Capítulo 93- Uma longa noite
Olá, espero que gostem deste capítulo e me deixem seus comentários. Beijos. Ps: Escutem a música, ela combina demais com essa fase do nosso casal.
ANNE
Anne se levantou naquela manhã sentindo as consequências da tensão do dia anterior em seu corpo. Não havia um só músculo que não estivesse dolorido, portanto, sair da cama foi mais difícil do que imaginara, pois a sensação de que cairia doente estava nítida em cada gesto seu, mas ela resistiu bravamente à vontade de dormir o dia inteiro.
Assim, ela saiu do quarto, dando uma espiada no corredor, tentando perceber a presença de seu marido por ali que não parecia fazer nenhum barulho dentro do apartamento. No entanto, quando deu dois passos em direção à cozinha, ela estacou de repente ao ver uma mala perto da porta, e como se surgisse do nada, Gilbert apareceu com um casaco em uma das mãos, e na outra, ele carregava uma pasta cheia de documentos.
- O que está fazendo, Gil? - ela perguntou assustada ao vê-lo vestido tão cedo, e nem era hora de ele ir para o trabalho.
- Eu te disse, eu vou para um hotel. - Ele respondeu com cautela estudando-lhes as feições, enquanto ela deixava escapar com os olhos lacrimejando:
- Você vai me deixar?
- Não estou te deixando, Anne. Acho apenas que precisamos de espaço para descobrirmos o que realmente importa e desejamos. Não faz sentido eu ficar aqui desse jeito. - Ele disse colocando as mãos no bolso do seu casaco e olhando para os sapatos.
- Você não precisa ir. Aqui é sua casa. - Ela respondeu, tentando achar uma coerência naquilo, mas não encontrava nenhuma. A única coisa que martelada em sua cabeça era que Gilbert estava saindo do apartamento, e a sensação de vê-lo ir sem ela era terrivelmente desoladora
- Anne, aqui nunca foi minha casa de verdade. Você comprou esse apartamento com seu próprio dinheiro, e eu não tive participação nenhuma nisso. Eu vim para cá, porque íamos nos casar, e você estava tão empenhada em transformar esse lugar em nosso lar, que eu não me importei de abrir mão do meu canto para morar aqui com você. Mas, agora em vista dessa situação toda, eu preciso de um lugar só meu.
- Você tem um lugar só seu aqui, foi por isso que eu decorei e mobiliei aquele escritório para que você pudesse se sentir em casa.- ela disse apertando forte os punhos, enquanto sentiu suas estruturas emocionais balançarem perigosamente.
- Ainda continua sendo seu. - Ele retrucou calmamente.
- Você é meu marido, e o que é meu é seu também. - ela tentava desesperadamente convencê-lo daquilo, porque não suportava em ver Gilbert indo embora da sua vida.
- Nós casamos com separação de bens , Anne, então, o que acabou de dizer não tem valor legal nenhum.- ele disse olhando-a com seus olhos caramelos que sempre tinham algo a lhe dizer, mas naquele momento estavam tão frios.
- Que se dane a lei. Você é meu marido, e eu é quem decide o que é legal ou não.
- Até quando, Anne, eu serei seu marido? Pois a julgar pela última semana, você não tem me olhado muito dessa maneira.- ela apertou as mãos uma contra a outra para conter o nervosismo e falou:
- Por favor, não vá.
- Você me perdoou, Anne?- ela queria dizer que sim, mas ainda estava magoada, ainda tinha a cena do consultório dele em sua cabeça, então, preferiu ficar quieta do que falar uma inverdade que acabaria com o pouco que ainda tinham.
- Eu entendi. - Ele disse tristonho. - Então é melhor que eu vá embora, pois preciso de um tempo longe daqui, longe dessa confusão toda, e longe de você. - Ele disse aquilo da maneira mais serena possível, mas Anne não pôde deixar de sentir como se um punhal estivesse sendo fincado em seu coração. Não conseguiu responder aquilo, porque tentava impedir que as lágrimas rolassem, mas mesmo com todo o seu esforço, algumas escaparam por suas pálpebras, fazendo Gilbert se aproximar, beijá-la na testa e dizer:
- Por favor não chora. Não estou indo muito longe. O hotel que escolhi fica bem perto daqui. Eu prometo que venho vê-la todos os dias de manhã, pois vou querer saber como você está fisicamente, e também vou querer ter notícias dos nossos bebês.-
Anne assentiu, pois não havia mais nada que pudesse dizer para fazer Gilbert ficar. Ele parecia decidido, e ela não iria ficar no caminho dele. Mas, dentro dela, uma voz gritava em seu ouvido as palavras: " Diga a ele que precisa dele" Diga antes que seja tarde".
Gilbert pegou a mala, sorriu para ela antes de dizer:
- Fique bem e cuide dos bebês.- a voz continuava gritando dentro da cabeça dela como um disco riscado, mas, quando percebeu, Gilbert a estava beijando no rosto , e se encaminhando para a porta por onde saiu deixando Anne completamente sem chão.
Ela se encostou na porta, escorregando até o ladrilho frio onde abraçou sua barriga, e disse chorando baixinho:
- Eu perdi o papai de vocês.
Anne não queria acreditar que aquilo estava acontecendo. Era dor demais para o seu coração. Ela levantou a cabeça e olhou para o apartamento imenso, sentindo o silêncio pesar ao seu redor. Não havia mais o riso de Gilbert, suas brincadeiras bem humoradas, o café da manhã compartilhado, as doces alegrias daqueles abraços nos quais ela amava encostar sua cabeça e descansar. Aquele era o seu mundo, o único no qual era feliz. Anne comprara aquele apartamento por que queria construir sua família ali. Ela se lembrava do quanto Gilbert ficara bravo, porque ele pensar a que ela queria ficar longe dele, mesmo assim, ela o trouxera ali, pois tinha quase certeza de que no momento em que ele pusesse os pés dentro do apartamento, Gilbert se apaixonaria pelo lugar assim como ela.
E de fato aquele milagre acontecera, e ambos passaram a viver ali como um verdadeiro casal, e quando o casamento acontecera, aquele espaço gigantesco já era um lar, onde John e Sarah seriam recebidos e amados como os cristais lapidados da casa.
Anne acariciou-a barriga de novo, pois foi isso que lhe restou, seus dois filhinhos eram seu único ponto de apoio dentro de cada cômodo daquele apartamento que antes transpirava harmonia e amor, e agora somente uma tristeza vazia tomava conta das paredes brancas daquele castelo solitário. Anne se sentia como uma princesa consorte , sem seu príncipe , sem sua coroa, sem seu trono, dentro de um reino onde tudo fora perdido em uma guerra de sentimentos, onde o principal jogador desistira e jogara a toalha dando as costas a todos os sonhos a que construíram ali dentro.
Era lógico que não estava se isentando da culpa. Ela tinha muita responsabilidade na ida de Gilbert para um hotel, ao invés de ficar ali com ela, pois Anne o tratara como um mero conhecido por dias, mas, ela não pensou que ele a deixaria ali com seus filhos sozinha para cuidar de si mesma. Ele dissera que viria de manhã pra vê-la, mas, diante das circunstâncias, ela poderia confiar que ele realmente cumpriria sua promessa?
Anne se levantou do chão e foi para a cozinha, abraçando os próprios ombros, tentando não prestar atenção ao barulho dos próprios passos que ecoavam pelo apartamento, fazendo-a se lembrar que estava completamente sozinha. Ela precisava se alimentar, ou acabaria agravando seu quadro de anemia, mas, o pior era que o enjoo persistia, levando seu apetite todo embora, ainda assim tinha que insistir, não queria ficar doente, ou pior, prejudicar os seus bebês. Sem muito ânimo, ela abriu a geladeira para preparar a sopa nutritiva que precisava comer, e seus olhos arderam ao ver todos os potinhos prontos que ela teria apenas que esquentar no microondas. Gilbert deixara a refeição de quase uma semana pronta, e diante daquele cuidado dele, ela começou a chorar, e continuou vertendo suas lágrimas, até quando estava sentada na bancada consumindo cada alimento daquele dia.
Depois que terminou de comer, ela voltou para a sala, e ligou a televisão apenas para companhia, pois não tinha vontade de assistir nada, pensando desconsolada o que faria sozinha nos quinze dias de licença que o médico do estúdio lhe dera. Agora que Gilbert não estava ali, Anne não tinha muita coisa para fazer, e ter apenas o silêncio como seu companheiro, e ouvinte passivo, a faria enlouquecer em três tempos. Aquilo não era uma escolha, e sim uma necessidade, e precisava obedecer tanto a dieta que Gabriela lhe prescrevera quanto as ordens de repouso do outro médico, assim, sua vida recairia em um tédio que a deixaria deprimida com certeza.
Como uma prece ouvida, a campainha tocou, e Anne correu para atender, pois a ideia de ter alguém com quem conversar a deixou mais animada do que antes. Ao abrir a porta, ela se deparou com Cole, que estava carregado de pacotes e dizia eufórico:
- Oi, me amor. Desculpe vir até aqui sem avisar, mas, eu saí do aeroporto e pedi para o táxi me deixar aqui. Você não faz ideia de todos os mimos que eu trouxe para os meus sobrinhos queridos. - O rosto simpático do amigo, e aquele sorriso que nunca abandonava suas feições bonitas, fez as pálpebras de Anne tremerem, assim, como os soluços romperam a barreira do seu silêncio. Ela atirou os braços ao redor de Cole, enquanto ele perguntava preocupado:
- Meu amor, o que aconteceu? Por que está chorando assim? - sem obter resposta porque Anne continuava a chorar, ele a levou até os sofás enquanto deixava os pacotes no chão da sala, e se sentou com ela na poltrona mais próxima, pois ele queria entender a razão de tantas lágrimas.
- Vamos, me conte, Anne. Seu irmão está aqui. - Entre soluços, ela contou o que a estava magoando tanto desde que seu marido saíra pela mesma porta que Cole entrara minutos atrás.
- O Gilbert me deixou.
- Como assim? - Cole perguntou espantado por ouvir algo que nunca pensara que aconteceria. Por isso, ele insistiu que Anne lhe contasse tudo, porque queria entender por qual razão, Gilbert tinha saído de casa, depois de Cole ser testemunha do amor intenso entre os dois. Chorando feito criança, ela contou o que acontecera no consultório de Gilbert, e todos os agravantes que se sucederam depois. Quando terminou seu relato, a frente de sua blusa estava encharcada de lágrimas, assim como a camisa de Cole, na qual ela deitara a cabeça algumas vezes procurando consolo, durante a sua quase interminável narrativa. O amigo segurou suas mãos suavemente e disse:
- Anne, o que esperava que Gilbert fizesse depois de tudo isso que me contou? Você o hostilizou dentro da própria casa, o afastou de você, o obrigou a dormir no quarto de hóspedes, e repeliu qualquer tentativa de um contato mais íntimo.
- Eu estava magoada, e sequer podia olhar para ele sem que me lembrasse de Denise Williams.-ela tentou se justificar, mas, como sempre acontecia quando Anne escolhia o lado errado para defender, Cole fazia questão de lhe apontar onde ela estava falhando.
- Ou seja, mais uma vez você deixou seus ciúmes falar por você. Gilbert te contou o que aconteceu, e ainda assim você preferiu se comportar como criança, a dar a ele a chance de se desculpar. Ele pode ter errado em não ter falado antes do assédio de Denise, mas, o que me espanta é você pensar que ele não fez isso, porque estava gostando das atenções dela. Pois, eu vou te contar uma coisa que você está cansada de saber. Gilbert Blythe te venera desde a primeira vez que botou os olhos em você, e se em sete anos que ficaram separados, ele nunca te esqueceu, o que a faz pensar que agora que estão casados, e com um casal de gêmeos a caminho, ele te trairia com outra mulher? – Anne não respondeu, pois sabia que o amigo estava certo, só não queria reconhecer. - E sabe do que mais? Ele fez certo em ir para um hotel, já que como ele disse, vocês dois precisavam de espaço para poderem entender seus sentimentos, o que não aconteceria se ficassem dentro desse apartamento trocando farpas.
- E se ele não voltar mais? - Anne disse revelando seu maior medo.
- É lógico que ele vai voltar. Gilbert não te abandonou, Anne. Ele se afastou por um tempo para pensar. Dê esse tempo ele, e tudo vai ficar bem. - Cole aconselhou enquanto a fazia deitar em se colo.
- Eu preciso tanto dele.- Anne confessou, sentindo em suas entranhas aquela verdade.
- E por que não disse isso a Gilbert antes de ele ir para o hotel?
- Não sei. - Ela respondeu.
- Eu sei, você é tão orgulhosa, Anne. É emocionalmente dependente de Gilbert. Mas, prefere morrer a confessar que estou certo. – Anne sorriu de leve ao constatar que mais uma vez Cole estava certo. - Bem, como você não tem Gilbert Blythe para matar essa saudade que está sentindo, que tal se contentar com seu velho amigo Cole? Posso não ter mãos de cirurgião, mas garanto que sou muito bom no cafuné. – Anne concordou com um aceno de cabeça, e enquanto Cole fazia um carinho em seus cabelos, Anne fechou os olhos e desejou que Gilbert estivesse sentindo a falta dela tanto quanto ela dele.
GILBERT
Gilbert atirou-se na cama, assim que entrou em seu quarto de hotel. Ele estava exausto, pois trabalhara feito louco, mas sabia que era por sua própria culpa. Ele assumira todos os casos que conseguiu em seu consultório, e na ala de Oncologia, pois não queria pensar que quando entrasse na suíte do hotel que alugara por um mês, Anne não estaria lá para servir-lhe o café que acabara de passar como ele gostava, e nem poderia brincar com seus bebês na barriga dela. Aquela falta que sentia dela já durava uma semana quando ele ainda estava no apartamento, e naquela manhã quando decidira vir para o hotel, ele sabia que seu coração tinha ficado para trás.
Ele ficara destruído ao vê-la chorar quando ele partiu, pois, ele tinha a sensação de estar revivendo a época em que fora para a Alemanha, e Anne não quisera ir com ele. Ela chorara da mesma forma que naquela manhã, dizendo que ele a estava abandonando e que seu trabalho sempre vinha em primeiro lugar em tudo. Gilbert fora egoísta naquela época, e mesmo que tivesse agido por uma boa causa, ele sabia reconhecer que tomara como certo o amor de Anne, e achara que ela o esperaria pelo tempo que fosse necessário, e quando finalmente voltara, a vida lhe dera uma bela lição.
Contudo, era diferente agora, pois fora ela que o a afastara, e Gilbert decidiu sair de casa porque não aguentava mais a distância entre eles, a frieza, e a dor nos olhos dela, sua relutância em deixa-lo chegar perto, seu jeito de não encará-lo nos olhos o estava matando por dentro. Ele precisava respirar, pois estava sufocando, como se toda a decepção de Anne com ele, e seus olhares acusadores fossem uma corda em seu pescoço, apertando cada vez mais o laço. Como foi que chegaram a isso? Nesse enorme abismo entre eles quando nenhum dos dois queria isso? Havia tanto amor em seus corações, mas, nem isso impediu que ambos fossem quebrados no processo.
Gilbert olhou pela janela que ele fizera questão de abrir quando chegara ali para arejar o ambiente, e percebeu que estava escurecendo, o que o fez automaticamente pensar se Anne se alimentara direito naquele dia. Isso era uma fonte de grande preocupação para o rapaz que sabia como sua esposa agia em casos de tensão, esquecia de se alimentar, e só voltava a se lembrar quando sua pressão arterial chegava no fundo o poço. Anne não fazia isso por mal. Era apenas seu emocional que travava suas ações, e a fazia agir de um jeito impensado, bem compreensível, se ele parasse para pensar, pois ela sempre fora temperamental, esquentadinha, e deixava se levar por sua raiva ou ciúme.
Entretanto, nem tudo isso o fazia duvidar do amor dela, pois ele pensava que ela estava se comportando assim justamente por amá-lo e não saber lidar com o fato de que outra mulher havia se interessado por ele, mesmo Gilbert lhe dando certeza absoluta de que a tal mulher em questão lhe passava tão despercebida quanto um móvel qualquer do seu escritório, e do jeito que ele era louco por Anne, qualquer mulher seria uma cópia barata de sua mulher espetacular.
Uma saudade imensa tomou conta do peito dele, Gilbert pegou o celular e discou o número dela antes que mudasse de ideia, rezando para que ela atendesse, pois somente o som da voz dela poderia acalmar sua carência dela, e ele conseguiria dormir com mais facilidade. O telefone tocou duas vezes, até que ele ouviu uma voz do outro lado que disse:
- Oi, Gilbert. É o Cole. Imediatamente, Gilbert sentiu seus sentidos exaustos se posicionarem em estado de alerta, pois se Cole estava no apartamento era porque Anne não estava bem. Ela sempre o chamava quando estava em meio a uma crise, e logo ele se culpou por não ter ficado com ela quando Anne lhe pediu que não fosse embora naquela manhã.
- O que aconteceu, Cole? A Anne está bem? – Gilbert perguntou se sentando na cama, porque se sentia inquieto demais para ficar deitado na posição que estava anteriormente.
- Calma, Gilbert. Ela está melhor, mas, quando eu cheguei aqui hoje à tarde, Anne não parava de chorar e me contou o que aconteceu. Eu sinto muito, pois sei o quanto vocês se amam. Isso não devia estar acontecendo. - O rapaz se lamentou.
- Obrigado, Cole. Por estar aí com ela. Eu sei que esse papel é meu, mas, nos últimos dias, Anne pareceu ficar cada vez mais tensa com a minha presença, e achei que se desse um tempo para ela, tudo poderia melhorar.
- Você sabe que estou sempre disponível para ela. Anne é minha irmã, e eu jamais a deixaria sozinha em um momento desses. - Gilbert ficou calado um minuto, e depois voltou a dizer:
- Parece tão estúpido estarmos separados assim.- ele disse por fim.
- Então volta para casa.
- Eu não acho que Anne me quer aí. - Ele respondeu um tanto amargurado.
- Ela quer sim, só é orgulhosa demais para dizer. - Cole disse com conhecimento de causa.
- Eu só volto se ela me pedir.
-Dois cabeças duras. - Cole disse irritado com aquela teimosia, em seguida disse cheio de humor:- É por isso que são perfeitos um para o outro. - Gilbert conseguiu rir pela primeira vez naquele dia tenso, depois voltou a ficar sério e perguntou:
- Ela está comendo direito?
- Está sim, não se preocupe. – O rapaz lhe garantiu.
- Ela te contou da anemia? - Gilbert perguntou enquanto se levantava da cama e ia para a janela olhar o movimento da rua.
- Ela contou sim. Não vou deixar que ela se descuide, fique tranquilo.
- Estou me sentindo culpado por ter sido impulsivo ao sair de casa. Eu devia esperar que ela ficasse um pouco mais forte para eu me decidir a isso.
- A culpa não é sua. Anne me contou tudo com detalhes, e sei que você agiu bem em favor dos dois. Ela te ama, Gilbert, mas, isso eu acho que já sabe, ou ela não teria casado com você. O problema de Anne é o ciúmes. Ela não pensa quando está enciumada, e você é o calcanhar de Aquiles dela. - Cole disse com convicção.
- Eu sei. Sempre fomos assim um com o outro. - Gilbert confidenciou, depois voltou ao seu interrogatório anterior como se não tivesse parado de fazê-lo por dois minutos:- Ela reclamou de enjoos ou algum outro mal estar? - ele perguntou ansioso.
- Anne me disse que estava um pouco enjoada, mas, não chegou a vomitar, então creio que não estava muito forte dessa vez.
- Se ela reclamar desse tipo de desconforto novamente, faça com que ela coma torrada ou bolacha de água e sal. Limonada ou picolé de limão também ajudam, e eu sempre deixo bastante dele no congelador, embora Anne sempre diz que prefere o de morango, mas, eu nunca lhe dou ouvidos.
- Pode deixar, doutor. - A risada de Cole fez Gilbert perceber o quão ridículo deveria estar parecendo ao amigo de Anne com toda aquela lista de cuidados, por isso, ele perguntou um tanto constrangido:
- Estou parecendo estúpido com toda essa preocupação, não é?
- De forma, nenhuma. Eu acho tão interessante essa coisa entre vocês. Estão separados, mas, não se desligam um do outro, e continuam a cuidar um do outro mesmo a distância. Anne tem muita sorte de ter você.
- E eu tenho muita sorte de tê-la. - Gilbert disse com a voz suave.
- Você devia dizer isso a ela, Gil. Às vezes as palavras tem um poder, que coisa nenhuma mais tem. - Cole aconselhou.
- Ela sabe o quanto é importante na minha vida. - Ele afirmou.
- Anne pode saber, mas, precisa ouvir isso de você algumas vezes mesmo assim. Eu a conheço a anos e sei o quanto carente ela pode ser. Essa coisa toda de ter sido adotada pelos Cuthberts depois de ter vivido em um orfanato por conta de uma mãe que nunca se importou em voltar, e ver como ela estava mexe, com ela ainda. Eu sei que ela nunca te falou disso, mesmo porque, seu modo de agir a respeito disso nos dá a impressão de que ela é bem resolvida sobre isso, mas, não é bem assim. Há alguns anos, ela me confidenciou que queria muito conhecer a mãe dela . Por isso, ela contratou um detetive para procurá-la sem que sua tia Amélia soubesse, porque ela seria terminantemente contra. E então, o rapaz descobriu onde a mãe dela estava morando, mas, na última hora, Anne desistiu de ir até lá, porque ficou com medo de ser rejeitada de novo, e depois nunca mais tocou no assunto, mas eu sei que ela nunca superou isso. – Ele fez uma pequena pausa e depois continuou:- Por favor, não diga a Anne que eu te contei, ou ela vai ficar muito brava comigo. Ela nunca deixou que ninguém soubesse disso, e eu sou o único que sabe dessa sua tristeza. Eu te contei apenas para que você percebesse que todo o ciúme de Anne tem fundamento. A insegurança que ela sente em diversas situações reflete bem esse lado dela que ninguém conhece , e eu espero que ao te contar sobre a mãe dela te faça encontrar um caminho que ajude aos dois a viverem esse amor tão bonito com harmonia e sem brigas.
- Obrigado, Cole. Eu realmente não sabia de nada disso.- Gilbert disse refletindo que nunca perguntara a Anne sobre seus sentimentos em relação a mãe biológica dela, pois sempre lhe fora natural pensar em Marilla e Matthew como seus pais de verdade, pois Anne era tanto uma Cuthbert de coração, que imaginá-la em outra família que não fosse aquela lhe parecia completamente sem nexo.
- Bem, agora sabe, e espero que faça bom proveito dessa informação que te passei, pois Anne precisa muito de seu amor, Gilbert.
- Ela o tem, Cole, incondicionalmente. Ela sempre o teve, mesmo quando vivia a quilômetros de mim. - Gilbert não se importou de confessar. Ele amara Anne a vida toda, por que deveria esconder? Somente ela parecia não acreditar muito nos esforços dele para mostrar-lhe o tamanho dos seus sentimentos por ela.
- Eu tenho completa certeza disso. - Cole concordou.
- Ela está aí com você? – ele perguntou louco para ouvir a voz dela, mas, Cole frustrou todas as suas pretensões quando disse:
- Anne está dormindo. Quer que eu a acorde para falar com você? - o amigo de Anne sugeriu.
- Não, deixe-a dormir. Amanhã cedo eu passo aí para ver como ela está. - Gilbert respondeu.
- Está bem, doutor. Tenha um boa noite.
- Você também. - Gilbert respondeu.
Gilbert encerrou a chamada, colocou o celular no bolso e voltou a se concentrar no ambiente lá fora que estava submerso pela escuridão. Em seguida, seu cansaço exigiu que ele tomasse um banho, e depois se deitasse na cama para relaxar. Foi o que ele fez quinze minutos depois de uma ducha rápida, e logo estava ressonando deixando o jantar que pedira na recepção momentos antes, completamente intocado por ele.
GILBERT E ANNE
Gilbert fizera uma boa corrida matinal naquele dia. Fazia pelo menos uns dois dias que não se aventurava para a vida do lado de fora de quatro paredes, pois o drama todo com Anne o havia deixado fora de foco. No entanto, aquilo tinha mudado ao amanhecer em que ele sentira que precisava sair um pouco ao ar livre para seus pensamentos confusos serem organizados dentro da sua cabeça em um arquivo permanente de bom senso.
Ele chegou no apartamento pouco tempo depois, morrendo de vontade de ver Anne, pois sua noite solitária dentro daquele quarto de hotel, que lhe provara que apesar de tudo, ele sentia a falta dela, e que aquele tempo longe no hotel seria difícil de lidar, porém, ainda assim necessário, pois aquilo tudo não era ele tentando fazer Anne entender que estava errada em relação a tudo o que acontecera, mas, sim, era a vida mostrando a ambos que aquele amor era a melhor coisa que tinham em suas vidas, e que valia muito a pena lutar para salvar esse sentimento entre eles.
Gilbert entrou no apartamento com sua chave extra, deu uma boa olhada no local, notando surpreso como já sentia falta dali. Ele nunca gostara de lugares grandes, pois lhe davam a impressão de algo totalmente impessoal e frio. Por isso, todos os apartamentos nos quais morara eram pequenos e aconchegantes, e onde sentia que a palavra lar era mais apropriada. No entanto, ele descobrira que sua teoria sobre isso estava totalmente equivocada, pois o que tornava um lugar especial e significativo eram as pessoas que moravam nele, e Anne fizera daquele espaço monstruoso um verdadeiro lar para Gilbert, para si mesma e para os bebês que estavam a caminho.
A porta do quarto não estava trancada dessa vez, e Gilbert a abriu com facilidade. Seu olhar se prendeu na pequena figura que ali na penumbra parecia menor do que já era, e ao se aproximar com seu coração batendo forte por ela, Gilbert observou enternecido que ela dormia agarrada ao travesseiro dele, mostrando-lhe com esse gesto que também sentia a falta dele, embora o rapaz duvidasse que ela lhe confessaria aquilo em sã consciência, o que o fez pensar na conversa que tivera com Cole por telefone.
Anne nunca lhe falara de sua mãe biológica. Na infância aquilo parecia um tabu que todos evitavam para não deixar a garotinha ruiva triste ou infeliz. Na adolescência , ela via os Cuthberts como seus verdadeiros pais, e por isso, perguntar para Anne sobre sua outra família parecia uma ideia totalmente descabida, já que ela parecia inteiramente integrada naquela na qual viera viver, e depois de adulta, sendo uma pessoa do mundo, que conhecera tantos lugares, tinha uma tia de que era parte da vida que perdera quando bebê, e tendo uma mente aberta para os assuntos controversos, e que geravam discussões infindáveis, ele sequer poderia imaginar que dentro dela havia uma garotinha que passara todo aquele tempo desejando conhecer uma mãe que nunca se esforçara para se aproximar da mulher maravilhosa que Anne se tornara.
Aquilo o deixava triste por ela, e mexia com ele de um jeito que ele nunca esperaria que acontecesse. Seu anjo ruivo se sentia rejeitado, e era por isso, que muitas vezes ela se mostrava tão possessiva em relação a ele. O medo de perdê-lo devia ser grande, assim como o pavor de ser abandonada. Ela agira assim quando ele fora para a Alemanha, o acusando por dias de a estar deixando para trás, e na manhã do ia anterior, ele vira nos olhos dela aquele mesmo receio de que ele fosse embora e não mais voltasse, apenas Gilbert não entendera na hora o que se passava com ela.
No entanto, aquilo não mudava sua ideia de ficar no hotel por alguns dias. Ele só voltaria para casa quando Anne lhe pedisse e garantisse que o assunto sobre Denise Williams estava definitivamente encerrado na vida deles, pois aquele tempo que ele estava dando no casamento de ambos era para que ela refletisse sobre tudo o que acontecera sem a influência da presença de Gilbert dentro do apartamento, e descobrisse sozinha a importância de estarem juntos, especialmente por conta dos dois cristaizinhos que cresciam a olhos vistos dentro dela.
Ele se sentou na beirada da cama, deslizando o olhar pela figura tranquila de sua esposa que ainda dormia sem ter notado que ele estava no quarto. Com carinho, ele afastou uma mexa do cabelo ruivo que caía sobre o rosto dela, e não pôde deixar de acariciar com o polegar a bochechas coradas dela por conta do calor das cobertas que a cobriam naquele instante, e talvez tenha sido esse gesto singelo que a fez abrir os olhos e dizer com a voz sonolenta:
- Você veio.
- Eu disse que estaria aqui de manhã. Como se sente, hoje? - ele perguntou ainda preocupado com a anemia dela.
- Estou melhor. Os enjoos persistem, mas, consigo comer sem muitos problemas. Obrigada por ter deixado minhas refeições prontas. - Ela disse timidamente se sentando devagar na cama sem tirar os olhos dele.
- Eu imaginei que assim, você se alimentaria corretamente. Os bebês precisam de todos os nutrientes possíveis para que se desenvolvam de maneira saudável. - Um brilho estranho surgiu nos olhos dela quando Gilbert disse isso, e Anne respondeu:
- Então, os bebês são as únicas coisas que importam para você.
- Não, eu me importo com você também, mas, parece que está empenhada em não acreditar nisso. - Ele disse magoado com o tom de voz dela ao dizer-lhe aquilo.
- Gilbert, eu...- ela começou, mas, ele não deixou que ela terminasse:
- Eu não vim aqui para brigar com você. Estou aqui para verificar como você e os bebês estão. Eu prometi que cuidaria de vocês, e é o que vou fazer.
- Como vê, Dr. Blythe. Estamos muito bem. - Ela disse com a voz cheia de sarcasmo.
- Você e seu orgulho, Anne. Quando vai parar de agir dessa maneira? - o rapaz perguntou balançando a cabeça desanimado.
- Dessa maneira como? - ela o olhava com um desafio explícito nos olhos, e Gilbert não pôde deixar de sorrir diante daquela clara demonstração de autodefesa. Anne não queria que ele soubesse de sua fragilidade, mas, estava claro naquela íris azul o quão vulnerável ela estava.
- Como se não precisasse de mim, mas, sabe que precisa. - Ela ficou em silêncio, porque sabia que ele tinha razão. Ela estava frágil, carente dele, morrendo de saudades pela distância que ambos deixaram crescer entre eles, e amando-o mais do que deveria ou seria prudente, porque aquilo a deixava totalmente à mercê dos seus sentimentos por dele, e Anne não permitiria que Gilbert soubesse disso de jeito nenhum.
- Bem, preciso ir, pois meu trabalho me espera. Volto amanhã, novamente. - Ele disse e Anne apenas assentiu. Se ao mesmo ela dissesse o que estava sentindo, como a necessidade explicita dela para que ele ficasse ali estava escrita em seus olhos. Anne devia saber que por mais que não lhe dissesse nada, bastava Gilbert olhar dentro daqueles olhos azuis que ele amava tanto para saber exatamente o que ela estava sentindo. Mas, ele não ia expô-la daquela maneira, pois, conhecendo Anne como conhecia, ela pensaria que ele estaria apenas tentando humilhá-la para provar quem era o mais forte naquela relação.
Por isso, ao chegar na porta do quarto, ele lhe lançou um último olhar e disse:
- Por favor, se cuide. - E assim a deixou, saindo por fim do apartamento.
Ao vê-lo ir embora de novo, Anne respirou fundo. Como era difícil vê-lo sair do apartamento quando queria desesperadamente que ele ficasse. Gilbert tinha razão, ela era orgulhosa, e não imploraria para que ele permanecesse ali, quando parecia que não era o que ele desejava. Seu marido não parecia estar sentindo sua falta da mesma maneira que ela sentia falta dele, a julgar por sua aparência jovial e tranquila naquela manhã. Talvez estivesse até apreciando sua recente liberdade, e se esquecendo completamente dela.
Sem aguentar tal pensamento, ela começou a chorar, pois isso era tudo o que vinha fazendo naqueles dias. Essa terrivelmente sensível, e conforme sua gravidez avançava, ela se sentia ainda mais frágil, tanto que Cole tivera que aguentar suas várias crises no dia anterior. Era uma sorte que ele a conhecesse tão bem, e não se importasse com sua extrema necessidade de colocar para fora tudo o que estava lhe afetando em forma de lagrimas. Cole nunca a julgava, ou dizia que ela estava errada sem que lhe mostrasse primeiro onde estavam as questões mais importantes, e ele a fazia analisar cada ponto junto com ele, assim, como ele a fizera ver com clareza em que ponto ela errara com Gilbert.
Seu marido acertara de novo, quando dissera que ela precisava dele, o problema era que não conseguia dizer. Ela passara a vida precisando das pessoas que amava, e com exceção de Matthew, Marilla e Diana, todas as outras tinham lhe dado as costas em seus momentos de infelicidade. Ela aprendera ser auto suficiente, e fazer da força sua única arma contra o mundo, mas, com Gilbert ela baixara a guarda demais, e ele a atingira diretamente no coração.
Anne sabia que ele a amava, mas, tal amor poderia ser tão letal quando poderia salvar alguém de si mesmo, pois nem sempre amar alguém era garantia de que não haveria sofrimento, dúvidas ou mágoa. Eles estavam atravessando um momento difícil naquele relacionamento que nunca acontecera de maneira convencional para os dois. Cole dizia que era seu ciúme que atrapalhava tudo, mas, Anne sabia que não era só isso. Ela tinha aquela necessidade imensa de ser amada incondicionalmente, e qualquer dúvida sobre isso a deixava insegura, e por isso, ela acabara causando toda aquela situação na qual se encontrava naquele momento.
Anne se levantou da cama, e fez todas as suas atividades matinais. O dia seria longo e desinteressante novamente, já que Cole não poderia vir fazer-lhe companhia, pois tinha compromissos de trabalho na cidade. Então, ela se lembrou da enorme quantidade de pacotes que ele tinha deixado ali no dia anterior, e que estavam no quarto dos bebês. Ele lhe dissera que eram presentes para seus sobrinhos, mas, ela não estava com vontade nenhuma de abri-los naquele instante, pois sem Gilbert para fazer isso com ela, tudo perdia seu encanto ou graça.
Deste modo, ela passou o dia tentando se ocupar. Assistindo filmes, lendo, realizando alguns exercícios de Pilates que a professora lhe indicara para serem feitos em casa, ou simplesmente deitada no sofá da sala cochilando uma vez ou outra.
Foi em um desses cochilos do qual acordou com seu celular tocando. A sala estava envolvida em uma escuridão incomum por conta da hora, o que fez Anne perceber que o tempo tinha mudado lá fora e uma tempestade se aproximava. O som do telefone insistente capturou sua atenção, mas, ao atendê-lo ninguém respondeu, e ela percebe tardiamente que era uma ligação desconhecida. Um medo estranho percorreu sua espinha, e sua imaginação fez o fantasma de Peter Bells se materializar em sua mente, e ela se lembrou de um outro dia assim, em que morava em outro apartamento, e uma pessoa o invadira, fazendo Anne correr para a rua no mesmo instante.
O apartamento parecia tão fantasmagórico naquela escuridão estranha, e mesmo depois de ter acendido as luzes, parecia que aquela sensação de estar ali sozinha e desprotegida com seus bebês só aumentava. Anne tentou ligar para Gilbert, mas o telefone só dava fora de área, fazendo sua apreensão chegar nas alturas. Decidida, ela pegou uma capa de chuva, e saiu para a rua, sabendo exatamente aonde iria daquela vez. O hotel de Gilbert não ficava longe dali, ele lhe deixara o endereço quando saíra de casa a dois dias, e preferia ir caminhando até lá, do que ficar ali no apartamento onde poderia ser facilmente atacada por quem quer que quisesse lhe fazer mal.
Enquanto caminhava pela calçada o mais rápido que conseguia com sua barriga pesando a cada passo, a chuva desabou sobre ela, e logo toda a rua estava inundada com sua força. As luzes da rua se apagaram, fazendo a ruivinha apertar o passo, e quase correr, pois seu medo agora tinha se duplicado. Quando alcançou o saguão do hotel, ela estava sem fôlego, e rezando para encontrar Gilbert em seu quarto, pois aquela hora ele já deveria ter deixado o seu trabalho.
Ao perguntar por ele na recepção, a atendente verificou se ele já havia chegado, e permitiu a ida de Anne até lá sem ser anunciada, pois Gilbert tinha deixado autorização para isso, caso Anne precisasse ir até ali para falar com ele. Ela subiu no elevador sem sequer se lembrar de seu trauma daquele tipo de transporte, pois estava tão aterrorizada por seus pensamentos, que não conseguia pensar em mais nada. Quando se viu frente a porta do quarto de Gilbert, ela respirou pesadamente, enquanto esperava que ele a atendesse logo que bateu. Não demorou muito e Gilbert surgiu na frente dela, vestindo apenas uma calça de moletom, descalço, e os cabelos completamente úmidos do banho. Assim que a viu, ele perguntou espantado:
- Anne, o que aconteceu? Meu Deus! Você está gelada e completamente encharcada. - Ele passou as mãos pelos braços dela rapidamente, tentando aquecê-la de alguma forma.
Ela apenas atirou seus braços no pescoço dele, sentindo aquele calor tão desejado do corpo dele invadi-la, fazendo-a parar de tremer no mesmo instante, enquanto dizia quase ofegante:
- Posso ficar aqui com você? - ele lhe rodeou a cintura sentindo a respiração dela rápida, a maneira de Anne abraçá-lo como se estivesse com medo que ele desaparecesse de repente. Gilbert sabia que quando ela ficava assim, era porque uma crise de pânico se aproximava, e ele se perguntou mentalmente o que poderia ter acontecido para deixá-la assim. Porém, resolveu não a interrogar sobre isso, pois, naquele momento tudo o que Anne precisava saber era que estava protegida ali com ele, e só depois que ele percebesse que ela estava mais calma, Gilbert tentaria descobrir a razão de ela ter aparecido ali daquele jeito.
- Claro. Vamos entrar. Você precisa se livrar dessas roupas molhadas e se aquecer. - Anne assentiu, sentindo-se aliviada por ele não oferecer nenhuma resistência por ela aparecer ali e perturbar seu sossego. Estar com ele, fazia com que se sentisse completamente segura, e logo seu coração voltou a bater normalmente, fazendo desaparecer aquela sensação de falta de ar que a fazia ofegar.
Gilbert foi até o banheiro, e encheu a banheira de água quente e sais de banho, depois voltou para onde Anne estava parada, observando todos os seus movimentos e disse:
- Venha, você precisa de um banho quente,- Anne o seguiu, e quando chegaram no banheiro, Gilbert a ajudou a tirar as roupas molhadas, e ela percebeu que todo o tempo ele evitava de olhar para o corpo dela, e Anne pensou que ele não estava se sentindo à vontade ao ver o corpo esguio que ele havia tocado com tanto prazer no passado, cada vez mais transformado pelos contornos da gravidez. Esse pensamento a deixou tão triste, e só piorou quando ela entrou na banheira e perguntou esperançosa a Gilbert:
- Você não vai entrar também?
- Não. Vou deixar você ter um pouco de privacidade, e pedir que te tragam uma sopa de legumes quente.
- Está bem. - Ela respondeu suspirando, enquanto seu peito doía pela rejeição dele que ela pensara que acontecera ali.
O que ela não sabia era que o rapaz tentava a todo custo controlar sua vontade de tocar aquela pele alva que parecia ainda mais macia por conta dos hormônios da gravidez, e por isso, se mantivera naquela atitude falsamente fria, pois se entrasse na banheira com ela, Gilbert sabia que não iria se controlar por conta da saudade que sentia daquele corpo grudado no seu, e eles acabariam em uma situação que talvez não fosse o que Anne desejava.
Assim, ele ligou para recepção e pediu que trouxessem um prato de sopa de legumes e um suco de laranja, e quando Anne saiu do banheiro vestindo um roupão acolchoado, a pele adoravelmente rosada pelo banho, e os cabelos presos no alto da cabeça, a comida já esperava por ela.
A ruivinha tomou a sopa deliciosa, sentindo-se aliviada por seu estômago não protestar dessa vez, e quando terminou tomando o suco de laranja, Gilbert percebeu suas feições claramente cansadas, e perguntou:
- Gostaria de descansar um pouco?
- Sim. - Ela respondeu encarando-o sem cerimônia.
- Como você não tem roupa de dormir, eu peguei uma camiseta minha para você. Espero que não se importe.
- Obrigada. - Ela respondeu, indo até ao banheiro, tirando o roupão e depois voltando para perto de Gilbert já vestida com a camiseta que mal chegava às suas coxas.
- Vem. - Ele disse, tentando não olhar para as coxas torneadas dela, e puxando-a para a cama. - Deite-se aqui. - Ele disse ajeitando os travesseiros, e esperando que Anne se deitasse entre os lençóis. Quando fez menção de se afastar, ela segurou sua mão e perguntou:
- Não vai se deitar comigo? - ele ia negar, mas o olhar receoso dela o fez mudar da ideia, e assim, ele se deitou ao lado dela, a uma distância segura, evitando assim de tocá-la. Entretanto, Anne acabou com a distância entre eles, espalmando suas mãos na pele nua do peito dele, colando seu corpos e deitando sua cabeça no ombro dele, não deixando nenhuma alternativa ao rapaz, a não ser abraçá-la, e ao fazê-lo, Gilbert percebeu que ela não estava usando nada por baixo da camiseta que ele havia lhe emprestado. Com um pequeno gemido que ele tentou disfarçar para que ela não ouvisse, ele pensou que aquela seria uma longa noite.
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