei que realizando o meu sonho também estarei realizando o seu, assim só preciso da opinião de Cole. - ela disse, se virando para o amigo que a tudo observava sem dizer nada.
-Acho uma excelente ideia a que Gilbert propôs. Eu não preciso morar em Nova Iorque para continuar sendo artista plástico. Eu apenas viajo até os clientes quando temos que acertar detalhes do trabalho que farei, e isso muitas vezes é resolvido por vídeo chamada ou mensagens. E quanto a Jordan, ele é um fotógrafo independente, e pode escolher trabalhar onde quiser, então viajar não será uma grande novidade para ele já que faz isso mesmo morando em Nova Iorque. E pensando sobre isso, acho que Avonlea é um ótimo lugar para criar Christian, e fica perto dos meus pais, assim, ele poderá ter contato com os avós desde cedo. Então, se a última palavra é a minha, eu digo que aceito a sua ideia, doutor com grande prazer.- Cole afirmou com um enorme sorriso nos lábios.
Assim, começou uma grande empreitada para Cole e Anne que tiveram que entrar em contato com o proprietário do resort em Avonlea para apresentarem sua ideia, e em um fim de semana que Gilbert estava livre para ficar com os bebês, os dois amigos viajaram até lá para conversar com o dono pessoalmente que aceitou a proposta de ambos com grande entusiasmo, e deixou que escolhessem o lugar exato onde o salão de estética seria estabelecido.
Quando voltaram para Nova Iorque, Anne estava cheia de ideias, e após discutir uma a uma com Cole e também pedir a opinião de Gilbert, ficou decidido que além dos serviços de estética, eles também reservariam um espaço para aulas de modelo, pois como Anne vivera nesse universo por muito tempo ela poderia ensinar a garotas que tinham o sonho de despontar nas passarelas do mundo, como desfilar, se maquiar e vestir uma roupa com elegância e glamour. Era uma maneira de passar adiante o que aprendera em seus anos de top model, e manter contato com aquele mundo, o qual fizera da garota sardenta e tímida um dos nomes mais requisitados em eventos e revistas de moda.
O telefone de Anne tocou e ela se apressou em atender ao ver que era marido. Ele tinha saído muito cedo aquela manhã, por
conta de uma cirurgia, e não acordara Anne que se sentira imediatamente carente dele quando abriu os olhos e percebeu que Gilbert não estava mais deitado a seu lado. A vida de médico não mudara porque estavam vivendo em Avonlea, apenas diminuíra a intensidade do trânsito, e a quantidade de tempo que Gilbert gastaria para dirigir da casa da fazenda até o trabalho. Todo o resto permanecia igual. Os plantões intermináveis, as horas em claro estudando um caso novo e as preocupações constantes com os pacientes.
A diferença agora era que Anne entendia que seu marido tinha uma missão nobre nesse mundo com seu talento incontestável para salvar vidas. Ela não competia mais com a medicina pela atenção dele. Na verdade, ela se tornara uma grande defensora da área médica, e usava de seu nome e prestígio para arrecadar fundos para a nova ala infantil que Gilbert estava tentando construir no hospital onde estava trabalhando.
Anne poderia facilmente ter doado a ele a quantia que necessitava para o seu grande projeto, mas dessa vez Gilbert não aceitara, alegando que ela já o fizera uma vez, porém seu marido não apresentara nenhuma objeção quando Anne se oferecera para ajudá-lo a conseguir o dinheiro que precisava por meio de uma campanha a nível nacional. Ela entendia a recusa do rapaz em não aceitar o dinheiro direto da conta dela, e aprendera com o tempo de convívio que não era questão de orgulho, e sim da maneira como Gilbert enxergava as coisas como justas,e mesmo que às vezes não concordasse com ele, Anne respeitava sua maneira de pensar assim como respeitava o homem de caráter forte que ele era.
-Alô, meu amor. Como está se sentindo? - foi a primeira coisa que Gilbert perguntou. Naquela semana em específico, ele ficara de olho nela o tempo inteiro, como se temesse que ela tivesse um surto ou um ataque de ansiedade.
-Bastante nervosa. Só me prometa que vai estar lá. - ela disse se sentando na cama, apertando o celular na mão, como se assim pudesse controlar sua insegurança.
-Querida, você me fez essa mesma pergunta umas vinte vezes essa semana, e vou te dar a mesma resposta que te dei todas as vezes. Eu não perderia essa inauguração por nada nesse mundo. Estarei na primeira fila, aplaudindo minha linda esposa e mostrando a ela o quanto estou orgulhoso da mulher incrível que ela se tornou.
-E se algo der errado? E se ninguém aparecer para a inauguração?- ela disse em uma crise de paranóia, a qual não conseguia evitar por mais que tentasse.
-Você sabe que isso não vai acontecer. Tenha fé em si mesma e em Cole. Vai dar tudo certo. Eu tenho certeza.
-Obrigada. Não sei o que faria sem você. - Anne disse suspirando. Seu coração estava a mil, e sua cabeça não parava de incomodá-la com pensamentos negativos. Somente Gilbert conseguia fazê-la pensar com coerência.
-Você sabe que sempre vou te apoiar. Como estão os bebês?- ele perguntou, fazendo Anne sorrir. Era comovente a maneira como Gilbert amava e se preocupava com os bebês, e especificamente Lucy, por quem ele se apaixona à primeira vista. A garotinha estava cada vez mais linda, e no fim do mês completaria um ano de vida. Assim como Sarah e John, que eram um pouco mais novos que ela, Lucy já começara a engatinhar, e era tão graciosa que roubava facilmente o coração de quem a conhecesse. O mais surpreendente fora a aceitação dos gêmeos da nova integrante da família Blythe, e qualquer pessoa que os visse juntos, pensariam que eram irmãos legítimos, pois a semelhança entre eles era espantosa.
-Estão bem. Nora vai ficar com eles até voltarmos.
-Que bom. Fico feliz que Nora tenha aceitado morar conosco em Avonlea, pois depois da inauguração, eu quero namorar minha esposa como se deve.- ele disse com uma risada tão gostosa, que fez Anne suspirar e responder:
-Quer dizer que já tem planos para nós dois? Não vai me contar o que está planejando?
-Tenho certeza de que já sabe.- Gilbert respondeu com a voz cheia de malícia.
-Talvez, mas eu ainda quero saber o que tem em mente. - Anne afirmou, sorrindo de orelha a orelha. O tempo podia passar, mas o sexo entre eles parecia ficar cada vez melhor, ao invés de perder o brilho como acontecia com muitos casais.
-Nada demais. Eu estava pensando em uma banheira cheia de espuma perfumada, massagem com óleos aromáticos, luz de velas e champanhe.
-Só isso? - Anne perguntou, se fingindo de decepcionada.
-Você sabe o que vem depois. Eu não preciso te dizer.- Gilbert respondeu de maneira tão íntima, que fez borboletas voarem pelo estômago de Anne.
-Essa será a melhor parte da minha noite.- ela disse.
-Da minha também. Teremos uma comemoração especial a dois.
-Sim. Mas eu preciso te dizer que tenho uma surpresa para você também. - Anne falou em um tom conspirador que fez Gilbert perguntar:
-Que surpresa?
-Terá que esperar depois da inauguração para saber.- Anne respondeu rindo.
-Não vou insistir em saber sobre essa surpresa, pois sei que não vai me contar, e vai me deixar curioso por um bom tempo até que resolva me deixar saber sobre o que está falando.
-Acho maravilhoso que me conheça tão bem.- Anne comentou, imaginando o que Gilbert diria sobre a grande surpresa que estava preparando para ele.
-Está bem, querida. Preciso desligar. Te vejo mais tarde na inauguração. Te amo.
-Também te amo. - Anne respondeu e desligou.
Quando ia se levantar da cama, seus olhos pousaram em um álbum de fotografias recente. Nele haviam fotos da última viagem com Gilbert ao Hawaii, para onde Bertha e seu marido Richard os tinham acompanhado. Ela pegou o álbum e o abriu, admirando a foto de sua mãe biológica que naqueles dias estava em melhor forma física que agora. Com um aperto no coração, Anne observou os cabelos ruivos de Bertha tão parecidos com os seus, tão abundantes e cheios de vida que tinham rareado nos últimos dois meses, por conta da quimioterapia. Ela vinha usando lenços coloridos em casa que escondiam suas falhas capilares, e quando tinha que sair de casa, Bertha usava perucas presenteadas por Anne, de diferentes cores e estilos.
Com um invejável senso de humor, ela dizia que Richard não tinha do que reclamar, já que acordava todas as semanas com uma mulher diferente. E por mais incrível que pudesse ser, não havia uma única nota triste em sua voz quando falava dessa maneira. Havia um conformismo absoluto na alma daquela mulher que vinha ensinando a Anne uma grande lição de vida. O que a ruivinha podia entender na postura digna de sua mãe biológica diante da realidade de sua própria morte, era que não importavam as circunstâncias ou a situação difícil pela qual se estivesse passando, o importante era viver e compartilhar os momentos felizes com aqueles a quem se amava, pois tudo nessa vida era transitório e fugaz. O futuro permaneceria um mistério até que fosse revelado com a passagem do tempo, e o dia de hoje deveria ser desfrutado ao máximo, porque quando a vida neste mundo se findava o que sobrava eram apenas as lembranças para acalentar os dias mais tristes.
Assim, aquela viagem ao Hawaii foi melhor do que a primeira vez, pois além da companhia de Bertha e Richard, eles também tinham levado os três bebês, e Nora que se tornara um membro permanente da família Blythe. Foram dias incríveis de muito amor, companheirismo e paixão, assim como de novas descobertas, pois Anne permitiu que tanto ela quanto sua mãe biológica se conhecessem melhor, e estreitassem os laços de afeto que tinham se afrouxado por conta do seu distanciamento de anos, e dessa forma se tornaram grandes amigas.
Ao final da viagem, Anne se sentia feliz por ter aberto seu coração e se dado a oportunidade de reconhecer que estivera errada sobre Bertha o tempo todo. A vida lhe mostrara que em uma história sempre havia dois lados, e que uma pessoa não era totalmente boa ou totalmente ruim. Bertha errara, se é que ela poderia chamar de erro, uma mãe preferir salvar a vida de uma filha da fome e do frio, deixando-a com pessoas que poderiam lhe dar o que ela não tinha no momento, forçada pelas circunstâncias. A ruivinha entendia agora todo o sofrimento pelo qual ela passara, e o que era mais triste naquela história toda era perceber que apesar de tudo, ela não teria um final feliz como merecia.
Lágrimas ameaçaram rolar, nas Anne as conteve. Não era hora de chorar e sim de comemorar o momento como Bertha lhe ensinara nos últimos dias, e por isso, quando Sebastian e Mary vieram chamá-la para levá-la até o local da inauguração, Anne exibia um grande sorriso no rosto.
Eles chegaram ao resort quinze minutos depois, e para a surpresa de Anne já havia uma boa quantidade de pessoas no local. Cole e Diana vieram em sua direção assim que a viram entrar, e a morena lhe disse:
-Está tudo pronto, Anne. Eu já verifiquei tudo pessoalmente. - Anne olhou para a amiga e sorriu. Contratar Diana como sua gerente comercial fora a melhor coisa que fizera, pois a amiga se mostrara uma funcionária extremamente eficiente, e Anne quase não tinha que se preocupar com nada, pois Diana resolvia tudo por ela com rapidez e competência, e dessa forma Anne poderia se dedicar a outras questões dentro daquele empreendimento.
-Obrigada, querida. Não sei o que faria se você não estivesse aqui.- Anne disse, abraçando a amiga.
-Eu é que tenho que agradecer pela oportunidade. - Diana respondeu, retribuindo o abraço.
-Está nervosa?- Cole perguntou, apertando a mão de Anne com afeição.
-Um pouco e você? - ela disse, olhando para seu amigo que sempre fora quase um irmão com os olhos cheios de amor.
-Confesso que me sinto um pouco ansioso.
-E Jordan. Acha que ele conseguirá vir?
-Ele está trabalhando na Califórnia, e só conseguirá chegar amanhã. Mas me mandou várias mensagens me parabenizando pelo nosso projeto, e disse que ficará dois meses em casa para me ajudar com Christian e nos dar alguma assistência no salão de estética, se precisarmos de alguma. - Cole afirmou.
-Acho que ele será de grande ajuda nas aulas de modelo. Acha que ele aceitaria ser meu suporte quando eu for explicar para as aluna como funciona uma sessão de fotos?- Anne perguntou, pensando no quanto Jordan seria útil no salão de estética, se ele aceitasse a orientar as garotas inscrita no curso em como se posicionar em frente a uma câmera fotográfica.
-É claro que sim. Jordan te adora, e me disse várias vezes que você é uma de suas modelos favoritas. - Cole lhe revelou.
-Ele é meu fotógrafo favorito também. Sempre me senti confortável para fotografar com ele. Jordan sabe como deixar uma modelo segura e acreditar em seu potencial. Vou ser sempre agradecida a ele por tudo o que aprendi quando trabalhamos juntos.
-Ele é realmente um homem especial. - Cole afirmou, e Anne o olhou com certa curiosidade, pois apesar do amigo nunca admitir o que sentia por Jordan, Anne conhecia Cole Mackenzie o suficiente para compreender que dessa vez, o amigo estava realmente apaixonado.
-Sim, ele é. -Anne concordou. - Vou dar uma volta e cumprimentar os convidados.- ela disse, interrompendo a conversa com Cole ao ver Matthew e Marilla acenando para ela.
-Tudo bem. Te vejo daqui a pouco. - o rapaz disse, beijando-a no rosto antes de se afastar.
Anne se aproximou do casal de irmãos que lhe sorriram carinhosamente, principalmente Matthew que a abraçou e disse:
-Estou tão orgulhoso de você.
-Eu também. - Marilla disse antes de deixar um beijo em sua bochecha.
-Obrigada. Isso significa muito para mim.- Anne respondeu com os olhos marejados. Matthew e Marilla foram as duas pessoas que mais ensinaram a ela o sentido de ter uma família, e vê-los ali com ela naquele momento era realmente muito especial.
Seus olhos encontraram os de Bertha que se sentara à duas mesas perto de Marilla, onde estava acompanhada de Richard e seus três filhos. Sua mãe biológica estava usando uma peruca loira estilo chanel que combinava lindamente com seus olhos azuis e pele clara. Fisicamente, ela parecia bem, e Anne se sentia extremamente feliz por ela ter conseguido vir. Bertha também se tornara uma parte importante de sua vida, e Anne queria aproveitar cada segundo que pudesse com ela.
-Com licença. - ela disse, caminhando em direção a Bertha e sua família.
-Que bom que vocês puderam vir.- Anne disse, deixando um beijo no rosto de cada um.
-Você está tão linda. - Bertha disse, acariciando o rosto de Anne.
-Obrigada, mamãe. - ela disse aquela palavra tão naturalmente, como se sempre tivesse sido assim entre elas.- O que foi?- Anne perguntou, ao ver os olhos de Bertha marejarem.
-Me desculpe por ser tão tola, mas é que nunca vou deixar de me emocionar ao ouvir você me chamar de mãe. - Bertha respondeu, enxugando os olhos com o dorso das mãos.
-Pois é assim que vou chamá-la daqui para frente. - Anne disse, abraçando Bertha carinhosamente, e quando a soltou ela viu Cole acenando para ela, e lhe mostrando que já era hora do discurso de inauguração, e por isso, Anne explicou:
-Volto para falar com vocês depois.
-Vai lá e arrasa, maninha. - Summer a incentivou, fazendo Anne sorrir e pensar no quanto era bom ter sua família com ela. As únicas pessoas que não estavam ali eram Josie que estava viajando com Francesco na Itália, e Ruby que acabara de se casar e estava em lua de mel na praia com Moody.
Anne franziu a testa procurando por Gilbert, mas não o encontrou, fazendo-a se sentir internamente frustrada por isso. Ele prometera que estaria ali, mas como a profissão dele era imprevisível, com certeza ficara preso no trabalho por conta de algum paciente, e mesmo se sentindo triste pela ausência dele, Anne entendia que salvar uma vida era mais importante que qualquer outra coisa.
Ela subiu ao palco junto com Cole que naquele instante começou a dizer:
-Boa noite, pessoal. Estamos muito gratos pela presença de todos, e quero também agradecer pela minha sócia, Anne, que abraçou a ideia desse projeto comigo, e transformou um sonho em realidade. - Cole apertou a mão de Anne com força como um sinal para que ela prosseguisse. Anne pegou o microfone e começou a dizer:
-Eu também quero agradecer ao Cole pela oportunidade que ele me proporcionou ao apresentar sua ideia para que o nosso sonho desse início, pois me deu a chance de ampliar meu horizontes e me aventurar em algo totalmente novo para minha vida. Quero agradecer minha família que está aqui hoje e que tem me incentivado a cada passo do caminho, meus amigos que sempre estiveram ao meu lado....- ela ia continuar, mas parou ao ver Gilbert na primeira fila, olhando para ela com seus olhos cheios daquele amor que vinham partilhando através dos anos, e onde brilhava todo o orgulho que ele sentia por ela naquele momento. Anne quase engasgou com as palavras, mas respirou fundo, e continuou com seu discurso:- ...e quero agradecer ao meu marido, meu parceiro e meu melhor amigo pela paciência, o amor e a compreensão em meus momentos mais difíceis e complicados. Se não fosse por ele, eu não teria conseguido chegar nem na metade do caminho de onde cheguei. Meu amor, você e nossos filhos são tudo o que importa para mim nessa vida, eu te amo muito.- Anne terminou o discurso emocionada.
-Eu também te amo.- Gilbert respondeu e todos aplaudiram aquele momento onde claramente podiam ver dois corações profundamente apaixonados um pelo outro.
Assim, Cole e Anne cortaram juntos a fita de inauguração e declararam oficialmente o início daquele projeto onde ambos empregaram todas as suas energias nos últimos meses.
Após ter sido cumprimentada por praticamente todas as pessoas que vieram prestigiar a inauguração do salão de estética, Anne encontrou aqueles olhos que sempre fariam seu coração bater mais forte.
-Então, será que posso convidar minha esposa para dançar?- Gilbert disse sorrindo.
-É claro que pode. Na verdade, eu ficaria terrivelmente desapontada se meu marido não me convidasse para dançar. - Anne disse com uma risada alegre e cristalina.
Galantemente, Gilbert segurou em sua mão e a levou para a pista de dança, onde vários casais já se movimentavam juntos, inspirados pela música que tocava naquele instante.
-Desculpe-me pelo atraso. Tive que passar em casa para tomar banho e trocar de roupa, e acabei me demorando mais do que devia.- Gilbert se desculpou com Anne já em seus braços.
-Tudo bem, o que importa é que está aqui.- Anne disse deitando a cabeça no ombro dele, e aspirando o aroma da loção amadeirada que ele usava.
-A propósito, você está linda essa noite - Gilbert a elogiou.
-Você também. - Anne disse, aproveitando cada segundo do calor gostoso que vinha do corpo dele irradiando pelo seu.
-Então, vai me contar?- ele perguntou em seu ouvido.
-Contar o que?- Anne sorriu, se fazendo de desentendida.
-Sobre a surpresa que preparou para mim. - ele disse, rodando com ela pelo salão. Anne queria fazer um pouco mais de suspense, porém já tinha guardado aquilo somente para si mesma a uma semana, e por isso percebeu que não conseguiria mais fazer segredo daquele fato. Assim, ela parou de dançar, segurou nas mãos dele, as colocou sobre sua barriga e perguntou:
-Não consegue imaginar?- Gilbert a olhou confuso por um segundo, e então a verdade o atingiu repentinamente, fazendo-o olhar nos olhos de Anne e dizer:
-Você está grávida?
-Sim. - ela respondeu, sentindo as lágrimas queimarem seus olhos assim como nos olhos de Gilbert, prontas para rolarem a qualquer momento.
-De quanto tempo?
-Quase dois meses. - ela respondeu, tocando o rosto do marido com a ponta dos dedos.
-Então, acha que aconteceu no Hawaii?
-Tudo indica que sim. - Anne respondeu, sorrindo por entre as lágrimas.
-Eu sou o homem mais feliz do mundo por sua causa. - Gilbert declarou enquanto a pegava na cintura, e a rodava pelo ar cheio de uma felicidade impossível de esconder.
Quando a colocou de volta no chão, seus olhos se conectaram, e dessa forma puderam se enxergar através do tempo, e das palavras que não precisavam ser ditas, pois seus corações já a conheciam de cor. Então, seus lábios se encontraram e se entregaram completamente ao momento, e aos sentimentos que se moviam dentro deles como ondas em um mar de amor que os acompanharia por toda uma existência. E enquanto se envolvia naquele beijo apaixonado, Anne constatou que também era a mulher mais feliz do mundo, pois tinha Gilbert Blythe na sua vida.
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