Capítulo 94- Sob o mesmo céu
Olá, pessoal. Embora eu tenha me esforçado muito para escrever esse capítulo, não posso dizer que ficou como eu desejava, mas, espero que vocês possam apreciar pelo menos a leitura caso não seja o que estão esperando. Essa semana foi difícil, então, me perdoem. Eu nunca falei isso aqui porque não achei que fosse necessário, mas, enfim, pensei que dessa vez tinha que falar. Eu lido com uma doença grave faz anos, e embora eu consiga controlá-la na maior parte do tempo, tem momentos que me fragilizo, por isso, acabo ficando de humor instável às vezes, e aí começo a achar que tudo que faço não está bom, e hoje é um desses momentos Então, perdão por qualquer erro ortográfico ou incoerência. Vou corrigir depois..Obrigada por tudo. Beijos.
GILBERT
Uma leve respiração em seu pescoço fez Gilbert abrir os olhos, e se lembrar de quem estava com ele na cama. A princípio ele pensara ser sua imaginação brincando com ele, por desejar tanto aquilo nos últimos dias que aquela carícia morna mais parecia um sonho maravilhoso. Ele abriu os olhos com medo de despertar e toda a sensação boa que sentia por dentro fosse embora, e ele tornasse a se ver sozinho novamente com um vazio imenso dentro do peito que o fazia ter vontade de chorar.
Mas, para sua alegria interna lá estava ela, sua Anne, deitada com seus cabelos ruivos magníficos espalhados pelo ombro dele como se fossem o próprio sol a lhe desejar bom dia. Ela era a personificação de tudo que ele achava mais perfeito no mundo, e até aquela minúscula sarda na pontinha do seu nariz que mal dava para notar, ele amava de coração. Anne parecia tão confortável em seus braços. Sua respiração era tranquila, seu rosto, mesmo dormindo parecia mais feliz do que quando estava acordada naqueles dias em que ele tivera que lutar contra suas frequentes crises de mau humor.
Ele não pode deixar de notar com certo pesar, as linhas escuras em volta dos olhos dela, que denotavam que ela estava tendo uma qualidade de sono ruim, e Gilbert se sentiu mais uma vez responsável pela insônia de sua esposa. Ela também perdera peso, isso ele podia perceber pelo formato de seu rosto mais fino, que semanas antes exibiam bochechas mais cheias e um rosado natural.
Aquele mal-entendido estava custando demais aos dois, e ele esperava que pudessem resolvê-lo o quanto antes. Ele não queria pressioná-la a nada, por isso mesmo ele viera para aquele hotel em uma tentativa de fazer com que os pensamentos de ambos se tornassem mais claros, pudessem dessa forma colocar um fim em toda aquela situação. Era difícil ficar longe dela, e especialmente naquele momento, ele podia constatar aquilo com toda clareza, porém, ele continuava a pensar que era melhor ficar afastado por um tempo, porque ele não suportaria viver mais nem um dia sob aquele clima tenso, enquanto ela não cedesse e o perdoasse, ele também não cederia. Não queria se sentir culpado todo o tempo, ou fingir que a indiferença de Anne não o incomodava. Ele queria voltar para casa, mas não como um visitante ou hóspede temporário. Ele queria tudo dela ou então não teria nada, pois ele não aceitava menos do que tinham a um mês atrás.
Gilbert pensou em se levantar, embora não quisesse perder aquele momento com Anne tão especial que não tinha a dias, mas, ambos precisavam comer, por isso, sua ideia foi pedir o café da manhã antes que ela despertasse, mas, foi só ele se afastar do corpo dela para se por de pé que Anne abriu os olhos e o encarou longamente dizendo:
- Bom dia.
- Bom dia. - Gilbert respondeu sentindo o calor da mão dela em seu peito, onde ficara a noite toda, e de onde ela não parecia ter intenção nenhuma de retirá-la.
- Está mais calma? - ele se virou para ela de novo e ficaram se olhando como se fosse a primeira vez que fizessem isso.
- Estou sim. - ela respondeu brincando com os pelos do peito dele, mas sem deixar que seus olhos escorregassem para outra parte qualquer que não fosse o rosto dele.
- Vai me contar o que aconteceu ontem para chegar aqui tão alterada? - Anne mordeu o lábio inferior devagar, e deixou que seu dedo indicador escorregasse pelo nariz de seu marido, depois traçou o maxilar indo parar no queixo, fazendo o coração de Gilbert querer saltar pela na boca. Anne o encarava daquele jeito que ele nunca conseguia resistir, mas fez força para não se sentir hipnotizado pela íris azul dela.
- Eu fiquei um pouco assustada. - ela respondeu quando ele não esperava mais que ela o fizesse. As mãos dela estavam em seus cabelos e duelavam com seus cachinhos rebeldes, causando certos arrepios em sua nuca que começaram a se espalhar por suas costas indo parar na lombar exatamente em um de seus pontos fracos.
- Assustada com o que? - ele perguntou, levando as mãos aos cabelos dela, incapaz de manter suas mãos longe daquele anjo perfeito. Ele esfregou seu polegar de leve nas bochechas de Anne, e em seguida se encaminhou para os lábios rosados, por onde a ponta do seu indicador desenhou o formato por toda a sua extensão,
- Eu recebi um telefonema anônimo e me assustei pensando que pudesse ser um daqueles fantasmas do passado. - ela respondeu, deixando que o dedo indicador de Gilbert invadisse a sua boca, onde ele pôde sentir a umidade quente de sua íngua.
Apesar de estarem conversando, Gilbert começou a sentir os efeitos daquilo que estavam fazendo, que na verdade ele nem sabia direito o que era. Eles começaram aqueles toques às cegas, como se reconhecendo as linhas um do outro. Não fora nada planejado, ou calculado com exatidão, eram apenas toques inocentes sem a intenção nenhuma de se transformarem em algo mais, porém, ainda assim não deixava de ter sua sensualidade embutida no jeito de Anne o encarar. O que se passava na cabeça dela, enquanto suas mãos macias não paravam quietas e estavam agora deslizando pelos músculos de seus braços, Gilbert não tinha como saber. Ele sempre conseguira ler o que havia naqueles olhos quando estavam juntos, mas naquela manhã especialmente, ela estava se escondendo dele de um jeito que tudo se tornou um mistério, o qual ele começou a desejar desvendar naquele instante. Ela fechou os olhos, e se aproximou mais dele, sua testa colada na dele, e seus lábios muito próximos.
Gilbert não ia mentir e dizer que não queria beijá-la, porque era algo que ele queria demais, no entanto, ele não faria nada se Anne não desse nenhum passo em direção ao que desejava, pois ele podia ver pela maneira provocante pela qual ela passava a ponta da língua pelos próprios lábios, que ela estava esperando pela mesma coisa. A camiseta escorregou para o lado, e o ombro dela apareceu, e foi para lá que seus dedos sem controle se concentraram massageando a pele clara enquanto ele via todo o resto do corpo dela se arrepiar.
- Você está tentando em dizer que acha que foi Peter Bells? - ele formulou a pergunta que sua cabeça já tinha feito antes de ele verbalizá-la, mas, a presença de Anne o tinha distraído. Porém, ele precisava focar no que ela lhe dissera, porque havia um problema sério ali e ambos o sabiam. No entanto, era fácil demais esquecer-se de tudo quando a imagem e o aroma suave de Anne já invadia seu sistema. Ela o abraçou pela cintura, e Gilbert respirou fundo, sentindo que estava a ponto de fazer uma besteira. Se a intenção de Anne era provocar para ver até onde ele resistia, ela estava sendo bem sucedida, porque senti-la encostada nele daquele jeito já estava conquistando sua atenção até demais.
- Eu não posso dizer com certeza. Mas, essa não é a primeira vez que recebo um telefonema assim.- ela encontrou sua cabeça na curva do pescoço de Gilbert, e por hábito as mãos dele desceram pelas costas dela cobertas pelo algodão da camiseta, e ia apertá-la contra si, quando percebeu que já estavam passando do limite que se impuseram naquela semana, por isso deixou que suas mãos parassem na cintura dela, e a encarou surpreso com a nova informação.
- Por que nunca me disse isso?
- Por que achei que estava imaginando coisas. Na nossa lua de mel no Havaí, eu pensei tê-lo visto trabalhando como garçom do nosso hotel. Depois disso, eu recebi um telefonema igual ao da noite passada, e senti que dessa vez não era engano, e sim algo deliberado. - ela desceu as mãos e segurou as de Gilbert, entrelaçando os dedos dele nos seus.
- Anne, isso é sério. Não podia ter ignorado o perigo que esse cara ainda representa. Sabe-se lá o que ele tem em mente. Você não pode esquecer que ele está solto e é obcecado por você. Amor. Você precisa ficar atenta e se cuidar. - nem ele mesmo percebeu que a chamara de amor, mas a ruivinha percebeu, pois o sorriso que se desenhou no rosto dela estava bem mais feliz que os dias anteriores. Ela colocou o queixo apoiado no peito dele e disse:
- Eu sei, e por isso é que eu estava pensando se...- ela mordeu o cantinho dos lábios, talvez analisando se deveria terminar a frase que iniciara. Impaciente, Gilbert insistiu:
- Você estava pensando se...
- Se você não voltaria para casa? - ela disse com a voz tímida, e o coração de Gilbert só faltou saltar do peito de tão feliz.
- Você quer que eu volte? - ela perguntou com seus lábios quase roçando os dela,
- Eu quero. - ela sussurrou, de olhos fechados como se estivesse esperando pelo que estava por vir:
- Por que? - ele perguntou, e se xingou logo depois, por que tinha que importar o motivo pelo qual ela o queria de volta? Por que naquele momento em que estavam quase fazendo as pazes, ele tinha que estragar tudo com sua necessidade de ter o que mais queria?
- Porque você é o meu marido, e seu lugar é a meu lado. - por alguma razão, Gilbert não gostou da resposta. Ele estava esperando que ela lhe dissesse outra coisa, por isso, ele teve que perguntar, ou não ficaria feliz se continuasse em dúvida:
- Você me perdoou? - ela o olhou parecendo um pouco tensa, e Gilbert soube qual era a resposta. Assim, ele tirou as mãos da cintura dela, e a afastou dele com cuidado para que ele pudesse se levantar, e depois respondeu, enquanto Anne se mantinha calada.
- Anne, eu acho cedo para que eu volte para casa. Não posso viver embaixo do mesmo teto que você se continua com essa mágoa aí dentro. Se eu voltar, será como seu marido de verdade, e não como um visitante que dorme no quarto de hóspedes. - ele disse com a voz séria, ao mesmo tempo em que Anne se sentava na cama e abraçava os joelhos.
- Não é fácil para mim, Gil. Eu preciso de um pouco mais de tempo. - Anne disse olhando para as próprias mãos.
- Eu sei disso, por isso, vim para um hotel. Não quero pressioná-la com minha ansiedade, porque só Deus sabe o que está me custando ficar longe de você e dos nossos bebês, no entanto, eu prefiro continuar aqui a viver de nosso tudo o que eu passei na última semana.
- Mesmo depois do que eu te contei sobre Peter Bells?
- Fique tranquila, isso eu pretendo resolver. Ele não vai machucar você, e muito menos nossos filhos.
- Está bem. Se prefere assim.- Anne disse mostrando-se tristonha com a decisão dele, o que fez Gilbert responder no ato:
- Eu não prefiro assim. É como as coisas são agora. - ele também estava triste. Aquele poucos momentos na cama lhe trouxeram esperanças de que ela estava voltando em sua decisão de deixá-lo fora de sua vida, mas, de repente ele percebeu que fora apenas um minuto de carência dela que assim como ele fora traída pelo seu próprio coração.
Deste modo, Gilbert pegou uma toalha limpa, e rumou para o banheiro, enquanto dizia a Anne:
- Vou tomar banho, e depois vou te servir o café da manhã. Preciso ir pra o trabalho mais cedo. Brian vai receber alta hoje. - ao ouvir o nome do garotinho que visitara uma vez fez Anne desfazer sua aparente seriedade e perguntar.
- É mesmo? E como está ele?
- Muito bem. A cirurgia foi um sucesso, e mais alguns meses de tratamento, e ele estará apto a levar sua vida normalmente.
- Fico feliz em saber disso. - ela disse com um sorriso, e Gilbert assentiu, e foi for fim em direção ao banheiro.
Algum tempo depois, eles estavam de volta ao apartamento, e vendo Gilbert ficar parado na porta, Anne perguntou:
- Não vai entrar?
- Acho melhor não. - ele disse, percebendo que Anne ficara triste de novo e disse:
- Eu preciso ir, mas se precisar de mim, é só ligar no meu celular. - ele beijou-a no rosto, e se virou para ir para o elevador quando ele ouviu Anne dizer:
- Gilbert, você não quer vir jantar comigo amanhã?
- Anne, não acho que seja uma boa ideia.
- Por favor. Cole não poderá me fazer companhia, e eu não gostaria de ficar muito tempo sozinha. - ele hesitou, mas o olhar dela lhe implorando, o fez ceder:
- Está bem. Eu aceito jantar com você amanhã. Que horas quer que eu venha?
- Ás sete. - ela disse com o sorriso mais lindo que ele já vira.
- Estarei aqui. Se cuida e tenha um bom dia.
- Você também.
Assim, enquanto entrava no elevador, Gilbert pensava se não tinha caído na própria armadilha.
- ANNE
Depois que Gilbert se foi, Anne se perguntou o que tinha lhe passado pela cabeça de fazer aquele convite a Gilbert. Ele deveria estar achando que ela era inconstante ou dissimulada, mas não conseguir a evitar.
A falta dele falara mais alto, e ela baixara toda e qualquer guarda que levantara antes para manter sua mente sã, porque ter Gilbert perto dela não a deixava pensar direito , e em seu íntimo, uma relação de amor e ódio com sua vulnerabilidade se travava. porque ela sabia que se Gilbert insistisse e ela se deixasse levar pelo amor que sentia por ele, se entregaria para ele de bandeja sem pensar, ao mesmo tempo em que seu orgulho a impedia de perdoá-lo de vez, pois Anne não concebia a ideia de Denise ter tocado em seu marido, mesmo que tivesse sido sem consentimento dele, porém, ela imaginava que em algum momento Gilbert dera liberdade a ela para pensar que podia fazê-lo.
Era um pensamento totalmente incoerente que Anne não percebia por conta de seu ciúme. No entanto, passar a noite com ele, mesmo que tivesse sido por auto preservação lhe mostrara diretamente o quanto momentos assim com ele lhe eram importante no passado, principalmente agora que estavam estremecidos. Porque era antes de dormir que sempre tinham aquela proximidade que ela adorava. Eles se abriam de verdade e deixavam que qualquer conflito interior viesse à tona, sem medo de revelar demais qualquer ponto fraco, defeito ou insegurança. Era onde contavam seus sonhos um para o outro, sua expectativa com o nascimento dos bebês, e se amavam com toda paixão que nunca conseguiram esconder um do outro, compreendendo assim que o relacionamento de cumplicidade que tinham era tudo o que podiam desejar para uma vida a dois feliz e plena.
Por esta razão, ao acordar aquela manhã e pensado que estava sonhando, seu corpo reconhecera antes que ela tivesse tomado consciência a presença do homem amado a seu lado, e assim não precisara de nenhum outro incentivo para despertar e descobrir deliciada que Gilbert estava a um centímetro longe dela, era só tatear com a mão que já estava espalmada no peito dele todos os lugares que adorava tocar quando estavam juntos assim em outras ocasiões no passado. E ela realmente o tocara, sem se questionar porque estava fazendo aquilo, mas sabendo de antemão que precisava muito senti-lo mais próximo dela outra vez. Já fazia mais de uma semana que ela evitara os toques de Gilbert, não porque não os desejasse, mas porque ela sabia que se perderia facilmente em cada um deles, pois amar Gilbert a deixava exposta demais a tantas emoções intensas, e fugir delas sempre fora seu maior problema.
Pelo menos, ele não rejeitara o seu toque como pensara que aconteceria, por mágoa ou mesmo por certo orgulho de Anne não tê-lo aceitado em seu quarto naquela última semana, e até tiveram uma conversa proveitosa em meio a troca de carinhos que protagonizaram, pois Gilbert também tinha o mesmo problema que ela quando estavam juntos, pois não conseguia manter suas mãos longe dela.
Contar a ele sobre os telefonemas fora um alívio, pois assim pode comprovar pela preocupação de Gilbert que não fora nada infundado de sua parte ao pensar que aquilo podia ser uma ameaça nas sombras novamente, só que agora ela tinha muito mais a perder do que antes, porque seus dois filhos inocentes estavam na mesma linha de fogo que ela, e protegê-los era sua primeira prioridade naquele momento.
Ela foi até a cozinha tomar um copo de água se perguntando quando teria paz novamente? Quando poderia andar pelas ruas tranquilamente sem se policiar a todo momento para escolher os lugares mais movimentados, pois os mais desertos ofereciam um perigo que ela não estava disposta a enfrentar desnecessariamente? Se pelo menos Gilbert tivesse aceitado voltar para casa, talvez aquele frio na espinha não a incomodasse tanto, mas, ela sabia bem porque foi que pedira para ele voltar, e não fora levada apenas pelo seu temor interno de que algo ruim pudesse acontecer enquanto ela estivesse naquela casa sozinha. Ela o queria por perto, mesmo que ainda não pudesse tê-lo como antes, e também porque precisava dele mesmo não admitindo em voz alta que essa era a principal razão de ter-lhe feito aquele pedido.
Anne não queria Gilbert longe dos bebês, porque ele tinha o direito de vê-los se desenvolverem na barriga dela até o nascimento, e porque ele era o pai deles, e ela sabia o quanto era importante para ele todo aquele contato. Ela jamais tiraria isso de seu marido por vontade própria, por isso, ela esperava aos poucos conseguir convencê-lo a retornar para o apartamento, porque não achava justo que ele morasse em um lugar tão impessoal enquanto ela tinha todo aquele espaço e conforto somente para si, mesmo que tivesse constatado que o quarto no qual ele estava morando tivesse um bom tamanho para um homem sozinho, ela não conseguia se conformar com a ideia de Gilbert estar longe de tudo que lhe era familiar e querido, e ela percebera que ele também não estava satisfeito com isso, embora em nenhum minuto, ele reclamara sobre isso, tendo consciência que a escolha fora dele sair, mas, Anne também não podia se esquecer que tivera participação mesmo que indireta naquilo.
Ela voltou para sala e pensou em ligar para Cole. Precisava dos conselhos de seu velho amigo, que era sempre a voz de sua razão quando ela metia os pés pelas mãos toda vez que que Gilbert estava envolvido em uma de suas indecisões. Assim, ela discou o número dele impaciente, com o dedão de seu pé direito descalço desenhando coisas aleatórias no tapete enquanto esperava que ele atendesse. No quarto toque, Cole atendeu e ao ver que era ela, o rapaz disse animado:
- Querida, que bom que ligou. Como você está?
- Não sei como responder a essa pergunta. - ela disse suspirando, e se deitando no sofá enquanto falava com o amigo.
- Como assim? - ele perguntou intrigado.
- Ontem à noite eu fui até o hotel de Gilbert. - ela confessou em tom baixo como se tivesse cometido o maior pecado do mundo, o que fez Cole perguntar surpreso:
- Por que exatamente foi até lá?
- Eu tive medo de ficar aqui sozinha por conta do temporal, e acabamos passando a noite juntos. - ela respondeu, enrolando uma mecha enorme de cabelo em seu dedo.
- Então se acertaram? - ele disse todo feliz, mas logo sua animação murchou quando Anne disse:
- Não.
- Eu acho que vou desistir de você, ruiva. Nunca escuta o que eu falo, e sofre porque quer. - ele disse desanimado.
- Calma, meu amor.eu estou tentando. Mas, você sabe como eu sou teimosa. Em minha defesa, posso dizer que, eu pedi para ele voltar para casa.
- E ele aceitou? - Cole perguntou curioso.
- Não, ele disse que se eu não posso perdoá-lo, então, ele não vai voltar para um apartamento, onde ele será apenas um hóspede. - ela repetiu cada palavra dita por Gilbert, sentindo o impacto de cada letra como se estivesse ouvindo-as saírem da boca dele naquele instante.
- E você não tentou fazê-lo mudar de ideia?
- Eu o convidei para jantar. - ela disse de supetão.
- Você o convidou para jantar? - ele fez a pergunta para confirmar o que seu ouvidos tinham escutado. Será que ela tinha jeito afinal?
- Sim, eu disse que você não poderia ficar comigo e que eu não queria ficar sozinha no apartamento.
- Você me usou como desculpa para conseguir o que queria? - ele disse, no fundo sorrindo por dentro, pois não se importava que ela tivesse mentido por uma boa causa usando o nome dele.
- Eu sei que não devia mentir. Acha que agi mal? - ela disse se sentindo constrangida. Ela estava desesperada para que Gilbert aceitasse, por isso, disse o que lhe veio à cabeça por medo de seu marido recusar, mas cavalheiro como ele era, não deixaria que sua jovem esposa grávida passasse uma noite inteira sem companhia nenhuma,
- Depende do que pretende com isso. - Cole respondeu com cautela, querendo entender exatamente o que se passava na cabeça de sua irmãzinha confusa e louquinha.
- Eu quero meu marido de volta. - ela confessou.
- Então, precisa perdoá-lo. Você sabe que ele não vai aceitar menos que isso. Gilbert mesmo lhe disse isso.
- Eu sei, eu ainda não consegui me esquecer de como fiquei magoada com a cena que vi, mas, estou me esforçando, pois não quero que ele fique longe de mim. Eu o amo, Cole. E meu coração se quebra toda vez que estamos separados. – estava sendo sincera, e expondo seus reais sentimentos para o único amigo além de Diana a quem contaria qualquer coisa sem hesitar.
- Querida, do que mais precisa para se convencer de que Gilbert não tem culpa no que aconteceu? Você sabe tão bem quanto eu que ele não faria nada para te magoar O Gilbert é a pessoa mais transparente que eu conheço.
- Eu odeio a ideia de outra mulher ter colocado as mãos nele. - Anne disse aquilo com tanta raiva que fez Cole dizer:
- Você fala como se ele tivesse ficado marcado a ferro por isso. Pelo amor de Deus, mulher. Traz logo esse homem para casa antes que ele se canse de esperar. - foi sua maneira de dar a sua amiga cabeça dura um conselho que ele esperava que ela escutasse, antes que jogasse sua própria felicidade no lixo.
- É o que estou tentando fazer. Eu sei que sou orgulhosa, e às vezes temperamental, mas, eu tentando melhorar. Passar a noite com Gilbert ontem, e acordar com ele hoje de manhã me mostrou tudo o que eu quero para mim, e eu quero o Gilbert na minha vida para sempre.
- Querida, não a estou criticando de forma nenhuma, e imagino o quanto você deve ter sofrido com o que viu. Talvez fosse bom para vocês dois irem com calma dessa vez, e tentarem consertar o que não está funcionando entre vocês. Afinal, relacionamento é isso, um aprendizado diário. O importante é que vocês se amam, e eu sei que tudo vai dar certo no final.
- Eu também espero, Cole. Estou com tantas saudades dele que você nunca poderia calcular o quanto ele me faz falta. - Anne disse suspirando, pois seu peito doía de vontade de estar com seu marido como antes.
- Então, conte a ele. Não precisa ter medo de se abrir, meu amor. Ele é seu marido, e pode dizer a ele o que quiser. - Cole aconselhou. Porém, ele sabia dessa dificuldade de Anne em falar quando alguma coisa a deixava vulnerável, e ambos sabiam o quanto ela se sentia frágil naquele momento.
- Talvez eu faça isso amanhã quando estivermos jantando juntos. - eles precisavam conversar, mas tanto Anne quanto Gilbert ficavam dando voltas no assunto, levados por sua mágoa particular. Quem sabe pudessem ser sinceros pela primeira vez em dias? ela pensou.
- Depois eu quero saber tudo sobre esse jantar, me mantenha informado, meu anjo. Você sabe que torço pelos dois.
- Obrigada Cole, eu não sei o que faria sem você.
- Eu sequer saberia viver sem você, irmãzinha. Eu te amo. - ele disse com carinho.
- Eu te amo também. - Anne disse antes de desligar, enquanto pensava em tudo que teria que providenciaria para aquele jantar. Não seria nada sofisticado, mas, ela queria que tivesse tudo o que Gilbert mais apreciava, pois, naquela noite, tendo seu marido de novo em casa, a sorte estava lançada.
GILBERT E ANNE
Gilbert chegou ao hospital sentindo-se entre empolgado e preocupado, pois não sabia ao certo o que Anne pretendia com aquele jantar. Será que ela pensava em fazer as pazes, por isso arranjara aquilo como pretexto para tentar uma aproximação com ele novamente? Seria interessante ver sua ruivinha geniosa tentar de tudo para agradá-lo, quando apenas uma palavra dela bastaria para que acabassem com aquele inferno interior que ambos estavam vivendo, mas por capricho de sua esposa do que por vontade própria dele. Por que que duas pessoas que claramente se amavam tinham que ficar separadas por tempo indefinido? Era só Anne dizer que o perdoava, e ele voltaria para ela no mesmo instante, e assim ela não precisaria ter todo aquele trabalho para que Gilbert aceitasse a dividir o mesmo teto que ela novamente.
Porém, se ela queria fazer as coisas do jeito dela, ele não iria estragar seus planos, pois no fundo estava até gostando daquele encontro que Anne promovera, fingindo que era apenas algo casual, quando ambos sabiam que nada que acontecia entre eles era sem sentido. Anne queria algo com aquele jantar, assim como Gilbert também desejava, restava saber se os seus desejos estavam indo na mesma direção.
A ala de oncologia estava quase deserta àquela hora, a não ser por alguns pacientes que faziam suas caminhadas ocasionais pelos corredores, respirando um pouco de ar fora de seus leitos diários. Quando Gilbert entrou no dormitório de Brian, o menino tinha os olhinhos presos na televisão, onde um desenho animado tinha toda a sua atenção. O rapaz parou na porta, e o observou por alguns instantes satisfeito em ver que os cabelos já tinham crescido bastante, cobrindo toda a cicatriz da cirurgia. Seu rosto estava corado, e ele também já havia ganhado algum peso, e graças à sua excelente recuperação, sua aparência era de um garoto normal da sua idade. A mãe dele estava entretida com uma revista, e levantou a cabeça assim que viu Gilbert entrar.
- Bom dia, Dr. Blythe. - ela disse sorridente, era nítido seu alívio nos últimos dias, ao ver seu filho sem aquela palidez doentia e as dores de cabeça que eram sintomas característicos da doença que ele sofrera por quase um ano, o que fez Gilbert pensar em seus bebês, e ponderar que tudo o que os pais poderiam desejar era o bem estar de sua prole.
- Bom dia. Como está nosso garotão? - Gilbert disse passando as mãos pelos cabelos castanhos do menino.
- Está bem. Tem se alimentado e dormido bem, e ontem a enfermeira o levou para tomar um pouco de ar lá fora. - A mãe dele contou animada, e Gilbert se voltou para o menino que o olhava com curiosidade e disse:
- E ai, Amiguinho? Pronto para ir para casa
- Sim! - ele respondeu com os olhos brilhando, sorrindo de orelha a orelha.
- Muito bem. Estou te dando alta e hoje mesmo já pode para casa com sua mamãe.
- Oba! - o menino gritou feliz, abraçando a mãe que retribuiu o abraço, e com os olhos marejados, ela disse para Gilbert baixinho:
- Obrigada. - Gilbert apenas sorriu, sentindo seus olhos lacrimejarem também, ao mesmo tempo em que se lembrava de Sarah, e se sentia em paz por pensar o quanto a amiga ficaria feliz com aquela vitória significativa contra o mesmo mal que lhe roubara a vida.
- - Dr. Blythe. Aquela moça ruiva que veio com o senhor uma outra vez já teve os bebês? - Gilbert olhou para o garotinho surpreso por ele ainda de se lembrar de Anne.
- Não, ainda faltam alguns meses.
- Que pena, eu queria muito ver os bebezinhos ruivos. - o garotinho falou decepcionado por não poder realizar seu desejo.
- Brian, nós nem sabemos se os bebês vão ser ruivos. - A mãe do menino disse rindo.
-Ah, mas, aquela moça tem um cabelo tão bonito. Não seria legal se os bebezinhos também fossem ruivos? - Brian perguntou olhando diretamente para Gilbert que respondeu:
- Concordo com você. Acho que seriam lindos, mas, vamos ter que esperar que eles nasçam para que possamos comprovar se serão ruivos ou não. - Gilbert respondeu.
- Mas, eu não vou mais estar aqui. - Brian pareceu ficar triste, e para alegrá-lo, o rapaz disse:
- Vou pedir para sua mãe me dar seu endereço, pois assim que nascerem, vou te mandar uma foto, está bem?
- Que legal! - o garotinho pareceu se animar de novo, deixando Gilbert também feliz.
- Bem, vou deixar você com sua mãe para arrumar suas coisas e se despedir das enfermeiras.
- Obrigada, Dr. Blythe. Por tudo. O senhor salvou a vida do meu filho, não tenho nem como agradecer por esse milagre. - A mãe do menino disse, dando um abraço em Gilbert.
- Eu é que agradeço pela confiança. E espero que daqui para frente Brian possa apenas colecionar lembranças felizes. - o jovem médico disse sentindo-se gratificado pela felicidade da mãe e filho.
- Eu também espero, e vou orar para que seus filhos nasçam saudáveis e lindos.
- Obrigado. Agora preciso ir ver outros pacientes. Façam uma boa viagem de volta para casa.
- Obrigada. - A mãe respondeu, e Gilbert se encaminhou para os outros quartos, onde vários pacientes o aguardavam com tão boas notícias como aquela que acabara de dar a Brian, infelizmente nem todos tinham a mesma sorte.
Mais tarde em seu consultório, Gilbert ainda pensava no garotinho e sorria feliz por sua vitória naquele caso. Era a primeira vez em tempos que se sentia satisfeito com seu trabalho. Em um mundo onde poucas conquistas eram protagonizadas todos os dias, cada pequeno sucesso que era alcançado era uma dádiva a ser comemorada, e ele o faria no dia seguinte junto om Anne. De repente, aquele jantar viera a calhar, pois Anne ficaria contente por ele querer compartilhar com ela aquela alegria, depois de tantas tristezas que sua ruivinha amargara junto com ele, seria bom ter algo diferente para contar a ela para variar.
- Está muito ocupado? - Daniel perguntou assim que entrou no consultório de Gilbert.
- Não, por que? - Gilbert perguntou olhando para o amigo que parecia estranhamente nervoso.
- Eu queria te contar uma coisa.
- É algo sério?
- Para mim é sim. - Daniel disse, colocando as mãos no bolso, e logo continuou:- Vou pedir a Gabriela em casamento.
- Ei, já não era sem tempo. É por isso que está nervoso? - Gilbert perguntou, achando graça no comportamento do amigo,
- Sim. - ele confirmou suspirando.
- Não devia. Gabriela te adora e não vai recusar seu pedido.
- Será? - Daniel perguntou cheio de dúvida.
- Vai por mim. Ela vai dizer sim. - Gilbert disse tentando injetar um pouco de ânimo no amigo.
- Eu espero que esteja certo, pois eu já comprei o anel. - ele suspirou mais uma vez. - E você e Anne? Se acertaram?
- Não, mas, acho que estamos a caminho disso. Ela me convidou para jantar no apartamento amanhã, e espero que possamos conversar e resolver tudo. Não aguento mais ficar longe dela e dos bebês. - Gilbert disse em um desabafo.
- Aquela garota te ama demais para ficar muito tempo longe. Talvez essa semana que ficaram afastados a tenha feito pensar melhor.
- Espero que sim. - Gilbert disse pensativo.
- Ei, onde está o cara que agora a pouco estava me ajudando com palavras de otimismo? - Gilbert sorriu meio sem jeito e respondeu.
- Acho que é mais fácil falar do relacionamento de outra pessoa, e dar conselhos do que fazer isso comigo mesmo.
- Tenha fé. Ela vai voltar para você. A história de vocês é muito linda para que fiquem separados assim.- Daniel disse, dando um tapinha amigável no ombro do rapaz.
- Vou tentar me lembrar disso quando estiver jantando com ela amanhã. Quando vai fazer o pedido a Gabriela?
- No sábado. Não vamos trabalhar, então, eu pensei em leva-la em algum lugar romântico e falar com ela sobre isso. - Daniel disse, voltando a ficar nervoso.
- É uma ótima ideia. Espero que segunda-feira tenhamos boas novidades.
- Tomara que sim. - Daniel respondeu pensativo, depois olhou para Gilbert que o observava com atenção e então fez o convite:- Ei, Blythe. Já que estamos no mesmo barco, que tal uma pausa para o café?
- Vamos lá, estou precisando de cafeína. - Gilbert disse, se levantando da onde estava sentado e seguindo Daniel até a sala dos médicos.
Quando terminou o expediente naquele dia, Gilbert foi direto para o hotel, onde tomou banho e jantou sozinho. Antes de ir para a cama, ele foi até a janela e viu sua estrela favorita e a de Anne, e ficou vários minutos admirando-lhe o brilho sem saber que em outro lugar uma ruivinha saudosa olhava para a mesma estrela.
O dia seguinte não demorou tanto a chegar, e Gilbert foi para o trabalho, pensando no jantar daquela noite, e como ele teria que passar o dia todo no hospital esperando ansioso o momento de ir para casa. Enquanto isso, Anne rodava todas as sessões do supermercado perto do apartamento, e comprava com cuidado todos os ingredientes que usaria no preparo do jantar, Era verdade que poderia comprar toda comida pronta, mas, ela decidira que cozinharia tudo o que fosse servir naquela noite, pois ela pensava que seria mais significativo dessa maneira.
Depois de pagar pelas compras e dar o endereço para a entrega, ela decidiu que iria dedicar um pouco de tempo a si mesma, por isso, ela foi até o salão onde estava acostumada a fazer suas sessões de limpeza de pele, e passou boa parte da manhã se preparando para aquela noite. Além de fazer a unha, uma sessão de massagem, ela aproveitou para cortar o cabelo em um corte bem moderno, do qual gostou imensamente.
Anne voltou para casa na hora do almoço, e depois passou o resto da tarde com seus preparativos para aquela noite. Ela cozinhou strogonoff ao molho branco, que era o prato favorito de Gilbert, arroz para acompanhar e batatas gratinadas. Como sobremesa, ela fez um pudim de leite que aprendera com Marilla, e para beber teriam suco de uva, pois ela não podia ingerir nada alcóolico por conta da gravidez. Se Gilbert quisesse algo mais forte, ela tinha vinho branco na geladeira, que guardava para ocasiões especiais. Perto das seis, ela foi tomar banho, se vestiu e se maquiou de maneira simples, pois a noite pedia algo singelo e confortável. Às sete em ponto, a campainha tocou, e Anne sorriu, pois sabia que era Gilbert com sua pontualidade britânica, outra qualidade que apreciava em seu marido,
Ao abrir a porta, ele a olhou da cabeça aos pés, dando especial atenção aos seus cabelos, mas não disse nada. Porém, ela pôde observar que ele aprovara seu vestido verde escuro de mangas compridas, de decote redondo, justo no busto, e que caía soltinho até seus joelhos, de modo a deixar a barriga dela de grávida confortavelmente destacada. O olhar dela também passeou pela figura máscula de seu marido, que para sua completa perdição, vestia uma camisa branca, a qual deixara os primeiros botões abertos onde se podia ver sua pele morena coberta de pelos macios e escuros, os quais Anne sabia bem qual era a sensação de tocar, calça jeans, como não podia deixar de ser, mas, dessa vez era preta para contrastar com a cor da camisa, e os cabelos estavam molhados, o que queria dizer que seu marido acabara de sair do banho.
- Oi, querida. - ele disse e ao beijá-la no rosto, o cheiro inconfundível da loção de barbear dele encheu suas narinas, fazendo com que Anne desejasse que ele ficasse por mais tempo perto dela, para que assim pudesse matar a saudade que tinha daquele odor fresco de hortelã com menta.
- Oi, Gil. Como foi seu dia? - ela perguntou assim que ele entrou.
- Bastante ocupado, mas proveitoso. E o seu?
- Até que me diverti cozinhando para hoje à noite. - ela disse observando os olhos dele que estavam um tipo de castanho esverdeado naquele dia.
- Você fez o jantar? - ele perguntou surpreso.
- Sim. Você sabe que gosto de cozinhar quando tenho a oportunidade Prefere comer aqui na sala ou na cozinha?
- Acho que na cozinha é mais confortável. - ele disse sem tirar os olhos da figura dela, enquanto pensava com seus botões como ela podia ter ficado mais bonita de um dia para outro.
- Então, venha comigo. - Gilbert a seguiu até a cozinha, e a maneira como ela falou com ele, parecia que o rapaz era realmente uma visita, e não o marido dela, mas, ele não se aborreceu com isso, pois entendeu que as circunstâncias em que as coisas estavam eram que forçava a ambos a se tratarem até com certa formalidade.
Ao entrar na cozinha, ele olhou com admiração para a mesa posta por Anne, onde ela colocara toda a comida que tinha preparado, e pelo que ele pôde notar eram todos os seu pratos favoritos. O que o fez se lembrar envergonhado de que não havia trazido nada para contribuir com o jantar tão caprichado que sua esposa estava lhe servindo.
- Desculpa. Eu sei que devia ter trazido alguma coisa, mas, me esqueci totalmente. - ela deu-lhe um daqueles sorrisos encantadores e respondeu.
- Não tem importância. A sua presença é tudo o que preciso. - ele fingiu não notar o jeito carinhoso com que ela disse essas palavras, e começou a se servir da comida, assim que se sentaram à mesa.
Eles tiveram uma conversa neutra por algum tempo, mas, não deixavam de se olhar um só minuto. Anne sentia um arrepio cada vez que Gilbert deslizava o olhar por todo o seu rosto, e o rapaz se sentia incapaz de resistir a beleza de sua mulher que parecia resplandecer aquela noite com seu figurino simples, e o novo corte de cabelo. Para quebrar o silêncio que às vezes recaía sobre eles, deixando-os mais ainda conscientes um do outro ele disse:
- Brian teve alta hoje. - isso fez Anne olhar para ele com seus olhos muito expressivos, enquanto espetava um pedaço de batata com seu garfo e comentar:
- Fico feliz om isso. Ele é um garotinho muito doce.
- Ele perguntou de você e dos bebês. - Gilbert disse com um sorriso.
- É mesmo?
- Sim, ele queria saber se já tinham nascido, e ficou muito desapontado quando eu falei que ainda faltavam alguns meses para que eles nascessem. Como ele quer muito conhecê-los, eu prometi enviar uma foto após o parto.
- E ele se recuperou mesmo? - ela perguntou sabendo o quanto aquele caso fora importante para Gilbert.
- Completamente. - ele disse, mostrando-se imensamente feliz ao dizer isso.
- Eu sabia que você conseguiria. Parabéns, meu amor. - ela disse, e Gilbert se sentiu emocionado ao ouvi-la falar assim. De todas as pessoas, o orgulho de Anne por ele era o que mais lhe importava.
Depois da sobremesa, eles foram para a sala, e enquanto Gilbert procurava um cd de música para deixar o ambiente mais agradável enquanto conversavam, Anne foi até a janela, e olhou para a noite de lua cheia que parecia iluminar a cidade inteira de Nova Iorque. E foi nesse momento de intensa contemplação que seus olhos foram parar em um árvore em frente ao apartamento, e sentiu um calafrio em sua nuca ao ver a figura de Peter Bells encostado nela, e olhando diretamente para Anne. Um piscar de olhos fez a figura dele desaparecer, mas, ela sabia que não fora ilusão de ótica dessa vez. Ele estivera mesmo lá, e Anne sabia que o confronto estava próximo. Ela sabia que teria que encará-lo uma hora ou outra, pois era isso que ele estava planejando. A polícia não o pegara até aquele momento, o que indicava que ele era bem esperto, e ela precisava estar preparada caso o pior acontecesse. Era óbvio que queria evitar aquilo o máximo que pudesse, mas, ela parecia sentir nos ossos que não poderia fugir nem escapar daquele monstro para sempre.
- Anne, algum problema? - Gilbert perguntou ao ver a figura dela rígida na janela.
- Não. - ela respondeu, pois não queria estragar aquela noite com Gilbert por conta de Peter. - Dança comigo. - ela pediu, pois sabia que ali nos braços de seu marido ela estaria segura. - Gilbert a olhou um tanto surpreso pelo seu pedido, mas, não recuou. Ele estendeu a mão, e ela a segurou, e logo estava nos braços dele dançando aos sabor de uma música lenta e romântica. Ela encostou sua cabeça no peito dele, e Gilbert intensificou o abraço, colando seus corpos.
Fazia tanto tempo que não dançavam assim, que Anne suspirou várias vezes, deixando seu marido saber o quanto sentia falta do que estavam fazendo naquele momento. O perfume dele, o jeito que ele se movia com ela, fazia querê-lo mais próximo por isso, ela se agarrou ao pescoço dele, sentindo as batidas do coração de Gilbert se acelerarem, e ela sorriu por descobrir de forma sutil que aquele momento estava afetando-o também.
- Adorei o corte de seu cabelo. - ele disse, e Anne se arrepiou inteira ao ouvir-lhe a voz rouca no ouvido. - Ficou mais linda do que já é.
- Obrigada. - ela respondeu de olhos fechados, enquanto Gilbert dava pequenos beijos em seu ombro, em seu pescoço, depois colou a face de ambos, e ela sentiu-lhe a barba por fazer arranhando sua tez suavemente.
Anne se afastou um pouco, porque precisava olhar nos olhos dele, e deixou que cada sentido seu se enchesse daquela perfeição masculina que não possuía uma falha sequer nas linhas do rosto, no formato do maxilar, na covinha em seu queixo, e logo, seus olhos estavam presos naquela boca que ela queria tanto beijar, mas, estava esperando que Gilbert o fizesse antes dela, como ele parecia hesitar, ela simplesmente aproximou mais o rosto de ambos, e quando estava quase roçando seus lábios nos dele, ela o ouviu dizer:
- Anne:- e era como se protestasse pelo que ela iria fazer.
- Você não quer? - ela disse encarando-o fixamente.
- Você sabe que sim, só não quero que se arrependa depois. - ele disse com a respiração celerada.
- Eu só vou me arrepender se não te beijar. - ela respondeu, e não esperou mais nem um segundo para fazer o que tanto queria.
E foi como uma explosão de fogos de artífício dentro dos dois, celebrando aquele momento tão esperado. Suas bocas se moviam quase insanamente uma sobre a outra, não deixando espaço para mais nada a não ser sentir. Um calor insuportável tomou conta de seu corpos, como se chamas vivas o consumissem sobre suas peles, e quando Anne, jogou sua cabeça para trás dando total acesso a Gilbert de se pescoço, ele parou de beijá-la e disse:
- É melhor paramos por aqui. Eu preciso ir para o hotel Já está tarde. - ele estava perdendo o controle e Anne não estava colaborando. Por mais que quisesse aceitar o que ela estava lhe oferecendo, ele não quis arriscar o olhar dela cheio de arrependimentos depois.
- Por favor, não vá. Fique aqui comigo. Eu e os bebês precisamos tanto de você. - ela suplicou, tocando o rosto dele com carinho.
- Anne, você sabe os meus termos. É isso ou nada. – ele disse, tendo que lutar com todas as suas forças para calar seu cérebro que gritava em sua cabeça para fazer amor com ela de vez.
- Eu sei, mas, não quero ficar sozinha essa noite. Se não por mim, fique pelo menos pelos bebês. - ela disse com a voz suave, e dessa vez ele não pôde recusar, pois inteligentemente Anne usara os bebês para convencê-lo a ficar, e ela sabia que ele nunca diria não a isso.
- Está bem. - ele disse por fim.
Ela o puxou pela mão em direção ao quarto, e Gilbert a fez parar no corredor e perguntar.
- Aonde pensa que está me levando?
- Para o nosso quarto.
- Eu não vou dormir com você Anne. Vou ficar no quarto de hóspedes. Você ainda não me perdoou, se lembra? - o olhar frustrado dela fez Gilbert rir por dentro, pois de certa forma e sem planejar aquilo. ela estava bebendo do próprio remédio que o fizera tomar na semana anterior quando ele quisera ficar com ela, e a ruivinha batera a porta na sua cara.
- Esta' bem- ela disse. - Você tem tudo o que precisa lá.
- Obrigado. Boa noite.
- Boa noite- ela disse marchando para o próprio quarto.
Uma vez lá dentro, ela trocou de roupa, fez suas higienes pessoais, esse deitou em sua cama, rolando de um lado para outro inconformada por estar naquela cama enorme, sem Gilbert. Foi então que uma luz se acendeu em sua cabeça, e ela se levantou, indo em direção ao quarto de hóspedes. Ela bateu na porta, e quando Gilbert a abriu olhando interrogativamente para ela. Anne disse;
- Bem, você disse que não poderia dormir comigo, mas, não falou nada em eu dormir com você. Então, aqui estou eu.
- Anne...- Gilbert ia contestar o que eu ela dissera, mas, ela colocou as mãos nos lábios dele e disse:
- Por favor, querido. Me deixa dormir com você? - ela deu um passo colocou uma mão no peito dele, sentindo as emoções dele escorregarem por seus dedos por meio das batidas do coração dele.
- Está bem. - ele cedeu. E assim, a puxou em direção a cama com suavidade, e se deitaram lado a lado como na outra noite, mas não tão distantes.
Assim, ela colocou sua cabeça no ombro de Gilbert e disse baixinho:
- Eu te amo, Dr. Blythe.
- Eu também te amo, Sra. Blythe.
E assim, enroscados no corpo um do outro, eles adormeceram, sabendo em seus corações que a magia do amor os tinha capturado outra vez.
-
Ps: Corte de cabelo da Anne.
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