Capítulo 56- Um só coração
Olá pessoal, eu mudei a capa da história, Espero que tenham gostado, pois essa capa foi feita por uma leitora que é conhecida aqui na Wattpad por Aninha Cereja, e que adoravelmente a enviou para mim. Eu realmente agradeço de coração.
Estou postando mais um enorme capítulo para vocês. me desculpem por isso, mas eu me empolgo e esqueço de dosar meus pensamentos. Este capítulo continua romântico, e por enquanto o suspense foi colocado de lado, pois eu precisava deixar o capítulo mais leve para escrevê-lo como imaginei. Espero que gostem e comentem, pois seus comentários e que me dão ideia de como a história está seguindo seu curso. Mais uma vez, obrigada por tudo. Beijos. e os erros ortográficos vou corrigindo conforme tenho tempo.
ANNE
Um riso maroto e mãozinhas infantis em seus cabelos fizeram Anne acordar sorrindo. Ela encarou o rostinho moreno da filha de Sebastian que enroscava seus dedinhos nos fios ruivos de Anne, fazendo-lhe várias trancinhas, e ela ria como se estivesse se divertindo com sua obra de arte. Anne observou melhor a garotinha linda de olhos negros e cabelos cacheados que lhe dava um ar angelical, e viu o quanto ela havia crescido desde a última vez que a vira no jantar ali na fazenda de Gilbert, antes de ele viajar para a Alemanha. Se Anne não estivesse enganada, ela devia ter uns sete anos, e pelo seu olhar inteligente, a ruivinha imaginava que ela deveria ser bastante esperta e ativa, e com certeza deveria deixar a mãe maluca diariamente com sua presença pela casa.
Anne não resistiu e tocou as bochechas macias, enquanto a garotinha ria ainda mais, e disse com sua voz doce e seus olhos brilhando;
- Oi, tia Anne.
- Olá, Delfina - Anne respondeu sorrindo.
- Você veio morar aqui com o tio Gilbert? - a menina perguntou com tanta inocência que Anne se sentou na cama, brincando com seus cachinhos.
- Infelizmente não, querida. Vim apenas fazer uma visita.
- Mamãe disse que você é modelo. Gostou do meu penteado? - ela disse apontando para as trancinhas no cabelo de Anne.
- Eu adorei, meu amor. Você é muito talentosa. - Anne continuou a olhá-la encantada quando Mary entrou afobada.
- Delfina! Eu não disse para você não perturbar a tia Anne! – depois olhou para a ruivinha e disse:- Desculpe me, Anne. Essa menina é terrível. Um descuido, e ela some das minhas vistas.
- Não se preocupe, Mary. Ela é um doce. – Anne respondeu ainda olhando com ternura para a garotinha que tinha ficado quieta devido à presença da mãe ali no quarto.
- Olha, mamãe, o que eu fiz no cabelo da tia Anne. – Delfina pegou uma trancinha em suas mãos pequenas e mostrou para a mãe.
- Delfina, você não deveria ter feito isso. Tia Anne poderia se zangar. – Mary disse olhando severamente para a garotinha que baixou o olhar tristonha por estar sendo repreendida pela mãe. Anne ficou com pena da menina, e a abraçou dizendo:
- A tia Anne não ficou chateada com você. Quando eu for arrumar o meu cabelo de novo, eu prometo que te chamo para me ajudar, está bem?
- Está bem. – ela respondeu com os olhinhos brilhando como se tivesse ganhado um lindo presente.
- Muito bem, Delfina. Vá para a cozinha e me espere lá, pois quero conversar com você. - Mary disse com a voz mais suave dessa vez. A menina assentiu, deu um último olhar para Anne com um sorriso tímido no rosto, e saiu pela porta do quarto, indo em direção à cozinha.
- Anne, me desculpe mais uma vez. Apesar de ser imperativa, Delfina geralmente quase nunca me desobedece. Não sei o que se passou naquela cabecinha para vir incomodar você no seu quarto. - Mary estava visivelmente sem jeito com a peraltice da filha, e Anne tratou logo de dizer:
- Ela não me incomodou nem um pouco. Eu adoro crianças, e sua filha é uma garotinha maravilhosa. Fique tranquila, está tudo bem. - Um ar de alívio passou pelo rosto de Mary ao ver que Delfina não tinha causado nenhum constrangimento com a namorada do patrão. Ela precisava orientar melhor sua filha para não tornar a fazer algo assim. Gilbert era ótimo, sempre os tratara com respeito e consideração. Não queria que ele pensasse que Delfina não fora bem educada, e estivesse tomando liberdades demais dentro de sua fazenda.
- Se você quiser tomar café, eu preparei bolo de milho. É o favorito de Gilbert, mas não sei se você costuma comer esse tipo de coisa pela manhã- Mary disse sorrindo enquanto observava a silhueta perfeita de Anne em uma camisola longa cor de pêssego. Ela se sentira obrigada a dormir vestida dessa vez, pois não queria ser pega dormindo nua na cama de Gilbert por um funcionário da fazenda. Em Nova Iorque, isso não seria um grande problema, mas em Avonlea as coisas eram bem diferentes. Não que ela pensasse que Mary iria sair comentando por aí a vida sexual de Gilbert, pois pelo pouco que conhecia dela, ela sempre lhe parecera bem discreta. Porém, Anne vivera um bom tempo naquele vilarejo e por mais que Nova Iorque a tivesse mudado de certa maneira por dentro, outras características em seu íntimo ainda continuavam as mesmas
Havia ainda dentro dela um certo recato, que vinha das lições de boas maneiras que recebera de Marilla quando ela ainda era bem jovem, e que vinha à tona sempre que pisava naquelas terras. De certa forma, a essência de sua adolescência ainda permanecia em suas veias, mesmo que Nova Iorque tivesse lhe dado a liberdade de viver como quisesse, sem ter que dar satisfações para ninguém, quando punha seus pés em sua terra natal, ela se tornava novamente a Anne de Green Gables, e isso a grande metrópole onde vivia agora, não conseguira arrancar dela.
- Eu vou adorar provar seu bolo de milho, Mary. Vou tomar um banho e desço em seguida. - ela disse, e Mary apenas sorriu antes de caminhar em direção à porta do quarto, deixando Anne sozinha.
A ruivinha se espreguiçou lentamente, mas não se levantou logo em seguida. Ela preferiu ficar um momento ainda na cama, enquanto seus olhos passeavam pelo quarto de Gilbert fazendo-a reconhecer alguns objetos que sempre estiveram ali desde que ela e Gilbert eram crianças. Algumas coisas tinham mudado com os anos, absorvendo totalmente a personalidade do namorado. O ambiente adolescente do qual ela se lembrava, dera espaço para outro tão másculo e envolvente quanto o seu dono, e ela podia facilmente identificar a presença de Gilbert em cada canto daquele lugar, onde em sua infância ambos jogavam vídeo game ou assistiam televisão. E mesmo em sua adolescência, quando os sentimentos começaram a mudar em seus corações, eles continuaram a fazer dali seu lugar favorito para passarem todo o tempo que podiam juntos. Quantos beijos tinham trocados sentados no carpete fingindo estudar? E quanta inocência havia na maneira como Gilbert costumava abraçá-la enquanto assistiam a um filme, e Anne deitava sua cabeça no ombro dele e ficavam assim por horas?
Ela sorriu ao pensar que naquele tempo nunca passara por sua cabeça que estariam ali novamente um dia, vivendo um amor tão romântico quanto nos romances que ela costumava ler, porém, mais poderoso, mais ardente, e cheio de noites de entrega, desejo e paixão. Anne adorava aqueles momentos com Gilbert, assim como amava o toque dele em sua pele, a maneira de beijá-la como se ela fosse o seu bem mais precioso do mundo, e o jeito que ele tinha de envolvê-la toda em seus braços como se quisesse tomá-la toda para si. Anne sempre temera um relacionamento intensos demais, a dependência quase doentia que podia tomar conta das pessoas, e como elas acabavam se esquecendo de si mesmas para viver apenas a vida do outro. Ela cansara de ver amigas suas se tornarem apenas um joguete nas mão de homens, que se aproveitavam de seu amor sem limites para torná-las escravas de suas vontades como se fossem os donos de suas vidas. Mas, com Gilbert, ela vivia um amor livre, não se sentia presa a nada, e quanto mais apaixonada ela ficava, mais disposta se sentia a experimentar tudo o que aquele tipo de amor pudesse lhe oferecer. Gilbert a fazia se sentir feliz, amada, e capaz de dar a ele toda a paixão que havia em si mesma, indo além do que era limitado ou proibido, e estar com ele da maneira mais intima entre um homem e uma mulher era lhe dar a chance de conhecê-lo um pouco mais, e perceber os sentimentos dele por ela cada vez mais transparentes e tão claros em seus olhos, que cada vez que o tocava e o via estremecer com suas carícias sussurrando o nome dela, o amor dele brilhava como o cristal mais caro e raro do mundo, e Anne sentia nesses momentos que faria qualquer coisa para conservar aquela emoção para sempre.
O que havia entre eles transcendia o desejo, o que era físico, o que era mundano. Havia tantas coisas juntas, que sozinha Anne jamais conseguiria classificá-las, ela se perdia em cada uma delas, porque eram importantes demais para serem avaliadas como meramente comum. Nada fora comum com Gilbert desde o começo. Sempre houvera a excitação do que era novo com o conforto do que era já tão conhecido, as delícias das descobertas do que nunca fora experimentado, com as velhas recordações do que já tinha sido partilhado, e Anne acabara descobrindo depois de tantas noites aprendendo amar Gilbert de forma tão plena, que sempre haveria aquela ansiedade de desejar e experimentar um pouco mais um do outro.
Ela, por fim se levantou, foi até o banheiro e olhou deliciada para a enorme banheira que ocupava quase todo o espaço ali. Ela adoraria passar horas e horas deitada relaxando dentro daquela maravilha, mas depois pensou melhor, e achou que deveria deixar aquilo para mais tarde, porque havia muitas coisas que gostaria de fazer naquele dia, por isso, seu banho relaxante de banheira teria que esperar. Em seguida, ela retirou a camisola, entrou debaixo do chuveiro, e se lembrou do quanto Gilbert reclamara na noite anterior por ela dormir toda coberta daquela maneira. Ele se acostumara a tê-la ao seu lado sem nada que cobrisse sua pele, e se recusara a entender as razões que Anne lhe dera para dormir assim, e só se conformando com isso quando Anne ameaçara passar a noite em outro quarto, se ele não parasse de tentar despi-la a noite toda. Ela também detestara aquela novidade, pois fora como ter uma barreira entre ela e Gilbert que a afastava daquela intimidade que tinham de compartilhar o calor do corpo um do outro. Mas, julgando pelo que acontecera aquela manhã, quando ela despertara com Delfina ao seu lado, aquela fora uma decisão acertada, porque Anne não saberia o que dizer para a menina e nem para a mãe dela se ambas a pegassem dormindo como viera ao mundo. Ela não duvidava que Mary entenderia perfeitamente toda a situação. Ambas eram mulheres adultas e sabiam exatamente o que acontecia entre um casal por trás de quatro paredes, porém, Delfina ainda era muito pequena para compreender algo de tamanha importância, por isso, Anne teria que lembrar a Gilbert que deveriam manter a porta trancada do quarto enquanto estivessem por ali, pois com uma criança curiosa e inteligente como Delfina, situações embaraçosas como aquela poderiam acontecer com mais frequência do que se podia desejar.
A ruivinha saiu do chuveiro enxugando os longos cabelos em uma toalha de algodão. Depois, se vestiu com uma calça jeans e uma blusa verde oliva de um ombro só que deixava sua barriga esbelta de fora, e colocou sapatilhas de couro confortável saindo do quarto e seguindo em direção à cozinha. Ela encontrou Mary preparando os ingredientes que utilizaria mais tarde para o almoço, e sorriu assim que viu Anne se sentar na mesa da cozinha, se servir de café e um pedaço do bolo que ela preparara para Gilbert.
- Pensei que modelos como você não comessem esse tipo de guloseimas- ela comentou satisfeita em ver Anne tão à vontade em sua companhia. Ela gostara de Anne quando Gilbert a trouxera ali para jantar pela primeira vez, mas, como não tiveram tempo para realmente se conhecerem, Mary ficara com a impressão de que a menina era sofisticada demais para aquele ambiente rural tão simples,
- A maioria não come mesmo, somos obrigadas a manter as medidas, mas, eu nunca tive problema com ganho de peso, e posso comer o que quiser. Embora nunca me alimente como deveria de manhã, e sempre deixo Gilbert zangado com isso. - Anne revelou enquanto comia o bolo devagar e tomava um gole de café para acompanhar.
- Isso é compreensível. Além de ser médico e zelar pelo bem estar de seu pacientes, Gilbert sempre teve essa fixação por alimentação saudável. - Mary disse, se sentando à mesa para fazer companhia à Anne.
- Sim. Eu me lembro que quando nós éramos crianças, Gilbert era bem seletivo com o que comia, e acabava me deixando frustrada quando não me deixava comer todas as besteiras que eu queria. - Anne disse fazendo um biquinho de aborrecimento, mas no fundo se divertindo com aquelas lembranças. Desde que pisara ali no dia anterior, já se recordara de um milhão delas, e era tão bom conseguir pensar no passado sem se sentir magoada como antes.
- Mas, acho que valeu a pena, e se me permite dizer, Gilbert se tornou um belo homem. - enquanto Mary falava, Anne pensava na beleza de Gilbert e suspirava. Era assim toda vez que a imagem dele surgia em sua cabeça, e ela disse se esquecendo completamente de que não estava sozinha:
- Santo Deus! Aquele homem é a perfeição em pessoa, eu chego a perder o fôlego toda vez que o vejo. - então, ela olhou para o lado e encontrou o olhar divertido de Mary sobre ela, deixando-a terrivelmente envergonhada pelo que dissera em voz alta. O que Mary pensaria dela ao vê-la falar de Gilbert tão despudoradamente àquela hora da manhã?
- Desculpe-me, Mary. Ache que me empolguei.
- Não precisa se desculpar, querida. Eu entendo perfeitamente. Você é jovem e está apaixonada. É normal que se sinta assim.- Mary disse com simpatia.
- Ás vezes, o que eu sinto por Gilbert me assusta, nenhum namorado que tive antes dele me deixou tão fora de mim como me sinto agora. É tão forte e quase incontrolável, eu não me reconheço quando estou com ele. - Anne disse suspirando novamente.
- Você realmente o ama, não é? Posso ver isso em seus olhos.
- Acho que não consigo me lembrar de um dia em que eu não o tenha amado. É engraçado, pensar nisso, agora que estou aqui conversando com você sobre esse assunto.
- Vocês se conhecem a bastante tempo, pelo o que Gilbert me contou. - Mary falou se servindo de uma xícara de café.
- Posso dizer que nos conhecemos a vida inteira. Ele foi o primeiro garoto que falou comigo de verdade quando vim morar com Matthew e Marilla, e lembro exatamente no que pensei a primeira vez que me deparei com aqueles olhos cor de avelã. Eu senti como se tivesse enfim encontrado meu verdadeiro lar. – de repente, Anne ficou por um instante em silêncio, sua mente viajando para o passado e se encontrando novamente na escola de Avonlea, quando Gilbert e ela se encararam pela primeira vez, e fora como se ela pressentisse, mesmo com tão pouca idade, que ali à frente dela estava a pessoa mais importante de sua vida, e que estariam sempre juntos, na alegria e na tristeza e nem a distância, mal entendido ou palavras mais duras conseguiriam separar.
- Eu acho incrível a história de vocês. É lindo um amor florescer dessa maneira ainda na infância, e continuar crescendo pela vida afora. Esse é o tipo de sentimento que nunca morre, Anne.
- Sim, mas, isso, não quer dizer que não tivemos momentos ruins também. Ficamos separados por sete anos por causa de um mal entendido, e depois, quando Gilbert viajou par a Alemanha, acabamos nos afastando de novo. Só voltamos a nos entender a bem pouco tempo. - Anne confessou, estava surpresa por contar tantas coisas para uma pessoa como Mary que não conhecia a tanto tempo, mas, ela era tão espontânea e franca, que Anne sentiu como se estivesse conversando com uma velha amiga, e por isso, não se importou em continuar falando de seus sentimentos por Gilbert, já que ela quase não falava sobre isso com ninguém além de Cole e Diana.
- O verdadeiro amor nem sempre é calmaria, Anne. Às vezes, precisamos enfrentar muitos furações para conseguirmos manter nosso relacionamento intacto, pois é isso que nos fortalece e nos faz viver cada momento como deve ser.- Mary disse com sua sabedoria de quem já tinha vivido bem mais do que Anne, e uma vida nada fácil por sinal.
- Concordo com você. Relacionamentos não são fáceis. – elas ficaram em silêncio por alguns minutos, cada uma perdida em suas recordações e pensamentos. Então, Anne quebrou o silêncio entre elas e perguntou. – Por falar, em Gilbert. Você sabe me dizer onde ele se encontra? Desde que acordei não vi nem sinal dele.
- Ele saiu cedo com Sebastian à cavalo, pois queria dar uma volta pela fazenda e ver como está tudo por aqui. – enquanto Mary falava, Anne tentava imaginar Gilbert andando a cavalo pela fazenda. Devia ser uma visão e tanto vê-lo vestido no estilo cowboy, ela podia apostar que o namorado ficaria ainda mais irresistível de chapéu e botas de couro. Ela sentiu seu corpo reagir à aquele pensamento, e disse silenciosamente para si mesma, "Controle-se, Anne, já não teve o bastante dele ontem à noite? Não seja tão pervertida, garota. O dia mal começou e você já está babando por Gilbert sem mesmo tê-lo por perto.". Assim, ela respirou fundo e tentou se concentrar no que Mary estava dizendo, enquanto sua cabeça continuava a provocar suas emoções, e percebeu inquieta que por mais vezes que tivesse Gilbert todo seu, nunca seria o suficiente, e ela sempre desejaria ter um pouco mais dele de cada vez.
- E como ele estava? - Anne perguntou voltando do mundo da imaginação e sentindo sua preocupação por Gilbert aumentar.
- Ele estava triste, mas me pareceu bem. - Mary respondeu.
- Ele te contou sobre a Sarah?
- Sim. Pobre moça! Tão jovem e já passando por algo tão terrível. - Mary disse tomando seu café sem pressa. – Ela não vinha muito aqui quando namoravam, mas, era uma boa pessoa. Antes de você chegar, todos nós tínhamos a impressão de que iriam se casar, embora, eu sempre tivesse dito a Sebastian que não havia muito amor ali da parte de Gilbert. – Anne se lembrou das palavras de Sarah, e se entristeceu. Ela sentia mito por ela não ter conseguido viver seu amor com Gilbert do jeito que desejava. Porém, a ruivinha não se sentia culpada por estar com Gilbert agora, porque realmente pensava que se o namorado tivesse amado Sarah teria ficado com ela, independente de Anne ter voltado ou não.
- Eu também penso assim, mas, a vida é tão cheia de surpresas, não é? Umas boas outras nem tanto, e a única coisa que podemos fazer é continuar tentando a viver cada momento como se fosse o único. O amanhã é sempre incerto. - Anne falou, pensando em sua própria situação em Nova Iorque. Seu perseguidor ainda estava por lá em algum lugar. E ela não tinha ilusões de que tivesse desistido. As coisas andavam calmas por aqueles dias, mas, ela ainda continuava a se preocupar. Era uma benção que ali em Green Gables conseguisse relaxar totalmente, mesmo que o medo ainda rondasse seu coração. Ela balançou a cabeça pois não queria que nada interferisse na sua paz por ali.
Anne se levantou da mesa dando por encerrado seu café da manhã, e perguntou para Mary que também já se preparava para realizar seus afazeres pendentes daquela manhã.
- o Gilbert disse a que horas eles iam voltar?
- Sim, ele falou que estariam de volta na hora do almoço. - Mary respondeu amarrando um avental sobre o vestido lilás que usava.
- Acho que vou ficar lendo no quarto, então. Mais tarde pretendo fazer algumas visitas, e quero ver se ele deseja me acompanhar.
- Está bem. Se precisar de alguma coisa é só pedir. - Anne assentiu e voltou para o quarto, se sentou na cama e recomeçou a ler o livro que deixara sobre o criado mudo na noite anterior.
Ela ficou tão envolvida com a leitura, que levou um pequeno susto quando Gilbert surgiu em seu campo de visão. Seu coração não estava preparado para vê-lo em sua melhor versão de cowboy todo suado e sexy. O olhar dela o percorreu de cima a baixo, não deixando escapar nenhum detalhe da aparência dele, que vestia uma calça jeans apertada modelando cada músculo da coxa dele de maneira provocante, botas de couro preta e uma camisa também jeans aberta no peito, fazendo Anne engolir em seco e se ajeitar melhor na cama, se sentindo nervosa de repente. Ela nunca sabia como se comportar quando era provocada dessa maneira, e Gilbert deve ter percebido, pois se aproximou da cama com um sorriso torto no canto dos lábios, e um olhar malicioso que só aumentou o nervosismo de Anne;
- Mary me disse que estava aqui no quarto. Não quer sair um pouco para dar uma volta? - ele perguntou, se sentando na cama ao lado dela onde Anne podia sentir o calor excitante que emanava daquele corpo que ela adorava.
- Eu deixei para sair à tarde. Quero visitar Diana e Green Gables, Não gostaria de vir comigo? -- Gilbert não respondeu, assim, ela arriscou olhar para ele, e aquilo claramente não fora uma boa ideia. Gilbert estava cada vez mais perto, e seus instintos já estavam se preparando para o que viria a seguir. Ela se sentou na cama com as pernas cruzadas enquanto apertava as mãos uma contra a outra, tentando resistir à tentação do que era ter aquele homem lindo ali a seu lado. Ele estendeu a mão e ajeitou uma mecha de cabelo dela que estava caída sobre seu ombro, e Anne o viu sorrir quando ela estremeceu. Ele sabia exatamente como ela se sentia, e não poupava esforços para provocá-la ainda mais. Assim, uma de suas mãos acariciou o ombro dela nu, e a outro pegou em seu queixo, e a puxou para ele. Anne se sentiu como se mergulhasse naqueles olhos espetaculares, antes que Gilbert devorasse os lábios dela com paixão. Ela desistiu de pensar na cautela de não estarem na fazenda de Gilbert sozinhos, e apenas disse quando o sentiu puxá-la para ele, deitando-a sobre os travesseiros macios e cobrindo seu corpo com o dele.
- Gilbert, está quase na hora do almoço.
- Isso pode esperar, minha fome por você não. - assim, nada mais foi dito e Anne se perdeu nas sensações indescritíveis que os lábios de Gilbert sobre os dela lhe causavam, e se esqueceu de tudo para apenas se concentrar naquele momento e no homem que a tinha completamente em suas mãos.
GILBERT
Gilbert estava sentado na cama, e tinha a cabeça de Anne em seu colo. Ela mantinha os olhos fechados, mas, ele sabia que ela não dormia. Assim como ele, Anne estava apenas curtindo o momento a dois que desfrutavam naquele instante. As mãos dele deslizavam pelos cabelos dela em uma carícia suave, enquanto Gilbert não conseguia tirar os olhos daquele rosto incrível.
Como alguém 'podia ser lindo assim todo o tempo? Ele já a vira em inúmeras situações, e Anne nunca deixara de ter aquela beleza que estonteante que hipnotizava qualquer um, inclusive as câmeras para as quais pousava. Gilbert amava aquele cabelo dela tão vibrante quando era tocado pela luz do sol, e em dias de chuva, ele não perdia o brilho, e lhe dava a sensação de estar no meio de chamas vivas e estar sendo consumido por elas. E pensar que quando criança Anne odiava a cor dos cabelos, preferia-os lisos e negros como os de Diana, ou totalmente loiros como os de Ruby. Ela reclamava das sardas, e sonhava com uma pele imaculadamente lisa, não gostava do corpo porque quase não tinha curvas, e não importavam quantas vezes Gilbert dissesse que ela era linda do jeito que era, porque ela sempre tomava aquilo como uma ofensa. Dizia que que ninguém ia querer namorar com uma garota magricela como ela, e que ele não precisava mentir somente para deixa-la feliz.
Trabalhar no mundo da moda parecia ter feito bem à ela, principalmente em questão de auto estima. Anne parecia não ter mais nenhum complexo acerca da própria aparência, exibia suas curvas em roupas que a valorizavam completamente, e parecia se sentir à vontade em qualquer ambiente. Quando não estava trabalhando, ela deixava o rosto quase sem maquiagem, permitindo que o mundo se encantasse com seus milhões de sardas que antes foram a causa de seu infortúnio, mas, que no tempo presente tornavam cada linha de seu rosto mais interessante ainda. A sua graça ao andar, adquirida em anos de passarela lhe emprestara uma boa dose de autoconfiança, pois quando ela caminhava pelas ruas de nova Iorque, ou mesmo ali nas estradas de terra batida de Avonlea, ela o fazia de um junto que era impossível não olhar. Não havia arrogância nenhuma na maneira como ela erguia a cabeça, e mantinha seu olhar preso na linha do horizonte, e deixava que sua figura elegante fosse admirada por sua plateia particular. Era como se mostrasse ao mundo a sua beleza interior que ao se juntar com a sua exterior formavam uma combinação de perder o fôlego.
Ele tocou a bochecha dela com o polegar, e as pálpebras de Anne tremeram um pouco, mas ela não abriu os olhos, assim, Gilbert continuou a admirar-lhe a figura esbelta e as pernas longas que se mantinham em uma posição confortavelmente dobradas para trás, e o pensamento dele o levou para o dia anterior, depois que falara com Sarah e ele se sentia emocionalmente esgotado, e o coração terrivelmente arrasado. Gilbert nunca se sentira tão impotente na vida, nem mesmo quando seu pai se fora, ele tivera aquela sensação de tinha falhado totalmente com alguém que confiara cegamente nele. Na época da morte de seu pai, ele não tinha um terço dos conhecimentos que tinha agora, e embora tivesse lhe doído imensamente ver seu pai enfraquecer a cada dia um pouco mais, ele tivera consciência de que estava de mãos atadas, pois não tinha como lutar contra algo ainda desconhecido para ele. Porém, anos tinham se passado, e seus conhecimentos tinham se refinado, com estudos, experiências em laboratório e leitura de toneladas de artigo sobre o assunto, mas, nada lhe dera o que precisava para alcançar o sucesso que almejara naquele caso.
Então, ele simplesmente não pudera aguentar a pressão daquilo tudo, ainda mais porque Sarah aceitara tudo com tanta resignação, enquanto ele não podia aceitar que tinha perdido aquela batalha, e se não fosse por Anne, ele teria se sentido ainda pior. Ela lhe dera todo o apoio que ele precisava, e o deixara amá-la de uma maneira totalmente diferente do que estavam acostumados. Ele precisara dela para deixar de lado toda a sua frustração, e a fúria de seus beijos aliados à sua enorme urgência em tê-la transformara todo o ato em uma paixão violenta. Anne o acompanhou a cada passo, em nenhum momento recuou e moldou seu corpo ao de Gilbert como se assim conseguisse aplacar o desespero que havia dentro dele, e somente depois que tudo se acalmara foi que Gilbert tivera consciência de tudo o que fizeram juntos, e mais tarde quando observara o corpo dela nu, ele sentira remorso por ver algumas marcas vermelhas na pele alva dela, e se recriminou mentalmente, prometendo ser mais cuidadoso da próxima vez. Anne era uma companheira e tanto, perfeita em todos os sentidos. Ela estava lhe dando um suporte tremendo naquele caso da Sarah, e Gilbert não podia pensar em ninguém melhor para dividir seus sentimentos e sua tristeza frente a um fato sobre o qual não tinha mais controle algum.
Quando acordara aquela manhã, ele estava se sentindo melhor, e ao ver Anne dormindo tão tranquilamente, ele não quis acordá-la. Ainda era muito cedo, por isso, ele pensou que seria uma boa ideia andar pela fazenda para matar a saudade de suas terras. Não pisava ali a meses, e embora o trabalho de fazendeiro nunca fora algo que realmente o atraísse, Gilbert sempre fora apaixonado por aquele pedaço de terra herdado de seus ancestrais. Seu pai sempre gostara da vida calma e tranquila que tinham ali, e Gilbert não fugia a regra, e mesmo agora que morava em uma das cidades mais empolgantes do mundo, ele não conseguia esquecer suas raízes e nem deixar para trás a vida que um dia tivera ali.
Ao chegara à cozinha ele encontrara Mary que lhe sorriu assim que o viu entrar, e foi logo dizendo:
- Acabei de tirar seu bolo favorito do forno. Quer que eu te sirva agora?
- Claro, estou louco para comer comida de verdade. Em Nova Iorque a maioria das coisas são industrializadas, porque as pessoas mal têm tempo para comerem uma comida decente. - Gilbert disse enquanto se sentava à mesa e era servido por Mary.
- A Anne não vai descer?
- Ela ainda está dormindo, e fiquei com pena de acordar. Deixe-a dormir o quanto quiser. Ela está precisando descansar. - ele disse saboreando o delicioso bolo de milho que Mary preparara especialmente para ele.
- Vocês vão ficar para o fim de semana? - Mary perguntou curiosa.
- Sim, Anne quer visitar Green Gables, e eu quero aproveitar esse fim de semana de folga para relaxar. - Gilbert disse se servindo de um segundo pedaço de bolo.
- E como o vai o caso de Sarah? Você veio até aqui para vê-la, não é? - Gilbert parou de comer por um momento. Não estava certo se queria falar daquilo naquele momento, mas, de repente pensou por que não deveria falar? Mary era uma velha amiga, assim, como Sebastian, e depois de anos cuidando de sua fazenda, Gilbert os considerava membros da família, por isso, deixou sua reserva de lado, e contou a Mary tudo o que estava se passando em seu coração. A boa mulher ouviu em silêncio, sem interrompê-lo nenhuma vez, e assim que ele terminou de colocar para fora toda a sua angústia, Mary apertou o braço dele com carinho.
- Você fez que podia Gilbert. Agora tem que deixar nas mãos de Deus.
- Todo mundo me diz isso, mas, eu não consigo pensar assim. Sarah não merecia passar por isso. Assim como meu pai também não. De repente, me dei conta que ser médico não me torna melhor do que pensei. Apenas me faz sentir o quanto impotente e frágil sou frente à morte de pessoas que mereciam ser salvas. Eu sei que como médico, eu deveria aceitar as coisas como são, mas, o homem que existe por trás do meu jaleco branco não se conforma em ficar parado, observando que ela morra um pouquinho a cada dia. Sarah é minha amiga, e eu tinha que saber como livrá-la desse sofrimento, mas não consigo, por mais que eu tente, não encontro nenhuma porta que me leve a uma solução plausível. – ele baixou sua xícara de café, e desistiu de continuar comendo. Ele tinha que aprender a lidar com aquilo, contudo, no momento não tinha forças.
-Não sofra assim, e não se culpe. Você não é Deus. Gilbert. Somente Ele pode saber qual é a melhor forma de conduzir as coisas. Ele sempre tem um propósito, nada acontece por acaso. - Gilbert olhou para Mary admirado. Ele gostaria de pensar como ela, mas, no momento tudo o que sentia era um vazio sem tamanho.
- E como você e Anne estão? - Mary mudou a conversa para um assunto mais agradável, pressentindo que Gilbert não se sentia bem discutindo aquele assunto.
- Acho que nunca estivemos tão bem como agora. - ele disse sorrindo. Falar de Anne o deixava em um excelente humor, e logo afastou os sentimentos desagradáveis que estavam apertando seu peito por conta da conversa sobre Sarah.
- Fico tão feliz por vocês estarem namorando. Achei que isso demoraria a acontecer, pois se bem me lembro, você disse que ela ficou bastante chateada com sua viagem para a Alemanha. - Mary disse, começando a tirar a mesa do café.
- Sim, não foi nada fácil convencê-la. Ficamos bastante tempo estremecidos, e voltamos a namorar a mais ou menos um mês.
- E como estão seus sentimentos em relação a ela agora? Eu me lembro que a quase um ano atrás você estava bem apaixonado. - Gilbert pensou um instante antes de responder, pois o que sentia a um ano não se comparava com o que estava sentindo agora. Tudo era muito mais intenso, e ele pensava e sentia coisas quando estava com Anne que eram diferentes no passado. Ele sempre a amara, esse era um fato inegável, porém, suas emoções jamais estiveram tão fora de controle como agora. Gilbert bem que tentava pensar com coerência, ou agir de forma ponderada quando estava com ela, e tudo o que conseguia era se ver louco pelos momentos em que passariam juntos em seu apartamento ou no dela. Era como se uma febre tomasse conta de seu corpo, e seus pensamentos fossem todos capturados pelos olhos azuis dela, e ficar longe daquele sorriso era quase impossível. Ela vivia em seus pensamentos, fazia morada em seu coração e estava por toda parte ao seu redor.
- Eu a amo, Mary, eu não posso mentir. Ela é a única mulher que eu quero e sempre quis. Nunca houve ninguém antes dela, e nunca haverá mais ninguém depois, porque quero passar minha vida toda amando-a exatamente assim.
- Então, por que não se casam? O que ainda estão esperando? - Mary perguntou, olhando-o com seriedade.
-. Combinamos de esperar mais um pouco. Anne tem a carreira dela e eu a minha, e estamos aos poucos construindo uma vida para nós dois.
- Mas, qual é o problema de se casarem e continuarem com suas carreiras? Você pode ser médico o tempo que quiser, e que eu saiba, Anne não tem que desistir de ser modelo para se casar. A não ser que tenham outros planos além desses, acho que casamento seria a coisa mais certa para os dois agora. O tempo passa. Gilbert e não tem piedade de ninguém, por que perder a oportunidade de ser feliz hoje, se você não sabe o que te espera no futuro?
As palavras de Mary ficaram ressoando em seus ouvidos a manhã toda, enquanto ele cavalgava com Sebastian por suas terras. Tudo o que ela dissera tinha um fundo de verdade, ainda assim, Gilbert queria esperar mais um pouco. Ambos eram jovens, e tinham sonhos a realizar, mas isso não queria dizer que não pudessem tornar aquele compromisso mais sério, Quanto ao casamento, eles não precisavam ter tanta pressa, afinal, já vivam uma vida juntos, e dar a Anne a vida que ela merecia era algo da qual ele não abriria mão. Queria que ela tivesse seu sobrenome, queria que ela fosse sua esposa, mas para isso, ele pretendia abrir seu próprio consultório, e ter horários mais flexíveis de trabalho. Não desejava que Anne passasse fins de semana ou feriados importantes sozinha por conta de sua jornada rígida no hospital. Embora ela dissesse que entendia o quanto a medicina exigia dele, quanto tempo ela aguentaria uma vida assim sem reclamar? Não queria perdê-la de novo por causa de sua falta de tempo, e ele corria o risco de isso acontecer, caso não estruturasse bem a sua vida, nunca mais deixaria que nada o afastasse dela.
Ele e Sebastian tiveram longas conversas sobre a fazenda, e tudo parecia estar correndo bem por ali. Bash era um ótimo administrador, e Gilbert estava impressionado com todo o progresso que ele conseguira realizar, e não se arrependia nem um só dia de tê-lo contratado anos atrás quando fora para a faculdade de Medicina, e Gilbert não poderia ter encontrado pessoa melhor para tomar conta daquele lugar que tinha tanto significado em sua vida.
Quando estavam retornando para a casa da fazenda, Sebastian perguntou:
- Você e Anne jantariam conosco esse fim de semana? Mary deixou um bilhete fazendo o convite, mas eu resolvi reforçar.
- Claro que sim, Bash. Será um prazer. Poderia ser no domingo?
- Seria perfeito. Mary vai ficar feliz e Delfina também. Você acredita que ela disse que quando crescer quer ser uma modelo famosa igual a tia Anne? – Gilbert riu da imitação que Sebastian fez da voz da filha e respondeu:
- Ela é bem precoce, não é?
- Demais para o meu gosto. De vez em quando ela me faz cada tipo de pergunta que me deixa soando frio. Hoje em dia é difícil conservar inocência das crianças por muito tempo. Há tanto bombardeio de informação por todos os lados que elas acabam amadurecendo antes do tempo.
- É verdade, e é realmente uma pena. São os sinais dos novos tempos.- Gilbert disse descendo do cavalo e o entregando aos cuidados de Sebastian.
- Sim, mas, eu e Mary já decidimos que vamos manter Delfina em rédea curta até que ela tenha idade para decidir por si mesma o que é bom ou ruim para sua vida.
- Espero que tenha sorte em sua empreitada. - Gilbert falou.
- - Eu também. Mas, fico imaginando que se aos sete anos ela já nos dá um baile, que dirá quando chegar aos dezoito. Vou ficar careca antes do tempo. - Sebastian disse com humor e Gilbert o acompanhou concordando.
Em seguida, caminhou para casa ansioso, morrendo de saudades de sua garota ruiva. Precisava estar com ela o quanto antes. Ele entrou pela porta da sala, indo até a cozinha e perguntando para Mary:
- Oi, Mary. Chegamos. Onde está a Anne?
- Oi, Gilbert. A Anne está no quarto lendo. O almoço fica pronto em duas horas.
- Obrigado, Mary.
- Ele subiu as escadas que levava ao seu quarto, e quando abriu a porta Anne o olhou assustada. Ele sorriu ao ver o jeito que ela o olhou, identificando facilmente dentro daqueles olhos que falavam abertamente o quanto presença dele a estava afetando naquele momento, e aquilo o excitou de maneira inesperada. Ele se aproximou, enchendo seus olhos com a bela visão de seu anjo ruivo sentado na cama em companhia de um livro. O perfume dela estava no ar e ele o inalou profundamente, sentindo os efeitos que o odor dela tinha sobre o seu sistema nervoso, e então ele disse:
- Mary me disse que estava aqui no quarto. Não quer sair um pouco para dar uma volta? - ela parecia inquieta, e Gilbert tentou ler em seu rosto o que ela estava pensando, e apenas conseguiu ver refletido o mesmo desejo que ele sentia no rosto dela.
- Eu deixei para sair à tarde. Quero visitar Diana e Green Gables, Não gostaria de vir comigo? - ele não prestou atenção em uma palavra do que ela dissera, pois estava ocupado demais tocando os cabelos dela, os ombros suaves, puxando-a para mais perto dele sem tirar os olhos daquela boca rosada, antecipando o prazer que sentiria ao prová-la dali a um segundo. Logo, ela estava deitada embaixo dele, e Anne ainda tentou chamá-lo à razão dizendo:
- Gilbert, está quase na hora do almoço. - ele ignorou esse fato totalmente e respondeu;
- Isso pode esperar, minha fome de você não. - e ele se apossou dos lábios dela como eles lhe pertencessem, e a sensação era inebriante como todas as vezes em que a beijara. Eles não chegaram muito longe além dos beijos ardentes trocados, e as carícias que deixaram a ambos desejando algo mais, Porém, Anne não estava se sentindo muito à vontade em deixar que tudo acontecesse entre eles naquele momento, pois Mary estava no andar debaixo preparando o almoço, e Delfina solta pela casa não lhe dava muito segurança de que deviam prosseguir do ponto onde estavam. Gilbert teve que se contentar como os amassos molhados que deram, fazendo-a prometer que isso seria compensado mais tarde.
Anne abriu os olhos e encarou os olhos castanhos que estavam perdidos em seu rosto, e disse:
- Você não respondeu à pergunta que te fiz mais cedo. - Gilbert puxou pela memória e não conseguiu se lembrar o que Anne tinha dito antes de ele começar a beijá-la, pois seu interesse naquele momento era outro.
- Perdoe-me, amor. Eu acho que não prestei atenção no que você disse. A sua beleza me distraiu totalmente. - Anne riu da expressão marota do rosto de Gilbert e então repetiu a pergunta:
- Você não gostaria de ir até a casa de Diana e depois Green Gables comigo essa tarde?
- Não posso, Combinei com meu amigo Daniel de encontrá-lo hoje à tarde. Não sabia que você tinha planos para visitar Matthew e Marilla. Pensei que iria até Green Gables amanhã. Você vai ficar chateada se eu não for? - Gilbert disse brincando com as mechas do cabelo de Anne.
- É claro que não. Mas, Matthew e Marilla vão ficar chateados por não verem você. – Anne comentou.
- Diga a eles que iremos amanhã até lá novamente. E depois podemos ir ao cinema se você quiser. - Gilbert sugeriu.
- Acho uma boa ideia, faz tempo que não saímos para relaxar. - Anne disse se levantando e ficando de frente para Gilbert.
- Combinado. Creio que agora devemos descer para almoçar. Já ficamos demais nesse quarto.
- Concordo. Eu também devo lembrá-lo que precisamos manter essa porta do quarto trancada quando estivermos aqui juntos. Não quero dar de cara com Delfina em uma situação embaraçosa.com você. Ela apareceu aqui hoje cedo e acho que encontrou a porta destrancada, e foi por isso que entrou aqui facilmente.
- Desculpe-me, amor. Como sempre dormi aqui sozinho, me esqueci completamente deste detalhe. Delfina é uma garotinha muito curiosa. - Gilbert disse, se levantando da cama e dando a mão para que Anne fizesse o mesmo.
- Ela é muito inteligente e linda.
- Ela me faz lembrar você, sabia? - Gilbert disse trazendo Anne para os seus braços.
- É mesmo? E por que? - ela perguntou surpresa.
- Porque você tinha essa mesma curiosidade acerca de tudo. Não parava de falar um minuto e me deixava zonzo com tantas perguntas que me fazia. - Gilbert disse rindo.
- Não creio que isso tenha mudado muito, não é? Ainda falo demais e devo te deixar zonzo com meus por quês excessivos.
- Você ainda me deixa zonzo, mas agora é por outro motivo. - Anne ia responder, mas Gilbert a puxou para um beijo que ela correspondeu no mesmo instante. Quando se separaram, ambos estavam tão ofegantes que Gilbert disse;
- Acho melhor irmos lá para baixo antes que eu te tranque aqui comigo o resto do dia. - Anne assentiu, e assim eles desceram as escadas, e foram para a cozinha onde Mary já os esperava com a mesa posta para o almoço.
GILBERT E ANNE
-Tem certeza que não quer ir comigo, Gil? Matthew iria ficar tão feliz, e Marilla também, Eles te adoram. - Anne disse, enquanto ajeitava a saia rodada do vestido lilás que usava. Gilbert deu-lhe uma olhada meio de lado, não querendo que ela percebesse o quanto ele a estava admirando. Era incrível como todas as cores combinavam com ela, mesmo ela ter lhe dito várias vezes que com aquele cabelo ruivo ela tinha que tomar cuidado com o que usava para não ficar excessivo demais a combinação de cores. Gilbert já a tinha visto vestida com vários tipos de tonalidades diferentes, e nada do que Anne lhe dissera provara ser verdade, Ele amava tudo o que ela vestia, e não importava que fosse um vestido sofisticado ou uma simples camiseta de algodão, a beleza dela era incomparável em todas as suas medidas.
- Amor, eu adoraria ir, mas, eu realmente não posso. Meu amigo Daniel do hospital de Charlotte Town marcou esse encontro no começo da semana quando me ligou, e soube que eu viria para cá. Não fiquei chateada comigo. - ele disse segurando a mão dela, enquanto pensava que aquele era apenas um dos compromissos que tinha na cidade, mas somente contaria a Anne quando voltasse, pois ele tinha algo muito importante a fazer, e não queria que ela soubesse antes do tempo.
- É claro que não estou chateada. Vá ver seu amigo. Somente não demore demais ou vou morrer de saudades. - ela o abraçou apertado e sua cabeça descansou por um momento no ombro dele, depois se beijaram calmamente e não demoraram a se separar, pois no ponto de relacionamento em que estavam, qualquer chama era capaz de começar um incêndio e Anne sabia bem que sua resistência era frágil quando se tratava de Gilbert. Ela nunca fora louca por sexo como algumas de suas amigas da Faculdade e do trabalho. Ela tivera uma curiosidade natural a respeito do assunto na adolescência, mas quando tivera seu primeiro namorado, Anne não tivera vontade de experimentar nada além de beijos mais ousados, ainda assim, não eram como os beijos de Gilbert que a deixavam sempre querendo mais, eram apenas uma sombra do que seu namorado conseguia causar nela com apenas um toque sutil de lábios. Anne imaginava que era assim porque ele fora seu primeiro e único homem, porém lá no fundo de sua mente se questionava se era apenas isso mesmo.
- Eu prometo que não vou demorar. Não pretendo passar muitas horas longe de você. – aquilo era a mais pura verdade. Gilbert não conseguia mais se afastar dela, e isso implicava todas as horas que passava no trabalho e que não podia tê-la perto de si. Gilbert admitia que era um viciado em tudo que dizia a respeito à aquela garota, e não havia tratamento ou reabilitação para o que sentia, não tinha volta e nem cura, ele estava completamente fissurado nela e em todos os seus encantos de mulher.
- Você pode me levar até a casa de Diana? Eu ia pedir um táxi, mas não quero perder a oportunidade de ficar alguns minutos a mais com a delícia do Dr. Blythe. - Anne disse em tom divertido, usando o apelido com o qual Cole costumava chamá-lo.
- Dr. Delícia? Anne você está sempre me chamando dessa maneira, mas não faz a menor ideia de que a delícia toda aqui é você, principalmente quando está nua em meus braços. – ele sussurrou aquelas palavras em seus ouvidos, e Anne sentiu sua nuca se arrepiar. Gilbert sabia como desestruturá-la, e não precisava de muito para isso. Ela controlou seus pensamentos antes que fossem por um caminho perigosos, se afastou dele e o puxou pela mão para fora do quarto. Gilbert riu da tentativa dela de romper o clima quente entre os dois, e a seguia escada abaixo até chegarem ao carro dele.
Ele a levou até o centro da cidade onde Diana morava com o Jerry, e se despediram com mais um beijo apaixonado e olhares profundos. Logo, ele seguiu para o seu compromisso com Daniel que não ficava muito longe dali. Eles marcaram em uma cafeteria nos arredores de Avonlea, e se encontraram pontualmente no horário marcado. Assim que entraram, eles escolheram uma mesa de canto com vista para a rua que naquela sexta à tarde parecia bastante movimentada, mas nem se comparava à Nova Iorque que vivia cheia de agitação e pessoas por todos os lados. Depois de estar vivendo quase quatro meses naquela cidade imensa, ela sentia saudades do sossego que havia em Avonlea, e seus habitantes sempre simpáticos e prestativos.
O café expresso que pediram chegou em pouco tempo, e logo estavam envolvidos em uma conversa agradável como nos velhos tempos. Daniel logo quis saber sobre todas as novidades que Gilbert tinha a lhe contar:
- E como anda sua vida em Nova Iorque, Gilbert? Já se acostumou com a rotina de um grande hospital? Eu imagino que seja bem mais movimentado que o de Avonlea. - Daniel perguntou fitando Gilbert com curiosidade.
- Sim, é bastante desafiador, mas estou satisfeito com meu trabalho lá. - Gilbert respondeu enquanto se deliciava com seu café forte e saboroso.
- Posso ver e seu rosto como está feliz. Parece outra pessoa.
- Ah, mas, isso tem outro motivo. - Gilbert sorriu de um jeito que fez o amigo ficar curioso.
- É mesmo? E qual seria o motivo de tamanha animação?
- Anne. - Gilbert respondeu com os olhos cintilando de felicidade.
- Não acredito! Vocês finalmente voltaram? Eu me lembro que da última vez que falamos sobre isso, você me disse que ela não o tinha perdoado por ter ficado mais tempo do que esperava na Alemanha.
- É verdade. Ela me deu um gelo e tanto, mas, por fim nos entendemos, e eu nunca fui tão feliz. - era tão bom poder falar aquilo em voz alta, Gilbert pensou. Era uma sensação de liberdade que ele nunca tivera a oportunidade de sentir. Ele sempre fora contido em tudo em sua vida, e com Anne, ele estava aprendendo a ser mais espontâneo, deixando de lado a seriedade que o acompanhara por toda vida até ali.
- Pelo que vejo está mesmo apaixonado. Não que eu não percebesse isso antes, mas, agora é tão nítido que qualquer pessoa pode enxergar essa verdade. Estou realmente feliz por você meu amigo. Você mais do que ninguém merece o amor dessa garota em sua vida. Eu sei o quanto sofreu por ela. - Daniel disse aquilo com um sorriso aberto, e Gilbert pôde ver que ele estava sendo sincero.
- Eu quase não acredito que ela voltou para mim, e nunca mais vou permitir que nada nos afaste. Já fiquei longe dela por tempo demais. E você? O que tem a me contar sobre sua vida amorosa? - Daniel era bastaste discreto no que dizia respeito aos seus namoros, e uma vez, ele contara a Gilbert que amara muito uma moça nos tempos da Faculdade, e acabara perdendo-a para o seu melhor amigo. Depois disso, ele tivera alguns namoros, mas nada tão sério a ponto de fazê-lo desejar colocar uma aliança no dedo.
- Bem, meu amigo, ao contrário de você, minha vida amorosa tem sido um deserto completo. Já perdi as esperanças de encontrar minha cara metade. - ele sorriu tristemente.
- Não desista meu amigo. Tenho certeza de que existe alguém para você lá fora, você tem apenas que dar chance para o seu coração encontrá-lo
- Espero que esteja certo, meu amigo. – Daniel disse sem muitas esperanças.
- E o seu trabalho no hospital? - Gilbert perguntou tomando mais um gole de café.
- Não está ruim, porém não tem mais me dado a mesma satisfação de antes. Acho que preciso de uma mudança. - Daniel disse parecendo aborrecido, quase entediado.
- Por que não vem para Nova Iorque comigo? Estamos mesmo precisando de bons médicos como você. - De repente, Gilbert pareceu incrivelmente animado com aquela ideia, Ele ia adorar ter Daniel como colega de trabalho novamente.
- Você acha que me contratariam? - Daniel perguntou lançando um olhar de dúvida para Gilbert.
- É claro que te contratariam. Você é um dos melhores cardiologistas que conheço. Vamos fazer assim. Vou conversar com o meu chefe, e aí marcamos uma entrevista para você conhecer o hospital sem compromisso, e depois disso, você decide. O que acha?
- Acho uma boa ideia. Estou realmente precisando de uma mudança. - Daniel disse já pensando mais seriamente na possibilidade de trocar de emprego.
Desta forma, eles passaram mais algum tempo falando sobre a oportunidade de voltarem a trabalhar juntos, e quando o encontro terminou, Gilbert estava realmente se sentindo muito satisfeito e contente por encontrado Daniel depois de tanto tempo.
Assim que saiu do café, ele se encaminhou para o seu segundo compromisso do dia, e este era ainda mais prazeroso que o primeiro. Gilbert estacionou o carro, e depois caminhou por algum tempo até que seus olhos encontraram o que ele procurava, fazendo-o sorrir com satisfação.
Naquele exato momento, Anne estava se sentindo frustrada. Ela tinha ido até a casa de Diana, e quando chegou lá, descobriu pela moça que trabalhava como diarista para a amiga, que Diana tinha viajado com Jerry e Laura para fora da cidade, e só retornaria na segunda feira, justamente no dia em que Anne estaria voltando para Nova Iorque. Tinha sido realmente pura falta de sorte ter vindo a Avonlea quando a amiga não estava. Suspirando resignada, ela chamou um táxi e foi para Green Gables.
No momento em que o táxi entrou nas terras dos Cuthberts, Anne sentiu seu humor melhorar. Estava de volta, mesmo que apenas por algumas horas ao seu verdadeiro lar. Nada tinha mudado naqueles meses em que ela estivera fora, e a constatação disso lhe fez um bem enorme. Green Gables era o único lugar no mundo onde poderia sempre retornar e se sentir em casa, e não tinha sensação no mundo que superasse isso. Apenas quando ela estava com Gilbert, Anne tinha aquele mesmo tipo de sentimento, pois Gilbert, assim como ela era parte daquelas terras, e era por isso, que estarem juntos naquele ambiente onde cresceram e aprenderam a se amar se tornava tão especial.
Anne apertou a campainha ansiosa por ver seus pais adotivos. Eles tinham apenas se falado por telefone durante aqueles longos meses, e Anne sentira realmente falta das longas conversas que tinha com Matthew e Marilla sentados na mesa da cozinha para o café da tarde. A porta da sala foi aberta, e a boa senhora olhou para Anne surpresa, pois não esperava pela visita dela naquele fim de semana. Ela ficou sem dizer nada por um segundo, e depois abriu os braços, os lábios se escancarando em um sorriso maravilhado e disse:
- Anne, querida. Que surpresa agradável! Por que não nos avisou que viria?
- Eu decidi de uma hora para outra, e nem me lembrei de ligar. Me desculpe, Marilla. - Anne disse beijando-a no rosto.
- Não precisa se desculpar. Aqui é sua casa. Você pode vir até aqui quando desejar. - Marilla estava tão feliz que quase não podia acreditar que sua filha tão amada estivesse ali na fazenda novamente.
- Onde está Matthew? - Anne perguntou assim que entrou em casa, e vasculhou com o olhar todos os cantos da casa procurando pelo seu velho e amado pai.
- Está no quarto assistindo seu programa de notícias favorito.
- E como ele está, Marilla?
- Mais ranzinza do que nunca. Especialmente depois que você partiu. Aquele velho tem testado a minha paciência todos os dias, só você mesmo, para aturar o humor insuportável dele.- Marilla disse reclamando do comportamento do irmão.
- Você se importa se eu subir até lá para vê-lo?
- Claro que não. Que pergunta boba é essa? Eu já disse que aqui é sua casa. Faça o que tiver vontade.
- Obrigada. - Anne disse, beijando as mão de Marilla e subindo as escadas que levavam ao quarto de Mathews.
Ela abriu a porta devagar para não assustá-lo e ficou parada na soleira observando-o com carinho. Ele estava sentado em frente à televisão, com as mãos descansando nos braços da poltrona, e o corpo todo apoiado no encosto do sofá, os cabelos estavam ainda mais brancos do que a quase um ano atrás, e as rugas tinham se acumulado no canto dos olhos, mas para Anne Matthew continuava tão bonito quanto se lembrava dele aos nove anos de idade. Ela se aproximou e o abraçou pelo pescoço por trás do sofá, dando-lhe um beijo no rosto. Ele sorriu ao reconhecer o perfume dela, e segurou as mãos de Anne com carinho enquanto lhe sorria com seus olhos inteligentes e sábios.
- Oi, minha querida; Que alegria tê-la aqui. – ele puxou a mão dela, a deixou de frente para ele, e disse cheio de orgulho. - Você está ainda mais bonita que da última vez que esteve aqui. E esse brilho nos olhos? Tem alguma novidade para me contar? - Anne sempre se admirava da capacidade que Matthew tinha de saber o que se passava com ela. Eles não tinham o mesmo sangue, mas, os laços eram fortes, e sua conexão com ele sempre fora mais intensa do que com Marilia, apesar de amá-los da mesma maneira.
- Na verdade sim. Mas, só vou contar quando Marilla estiver conosco. - Anne disse fazendo um certo suspense que aguçou a curiosidade de Matthew ainda mais.
- É tão importante assim? -, ele perguntou.
- Sim. Pelo menos para mim.
- Você está me deixando preocupado. - Matthew disse franzindo o cenho.
- Não precisa se preocupar. O que tenho a dizer vai deixar tanto você como Marilla satisfeitos.
- Nesse caso, vamos descer. Nunca fui muito fâ de suspense. - Matthew disse se levantando da poltrona ainda segurando a mão de Anne, e juntos foram atrás de Marilla, que como era de se esperar estava na cozinha cuidando de seus assados.
- Oi, querida. Eu já ia mesmo atrás de vocês para chamá-los para o café da tarde. Eu fiz as broas que você adora, Anne.
- Isso é perfeito, Marilla. - Anne disse animada, e assim, ela se sentou com seus pais adotivos para mais uma vez saborear as delícias de Marilla, e enquanto comia um delicioso pedaço de broa, Anne pensou no quanto sentira falta daquilo tudo. Fazia tanto tempo que não se sentia tão à vontade em um lugar como ali em Green Gables. Ela esperava que quando não mais modelasse pudesse voltar e criar raízes novamente naquele pequeno paraíso, onde conseguia ver todo o seu futuro ao lado de Gilbert.
- Anne me disse que tem algo a nos contar. - Matthew disse olhando para a ruivinha cheio de expectativa.
- E o que tem a nos contar, Anne? - Marilla também olhou para ela cheia de curiosidade.
- Eu e o Gilbert estamos namorando de novo e dessa vez creio que é sério. – ela disse toda feliz e Matthew sorriu maravilhado com a notícia.
- Anne, você não sabe a alegria que está me dando. Sonhei tanto com isso. Gilbert é o homem certo para você, eu sempre te disse isso.
- Eu também estou contente, Anne. Por que ele não veio com você para nos dar essa notícia pessoalmente? - Marilla perguntou, servindo a Anne um pouco de seu chá de hortelã que era um dos favoritos da ruivinha.
- Ele teve um compromisso. Mas, virá aqui comigo novamente amanhã. Ele também sente muita falta de vocês. – Anne disse sorridente.
- Ele se acostumou bem em Nova Iorque? - Matthew perguntou.
- Sim, mas, ele ama tudo por aqui. Não importa onde Gilbert more, assim como eu, ele tem seu coração enterrado nesse lugar.
- Sentimos multa falta de vocês, e espero que nos visitem com mais frequência. - Marilla disse com um meio sorriso.
- Vamos tentar, eu prometo. A vida em Nova Iorque é uma loucura tanto Gilbert quanto eu estamos sempre envolvidos em uma maratona de trabalho estressante, mas, vou tentar organizar meus horários melhor para que sobre algum tempo, e eu venha com Gilbert passar alguns fins de semana com vocês.
- Vamos esperar ansiosos por isso. - Matthew comentou apertando a mão de Anne sobre a mesa.
Quando Anne voltou para a fazenda de Gilbert já era fim de tarde, e não demorou muito, ele também chegou. Ele parecia tão feliz e relaxado como a muito Anne não o via, e pensou satisfeita que a sua ideia de passarem uns dias na fazenda realmente fora acertada. O costumeiro sorriso que deixava o rosto dele mais atraente estava lá, assim como seu olhar sobre ela trazia um certo mistério que ela tentou compreender mais não conseguiu.
- Como foi a visita a Green Gables? - ele perguntou abraçando-a pela cintura.
- Foi muito bom. Matthew e Marilla ficaram felizes sem saber que estamos juntos, e aposto até que já estão planejando o nosso casamento. - Anne disse em tom de brincadeira que fez Gilbert perguntar:
- Você pensa em se casar aqui?
- Sim, não posso imaginar lugar mais perfeito. Eu sei que faz tempo que moro longe, mas, nunca consegui me imaginar casando em uma daquelas igrejas enormes de Nova Iorque. Eu quero um lugar que tenha um significado especial para mim, e Green Gables representa tudo o que eu amo na vida, inclusive você. - de repente, Anne se deu conta de que estava confessando a Gilbert um de seus desejos mais secretos com ele, e ela se sentiu apreensiva ao pensar se aquilo não soava como um convite para que ele a pedisse em casamento. Porém, a expressão encantada dele pôs fim à sua preocupação, e Anne pôde perceber que Gilbert gostara mais da ideia do que ela.
- Sim, Green Gables é um lugar encantado, não é? Sempre pensei na fazenda dos Cuthberts como meu segundo lar. - Gilbert disse ainda com Anne em seus braços.
- Vocês sabe que Matthew e Marilla te amam como a um filho.
- Eu sei, e sou extremamente grato por isso. Eles me apoiaram muito quando meu pai morreu. Se tornaram uma família para mim. - ele beijou Anne na ponta do nariz e perguntou:- Você tem algum plano para mais tarde?
- Não, por que? - ela perguntou olhando-o nos olhos.
- Porque pensei que depois do jantar poderíamos dar uma volta.
- Por mim tudo bem. Desde que eu esteja com você qualquer programa é incrível. - ela disse beijando-o nos lábios.
Eles subiram para o quarto e tomaram banho juntos. Depois. se arrumaram para sair, mas, antes comeram o jantar que Mary deixara pronto no forno, e assim seguiram para o passeio sugerido por Gilbert. Anne estava curiosa para saber onde ele a estava levando, pois, o namorado não lhe dissera se tinha feito algum plano especial para aquela noite. Porém, quando ele estacionou o carro perto de um velho carvalho muito conhecido por ambos, ela soube exatamente que lugar era aquele.
- Meus Deus, Gilbert. O velho mirante! Eu nem me lembrava mais dele.- ele pegou a mão dela e subiram pelo terreno íngreme até uma pequena clareira de onde dava para se avistar Avonlea quase inteira. Lá embaixo, as luzes das casas nos arredores brilhavam como um convite aconchegante e acolhedor.
- Então, você se lembra da última vez em que estivemos aqui? - ele perguntou abraçando-a pelo ombro.
- É claro que sim. Viemos aqui com Jerry e Diana para namorar, mas, os dois tiveram uma discussão terrível, e tivemos que ir embora porque ela não parava de chorar. - Anne riu ao pensar nas crises de adolescência daquele tempo, e analisando-as com atenção, agora que era adulta, ela compreendia o quanto tinha supervalorizado coisas tão sem importância, deixando de aproveitar as grandes oportunidades que lhe surgiram na época. Ela se sentia bem mais feliz como estava naquele momento.
- Naquele dia, eu ia te pedir em namoro. - Anne o olhou surpresa, mas, não disse nada. Aquilo era algo novo para ela, e tinha que ouvir até o fim daquela história, por isso, ela esperou Gilbert terminar de lhe contar aquele fato que permanecera um segredo no coração dele até naquele momento. - Eu estava tão nervoso que quando a briga entre Jerry e Diana aconteceu, eu perdi a coragem, e esse foi meu maior erro. Dias depois você foi embora, e só tornei a vê-la depois de sete anos. - o olhar dele era profundo e ele parecia ter mais a lhe dizer, ela só não sabia o que poderia ser.
- Por que está me contando isso agora depois de tanto tempo? - ela quis saber.
- Por que isso me provou que podemos perder as melhores oportunidades de uma vida quando não fazemos o que é certo no momento devido. Por causa de minha covardia, eu fiquei longe de você por sete anos, e não se passou um dia em que eu não tenha me arrependido por isso. - Aquilo tudo continuava a ser um mistério para Anne que não conseguia entender aonde ele queria chegar com aquelas palavras.
- Eu continuo não entendendo o que você quer dizer com isso, Gilbert. - ele a colocou de frente para ele e disse com um sorriso:
- O que eu quero dizer é que não vou perder mais um minuto da minha vida sem você. Eu sei que falamos sobre casamento outro dia, e dos meus planos de me firmar em Nova Iorque como cirurgião antes de darmos esse passo, e eu continuo pensando assim. Porém, isso não impede que firmemos um compromisso mais sério. - ele levou a mão ao bolso e de lá tirou uma caixinha que entregou a Anne. Lá dentro havia uma anel de ouro branco com pedrinhas de brilhante azuis que Gilbert comprara aquela tarde, depois de seu encontro com Daniel, e ela respirou fundo ao compreender o que aquilo significava.
- Eu quero que seja minha noiva. Anne, e que em um futuro bem próximo seja minha esposa. Eu não consigo imaginar ninguém nessa mundo com o qual eu queira dividir minha vida inteira que não seja você. Foi por isso que te trouxe aqui hoje. Eu queria te fazer esse pedido em um lugar que fosse especial para nós dois. - Gilbert parou de falar e esperou pela resposta de Anne que tinha caído em um silêncio cheio de suspense que o estava matando. Gilbert esperava que ela não achasse que Gilbert estava sendo precipitado, não queria perdê-la nunca mais e por isso queria firmar aquele compromisso como prova de todo o amor que ele sentia por ela.
- Gilbert, eu nem sei o que dizer. - Anne falou quebrando o silêncio. Aquilo fora totalmente inesperado e seu coração batia a cem quilômetros por hora. Gilbert Blythe sabia mesmo como deixá-la sem palavras, e naquele exato momento, a felicidade que ela sentia com aquele pedido era indescritível.
- Apenas diga que aceita Anne, que quer ser minha pelo resto de nossas vidas. Eu te amo, e quero tê-la ao meu lado para sempre e partilhar cada segundo com você. Por favor, diga que aceita o meu pedido e me faça o homem mais feliz do mundo. – Aquilo era mais do que ela imaginara, e somente Gilbert para tornar algo assim tão perfeito. Como recusar algo tão sincero e maravilhoso? Como recusar o coração que aquele homem lhe oferecia da maneira mais linda possível? E por essa razão, ela segurou na mão de Gilbert e disse:
- É claro que aceito, Gil. Como poderia recusar o maior sonho da minha vida? - Cheio de felicidade, Gilbert colocou o anel no dedo anular dela, e a beijou de maneira doce e suave mostrando a Anne toda a sua devoção por ela. Depois sussurrou baixinho em seu ouvido:- Quer ir para casa? - ela concordou e voltaram para o carro. Quando chegara na fazenda e entraram pela porta. Anne pegou Gilbert pela mão e o levou até o quarto. Ela queria provar a ele todo o seu amor também, e como tudo o que aquele anel em seu dedo representava era importante para ela.
Ambos se despiram sem pressa com os olhos mergulhados um no outro, pois cada gesto que faziam tinha um significado profundo para ambos. Gilbert se aproximou e tocou cada linha do rosto de Anne com seus dedos, e ela fez o mesmo. Era como se estivessem se reconhecendo, relembrando e aprendendo a sentir na palma de suas mãos o bater incessante de seus corações. Em seguida, Gilbert a trouxe para ele, suas mãos traçando as curvas do corpo dela devagar, pois ele queria prolongar cada momento daquele instante único e perfeito. O ar estava diferente aquela noite, e uma doce brisa soprava. Anne sentiu como se todo o universo estivesse conspirando para que aquele momento entre os dois fosse inesquecível. Ela também o tocou e em cada toque ela deixava gravado na pele dele todos os sentimentos que carregava em seu peito, e Gilbert sentiu que cada um deles entrava por suas veias e o aproximava ainda mais dela, amando-a mais do que qualquer outra noite em que estiveram realizando aquele ato que os tornava conscientes da verdade do que sentiam.
Eles foram para cama, e aquelas carícias continuaram, seguidas por beijos que deixavam seus corpos em chamas. Anne sentia cada carinho de Gilbert em seu corpo com o se ele estivesse traduzindo o amor que sentia por ela em toques de tirar o fôlego. Ela nunca fora amada assim com tanta devoção, embora todas as vezes em que fizeram amor tivesse sido incrível, naquela noite um compromisso fora selado, e aquele ato que se repetia todas as noites em seu quarto era a prova viva de que ali estava uma vida inteira de promessas, um futuro onde o amor sempre viria em primeiro lugar. Os suspiros de Gilbert vinham acompanhados de palavras que ela amava ouvir, porque era como ele expressava o quanto a desejava e queria torná-la sua, e quando o fez, dessa vez foi como se todas as estrelas tivessem se transformado em uma roda viva de luz banhando-os com suas bênçãos, tornando-os parte um do outro para sempre. Era assim que ela sempre se sentiria dali para frente, parte daquele homem tão maravilhoso que naquela noite, e naquele instante a fez se sentir amada como nenhuma outra.
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