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Capítulo 72- Xeque Mate


Olá, queridos leitores. Este capítulo ficou tenso, e não sei se consegui retratar a situação como eu desejava, então, espero que vocês me digam por meio de seus comentários o que acharam do desenrolar desse capítulo e seu desfecho. Muito obrigada por tudo. Desculpem-me pelos erros ortográficos e até o próximo Beijos.

ANNE

Respire. Ela dizia para si mesma. Fique calma, não se desespere. Eram palavras que deveriam acalmar a tensão em seu corpo, fazê-la raciocinar, encontrar uma saída, colocar sua imaginação e criatividade para trabalhar. Porém, não estava funcionando. Nada do que dizia surtia o efeito desejado, e Anne sentia o pânico se instalar em seu corpo assim como a respiração se tornava difícil e dolorida em seu peito.

Ela estava no escuro, sentada em uma cadeira, sem conseguir se mexer amarrada por fios de nylon muito bem presos em seu pulso que tinham sido levados as suas costas. Então, ela se lembrou dos seus sonhos quase premonitório onde ela ficava perdida em um labirinto sem encontrar a saída, mas, ali não era mais um sonho, era a realidade do seu medo se manifestando em sua forma mais sinistra.

Como ela chegara a isso? Ela tentou se lembrar e aos poucos sua mente foi reconstruindo o passo a passo de todo aquele drama que durante aqueles meses fora somente uma possibilidade, mas que agora se tornara uma realidade angustiante.

Ela fora imprudente, tinha que admitir. Confiara demais e perdera seu sexto sentido que sempre a alertara do perigo eminente, mas naquela manhã estava distraída demais pensando em seu casamento, no homem que amava, e detalhes da lua de mel para perceber que o motorista do táxi não era o mesmo de todos os dias, e ela somente notou esse detalhe quando levantou o olhar do celular, e viu que o táxi pegara uma rota diferente. O sangue pareceu congelar em suas veias, enquanto ela sentia um bolo apertar sua garganta como se fosse sufocá-la, então, criando um fio de coragem ela perguntou:

- Aonde está me levando? - mas nenhuma resposta foi-lhe dada para acalmar o pânico que se instalara em sua mente, e para piorar a situação cada vez mais tensa, uma arma foi apontada em sua direção ao mesmo tempo em que um olhar tão frio quanto um iceberg a fitava sem piedade, e uma mão de dedos longos e ásperos tomavam-lhe o celular deixando-a completamente paralisada pelo medo. A arma foi afastada dela, mas o ar pesado ficou pairando ao seu redor ameaçando sufocá-la com sua densidade tóxica.

Milhares de pensamentos cruzavam sua mente em uma velocidade que a deixava tonta, e seu estômago se contraía fortemente, causando-lhe um enjoo terrível. Ela fechou os olhos com força, respirando fundo várias vezes até que seu estômago voltasse ao normal, enquanto o carro continuava em movimento levando Anne para bem longe de tudo o que ela conhecia. Então, finalmente ele parou, o motorista desceu do carro, veio até a porta do passageiro e abriu-a sem demora, puxando Anne para fora sem delicadeza nenhuma, e arrastando-a para uma casa a poucos metros de onde o carro fora estacionado.

O lugar estava completamente escuro, e o homem estranho que sequer tinha lhe dirigido a palavra continuou empurrando-a por um corredor escuro, e quando alcançaram uma porta dentre várias por ali, ele acendeu uma luz fraca, a fez se sentar naquela cadeira, a amarrara, depois saiu deixando-a completamente no escuro em sua própria companhia.

Anne forçou a vista para tentar ver algo pela luz opaca que vinha das frestas da única janela existente, e tudo o que conseguiu enxergar foi que ali havia uma cama de solteiro, um guarda-roupa, uma penteadeira e mais nada. Aquilo não podia estar acontecendo com ela, era somente mais um daqueles pesadelos nos quais tudo parecia real demais, e Gilbert sempre a acordava quando estava prestes a ser pega pelo seu perseguidor, e assim Anne tentou convencer seu subconsciente que aquele cenário e as sensações de terror dentro dela eram ilusórios, e que logo ela abriria os olhos e veria seu noivo deitado ao seu lado, ela se levantaria, iria até a cozinha e prepararia a si mesma uma bela xícara de chá e comeria bolinhos de creme cheios de calorias que Gilbert detestava que ela consumisse. Porém, seus olhos estavam bem abertos e ela sabia que não adiantava fingir que não estava acontecendo, porque não funcionaria daquela vez. Depois de meses vivendo sob ameaças, ela finalmente se concretizaram, e Anne fora pega na teia de uma mente enlouquecida, um ser humano vil, doente e sem coração.

A imagem de Gilbert adormecido na cama de casal de seu quarto naquela manhã lhe veio à mente, e com ela as lágrimas inundaram os seus olhos. Ela demorara tanto para encontrar o amor de sua vida, e agora que finalmente seu sonho mais secreto tinha se realizado ela estava prestes a nunca mais vivê-lo. Por que ela não o acordara antes de sair e lhe dera um último beijo? Por que não ficara mais alguns minutos com ele? Por que não o abraçara mais forte? E dissera que o amava um milhão de vezes mais? Será que ele já sabia que ela tinha desaparecido? Será que estava a sua procura? Será que a encontraria? E o mais importante de tudo, será que sairia dali com vida?

Anne baixou a cabeça e fechou os olhos, sentindo tudo rodar. Além de um xicara de café com leite, ela não colocara nada em seu estômago, pois os enjoos tinham piorado naquela manhã, e ela não conseguira sequer comer uma torrada. Anne pensou no quanto Gilbert ficaria zangado quando soubesse que ela vinha negligenciando sua alimentação na última semana, mas, fora pega em uma crise tão grande de ansiedade por conta dos preparativos do casamento, sua agenda lotada de trabalho e eventos, que as únicas coisas que não a faziam ter vontade de vomitar o dia todo eram saladas e frutas frescas. Ela já ficara assim antes, e sabia que tinha que controlar seu emocional ou acabaria em uma cama de hospital desnutrida e desidratada, e Gilbert ficaria muito desapontado se isso acontecesse, depois de ela ter lhe prometido que não deixaria que o estresse sob o qual estava vivendo a levasse a arriscar a própria saúde.

De repente, um soluço seco subiu à sua garganta ao pensar que talvez ela não ouvisse mais a voz dele ralhando com ela por não ter se alimentado como deveria, por querer carregar o mundo nas costas quando sabia que não dava conta, por não contar a ele que não estava se sentindo tão bem quanto o deixava pensar que estava. Seu coração doeu de saudades, e ela desejou estar no apartamento enrolada nos braços dele, sentindo as mãos de Gilbert em seus cabelos enquanto ela apoiava a cabeça no peito dele onde se sentia tão acolhida e tão amada. Deus! Ela precisava dele para resistir aquela angustia que a estava deixando cada vez mais tensa a ponto de enlouquecer.

Assim, Anne mentalizou a imagem de Gilbert em sua mente, lembrando-se de cada detalhe daquele rosto de traços fortes, dos olhos castanhos que pareciam como calda de caramelo quente, os cabelos de cachos rebeldes que se enrolavam em seus dedos quando lhe fazia um cafuné, e aquele sorriso maravilhoso onde todo o seu mundo se resumia, e desta forma deixou que a força da presença dele a envolvesse e uma certa calma enchesse seus pulmões de alívio, e pouco a pouco Anne começou a se acalmar, relaxando todos os seus músculos corporais que estavam contraídos desde o momento eu percebera que estava sendo sequestrada, e apesar da posição desconfortável em que se encontrava, a ruivinha adormeceu.

Um toque suave em seu rosto a fez despertar quando a tarde já ia alta, e com um sorriso nos lábios ela disse:

- Gilbert. - porém ao abrir os olhos, não foi o seu noivo que Anne encontrou olhando-a com os olhos cheios de malícia, e sim a última pessoa que esperaria encontrar naquele lugar ermo, e distante de tudo.

- Peter! – o rapaz a encarava com um sorriso nos lábios que lhe dava calafrios, o mesmo de dias atrás quando a fizera ter um pressentimento ruim, e agora ela sabia por que.

- Olá, baby. Feliz em, me ver? - ele passou as mãos pelos cabelos dela, e Anne sentiu sua pele se arrepiar de nojo.

- Então, é você o responsável por tudo isso? – ela o olhou com os olhos acusadores, mas Peter sequer sentiu o impacto da raiva dela por ele.

- Digamos que em parte sim. - ele respondeu evasivo.

- Era você o cara do capuz? - ele perguntou, mas já sabendo a resposta antes de ele dizer.

- Sim. - Peter puxou o banco da penteadeira para perto dela, onde se sentou deixando todos os sentidos de Anne em estado de alerta. Odiava senti-lo perto assim, principalmente pela maneira pela qual ele a olhava como se pudesse despi-la sem tocá-la.

- Por que, Peter? Por que me perseguiu dessa maneira? Eu não entendo. - Anne perguntou com a testa franzida sem compreender porque ele levara aquilo para tão longe.

- Porque anos atrás você me esnobou, e nenhuma garota jamais fez isso comigo. - ele disse com os olhos faiscando de raiva.

- Então, é disso que se trata? Não sabe aceitar um não como resposta? - Anne perguntou espantada pelo tamanho do egocentrismo de Peter. Ele a submetera a tortura das ameaças por meses, apenas porque ela não fora para a cama com ele?

- Não, isso não foi a única causa. Eu realmente me apaixonei por você, e prometi que faria de tudo para tê-la de volta, mas, então você apareceu noiva de Francesco Agipi, e tempos depois, terminou com ele, para assumir compromisso com o médico metido a modelo. - Peter disso aquilo com tanta raiva que Anne se perguntou se algum, dia realmente ela o conheceu. Aquele rapaz com os olhos insanos e um sorriso maldoso nos lábios ela desconhecia totalmente.

- E por causa disso resolveu transformar minha vida em um inferno? – Anne o olhou incrédula. Peter era tão mimado e vaidoso que achava que tinha o mundo aos seus pés. Como ela pudera um dia sequer pensar que estava apaixonada por aquele crápula?

- Baby, será que não entende que te amo? Eu estava desesperado e precisava chamar sua atenção de alguma forma. - ele se aproximou mais um pouco, e Anne sentiu seu estômago revirar. Ele ameaçara as pessoas que ela mais amava na vida apenas por um sentimento de posse. Peter dizia que fizera aquilo por amor, mas, na verdade o fizera por egoísmo, por não saber aceitar que Anne não quisera jogar o seu jogo e se deixar seduzir por sua beleza que por fora até podia ser espetacular, mas, por dentro era tão vazia e doentia que apenas lhe causava asco.

- Você nunca me amou, Peter. Você apenas me queria como um troféu, mais uma conquista para exibir para o seus amigos e provar o quão irresistível você é.- ela podia ter parado ali, mas a sua raiva era tanta que não resistiu e despejou em cima dele toda a sua revolta. - Você fala com tanto desprezo de Gilbert, mas saiba que ele é um homem de verdade, e você nunca chegará aos pés dele em termos de caráter, decência e dignidade. Entenda de uma vez por todas, Gilbert é o homem da minha vida, e jamais vou amar outra pessoa enquanto eu viver.

- Essa é sua última palavra? - Anne podia ver a veia no pescoço dele se expandir no auge de sua fúria pelo que ela dissera, mas ainda assim não recuou ou desviou o olhar do dele, e com toda a coragem que lhe restava ela respondeu:

- Sim.

- Ainda assim, vou deixar que reflita mais um pouco sobre tudo o que conversamos, pois acho que depois de receber a visita de duas pessoas que estão aqui para te ver vai mudar de ideia rapidinho. - ele lhe disse com um sorriso sem humor enquanto Anne se perguntava de que diabos ele estava falando. E antes que pudesse processar as palavras dele em seu cérebro, outra surpresa nem um pouco agradável a esperava.

- E ai, maninho, terminou de falar com a vadia? - Anne ouviu o que Monique Bels dissera e não pôde acreditar em seus ouvidos. Ela e Peter eram irmão? E o que ela estava fazendo ali? A resposta que esperava não demorou a chegar assim que Peter a olhou pela última vez e disse:

- Ela é toda sua.

Assim que o rapaz saiu, Monique examinou Anne da cabeça aos pés e parecia bem satisfeita ao vê-la em condições bem precárias. Ela se aproximou de Anne o suficiente para que a ruivinha visse sua expressão de desdém e disse:

- Gostou de nossa hospitalidade, querida Anne?

- Você e Peter são irmãos? - ela perguntou apenas para se certificar de que não ouvira errado.

- Sim, somos irmãos. Não é maravilhoso? - ela disse com ironia e Anne a olhou com estranheza e depois perguntou:

- O que está fazendo aqui, Monique?

- Ah, querida, você não sabe mesmo, ou está se fazendo de burra de propósito?

- Você também está envolvida nessa sujeira? - Anne perguntou se lembrando de que Cole sempre estivera certo sobre Monique.

- Da cabeça aos pés. - a moca morena respondeu deixando transparecer sua alegria por fazer parte de algo tão sórdido.

- Por que? -

- Porque você foi idiota o suficiente para entrar no meu caminho. Francesco sempre foi meu, e você o tirou de mim. Nós estávamos apaixonados, e ele iria me pedir em casamento, mas o pai dele faleceu e então as coisas mudaram. A família dele não aceitou que ele se casasse com uma atriz, e por isso ele terminou tudo comigo. Foi então que eu descobri que estava grávida e fui falar com ele, mas, de novo a família dele interviu. Assim, eu tive que criar a minha filha sozinha. Eu passei um bom tempo acreditando que voltaríamos, e que quando eu tivesse a oportunidade de falar com ele sobre nossa filha, ele iria assumi-la e se casaria comigo finalmente, mas, então você apareceu e arruinou meus planos. - o rosto dela estava cheio de dor e raiva, e Anne se lembrou da garotinha no parque e logo intuiu que ela era a filha da qual Monique estava falando,

- Eu não sabia de nada disso. Francesco nunca me contou nada sobre você. - Anne disse infeliz. Ela aceitara aquele noivado apenas para provocar Gilbert com quem estava magoada na época. Ela nunca imaginara que com seu ato infantil acabaria desencadeando um processo de vingança que atingiria diretamente,

- Não interessa. Você estragou tudo quando aceitou o pedido de noivado dele. Quando nos separamos, Francesco disse que sempre me amaria, mas, bastou entrar na vida dele para que ele se esquecesse da promessa que me fez. E por isso você tem que pagar por toda dor que me causou. - Monique andava pelo quarto impaciente, e em alguns momentos seus olhos cruzavam com o de Anne e a garota ruiva não podia deixar de notar o rancor ali existente. Anne sempre achara Monique estranha, mas pensara que isso era uma característica da personalidade dela, e sequer imaginara que ela nutria tanta raiva por ela assim. Então, ela e Peter estavam juntos nessa, e eram irmãos. Que coincidência terrível, ela pensou, e logo algo dentro dela a fez se lembrar de um terceiro elemento que a fez perguntar:

- E Billy Andrews? O que ele tem a ver com tudo isso? Eu o vi com você algumas vezes.

- Aquele imbecil foi apenas uma peça que acrescentamos nesse jogo de xadrez, Bastou uma noite de amor na minha cama para eu convencê-lo a fazer o que eu quisesse. Por puro acaso eu descobri que ele te conhecia, e nutria certo desejo reprimido por você. Eu o convenci a me ajudar em algumas tarefas como aquela cobra no seu desfile. - ela disse sorrindo cheia de veneno.

- Você fez aquilo? - Anne não podia acreditar que Monique fosse tão perversa para pensar em algo assim.

- Sim, fui eu, mas, você tem tanta sorte que outra garota foi picada em seu lugar. - Monique a olhou mais uma vez cheia de ódio, e Anne soube naquele instante que ela seria capaz de qualquer coisa por conta de seu orgulho ferido

- Mas, e a sua filha? Francesco sabe sobre ela? Você tem consciência de que tem direitos e ele poderia muito bem, ajudá-la financeiramente na criação dela?

- Ele não sabe porque não contei. A última vez que jantamos juntos, eu ia lhe revelar tudo, mas, quando lhe perguntei se nós dois ainda tínhamos uma chance de ficarmos juntos, você sabe o que ele me respondeu? Que ainda estava apaixonado por você, então eu desisti. - Monique abaixou a cabeça parecendo triste, mas, logo a levantou novamente com a ira brilhando em seu rosto. - Eu não preciso do dinheiro dele para criar minha filha, Anne. Eu quero o amor dele e nada mais, e sem isso coisa alguma importa.

- Francesco nunca disse que me amava, Monique. Ele nunca se comportou dessa forma comigo. Quando terminamos e eu lhe contei que estava apaixonada por Gilbert, ele me desejou felicidades e até foi no meu noivado. Eu sinto muito por isso. Eu não sabia desse sentimento da parte dele, e se te serve de consolo, eu nunca o amei. Para mim Francesco foi sempre um amigo muito querido, e agi precipitadamente ao aceitar o seu pedido. Eu estava magoada, e achei que poderia curar meu coração partido nos braços de outro homem, mas eu estava enganada.

- E você acha que me importa tudo o que está me dizendo? Você realmente pensa que isso conserta alguma coisa? Pois, não conserta coisa nenhuma. Nada vai mudar o fato que você destruiu todas as minhas chances com Francesco e por isso você tem que pagar. - Anne olhou para a mulher à sua frente, e vu traços de insanidade em seu rosto. Ela nunca tinha percebido isso antes, mas Monique era completamente desequilibrada e por isso, Anne não sabia o que esperar dela dali para frente, mesmo assim, ela criou coragem e perguntou:

- E o que você pretende fazer comigo? – Monique a olhou maldosamente e respondeu quase sorrindo:

- Isso não sou eu quem vai decidir. - Sem que esperasse, Anne ouviu passos no corredor, e logo uma silhueta apareceu na porta e caminhou lentamente até se juntar a Monique no meio do quarto e então o rosto de um homem surgiu e perguntou a ela em sua voz profunda e desagradável:

- Como vai, Anne?

GILBERT

A dor não era algo com a qual Gilbert não estivesse acostumado, mas aquilo não era nada parecido com o que sentira com a perda de seu pai e de Sarah, aquilo era como se estivessem dissecando seu coração igual naquelas aulas de laboratório da faculdade das quais participara tantas vezes, e ele não conseguia respirar porque seu peito estava tão apertado que a única coisa que tinha vontade de fazer era gritar até não ter mais força em seus pulmões.

Ele estava no apartamento de Anne em companhia de Cole que viera até ali depois de ter-lhe dado a pior notícia que ele já ouvira na vida, e a gravidade da situação o levava até o fundo do seu desespero aonde ele se sentia encurralado sem ter a menor ideia do que fazer ou para onde ir.

Anne fora sequestrada, a frase ficava ecoando em seus ouvidos sem parar. Aquela ideia era tão terrível que todos seu corpo se contraiu em espasmos de sofrimento. Sua cabeça pesava tanto que ele somente desejava dormir, sabendo ao mesmo tempo que não conseguiria fechar os olhos. Anne estava em perigo, ele podia sentir, e precisava dele, mas Gilbert não sabia como ajudá-la porque ele não sabia onde ela estava e isso era o pior de tudo.

Ele ficava se perguntando se ela estava com medo, se estava machucada ou sentindo dor, e ele descobriu naquele breve momento como seria fácil para ele ferir alguém com as próprias mãos, pois só de imaginar que alguém pudesse ter feito mal a ela fisicamente, ele sentia ganas de ir até o fim do mundo e acabar com a vida de quem quer ousasse causar a ela qualquer sofrimento.

Gilbert escondeu o rosto nas mãos, sabendo o quão incoerente era um médico como ele pensar assim, mas naquele instante o que predominava dentro dele era a raiva, a revolta e o medo. Ele temia o que poderia acontecer com Anne, e temia por si mesmo caso não conseguissem encontrá-la logo. Gilbert se recusava a pensar nessa possibilidade, ele preferia imaginar que logo ela estaria de volta ao apartamento sã e salva de onde nunca deveria ter saído.

- Gilbert, beba isso enquanto está quente. – O rapaz ouviu Cole dizer, e ele levantou a cabeça vendo o amigo de Anne parado à sua frente e lhe entregando uma xícara de café que ele aceitou de bom grado, pois precisava de cafeína em seu organismo para ficar ligado, e recuperar suas forças para suportar a espera que já estava mexendo com o seu psicológico.

- Obrigado. – ele disse e tomou o café devagar, e em silêncio, pois não estava suportando o peso de seus próprios pensamentos e sentia que colocá-los para fora também não ajudaria. Gilbert sentia tantas coisas ao mesmo tempo que era-lhe difícil encontrar voz para torná-los coerentes, e muitos deles pareciam delírios gerados pelo seu pavor de não ter notícias de Anne, das lembranças dos pesadelos dela, das mensagens que ameaçavam a vida dela, e o horror de pensar que podia perde-la para sempre.

Esse último pensamento o fez tremer de tal maneira que fez Cole colocar sua mão sobre o braço dele e dizer:

- Calma, Gilbert. Eu posso imaginar o que está se passando na sua cabeça, mas temos que confiar que a polícia cai encontrá-la. Temos o depoimento do motorista que vinha pegá-la aqui todos os dias para o trabalho. Ele conseguiu fazer um retrato falado do cara que roubou o carro da empresa que ele trabalha essa manhã, e também tem as minhas suspeitas sobre Monique Bells. Anne sabe das minhas investigações e tudo p que descobri sobre a garota. Eu sempre desconfiei dela por ter tido um caso com Francesco no passado, e por seu comportamento estranho, e não esqueci de mencionar sobre Billy Andrews. Anne os viu juntos mais de uma vez e eu não boto a mão no fogo por aquele canalha.

- Eu só não entendo porque ela não me contou nada disso. Que droga, Cole! Eu sou o noivo dela, como ela pôde me deixar no escuro sobre tudo isso? - a voz de Gilbert saiu tão desesperada que o jovem amigo de Anne sentiu pena. Como se consolava alguém em uma situação como aquela?

- Gilbert. Você deve saber como a cabeça da Anne funciona. Todas as vezes que conversamos, ela me disse que queria te manter fora disso, porque não queria contaminá-lo com sua paranoia, e que quando estava com você era o único momento em que ela sentia que a vida dela estava normal de novo. Por isso, talvez ela quisesse preservar o amor de vocês de tudo isso. - Gilbert balançou a cabeça diante do que Come acabara de dizer e respondeu:

- Eu não posso aceitar uma coisas dessas. Ela quis me proteger e se colocou na linha de fogo. Será que ela não entende o quanto eu a amo? O que vou fazer se ela...- ele não conseguiu terminar. Aquilo era uma faca sendo cravada em seu coração ferindo-o.de morte. Ele não queria pensar, ele tinha que parar de pensar ou sairia correndo pela porta procurando Anne por toda cidade de Nova Iorque.

- Gilbert, não pense nisso. Ela vai ficar bem e vai voltar para você. Se agarre a isso, não perca as esperanças. - Cole também estava desesperado, mas precisava fazer com que Gilbert não sucumbisse pela dor, pois algo lhe dizia que Anne ia precisar muito dele.

- Eu quero, mas não consigo. Ela está em perigo, eu posso sentir. O que eu faço se ela não voltar? - ele disse sentindo as lágrimas presas em sua garganta. Deus! Aquela ideia não parava de atormentar seu cérebro. Ele tentou imaginar um mundo sem Anne, e não conseguiu. Viver sem ela estava fora de questão, não era uma opção e nem havia uma escolha a se fazer. Como se vive sem oxigênio? ele pensou. Como se vive sem o sol? Anne era tudo isso para ele aliada a muitas outras coisas. Ele não continuaria nesse mundo se ela também não estivesse nele.

Cole quis responder ao questionamento do noivo de Anne, mas, ele não tinha uma resposta. Assim como Anne ficaria devastada sem Gilbert, ele também se colocaria na mesma posição. Aquele amor que sentiam era imenso demais, porém, não sobreviveria sozinho, eles precisavam um do outro, eles se completavam, eles eram a luz um do outro, por isso, olhando para o rapaz completamente sem chão ali na sua frente, Cole o compreendia totalmente. Ele também estava devastado pelo que acontecera a amiga a quem prometera ajudar a desvendar aquele mistério, e esperava que ela estivesse bem e voltasse logo para casa.

A campainha tocou, e Cole foi atender, pois nas condições em que Gilbert se encontrava, ele duvidava muito que ele tivesse cabeça para entreter qualquer visita, mas, para seu enorme alivio quem viera falar com Gilbert eram seus amigos Daniel e Gabriela, e assim que entraram, eles o viram prostrado no meio da sala, olhando para o nada como se visse ali o pior dos seus fantasmas.

- Gilbert, eu sinto muito, meu amigo. Eu nem sei o que dizer. - Daniel falou sentando-se ao lado dele no sofá. O rapaz não disse nada, apenas fechou os olhos e tentou respirar, mas, era tão difícil quando seu coração se recusava a bater no ritmo certo.

- Gilbert, fale com a gente. Vai te fazer bem. Nos diga o que está sentindo. - Gabriela disse segurando a mão do rapaz que parecia tão pálido e tão sozinho. Gilbert não merecia passar por aquilo. O coração de Gabriela tinha se encolhido de tamanho ao vê-lo sofrendo tanto calado, e ela ficou imaginando o que estaria se passando na cabeça dele naquele instante. Ela nunca vira Gilbert tão claramente desnorteado tão fortemente se contrastando com o rapaz feliz no dia anterior quando tinha finalmente realizado um de seus sonhos, e agora tudo perdera o valor diante do drama que se desenrolava em sua vida naquele momento.

Gilbert queria falar, mas, tudo o que conseguiu foi dar um longo suspiro. Ele estava esgotado por tantas emoções contraditórias, e sentindo a falta de Anne a cada segundo. O que ele não daria para estar com ela agora. O que ele não faria para que ela estivesse em seus braços.

- Gilbert, você precisa reagir, ou isso que está dentro de você vai acabar te engolindo vivo. – Daniel disse fazendo Gilbert olhar para ele e sussurrar:

- Eu não consigo. Eu preciso saber se ela está bem, e quero que ela volte para casa. - a dor foi maior naquele momento em que seus desejos eram verbalizados, ele gaguejou, sua cabeça pendeu para frente e ele a descansou nas mãos.

- Talvez fosse uma boa ideia eu preparar um chá. - Cole disse, saindo da sala e indo em direção a cozinha.

- Gilbert, eu e o Daniel vamos ficar aqui com você. Por isso, se quiser descansar, desabafar ou apenas um pouco de companhia, saiba que estaremos à disposição. - Gabriel tornou a falar, e Gilbert assentiu, se levantando devagar e caminhando para o quarto. Talvez fosse uma boa ideia dormir um pouco, fugir da realidade que o estava fazendo agonizar.

O rapaz entrou no quarto, e tudo dela estava ali, seu cheiro, seu sorriso, sua beleza e o seu amor, e ele se sentiu vacilar, não suportando as próprias pernas, Gilbert se deixou cair na cama, abraçando o travesseiro de Anne, e as lágrimas vieram por fim acompanhadas de soluços altos e doloridos. Ele não chorava assim desde a morte de seu pai, mas, não se importou, pois não estava mais suportando o peso em seus ombros, a tensão em seu estômago, e a ansiedade por falta de notícias, Ele nem viu quando Daniel e Gabriela entraram no quarto, ouvindo o som do seu desespero. Gabriela se sentou na cama, e trouxe a cabeça dele para seu colo, enquanto ele continuava a chorar sem parar.

Daniel observou a cena, e pensou que era um alivio que Gilbert estivesse colocando para fora a sua angústia. Em anos de amizade, ele jamais vira o amigo se descontrolar assim, e estava grato por Gabriela ter vindo com ele, porque em certas situações ela sabia lidar melhor do que ele, e naquele momento, Gilbert precisava mais do que nunca das palavras que ela tinha a lhe dizer.

- Isso, Gilbert, chore a vontade, deixe que toda essa tensão saia de você, pois quando Anne voltar, ela vai precisar muito que você esteja inteiro para dar a ela toda a força para que possa superar tudo isso. E vocês vai conseguir juntos. Apenas se lembre que aquela garota te ama demais da mesma forma que você a ama, então se agarre a isso, e você verá que muito em breve ela estará aqui com você de novo. - Gabriela por fim se calou, a ouvir que os soluços de Gilbert foram diminuindo, e cessarem completamente. Nesse momento, Cole entrou no quarto com uma xícara de chá calmante, que Gabriela o fez beber sabendo que que a bebida quente seria bem melhor para Gilbert do que um tranquilizante. Ela particularmente não era fã desse tipo de medicação, embora não pudesse negar que em alguns casos eles eram muito eficazes. No caso de Gilbert, o que ele precisava era relaxar e o chá natural conseguiria aquele efeito de forma menos agressiva.

Uma hora depois, ele tinha adormecido, vencido pelo cansaço. Assim, ela e Daniel foram se reunir a Cole na cozinha e obter mais informações sobre tudo o que tinha acontecido com Anne nas últimas horas que culminaram em seu sequestro. Pacientemente, Cole contou sobre as ameaças que Anne vinha sofrendo, e todos os incidentes que acabaram por infernizar a vida da amiga durante meses.

- Meus Deus, pobre garota. Eu sequer poderia imaginar que algo assim estivesse acontecendo com ela. Anne sempre me pareceu uma pessoa tão feliz. - Gabriela disse penalizada pela situação da noiva de Gilbert.

- Ela tentou não deixar que isso afetasse sua vida com Gilbert. Não foi nada fácil para ela. Eu até achei que em alguns momentos ela não conseguiria suportar a pressão, mas, acho que o amor de Gilbert sempre foi o maior apoio que ela encontrou para passar por tudo isso sem esmorecer.

- Gilbert também não nos contou nada. - Daniel disse pensativo.

- Anne não queria que as pessoas soubessem. - Cole disse se servindo de uma xícara de chá.

- Eu nunca vi Gilbert tão vulnerável na vida. Ele sempre foi do tipo que dá apoio, sabe o que dizer ou fazer. Eu nunca pensei que chegaria o dia em que eu veria Gilbert Blythe chorar feito criança por causa de alguém. - Daniel comentou admirado.

- Anne é o ponto fraco de Gilbert. Acho que ela sempre foi. Eu tenho visto esses dois se amarem desde que se conheceram na infância, e Gilbert tem protegido Anne desde então. Eu posso imaginar o furacão que deve estar em ebulição dentro dele ao se ver em uma posição que não poder fazer nada para protegê-la agora. - Cole comentou levando sua xícara vazia até a pia.

- Realmente é uma situação terrível. Vamos esperar que termine logo, e eles possam finalmente se casarem e viverem paz. - Gabriela disse concluindo aquela assunto.

O resto da tarde passou devagar, e quando Gilbert finalmente acordou o sol já tinha dado lugar a lua cheia que iluminava aquela noite de inverno quando o frio da estação começava a se intensificar. Ao abrir os olhos, as esperança de que estivesse no meio de um sonho ruim se desfizeram quando ele percebeu que o desaparecimento de Anne era mesmo real, e ele passaria as próximas horas em uma espera odiosa até que a polícia descobrisse sobre o paradeiro dela. Ele se levantou devagar, caminhando descalço até a cozinha de onde vozes conhecidas sussurravam entre si, e parou no batente da porta observando Cole, Gabriela e Daniel preparando o jantar daquela noite. Cole mexia algum tipo de sopa dentro de uma panela que estava no fogo, enquanto Gabriela cortava tomates para a salada e Daniel fazia suco de laranja. Seria uma cena familiar adorável, se o motivo de eles estarem ali não fosse outro, e mais uma vez naquele dia, Gilbert pensou que não suportaria a pressão de seus pensamentos dentro da sua cabeça.

- Está se sentindo melhor, Gilbert? – Gabriela perguntou sendo a primeira pessoa a notar a presença dele ali.

- Sim, obrigado. Acho que estava mesmo precisando descansar minha cabeça que estava a ponto de pirar. - ele respondeu se sentando na mesa da cozinha e observando seus amigos finalizarem o jantar.

- Está com fome? - Gabriela perguntou.

- Não muita. - ele disse com sinceridade.

- Mas vai comer assim mesmo. Ficar sem comer somente vai lhe trazer mais problemas. - Gabriela disse com a voz severa e Gilbert apenas concordou com um aceno, e então ele olhou para Cole e perguntou com a ansiedade transparecendo em sua voz:

- Cole, alguém do departamento de polícia ligou?

- Não. - Cole disse com a voz triste.

- Deus! Isso não tem fim. Eu não aguento mais essa espera. - ele disse aflito o que fez Daniel retrucar.

- Você precisa se acalmar, amigo. Eu sei que é difícil, eu sei que você está 'furioso, mas, é a única coisa que você pode fazer no momento.

- Como você acha que me sinto, Daniel? Eu estou aqui nesse apartamento enorme enquanto a minha noiva está lá fora em algum lugar longe de mim. Eu não sei se a machucaram, se a maltrataram, se ela tem uma cama quente para dormir, se está sendo alimentada. Tudo o que me passa pela cabeça é que eu mataria o canalha que fez isso conosco – Gilbert disse com raiva, os olhos tão escuros quanto um dia de tempestade.

- Poupe suas forças, meu amigo para quando Anne voltar. Se descontrolar não vai mudar em nada a realidade dos fatos. - Daniel aconselhou e Gilbert se deu conta de que aquilo tudo já estava fora de seu controle. Ele teria que confiar que a polícia faria o seu trabalho e traria Anne de volta para casa sem nenhum arranhão. Mas, até quando ele aguentaria esperar? Ele não era o tipo de homem que esperava passivamente que outras pessoas resolvessem as coisas por ele mas, naquele caso, ele estava de mãos atadas. Bancar o detetive por conta própria não lhe agradava, por ser algo perigoso. Porém, tão pouco se acomodar em uma posição passiva era o que pretendia fazer, mas enquanto não tivesse nenhuma pista, não sabia nem por onde começar sua busca.

Gabriela serviu a sopa, e embora Gilbert não sentisse fome, ele a comeu devagar em pequenas colheradas, no que foi acompanhado pelos seus visitantes, cada um perdido em seus pensamentos e tendo suas próprias conclusões a considerar. Assim, depois do jantar, eles foram para a sala tentar se distrair com um filme enquanto esperavam por notícias. Com os olhos pregados na televisão, Gilbert sequer sabia do que se tratava o filme, pois mais uma vez seus pensamentos o dominaram por completo.

Quando deu-se por vencido sucumbindo ao cansaço de seu corpo. Gilbert se despediu dos amigos e voltou ao quarto sabendo de antemão que não conseguiria dormir assim tão facilmente apesar de seus olhos arderem de exaustão. Logo que deitou sua cabeça no travesseiro, seu celular tocou, e com a garganta seca ele o atendeu rezando para que fossem boas notícias.

- Alo. - ele disse com o coração disparado.

- Dr. Blythe, aqui é o detetive Stevens. Acho que temos pistas sobre o paradeiro de sua noiva.

GILBERT E ANNE

De todas as pessoas que Anne pensara que pudesse estar envolvida naquele plano sórdido, Ela jamais teria imaginado que aquele rosto perverso que exibia um sorriso sarcástico nos lábios estaria por trás de tudo aquilo, mas o jeito com que ele a olhou com ódio a fez compreender instantaneamente que ele era o cabeça da operação toda.

- Então, era você o tempo todo? - Anne disse ao encarar o ex-marido de Josie com repugnância.

- Achei que fosse mais inteligente, ruivinha, pelo o que me contaram de você - ele riu com desdém.

- Você vai me dizer por que tornou minha vida um inferno? Eu jamais fiz qualquer coisa contra você. Por que me aterrorizar dessa maneira? - Anne perguntou, olhando para aquele homem insano que exibia um rosto gelado, olhos opacos e um sorriso macabro que apenas aumentava seu terror, porque Samuel Moore nada tinha de humano, ele tinha perdido seu coração a muito tempo para o ódio, para o rancor e para a iniquidade, e uma pessoa assim não se detinha diante de nada.

- Ah, a garotinha vai se fazer de sonsa agora? – Anne viu o olhar que ele trocou com Monique e sua respiração quase travou. Eles estavam juntos naquilo, e Anne se perguntou como aquele absurdo era possível, e esse seu pensamento foi interrompido quando o ex-marido de Josie lhe disse com a voz zangada:

- Você se meteu no meu caminho porque quis, agora vai arcar com as consequências. - ele se aproximou de Anne e ela se encolheu na cadeira inutilmente, Não tinha como fugir se ele tentasse alguma coisa contra ela, e pela cara de Monique que olhava para ela se deliciando com sua situação, ela duvidava muito que a outra a ajudaria. De repente, como em um flash a conversa que ela tivera com Cole dias antes a fez se recordar que o amigo lhe dissera que Monique tinha dois irmãos, um mais velho e um mais novo. Seria possível? Ela olhou para o homem que a encarava com raiva, e depois para a mulher que ria do seu desconforto e perguntou:

- Vocês são irmãos? – Monique arqueou a sobrancelha, e Samuel disse com sarcasmo:

- A ruivinha não é tão idiota quanto eu pensei. Na verdade, somos primos, mas os pais de Monique me criaram depois que os meus morreram quando eu era pequeno. Não é uma ótima coincidência que você tenha conhecido Peter anos atrás? Agora estamos todos em família. - Anne sentiu seu interior tremer ao pensar na armadilha que o destino havia lhe preparado. Ela caíra nas mãos de uma família inteira de malucos, se ela não tivesse vivendo aquilo na própria pele, ela não acreditaria.

- Por que não conta para ela primo, a razão de tudo isso? - Monique disse, se sentando na cama como se desejasse assistir de camarote o sofrimento de Anne.

- Acho que tem razão. Ela tem o direito de saber porque está aqui. - Samuel caminhou em volta da cadeira dela, e de vez em quando brincava com seus fios ruivo, fazendo Anne desejar arrancar o couro cabeludo de tanto enjoo que aquilo lhe dava, mas, se obrigou a ficar quieta e esperar pelo que ele lhe diria.

- Bem, sua criança petulante, até você chegar de Nova Iorque com toda essa sua arrogância de modelo de capa de revista. Minha vida com a Josie era muito boa, eu mandava e ela obedecia, e ela se comportava exatamente como toda esposa deveria, mas, então você começou a colocar caraminholas na cabeça dela, e aquela idiota passou a me desfiar e falar comigo em um tom superior que nunca tinha ousado antes. Então, aconteceu o incêndio que foi provocado por mim naturalmente. Eu quis acabar com a vida daquela idiota, e de novo, você foi lá e a salvou, e ainda a convenceu a me denunciar, e por causa disso, eu fui obrigado a me esconder, porque sou procurado por todo o país. Você acabou com a minha vida, e assim decidi acabar com a sua. As ameaças, o seu acidente da escada, o acidente de seu namorado e o sequestro da filha de sua amiga não foram nada comparado ao que desejo fazer com você. - Nesse ponto, Samuel lançou um olhar para todo o seu corpo e Anne sentiu seu sangue gelar. Ele não podia estar pensando em fazer aquilo com ela, ou será que estava? Sua mente trabalhava fervorosamente, enquanto ela se mantinha calada pensando que precisava sair dali o quanto antes, mas como?

- Vou deixá-la aqui para pensar bem em tudo isso que lhe contei, e voltarei mais tarde para lhe contar quais são os meus planos para você garotinha, e espero que esteja bem disposta porque vamos nos divertir bastante juntos. - Samuel disse, saindo do quarto com Monique que lhe lançou um último olhar vitorioso.

Anne pensou que teria um tempo para pensar no que fazer naquela situação, mas, antes que pudesse realmente chegar a algum lugar, Peter apareceu de novo, e lhe perguntou:

- E então, pensou na minha proposta?

- Que proposta? - Anne disse se sentindo cada vez pior. Os enjoos não diminuíam e ela estava começando a transpirar por conta da queda de pressão por estar a horas sem se alimentar. Ela tentava se focar no que Peter dizia, porém, seu cérebro estava começando a ficar embaralhado e seus pensamentos se amontoavam de forma completamente desorganizada.

- Você fica comigo, e te salvo disso aqui. Samuel não terá coragem de te fazer nenhum mal se você estiver comigo. - ele disse tão perto dela que Anne sentiu seu hálito desagradável em seu rosto. Mesmo sentindo a fraqueza dominá-la, Anne entendeu a insinuação de Peter, e assim, ela respondeu com a voz cansada:

- Nunca vou ser sua, Peter. Desista disso. Eu somente amo a um homem e você sabe quem é.- o rapaz a olhou com o ódio dançando em seu rosto, desfigurando-lhe os traços bonitos, mas, Anne sequer se importou. Ela estava mais preocupada em manter-se e consciente, pois sentia-se perdendo as forças e a qualquer momento desfaleceria.

- Se esta é sua última palavra, não posso fazer mais nada por você. - Peter disse com desprezo, saindo pela porta por onde não voltou mais.

Horas foram se passando, e Anne sentiu alguém desamarrando seus braços e lhe dando água, a qual ela bebeu desesperada. Sua boca estava tão seca que parecia estar cheia de serragem, e também lhe trouxeram comida a qual ela recusou, pois seu estômago se recusava a aceitar qualquer coisa sólida. Felizmente permitiram que ela se deitasse, pois, mal conseguia manter seus olhos abertos. Assim, ela se atirou em uma semi-inconsciência, sentindo sua energia se esvair. Ela não mais sabia se era noite ou dia, e quanto tempo fazia que estava ali.

Estranhamente, Monique e Samuel não retornaram para falar com ela, mesmo depois que aquele homem odioso lhe dissera que voltaria em um outro momento para acertar suas contas com ela, e Anne se sentia grata por isso, porque do jeito que estava se sentindo, não teria forças para lutar contra o que quer que fosse. Será que ele tinha desistido, ou simplesmente mudado de ideia, deixando-a ali para morrer sozinha à sua própria sorte? Se ela nunca mais voltasse para casa, ela tinha apenas um único desejo. Queria ver o rosto de Gilbert uma última vez, beijar aqueles lábios que ela tanto amava, sentir o corpo dele junto ao seu e sonhar que um dia se casariam e seriam felizes. De repente, aquela alegria parecia tão distante dela agora, e ela sabia que pouco tempo lhe restava. A ruivinha queria ficar e esperar que Gilbert a salvasse e a levasse de volta para casa, mais estava tão cansada que não conseguia pensar com coerência, assim ela suspirou baixinho e deixou que o destino decidisse por ela.

Quatro dias haviam se passado desde o sumiço de Anne, e Gilbert não aguentava mais a espera torturante. Ele não fora trabalhar naqueles dias, e passava a maior parte do tempo trancado no quarto onde todas as coisas de Anne estavam. Ele dormia agarrada com o travesseiro dela, e por muitas noites, ele adormecia om lágrimas de dor e preocupação descendo por seu rosto. Ele não queria perder as esperanças, por isso, tentava resgatar dentro de si todas as boas lembranças que tinha dela, o que não deixava também de ser uma tortura porque aumentava sua saudade a tal ponto que ele tinha vontade de sair pelas ruas gritando o nome dela.

Cole vinha lhe fazer companhia todos os dias, assim como Daniel e Gabriela, mas, nenhum deles conseguia arrancá-lo daquele estado de total desespero. Ele não falava, quase não dormia, se alimentava apenas por obrigação e estava aos poucos entregando os pontos, embora lutasse com todas as forças para manter seu ânimo em alta, mas, Gilbert se sentia afundando como se estivesse preso em areia movediça que o sugava lentamente para baixo.

A polícia tinha lhe dito que encontraram pistas do paradeiro de Anne, e ele correra para a delegacia sem esperar um momento sequer. Quando chegara lá, ele ficar surpreso em saber que eles tinham conseguido prender os sequestradores, e Gilbert quase não pudera acreditar ao ver quem realmente eles eram. Seu sangue ferveu ao observar pelo vidro de proteção da delegacia que o ex-marido de Josie estava envolvido, assim como a moça que chamava Monique, da qual Cole tinha desconfiado, e havia ainda um terceiro elemento que se chamava Peter, cujo paradeiro até aquele momento era desconhecido.

Mas, nada o surpreendeu mais ao descobrir que Billy Andrews também tivera uma pequena participação naquele teatro de horror que durava a meses, e causara a Anne tantos pesadelos. Ele queria poder arrancar a pele de cada um, torturá-los como fizeram com sua noiva cujo único pecado naquilo tudo fora se preocupar demais com seus amigos. E pensar que ele chegara a estar no mesmo ambiente que o crápula do ex-namorado de Anne, sentindo ciúme quando deveria tê-la protegidos mais dele, contudo era tarde demais e rezava apenas para encontrá-la com vida.

O pior de tudo era que Samuel Moore desafiava a polícia se recusando a dizer onde Anne estava, e Monique tão pouco colaborava. O que tinham feito com ela? Por que não confessavam logo onde a tinham escondido, e o livravam daquela agonia? Era tensão demais para o seu coração que ameaçava entrar em colapso a qualquer momento, e seu raciocínio já tinha falhado a muito tempo. Gilbert fugia de qualquer pensamento que sussurrava em seu ouvido que já a tinha perdido, pois ele sabia que se esse pensamento fosse confirmado estaria tudo acabado para ele.

Foi somente na tarde seguinte, que ele teve suas esperanças renovadas quando a polícia ligou para ele novamente, avisando que Monique resolvera revelar o real paradeiro de Anne com a condição de que sua pena fosse mais branda por conta da filha que tinha para criar. Assim, Gilbert saíra do quarto, pegara suas chaves do carro e se encaminhara para a porta sem se preocupar em avisar os outros, mas, quando estava para sair, Daniel lhe barrou a frente e perguntou:

- Onde pensa que vai nesse estado, Blythe?

- Eles encontraram a Anne, e eu preciso ir até lá e saber com o ela está. - Gilbert disse todos agitado.

- O que disse? - Cole quase gritou ao ouvir as boas novas de Gilbert, e o rapaz sem muita paciência para explicar disse:

- Eles descobriram para onde Anne foi levada. A polícia acabou de me ligar.

- Eu vou com você, Blythe. Você não está em condições nenhuma de dirigir nervoso desse jeito. - Daniel disse tomando as chaves da mão de Gilbert.

- Eu também vou. - Gabriela disse pegando sua bolsa, mas, Daniel declinou a ideia e respondeu:

- Gabi. Vá direto para o hospital e nos espere lá. Aproveite para deixar tudo preparado para a chegada de Anne. Não sabemos em que condições ela está. - a médica concordou com ele, e os dois amigos saíram apressadamente do apartamento foram em direção ao estacionamento pegar o carro de Gilbert. Ao chegarem à delegacia, os policias explicaram a Gilbert e Daniel o que tinham descoberto, e o noivo de Anne disse a eles que os seguiria até o cativeiro onde Anne estava sendo mantida como prisioneira, pois ele era médico e com certeza ela precisaria de seus cuidados. Com argumentos tão convincentes, Gilbert rebateu qualquer objeção que as autoridades policiais poderiam ter em tê-lo como companhia naquele regaste.

Desta forma, eles seguiram para o endereço que Monique tinha dado, e quando entraram no quarto onde Anne estava, Gilbert sentiu uma vontade imensa de partir para a violência e acabar com a raça daqueles covardes que tinham feito aquilo com sua noiva.

Ela estava deitada de bruços com os cabelos espalhados ao seu redor, exibindo um rosto tão pálido que dava quase para duvidar que havia algum sangue correndo naquelas veias. Ele se aproximou devagar, se sentou na cama e inclinou seu rosto em direção ao dela, até que suas testas se encostaram e Gilbert sentiu a pele dela tão gelada como se não houvesse mais nenhuma vida ali. O jovem médico controlou as lágrimas diante desse pensamento, pois não podia acreditar que a mulher que ele amava mais que tudo não mais estivesse ao seu alcance. Ansioso, ele pegou o pulso dela, e para seu alivio ainda batia apesar de bem fraco, então, ele tocou os lábios frios dela com os seus enquanto murmurava:

- O que fizeram com você, meu amor. - odiando as marcas nos pulsos delicados, e acariciando-os com cuidado como se assim pudesse fazer com que a violência que fora usada contra ela pudesse desta forma desaparecer apenas com o poder do seu amor. De repente, as pálpebras de Anne tremeram, e com um esforço imenso ela abriu os olhos e seu rosto parecia estar em êxtase quando viu Gilbert ali ao seu lado.

 - Você veio me buscar. - ela disse baixinho quase um sussurro, assim como levava a sua mão até o rosto de Gilbert tocando-o com suavidade.

- Sim, amor. Eu vim te buscar. Agora você está segura e vai voltar para casa comigo.- Gilbert já não continha as lágrimas que corriam por sua face livremente. Ele pouco se importava se as pessoas o vissem chorando. Foram dias demais guardando aquela dor dentro dele para que tivesse forças para continuar se segurando.

- Eu te amo, Gil. - - Anne disse, e então ela fechou os olhos, seus braço caiu para o lado, e Gilbert sentiu como se todo o ar tivesse sido sugado de seus pulmões.

- Anne, por favor, fala comigo. Não faz isso, meu amor. Fica comigo, Anne. Eu não posso te perder. - Gilbert dizia tudo aquilo enquanto seu coração se partia em milhares de pedaços enquanto o pânico se instalava em sua alma. Ele não percebeu quando Daniel se aproximou, pegou no pulso de Anne por alguns segundo e disse:

- Calma, Gilbert. Ela apenas desmaiou. Vamos levá-la imediatamente para o hospital.

Assim, Gilbert pegou Anne em seu colo, levando-a para o carro enquanto era seguido pelos policiais que os escoltaram em segurança até o hospital onde Gabriela os esperava com tudo pronto para receber Anne que foi encaminhada para a emergência no mesmo instante. Daniel não permitiu que Gilbert fosse junto, se prontificando a examiná-la pessoalmente e lhe trazer notícias assim que terminasse.

Os minutos escoavam de forma dolorosa enquanto Gilbert caminhava de um lado para outro no corredor do hospital, com os olhos pregados na porta da sala de emergência, esperando impacientemente que Daniel viesse lhe falar do real estado de Anne. Cole também se encontrava ali, mas, permanecia calado sentado em uma poltrona não muito longe de onde Gilbert estava, e mantinha sua mente elevada em uma prece silenciosa, enviando todas as vibrações positivas para sua amiga que estava lutando pela vida a alguns metros dali.

Finalmente, Daniel apareceu vestindo seu jaleco branco e com uma expressão séria no rosto a qual Gilbert não conseguia identificar. Não aguentando mais sua ansiedade, ele foi ao encontro de seu amigo e perguntou sem fazer rodeios:

- Como ela está, Daniel? Não minta para mim.

- Seu estado está estável, mas, vamos esperar mais um pouco, pois Gabriela está com ela e quero também sua opinião sobre o estado de Anne.

- Por que, Gabriela está com ela? – Gilbert perguntou confuso, e então, uma suspeita terrível tomou conta de sua mente. Não, aquilo não, podia ter acontecido. Eles não podiam ter feito isso com ela, era insuportável até imaginar que tinham ido tão longe. Ele enterrou as mãos em seus cabelos, passando os dedos por eles várias vezes seguidas. Então, Gabriela apareceu no corredor, e Gilbert quase correndo chegou até ela e perguntou desesperado com a voz trêmula:

- Gabriela, por favor, me diga que eles não ...- ele não conseguiu terminar. Era pesado demais dizer aquilo em palavras simples. Gabriela entendeu imediatamente o que ele quis falar, e o tranquilizou segurando em suas mãos com firmeza:

- Calma, Gilbert. Nada de mais grave aconteceu com ela. Fique tranquilo, eles não abusaram dela desse jeito.

- Mas, então, por que Daniel te pediu que a examinasse? - Gilbert perguntou sentindo o peso sendo arrancando de seus ombros e respirando aliviado.

- Ele queria confirmar uma suspeita. - ela disse sorrindo de leve.

- Que suspeita? - ele disse com a testa franzida.

- Gilbert, a Anne está grávida.


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