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Capítulo 77- Tudo o que importa


Olá, queridos leitores. Espero que gostem desse capítulo., e comentem sobre ele, pois isso é realmente importante para mim. Desculpem-me pelos erros ortográficos. Beijos Rosana.

ANNE

O terror tomou conta do cérebro de Anne, e ela simplesmente não conseguia parar de gritar. Toda a sua atenção estava concentrada na pequena linha vermelha descendo pela sua coxa interna, e ela não queria pensar no que aquilo poderia significar, ela não ousava deixar que a sua mente a castigasse com o pensamento de que estava perdendo o seu bebê.

Anne começou a tremer, seus olhos arregalados como se estivessem prestes a saltar de suas órbitas, e ela sentiu um frio subindo pelo seu corpo enquanto um suor gelado se projetava em sua testa, mostrando a intensidade de seu medo. Não havia dor, apenas uma sensação incômoda que fazia suas pernas pesarem feito chumbo, deixando-a pregada no mesmo lugar sem conseguir dar um passo. A falta de ar começou a apertar seu peito, e lágrimas inesperadas correram soltas pela sua face. Ela fechou os olhos, porque tudo ao seu redor começou a rodar, e Anne identificou imediatamente uma crise de pânico que chegara sorrateiramente, escondida à sombra do seu desespero.

Suas pernas escorregaram pelo ladrilho do banheiro, e ela se deixou ficar sentada no chão frio, cobrindo o rosto com as mãos, orando silenciosamente para que aquela sensação desagradável passasse rápido, e ela pudesse ir em busca de ajuda. Anne não soube quanto tempo permaneceu assim. Poderia ter sido por uma hora, ou apenas questão de minutos, sozinha naquele banheiro quase em choque. Milagrosamente, passos rápidos foram ouvidos do lado de fora, e então os braços fortes de seu noivo a levantaram do chão, e suas mãos grandes e macias seguraram seu rosto entre elas, olhando para os traços de lágrimas que marcavam suas feições, ele perguntou preocupado:

- O que foi, Anne? Está sentindo alguma dor? Ouvi seus gritos e vim correndo, pois pensei que tinha caído ou sofrido algum acidente. Fale comigo, amor, para que eu possa te ajudar.- os lábios dela tremeram, e Anne fez de tudo para controlar seu pânico e falar o que precisava naquele instante. Respirando rapidamente, ela conseguiu firmar sua voz e dizer:

- Estou sangrando, Gil. - ela olhou para baixo, e o olhar de Gilbert seguindo o seu até o filete de sangue ainda presente em sua pele branca. Percebendo o seu pânico, Gilbert acariciou os seus cabelos, e disse com a voz firme, porém suave:

- Fique, calma. Eu vou te levar para o hospital. - Anne balançou a cabeça, seus olhos presos nos de Gilbert que lhe passavam a confiança necessária para que ela conseguisse voltar a respirar quase normalmente.

Gilbert a pegou com cuidado no colo, e a levou para o quarto, depositando-a na cama. Em seguida, ele se vestiu o mais rápido que pôde. Enrolou Anne em uma manta de lã, e a levou para fora da casa da fazenda no colo até o seu carro.

Desta forma, Gilbert seguiu para o hospital. O que ele estava pensando, Anne não conseguia decifrar, pois ele mantinha os olhos na estrada, o maxilar travado, seus dedos agarrados no volante dirigindo o mais rápido que podia, enquanto ela tentava conter os soluços que subiam a sua garganta, e o pavor de perder o seu filho já tão amado por ambos. Um suspiro alto, fez Gilbert olhar para ela, e perguntar:

- Querida, sente alguma dor?

- Não, mas, estou com medo. Gilbert de que quando chegarmos no hospital já seja tarde.- ela sentiu seus olhos se enchendo de lágrimas, e não suportando mais, começou a chorar alto, seu corpo sendo sacudido por cada espasmo de uma angústia profunda que vinha do seu coração.

- Nada vai acontecer ao nosso bebê, Anne. Procure não pensar nisso. Vai ficar tudo bem. - a voz dele conseguiu fazê-la abafar os soluços até que parassem completamente. Mas, seus pensamentos não paravam de enlouquecê-la, assim como a imagem de Peter Bells parecia zombar dela no fundo da sua mente. Ela precisava falar sobre aquilo com Gilbert, mas, diante da urgência das circunstâncias, salvar a vida de seu filho era mais importante.

Apesar de estar enrolada em uma manta grossa, Anne sentia frio, e não era um frio comum. Parecia que todo o gelo do mundo estava em suas veias, deixando-a doente, fazendo-a tremer por baixo de várias camadas de lã. Ela se aproximou mais de Gilbert, procurando se aquecer no calor corporal dele, e isso pareceu funcionar por um tempo. De vez em quando, ele a olhava, e Anne percebia que ele também estava nervoso, embora disfarçasse muito bem, e em alguns momentos, a mão dele apertava a sua de leve tentando transmitir certa confiança, e ela agradeceu internamente por ele estar ali, caso contrário, ela já teria tido um de seus ataques de pânico do tipo mais grave.

Gilbert estar no comando de tudo, a deixava mais calma, pois ele sabia exatamente o que fazer. Ela não queria nem pensar se aquilo tivesse acontecido com ela em Nova Iorque, em um daqueles plantões em que ele mal vinha para casa. Embora estivesse zangada com ele, por seu noivo não ter lhe contado sobre Peter Bells, ela não queria pensar naquilo naquele momento, pois ficaria pior. Ela queria concentrar toda a sua energia em ficar bem, pois, ela sabia que se tivesse sofrido um aborto espontâneo, ela não superaria tão fácil. Não agora que já tinha se acostumado a pensar no seu bebezinho em seus braços, pensado em nomes que podiam combinar com o rostinho que imaginava que ele teria em sua cabeça. Ela não podia perdê-lo, ou se afundaria na mais profunda depressão, e nem mesmo Gilbert conseguiria salvá-la daquela dor.

Eles chegaram no hospital, e Gilbert não quis esperar pela maca e a carregou no colo do estacionamento até a recepção, explicando em palavras sucintas tudo o que estava acontecendo com ela. Enfermeiros foram chamados, e o médico de plantão também, que por coincidência era um dos amigos de Gilbert que trabalhara com ele no passado naquele mesmo hospital, e por isso, ele permitiu que Gilbert participasse do exame pelo qual Anne teve que ser submetida para avaliar as condições do feto que se desenvolvia a mais de um mês dentro dela. Após quarenta minutos de avaliação, ela foi levada a um quarto onde, Anne e Gilbert esperariam pelos resultados que não tardariam a serem revelados pelo médico.

Durante os minutos em que passaram juntos naquele quarto, nenhum deles falou nada, pois a tensão do momento fazia com que palavras fossem insuficientes para descrever o que se passava no coração de ambos. Gilbert se fechou em um silêncio indecifrável, enquanto Anne não conseguia parar de pensar sobre todos os dias de felicidade que vivera no último mês desfrutando do seu sonho de maternidade tão desejado, agora ameaçado de ser destruído completamente. Porém, suas mãos e as de Gilbert se mantiveram unidas, apoiando-se mutuamente, embora seus olhos não se encontrassem, por medo talvez de que seu pior temor se concretizasse.

O médico, por fim apareceu, depois de uma hora de espera na qual Anne se viu quase afundando suas longas unhas sobre a própria carne e observando o sangue jorrar dela abundantemente. Ela estava ansiosa para saber o resultado, mas, não ousava perguntar, pois tinha medo do que iria ouvir e não estava preparada para más notícias. Felizmente, Gilbert tomou a frente do problema mais uma vez e perguntou, parecendo tão ansioso quanto ela:

- E então, Mike?

- Felizmente Gilbert, o que Anne sofreu não foi o início de um aborto espontâneo como inicialmente temíamos. O que aconteceu com ela foi um incidente que chamamos de "escape", muito comum no início da gravidez. A sua ocorrência se deve a vários fatores, mas os principais são, estresse ou tensão em excesso, por isso, Anne, você deve me dizer que tipo de situação a levou a isso, para que possamos evitar que algo mais grave venha a ocorrer no futuro. – a ruivinha olhou para o médico sem vontade de falar sobre a mensagem que lera no celular de Gilbert, porque somente a ideia de que Peter estava solto por aí e poderia a qualquer momento surgir do nada, e persegui-la novamente lhe dava calafrios, mas, sabia que não poderia esconder aquilo por muito tempo por isso respondeu:

- Eu recebi uma notícia que me deixou com medo, e por isso não  consegui segurar o meu emocional. - Anne explicou evasiva sem entrar em detalhes, mas, logo sentiu o olhar de Gilbert fixo nela, tentando descobrir do que exatamente ela falava.

- Isso pode explicar então o seu sangramento repentino. – o médico não exigiu saber com detalhes o que a perturbara tanto deixando-a aliviada, assim como as palavras dele nos minutos seguintes, tirando-lhe todo o peso de seu coração. - Quero que fique tranquila a respeito do que aconteceu, pois de forma nenhuma afetou o feto, e ele continua se desenvolvendo de maneira sadia dentro de você. Porém, quero que descanse, e evite situações tensas que possam te levar a um quadro mais sério colocando em risco o seu bebê. Vou dar-lhe alta, e a aconselho a procurar seu ginecologista assim que voltar para Nova Iorque.

- Vou fazer isso. Obrigado, Doutor. - Anne disse enquanto o médico se despedia de Gilbert e saía do quarto.

- Pronta para ir para casa? - Gilbert lhe disse afagando-lhe os cabelos. Anne assentiu e permitiu que ele a pegasse no colo, levando-a de volta para o carro.

Sentada ao lado dele, e sem o medo absurdo que tomara conta dela quando chegaram no hospital, Anne começou a sentir a chama da raiva que ela afogara dentro dela mais cedo começar a emergir. Gilbert lhe escondera um fato importante, e por isso, ela acabara se exaltando e se colocara em uma situação de risco, e por isso também não podia perdoá-lo de pronto. Ele ainda não tinha tocado no assunto sobre o que ela dissera ao médico, assim, ela tinha certeza que quando chegassem em casa, ele a interrogaria até obter a resposta que desejava. E foi exatamente isso, que seu noivo fez no momento em que ele subiu as escadas com ela em seus braços e a colocou na cama.

- Anne, qual situação te deixou tensa hoje? Não me lembro de nenhum incidente recente. - Anne ponderou se devia responder, mas, então, pensou que ele tinha que saber como ela se sentira com o fato de ele ter lhe escondido o padeiro de Peter, sabendo de tudo o que ele lhe fizera.

- Você deveria ler suas mensagens com mais frequência, Dr. Blythe.- ele se espantou com o tom ácido que ela usou para lhe dizer isso, e olhando-a seriamente, Gilbert perguntou:

- Andou lendo minhas mensagens. Anne?

- Não foi de propósito. Ela chegou quando você estava no banho, e eu por acaso a vi, e se não fosse por isso, eu não teria descoberto que Peter Bells está solto, e pode ser perigoso para nós. - ela estava tão brava que não conseguia esconder na maneira como respondera a pergunta que Gilbert lhe fizera.

- Anne, eu não te contei, porque eu sabia que você iria pirar no momento em que soubesse. E eu não estava enganado, não é? Olha só o que aconteceu. - ele parecia estar irritado também, o que aumentou ainda mais a raiva de Anne.

- E você não achou que eu deveria saber? É da minha segurança e da do nosso filho que estamos falando aqui, Gilbert, e não de uma coisa corriqueira que fazemos diariamente.

- Amor, eu quis te proteger. E se você não tivesse bisbilhotado minhas mensagens, isso não teria ocorrido. O que esperava encontrar? Mensagens de uma admiradora secreta? - ela o olhou incrédula, Gilbert estava tentando pôr a culpa nela por uma responsabilidade de fatos que só cabia a ele.

- Não me venha com essa. Está querendo dizer que me coloquei nessa situação sozinha? Que você não tem nenhuma parcela de culpa? Eu podia ter sofrido um aborto por conta de sua irresponsabilidade. - ela disse, seus olhos faiscando de ira pura.

- Está me chamando de irresponsável quando tudo o que fiz foi tentar te manter tranquila para que não sofresse tudo de novo o que sofreu nos último meses, mas, parece que está disposta a se fazer de cega a admitir que foi você que provocou tudo isso com sua curiosidade sem limites. Poderia simplesmente ter conversado comigo civilizadamente sobre o assunto, mas, se encheu de suposições sem sentido, agindo de novo como a garota mimada e irracional que sempre foi! – Anne sentiu como se tivessem atingido o seu coração com uma faca. Outra pessoa lhe dizendo aquilo não a teria magoado tanto quanto Gilbert lhe jogando na cara palavras tão duras. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ela respondeu:

- Se pensa tudo isso de mim, me admira muito que tenha me escolhido para ser mãe do seu filho.

- Anne, amor, me perdoa, eu falei sem pensar. Não quis dizer nada disso. - o arrependimento na voz dele era nítido, mas, Anne fez força para ignorar. Ela estava sentindo-se profundamente ferida, e não ia deixar Gilbert se safar com apenas um pedido de desculpas. Ele a chamara de irracional, então, faria jus a palavra pela qual fora qualificada por ele, e não dedicaria um segundo do seu tempo naquela noite tentando ser racional, e compreender a atitude de seu noivo.

Ela o amava demais, porém, sua mágoa estava falando mais alto agora, e enquanto estivesse se sentindo daquele jeito, ela sabia que não conseguiria perdoá-lo.

- Você disse exatamente o que queria dizer, e não me peça para esquecer porque não vou.- Gilbert se aproximou, mas ela deu um passo para trás. Não queria tê-lo por perto, não queria olhar para o rosto dele, não queria sentir o perfume dele, porque seus sentidos tão cheios dele iriam trai-la, e ela não queria ser tocada por seu noivo sentindo raiva dele, não faria isso consigo mesma.

- Anne, me deixe te explicar melhor tudo isso. Não quero ficar brigado com você justamente agora que estamos tão bem, e tão felizes com o nosso bebê. - ele estava usando palavras doces para manipulá-la, mas, ela não permitiria, pois não estava tão cega de amor assim para esquecer tudo o que ele lhe dissera. Ela ainda tinha respeito por si mesma, e não deixaria que Gilbert tirasse isso dela. O rapaz estendeu a mão para tocar seus cabelos, mas, ela deu um pulo como se tivesse sido atingida por um raio, e a única coisa que passou por sua cabeça para dizer foi:

- Não me toque!- o olhar de Gilbert se encheu de mágoa, e ela quase gemeu alto por machucá-lo assim, porém, naquele momento o que falou mais alto foi seu orgulho ferido, e quando ela se sentia assim, era muito difícil para Anne enxergar com coerência os dois lados da questão. Ela somente queria manter-se longe dele por algumas horas até que a chama da raiva que queimava dentro dela se apagasse, e ela conseguisse ver com clareza por entre as brumas da sua própria intolerância momentânea.

Gilbert não fez mais nenhuma tentativa de se aproximar, mas, ficou olhando para Anne, esperando pela próxima reação dela, e como ela ficou parada no mesmo lugar, sem dizer-lhe uma palavra sequer, ele então fez um última tentativa de apaziguar o tumulto entre eles:

- Anne, vamos conversar. Eu sei que te magoei, me deixe te mostrar que foi tudo um engano. - Anne sequer quis ouvir. Ela deu-lhe as costas e disse:

- Não quero mais conversar hoje. Vou para a cama, pois eu e meu filho precisamos dormir.

- Nosso filho.- Gilbert a corrigiu e ela deu de ombro.- Ela sabia que estava sendo intolerante e até mesmo infantil, mas, se achava no direito de sê-lo depois do terror que vivera ao pensar que estava perdendo o seu bebê. No fundo, ela não culpava Gilbert pelo ocorrido, mas a lembrança das palavras dele não a deixava agir diferente. Ela estava queimando por dentro, e isso sim era culpa dele.

Anne se deitou na cama de costas para o travesseiro de seu noivo, e não demorou muito, ele se deitou ao lado dela em silêncio, respeitando a distância que ela colocara entre eles, e pela primeira vez depois de muito tempo, eles ficaram deitados lado a lado feito estranhos. Anne segurou as lágrimas, pois exatamente cinco minutos depois já sentia a falta do braço dele ao seu redor, porém, não voltou atrás, e aguentou firme sua carência, embora passasse a noite toda dormindo por períodos curtos, e acordando simultaneamente. Ela não sabia se Gilbert estava se sentindo do mesmo jeito que ela, pois não se virou para ele nenhuma vez. Ela ouviu-o ressonar a seu lado, e isso para Anne queria dizer que ele conseguira pegar no sono, enquanto ela simplesmente tinha os olhos fixos na parede a maior parte do tempo.

Como tinham chegado aquilo? Estavam no paraíso a poucas horas, e agora estavam separados pelo orgulho de ambos. Ela dissera coisas que não devia, e Gilbert também, porém, ela não pediria desculpas até que ele estivesse disposto a fazer o mesmo, pois as fracas tentativas que ele fizera momentos atrás no quarto de lhe pedir perdão não funcionara, pois ela não sentiu que ele realmente se arrependera de tê-la ofendido. Ela não queria desculpá-lo naquele momento e não o faria, embora se sentisse terrivelmente infeliz pelo abismo emocional que se abrira entre eles.

Inquieta, ela se mexeu na cama várias vezes, até achar uma posição confortável e conseguisse adormecer. Quando o sol iluminou o quarto pela manhã, ela abriu os olhos se sentindo exausta e involuntariamente se virou para olhar para Gilbert, notando decepcionada que ele já se levantara, e a deixara sozinha na cama. Normalmente, ele esperava que ela despertasse para que pudessem descer para o andar debaixo e tomarem o café da manhã juntos, contudo, naquele dia, Gilbert resolvera excluí-la de sua atividade matinal. Ferindo-a mais um pouco onde doía mais, o seu coração.

Infeliz, ela se sentou na cama, ajeitando seus longos cabelos em completo desalinho, seus dedos se enroscando em vários fios cheios de nós, e ela se sentiu tentada a cortá-los pela metade apenas para afrontar Gilbert, mas, logo desistiu do pensamento, não seria tão mesquinha assim. Assim, sem ter muito o que fazer, ela continuou sentada, com os olhos fixos na porta, e esperando que Gilbert aparecesse, mas, ele não o fez. De repente, seus olhos se desviaram para a mesinha do lado esquerdo da cama, e se espantou ao ver uma bandeja de café da manhã com tudo o que ela mais gostava, e uma rosa vermelha que parecia ter sido colhida do jardim naquele momento, e foi então, que as lágrimas represadas a noite toda começaram a cair como um dilúvio sem fim.

GILBERT

O humor de Gilbert estava tão negro aquela manhã, que até o café da manhã parecia amargo. Ele passara a pior noite da sua vida, e não havia nada que fizesse melhorar o dia que se iniciava ruim também.

As palavras duras trocadas com Anne na noite anterior ainda ecoavam em seus ouvidos, e o olhar magoado dela quando ele a chamara de mimada e irracional fazia seu coração bater dolorido dentro do peito. Odiava magoá-la assim como odiava a si mesmo por ser tão estupido e se deixar levar pela raiva que Anne era sempre capaz de provocar nele. Assim como ela o fazia ser a melhor versão de si mesmo, sua noiva também sabia despertar seu pior lado, e isso por si só era uma combinação perigosa.

Ele ficara apavorado ao vê-la no chão do banheiro chorando desesperada, e quando ela lhe contara o motivo de seus soluços, ele tivera que respirar fundo várias vezes para não deixar que o pânico dela o contagiasse. Não podia deixar que a imagem dela perdendo o filho dele suplantasse a realidade da situação e seu bom senso, por isso, fizera bom uso de seu treinamento como cirurgião de anos trabalhando dentro de um hospital e enfrentando situações adversas, e se acalmara o suficiente para agir com cautela e correr com ela para a emergência. Felizmente, tudo não passara de um susto, e ele ficara imensamente aliviado ao saber que seu filho continuava crescendo dentro e Anne forte e sadio, apenas não previra o mal tempo se formando e vindo em sua direção com violência.

Não era para Anne ter visto aquela mensagem, mas, como ele poderia imaginar que o detetive que investigava o caso de Peter Bells entraria em contato com ele aquela noite, e que Anne por curiosidade acabaria descobrindo o que Gilbert vinha escondendo dela? E o pior era que Anne entendera tudo errado, e desfazer aquele mal-entendido lhe daria uma trabalhão.

Gilbert tinha consciência do gênio indomável da ruivinha, mas pensara que ele estava controlado, depois que eles voltaram a se relacionar, e ela se mostrara mais madura a respeito de tudo o que acontecera com ambos no passado, e agora com o bebê por nascer, sua noiva parecia ter alcançado um estágio de calmaria próprio da gravidez. Mas, como se enganara! Certas coisas não mudavam, e o temperamento difícil de Anne que parecera ter desaparecido, havia retornado com toda a sua força no momento em que ela se sentira afrontada, e Gilbert, por não estar preparado para ao ataque verbal de sua noiva acabara cometendo um erro terrível, ao atiçar sua ira descomunal.

Uma coisa ele não podia negar. Anne ficava maravilhosa quando estava furiosa. Seus olhos azuis pareciam crescer em intensidade, seu rosto corado e com um ar de desafio que o fazia desejar domar aquela mulher à sua vontade, porém, ela também sabia ser cruel, e ela fora cruel com ele ao acusá-lo de ser o responsável por sua tensão extrema que a levara ao hospital, sofrendo pelo medo de perder o seu bebê. Talvez ele tivesse errado ao não contar sobre Peter, mas, ele o fizera para protegê-la, mas, ela não conseguia entender, e egoisticamente só via sua atitude como irresponsabilidade dele. Ele tentara argumentar, mas, ela não quisera ouvi-lo, acabaram se ofendendo, e consequentemente dormindo na mesma cama de costas um para o outro.

Gilbert não dissera nada quando ela rejeitara o seu toque, porém nunca algo o magoara tanto como a barreira que ela construíra entre eles naquela noite. Acostumado a dormir com sua pele grudada na dela, Gilbert passara a noite em claro, fingindo dormir enquanto ouvia Anne fazer o mesmo.

Ficar sem tocá-la foi a coisa mais difícil que tivera que fazer em meses. Completamente viciado em tê-la em seus braços, ele se sentira desesperado por Anne submetê-lo a um afastamento forçado. Como ela pudera fazer aquilo com eles? Ele duvidava que ela não sentisse falta do toque dele tanto quanto ele do dela. E naquela manhã, ele quase quebrara a distância entre eles, e a fizera admitir que estava fazendo jogo duro apenas para castigá-lo por sua imprudência. Contudo, seu lado racional o fizera enxergar a tempo que não era o momento, e que ela merecia ter seu sono em paz

E por isso, ali estava ele se sentindo tão irritado com seus hormônios gritando por ela, e pela impossibilidade de saciar a sede que tinha dela e de seu amor. Aquilo não era uma opção, e sim um fato que ele teria que aceitar por hora.

Incapaz de ficar mais um minuto dentro de casa, ele foi até o quarto, deixou o café da manhã de Anne sobre a escrivaninha, pois não queria que ela descesse as escadas sem ele, vestira suas botas de montaria e foi até o celeiro onde encontrou Sebastian cuidando dos cavalos como fazia todas as manhã.

- Bom dia, Sebastian.- ele disse exibindo seu semblante sério tão diferente do ar risonho dos dias anteriores.

- Bom dia, Gilbert. Você parece estar aborrecido esta manhã. Aconteceu alguma coisa?- - Gilbert passou a mão pela nuca e depois respondeu suspirando:

- Anne aconteceu.

- Como assim?- Sebastian perguntou confuso.

- Ela me deu gelo a noite toda por conta de algo que deixei de lhe contar.

- Foi tão grave assim?- Sebastian perguntou cauteloso sem querer se intrometer demais.

- De certa forma sim, mas, o fiz para protegê-la, mas, ela não entende e não quer me perdoar.- suas mãos desceram para o lado direito do cavalo, onde Gilbert descansou seus dedos tocando a pelagem devagar.

- Entendo. Eu sei como é. Durante todos esses anos de casamento, eu acabei cometendo erros que Mary até hoje faz questão de me lembrar quando fica zangada comigo por algum motivo. Quantas vezes eu encontrei meu cobertor e travesseiro no sofá da sala. A Anne também te expulsou do quarto?- Sebastian perguntou com um sorriso compreensivo.

- Não, mas, não me deixou chegar nem um centímetro perto dela.

- Então, se prepare, pois ela vai fazê-lo sangrar até que te perdoe. Eu conheço bem esses assuntos. Levando-se em conta que ela está grávida, suas emoções tendem a estarem mais afloradas, então, vem tempestade por ai. - ele disse brincando e Gilbert acabou rindo mesmo sem querer.

- Deus! Como aquela ruivinha tem sangue quente, e sabe atingir direto no meu coração quando quer. Ela tem se mostrado tão amável nos últimos tempos que eu tinha até me esquecido o quanto ela pode ser difícil.

- E você a ama por isso.- Sebastian afirmou e Gilbert concordou com a cabeça.

- Eu acho que se ela fosse tão dócil, eu não teria me apaixonado por ela desse jeito. Creio que o meu fraco é mulheres de gênio forte. - Gilbert disse com seu pensamento preso em sua noiva.

- O desafio é sempre estimulante, não é?- Sebastian perguntou .Ele conhecia aquela sensação, pois, Mary o provocava diariamente com suas colocações inteligentes, e seus olhares intensos e cheios de uma sabedoria crua.

- Sim. Anne sempre foi meu calcanhar de Aquiles, e fui conquistado aos onze anos no minuto que a vi. Então, quais são as chances de eu escapar do fascínio que ela exerce sobre mim desde que éramos dois pirralhos? - Sebastian bateu no seu ombro com afeto e disse;

- Creio que ela te laçou para todo o sempre. Mulheres assim são raras. Não a deixe escapar.

- Não vou, mas, antes tenho que fazê-la me perdoar primeiro, e não vai ser fácil.- ele suspirou mais uma vez.

- Dê-lhe tempo. Isso sempre funcionou com a Mary. Ela sempre voltava a me tratar amorosamente depois que passava um tempo consigo mesma.- Sebastian aconselhou e Gilbert decidiu acatar os eu conselho.

- Que tal um passeio a cavalo para espairecer?- Sebastian convidou e Gilbert aceitou prontamente.

- Vamos lá. Creio que é isso do que preciso no momento.

Deste modo, ele selaram seus próprios cavalos, e saíram pela fazenda onde passaram as duas horas seguintes visitando cada canto estratégico. Gilbert se espantou mais uma vez em como a fazenda tinha crescido durante aquele tempo em que ele ficara afastado dali, e Sebastian tomara as rédeas da administração e contabilidade do lugar. Ele tivera sorte de encontrar alguém tão abnegado e dedicado ao seu trabalho. e além de tudo um ótimo amigo.

Eles cavalgaram cerca de uma hora na qual Sebastian lhe explicou com detalhes todo o funcionamento do último plantio e da colheita que seria realizada dali a uma semana. Gilbert nunca fora bom fazendeiro, pois a vida toda se dedicar a outras coisas e aos estudos, seu próprio pai exigira que fosse assim, mas, ele gostava de estar por dentro do que acontecia dentro de sua fazenda, porque era um legado que recebera do pai para cuidar e continuar a fazer prosperar, e também um legado que deixaria para o seu filho que estava a caminho.

Seu coração se aqueceu com aquele pensamento, e automaticamente ele se lembrou de Anne e na situação em que se encontravam.

Ele sabia que tinha que resolver o mal-estar entre eles, pois coragem e que dissera coisas impensadamente, e não queria voltar com ela para Nova Iorque dali a alguns dias para passarem o Ano Novo com essa rusga entre eles.

Sua noiva não era uma mulher fácil quando resolvia se ofender com alguma coisa, e por experiência, Gilbert sabia que aquilo poderia durar por tempo indeterminado. Então, ele tinha exatamente uma semana para fazer sua garota baixar a guarda, e perdoá-lo pela sua má escolha de palavras.

Ele fora um idiota, e agora pagava por isso. Gilbert tinha que aprender a não se deixar levar pela sua irritação, quando Anne o tratava com desdém, e o fazia agir como um troglodita. Ela não merecia aquele tratamento, e nem a maneira com que ele a atacara verbalmente. Ele tinha que entender o processo emocional complicado pelo qual ela estava passando, o que geralmente era normal na maioria das grávidas. Sua inconstância a deixava fragilizada, e por isso, suas oscilações de humor a faziam ver as coisas por um ponto de vista inflamado, e Gilbert ao invés de ajudá-la a apaziguar seu humor, ele piorara tudo com sua imaturidade. Não era a toa que Anne nem quisera olhá-lo nos olhos quando estavam na cama. Ele lhe pediria perdão novamente, e faria com que ele o ouvisse daquela vez:

O jovem médico cavalgou mais um pouco pela propriedade, e depois retornaram para a casa da fazenda, pois já era quase hora do almoço e Gilbert estava preocupado em ter deixado Anne por tanto tempo sozinha no quarto. Os cavalos foram deixados no estábulo para escançarem e serem cuidados, enquanto Gilbert entrava na cozinha apressadamente, procurando por Anne.

Para a sua surpresa, a única pessoa que encontrou foi Mary, que ajeitava a mesa para a refeição que fariam. Ele a olhou por um segundo e perguntou:

- Onde está a Anne?

- No quarto. Eu levei o almoço para ela lá, pois não quis deixá-la descer as escadas sozinha já que você não estava aqui para ajudá-la, e ela me contou sobre o susto que tiveram ontem a noite. Graças a Deus que acabou tudo bem.- Mary disse fazendo o sinal da cruz.

- E como ela estava?- ele perguntou ainda preocupado com o estado de humor sensível de sua noiva.

- Ela me pareceu bem, apesar de tristonha. Eu até lhe perguntei se havia acontecido mais alguma coisa, pois os olhinhos dela estavam inchados como se tivesse chorado por muito tempo, mas, ela disse que estava tudo bem, e não quis insistir.- Gilbert praguejou baixinho ao pensar que era culpa dele se Anne acordara daquele jeito, o que não passou despercebido a Mary que perguntou:

- O que aconteceu. Gilbert?

- Nós brigamos ontem à noite, por conta de algo que não contei  a Anne, e dissemos coisas duras um ao outro.

- Olha, Gilbert. Eu não quero me intrometer, e nem saber a razão da briga, mas, depois do que Anne passou ontem, você deve saber mais do que eu que não é bom para ela se estressar assim.

- Eu sei, Mary. E tentei consertar a situação toda, mas, ela não me deixou chegar perto dela. Ela está magoada, e não lhe tiro a razão, porém, ela não facilita as coisas, e não posso fazer nada, se ela não permite que eu peça desculpas pelo meu comportamento.- ele se sentia frustrado por Anne não querer ouvi-lo, e com raiva de si mesmo por tê-la feito chorar. Se pudesse voltar atrás jamais teria dito as coisas que lhe saíram pela boca na noite anterior, mas, o mal fora feito, e só lhe restava tentar trazer sua noiva de volta para ele.

- Por que não vai falar com ela? Quem sabe ela não tenha pensado melhor e vocês consigam fazer as pazes. Não fique assim, Gilbert. Não é o fim do mundo. Eu e Sebastian já brigamos mais do que consigo me lembrar, e sempre resolvemos as coisas no final. Quando existe amor, nada é impossível.- Mary disse, tocando o rosto dele com afeto. Gilbert resolveu seguir o conselho dela, e subiu as escadas rapidamente, chegando ao quarto em menos de cinco minutos.

Quando entrou, Anne estava deitada olhando para o teto, e assim que pressentiu a entrada dele, ela o olhou com o rosto sério, e Gilbert pôde ver que a mágoa ainda estava lá. Sem saber se ela queria a proximidade dele, Gilbert chegou mais perto, sentando-se na beirada da cama e perguntou:

- Como está se sentindo, hoje?

- Estou bem.- ela respondeu em um tom baixo, mas, contido. Gilbert chegou mais perto e pegou na mão dela, e Anne não recuou, o que deixou mais animado para dizer:

- A gente pode conversar, agora?- ela abaixou a cabeça, evitando olhar para ele, depois respondeu:

- Não.

- Amor, quanto tempo vai ficar me tratando assim tão distante?- Gilbert perguntou tentando chegar mais perto dela, porém, Anne se encolheu na cama, e ele percebeu que ela não ia ceder ainda.

- Não quero falar disso agora, Gil.- a voz dela parecia cansada, e ele resolveu não insistir dessa vez. Ele não queria forçá-la a nada, e teria que ter um pouco mais de paciência com esse momento introspectivo dela.

- Está bem. Posso pelo menos ficar aqui com você?- ela balançou a cabeça concordando. Assim, ele se sentou ao lado dela na cama, e puxou a cabeça dela para seu colo. Anne não ofereceu resistência nenhuma, embora ela não dissesse nada. E ficaram assim cada qual com seu pensamento, juntos, mas tão separados e distantes um do outro que fez o coração de Gilbert doer. Senti-la tão próxima e não poder tocá-la como estava acostumado a fazer era uma tortura. O cheiro de Anne era inebriante, e seus lábios rosados meio entreabertos o deixavam louco para beijá-la, mas, não faria isso contra a vontade dela, pois correria o risco de aumentar o abismo entre eles, por esta razão, ele refreou seus impulsos, acariciando os cabelos dela, até que a ouviu ressonar suavemente.

Então, ele a deitou entre os travesseiros com carinho, cobriu-a com o cobertor que estava dobrado ao pé da cama, beijou-a na testa, e saiu do quarto deixando Anne adormecida profundamente entre os lençóis.

ANNE E GILBERT

Dois dias tinham se passado, e Anne e Gilbert continuavam naquele impasse. Falando somente o necessário e mantendo uma distância frustrante um do outro, sem que nada conseguisse afastar as nuvens da discórdia que nublara parcialmente os bons termos da relação que estavam tendo até então.

Embora Gilbert tentasse de todas as formas se aproximar, seus avanços se tornaram infrutíferos diante da recusa de Anne em perdoá-lo. Ele sabia que ela tinha razão por querer vê-lo pelas costas, mas, havia momentos em que ele se revoltava contra a atitude de sua noiva que parecia estar disposta a fazê-lo pagar com juros pelo que dissera para ela na tal malfadada descoberta sobre Peter. Assim, Gilbert também se recolhera dentro de si mesmo, desenvolvendo um humor irritadiço que o fazia ficar longe de casa o mais tempo possível.

O rapaz estava sentindo uma falta tremenda dela, mas decidira que não ia mais implorar e nem se humilhar, pois já tinha tentado de tudo e Anne ignorara todas as suas boas intenções. Ele deixaria que o tempo e Anne por si própria caísse em si e resolvesse ter uma conversa civilizada com ele.

Gilbert podia entender a raiva dela, assim como seu temor por aquela ameaça ainda estivesse rondando-a depois do que ela passara, porém, ele não conseguia entender porque ela estava magoando a ambos daquele jeito apenas porque queria dar a ele uma lição, que ele aprendera no primeiro instante após a discussão que tiveram. Ele não suportava ficar sem ela, e a cada recusa de Anne em não permitir que ele se aproximasse ia deixando-o ainda mais necessitado, da presença dela, dos beijos dela, e de seu amor.

Anne, por sua vez, não estava em um humor melhor que o dele, e embora soubesse que estava levando aquela história longe demais, seu coração ainda estava machucado pela ofensa de Gilbert, e toda vez que pensava em ceder, sua cabeça a proibia de fazê-lo. Ela também sentia falta dele, e não ter mais o abraço de Gilbert antes de dormir estava acabando com seu psicológico. Não era só a carência de fazer amor com ele que a fazia sofrer, mas, também as palavras doces, seus sorriso cumplices, e suas brincadeiras provocantes que a deixavam incrivelmente alucinada por ele, e o carinho suave em sua barriga que a lembrava que o amor deles se multiplicava ali todos os dias.

Contudo, ela não conseguia esquecer que Peter Bells estava lá fora, louco para encontrá-la e fazer tudo o que lhe desse na telha com ela, e Gilbert omitira-lhe aquela informação, e quando ela lhe cobrara explicações, ele a acusara de ser mimada e irracional como se estivesse exagerando a gravidade do assunto.

Talvez se não estivesse com suas emoções tão afloradas, Anne conseguisse ser mais flexível com a omissão de seu noivo, mas, naquele momento, ela ainda sentia-se traída, enganada, pois acreditara que estava sã e salva, e no entanto, havia um louco em algum lugar querendo alcançá-la, e ela não tinha somente a si mesma para proteger daquela vez. Gilbert a deixara pensar que tudo estava perfeitamente bem, que estava livre de todos aquele horror, porém, Anne tinha a impressão que a qualquer momento, Peter viria cobrar o que achava que Anne lhe devia, e como se protegeria se não tivesse sabido por acaso que ainda corria risco de vida?

Gilbert podia fazer de conta que tudo estava completamente bem, e continuar com sua vida diária sem se sentir diretamente afetado por aquela situação, mas, Anne não tinha o mesmo sangue frio, e quando voltassem para Nova Iorque, ela já sabia o que a esperava. Ia começar tudo de novo, sua paranoia, seus pesadelos e seu pânico de sair na rua, e sentir que estava sendo observada a cada passo que dava. Não poderia voltar a viver desse jeito nunca mais, e por isso, os dias que seguiram àquela discussão que tivera com Gilbert a deixaram um pouco desanimada para sair do quarto. Anne sentia que todo o prazer que sentira com aquelas férias em Avonlea tinha se evaporado. O Natal encantador que tivera com Gilbert e sua família já ia longe, e a chegada do Ano Novo tão pouco parecia ter um efeito positivo sobre o seu humor.

Contudo, apesar de sua pouca receptividade à aproximação de seu noivo, ele se mantinha por perto, e não a deixava ficar o dia todo trancada como era de seu desejo. Ele a levava para baixo no colo para fazer suas refeições, sentava-se com ela na varanda da fazenda, mesmo que não conversassem e apenas observassem o cair da tarde ou a constelação de estrelas brilhando no céu. E vendo todo esse esforço que ela estava fazendo para deixá-la mais confortável e à vontade, ela não podia parar de pensar na enorme paciência que Gilbert estava tendo com a teimosia dela em não deixar aquele assunto morrer. Talvez ele agisse assim por consciência pesada, ou com o único intuito de que ela o perdoasse, no entanto, ela ainda não se sentia propensa a esquecer.

Naquela manhã, Anne se sentia particularmente solitária dentro de seu quarto e nem mesmo a companhia estimulante do romance que estava lendo a fazia se sentir menos abandonada, pois Gilbert, como vinha fazendo nos últimos dias, tinha saído com Sebastian para uma cavalgada ao redor da fazenda, e isso a deixava sem ter muita coisa interessante para fazer a não ser dormir ou ler. E pela primeira vez em dias, que ela desejou fazer algo diferente, e por isso, decidiu ir até a casa de Diana para fazer-lhe uma visita. Mas, para isso, teria que encontrar alguém que a levasse até lá, já que seu noivo estava ocupado com outras coisas.

Por esta razão, ela se vestiu com cuidado, e desceu as escadas vagarosamente temendo que escorregasse e sofresse um acidente fatal. Quando pisou no último degrau, ela se sentiu aliviada por estar pisando em firme, e não oscilando entre degraus. Quando chegou à cozinha, Mary a olhou espantada e disse:

- Anne, o que faz aqui embaixo? Não deveria descer as escadas sozinha.

- Bem, como meu noivo parece preferir ficar lá fora do que em minha companhia, eu tive que me arrumar sozinha.

- Você não pode acusa-lo de querer ficar longe daqui, pois sabe bem o motivo de ele agir assim.- Mary a repreendeu com firmeza.

- É, eu sei. – ela disse com, um suspiro, tornou a falar- Você poderia pedir para algum funcionário da fazenda me levar até a casa de Diana? Preciso sair um pouco daqui. Estou me sentindo sufocada.

- O Gilbert sabe disso?

- Eu não tenho que dar satisfações ao meu noivo a cada passo que dou.- Anne disse com certa irritação, o que fez Mary responder:

- Eu sei que não, querida. Longe de mim querer te dizer o que deve fazer ou não. Apenas acho que ele vai ficar preocupado. Você sabe como ele é em relação a tudo o que diz respeito à você.

- Diga à ele que fui até a casa de Diana e que volto até às cinco da tarde.- Anne disse com a voz mais amena.

- Está bem. Vou pedir para Raul te levar.- Mary disse e saiu a procura do motorista da fazenda.

Em poucos minutos, ela estava a caminho da casa de Diana, e se sentindo um pouco estranha por estar fazendo aquilo sozinha depois de dias tendo Gilbert como seu parceiro em tudo, mas, logo se alegrou por ir encontrar sua amiga que a estava esperando assim que Anne chegou em sua porta, pois a ruivinha tinha mandado uma mensagem antes dizendo que estava indo visitá-la.

- Anne, meu amor, como você está? – Diana perguntou assim que ela entrou e se sentaram no sofá da sala.

- Estou bem.- ela respondeu, mas o seu tom hesitante fez Diana franzir a testa e dizer:

- Por que parece que está mentindo para mim?- Anne ia dizer que a amiga estava imaginando coisas, mas, decidiu dizer a verdade, pois estava se sentindo tão miserável que não conseguia nem disfarçar. Por isso, entre lágrimas, ela contou a Diana sobre Peter, o sequestro, a descoberta do dia anterior sobre Peter ainda estar solto e Gilbert ter escondido isso dela, sua ida par o hospital e o medo de estar abortando o seu filho, a discussão com Gilbert, as farpas trocadas, e o distanciamento de ambos que a estava deixando terrivelmente deprimida.

- Anne, por que não me contou sobre seu sequestro antes?- Diana perguntou, assim que a ruivinha terminou o seu relato.

- Porque eu não suportava me lembrar o que aconteceu. Foi difícil , Diana.- Anne disse enxugando as lágrimas do rosto com um lencinho que a amiga lhe ofereceu.

- Eu posso imaginar. Agora, quanto à sua briga com Gilbert, eu espero que não leve a mal o que vou lhe dizer, mas, não acha que está sendo injusta com ele? Não estou dizendo que ele não agiu errado ao esconder de você essa informação, mas, no fundo você sabe que ele não fez isso por mal. Ele queria te proteger de tudo o que você passou nos últimos meses, e por isso, eu acho que ele não merece o tratamento que você está lhe dando. Vocês poderiam ter conversado e resolvido tudo isso na mesma hora. Porém, Anne, você tem uma tendência a ser masoquista e ficar sofrendo por coisas desnecessárias. Ou será que está fazendo isso para se vingar de Gilbert pelo que houve no passado?- ela perguntou desconfiada.

- E claro que não. Isso já acabou faz tempo.- Anne se apressou em dizer.

-Então, minha amiga. Por que sofrer por amor quando você o tem todinho nas mãos?

- Estou sendo uma tola, não é?- Anne disse sorrindo envergonhada.

- Não acho que você seja tola. Apenas teimosa e orgulhosa demais. Em um relacionamento, um casal nem sempre está do mesmo lado, o importante é que se respeitem e nunca soltem da mão um do outro. A cumplicidade deve estar sempre presente, mesmo que as opiniões sejam divergentes de alguma maneira. O que eu acho é que você deve ir para casa e conversar com Gilbert, acabando com esse mal-estar entre vocês. O amor que sentem é lindo demais para ser abalado por terceiros. Peter Bells pode ser uma ameaça, mas, ele não significa nada em sua vida, ao passo que Gilbert é homem que você ama. Não o perca, por favor.

- Você tem razão. Obrigada por ser o lado coerente da minha insensatez. Somente você e Cole conseguem me fazer enxergara as coisas com clareza quando fico cega pela raiva.- Anne disse abraçando a amiga.

- Você sabe que sempre estive e sempre estarei aqui para você. Conte comigo para o que for.- elas se abraçaram mais uma vez, e horas depois de terem tomado chá, comido o bolo de milho caseiro eu Diana preparara, e colocado a conversa em dia, Anne decidiu que era hora de ir para casa e conversar com seu noivo.

Ela se despediu de Diana, e entrou no carro no qual Raul a esperava, e enquanto seguia para casa, seu coração começara abater ansioso. Não via a hora de falar com Gilbert. Diana estava certa. Como fora infantil por acusá-lo de algo que ele fizera apenas por protegê-la por amá-la demais. Quantas coisas ainda teria que aprender, para nunca mais agir assim no futuro. Ela queria ser uma boa esposa para Gilbert, compreensiva e companheira, e não uma que o enchesse de cobranças, e o fizesse sentir menos do que o homem maravilhoso que ele era. Estava na hora de deixar seu comportamento infantil para trás e crescer de verdade.

Gilbert já estava em casa quando ela chegou, e ele correu para a porta da entrada com um buquê de rosas vermelhas que comprara antes de vir para casa, pois estava decidido a reconquistar sua noiva naquela noite. Era verdade que ficara aborrecido por Anne ter saído de casa sem ele, pois se sentira duplamente rejeitado, mas, depois se repreendeu por pensar assim. Ela tinha o direito de ter um tempo sozinha com suas amigas, e ele não queria acabar se tornando uma daquele noivos possessivos que achavam que sua mulher deveria viver apenas para ele e nada mais.

Desta forma, ele fora para o centro da cidade, comparar o buquê e os bombons mais finos que conseguira encontrar e voltara para casa correndo, louco para encontrar com ela, e consertar todo o problemão que criara entre eles, e faria isso em grande estilo. Porém quando chegou à porta, ele viu Anne descer do carro ajudada por Raul, e o sorriso que ela deu ao rapaz, cortou o coração de Gilbert ao meio, pois ela não sorria para ele assim a dias, e ele sentiu um ciúmes ridículo do rapaz que segurava a mão de Anne com cuidado, enquanto ela se equilibrava em cima de suas sapatilhas confortáveis. Gilbert sabia que Raul fizera aquilo apenas com o intuito de ajudá-la, pois o jovem médico conhecia a índole correta do rapaz, mas, isso não impediu que ele sentisse que algo que era seu lhe fosse roubado.

Sentindo que não havia clima para romantismo naquele momento, ele deixou o buquê de rosas sobre a mesa junto com a caixa de bombons e subiu para o quarto disposto a tomar banho e esfriar a cabeça. Mais tarde, ele conversaria com Anne, pois naquele momento ele não se sentia mais em condições para aquilo.

A ruivinha entrou em casa, e a primeira coisa que viu foi as rosas e a caixa de bombom com seu chocolate favorito, e sorriu. Gilbert tivera todo àquele trabalho apenas para agradá-la quando ela o vinha tratando tão mesquinhamente. O remorso a fez se sentir mal por dentro, e assim subiu as escadas imaginando que ele deveria estar no quarto. Ela iria falar com ele naquele exato momento, e acabaria com o distanciamento que ela própria colocara entre os dois.

Anne subiu as escadas segurando no corrimão, e quando chegou no quarto, estava ofegante. Sua gravidez ainda não estava adiantada, mas, ela se sentia exausta às vezes, como se tivesse corrido muitas milhas sem descanso, e por isso, teve que fazer uma pausa para esperar que sua respiração voltasse ao normal antes de entrar no quarto. E quando o fez, Gilbert estava saindo do chuveiro, apenas enrolado em uma toalha, os cabelos completamente molhados, e as gotículas que caiam dele escorriam pelo peito definido de seu noivo.

Os olhos de Anne o engoliram inteiro, pois faminta como estava por ele, aquela visão divina a deixava tão excitada que não conseguia parar de pensar no quanto queria aquele corpo forte colado no seu e de preferência sem nenhuma peça de roupa sobre eles.

Gilbert percebeu o olhar dela, e se aproximou devagar, sem saber ao certo em que tipo de humor ela estava. Ele parou a pouco centímetros dela indeciso sobre o que falar, e apenas disse;

- Anne, eu...- mas, ela o impediu, colocando os dedos sobre os seus lábios, e sussurrou:

- Não diz nada.- e depois o enlaçou pelo pescoço e atacou os lábios dele com uma fúria que tirou todo o fôlego de Gilbert, fazendo-o agarrá-la pela cintura, mantendo o quadril dela preso sobre o seu .Apesar dos beijos selvagens que estavam trocando aumentar a temperatura do corpo de Anne acima de cem graus centígrados, ela não estava satisfeita. Ela queria mais, e por isso, suas roupas começaram a incomodá-la, e com a ajuda de Gilbert ela se livrou delas rapidamente. O último empecilho foi a toalha enrolada na cintura dele, que ela se apressou em arrancar sem pudor nenhum, deixando que Gilbert se revelasse a ela totalmente nu e tão másculo que sua falta de ar voltou.

Sentindo-se tão excitado quanto ela, o rapaz a deitou na cama, e evitando de colocar todo o peso de seu corpo sobre o dela, ele deixou suas duas mãos apoiadas em cada lado do rosto de Anne, enquanto seus lábios desciam pelo corpo dela, deixando a pele dela insuportavelmente quente. Três dias sem o toque dele a deixara daquele jeito, como se estivessem sem fazer amor a um mês, e ela sentiu sua fome por ele aumentar quando ele chegou perto de sua intimidade e tocou toda a umidade que crescia ali a cada segundo por isso, ela o fez ficar por baixo dela, para que ela pudesse enroscar suas pernas entre as dele, e sentir a virilidade de Gilbert deixando seu corpo em brasa. Suas mãos esculpiram cada músculo, cada, linha, cada curva masculina, se deliciando com o gosto dele, e mais ainda quando ouviu-o gemer alto a cada beijo ou pequenas mordidas que ela lhe dava.

Gilbert também estava fora de controle, porque todos aqueles dias que a desejara à distância estava cobrando tudo dele agora, e o rapaz simplesmente não conseguia mais ignorar os apelos de seu corpo. Assim, a língua dele se comprimiu contra a dela, fazendo-o suspirar ao sentir aquele gosto de cereja que vinha dos lábios dela, incitando-o a beijá-la cada vez mais ferozmente, enquanto ela o seguia em todos os movimentos. Logo estavam pingando de suor, mas, não se importaram, porque o que estavam fazendo juntos era motivado por toda a saudade que seus corpos sentiam um do outro, e não tinham pressa nenhuma que acabasse.

Anne deixou que suas mãos escorregassem pelo corpo dele, e quando se aproximaram da intimidade de Gilbert, ela o tomou em suas mãos fazendo-o arfar enquanto ele murmurava:

- Anne...

- Relaxa, meu amor. Me deixa te mostrar que posso te dar tudo o que deseja. Me deixa ser sua mulher de verdade. - O consentimento silencioso dele, a fez sorrir com malícia, e assim ela o tocou até que Gilbert se aproximou perigosamente de sua satisfação tão prazerosa. Ela teria continuado até que ele se liberasse totalmente, mas Gilbert a fez parar e disse:

- Eu quero estar dentro de você. Me diga que quer isso também.

- Eu quero.- ela disse enquanto seus olhos se fundiam nos dele, e assim ele realizou o desejo de ambos, e em um seguindo seus corpos estavam unidos sem nenhuma barreira entre eles. E desta forma, o amor deles se fez mais uma vez da maneira mais linda e intensa que foram capazes de fazer. Gilbert a levou novamente até o seus lugares favoritos, onde sua imaginação ultrapassava qualquer fantasia que já pudesse um dia ter tido com ele um dia. Seus sentidos se sintonizavam, as sensações que se espalhavam por suas peles eram tão poderosas que Anne perdeu a noção do que era real e do que era imaginário. E desta forma, Gilbert se perdeu com ela naquela imensidão ardente de emoções que os tornava plenos, completos, inteiros um para o outro. Novamente, eles explodiram juntos naquela loucura doce, naquele sentimento único que lhes dava tudo e lhes exigia tudo também fazendo daquele momento a ocasião para se declararem um ao outro mais uma vez.

- Eu te amo, meu anjo perfeito.- Gilbert disse enterrando suas mãos nos cabelos ruivos dela.

- Eu também te amo. Me perdoa por ter sido uma tola.- Anne disse encostando seu rosto no dele.

- Vamos deixar isso para depois, amor. Eu apenas quero ficar abraçado com você curtindo esse momento incrível que acabamos de ter.- depois acariciando-lhe as bochechas, ele completou. - Eu estava com saudades.

- Não mais do que eu, acredite. Nunca mais quero que se afaste de mim. Eu não consigo mais viver sem você.- Anne disse apaixonada.

- Pode apostar que não vou. Agora, vem cá.- e assim ele a puxou para cima de seu corpo, e ficaram desse jeito até que muitas horas haviam se passado, e o único som que se ouvia era do amor que aconteceu muitas e muitas vezes naquela noite.

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