Capítulo 88- O ingrediente principal
Olá, pessoal. Aqui está o capítulo da semana. Espero que gostem e me deixem seus comentários. Vou revisá-los depois. Beijos. Obrigada por tudo.
ANNE
Aquela seria mais uma tarde comum de inverno, com o vento assoviando forte por entre as árvores, as pessoas se escondendo no conforto de suas casas, a lareira acesa, uma sopa quente sendo preparada no fogo, um edredom para esquentar os pés gelados e envoltos em meias grossas de lã, e por fim um filme para encerrar a noite depois de um dia exaustivo de trabalho, mas, para Anne e Gilbert, o comum não se encaixava em sua rotina cujos corações apaixonados tornavam aquelas tardes especiais, principalmente quando tinham a oportunidade de passá-las juntos.
A água quente do chuveiro caía sobre os dois, libertando-os do frio que envolvia a cidade de Nova Iorque, assim como o seu amor sempre em ordem crescente os aquecia por dentro. Naquele momento, Gilbert passava o shampoo de morango nos fios longos de Anne, massageando lhe o couro cabeludo, enquanto a ruiva suspirava de prazer ao sentir os dedos longos de seu marido fazerem movimentos circulares no topo da sua cabeça, ia até a nuca onde fazia um carinho de leve e depois chegava até as pontas, e então refazia todo o caminho, fazendo Anne descobrir outro talento nato de seu marido.
Ela se encostou toda nele, assim que ele acabou de enxaguar sua cabeleira ruiva, e sentiu a mão dele livre ir da sua cintura até seu ventre já um tanto volumoso onde ele tocou por alguns segundos com imenso carinho, e somente então ela se virou para encarar Gilbert que a encaixou entre suas pernas.
- Está mais relaxada? - ele perguntou massageando-lhe os ombros justamente no ponto em que Anne reclamara que estava dolorido.
- Sim. Eu nunca pensei que você tivesse essa habilidade toda para lavar cabelos. Teria me poupado todo o estresse de ligar para minha cabelereira três vezes na semana para me ajudar a lavar esse cabelo enorme. Que marido dos sonhos eu arrumei. – Ela disse, dando-lhe um beijo estalado e molhado.
- Está me promovendo a seu cabelereiro? – Gilbert pergunto rindo enquanto Anne espalhava a espuma de banho por todo o peito dele.
- Eu deveria. Afinal estou tendo todo esse trabalho por sua causa. - Ela reclamou, descendo a esponja até a o abdômen de Gilbert, onde se demorou um tempo considerável.
- Seu cabelo é maravilhoso, e eu amo a forma como as mechas estão longas e onduladas, mas, se estão te dando tanto trabalho assim, por que então não as corta?
- O que? Eu ouvi direito? Você vai me deixar cortar os cabelos? - Gilbert riu do tom dramático das perguntas e respondeu:
- Eu nunca te proibi de cortar, eu só disse que gostaria que você não cortasse, e você me prometeu que não o faria sem antes me avisar, então, se é o que deseja vai em frente.- Anne bateu o dedo indicador na pontinha do nariz de Gilbert de leve e disse:
- Só para ficar claro. Eu não cortei o cabelo para te agradar, e não porque esperava permissão. Você é meu marido, Gilbert, mas, não manda em mim. - Ela fez um gesto para que ele se virasse, mas, antes de atender ao pedido dela, ele riu e disse:
- Minha ruivinha continua uma tigresa. Adoro esse seu jeito selvagem. - Anne ergueu o olhar para ele de maneira provocadora e retrucou:
- Quer que eu te mostre minhas garras, meu marido?
- Acho que tive uma prova delas na noite anterior. - Ele disse com um brilho de malícia no olhar.
- O que quer dizer? - sem responder, Gilbert se virou de costas e Anne viu as marcas de suas unhas por toda as costas dele.
- Eu fiz isso? Quando? – ela perguntou espantada.
- Eu vou ter que te lembrar em que momento você resolveu fazer das minhas costas o alvo da sua ira? Me lembre de nunca fazer amor com você quando estiver zangada, embora eu não possa negar que você é ainda mais fantástica quando resolve bancar a Megera Indomada.- ele disse sorridente, e Anne fez uma careta engaçada ao ver todo o estrago feito na pele morena por suas mãos. Ela passou os dedos de leve e falou arrependida:
- Perdoe-me. Prometo que vou me controlar da próxima vez que estiver de mau humor.- ela pegou a esponja e começou a espalhar o sabonete líquido ao longo dos ombros até o bumbum masculino, admirando seu marido de costas e pensando que ela tinha o próprio pecado nas mãos.
- Eu quem disse que quero que se controle? Desde que deixe minhas costas fora disso, por mim, pode ficar zangada assim quando quiser. - Ele era pura malícia quando Anne o fez olhar para ela, virando o rosto dele em sua direção.
- Você reclama, mas, no fundo, adora quando eu descarrego minha raiva em alguma parte de seu corpo.
- A, querida. Você não faz ideia. - Anne fez cara de inconformada e ia dizer algo para rebater a provocação do marido, mas, ele a puxou para seus braços e a beijou, e quando a tinha completamente agarrada ao seu pescoço, ele disse:
- Achei uma ótima maneira de te fazer ficar calada.
- Então, acho que vai ter que usar essa tática mais vezes. - Anne disse voltando a beijá-lo, curtindo mais um pouco daquele momento de intimidade com seu marido.
Um tempo depois, ele a ajudou a enxugar os cabelos. Ambos se vestiram e foram para cozinha onde Gilbert serviu a comida japonesa que ele comprara para o jantar.
- Você já pensou no que quer fazer no nosso aniversário no próximo sábado? Afinal estaremos comemorando um ano juntos- Gilbert perguntou enquanto observava Anne comer com cuidado o seu sushi.
- Não quero nada especial. E nem movimentado. Acho que prefiro comemorar somente com você. Não me sinto com disposição para uma grande festa. - Ela respondeu, comendo outra porção de sua refeição que estava deliciosa por sinal.
- Ah, isso me faz lembrar seu último aniversário que foi bastante movimentado. - Gilbert tentou sorrir, mas, Anne sentiu a ironia por trás das palavras.
- Você não vai querer me lembrar da idiotice daquele noivado. - Ela disse, colocando sua colher no prato.
- Foi o dia em que você me trocou por Francesco Agipi. - Ele encarou Anne, e ela viu aquele brilho ciumento toda vez que tocavam naquele assunto. Será que Gilbert algum dia iria superar Francesco?
- Eu não te troquei, aquilo foi uma estupidez, Gil, e eu já te pedi desculpas mil vezes por isso. Vai mesmo querer discutir isso na mesa de jantar com sua esposa grávida de gêmeos? - Ela viu o arrependimento brotar no rosto dele, e em seguida Gilbert segurou sua mão por cima da mesa e disse:
- Desculpa. Isso foi bobagem da minha parte. São águas passadas, amor. – Gilbert levou a mão dela aos lábios e a beijou carinhosamente.
- Tudo bem, vamos esquecer esse momento de ciúmes de Gilbert Blythe. - Anne disse, e ele ia protestar, mas depois acabou admitindo com um sorriso que acabara de ter uma crise de ciúmes sem sentido.
- Voltando a falar do nosso aniversário. Talvez, possamos fazer algo íntimo só para nós dois. Alguma sugestão? - Gilbert perguntou descansando o queixo nas mãos.
- Que tal me surpreender? - Anne disse com um sorriso luminoso por trás de seu copo de suco de maçã.
- Vou pensar em alguma coisa. - Gilbert disse acariciando os dedos de Anne da mão direita.
- A propósito. Vou comprar um carro para mim. Andei pensando e deduzi que com duas crianças pequenas, vou precisar me virar sozinha. Não posso contar com você o tempo todo, e quero ter um pouco mais de liberdade também.
- Fico feliz que tenha decidido isso. Mas, e o seu medo de dirigir? - Gilbert perguntou preocupado.
- Eu preciso superar isso em alguma hora. - Ela disse meio insegura, pois toda vez que pensava em voltar a dirigir, ela se lembrava de todos os perigos que haviam para um motorista em Nova Iorque, e um calafrio subia por sua espinha. Ela detestava ruas movimentadas, pedestres imprudentes, e motoristas irresponsáveis, porém, não podia se privar do conforto que ter seu próprio carro lhe daria por conta desses detalhes.
- Você sabe que tem psicólogos para isso. - Gilbert a lembrou no momento seguinte.
- Eu sei, mas, não acho que vá precisar de um. Não chego a ter pânico de dirigir, é só uma insegurança boba que tenho em conduzir um carro na cidade grande. - Anne explicou, e Gilbert manteve sua mão sobre a dela.
- Já pensou no tipo de carro que quer comprar?
- Achei que poderia me ajudar. - Ela disse fazendo um muxoxo que fez Gilbert rir e dizer:
- O que eu não faria por você, minha ruivinha? - Anne se levantou da cadeira, envolveu o pescoço de Gilbert com seus braços e respondeu:
- Você é demais, meu marido gostoso. - Ela o beijou, e Gilbert se agarrou na cintura dela e a fez se sentar em seu colo.
- Já que parece mais animada, quero te fazer um convite. - Ele disse, prendendo o olhar dela com o seu. Sempre que Gilbert a olhava assim, Anne achava difícil fugir dos olhos dele, eles eram tão hipnotizantes, e ela se sentia a própria abelha atraída pelo mel. Ela não saberia sobreviver sem toda aquela doçura sobre ela.
- Que convite? - ela perguntou se ajeitando no colo de Gilbert que apoiou as costas dela em seu ombro direito.
- Você se lembra do garoto que operei na semana passada?
- Sim, me lembro. - Nem que quisesse poderia esquecer. Denise Williams estava lá com a mão atrevida no ombro de seu marido. Ela empurrou a lembrança para as sombras. Não precisava delas naquele momento.
- Ele vai para o quarto hoje. Gostaria de conhecê-lo? - Anne observou o rosto de Gilbert para tentar entender que tipo de intenção havia por trás daquele convite, o qual nunca recebera antes, mas, não enxergou nada além de um sincero interesse de que ela participasse de sua vida por todos os ângulos.
- Eu posso?
- Claro que sim. E então, está interessa em visitar meu paciente?
- Sim, pode contar comigo. - Anne disse, ajeitando alguns cachinhos despenteados de Gilbert, enrolando-o em seus dedos.
- Se quiser, posso vir buscá-la.
- Não é necessário, meu amor. Posso pegar um táxi. Estarei lá na hora que desejar. - As mãos dela foram parar na nuca de Gilbert, e ele pousou sua mão na coxa esquerda de sua esposa.
- Vou adorar te apresentar como minha esposa.
- E eu vou amar te chamar de marido em frente ao seu fã clube.
- Eu não tenho um fã clube. - Gilbert disse franzindo a testa.
- É claro que tem, Dr. Blythe. - Gilbert não comentou mais nada sobre a afirmação de Anne, fazendo logo em seguida uma sugestão.
- Eu aluguei o filme que me pediu. Quer vê-lo agora?
- Sim. - Ela respondeu, mas ao se levantar, Anne colocou a mão na barriga e fez uma careta, fazendo Gilbert que a observava atentamente perguntar:
- Está sentindo alguma coisa, amor?
- Sim, contrações
- Contrações? Como assim?
- Calma, Dr. Blythe. São contrações falsas. - Anne disse rindo do olhar assustado que ele lhe lançou.
- Desde quando você está sentindo isso?
- Desde ontem à tarde.
- E posso saber por que não fiquei sabendo disso? - ele perguntou com indignação.
- Porque não achei necessário. Isso não é nada, querido. - Anne disse, alisando com o dedo as linhas de expressão que surgiram canto dos olhos de Gilbert quando ele franziu o cenho.
- Como não achou necessário? Eu quero saber absolutamente tudo sobre os meus filhos, Anne. Não quero que esconda coisas de mim. - Ele estava nervoso, e ela sabia porque viu a veia de sua têmpora começar a pulsar. A fim de acalmá-lo, ela pousou sua mão no braço dele:
- Fique calmo, eu estou bem.
- Foi por isso que estava no hospital ontem para falar com a Gabriela?
- Sim.
- Então, eu vou ter uma conversa séria com sua médica. Ela não podia ter escondido isso de mim. - O olhar dele era duro, e Anne não podia deixá-lo ser injusto com Gabriela, por isso, ela contou-lhe a verdade.
- Ela queria te contar, mas, eu não deixei. - Anne sustentou o olhar de Gilbert que pareceu ficar ainda mais irritado depois dessa informação.
- Por que?
-Eu estava brava por conta do que conversamos ontem.
- Então, eu vou te falar uma coisa. Não importa se não vai estar olhando na minha cara, se não vamos estar nos falando ou se vai estar com ódio mortal de mim. Você nunca mais vai esconder nada de mim que tenha a ver com sua saúde ou a dos bebês. Fui claro?
- Foi. Eu prometo não mais fazer isso. - Anne o beijou no rosto e foi somente ao encarar os olhos dela, que ele voltou a sorrir. - Podemos ver o filme, agora? - ela perguntou docemente.
- Sim. - Ela foi dar um passo, mas Gilbert a pegou no colo, e disse:- Eu te carrego até a sala.
- Amor, eu não estou doente.
- Eu sei, mas, não quero arriscar nada. - Anne percebeu que ele não abriria mão daquilo, apenas assentiu, e curtiu o momento de ser mimada por seu marido.
GILBERT
Gilbert observou Anne se sentar ao seu lado no carro e colocar o cinto de segurança, deixando que seus olhos registrassem a aparência dela encantadora como em todas as manhãs. Ela usava um vestido de lã cinza claro que destacava seu cabelo ruivo preso em uma trança única, e por cima dele, ela pusera um sobretudo creme, e manteve o rosto com o mínimo de maquiagem como ele gostava.
Anne vinha investindo em um look mais natural, deixando a maquiagem pesada para as fotos para as quais posava nas campanhas no trabalho. Isso dava a Gilbert uma visão completa das milhares de sardas que brincavam em seu rosto quando ela sorria, os olhos azuis que se mantinham límpidos e brilhantes como o céu amanhecia em alguns dias no inverno, e os lábios sensuais pareciam mais carnudos naquela manhã, pois ela os destacara com um brilho labial cujo aroma de morango fazia Gilbert desejar senti-los sobre os seus, mas ele resistiu ao impulso de puxá-la para si para se concentrar nos gestos que ela fazia naquele momento. Sua esposa o deixara preocupado quando lhe contara sobre as contrações falsas, e vê-la colocar as mãos protetoramente sobre seu ventre somente aumentava essa preocupação, principalmente por ela não ter lhe contado quando tinham acontecido da primeira vez.
Anne lhe dissera que era algo normal, e que ele não deveria levar tão a sério, mas, o que lhe incomodava era ela ter omitido algo que tinha a ver com seus filhos, e isso, ele não conseguia esquecer. A ruivinha lhe prometera que não faria mais isso, porém Gilbert a conhecia bem para saber que ela fizera aquilo porque pensara que ele estava tendo algum tipo de relacionamento com Denise, e fora a maneira que ela encontrara de se vingar dele, pois nada o deixava mais magoado do que ser deixado de fora dos acontecimentos daquela gravidez, e ele não confiava que ela não agiria da mesma forma em um possível desentendimento dos dois no futuro. O rapaz esperava que tivesse deixado claro que não aceitaria mais aquele tipo de comportamento, pois por mais que a amasse e entendesse suas razões, ele era o pai daqueles bebês e tinha o direito de participar de cada pequeno detalhe que acontecesse com eles, e Anne não podia achar correto mantê-lo no escuro a respeito do que fosse. Eles tinham um relacionamento adulto, e precisavam ter um comportamento adulto acerca da família que estavam criando juntos.
- Você está bem? - ele perguntou ao vê-la fazer uma careta, e se mexer inquieta no banco do carona.
- Gil, eu estou bem, pare de se preocupar à toa. Eu te disse que as contrações falsas são normais e necessárias. Gabriela me explicou tudo.
- Vou ter que falar com ela também, já que você escolheu não me deixar participar dessa conversa que tiveram.- ele não pretendia deixar que ela soubesse o tamanho de sua magoa a respeito daquele assunto, mas sua voz saiu um tanto brusca, e obviamente Anne entendeu no ato como ele estava se sentindo. Essa era uma das desvantagens de ser casado com alguém que conhecia cada detalhe de sua personalidade desde a infância.
- Amor, eu já te pedi desculpas, por que faz isso parecer pior do que realmente foi? Não vamos brigar por conta disso. - As mãos dela estavam em seu braço em uma clara demonstração de arrependimento, e Gilbert também não podia ignorar isso, embora ele soubesse que levaria um tempo até que esquecesse daquele sentimento estranho na boca do se estômago.
- Não quero brigar, Anne, mas também não posso fingir que não estou chateado com isso. - Ele parou no sinal vermelho, e enquanto esperava que ele ficasse verde novamente, o rapaz ouvia-a dizer:
- O que tenho que fazer para que essa chateação passe?
- No momento nada. Só preciso de um tempo para superar isso.- o sinal abriu e ele continuou dirigindo, e assim que estacionou o carro no mesmo local que parava todos os dias para ela descer e ir para a agência, ele sentiu as mãos dela na barra de sua camisa, e logo deslizavam livremente pelo seu abdômen, fazendo o copo de Gilbert se arrepiar por inteiro. Mas, ele não impediu Anne por aquele ato ousado, e perguntou:
- O que está fazendo? - ela se deslizou seu corpo pelo banco até estar próxima de Gilbert, e mordiscou-lhe a pele do pescoço, enquanto respondia em seu ouvido:
- Estou tentando conseguir o seu perdão.
- Eu pensei que não devíamos usar sexo para fazermos as pazes. - Ele falou, antes de gemer baixinho e fechar os olhos ao sentir a ponta da língua dela no lóbulo da sua orelha.
- Se bem me lembro você também disse que não usamos sexo, e sim amor, e é o que estou usando agora, todo o meu amor para pedir que me perdoe pelo que eu fiz.- Gilbert finalmente deixou de resistir, e cobriu a boca dela com a sua acelerando o ritmo. Anne sabia como atear fogo ao seu sistema, e era o que acontecera, ele estava literalmente ardendo por ela. As mãos da ruiva continuavam em seu corpo, e ele só não ia mais longe com ela do que aqueles beijos quentes, pois ele tinha consciência de que estavam na porta do trabalho dela a vista de todos. Quando se separaram porque a respiração de ambos estava falhando, ele viu o rosto de Anne lindamente corado lhe sorrir, e então ela perguntou:
- E então? Estou perdoada?
- Você sabe que não consigo ficar muito tempo bravo com você, e dessa vez foi golpe baixo, ruivinha. - Ele disse beijando-a na ponta do nariz.
- Mas, estou perdoada ou não? - Gilbert riu do olhar ansioso que ela lhe lançou, e admirou novamente a beleza incomparável de sua esposa antes de responder:
- Eu te amo, Anne, é claro que está perdoada.
- Eu também te amo, e me desculpe por ser uma tola apaixonada e impulsiva. - Ela encostou seu rosto no dele, e Gilbert acariciou sua cintura devagar e respondeu:
- Vamos esquecer isso.
- Então, a gente está bem?
- Sim, nós estamos bem. - Ele respondeu, e ela lhe deu um selinho rápido, desceu do carro, e se despediu dizendo:
- Nos vemos mais tarde.
- Sim, meu amor. Tenha um ótimo dia de trabalho.
- Você também. - E então ele a viu desaparecer entre as portas automáticas da agencia.
Gilbert foi para o trabalho pensando em Anne. Ele odiava quando brigavam ou ficavam mal um com o outro. Era verdade que sempre faziam as pazes da maneira mais deliciosa possível, mas, isso não queria dizer que ele não detestasse a sensação de que ficavam distantes um do outro quando isso acontecia. Eles ainda tinham suas diferenças, apesar de se amarem como se amavam, e em momentos assim, ele percebia que Anne conservava muito do seu temperamento indócil de antigamente. Não era uma descoberta desagradável, de forma nenhuma. Ele gostava de saber que o lado indomável da ruivinha continuava intacto, pois dava um certo tempero ao relacionamento de ambos que ele achava irresistível, porém, a teimosia dela ainda o irritava, e lidar com essa característica dela demandava um certo esforço da parte dele, principalmente quando ela se escondia por trás daquela camada de frieza com o qual o tratara por uma semana. Ainda bem que dessa vez puderam conversar e acertar o compasso do relacionamento de novo. Não queria e não ia perder a mulher de sua vida por conta de ciúme e mal entendidos.
Denise Williams ainda lhe lançava olhares insinuantes, mas, pelo menos parara de dar indiretas de mau gosto. Ele esperava que ela tivesse entendido que não tinha nenhuma chance de se envolverem nem agora e nem no futuro, pois Anne era a única mulher que queria e a quem amaria pelo resto de seus dias. Nenhuma outra, por mais atraente ou bonita que fosse mudaria essa realidade, porque a verdade era que Anne Shirley Cuthbert Blythe tinha roubado seu coração para sempre e ele nunca o teria de volta. Tal constatação lhe tirava o fôlego, ao pensar em algo que sempre soubera, mas, na qual nunca considerara o real peso daquela afirmação. Anne o tinha nas mãos, e amar alguém assim de forma absoluta era terrivelmente assustador, e igualmente sublime. Dois lados de uma mesma moeda que lhe dava liberdade e também a tirava sem misericórdia. Ele já tivera que ficar sem Anne uma vez, e naquele tempo ainda não tinham vivido nem metade do que partilhavam agora, e fora literalmente como sobreviver em meio a um inferno espiritual.
Agora não era mais uma escolha e sim uma necessidade, e Anne habitava tempo demais dentro dele, para Gilbert pensar em recuar. Não havia meio termo naquela relação. Era tudo ou nada, e ele esperava que o tudo prevalecesse, porque fora daquele amor, e longe daquela mulher, ele não conseguia enxergar nenhum lugar que ele pudesse ou quisesse ir, e tinha que admitir mesmo que fosse apenas para si mesmo, que sua felicidade morava dentro daqueles olhos azuis.
- Atrapalho? - ele ouviu a voz de Gabriela na porta de seu consultório, e pensou que ali estava a pessoa com quem gostaria de conversar especialmente naquele dia. Ela era sua amiga, mas, ignorara um pedido que ele havia feito a ela de nunca deixar de lhe contar nada que fosse em relação a Anne e aos bebês, e esse fato o deixara extremamente chateado.
- Ainda bem que está aqui. Eu precisava mesmo falar com você. - Ele disse encarando sua a médica seriamente.
- Claro. - Ela disse, entrando e fechando a porta no mesmo instante.
- Por que não em contou que Anne veio até aqui se consultar com você? - Gabriela cruzou os braços, e encarou Gilbert ao responder:
- Ela não me deixou te contar. Eu disse que ela não devia esconder coisas de você, mas, ela me falou que te contaria assim que chegasse em casa.
-Ela te deu um motivo para isso?
- Ela me disse que estavam tendo problemas comuns de casais, mas, não entrou em detalhes. Vocês se acertaram? - Gilbert apoiou os braços na mesa e respondeu:
- Sim. Ontem quando cheguei em casa, nós conversamos, e ela me perguntou sobre a Denise. - Gabriela arregalou os olhos e perguntou:
- Ela sabe que a Denise está dando em cima de você?
- Não, eu acabei não contando para ela, mas, você conhece a Anne. Quando se trata de outras mulheres, ela parece ter um sexto sentido. Me deu gelo quase uma semana por conta de ciúme. Ela chegou a me perguntar se eu sentia alguma coisa por Denise.
- Eu te disse que devia ter falado com ela quando essa situação começou, Gilbert. - Gabriela abanou a cabeça inconformada com a situação.
- Se eu contasse, o problema se tornaria pior, e as crises de ciúmes dela só iriam piorar. Não quero a Anne preocupada com coisas que não existem. Ela já tem se sentido insegura o suficiente.
- Eu ainda acho que vocês deveriam conversar melhor sobre isso. Omitir as coisas assim dela só vai fazer com que ela perca a confiança em você, e isso seria péssimo para o seu casamento. - Gabriela aconselhou.
- Eu sei, mas, ontem eu assegurei meus sentimentos por ela. Anne não tem motivo nenhum para desconfiar de mim. Eu jamais a trairia com quem quer que fosse, você me conhece, Gabriela, e sabe o quanto eu amo aquela mulher.
- Isso está muito claro para mim, não se preocupe, mas, Denise não vai desistir assim tão fácil, Gilbert, eu a conheço e você deveria tomar cuidado.
- Não se preocupe, eu a coloquei em seu lugar outro dia, e ela parece ter entendido, mas, vou ficar atento. Entretanto, quero te falar sobre outra coisa. Forçosamente a Anne falou das contrações falsas ontem à noite, e gostaria de te pedir mais uma vez que não esconda coisas assim de mim. Eu sei que ela te pediu, mas, eu quero ficar sabendo cada vez que algo assim acontecer. Você sabe que eu me preocupo. Está mesmo tudo bem com os bebês? - Gilbert disse suspirando.
- Fique tranquilo. Essas contrações são normais e não causam nenhum risco, pelo contrário. Mas, prometo não te deixar de fora de mais nenhuma consulta fora do calendário que Anne tiver. - Gabriela o tranquilizou.
- Obrigado. Eu queria te pedir mais um favor.
- O que precisar. - Gabriela disse solícita.
- O meu aniversário e da Anne de um ano está chegando, e eu queria que me ajudasse a pensar em um presente. Ela me disse que queria voltar a dirigir, e até imaginei que um carro seria um incentivo para essa nova fase dela, mas, então, eu deduzi que ela mesma vai querer escolher o carro que vai utilizar no seu dia a dia. Não quero me arriscar a dar-lhe um carro que talvez não seja o que ela deseja.
- Então, pense em algo significativo. - Gabriela sugeriu.
- Como assim?
- Pense em algo que vai ter significado para os dois, alguma coisa que a faça lembrar do amor de vocês toda vez que ela olhar para o objeto. Você não disse que teve que reafirmar seus sentimentos por ela ontem à noite? Então, creio que está aí a resposta para o seu dilema. - Gilbert ficou em silêncio e fitou a janela à sua frente. Lá fora o sol brilhava e uma brisa amena entrava pela janela de seu consultório, deixando o ar menos seco e pesado para se respirar.
Algo significativo, Gilbert pensou. Algo que representasse o amor dos dois. Era uma ideia fantástica, mas, o difícil era encontrar alguma coisa que tivesse um sentido verdadeiro, que fosse simples, elegante, e bonito ao mesmo tempo. Então, Gilbert teve um estalo e começou a sorrir de orelha a orelha.
- Que foi, Blythe? Parece que se lembrou de alguma piada? - Gabriela caçou dele ao vê-lo sorrir feito bobo.
- Não. Eu acabei de ter uma ideia incrível. - Ele disse todo feliz.
- Então me conte. - Gabriela pediu, e assim o jovem médico era todos sorrisos ao revelar o que planejava fazer no aniversário da mulher mais importante da sua vida.
GILBERT E ANNE
Anne ajeitou seu fios ruivos na trança que fizera de manhã antes de ir para o trabalho, retocou o batom, deu uma última ajeitada no vestido e casaco, e o reflexo que viu no espelho era de uma mulher confiante e bonita, exatamente a imagem que ela queria que as pessoas daquele hospital vissem e pensassem da esposa do cirurgião Gilbert Blythe.
Esse tipo de coisa nunca fora importante antes para ela, mas agora que havia outra mulher de olho em seu marido, Anne não lhe daria espaço nenhum para que ela pensasse que do outro lado havia uma esposa submissa e tola que não sabia ler nas entrelinhas quando havia uma rival em potencial com as garras afiadas e louca para tirar uma casquinha de seu homem, e que no dependesse de Anne, Denise Williams sequer chegaria perto de Gilbert um centímetro, pois nenhuma mulher tinha direito de tocá-lo a não ser ela, sua esposa.
Ela foi até o ponto de táxi onde o motorista a esperava, e o cumprimentou com um sorriso no rosto, enquanto verificava suas mensagens e seu coração se aqueceu ao ver uma de Gilbert cheia de beijos e corações. Ele sempre achava um jeito de surpreendê-la, mesmo com esses pequenos gestos, e ela amava aquela faceta dele que seu marido fazia questão de deixar que somente ela conhecesse, pois quem imaginaria que o prático Dr. Blythe tinha aquela veia romântica com a qual agraciava sua esposa todos os dias? Era maravilhoso estar casada com um homem que se preocupava com os mínimos detalhes daquele casamento, e não o deixava cair em uma rotina sufocante.
Anne entrou pelas portas do hospital, e caminhou pelos corredores com sua autoconfiança intacta. Ela se sentia muito bem naquele dia, principalmente depois de ter falado com Gilbert sobre seus receios, e ele a fizera ver que estava sendo uma boba em imaginar que ele pudesse se deixar encantar por outra mulher que não fosse ela. O amor deles continuava forte, e ela não mais deixaria que sua insegurança a jogasse em mundo de pensamentos depreciativos de si mesma. Gilbert era apaixonado por ela, e somente por ela, ela se esforçaria para não mais se esquecer disso.
A recepcionista a recebeu com uma expressão simpática assim que a viu cruzar a porta da sala da recepção. Anne imaginava que àquela altura já fosse uma figura conhecida no hospital, pois viera ali tantas vezes à procura de Gilbert que não era mais surpresa para ninguém que a modelo famosa Anne Shirley Cuthbert fosse a Sra. Blythe. Suas suspeitas foram confirmadas quando a moça gentilmente lhe disse:
- Boa tarde, Sra. Blythe. No que posso ajudá-la? - Anne sorriu satisfeita ao ouvir seu novo sobrenome sendo pronunciado por outra pessoa, pois mesmo após dois meses de casamento, ela ainda não conseguia acreditar que carregasse o sobrenome de Gilbert junto ao seu.
- Boa tarde. Meu marido me espera. Sabe onde ele se encontra nesse momento?
- Ele está na ala de Oncologia. Quer que eu chame alguém para levá-la até lá?
- Não é necessário, muito obrigada. Eu conheço o caminho até lá. - Anne disse sorridente.
- Se precisar de mais alguma coisa, eu estou à disposição.
- Obrigada. - Anne disse e caminhou pelo até o fim do corredor que a levaria até a sala onde Gilbert estava trabalhando naquele momento.
Quando chegou lá, logo avistou seu marido atendendo alguns pacientes. Ela observou-o por alguns segundos, sentindo o orgulho queimar em seu peito ao ver a maneira profissional e atenciosa que Gilbert usava para falar com cada um deles.
- Babando pelo seu marido, Sra. Blythe? - Anne ouviu uma voz detestável e conhecida lhe falar com malícia. Ela se virou para Denise Williams que esperava pela sua resposta e disse:
- Realmente, ele é maravilhoso, não é mesmo? Mas, está vendo aquela delícia de homem? – Anne perguntou encarando Denise de frente. - Olhe bem, porque isso é tudo que vai ter dele. Eu sugiro que procure um que não seja de preferência casado e que possa suprir suas vontades de mulher carente e frustrada, porque Gilbert Blythe, minha querida, é somente meu. – Dito isso, Anne deu-lhe as costas e deixou Denise fuzilando de ódio, enquanto Gilbert se virava e caminhava na direção de Anne com um imenso sorriso no rosto.
- Querida, que bom que está aqui. Eu estava me perguntando quando você chegaria. - Anne beijou-o no rosto e perguntou;
- Estou atrasada?
- Não, você chegou na hora certa, eu é que estava impaciente para te ver.
- Eu também. - Anne sussurrou, apertando a mão de Gilbert que retribuiu o gesto com um beijo em sua palma.
- Venha comigo. - Ele disse, puxando-a suavemente em direção ao quarto onde havia um garotinho com cabeça envolta em curativos, e que a olhou com seus olhos castanhos muito vivos. Ele estava acompanhado de uma mulher que se parecia muito com ele, e quem Anne deduziu que fosse sua mãe.
- Olá, Brian. Eu queria te apresentar minha esposa Anne. Ela veio até aqui para te conhecer. - O garotinho sorriu de leve e disse:
- Oi, você é muito bonita, parece uma princesa.
- Obrigada, meu amor. Você também é muito lindo. - Anne disse tocando o rosto do garotinho de leve.
- Você vai ter um bebê? - ele perguntou inocentemente apontando para a barriga de Anne.
- Na verdade, eu vou ter dois bebês. - Anne disse segurando a mãozinha pequena entre as suas.
- Como assim? - o garotinho perguntou sem entender.
- Eu tenho dois bebezinhos crescendo aqui que vão ser irmãos gêmeos. - Anne explicou e Brian sorriu animado.
- Que legal! Eu não tenho irmãos. Sou filho único. - E virando-se para sua mãe, ele perguntou:- Mamãe, você não pode me dar um irmãozinho?
- Querido, a mamãe já te explicou que não posso mais ter filhos. Se lembra? - a mulher disse com um olhar triste para o menino que balançou a cabeça assentindo.
- Eu sinto muito. - Anne disse com pesar.
- Não tem importância. Eu realizei me sonho quando ele nasceu, e por isso, eu devo agradecer ao seu marido. Ele não salvou apenas a vida do meu filho, mas a minha e a do meu marido também. Eu não sei o que teria feito se ele não tivesse sobrevivido. - A mulher disse com lágrimas nos olhos, e Anne sentiu que se emocionava também. Não devia ser fácil para uma mãe ver seu filho passar por algo tão sério e não poder fazer nada para salvá-lo a não ser entregar nas mãos de um médico, e rezar para que ele pudesse ser perseverante o bastante e tivesse sucesso no tratamento. A ruivinha pensou em seus bebês que ainda não tinham nascido, e rezou para que ela nunca tivesse que passar por algo assim.- Deve sentir orgulho de seu marido, Sra. Blythe.
- E eu tenho, e muito. - Anne disse olhando para Gilbert que sentiu seus olhos marejarem com aquela confissão. De todas as pessoas do mundo, a opinião de Anne era a mais importante, e saber que ela tinha orgulho dele como médico lhe causava uma felicidade indescritível.
- Vocês fazem um lindo casal. Seus filhos vão ser maravilhosos.
- Obrigada. - Anne disse contente com o elogio.
- Bem, querida, acho melhor irmos andando, pois temos um compromisso.
- Temos? - Anne perguntou confusa. Não se lembrava de Gilbert ter lhe falado isso de manhã.
- Sim, eu te expliquei quando chegarmos em casa. – Anne balançou a cabeça concordando.
- Bem, Brian. Como meu marido acabou de dizer precisamos ir. Adorei te conhecer.
- Você promete que volta outro dia? - o garotinho perguntou com os olhos esperançosos.
- Você gostaria que eu voltasse? - Anne perguntou surpresa.
- Eu gostaria sim.
- Então eu volto outro dia para te ver.- Anne respondeu dando-lhe um beijo nas bochechas macias.
- Até logo. Espero que ele tenha alta logo. – Anne disse se despedindo da mãe de Brian.
Gilbert conversou mais dois minutos com o garotinho, se despediu de mãe e filho e abraçou Anne indo em direção ao estacionamento do hospital onde seu carro estava.
- Vai me dizer que compromisso é esse que temos? - ela perguntou curiosa.
- Você logo vai saber. - Ele respondeu e Anne percebeu que ele só tornaria a falar no assunto assim que chegassem no apartamento.
Uma vez dentro de casa, Gilbert disse:
- Vai tomar banho, que tenho uma surpresa para você.
- Está bem. - Anne respondeu ainda tentando adivinhar o que Gilbert estava aprontando, pois ele estava misterioso desde que saíram do hospital, e Anne não fazia ideia do que poderia ser.
Ela tomou um banho rápido, hidratou a sua pele e quando entrou no quarto havia um vestido seu sobre a cama com um bilhete que dizia; "Vista este vestido pra mim essa noite". Ela franziu o cenho para o vestido e o bilhete, mas, resolveu não se atormentar com perguntas, por isso, ela pegou-o na mão e o examinou. Era um modelo simples de veludo na cor preta. Ele tinha mangas longas, era justo no busto, e caía reto até seus tornozelos, destacando magnificamente sua barriga de gravidez de quatro meses. Ela escovou os cabelos, e como maquiagem usou apenas um batom carmim, e calçou sapatilhas de cetim preto.
Quando ela saiu do quarto, Gilbert também a esperava. Ele tinha tomado banho e estava incrivelmente lindo em uma camisa vinho de mangas compridas, jeans desbotado, sapatos pretos, e para sua alegria, seus cachinhos caiam-lhe pela testa totalmente bagunçados.
- Maravilhosa. - Ele disse acariciando-a com o olhar que a fez sentiu uma leve pressão em seu peito.
- Posso dizer o mesmo de você. - Ela disse estendendo-lhe a mão, que ele beijou carinhosamente. - Agora vai me dizer para que tudo isso.
- Vamos comemorar nosso aniversário, meu amor.
- Mas, nosso aniversário é só amanhã. - Ela disse espantada.
- Eu sei, mas, quis comemorá-lo hoje à noite. Você se importa?
- É claro que não. Se estiver com você nada me importa, meu amor. - Ela respondeu tocando-lhe os cachinhos rebeldes nas têmporas.
- Então, me siga e confie em mim. - Gilbert disse, puxando-a pela mão.
Eles saíram do apartamento, pegaram um elevador que os levou para o andar de cima, quando o mesmo parou, eles desceram, e entraram por uma porta que os levou para um terraço quase no último andar. Anne olhou para Gilbert surpresa, pois mesmo morando ali já a algum tempo, ela não imaginava que havia um lugar assim ali no prédio, e ficou ainda mais surpresa quando viu uma mesa posta com luz de velas, pratos e talheres, comida e bebida, e um rapaz com um violino que começou a tocar assim que eles chegaram.
- Gilbert! - ela disse, olhando para seu marido com os olhos arregalados.
- Isso quer dizer que gostou? - ele perguntou tocando-lhe no queixo suavemente.
- Eu amei, mas, como conseguiu fazer tudo isso hoje?
- Simples, eu tive essa ideia hoje cedo no trabalho, liguei para o síndico do nosso prédio para perguntar se havia um lugar especial aqui mesmo onde eu pudesse fazer uma surpresa para minha linda esposa, e ele me sugeriu este espaço. Então, pedi comida no melhor restaurante da cidade, descobri um violinista que estava disposto a vir aqui e toca para nós dois por algumas horas e aqui estamos nós. - E disse com seu sorriso iluminando todo o rosto.
- Você é surpreendente, meu marido. - Anne disse enlaçando o pescoço dele com os braços.
- Você merece, meu amor. - Foi tudo o que ele disse, e depois a puxou para a mesa para jantarem uma ótima comida francesa.
Enquanto comiam, Anne não podia deixar de olhar para seu marido. Tudo nele era perfeito dos cachinhos até seu corpo puramente másculo, mas, não era somente a aparência dele que a encantava naquela noite. Era todo o conjunto de frases inteligentes que ele usava para impressioná-la, a maneira de lhe sorrir, servir o jantar com gesto precisos e elegantes, e o seu olhar, que era um dos traços mais marcantes naquele rosto sem qualquer defeito, onde tudo combinava em uma harmonia sem igual, dizia-lhe tantas coisas que Anne nem percebeu que passou metade do jantar envolvida por ele, prestando atenção em cada palavra, enquanto os lábios de Gilbert se movimentavam e ele os umedecia com a ponta da língua, deixando-a completamente vidrada neles.
E quando Gilbert a puxou para uma dança, ela apenas o seguiu como se flutuasse em nuvens de algodão, seu corpo leve como uma pluma se juntou ao dele, que a guiava de maneira segura enquanto as mãos dele se encaixavam em suas costas a fim de mantê-la junto ao corpo dele sem conseguir se libertar. Não que ela quisesse, pois sentia-se totalmente confortável nos braços de seu marido que com uma delicadeza extrema dançava com ela uma música lenta e apaixonante, enquanto o violinista tocava sem parar, Era uma noite perfeita com o homem perfeito no local mais do que perfeito. Esse era sem dúvida o melhor aniversário de sua vida.
Gilbert a guiou de volta a mesa e lhe disse;
- Agora chegou a hora de seu presente.- e assim tirou do bolso uma caixinha preta e a entregou a Anne que ao abri-la cheia de ansiedade, encontrou lá dentro uma correntinha de prata com um coração que se abriu com um clique quando ela o apertou com seu polegar, e lá dentro ela encontrou uma chave minúscula que a fez olhar para Gilbert interrogativamente.
- Bem, eu sei que já te dei muitos presentes, e hoje queria te dar algo que realmente fosse significativo e especial para nós dois.- ele pegou a chave que estava na mão dela e continuou:- Muitas vezes eu te disse que você tinha o meu coração, mas, acho que nunca realmente te fiz entender a extensão do meu amor. Esta chave representa algo importante, e por isso, quero que escute e guarde para sempre em suas memórias essas palavras que vou te dizer. Anne, você sempre foi e será o amor de minha vida, e não sabe o presente que me deu ao aceitar ser minha esposa, por isso, esse objeto significa que só você possui a chave do meu coração e poderá fazer dele o quiser. Por essa razão, toda vez que se sentir insegura ou duvidar do quanto te amo, se lembre do que estou te dizendo nesse momento. Eu sou seu, Anne para sempre. - A garota ruiva estava chorando, e não podia ser diferente. Em frente a ela estava o único homem que conhecera por toda a vida , que fora seu amigo, e que agora era seu único amor e seu marido, e ela sentiu que nada mais lhe faltava porque Gilbert resumia tudo o que ela sempre desejara para si, e ver nos olhos castanhos toda a verdade de suas palavras era o maior e melhor presente que ela já pudera ganhar. Sem saber o que dizer, ela o abraçou e deixou que seus lábios o agradecessem por meio de beijos ofegantes tudo o que ele representava em sua vida. O amor nunca fora tão palpável e nunca estivera tão próximo de seus dedos.
Flocos de neve começaram a cair suavemente do céu, e ambos perceberam que estava na hora de entrarem, mas, Anne não queria que a noite terminasse ainda, por isso, quando entraram de novo no apartamento, ela puxou seu marido para o quarto e disse:
- Agora, eu quero te agradecer de uma maneira especial, e não precisou dizer mais do que isso para que Gilbert entendesse o sentido por trás de suas palavras.
- Tem certeza? Não está cansada? Eu sei que o dia foi corrido demais para você, e o quanto fica exausta por conta dos bebês. Não prefere apenas descansar? - ele disse todo carinhoso e preocupado ao mesmo tempo. Ele não se importaria de dormir apenas abraçado com ela e deixar todo o resto para depois.
- Eu nunca estou cansada para você ou para o nosso amor.- ela respondeu de maneira segura, seus olhos azuis queimando os dele, suas mãos se movendo pelos botões da camisa, deixando que seus dedos entrassem em contato com a pele dele que vibrou ao sentir o toque suave em seu corpo. Seus lábios procuraram os dele necessitados, e seus corpos chegaram mais perto a procura de um contato maior e mais íntimo, mas as roupas ainda os atrapalhavam. Assim, Anne levou as mãos ao zíper do próprio vestido, correndo-o rápido até o final, despindo-se completamente, tirando sua lingerie no processo, enquanto Gilbert fazia a mesma coisa com as próprias roupas. Enfim, eles estavam livres de qualquer barreira que os impedisse de se sentirem como desejavam, e logo, seus corpos se chocaram, como se precisassem do calor um do outro, suas mãos correndo soltas por todos os lugares, se demorando nas partes mais sensíveis. Anne se viu nos braços de Gilbert, sendo carregada para a cama, enquanto ouvia o rapaz respirar cada vez mais rápido, enquanto a boca dela o provocava em pontos estratégicos de seu pescoço, e então, ele a colocou deitada no colchão, posicionando o corpo por cima do dela, tomando cuidado para que o próprio peso a esmagasse, apoiando as mãos uma de cada lado do tronco de Anne.
Ele brincou com a pele dos seios dela, fazendo-a delirar cada vez que sugava devagar seus mamilos sensíveis, descendo sua língua quente ao longo do abdômen de Anne, enquanto ela tentava controlar os próprios gemidos, agarrando os lençóis entre seus dedos. Próximo da intimidade dela, ele parou, queimando-a com sua orbe castanha quase chocolate por conta do desejo que crescia entre ambos, e disse com a voz carregada de luxúria:
- Eu gostaria que você visse como fica linda quando se entrega para mim dessa maneira., - e então a tomou de um jeito forte e intenso, fazendo-a quase gritar pelo prazer que Gilbert estava lhe provocando e se sentindo se desintegrando junto aquelas mãos e lábios que conheciam cada parte de seu corpo como ninguém. Ele se deitou na cama, e fez Anne se deitar sobre ele, sentindo seu corpo inteiro se deliciar com cada beijo ou mordida de leve que ela deixava em sua pele, sabendo que ali estava a mulher que conseguia levá-lo até o infinito com apenas seus lábios ardentes, com seu aroma suave de flores, e seu amor quente e urgente. Ele nunca sentira algo por alguém assim antes, tão completamente rendido a sereia que com seu canto o fazia desejar prolongar cada carícia e beijo por horas sem fim. No auge da excitação, Anne o guiou para dentro dela, o movimento de vai e vai que a princípio era lento, se tornou mais rápido conforme sentiam necessidade de terem mais daquelas sensações correndo por suas peles, e antes de chegarem ao ápice de um prazer gigantesco, ela sussurrou em seu ouvido.
- Seja apenas meu. - E então ele se deixou levar pela onda daquele mar azul que o guiava por caminhos delirantes, seu ritmo se acelerando como se estivessem nadando nas profundezas de um oceano muitas vezes explorado, mas, que mesmo assim guardava segredos não desvendados em suas águas. Eles se abraçaram no momento final, enquanto suas mãos se entrelaçavam, fortalecendo mais uma vez aquele elo que os tornava um do outro incondicionalmente.
Mais, tarde, com uma caneca fumegante de chocolate quente nas mãos, Anne e Gilbert observavam de sua janela a neve que caía suavemente sobre Nova Iorque, como se celebrasse lá do alto naquele instante, o amor que entre aquelas quatro paredes sempre seria o elemento principal.
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