Capítulo 70- Sonhos perfeitos
Olá, pessoal. Estou postando mais um capítulo de coração em jogo. Espero que gostem e comentem. No início eu coloquei o trecho de uma música que amo e que acho que combina muito com nosso casal apaixonado. Desculpem-me por qualquer erro ortográfico. Muito obrigada. Beijos, Rosana
Fire on fire
Would normally kill us
But this much desire
Together we're winners
They say that we're out of control
And some say we're sinners
But don't let them ruin
Our beautiful rhythms
'Cause when you unfold me
And tell me you love me
And look in my eye
You are perfection
My only direction
It's fire on fire
It's fire on fire
(Sam Smith, Fire on Fire)
Fogo sobre Fogo
Normalmente nos mataria
Mas com este desejo intenso
Juntos somos vencedores
Eles dizem que estamos fora de controle
E alguns dizem que somos pecadores
Mas não deixe que eles arruínem
Nosso lindo ritmo
Porque quando você me vê por inteiro
E diz que me ama
E olha dentro dos meus olhos
Você é a perfeição
Minha única direção
Fogo sobre fogo
ANNE
Anne estava se divertindo e muito. Cole era uma companhia extremamente estimulante, principalmente no quesito de fazer compras. Ela preferia mil vezes levar Cole para o shopping que suas amigas surtadas. Ele não sofria de complexo nenhum, não experimentava uma calça achando que seu quadril tinha ficado enorme, não ficava analisando seu abdômen naquela camisa super justa e reclamando que tinha que perder pelo menos dois quilos para fazer as pazes com a balança. Cole era pura auto estima com níveis de astral bem grande. Não existia nada que o aborrecesse ou que ele achasse enfadonho, e podia caminhar horas indo de loja em loja sem se cansar. Por isso, Anne o convidara para fazer as compras para seu casamento, especificamente as roupas que levaria na lua de mel.
Faltava exatamente três meses para o casamento, e a ruivinha não tinha mais tempo para nada. Embora ela e Gilbert pretendessem fazer uma cerimônia mais íntima, eram tantos detalhes para organizar que Anne estava quase ficando louca, pois tinha que se equilibrar entre seu trabalho, sua vida pessoal, e tudo no que se relacionava à cerimônia. Desde a igreja até a comida que seria servida na festa, a decoração, os padrinhos e até as flores que enfeitariam as mesas de seus convidados.
Marilyn dissera que ela era maluca por querer fazer tudo sozinha, e perguntara, porque ela não contratava uma cerimonialista já que possuía meios para isso. Anne duvidava muito que Marilla iria gostar de ter alguém bisbilhotando em Green Gables, e querendo fazer modificações na fazenda que ela com certeza não aprovaria, e Anne sempre tivera o sonho de fazer seu casamento do jeito que sempre sonhara, por isso contratar uma estranha que não vivenciara a sua história com Gilbert não era o que considerava um casamento com significado verdadeiro. A cerimônia até poderia ficar impecável, mas não teria a mesma emoção ou sentimento que todos que participassem daquele momento especial em sua vida poderiam perceber se cada pormenor fosse organizado pelas mãos da noiva.
Apesar de todo o processo cansativo, Anne estava adorando cada minuto. Diana se prontificara a ajudar Marilla com o almoço que ela queria oferecer aos padrinhos, Jerry disse que em se encarregaria das bebidas. Mary estava cuidando da produção do bolo e os docinhos da festa, e Cole a estava ajudando com os itens da viagem e todo o resto para o que Anne precisasse.
Gilbert também lhe oferecera seus préstimos, e Anne recusara, porque sabia o quanto ele andava ocupado com um novo caso, e as obras da nova ala de oncologia que estavam construindo no hospital. Pelo menos, essa parte estaria concluída naquela sexta-feira quando haveria uma festa de inauguração no hospital para a qual Anne se comprometera a ir.
Gilbert estava extremamente animado com esse projeto, e parecia ter deixado sua mágoa pela morte de Sarah em um lugar longínquo no passado. Ela nunca mais vira Gilbert se lamentar por isso, e Anne ficava satisfeita em ver que sua sugestão para que seu noivo se empenhasse naquele projeto tinha sortido um enorme efeito positivo em seu ânimo, arrancando seu amor da tristeza por não ter conseguido salvar sua amiga. Era como se o simples fato de abrir portas para ajudar pessoas na mesma condição de Sarah estivesse transformando o fracasso que Gilbert pensara ter manchado seu trabalho como médico em esperanças promissoras. Era verdade que ele andava as voltas com um caso de tumor parecido com o que Sarah tivera, e no dia em que Gilbert lhe contara ele parecia incerto se conseguiria com sua experiência vencê-lo, pois perder Sarah o fizera duvidar de sua capacidade nessa área. Ele amava a medicina, mas de repente parecia ter se tornado um fardo acordar todos os dias e ir para o trabalho e lutar contra inimigos imaginários nas sombras. Anne tinha certeza de que se mais algum paciente de Gilbert tivesse perecido naquele período, seu noivo teria desistido, mas felizmente, nada disso aconteceu, e ele foi recuperando a confiança em si mesmo pouco a pouco.
Porém, se deparar com outro desafio como aquele o deixara tenso, roubando-lhe o sono por várias noites, e até mesmo alterando-lhe um pouco o apetite preocupando Anne ao extremo. Certa madrugada ela acordara, e não o encontrara deitado ao seu lado. Incapaz de voltar a dormir sem saber o motivo de Gilbert não estar ali, ela vestira a camiseta dele que estava dobrada aos pés da cama, calçara suas pantufas e foi diretamente para o escritório dele, sem perder tempo em procurá-lo pelo resto da casa, pois ela sabia por instinto e experiências anteriores que ele estaria exatamente lá.
Anne chegou na porta do escritório que estava entreaberta, e olhou para dentro da sala que estava iluminada apenas pela luz do abajur enquanto somente parte da silhueta de Gilbert podia ser vista. Por esta razão, Anne entrou devagar não querendo fazer barulho e atrapalhar o que quer que Gilbert estivesse fazendo ali naquele ambiente tão compenetrado, e caminhou até onde ele estava sentado se posicionou atrás dele, começou a massagear seus músculos tensos das costas, e perguntou:
- Você pegou de mim a mania de acordar de madrugada e andar pela casa? Se está sem sono, por que não meu chamou? Eu poderia ter te feito companhia. - Gilbert segurou as mãos de Anne sobre o seu ombro e respondeu:
- Eu não faria isso. Você parecia tão exausta quando eu cheguei ontem que não quis atrapalhar seu sono profundo.
- Você sabe que eu te faria companhia com prazer. - ela se inclinou e deu um beijo carinhoso no pescoço dele e perguntou. - O que faz aqui, amor?
- Estou estudando o caso daquele garoto do qual eu te falei. - Gilbert disse virando-se de frente para ela e colocando suas duas mãos na cintura de Anne.
- A essa hora, Gilbert? Por que não deixa isso para mais tarde e volta para cama? Você tem tido dias estressantes no hospital. Por que quando está em casa não se dá uma folga e se permite relaxar? - ela passou os dedos pelo rosto de Gilbert e depois ajeitou-lhe os cabelos nas têmporas. Ele estava com aquelas linhas de cansaço em volta dos olhos, e a tensão era evidente em sua expressão facial. Anne se preocupava demais com Gilbert quando ele estava em processo de estudo de um caso, pois ele se degastava ao extremo sem se importar consigo mesmo e aquilo não era saudável. Ela precisava achar um jeito de fazer seu noivo se desligar um pouco daquela sua obsessão em curar pessoas, fazê-lo voltar para cama e ter horas suficientes de sono para recuperar suas energias.
- Não consigo, Anne. Isso fica rondando minha cabeça sem parar. - ele disse isso olhando diretamente para ela, e Anne pôde ver a ansiedade consumindo-o lentamente.
- O que te preocupa tanto, Gil? - ela disse se sentando no colo dele, sentindo que Gilbert precisava dessa sua proximidade como um conforto íntimo para suas inseguranças.
- Eu tenho medo de fracassar de novo. Agora se trata da vida de uma criança, e me pergunto se o que sei sobre essa enfermidade é suficiente para levar esse menino a um tratamento eficaz.
- Quais são as chances dele de cura? - ela perguntou entrelaçando seus dedos nos dele.
- São muito boas, na verdade, mas, Sarah também tinha, e nós dois sabemos como terminou. - ele respondeu brincando com os dedos dela entre os seus.
- Gil, esse menino pode ter a mesma doença que levou a vida de Sarah embora, mas, cada organismo reage diferente a uma enfermidade e ao tratamento, e você como médico já me disse isso muitas vezes. Pare de avaliar o que aconteceu com Sarah como um fracasso pessoal seu. Ela mesma escreveu isso na carta que te deixou. Você é um médico extraordinário, Gilbert, e saiba que te admiro demais. Dessa vez vai dar certo, você apenas precisa acreditar nisso e ter fé. - Gilbert não respondeu e ficou admirando-a por um tempo infinito, quando ele falou, seu rosto estava cheio de uma luz que o deixava mais atraente do que já era ali na penumbra daquele escritório.
- O que seria de mim sem você, Anne? Você tem uma fé em mim que às vezes me dá medo. - ele disse acariciando a barriga dela por cima da camiseta.
- Por que? - Anne perguntou intrigada com aquela confissão.
- Porquê de todas as pessoas do mundo, você é a única que não quero desapontar nunca- ele respondeu suspirando fundo.
- Você nunca me desaponta, amor. Por que pensa nisso? - Anne perguntou segurando o queixo dele entre seu polegar e indicador.
- Eu já te desapontei sim, Anne. Quando eu fui para a Alemanha eu te desapontei, te magoei e te fiz sofrer, e quase te perdi por conta de minha teimosia. Nós nunca mais falamos sobre isso, mas eu sei, como você também sabe que machuquei você demais quando eu devia tê-la amado com o todas as minhas forças, eu te deixei sozinha quando devia ter cuidado mais de você. Nada do que eu fizer vai compensar os oito meses perdidos sem você. - ele a abraçou tão forte que Anne podia sentir o coração dele batendo no mesmo ritmo que o seu. Será que havia alguma coisa que não faria por aquele homem? Será que em algum momento de sua vida futura, ela alguma vez lhe diria não? A resposta como sempre veio sem esperar um segundo: Absolutamente nada e nunca.
- Gil, você não foi o único responsável pela mágoa entre nós. Eu fui imatura, ciumenta e sem noção. Eu podia muito bem ter ido com você, porque isso não teria influenciado em meu trabalho, mas, bati o pé como uma garota mimada que era, simplesmente por não conseguir aceitar que você estava indo embora por causa de uma outra mulher, e demorei para entender que eu não corria o risco de te perder, que seu amor por mim continuava inabalável, mas, seu juramento médico exigia que fosse em busca de respostas para a doença de um paciente. Eu sei que também te magoei, Gil, quando virei as costas para você quando voltou, por não querer ouvi-lo e por ter ficado noiva de Francesco apenas para te atingir quando ainda amava você. Em meu coração, eu sei que você sempre tentou fazer o que era certo, mesmo que isso implicasse algum sacrifício pessoal, mas, naquela época eu estava cega demais para enxergar essa verdade, e só posso ser grata por você ter me dado uma segunda chance para te mostrar o quanto estava arrependida. - Gilbert a olhava de um jeito que fez o coração de Anne quere saltar do peito, e ela se deu conta que o seu amor por ele continuava crescendo e crescendo e nunca iria parar.
- Você sabe que sempre amei você, e eu é que sou grato por você ter voltado para minha vida. O seu apoio incondicional é muito importante para mim. - ele disse dando-lhe um selinho carinhoso.
- Eu sou sua mulher, Gilbert e vou te apoiar sempre, e vou estar aqui a cada dia para lembrá-lo o quão valoroso você é para o mundo da medicina e para mim.
- Obrigado, amor. Desculpe-me por não estar te dando atenção que precisa nesse momento por conta de todas as coisas que precisa organizar para o casamento. Como tem se sentido? - ele disse preocupado, acariciando-lhe os longos cabelos.
- Apavorada, nervosa e incrivelmente feliz. - Anne disse sorrindo.
- Não quero que se estresse demais. Tem certeza que cuidar de todos os detalhes sozinha não está sendo extremamente cansativo para você? Por que não segue o conselho de Marylin e contrata alguém especializado para te ajudar?
- Por que não seria a mesma coisa. Eu quero que tudo tenha um toque especial meu, e não desejo que uma pessoa estranha que não sabe o quanto o nosso amor significa para nós dois organize nosso casamento. Não se preocupe, eu estou adorando cada minuto. - ela disse apoiando as duas mãos no ombro musculoso de Gilbert e traçando cada ondulação com os dedos.
- Tudo bem, se é assim que quer. Mas, apenas me prometa que vai pedir ajuda se as coisas começarem a ficar fora de controle.
- Prometo, Dr. Blythe. Acho que agora devemos voltar para cama, pois meus noivo teimoso precisa descansar.
- Por que a pressa? Você não disse que veio até aqui para me relaxar? - ele disse com um sorriso malicioso enquanto suas mãos a prendiam em seu colo.
- Eu não me lembro de ter dito isso. - Anne disse rindo, já imaginando o que se passava na cabeça de seu insaciável noivo.
- A não? Acho que entendi errado então. - Gilbert disse, enquanto suas mãos faziam um caminho de subida e descida por suas coxas.
- O que tem em mente, Dr. Blythe? – Anne perguntou divertida.
- Você não sabe? – ele disse subindo os lábios sobre a camiseta de Anne, até chegar aos seios, os quais ele beijou sobre o tecido fino. Ela sentiu aquele calor gostoso tomar conta dela, mas, resolveu que iria resistir. Gilbert precisava dormir, e se começassem a se tocar, aquilo se tornaria uma fogueira e os manteria a madrugada toda acordados.
- Amor, eu realmente acho que você precisa descansar. Vamos voltar para o nosso quarto para que assim você possa recuperar as horas que passou em claro nesse escritório. - ela tentou se levantar, mas, Gilbert não permitiu.
- Se não queria me provocar, não devia ter vindo até aqui vestida assim.- ele disse apontando para a camiseta que ela estava usando. - Além do mais, eu não posso ignorar o fato de que você não está vestindo nada por baixo dela. - o olhar dele em seu corpo era intenso, e Anne tinha consciência que o tecido pouco cobria suas curvas, assim como a transparência da peça dava a Gilbert um panorama completo de sua nudez.
Anne sentiu-o correr as mãos por suas costas e chegar até a barra da camiseta sem ousar adentrá-las por baixo da camiseta. A ruivinha sabia que ele fazia isso para atiçar seu desejo até que ela implorasse para que ele a tocasse de verdade. Contudo, ela resistiu bravamente, encarando o olhar dele com o seu, e quando Gilbert percebeu que ela não cederia, ele tentou usar um último argumento para quebrar a resistência dela.
- Tem certeza de que vai recusar a oportunidade de praticar mais uma vez para que assim nosso filho possa ser concebido o mais rápido possível? - Anne deu-lhe um sorriso e respondeu:
- Não banque o engraçadinho comigo. Nós já fizemos amor duas vezes na noite passada, e acredito que nosso filho pode esperar por uma próxima um outro momento. Agora, eu vou dizer o que vamos fazer, Sr. Teimoso. Nós vamos para o nosso quarto onde apenas dormiremos, pois eu terei um dia cheio e você também quando o dia amanhecer.
- Está bem. – Gilbert respondeu convencido pelos argumentos de Anne sendo puxado pela mão por ela até a cama de casal, onde ele se sentou esperando por ela. Quando a ruivinha foi desligar a luz ele disse:
- Tire isso. - ele apontou para camiseta.
- Gil. - Anne disse em protesto.
- Tira a camiseta, amor, eu quero olhar para você. - A expressão do rosto de Gilbert lhe mostrou que ele não ia desistir daquilo, então, Anne, pegou nas laterais da camiseta, arrancou-o pela cabeça e a atirou-a no chão, enquanto sentia o olhar de Gilbert deslizar por cada parte sua devorando-a completamente.
- Você é maravilhosa. - ele disse enquanto a puxava pela mão, fazendo-a se deitar na cama com ele. Em seguida, ele apagou a luz a enlaçou pela cintura colando-a ao seu corpo. Anne podia sentir o peito de Gilbert contra seus seios nus, enquanto ele entrelaçava as pernas dele nas dela. Por sorte, Gilbert se manteve vestido com a calça do pijama, embora Anne soubesse que aquilo era um obstáculo frágil entre os dois, porque a excitação de Gilbert não passava despercebida ao seu corpo sensível, mas, mesmo assim ele não fez nenhum movimento para tocá-la. Anne quase se arrependeu de ter dito não aquela noite a ele, pois agora sentia que não conseguiria dormir com o seu corpo e o do Gilbert colados pele contra pele, mas, ao contrário do que pensara, em poucos minutos ela tinha adormecido.
- Você e Gilbert vão mesmo para o Havaí em sua lua de mel? - Cole perguntou fazendo Anne voltar ao presente e se concentrar na pergunta que ele fizera. Eles estavam sentados em uma lanchonete, onde pararam para lanchar depois da maratona de compras nas inúmeras lojas que visitaram
- Falamos sobre isso meses atrás, mas, não decidimos nada. E para falar a verdade, eu não me importo aonde ele queira me levar, pois o que me importa é a companhia e não o lugar. - Anne respondeu olhando para o seu sanduíche sem realmente sentir vontade de comê-lo. Estava se sentindo estranha desde manhã, e imaginava que deveria ser por conta de sua ansiedade crescente que não a deixava se alimentar direito a dias, fato que escondera de Gilbert porque não queria deixá-lo preocupado.
- Anne, você já se deu conta que em três meses Gilbert vai ser seu marido? Meu amor, seu sonho de adolescente está finalmente se realizando. - Cole disse, apertando a mão dela sobre a mesa.
- Eu mal posso acreditar nisso. Tenho que me beliscar muitas vezes para ter certeza de que está acontecendo. Será que eu o mereço, Cole?
- É claro que o merece. Você se pertencem desde crianças, isso é coisa de destino, minha amiga. - Cole disse sorridente.
- Acho que tem razão. O destino me trouxe de volta a Avonlea, me fez reencontrar Gilbert, e viver esse amor do jeito que sempre sonhei. Não vejo a hora de assinar meu nome como Anne Shirley Cuthbert Blythe. - a ruivinha disse sonhadora.
- Você falou com sua tia Amélia sobre o casamento? – Cole perguntou comendo seu hambúrguer com prazer.
- Ela está viajando pelo mundo, e nos falamos por telefone. Tia Amélia me deu sua benção e se lamentou por não poder voltar a tempo para o casamento. Eu disse a ela que não ficasse aborrecida, porque entendo essa necessidade que ela tem de curti a vida viajando com suas amigas. Minha tia passou parte de sua vida trabalhando, e agora que se aposentou, é justo que aproveite o tempo que lhe resta. Eu prometi levar Gilbert para ela conhecer assim que ela tiver voltado de seu tour pelo Continente europeu. - Anne explicou empurrando por fim o prato de sanduiche para longe porque começara a se sentir levemente nauseada.
- O que foi, meu amor. Não vai comer? - Cole apontou para seu lanche intocado.
- Não estou com fome. - ela disse. – Você já terminou? Eu queria ir para casa, porque pretendo descansar um pouco. Hoje à noite tem a inauguração da nova ala de Oncologia do hospital onde Gilbert trabalha, e como é um projeto dele, ele me pediu que comparecesse.
- Já terminei sim. Vou pagar a conta e a gente já pode ir.
Eles saíram da lanchonete momentos depois, e quando Anne desceu do carro de Cole, eles combinaram de se encontrar no dia seguinte, pois faltavam ainda alguns itens para comprarem para a viagem.
O porteiro a ajudou a levar todas as sacolas que estava carregando para o apartamento, e quando Anne abriu a porta, ela arrancou os sapatos, se sentando no sofá e massageando os pés doloridos. De repente, seu olhos se fixaram na mesinha do telefone, onde Havaí um envelope com a caligrafia forte de Gilbert. No momento em que o abriu, ela viu que eram a s passagens para a viagem ao Havaí que Anne mencionara outro dia para ele, e havia um bilhete junto, cujo conteúdo a fez sorrir:
Para a mulher da minha vida, a viagem de lua de mel de seus sonhos. Com amor, Gilbert.
Imediatamente, ela mandou uma mensagem a ele dizendo que adorara a surpresa, e que o encontraria mais tarde na inauguração. Assim, ela se levantou com intenção de ir para o quarto, mas, quando ela fez um movimento com o corpo, Anne sentiu uma leve vertigem, e teve que se apoiar no encosto do sofá para não cair. Quando o mal-estar passou, ela se apressou em ir se deitar, pois com certeza exagerara na caminhada com Cole aquela tarde, e quase não tinha se alimentado. Assim que sentiu os lençóis macios embaixo dela, em menos de cinco minutos, Anne já estava dormindo.
GILBERT
Gilbert observava os resultados dos exames de seu novo paciente, e se sentiu animado, porém, tentou não criar expectativas demais a respeito disso, pois ele sabia bem que isso poderia mudar para um quadro nada satisfatório como acontecera com Sarah, e o jovem médico não queria se decepcionar mais uma vez.
Ele podia ter recusado aquele caso quando o Dr. Philips o oferecera, mas, não o fizera por questões de princípios, e porque tinha que provar a si mesmo que conseguiria leva-lo até o final, e obter bons resultados e quem sabe uma possível cura. Seria uma batalha e tanto, mas dessa vez se sentia mais forte para enfrentar o que viesse, e não estava mais cheio de ideais juvenis como da primeira vez. Ele aprendera uma boa lição com tudo o que acontecera. e amadurecera como homem e médico. Por isso, passara a escutar mais e observar mais, compreendendo dessa forma que ser um doutor implicava aceitar suas derrotas e fracassos como um aprendizado para futuras situações semelhantes.
Ele nunca fora uma pessoa orgulhosa, mas tinha dificuldades em aceitar seus próprios erros, e acabava se tornando inflexível consigo mesmo, se maltratando demais por conta de seu perfeccionismo absurdo. Mas, nos últimos tempos, ele vinha aos poucos mudando sua maneira de se enxergar como profissional. Anne o estava ajudando a moldar sua personalidade de maneira menos severa, e consequentemente ele se sentia mais leve em seu coração.
Gilbert colocou de volta os exames do garoto no envelope do laboratório, e os guardou seguramente na gaveta de sua mesa de trabalho para comparações futuras. Depois, ele se levantou da mesa e saiu de seu consultório, e se pôs a caminhar pelos corredores enquanto pensava em seu casamento com Anne tão próximo. Ele podia sair voando pela janela de tanta felicidade. Deus! Ela seria legalmente sua mulher, e compartilharam o resto de suas vidas juntos, como não poderia estar feliz?
Naquele instante, ele se sentia no topo do mundo porque tinha tudo o que já pudera desejar. Estava se saindo bem na profissão que escolhera, apesar dos percalços diários que tinha que enfrentar. Trabalhava em um grande hospital, onde as oportunidades de crescer cada vez mais como profissional eram imensas. Havia pessoas que confiavam nele e valorizavam seu trabalho, e tinha a mulher mais linda do universo ao seu lado que o amava verdadeiramente, e com quem aprendia todos os dias a ser um homem melhor. Gilbert conquistara aos vinte cinco anos o que poucos conseguiam aos quarenta, e o sabor disso não podia deixar de ser o mais especial do mundo.
O jovem médico continuou a caminhar pelos corredores, seu olhar se prendendo a cada detalhe daquele lugar para onde viera trabalhar tão incerto de que se adaptaria, e agora sentia que ali era uma espécie de lar para ele, porque passava boa parte de seu dia dentro daquelas paredes brancas, entre seus pacientes que confiavam a ele suas vidas, dividindo opiniões, alegrias e tristezas com seus colegas, dando conforto e recebendo em troca tantas palavras de gratidão que às vezes ele achava que não merecia, mas ainda assim, se sentia recompensado pelo bem que tentava fazer quando recebia um sorriso, ou simplesmente um aperto de mão.
Muitas pessoas pensavam que precisavam de muitas coisas para serem felizes, mas, para Gilbert isso sempre se mostrara relativo. Ele acreditava assim como seu pai que a felicidade estava nas coisas mais simples, como chegar em casa ao fim do dia e saber que tinha dado o seu melhor para que o mundo lá fora se tornasse um lugar mais justo e mais fácil de se viver. E ele apenas acrescentaria a isso, poder ver o sorriso da mulher amada e descobrir através dos olhos dela mil razões para continuar sua jornada, por mais dura e pedregosa que pudesse ser.
Era assim que ele via Anne, além do seu amor eterno, um incentivo para que nunca desistisse, e quantas vezes pensara nisso, e somente por causa dela, ele não jogara a toalha. Gilbert sabia que se cobrava demais, e talvez por isso, viver pelos seus próprios padrões fosse algo quase impossível, porém, Anne tinha um jeito de encarar a vida que o fazia encontrar tantos motivos para sorrir mais vezes, ao invés de se lamentar pelo que não tinha, ele aprendera com ela a valorizar cada coisa que conquistara com o esforço de suas próprias mãos, e era por causa dessa garota incrível que seu coração estava completamente rendido para sempre.
Como se tivessem uma comunicação telepática, o celular de Gilbert vibrou, e um sorriso de pura alegria surgiu nos lábios masculinos quando ele viu que era uma mensagem de Anne. Era incrível como eles sempre pareciam pensar um no outro ao mesmo tempo, e isso acontecia todo o tempo e em diversas situações. Assim, como ele sempre sentia quando ela estava triste ou estressada, irritada ou simplesmente cansada, e nas últimas semanas ela parecia estar especialmente sensível, e também preocupantemente pálida. Gilbert a conhecia muito bem, e sabia da tendência de Anne em não se alimentar quando estava no auge da ansiedade, e depois que teimara em organizar o casamento deles sozinha, esse quadro parecia piorar a cada dia, e embora ele já tivesse dito para Anne ir devagar, ela parecia empenhada em fazer daquele casamento uma obra de arte completamente sua, e a verdade era que Gilbert não conseguia interferir naquilo, porque sua noiva ficaria terrivelmente magoada, se ele não a apoiasse nesse seu desejo, assim tudo o que ele podia fazer era ficar atento às necessidades dela, e não deixar que ultrapassasse os limites de sua saúde.
Afastando os pensamentos inquietantes de sua cabeça, Gilbert leu o teor da mensagem, e seu sorriso se alargou. Ela tinha encontrado as passagens da viagem de lua de mel, e ela enviara a mensagem para lhe dizer que tinha adorado a surpresa. Gilbert amava satisfazer cada pequena vontade de Anne, mesmo quando ela dizia que ele a estava estragando com tantos mimos, ele não conseguia se controlar, e acabava fazendo tudo o que ele sabia que a deixaria feliz. Aquela viagem ao Havaí era um sonho dela, mas ele sabia que também ia apreciá-la demais. Ele não conhecia aquele lugar paradisíaco, mas, pelo que Anne dizia, era um local que valia muito a pena visitar, e quem sabe ele não pudesse realizar um sonho de adolescência e aprender a surfar?
- Pelo tamanho do sorriso, eu posso imaginar que a mensagem seja de Anne? - Gilbert ouviu Gabriela perguntar. Ele se virou para responder e viu sem surpresa nenhuma que ela estava acompanhada de Daniel. Embora não tivessem assumido nada, eles pareciam não se largar mais. Será que logo teriam outro casamento a caminho?
- Sim, ela disse que vem mais tarde para a inauguração. - Gilbert respondeu guardando o celular no bolso novamente.
- E como está se sentindo a respeito de mais esse sonho realizado? - Daniel perguntou, sabendo do enorme apresso de Gilbert por aquele projeto. Ele acompanhara o passo a passo de toda a criação da nova ala de Oncologia, desde o início da construção até a conclusão dela, e vira com seus próprios olhos a importância que tudo aquilo tinha para ele, e fora também a dedicação de Gilbert para cada alicerce fincado no chão daquela construção que o tirara de sua depressão pela morte de Sarah, além é claro da proximidade de seu casamento. Ele nunca vira Gilbert tão feliz e presenciar aquela transformação era realmente reconfortante.
- Eu sinto como se tivesse cumprido uma missão. Estou feliz por poder oferecer a mais pessoas o tratamento adequado para seu tipo de câncer, e estou mais satisfeito ainda por saber pelo Dr. Phillips que vamos poder oferecer tratamento de graça para pessoas que não podem pagar, pois conseguimos milhares de beneficiadores que querem fazer doações mensais para o projeto, pois se sensibilizaram com nossa proposta. - Gilbert disse radiante.
- Parabéns, Gilbert. Você merece depois de ter batalhado tanto por isso. - Gabriela disse sorrindo.
- Mas, vocês sabem que não fiz isso sozinho. Anne foi a maior incentivadora. Ela me doou o dinheiro necessário para que todas essas mudanças fossem realizadas.
- Anne é uma pessoa admirável. - Gabriela concluiu e Daniel concordou com ela.
-Ela é a melhor pessoa do mundo, e é por isso que eu a amo tanto. - Gilbert respondeu com os olhos um tanto sonhadores. Não via a hora da inauguração começar para que ela estivesse ali com ele.
- Parece que alguém está com saudade. Você ouviu alguém suspirar, Gabi? - Daniel disse com o riso escondido por trás de uma expressão falsamente séria.
- Claramente. - Gabriela disse participando da brincadeira.
- Vocês dois são dois palhaços. - Gilbert disse balançando a cabeça inconformado.
- Blythe, você está tão apaixonado que nem disfarça. - Daniel disse mais d uma vez zombando de Gilbert.
- E por que eu deveria disfarçar? Eu estou completamente apaixonado mesmo, e seria difícil negar. Todo mundo aqui sabe disso.
- E com certeza Anne também. - Gabriela sorriu ao dizer isso. Ela tinha visto a batalha que Gilbert travara consigo mesmo tentando esquecer seu amor de infância. Houvera um tempo em que ela pensara que eles poderiam ter dado certo, mas, após saber da paixão que Gilbert sempre alimentara por Anne, ela desistira, e não se arrependia, porque se algo entre eles tivesse acontecido, não teria ido muito longe. Algumas pessoas já nasciam predestinadas, e aqueles dois tinham em sua linha da vida o nome um do outro escrito.
- Eu faço questão que ela saiba disso todos os dias. - Gilbert disse respondendo ao comentário de Gabriela.
- E como está a produção independente de ter um bebê de vocês dois? - Daniel perguntou dando uma piscada para Gabriela.
- A todo vapor. - Gilbert respondeu com a mesma malícia.
- Quer dizer que podemos esperar novidades para breve? -
- Isso não depende só de nós, Daniel, e sim do órgão reprodutor feminino. É ele que decide qual é a hora certa. - Gilbert respondeu, colocando suas mãos no bolso do jaleco. - No mês passado, ela achou que estava grávida e ficou arrasada quando descobriu que não estava, e começou a pensar que tinha alguma coisa errada com ela. Eu fico preocupado com isso, pois eu sei que a ansiedade pode retardar e muito o desejo dela de ser mãe. Eu também quero muito ter um filho, mas, eu posso esperar tranquilamente para quando tiver quer acontecer, porém, Anne parece querer isso para ontem e acaba tendo pensamentos incoerentes a respeito.
- Nós conversamos muito sobre isso quando ela se consultou comigo. Eu expliquei para ela, que todos os exames que ela fez atestam que ela é completamente fértil e que pode engravidar quando quiser, desde que controle essa urgência que ela tem de que tudo aconteça quando ela quer. - Gabriela disse.
- Bem, creio que nesse mês ela quase não tem pensado nisso, pois tem estado ocupada demais com os preparativos para o casamento. Pelo menos, ela não tocou mais no assunto comigo.
-Talvez seja bom que ela se distraia assim, pois desta forma ela não sofre com suposições sem sentido. - Gabriela disse e Gilbert concordou.
- Assim, os três amigos caminharam juntos até a ala que seria inaugurada naquela noite para darem uma olhada nos preparativos e acabaram encontrando o Dr. Phillips que tivera a mesma ideia que eles.
- E então, Gilbert? Você deve estar orgulhoso com a conclusão de sua obra. - o médico mais velho disse olhando para o seu antigo pupilo.
- Estou sim, Dr. Phillips. Estou ansioso para começara trabalhar logo com os pacientes nessa ala.
- E teremos muitos deles. Como eu disse, poderemos tratar toda a população de baixa renda. - ele disse sentindo-se também orgulhoso por terem conseguido esse feito.
- Parece um sonho. - Gilbert disse com os olhos brilhando de alegria.
- Era um sonho, Gilbert, que nasceu do coração de um jovem médico generoso, e que agora se torna realidade por causa deste mesmo médico que teve a coragem e disposição para lutar por ele. - Dr.. Phillips disse dando-lhe uma pancadinha no ombro com afeição.
- Não podemos nos esquecer da participação da minha noiva nisso tudo. - Gilbert disse mais sério.
- Ela realmente é uma garota especial, Gilbert. Fico feliz por você.
- Eu tenho muita sorte por Anne aceitar ser minha esposa. - o olhar dele era sonhador, o que fez Dr. Phillips dizer:
- Ela também tem muita sorte por tê-lo. Você é um homem de muito valor, não se esqueça disso.
- Obrigado por isso, Dr. Phillips. Sou-lhe muito grato por ter me dado a oportunidade de realizar o meu trabalho neste grande hospital. - o rapaz disse emocionado com as palavras de seu antigo mentor a quem ele admirava demais.
- Você não tem que me agradecer por nada. Nós é que ganhamos quando você veio trabalhar nesse hospital, pois poucas vezes em minha vida eu vi um médico tão dedicado como você. A coisa mais impressionante a seu respeito, Dr. Blythe, é a maneira como você sente empatia por seus pacientes, e os trata como se fossem alguém de sua família. Algumas pessoas podem dizer que isso é pouco apropriado para um médico, mas, eu tenho certeza de que a interação próxima de um médico com seu paciente é a responsável por pelo menos 70 % da cura de uma doença, pois, quando existe confiança, existe possibilidades. E por falar nisso, como anda o nosso novo caso? - ele perguntou de repente, mudando de assunto.
- Os exames têm sido satisfatórios, mas, prefiro esperar mais um mês quando outros exames forem feitos para me animar com eles. - Gilbert disse com firmeza.
- Eu sei que escolhi o melhor médico para esse caso, mas, quero apenas lembrá-lo, Gilbert, que ninguém espera que realize um milagre. Se acontecer, será maravilhoso, se caso o menino vier a óbito, saberemos que fez o melhor que pôde. Os pais dele já foram avisados de todos os riscos, por isso, relaxe, e faça o seu trabalho como tem feito, com amor e dedicação.
- Vamos esperar pelo melhor dessa vez. - Gilbert disse cruzando os dedos.
- É claro, mas, agora me conte sobre o seu casamento. - o Dr, Phillips pediu com um sorriso.
- Será daqui a três meses.
- Considerando que estamos a um mês do Natal, então acontecerá em fevereiro? - Dr. Phillips perguntou.
- Sim, é o planejado. Mas, não nos casaremos em Nova Iorque. Anne quer casar na fazenda de seus pais adotivos, e eu concordei, porque aquele lugar tem um significado especial para nós dois. - Gilbert disse passando as mãos pelos cabelos.
- Um casamento no campo? Que adorável! – Dr. Phillips disse sorridente.
- O senhor sabe que está convidado, não é?
- Claro que sim, e não pretendo perder essa data tão importante. Afinal, não é todo dia que vejo um de meus antigos alunos se casar. - o bom médico disse se servindo de um café expresso da máquina que estava perto da porta.
- Ficarei feliz por ter sua presença conosco nesse dia. - Gilbert respondeu sentindo um calor bom no peito. A única coisa que lamentava era não ter a presença de seu pai no dia em que ele estivesse se unindo a mulher de seus sonhos, porém, Gilbert gostava de pensar que de onde ele estivesse, ele estaria abençoando aquela união que era o melhor presente que já ganhara na vida, além de seu diploma de medicina é claro.
-
GILBERT E ANNE
Anne acordou no meio da tarde sentindo-se melhor do que quando chegara das compras com Cole. O cansaço tinha ido embora deixando-a ver que acabara por dormir cinco horas seguidas, fato raro para ela em dias comuns e completamente normais naqueles dias em que sua vida estava em total confusão e tensão.
Ela se levantou devagar colocando um pé de cada vez para fora da cama, tomando cuidado para que a vertigem que a acometera naquele dia não a pegasse de surpresa novamente. Felizmente o chão permaneceu firme embaixo de seus pés, e apenas a náusea pareceu incomodá-la, e ela sabia que aquilo se devia ao fato de que não havia comido naquele dia, e por isso, foi até a cozinha e preparou para si mesma um sanduíche de peru com tomate, cebola e alface, o qual comeu com relativo apetite, sentindo o incômodo em seu estômago desaparecer por completo. Em seguida, ela foi até o seu guarda roupa escolher uma roupa para a ocasião daquela noite, e acabou por optar por uma saia preta de couro curta, e uma blusa vinho sem mangas e que tinha um generoso decote em suas costas. Para marcar sua cintura, ela colocou um cinto largo também de couro, e calçou sapatos médios da cor da blusa. Como ela não queria deixar os cabelos soltos daquela vez, Anne prendeu-os em um rabo de cavalo elegante, deixando boa parte de seu rosto suavemente maquiado à mostra, dando-lhe um aspecto totalmente natural, assim como ela gostava e Gilbert também. Seu noivo não era muito fã de maquiagem pesada, por isso, quando Anne ia sair com ele para algum lugar, ela quase não usava nada, tomando apenas cuidado para marcar bem os lábios com uma cor vibrante, e os olhos que eram sua marca registrada como modelo.
Logo que ficou pronta, ela checou sua aparência no espelho e ficou muito feliz com o resultado. Ela podia se dar ao luxo de se sentir a noiva de um médico bem sucedido cujo sucesso seria coroado aquela noite, e por isso, ela se vestira à altura, e esperava que Gilbert aprovasse. Antes sair, ela borrifou sobre sua pele o perfume que tinha tornado o preferido de seu noivo desde a noite da festa do estúdio que fora a primeira vez que Anne o usara. Ele lhe dissera que de todas as fragrâncias que ele tinha dela em sua mente, aquela era sem dúvida a mais deliciosa e excitante.
O táxi não a deixou esperando muito, e assim que desceu até a portaria do prédio, o motorista já a aguardava. Ele era o mesmo que a trazia para casa todos os dias depois do trabalho ou quando ela tinha que fazer alguma coisa longe do apartamento e Gilbert não podia levá-la. Depois das ondas de ameaças que a cercavam nos últimos tempos, Anne acertara com a empresa para a qual ele trabalhava, que somente continuaria utilizando seus serviços se designassem um único motorista para atendê-la sempre que precisasse. Ela até pagaria uma taxa especial se fosse necessário, isso era o que menos importava, desde que pudesse se sentir segura com alguém que passaria a fazer parte de sua rotina diária. Tudo foi acertado sem problema nenhum, e Anne acabara se acostumando ao senhor de cabelos grisalhos, que só falava com ela se ela lhe perguntasse alguma coisa. De certa forma, ele lhe lembrava Matthew e talvez por essa razão, não sentira nenhuma apreensão na primeira vez em que entrara no carro dele.
Enquanto se encaminhava para o hospital, Anne olhara para o celular várias vezes, pois ele não parava de sinalizar mensagens de Gilbert que lhe perguntava impaciente a que horas ela chegaria, e por que estava demorando tanto. Eles nãos e viram o dia todo, e também não puderam ir para a inauguração juntos, pois Gilbert teria que estar lá antes de todos para checar os últimos detalhes, e não fazia sentido Anne chegar antes do necessário se Gilbert não teria tempo para lhe dar atenção. Por isso, cada um seguiu sua rotina e compromissos do dia, e assim poderiam se encontrar e ficarem juntos o resto da noite.
Quando ela desceu do carro, seu noivo a esperava no estacionamento, e Anne se admirou com toda essa ansiedade dele. Como sempre a presença morena e marcante de Gilbert capturou-lhe toda a sua atenção no momento em que ele veio caminhando rapidamente em sua direção. O jovem rapaz parou a poucos metros dela, observando todos os detalhes de sua aparência fazendo-a corar, e ela esperara em expectativa o que ele tinha a falar sobre sua aparência daquela noite, e o olhar maravilhado que ele lhe lançou acabou com qualquer dúvida que Anne pudesse ter sobre ter se vestido adequadamente para aquele evento. No minuto seguinte, ele se aproximou colocando sua mão na cintura dela e dizendo:
- Querida, você me tira o fôlego cada vez que te vejo. Como pode ter ficado mais bonita desde hoje de manhã? - a mão dele estava em seu rosto, e Anne estava louca para beijá-lo. Gilbert também estava de tirar o fôlego com seus cachinho rebeldes completamente desalinhados, a camisa cinza escura com os dois primeiros botões abertos, e um olhar iluminado que traduzia todo a alegria que lhe ia por dentro. Ela tinha sentido falta daquele Gilbert espontâneo que andara escondido durante o seu período de recolhimento por causa de Sarah, mas, que naquela noite voltara a ser jovem de novo e tão apaixonante quanto antes.
- Você está tão irresistível, meu amor, que se não fosse a pessoa principal desse evento, juro quem te sequestraria por dias seguidos, apenas para ter o prazer de ser a única mulher a olhar para essa delícia aqui na minha frente. - Anne disse, colocando seus braços ao redor do pescoço de Gilbert. Ele se aproximou um pouco, aspirando seu aroma e disse:
- Você está usando aquele perfume de novo. Por Deus, Anne! Vai me deixar louco a noite toda. - fazendo Anne sentir um certo arrepio quando Gilbert passou o nariz pelo seu pescoço.
- Vai precisar ter paciência, amor. Acho que devemos entrar. Não ficaria bem o dono do projeto chegar atrasado em sua própria inauguração. - Gilbert riu concordando, e assim entraram no hospital indo direto para a ala que seria inaugurada.
Anne ficou impressionada com o tamanho do lugar, e quantas mudanças foram possíveis fazer ali, e ela estava feliz por poder ter colaborado para ajudar Gilbert a realizar aquele sonho, estava tão orgulhosa dele, que seu peito estufava de tanto amor. Muitas pessoas estavam por ali, e a ruivinha pôde perceber que eram de todos os seguimentos sociais, e ela teve certeza de que aquele projeto que começara apenas como um idealismo de um jovem médico incrível iria crescer tanto que talvez outras alas como aquela pudessem ser inauguradas naquele hospital e quem sabe em outros também. Não havia limite para quem queria fazer o bem.
Assim, que o Dr. Phillips chegou com a esposa, Gilbert se posicionou em um palco provisório que fora montado ali e começou fazer seu discurso, e suas palavras a seguir emocionaram muitas pessoas que tinham entes queridos passando pela experiência de lutarem contra um câncer, e outras que se simpatizavam com aquela causa.
- \\meus amigos. Estou realmente feliz que estejam nesse evento prestigiando a inauguração da nova ala de Oncologia. A ideia desse projeto surgiu depois que uma amiga minha desenvolveu um tipo de câncer difícil de ser curado. Eu fiz o que pude para ajudá-la, mas fracassei terrivelmente, e me senti muito frustrado com isso, e teria desistido da medicina se uma mulher maravilhosa não me lembrasse por que escolhi ser médico ao invés de astronauta. - nesse ponto do discurso todos riram, e assim, Gilbert continuou. - Ela foi minha principal incentivadora, e por isso eu quero que a conheçam. Amor, venha até aqui. - ele disse olhando diretamente para Anne que caminhou em sua direção enquanto milhares de cabeça se viravam para vê-la passar com sua graça e beleza de modelo de passarela. Gilbert pegou em sua mão e a ajudou a subir os últimos degraus que a separavam dele, trazendo-a para o centro do palco, bem ao seu lado.
- Foi essa mulher linda que me fez perceber que tenho muito ainda a oferecer ao mundo da medicina, e é por isso que eu dedico essa inauguração à ela. Querida, obrigado por tudo. - ele se aproximou e beijou-a nos lábios deixando Anne um pouco acanhada com tantos olhos sobre eles. Então, Gilbert lhe deu uma tesoura e disse:- Faça as honras.
Assim, Anne cortou a fita que lacrava a entrada do local, declarando assim a ala Sarah White inaugurada. Suas mãos tremiam um pouco e ela sabia que estava emocionada, pois não esperava que Gilbert dedicasse aquela inauguração à ela. Ele sequer tinha tocado no assunto em casa. Mais uma vez, Gilbert lhe provava porque ela tinha se apaixonado por ele em primeiro lugar.
- Gostou da surpresa, amor? - ele disse momentos depois durante a festa, abraçando-a pela cintura.
- Eu simplesmente amei. Nunca ninguém me dedicou algo tão importante assim. Obrigada, Gil. - ela disse beijando-o de leve nos lábios.
- Obrigado a você por existir em meu mundo. - ele respondeu deixando Anne ver seu amor por ela brilhar em seus olhos.
- A gente vai comemorar mais tarde, não é? - ela perguntou apertando os ombros de Gilbert de leve.
- É claro. Só nós dois. - ele disse em um tom baixo que somente ela escutou.
Durante as festa, várias pessoas vieram falar com ela, inclusive Daniel e Gabriela que pareciam muito à vontade juntos. O que fez Anne imaginar se eles já não eram um casal e estavam escondendo esse fato de todo mundo. Se fosse esse o caso, ela esperava que fossem felizes, pois ambos mereciam a oportunidade de reconstruírem suas vidas juntos.
Perto das dez da noite, o grupo de pessoas que viera prestigiar o evento começou a se dispersar e Anne acabou ficando sozinha com Gilbert, que pegou em sua mão e disse:
- Vamos ao meu consultório, que quero tomar uma taça de vinho com você antes de irmos para casa. – Anne concordou e o seguiu pelos corredores até chegarem a uma porta branca com o nome dele incrustrado em uma placa. Quando entraram, Anne se deu conta de que nunca estivera ali antes.
O local tinha toda a personalidade de Gilbert, dando a ele um ar masculino tão excitante quanto o seu dono. O olhar dela pairou sobre um sofá branco que havia no canto da sala peto da janela sobre o qual Gilbert descansava em suas noites longas de plantões, e Anne quase podia vê-lo deitado ali, com a cabeça apoiada em seu braço, enquanto sua respiração subia e descia devagar. Era assim que ele dormia muitas vezes ao lado dela, na enorme cama de casal em seu quarto, e Anne às vezes desistia de minutos de seu sono apenas para observar aquele homem lindo que a fazia feliz a cada minuto do seu dia dormir profundamente e em paz.
- Gostei daqui, é um lugar bastante aconchegante. - Anne apontou para o consultório todo, e depois passou as mãos devagarinho pelo estofado do sofá sentindo-lhe a maciez.
- Fico feliz que tenha gostado. - Gilbert disse se aproximando de Anne, tentando decifrar-lhe as feições naquele momento que se constituíam em um completo mistério.
- Então, é aqui que você dorme quando não está comigo em casa? - ela perguntou continuando a acariciar o estofado do sofá que fez Gilbert responder com a testa franzida:
- Sim, mas, por que saber isso é tão importante para você? -
Antes de responder, Anne foi até a porta e a trancou por dentro, depois se aproximou do sofá' novamente e disse:
- Por que me pergunto se é tão confortável quanto parece? - e para a surpresa de Gilbert, ela abriu o zíper de sua saia que ficava na lateral do corpo, a tirou junto com o cinto que marcava sua cintura, jogando os dois itens em um canto da sala, enquanto o olhar de Gilbert começava a brilhar daquele jeito que demonstrava como aquela cena o estava afetando. Sem perder o contato visual com ele, Anne tirou a blusa, vendo seu noivo arfar ao vê-la com uma lingerie preta que contrastava com sua pele alva, fazendo-a brilhar a meia luz. Depois, ela levou as mãos aos cabelos e tirou a presilha que os prendia, fazendo com que seus cabelos ruivos lhe caíssem por suas costas em uma ondas incrivelmente modeladas. Em seguida, ela retirou os sapatos, e se deitou no sofá dizendo para Gilbert que observava cada movimento seu fascinado.
- Não quer me fazer companhia, Dr. Blythe? -
- Anne, você tem certeza de que quer fazer isso aqui, amor? Não quer esperar quando chegarmos em casa? - ele perguntou se aproximando devagar, perguntando a si mesmo se deveria resistir ou se entregar de vez à sensualidade ruiva deitada no sofá do seu consultório.
- Por que não se aproxima um pouco mais e descobre por si mesmo o quanto o meu corpo te deseja? Ou será que não me quer tanto assim? - o olhar dela era puro fogo assim como o dele que não parava de admirar toda aquela beleza exuberante e crua que ela exibia sem inibição. Então, sua escolha foi se entregar de vez, porque irremediavelmente ela o tinha completamente nas mãos, e podia brincar com suas emoções como quisesse que ele a seguiria até o fim do mundo.
Ele se ajoelhou ao lado dela no sofá, enquanto sua mão se fechou em volta do tornozelo dela, subindo pela coxa até alcançar o elástico da calcinha que cedeu entre seus dedos assim que ele a puxou para baixo, retirando-a por fim do corpo de Anne e atirando-a ao lado do sofá onde ficaria esquecida boa parte da noite. Suas mãos tornaram a subir, acariciando os quadris de Anne que se moveram um pouco excitados com os dedos de Gilbert que não paravam de tocá-la. Ele tirou-lhe o sutiã, libertando os seios macios e rosados dela do tecido que marcava sua pele, mas, não os tocou imediatamente, apenas os admirou enquanto ele umedecia os próprios lábios com a ponta da língua, fazendo Anne gemer em antecipação ao ver o seu homem claramente excitado por ela.
Ela o queria desesperadamente e o queria naquele momento, pois sentia seus hormônios femininos se agitarem em suas veias, e seu corpo falar uma linguagem de desejo e paixão que a fazia com que ela implorasse com os olhos, que Gilbert parasse de torturá-la e se juntasse a ela naquela sofá que parecia a alcova mais confortável e gostosa do mundo. Compreendendo o olhar de luxúria que Anne lhe lançava deixando o rosto dela cada vez mais corado, ele arrancou as próprias roupas sem tanta pressa, percebendo Anne devorar cada parte de seu corpo masculino com os olhos, enquanto se mexia inquieta no sofá respirando cada vez mais rápido. Mesmo no estado de excitação em que ambos estavam, Gilbert não pôde deixar de notar que havia uma luz diferente em Anne naquela noite, atraindo-o ainda mais para ela. Assim, sem deixá-la esperando mais , ele deitou seu corpo sobre o dela, sentindo Anne enrolar suas pernas em sua cintura, enquanto ela enterrava os dedos nos músculos de suas costas. Suas bocas se colaram como se um imã a puxassem uma para o outra, sua línguas se enroscaram, brigaram por espaço, se acariciaram, sugando tudo o que podiam um do outro. Em seguida, Gilbert abandonou os lábios dela para concentrar sua atenção em cada curva que se ondulava ao seu toque, fazendo Anne puxá-lo cada vez mais de encontro ao seu corpo que queimava sob o seu como se consumido por uma febre alta e primitiva. O desejo dele cresceu de a maneira gigantesca, e ele se deixou ser envolvido por aquela sensação que aumentava cada vez mais, transformando seu sangue em brasa viva.
Anne suspirava e o tocava de maneira quase selvagem. Suas unhas o arranhavam, sua boca sugava a pele de Gilbert como se quisesse marcá-la para sempre, e ela se movia de forma cada vez mais enlouquecedora deixando Gilbert a sua completa mercê, e então, ele a possuiu assim como foi possuído por ela, pele contra pele, fogo sobre fogo, fora de controle, sem realmente se importarem se estavam em um ritmo rápido demais, suas emoções se chocando uma a uma contra sua própria necessidade de alcançarem um prazer inimaginável. Então, seus corpos estremeceram ao mesmo tempo, e uma onda avassaladora os pegou com sua força os carregou até que a maré suave os fez descansar um nos braços do outro, totalmente envolvidos pelo amor que se derramava sobre eles naquele momento em camadas generosas.
Mais tarde, eles tomaram o vinho prometido por Gilbert, para comemorarem o sucesso da inauguração. Depois, foram para casa, tomaram um banho relaxante de banheira, e quando saíram de lá, Anne estava tão sonolenta que Gilbert teve que levá-la para cama no colo.
O dia seguinte amanheceu nublado, mas, não desagradavelmente frio. O inverno só estaria no auge no próximo mês, e por isso ainda era possível fazer caminhadas matinais sem sentir desconforto ou o ar gelado comum da estação. Gilbert abriu os olhos, e percebeu que estava sozinho na cama. Ele consultou o relógio constatando que eram oito horas da manhã. Assim, ele se levantou, vestindo uma calça de moletom e foi até a cozinha esperando encontrar Anne, mas ela não estava lá. Foi então que ele olhou para a porta da geladeira e viu que havia um bilhete escrito com a caligrafia caprichada dela que dizia:
Fui fazer as últimas compras para nossa viagem com O Cole. Estarei de volta para o almoço. Te amo, Anne.
Ele sorriu ao ver que além de assinar o bilhete, ela deixara um beijo marcado com batom. Ela costumava fazer isso com frequência. Deixava palavras de carinho escritas no espelho do banheiro com seu batom vermelho de marca cara, mandava-lhe mensagens com emojis de coração, gravava áudios dizendo eu te amo, e ele adorava tudo isso como o bobo apaixonado que era.
Sentindo-se faminto, ele tomou o café da manhã que ela deixara pronto para ele, e depois resolveu correr um pouco por cerca de uma hora. Quando retornou ao apartamento, seu celular começou a tocar insistentemente. Gilbert olhou para o nome do dono da chamada e viu surpreso que era Cole. Se servindo de um copo de água gelada, ele disse:
- Alô.
- Gilbert, aqui é o Cole. A Anne está com você?
- Não, ela me deixou um bilhete me dizendo que iria fazer compras com você e voltaria para o almoço. - ele respondeu com o cenho franzido.
- Que horas foi isso? - Cole perguntou com a voz grave.
- Eu não sei exatamente, pois quando eu acordei às oito horas, ela já não estava no apartamento. - Gilbert sentiu um aperto em seu peito nada comum.
- Ela combinou de encontrar comigo as oito e meia em frente do shopping, mas não apareceu até agora. - Gilbert olhou para o relógio e viu que ele marcava nove e dez, e com o coração aos pulos, sentindo sua testa começar suar de preocupação ele perguntou:
- Cole, o que está tentando me dizer?
- Gilbert, eu quero que você fique calmo e ouça o que eu vou lhe dizer. – Cole fez um certo suspense e depois falou de uma só vez. - Eu acho que a Anne foi sequestrada. - então, Gilbert se sentiu tragado pelo seu desespero.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro