Capítulo 87- O caminho de volta
Olá, pessoal. Estou postando mais um capítulo de nossa saga. Espero que gostem e deixem seus comentários a fim de que eu possa saber sua opinião sobre ele. A revisão virá depois. Beijos.
ANNE
Dúvidas, sentimentos estranhos, e uma sensação de irrealidade tomou conta de Anne naquela manhã. Ela estava a dois meses casada e sua cabeça a enchia de pensamentos que contradiziam totalmente com a realidade na qual estava vivendo, mas, mesmo assim, eles continuavam lá, a atormentando a ponto de não a deixar dormir.
Ela se levantou bem cedo naquele dia, e observou Gilbert dormir. Ela adorava esses momentos em que ele parecia totalmente alheio à presença dela, pois lhe dava mais oportunidade de observá-lo de perto. Anne amava cada característica daquele rosto expressivo que quando acordado podia fazê-la desejar estarem em um mundo paralelo, onde seus corações podiam bater livremente um pelo outro, sem que as incertezas da vida abalassem sua paz.
Era espantoso como ele se tornara o centro de sua vida em tão pouco tempo, e imaginar que ela podia perdê-lo por qualquer coisa por mais absurda que fosse lhe causava um sofrimento inimaginável. Anne não sabia bem como aquele pensamento se instalara em sua mente, porque Gilbert continuava tratando-a como se ela fosse feita do mais fino cristal, cuidava para que se alimentasse bem e corretamente, se preocupava com os bebês, sempre estava interessado no seu dia a dia no trabalho, e a beijava com paixão sempre que estavam na intimidade de seus quartos. Então, porque tudo aquilo não parecia mais ser suficiente para mantê-la segura sobre os sentimentos de Gilbert por ela? Que demônio fizera nascer aquela dúvida que deixava seu coração doente só de pensar que seu marido poderia amá-la menos do que antes?
Anne não suportava a ideia de perder qualquer parte de Gilbert por menor que fosse, pois ela precisava do amor dele integralmente , não setenta e cinco por cento, ou noventa e cinco por cento, e sim cem por cento como sempre fora antes, porque sem isso nada fazia sentido e não a fazia feliz. Ela também não queria se tornar uma daquelas esposas desconfiadas que ficavam tão inseguras em relação aos sentimentos de seus maridos, que se tornavam tão insuportáveis a ponto de atrapalharem uma relação verdadeira e sólida por conta de suas inseguranças.
E ela não podia negar, estava se sentindo insegura e sem mesmo um motivo aparente, e Anne podia até jogar a culpa em seus hormônios de gravidez se alguém a interrogasse sobre isso, mas, a verdade era que tudo começara porque Gilbert estava escondendo algo dela, e não parecia estar disposto a lhe contar, e Anne tinha orgulho próprio e não seria a primeira a falar sobre o assunto, porque também não queria que Gilbert descobrisse o quanto ela estava vulnerável e magoada pelo seu silêncio. Ele lhe prometera que sempre seriam sinceros quando algo estivesse fora de compasso em suas vidas, e aquele era um momento que para Anne a trilha sonora do amor dele tinha errado uma nota, e ela precisava saber desesperadamente o que fazer para que seus corações voltassem a bater na mesma cadência.
Ela o observou mais um instante enquanto colocava as mãos em sua barriga, e depois falou com os dois seres mais amados do mundo que cresciam a olhos vistos em seu ventre:
- Estão reconhecendo? Aquele é o seu papai. Ele não é o homem mais lindo que já viram? Quero que saibam que ele os ama muito exatamente como eu, e podem contar com ele para o que precisar.- uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto, e Anne a enxugou, percebendo que realmente estava ficando paranoica o falar com seus bebês como se pudessem entender sobre o que ela falava, e o quão angustiada estava por não conseguir controlar seu ciúme.
Denise Williams era realmente uma bela mulher, e vê-la tão próxima de Gilbert no dia da cirurgia fizera Anne sentir uma ameaça no ar que lhe tirava o chão por onde ela pisara tão firmemente até aquele dia. Não houvera até aquele momento nenhuma confirmação do que lhe passara pela cabeça, mas, isso não diminuíra a sensação desagradável na boca de seu estômago. E a todo momento ela se dizia que estava ficando louca, que Gilbert a amava tanto quanto ela a ele, e que tanto o sorriso que ele dirigira a Denise quanto a mão dela no ombro dele não significavam nada além de uma amabilidade profissional, assim como era com Gabriela e Daniel que eram amigos de Gilbert de longa data.
Mas, sem querer ou mesmo perceber um certo afastamento emocional começou a ocorrer de sua parte, e embora, ela e Gilbert tivessem se relacionado intimamente ao longo daquela semana, Anne entendia que de sua parte não fora mais a mesma coisa. Não porque não sentisse desejo por ele, isso era algo que não tinha mudado, e nunca mudaria, mas, era o seu instinto de proteção que entrara em cena e fizera se envolver menos emocionalmente no ato do que antes, priorizando mais a parte física do que buscar aquela conexão incrível que sempre partilhava com Gilbert naqueles momentos, pois fazer amor com ele sempre fora algo sublime, divino e especial. Era como se comunicavam espiritualmente, era como seus votos de amor eram renovados, e eram como expressavam seus sentimentos mais profundos um pelo outro. Se Gilbert notara a diferença, Anne não sabia, pois seu marido não lhe dissera ou perguntara nada a respeito, e esse fato acabou deixando-a ainda mais retraída a respeito daquela situação.
Respirando fundo, ela se levantou e foi para a cozinha, caminhando descalça pelo chão frio de linóleo, mas, ela sequer notou, porque suas emoções em conflito demandavam mais de sua atenção do que a temperatura debaixo seus pés. Assim ela preparou para si mesma uma xícara de café expresso, acrescentando um pouco de leite a ele, e mordiscou uma torrada coberta de geleia de damasco light, pois de acordo com seu marido era mais saudável para ela e os bebês do que a integral. Ela saboreava aquele momento de paz em que sua angústia lhe dava trégua, quando sentiu lábios masculinos, deslizando pelo seu pescoço, ela tentou não suspirar, e ignorar totalmente os arrepios que subiam por sua pele como vinha fazendo nos últimos dias toda vez que Gilbert a tocava, mas, não teve sucesso dessa vez. Seu corpo a traiu e seus sentidos se intoxicaram rapidamente com o cheiro dele, deixando-a desesperada para se virar e se perder naquele corpo que era a causa de seu descontrole quase total quando estavam na cama, explorando a pele um do outro.
Contudo, ela se manteve firme, enquanto Gilbert continuou provocando-a, até que sua pose de durona não continuo por muito tempo, ela fechou os olhos, mordendo o lábio inferior com força, tentando controlar um suspiro, mas as mãos dele encontraram a barra de sua camiseta e em seguindo traçaram os contornos de seu abdômen e tocaram seus seios nus, fazendo Anne esquecer completamente de sua primeira ideia de resistir, descobrindo minutos depois o quanto era tola ao imaginar que conseguiria algum dia ser indiferente ao toque de seu marido.
Ele se virou de frente, e Anne se perdeu nos olhos escuros de Gilbert, que eram uma porta para todos os tipos de desejo e emoções. Seu marido nunca precisara dizer muitas palavras quando a olhava daquela maneira, porque Anne sentia em si aquela mesma necessidade de se unir a ele sem pensar em nada. Maldita atração que lhe tirava o fôlego e qualquer vontade de se manter longe de Gilbert, e maldito homem que sabia de todas as suas fraquezas, e as usava para conseguir tudo o que queria dela, e acabou se amaldiçoando também por dar a ele as armas para seduzi-la como quisesse. Ela olhou de relance para baixo, e engoliu em seco, sua respiração perdendo totalmente o ritmo normal ao perceber que Gilbert estava na cozinha, em plena cinco horas da manhã sem nenhuma peça de roupa sobre seu corpo. Cristo! Se aquilo não era tortura, ela não sabia qual nome dar ao fato de que o príncipe da luxúria estava completamente nu diante de uma mulher grávida, sedenta por ele a cada dia mais.
- Querida, você continua fugindo de mim de madrugada. Diga-me quanto prazer lhe dá deixar-me acordar sozinho naquela cama enorme? - a voz dele era quente em seu ouvido, e Anne estava se segurando para não atacar aquela boca máscula que sabia muito bem fazê-la suar como estava acontecendo exatamente naquele momento.
- Desculpe-me, eu não pretendia...- ela fechou os olhos quando sentiu a ponta da língua de Gilbert atrás de sua orelha. Era um ponto extremamente sensível que a fez se agarrar ao ombro dele, pois suas pernas fraquejaram.
- Você não pretendia o que, meu amor? – muitos beijos vieram depois dessa pergunta, e Anne não teve tempo de responder. Seu cérebro já tinha virado gelatina, assim como seu coração já tinha se entregado mais uma vez aquele amor insano que sempre seria sua perdição.
Gilbert parou um pouco de beijá-la para concentrar seu olhar sobre os rosto dela, que envergonhada por se sentir tão exposta tentou escapar dos olhos dele, mas, seu marido também era perito em ler suas expressões, por isso, ele a colocou sentada sobre a mesa da cozinha de onde ela não conseguiria fugir dele perguntou:
- O que está acontecendo com você?
- Não sei do que está falando. - Ela não queria conversar sobre aquele assunto, pois sabia que ia parecer uma tola, e não queria dar motivo para Gilbert rir dela logo naquele momento em que se sentia em desvantagem.
- Claro que sabe. – Ele insistiu.
- Não, eu não sei.
- Amor, você se esquece que te conheço tão bem, e que só acorda a essa hora quando algo está errado, e você não consegue lidar com o problema sozinha. Diz para mim o que está te preocupando? - Anne o olhou, levantou a mão e o tocou no rosto, pensando no quanto amava aquele homem que resumia todo o seu mundo naquele olhar castanho incrível.
- Me diga você. - Ela disse escorregando os dedos pelo maxilar de Gilbert, que continuava com os olhos mergulhados nos dela.
- O que quer saber? - ele se encaixou nos meios das pernas de Anne que circulou a cintura dele com suas pernas.
- Por que não me diz se resolveu o se problema com sua colega de trabalho. - Ela sentiu Gilbert ficar tenso, e logo imaginou se a colega a qual ele mencionara era Denise.
- Sim. - Ele respondeu, suas mãos percorrendo as costas dela a deixaram inquieta. Deus, aqueles músculos! Por que tinham que ser tão firmes, e maravilhosos ao seu tato? "Foco, Anne", vocês estão tendo uma conversa importante aqui.", ela disse pra si mesma.
- Você tinha me dito que tiveram divergência de opiniões, mas, não me contou que tipo de divergências eram.- sem resistir, ela mordiscou o queixo de Gilbert, justamente no ponto onde havia aquela covinha tão linda, e viu com prazer ele fechar os olhos por um segundo, e abri-los de novo, e dessa vez havia um brilho feroz ali que fez Anne estremecer. As mãos dele foram parar em seus quadris, os quais ele encaixou nos dele, e os pressionou contra os dele, fazendo Anne arfar ao sentir o volume que havia por baixo quente e pulsante, e ele sorriu antes de responder:
- São divergências de trabalho, mas, já resolvemos nossa diferenças.- ele respondeu, e Anne pensou que ele estava mentindo ao notar sua veia do pescoço pulsando feito louca, e Anne aprendera a um bom tempo, especificamente desde seus nove anos, que quando isso acontecia, Gilbert não estava sendo totalmente sincero com ela, e a raiva a fez cravar as unhas nas costas largas dele, e deixar que corressem pela pele dele inteira até chegar na lombar, onde ela resolveu se demorar, até que ouviu Gilbert suspirar, e o som rouco que saiu da garganta dele, a fez perceber que estava com raiva e excitada ao mesmo tempo. Como isso era possível? Gilbert deixou seu rosto bem próximo do dela, sua língua contornando os lábios de Anne, e antes que ela lhe fizesse outra pergunta, ele a beijou, e Anne parou de pensar. Quando deu por si, estavam na cama, para onde Gilbert a havia carregado. Depois de toda provocação na cozinha, não poderiam mesmo ter tido outro destino, porém, enquanto seu marido a fazia delirar de mil formas diferentes, ela percebeu que não tinha dado a Gilbert a resposta para a pergunta que ele fizera, e nem ela tinha conseguido a resposta que queria para a sua. Ele admitira que resolvera o problema com sua colega de trabalho, mas, não lhe dera o nome dela, e muito menos lhe dissera em que termos de acordo ele haviam chegado. Contudo se a garota era Denise, ela podia deduzir que tinham se entendido muito bem ao julgar pelo que vira no hospital. O ciúme a corroeu de tal forma que havia uma certa fúria na forma como correspondia às carícias de Gilbert, e também a intensidade de seu toque sobre ele fora maior do que ambos estavam acostumados, e quando chegaram ao momento final do ato, ela caiu sobre o peito de Gilbert completamente satisfeita fisicamente, mas emocionalmente infeliz.
GILBERT
Anne estava sentada à sua frente e tomava seu café da manhã na maior calma. Ele a observou levar a enorme xícara de chá aos lábios, ler a página do jornal que fora entregue no apartamento assim que o dia amanheceu, e aproveitou para estudar-lhe as feições serenas mais distantes. Sua esposa estava estranha a dias, e ele ainda não conseguira entender o motivo daquela frieza toda com a qual ela o tratava aquela manhã, depois da madrugada quente que tiveram. Aliás, tudo naquela madrugada fora estranha, a começar pelo momento em que ele não encontrara Anne na cama. Isso não era um fato incomum, uma vez que acontecera várias vezes. Ela sempre se levantava de madrugada quando havia alguma questão mal resolvida na sua cabeça, ia para a cozinha onde preparava algo para comer ou beber, e depois voltava para cama completamente sonolenta depois de conversar com ele sobre o que mais a estava atormentando, e tudo sempre ficava bem. Contudo, ela fugira de cada pergunta sua, voltando o assunto totalmente para ele, e fazendo-o relembrar sobre o que ele lhe falara sobre o problema com a colega de trabalho, o que para ele não foi nada agradável.
Gilbert devia saber que Anne não se esqueceria daquele assunto, mas, o que tinha ele a ver com seu atual estado de humor, ele não conseguira saber. Ela fizera amor com ele como se estivesse zangada e ele tinha suas costas todas arranhadas para provar. Normalmente, Anne era intensa, mas doce nesses momentos, porém naquela madrugada ela fora também intensa, no entanto havia em seus gestos uma fúria desconhecida que o surpreendera. Fora como se ela quisesse puni-lo por algo, e fizera isso com as próprias mãos, e isso o intrigara imensamente.
Ele não podia dizer que não fora bom, porque tudo com ela era demais, contudo, ela lhe parecera um tanto distante, como se naquele ato não tivesse seu coração como das outra vezes, e ele se sentia magoado com isso, porque todas as vezes em que ficavam juntos intimamente, ele dava o máximo de si para mantê-la feliz, e era também um dos poucos momentos em que ele se abria totalmente para ela e deixava Anne ver como ele realmente era, porque seu coração todo era dela e ele nunca conseguiria esconder o tamanho de sua paixão, como a amava com toda a sua alma, e como as carícias que trocavam tinham uma infinidade de significados profundos, onde seu corpos traduziam as palavras que não conseguiam dizer um ao outro quando estavam se amando.
Gilbert pensara que para Anne era assim, mas, de repente, ele vira um outro lado dela que nunca tinha percebido, e aquilo o estava incomodando em demasia. Ela não fora exatamente fria, aquilo era algo que ela nunca conseguiria ser, pois o corpo dela sempre respondia rapidamente ao seu, mas, embora sua presença física estivesse participando ativamente do ato, ele não conseguira sentir seu envolvimento emocional ali, pois fora como se ela colocasse uma barreira entre seus sentimentos reais e suas reações físicas, e ele detestava saber que ela conseguia se manter distante dele dessa maneira.
Quando despertara aquela manhã, Anne ainda estava dormindo, e ele para acabar com sua frustração, resolvera correr a fim de aliviar a carga de sua tensão. Ele entendia que podia ser a gravidez de Anne que a tinha mudado de certa forma, pois, pelo que se lembrava de suas conversas com Gabriela, a gestação de uma mulher poderia passar por diversas fases, e ele, como médico deveria entender isso melhor que as outras pessoas. Ele tinha que compreender que Anne além de cuidar de si mesma tinha que cuidar de mais dois seres indefesos que dependiam dela para tudo, e conforme os meses iam passando, essa responsabilidade se tornava cada vez maior. Ela nunca reclamava, mas, ele imaginava o quanto podia ser difícil, exaustivo e estressante, e tudo o que ele podia fazer era tentar facilitar ao máximo possível, já que não tinha como trocar de lugar com ela para aliviá-la um pouco de toda a carga emocional que ela vinha carregando dento de si.
E ele não tinha como negar que Anne estava sendo maravilhosa em lidar com tudo aquilo. Ele sabia de suas inseguranças com próprio corpo, mas, nem por isso ela deixava de se cuidar, ou permitia que sua vaidade colocasse em risco a saúde de seus bebês. Gilbert a ouvira várias vezes conversando com eles quando ela pensava que ele não estava prestando atenção, e achava aquela ligação entre mãe e filhos fantástica. Ele também costumava conversar com eles, e também sentia uma conexão especial com seus dois cristaizinhos, mas, ele sabia que o que Anne tinha com eles era algo divino, pois era dento dela que eles cresciam e passavam vinte quatro horas por dia, e Gilbert jamais conseguiria alcançar a dimensão daquele tipo de amor.
Depois de correr dois quilômetros e meio, ele voltou para casa, e ao entrar no quarto, ele percebeu que Anne já tinha acordado, mas, continuava deitada e olhando para o teto, sem sequer olhar para ele. Era outra reação atípica dela, que sempre o enchia de beijos ou se jogava nos braços dele assim que ele atravessava a porta. Ela parecia estar tentando fugir dele de novo, e Gilbert sentiu certa apreensão com a atitude dela. Será que era algo que ele tinha feito? Mas, então, por que ela não falava? Ele preferia mil vezes que discutissem e colocassem os pingos nos iis definitivamente, do que quando ela se calava e fingia que nada estava acontecendo. Anne era teimosa e temperamental, e ficar calada daquela maneira diante de algo que a estava claramente perturbando não era sua forma usual de agir. Por isso, ele se aproximou da cama, se sentou bem próximo dela e lhe perguntou:
- Vai me dizer por que anda aborrecida? - ela o olhou como se viesse de um planeta muito distante e respondeu:
- Estou cansada, Gil. Desculpe-me por não andar muito animada. - Seu tom era triste, e Gilbert não queria vê-la assim, ele queria o sorriso caloroso dela de volta, seus toques carinhosos, e sua maneira de falar com ele cheia de deboche, onde havia por trás uma ironia divertida. Ele tocou o rosto dela e disse:
- E sei que não é só cansaço, e que existe algo mais por trás da sua falta de animação. Por que não fala comigo? Quero que se lembre que além de seu marido, eu fui e sempre serei seu melhor amigo. - Ela pegou a mão dele entre as suas, beijou-lhe a palma e respondeu:
- Eu sei. Nós vamos conversar sobre isso, mas, não agora. Eu preciso resolver um assunto em minha cabeça, e enquanto eu não tiver certeza do que está me incomodando, eu não consigo falar disso com você.
- Então, eu estou certo. Tem mesmo algo te incomodando? - ele perguntou sentindo uma fisgada em seu coração. Anne não estava bem, e se ela não estava bem, consequentemente ele também não podia estar.
- Sim.
- Tem algo a ver comigo? - ele a viu hesitar, depois encarou-o com firmeza e disse:
- Sim.
- O que é, Anne? Me diga logo o que eu fiz para que eu possa me desculpar. - Gilbert a viu respirar fundo antes de dizer.
- Eu não sei realmente se fez algo, ou se ainda vai fazer. Talvez nem tenha culpa, e sejam apenas delírios de uma grávida maluca. - Ela riu, mas, Gilbert não achou graça. Apenas se sentiu ansioso por ele e Anne não estarem em tão bons termos como ele pensara.
- Não fale assim. Se eu te magoei, eu preciso saber. Odeio te ver assim. Parece que existe um muro entre nós. - A frustração o fazia passar as mãos pelos cabelos várias vezes, e talvez na qual seria a décima vez, Anne segurou a mão na dela e falou:
- Ei, pare com isso. Eu prometo que até o fim do dia terei organizado meus pensamentos, e aí a gente conversa. Eu continuo te amando demais, Dr, Blythe. - Ao ouvir aquelas palavras, ele a trouxe para seus braços e enorme alívio deixou seu coração mais leve. Só naquele momento, ele percebia, que aquilo também lhe ocorrera. E se depois desses meses de convivência ela tivesse chegado a conclusão de que fora um erro o casamento dos dois e já se cansara dele, sentindo-se sufocada?
- Eu também te amo demais, Anne. Nunca duvide disso.
- Eu não duvido. - Ela respondeu beijando-lhe todo o rosto. – Por que não tomamos café juntos? Eu sei que tem que ir para o trabalho daqui a pouco. - Ela sugeriu dando-lhe um selinho, e Gilbert foi para o banho ainda pensativo sobre o que ela lhe dissera.
Agora estavam na cozinha onde ela parecia estranhamente calma, mas, ainda não o encarava de frente, Seus olhos azuis estavam fixos nas notícias que ela lia no jornal, e Gilbert desejava que pudessem conversar sobre tudo o que estava acontecendo com ela antes de irem para o trabalho, pois sabia que passaria o dia todo sofrendo por antecipação. Além dos bebês, Anne era a coisa mais preciosa de sua vida e não se perdoaria se a perdesse por alguma bobagem sua. Porém, tinha que respeitar o espaço dela. Anne lhe pedira um tempo, e isso era a única coisa que podia fazer no momento.
- Você quer que eu te leve para o trabalho?
- Não, querido. Eu vou entrar um pouco mais tarde, e por isso, vou de táxi. - A resposta foi neutra, mas, por alguma razão, ele não gostou dela.
- A gente se vê mais tarde? - ele perguntou sabendo que fora tolo ao dizer aquilo. Ali era a casa dela. Onde mais ela estaria às cinco da tarde?
- Estarei aqui. - Ela disse como se respondesse à pergunta que ele fizera mentalmente.
- Te vejo mais tarde, então. - Ele se aproximou e deu-lhe um beijo, o que o desconcertou totalmente. Foi apenas um roçar de lábios, sem a emoção que ambos sentiam ao terem suas bocas coladas uma na outra. Onde estava o fogo que os consumia, as línguas enroscadas, o desejo de se perderem um no outro, a necessidade de se sentirem cada vez mais próximos? Gilbert queria aprofundar o beijo, e conseguir a resposta que desejava e precisava de Anne, a fim de sentir que o amor dela estava realmente ali, entretanto não quis força-la a nada, porque ele não queria nada obrigado. Ele queria que o beijo dela fosse cheio daquele fogo que sempre o queimava e deixava tudo fora de foco, mas, somente se ela o desejasse também. Com um nó na garganta que se formara ali por conta de seus pensamentos, ele disse por fim:
- Te amo. - E saiu sem esperar pela resposta dela.
Gilbert chegou ao trabalho com cara de poucos amigos, pois não tinha vontade de falar com ninguém. Aquela situação estranha entre ele e Anne conseguira estragar seu dia literalmente, e ele se perguntava como conseguiria passar o dia todo esperando até a tarde para falar com sua esposa. No entanto, ele tinha pacientes para atender cujas enfermidades precisavam ser tratadas, e eles não tinham nada a ver com seu problemas particulares, por, isso, ele pegou seus prontuário, verificou quem seria seu primeiro paciente do dia, vestiu seu jaleco, e leu rapidamente sobre o caso do qual vinha tratando a mais ou menos três meses. De vez em quando seus olhos desviavam para a foto de Anne que tinha sobre sua mesa, e depois voltava a ler os relatórios dos últimos meses. Por fim, conseguiu se concentrar mesmo que precariamente e assim mergulhou no trabalho completamente.
ANNE E GILBERT
Anne foi pra o trabalho um pouco depois de Gilbert. Ela usara o pretexto do táxi porque queria mais um tempo sozinha, sem a presença de seu marido que era capaz de distraí-la quando estava por perto, e também porque ainda não estava preparada para falar com Gilbert sobre o assunto principal daquela manhã. Ela queria estar emocionalmente equilibrada para discutirem tudo aquilo como pessoas adultas, e frágil como se sentia naquela manhã, ela acabaria se deixando envolver por sua carência, e não era isso que queria ou precisava.
Fora difícil ver o olhar magoado de Gilbert quando ela se recusara a responder suas perguntas, e também enfrentar seu olhar intenso durante todo o café da manhã sem ceder. Ela sabia que ele estava tentando entender seu comportamento distante, e Anne decidiu não entregar sua vulnerabilidade de bandeja, por isso, fingira todo o tempo ler o jornal que recebiam diariamente, mas, sequer entendera uma linha, porque sua tensão estava no auge. E o pior de tudo fora despedir-se com um beijo casto quando na verdade quase o agarrara pela camisa, e saboreara cada parte daqueles lábios que sabiam deixá-la louca e fora e si.
Talvez tivesse exagerado na encenação, mas, ela tinha que agir assim, ou aceitaria com facilidade qualquer explicação que Gilbert lhe desse, ou cederia aos encantos de seu marido, e todas as suas inseguranças seriam jogados para embaixo do tapete, e acabariam a pegando novamente em outro momento, então, ela precisava resolver aquilo logo de cabeça fria, e seria aquela noite, pois Anne imaginava que um dia inteiro longe de Gilbert e dedicado si mesma ela encontraria a forma correta de dizer a seu marido como estava se sentindo, e o que vê-lo perto de Denise Williams causava em seu coração. Talvez ele julgasse isso como uma desconfiança boba provocada por seu ciúme exagerado, e provavelmente, era isso mesmo, mas, ela queira ouvir dos lábios dele, queria ver nos olhos dele toda sinceridade que sempre estivera entre eles durante todo o seu relacionamento, com exceção de um momento ou outro que deixaram de falar a verdade um para o outro sobre determinado assunto devido à algumas circunstâncias, mas nunca deixaram nada sem esclarecimento ou mal explicado entre eles.
Deste modo, ela terminou de se arrumar, chamou um táxi, e enquanto esperava pelo motorista, Anne começou a pensar que logo deveria perder o medo de dirigir e comprar um carro par si mesma, pois com dois bebês a caminho, ela não poderia ficar dependendo de seu marido para tudo, e também não queria ficar dependente de um táxi que nem sempre estaria disponível nos momentos que precisasse, Ela detestava dirigir, mas, pelos seus bebês estava disposta a fazer o sacrifício de se acostumar a conduzir um carro na cidade movimentada de Nova Iorque, e decidiu que esse seria outro assunto a discutir com Gilbert naquela noite. Não achava que ele iria se opor a isso, porque, ele a vinha incentivando a voltar a dirigir a fim de que Anne tivesse mais liberdade para se locomover, e não ficasse tão presa aos horários e disponibilidade de tempo dele ou de qualquer empresa de transporte para levá-la aonde ela precisasse ir.
O táxi chegou, e em pouco tempo, Anne estava na agência. O trabalho ali era tranquilo, e por conta de sua gravidez de gêmeos, ela posava em pequenos intervalos para que não se cansasse demais, tinha horários certos para alimentação, e águas e sucos eram servidos a toda hora que ela desejasse ou solicitasse. Anne tinha mais conforto e mordomias nesse trabalho do que no anterior, o salário era extremamente generoso, o bônus extra lhe dava vantagens que ela nunca pensara que teria como viagens, jantares, eventos, e ainda a cada campanha concluída ela ganhava roupinhas de bebê que enriqueciam cada vez mais o enxoval infantil que ela estava montando para os seus cristais.
Naquele dia especificamente, a campanha na qual estava trabalhando era sobre roupas para gestantes que representava a marca que a contratara, e por isso, ela teve que trabalhar horas adicionais do que tinha sido combinado, mas, ela seria devidamente remunerada e teria mais horas de descanso. Em um dos seus intervalos, ela tentou falar com Gilbert, mas, não conseguiu, o que a deixou extremamente chateada. Não tinha nada importante para dizer a ele, mas, ela sentira aquela necessidade absurda de ouvir-lhe a voz, mesmo odiando a própria fraqueza. No fim desistiu, quando ela percebeu que ele não atenderia, pois deveria estar ocupado demais com pacientes ou não. Ela bloqueou imediatamente esse pensamento quando o imaginou com Denise Williams. Aquilo tinha que parar ou iria ficar maluca. Ela tinha que esquecer que aquela morena cheia de curvas trabalhava ao lado de seu marido o dia inteiro, enquanto Anne o teria diante de suas vistas novamente somente na hora do jantar. Deus! Que ódio mortal ela sentia por aquela mulher. Gilbert podia até não perceber o quanto ela era atraente, mas, Denise percebera de primeira o quanto o marido de Anne era lindo. Aqueles olhares que Anne notara ela lançar sobre Gilbert somente queriam dizer uma coisa. Que seu interesse pelo jovem cirurgião ia além do lado profissional. Anne também era mulher e entendia perfeitamente a atração que seu marido podia causar nas mulheres, mas, isso não dava o direito a morena de quase engoli-lo com os olhos.
O resto do dia correu normalmente e às três da tarde Anne encerrou o expediente. Ela trocou de roupa e se dirigiu para o ponto de táxi onde normalmente esperava pelo seu motorista diário. Ela estava entretida com uma matéria que lia no celular quando levantou a cabeça e de relance viu um carro passar perto dela. Anne não conseguiu ver direito o motorista, mas, seus cabelos loiros pareceram muito de alguém cujo nome ela não queria pronunciar, e mesmo não sabendo se poderia ser ele ou não, Anne sentiu seu peito se apertar, e sua respiração travar ao mesmo tempo em que sentia leve contrações em seu útero que a deixaram apavorada. Não podia ser. Estava longe do mês em que seus filhos nasceriam, então, não entendia como aquilo poderia estar acontecendo em seu quarto mês de gravidez. Imediatamente, ela ligou para Gabriela que a aconselhou a ir até o hospital para que ela pudesse examiná-la.
- Moça, está sentindo algo? - o motorista do táxi que Anne havia chamado perguntou preocupado.
- Eu não sei ao certo. Poderia por favor me levar ao Hospital Central? Já liguei para minha médica, e ela está lá a minha espera. - Anne disse ofegante, mais por nervosismo do que por estar sentindo alguma dor real.
- Claro, chegaremos lá rapidamente. Fiquei tranquila. - O motorista disse. Em seguida, ele a ajudou a se acomodar no banco de trás do táxi, e dirigiu a toda velocidade até o hospital, enquanto Anne tentava se manter calma como dissera Gabriela, e regular sua respiração com as contrações que estava sentindo. Ela estava apavorada, pois nunca sentira algo parecido. Seus bebês não poderiam estar assim tão apressados para virem ao mundo quando ainda não estavam prontos para isso. Lágrimas de preocupação começaram a escorrer por seu rosto, e ela desejou com todas as forças que Gilbert estivesse com ela, pois a segurança dele sempre conseguia acalmar o seu desespero em todos os momentos, mas, mesmo assim ela decidiu não ligar para ele. Ela conseguia lidar com aquilo sozinha, não era uma garotinha que precisasse todo o tempo que alguém lhe segurasse na mão.
Ela chegou ao hospital e Gabriela já a esperava na porta do consultório.
- Venha, minha querida. Vamos ver o que esses dois bebezinhos estão aprontando. – Ela disse encaminhando a ruivinha para a sala de ultrassonografia.
O exame durou cerca de quinze minutos, enquanto Anne completamente tensa não conseguia parar de tremer, tentando imaginar o que estaria acontecendo com os bebês. Quando Gabriela terminou o exame, ela pediu para Anne se vestir, e se sentaram na sala do consultório para conversarem.
- Está tudo bem, Anne. O que você teve são chamadas de contrações de Braxton Hicks, ou as famosas contrações falsas. Elas são bastante comuns durante o período de gravidez e podem ocorrer várias vezes sem problema algum. Essas contrações são necessárias para amolecer o colo do útero e exercitar todos os músculos que você usará para empurrar o bebê para fora, ou seja, é uma preparação para o parto real, por isso, não deve se preocupar a não ser que sejam de longa duração ou lhe causem alguma dor.
- Graças a Deus. - Anne disse visivelmente aliviada.
- Eu notei que você está um pouco tensa. Aconteceu alguma coisa que tenha tem deixado estressada? As falsas contrações também podem ser causadas por altos níveis de estresse.
- Eu andei tendo alguns aborrecimentos sim. - Anne confessou, mas, não continuou o assunto e Gabriela também não insistiu.
- Vou chamar o Gilbert. – Ela fez menção de usar o interfone, mas, Anne impediu:
- Não faça isso, por favor.
- Por que não, Anne?
- Não quero atrapalhar o trabalho dele.- ela disse com a voz em tom baixo.
- Anne, o que está acontecendo? Não quer me contar? Os aborrecimentos que teve tem a ver com o Gilbert?
- Sim, mas, não é nada grave. Apenas desentendimentos comuns entre casais- ela disse constrangida. Não queria compartilhar suas desconfianças com Gabriela.
- Tem certeza, Anne?
- Sim.
- Tudo bem., mas, não acha que ele vai querer saber o que aconteceu com você hoje? - Gabriela perguntou brincando com a caneta que estava em suas mãos.
- Eu vou contar para ele, assim que ele chegar em casa, não se preocupe.
- Faça isso mesmo, por favor. Ou ele vai ficar bravo por eu não ter lhe dito nada.
- Mas, nós temos direito a discrição entre médico e paciente. - Anne a lembrou.
- E você acha que seu marido se importa com isso quando o assunto é você e os bebês? Ele me fez jurar sobre a Bíblia que nunca esconderia nada dele se acontecesse alguma coisa grave com suas ""joias como ele costuma se referir a vocês três.
- Eu não podia esperar oura coisa de Gilbert.- Anne disse com um sorriso, ao pensar no quanto ele era ético desde que nada envolvesse as pessoas que lhe eram importantes, pois caso isso acontecesse, ele não se importava em ir até as últimas consequências para salvar uma vida. Apesar de algumas pessoas não acharem isso muito positivo, essa lealdade aos seus sentimentos era uma das inúmeras coisas que amava em seu marido. - Obrigada por me atender, Gabriela. Vou para casa agora.
- Sim, e procure descansar bastante. Qualquer coisa não hesite em me ligar.
- Pode deixar. - Anne disse e saiu do consultório indo direto para o corredor.
Por um instante pensou em ver se Gilbert estava livre, pois assim poderia matar um pouquinho da saudade que estava dele, mas, quando estava quase na porta do consultório, ela se abriu e Denise Williams saiu de lá. Assim que viu Anne, ela lhe deu um sorriso malicioso enquanto dizia:
- Olá, Sra. Blythe. Espero que esteja bem com sua gravidez.
- Estou sim, obrigada. - Anne respondeu pouco à vontade.
- Veio ver seu marido?
- Sim, se ele estiver desocupado.
- Acho que ele só tem um paciente às quatro. - Ela disse consultando seu relógio, enquanto Anne se perguntava como Denise Williams tinha acesso a agenda de seu marido. - Ah, cá entre nós. Seu marido é um excelente médico, e um homem e tanto também. – Ela voltou a sorrir e continuou seu caminho sem se despedir de Anne e a deixando completamente embasbacada com seu comentário atrevido.
A ruivinha deu meia volta e perdeu completamente a vontade de ver Gilbert enquanto se sentia irritada por não ter dado a Denise uma resposta à altura. Sua raiva ia crescendo a cada passo que dava, e quando pegou um táxi para ir para casa ela estava quase explodindo de ódio.
Ela entrou no apartamento, sentindo-se tão brava que sua respiração estava rápida demais. Então, se lembrou das palavras de Gabriela, e tentou se acalmar para evitar de ter outras contrações. Ela arrancou os sapatos e foi descalça até o quarto dos bebês , onde se sentou em uma poltrona que Gilbert colocara de canto para que ela pudesse ter conforto quando fosse amamentar os bebês , e segurando um ursinho de pelúcia em seus braços , Anne começou a se lembrar do dia em que ela e Gilbert tinham montado aquele quarto, e instantaneamente começou a chorar ao pensar em como naquele dia tudo parecia tão promissor e feliz. Agora ela estava mergulhada em um redemoinho de incertezas que a deixavam terrivelmente infeliz.
Quando Gilbert chegou em casa ansioso para vê-la, ele estranhou não a encontrar em lugar algum. Foi então, que ele viu uma luz no corredor que o levou exatamente ao quarto dos bebês onde Anne permanecia abraçada ao ursinho de pelúcia e profundamente adormecida. Ele se aproximou dela, e ficou preocupado ao ver o rosto de Anne ainda úmido de lágrimas. Sem demora, ele se ajoelhou perto dela, tocou no braço de Anne devagar e disse baixinho:
- Querida, estou aqui. - Ela abriu os olhos e piscou por alguns segundos antes de dizer:
- Já chegou?
- Sim, são cinco e meia. - Ele respondeu.
- Tenho que começar o jantar. - Ela ia se levantar, mas, Gilbert segurou em seu pulso.
- Não se preocupa com isso agora. Eu só quero saber se está bem. - Ele tocou o rosto dela e Anne quase chorou de novo, mas, se controlou, pois não queria parecer uma boba.
- Eu estou bem. - Ela disse sorrindo de um jeito triste que fez Gilbert abraçá-la e dizer:
- Você está mentindo para mim, por que? - os olhos dele a queimavam e ela não conseguia dizer exatamente o que precisava. Ela estava exausta, suas emoções estavam um caos, então, depois de respirar fundo três vezes, ela começou a falar:
- Gil, eu...- ela balançou a cabeça desistindo no meio do caminho, e então, ele a puxou para seu colo e disse:
- Vou te levar para o quarto e a gente conversa lá, está bem? - ela concordou, e Gilbert a carregou gentilmente no colo para o quarto enquanto Anne encostava a cabeça em seu peito e suspirava pelo conforto que aquilo lhe dava.
Seu marido a colocou sentada na cama, e segurando na mão dela ele falou:
- Vamos, meu amor, desabafe comigo.
- Eu não sei se consigo falar sobre isso agora.
- Por que não?
- Porque me machuca. - Ela falou baixando o olhar.
- Olha para mim, Anne. - Ela obedeceu, e lá estava os olhos castanhos que ela amava, e que sempre lhe diziam tudo o que ela precisava saber. Gilbert se aproximou, estendeu mão e com o polegar no queixo dela, ele trouxe o rosto de Anne para perto do seu, e então desceu a boca dele sobre a dela, iniciando um beijo intenso e apaixonado. Anne correspondeu , porque precisava daquilo, necessitava imensamente daquela ternura em forma de carícia que ela e Gilbert partilhavam, mas, então ela percebeu as mãos dele subirem pela lateral de seu corpo, e , quando sentiu o toque dele em seus seios por cima da blusa, ela o empurrou e disse;
- Não!
- Por que não? - ele disse ainda tentando beijá-la.
- Porque eu não quero que resolvamos as coisas assim.
- Assim como, Anne? - Gilbert perguntou confuso.
- Com sexo. Toda vez que temos um problema, você usa o sexo para me fazer ceder, e isso me deixa com raiva.
- Eu nunca uso sexo com você, Anne. Eu sempre uso amor, porque é a única forma que conheço de chegar até você. É isso que é para mim. Sexo você faz quando a pessoa que está com você não é importante. Por isso, eu nunca fiz sexo com você, eu fiz amor. Embora, eu tenha percebido que nessa última semana os nossos momentos para você tenham significado somente isso.
- O que quer dizer? - ela o olhou espantada.
- Você pensa eu não percebo como age cada vez que eu te toco? Você corresponde, mas, parece que algo tão vazio, Anne, e você nunca se comportou como se nosso ato de amor fosse apenas uma necessidade física. E pela primeira vez eu não te senti minha, e você não sabe o quanto isso me deixou arrasado. - Anne viu dor nos olhos de Gilbert e isso mexeu com ela. Não fora sua intenção que ele percebesse seu distanciamento, mas, agora ela podia entender que Gilbert não perdera um só movimento seu.
- Desculpe-me, eu não queria agir assim.
- Então, por que agiu? Me explica para que eu possa entender o que fiz de errado para você se afastar de mim assim.
- Denise Williams significa alguma coisa para você? - ela disse de repente e Gilbert a olhou espantado, e respondeu:
- É claro que não, de onde você tirou isso?
- No dia da cirurgia eu vi você rindo para ela enquanto ela tinha o braço dela em seu ombro, E como você me disse que estava tendo problemas com uma colega de trabalho, eu deduzi que era ela e que tinham feito as pazes. E hoje eu fui até o hospital falar com Gabriela e a vi saindo do seu consultório, e sabe o que ela me disse? Que você é um excelente médico e um homem melhor ainda. O que devo pensar disso, Gilbert?
- Você pensou que eu estava traindo você com ela? 'E isso que está tentando me dizer? - ele parecia tão chocado que fez Anne ficar constrangida por ter tocado naquele assunto, mas, ela precisava saber de qualquer maneira.
- O que eu deveria imaginar, Gil?
- Você poderia ter conversado comigo, pois assim teríamos evitado toda essa situação. - Ele disse parecendo estar extremamente aborrecido.
- Eu fiquei com medo. - Ela confessou.
- Ficou com medo do que?
- De te perder. - Ela disse baixinho.
- Anne, que besteira é essa que está me dizendo? Você nunca vai me perder. Eu te amo tanto, será que não entende? - ele segurou o rosto dela com as mãos e Anne respondeu;
- Eu sei que devo estar parecendo uma boba para você, mas, é que Denise é tão bonita.
- A beleza dela não significa nada. Você é a mulher mais linda do mundo para mim, e isso nunca vai mudar. - Ele disse forçando-a a olhar para ele.
- Mas, eu já vi como ela te olha.
- Pouco me importa como ela me olha, porque a única pessoa que enxergo é você, a única pessoa que me desestrutura totalmente é você, e a única pessoa que eu amo é você.- ela viu a sinceridade no fundo daqueles olhos castanhos, e percebeu como tinha sido tola por manter-se emocionalmente afastada de Gilbert todos aqueles dias, mas sua insegurança sempre tinha sido seu ponto fraco desde criança, e agora com Gilbert, havia certos momentos que ela se tornava maior, fazendo-a sofrer sem necessidade.
- Desculpe-me por ser uma tola completa. - Ela disse abraçando-o com força, e aproveitando todo o calor daquele abraço.
- Só diz que me ama, pois o resto não tem a mínima importância para mim.
- Eu te amo demais, Dr. Blythe. - Ela disse beijando-o no rosto.
- É isso que eu precisava saber. - Ele disse com a voz aliviada, e então a puxou para um beijo, e dessa vez Anne não fugiu e nem deixou de demonstrar seus verdadeiros sentimentos como tolamente fizera todos aqueles dias.
Gilbert a deitou sobre os travesseiros, e ela o puxou para si, desabotoando a camisa dele rapidamente e fazendo-o se despir do restante de suas roupas, e depois, foi a vez dele de tirar o vestido que ela usava, e assim que a viu toda despida, as mãos dele subiram por seus braços , passaram pelo ombro, e quando chegaram ao rosto, ele acariciou cada centímetro dele com o polegar, adorando tocar a pele acetinada com a ponta de seus dedos. Ele se deitou na cama, e fez Anne mudar de posição fazendo seu corpo rolar para cima do dele, e a ruivinha aproveitou com esse movimento para distribuir beijos por todo o pescoço de Gilbert, demorando-se em seu peito e ombro, estendo alucinadamente até o abdômen dele , fazendo o rapaz arfar durante toda a carícia. Eles rolara pela cama novamente, e Gilbert colocou Anne em uma posição confortável e que dava-lhe acesso a todo corpo dela. Enlouquecendo-a quando com a ponta da língua ele excitou seus seios cada vez mais sensíveis, mordiscou toda pele do pescoço para onde ele subiu, e depois o abdômen, quando ele fez todo o caminho até a intimidade de Anne que se abriu para ele no momento em que Gilbert a estimulou com a ponta de seus dedos. Seus corpos eram fogo, ninguém poderia apagá-lo, seus sentido eram paixão, e eles estavam totalmente dominados por ela, suas mãos e lábios eram amor, e eles não conseguiam deixar de se tocar ou dizer palavras que estimulavam cada vez mais seus sentido em busca daquele momento pleno onde seus corpos se tornavam um e suas almas se juntavam como em um eclipse total.
E quando Anne sentiu Gilbert dentro dela, seu coração começou a bater tão forte como se toda a adrenalina do mundo fosse injetada em suas veias , e assim ela amou e se deixou ser amada não apenas pelo lado de fora, mas, pelo lado de dentro também, e ninguém nunca poderia dizer que aquelas duas almas não se pertenciam, porque cada suspiro era a prova viva do que aquele momento no qual deixavam que todas as suas barreiras fossem derrubadas, e suas defesas vencidas se transformava na face nua e crua de seu amor.
O prazer chegou intenso melhor do que antes, e maior do que sempre, e tanto Anne quanto Gilbert descobriram que era possível morrer pelo sentimento que crescia dentro deles, e renascer por ele também, e naquela noite, mais uma lição foi aprendida quando suas inseguranças foram deixadas todas expostas, que a confiança era o melhor presente que podiam dar um ao outro, e assim eles se uniram mais algumas vezes naquela noite, e quando Gilbert olhou naqueles olhos azuis maravilhosos que sempre seriam como duas estrelas cadentes, eles lhe sorriam, e ele descobriu que podia amar ainda mais aquela mulher do que pensara, pois era aquela mesma mulher que sempre lhe mostraria o caminho de volta para casa.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro