Capítulo 50- Almas divididas
Queridos leitores. Estou postando este capítulo hoje. Aproveitei o feriado para terminá-lo. Espero pelos comentários, já que estavam tão ansiosos por ele. Espero pelos comentários, pois me ajudam muito na continuação de cada capítulo. Desculpem me por qualquer erro ortográfico. Beijos.
GILBERT
A mulher completamente nua à sua frente não era apenas parte de sua imaginação ou fragmento de um sonho. Ela tão real quanto seu amor por ela que vibrava em seu peito como uma canção antiga e inesquecível. Ele sabia que tinha que sair dali, mas seus pés pareciam pregados ao chão. Se aquilo era um teste para saber até que ponto ia seu autocontrole, Gilbert sabia que seria reprovado instantaneamente.
Ele umedeceu os lábios, enquanto seus olhos se concentravam no rosto dela. Ele ainda não a tocara, porque se o fizesse estaria fatalmente perdido. Então, Anne jogou os braços dela ao redor do seu pescoço, e ele perguntou com a voz estrangulada:
- Anne, por que está fazendo isso comigo?
- Eu te disse hoje de manhã. Eu quero ver se você terá a coragem de dizer na minha cara que não me quer também. – Gilbert engoliu em seco. Ele queria puder dizer que ela estava errada, mas, seria muito fácil para ela descobrir que ele estava mentindo. Seu corpo já reagia excitado pela maneira como ela se expunha aos olhos dele sem vergonha nenhuma. Onde Anne aprendera a jogar com as emoções dele assim? E como ele podia resistir a aquela garota que colava seu corpo ao dele, que mesmo vestido conseguia sentir o calor dela se misturar ao seu. Santo Deus! Ele estava suando. Quando foi que aquele quarto ficara insuportavelmente quente? Gilbert mal conseguia respirar, pois seu coração traiçoeiro disparara desavisadamente, e percebeu tardiamente que já tinha sido pego na teia dos seus sentimentos.
Anne continuou encarando-o, e o olhar dele caiu sobre os lábios rosados dela. Gilbert viu com a respiração suspensa, a ponta da língua dela deslizar pela parte inferior provocando-o, e ele compreendeu o quanto a queria e que não conseguiria fingir indiferença por muito tempo. Eles caminharam pelo quarto, e Gilbert somente percebeu que estavam perto da cama quando sua perna encostou nela. Anne o empurrou e ele caiu deitado sobre ela, enquanto a ruivinha se deitou por cima dele, movendo seu corpo sobre o de Gilbert sedutoramente. Ele gemeu em resposta aquele ataque sensual, e ao turbilhão de sensações que tomaram conta dele.
Em seguida, Ele sentiu a respiração quente dela sobre seu rosto, e se arrepiou da cabeça aos pés quando ouviu-a sussurrar em seu ouvido:
- Eu te amo, Gilbert Blythe. Por que luta tanto contra o que sente? Liberte-se de seu autocontrole e deixe-me te mostrar que o que sinto é tão real quanto minha pele colada à sua. – Ela mordiscou de leve o lóbulo da orelha dele, descendo os lábios pelo pescoço masculino, fazendo Gilbert perder o resto de controle que ele a duras penas conseguira manter até ali.
Ele nem percebeu quando suas roupas foram retiradas de seu corpo, muito menos quem o fizera, se fora ele mesmo ou Anne. Gilbert somente queria se perder naquele desejo que o levava a um ponto que não havia mais volta.
De repente, eles estavam juntos naquela tempestade selvagem, que os impedia de pensar, resistir ou fugir. Seus corpos falavam por eles, as emoções transbordando no calor de cada beijo, e aquela paixão que dominava seus sentidos deixando-os loucos um pelo outro. Tudo mais foi esquecido, apagado de suas mentes, e assim como a chuva caía torrencialmente lá fora, naquele quarto o amor de ambos desabava sobre eles como uma cachoeira de sonhos partilhados e nunca totalmente perdidos.
Gilbert e Anne chegaram juntos ao ponto mais alto de seu desejo quase que imediatamente. Não tinham mais controle sobre o que sentiam, não mais conseguiam se lembrar de quem eram, pois suas identidades se misturavam, assim como o de som de suas respirações, e quando finalmente se sentiram inteiros novamente, Gilbert abraçou Anne, e adormeceu com a ruivinha deitada sobre deu corpo.
Ele acordou no meio da noite atordoado, e se lembrou automaticamente do que acontecera, quando suas mãos reconheceram a pele macia ainda em contato com a sua. Devia estar arrependido do que deixara acontecer, mas não estava, somente não tinha certeza de como conduziria seu relacionamento com Anne dali para frente. Ele continuava magoado com ela, mas seu amor era muito maior, ainda assim, ele se perguntava se seria possível viver uma vida com ela sem que continuassem machucando um ao outro.
Entretanto, depois do que acontecera entre eles ali, Gilbert sabia que não conseguiria resistir mais, perdera a cabeça facilmente naquela noite, mesmo sua mente gritando em seus ouvidos que não devia. Agora que se lembrava exatamente como era ter Anne em seus braços, seria difícil dizer não a ela em uma próxima vez.
Ele odiava essa sua fraqueza. Queria não ser tão suscetível à beleza dela, ao seu sorriso encantador e aqueles olhos que ele adorava desde o dia que a conhecera, mas a verdade era que por mais que desejasse não sucumbir à sua quase adoração por Anne, Gilbert sabia que sua ponto fraco era justamente seus sentimentos por ela.
Estar com Anne era deixar vir a tona toda a sua paixão de adolescente que se transformara através dos anos naquele sentimento absurdamente arrasador. Ele não tinha escapatória, não tinha como fugir, por mais que se afastasse dela, seu coração o fazia retornar, por mais que dissesse que não queria, seus olhos o denunciavam. Aquele era um tipo de amor que não se esquecia com facilidade, e que mesmo que fosse saboreado até a última gota, não cessaria de existir e nem de magoar se fosse lhe dado uma oportunidade.
Gilbert girou o corpo devagar, e deitou Anne ao seu lado, fazendo o possível para não acordá-la. Ela resmungou algo que ele não entendeu, se aconchegou mais a Gilbert e enroscou suas longas pernas entre as deles, fazendo Gilbert respirou fundo de novo, descendo as mãos pelas costas nuas dela, apertando-a contra si sem perceber. O sussurro dela rouco enquanto ainda estava adormecida, trouxe lembranças perturbadoras à mente de Gilbert, que fechou os olhos, tentando broqueá-las.
Ele sabia exatamente o que seu subconsciente estava fazendo com ele, mas não ia se deixar dominar facilmente. A profundidade de seu amor por Anne era imenso, e era por isso que sua mágoa também não permitia que ele esquecesse de como ela o machucara. Anne tinha que saber que uma noite de amor não significava que tudo havia sido perdoado. Eles teriam que conversar sobre os rumos que esse relacionamento tomaria, pois Gilbert não ia mais tolerar seus joguinhos sem sentido ou sua provocação deliberada.
Eram adultos e deveriam agir como tal, e pensando nas palavras de Gabriela, Gilbert percebeu que ela estava certa Eles se comportavam como se ainda fossem adolescentes, e aquilo deveria acabar. Ele queria e precisava ter um relacionamento maduro e as indecisões de Anne não lhe serviam mais.
A ruivinha resmungou novamente, e suas mãos desceram pelo corpo de Gilbert de maneira insinuante, ele as deteve antes que o deixassem em um ponto em que perderia a cabeça novamente. Assim, ele as afastou com cuidado, se levantou da cama, olhando pela última vez a mulher linda deitada em sua cama, antes de ir para o chuveiro. Precisava de alguns minutos a sós longe dela para pensar com coerência, e ficar com ela na mesma cama naquele momento não o ajudaria em nada.
Assim, ele deixou que a água revigorante do chuveiro caísse sobre ele, despertando seus músculos entorpecidos, e fechou seus olhos para saborear aquele instante de paz. Mas, seu momento pacífico foi interrompido quando ele sentiu formas femininas se juntarem a ele embaixo do chuveiro. Ele abriu os olhos imediatamente, e viu o sorriso maroto de Anne enquanto ela o abraçava pela cintura.
- Quer dizer que o lindo Dr.Blythe resolveu tomar banho sem mim?
- Você estava dormindo e não quis te acordar – Gilbert respondeu tentando ignorar a resposta de seu corpo ao sentir Anne agarrada a ele como se fosse uma segunda pele.
- É o segundo banho que tomo hoje, e devo confessar que este está muito mais interessante. – Anne disse, enquanto se agarrava mais ainda em Gilbert fazendo-o pensar que tinha sido uma má ideia ter se decidido pelo banho àquela hora. Anne se tornara uma provocadora de primeira, e naquele momento ele estava desesperadamente pensando no que fazer para escapar daquela situação que estava não somente mexendo com seus nervos, mas também com seu corpo inteiro.
- Anne, não acho isso uma boa ideia. - Gilbert disse, já sentindo seu coração disparar ao sentir os lábios dela quentes sobre a pele molhada de seu peito.
- O que não é uma boa ideia? - ela perguntou, se fazendo de desentendida, fingindo inocência com seus olhos azuis.
- Você me provocar dessa maneira. – Gilbert respondeu achando-a ainda mais linda do que antes quando estava dormindo.
Vendo-a assim ao natural, os cabelos molhados e sorrindo-lhe feito uma garotinha, ela lhe recordava a antiga Anne de sua infância e adolescência, quando nadavam no lago juntos, ou brincavam na chuva. Porém, ele logo se lembrou que a ruivinha que estava ali agora tinha crescido, e a beleza e simplicidade de tudo o que partilharam naquele tempo tinham ido embora, deixando apenas pequenos fragmentos do que um dia tinha sido amá-la sem medo ou cobranças. Recuperar a essência daquilo tudo não era possível, mas Gilbert esperava que com o tempo, ele pudesse voltar a enxergá-la como a garota que ao pedir-lhe um beijo as catorze anos tinha roubado seu coração para sempre.
- Quer dizer que o coração gelado do Dr. Blythe possuiu algo de humano afinal? Achei que uma provocação tão sutil não teria efeito nenhum sobre você, mas fico contente por estar enganada. - seus olhares duelaram enquanto Gilbert pensava que ela sabia manipular da mesma forma que sabia amar, e ele estava deixando que ela fizesse o quisesse com ele, e aquilo não podia acontecer. Ele não fez nenhum comentário a respeito do que ela dissera. Ao invés disso, mudou de assunto dizendo:
- Não está com fome? No fim das contas nem jantamos. – Anne deu um sorriso largo ao ouvir o que ele dissera e comentou:
- Nunca pensei que você fosse tão covarde, Gil. Por que age como se não se importasse com o que aconteceu entre a gente? Eu não posso acreditar que o homem que disse que me amaria para sempre um dia, se tornou essa pedra de gelo. - por um momento, Gilbert pensou nas palavras dela, e resolveu não responder. Não estava disposto a discussões àquela hora da noite, especialmente uma que nenhum dos dois tinha chance de ganhar.
- Anne, não acho que aqui seja o lugar apropriado para falarmos de nossos sentimentos. - Gilbert disse, se afastando dela, pegando uma toalha, saindo do banheiro e se enxugando nela.
- Eu acho que é um bom lugar como qualquer outro. - ela disse seguindo-o até o quarto, mas como Gilbert não fez menção nenhuma de responder, ela se enxugou em uma toalha felpuda, e como Gilbert vestiu um roupão indo até a cozinha onde ele aqueceu o jantar, que tinha preparado horas atrás e não comeram por motivos óbvios.
Sentaram-se à mesa em silêncio, e Gilbert percebeu que Anne parecia incomodada, pois mal tocava na comida.
- Não vai comer, Anne?
- Não estou com fome. - ela disse de cabeça baixa.
- Qual é problema afinal? - Gilbert perguntou, colocando o garfo sobre a mesa e encarando a ruivinha seriamente.
- Não acredito que está me perguntando isso? Vai mesmo fingir que nada aconteceu entre a gente? - ela ia mesmo insistir naquilo, Gilbert pensou. E pelo jeito não ia desistir enquanto não tivesse a resposta que queria dele. Mas, ao contrário do que ela pensava, aquela noite fora importante para ele, e estava evitando discutir sobre isso porque não sabia até que ponto ele queria se envolver com ela de novo.
Ele sempre quisera ter uma vida com ela, mas nos últimos meses, os recentes acontecimentos o fizeram pensar melhor sobre o assunto. Ele queria um tempo para estruturar sua vida em Nova Iorque, construir sua carreira naquela cidade, e somente depois pensar em coisas complicadas como o amor.
Gilbert conseguia ver Anne em seu futuro, isso não mudara, mas, não queria entrar de cabeça de novo em um relacionamento com ela. Ele desejava ir devagar e deixar que suas feridas se curassem primeiro, e olhar para Anne sem se sentir magoado. Enquanto isso não mudasse dentro dele, Gilbert não teria muita coisa a oferecer para ela. Ele respirou fundo, e continuou a olhar para Anne de maneira séria, e então falou:
- O que quer que eu diga? - Ela arregalou os olhos ante a pergunta dele e respondeu:
- Que tal começar me dizendo onde fica nosso relacionamento no meio disso tudo?
- Anne, eu não gostaria de dizer isso, mas como você insiste tanto nesse assunto, eu devo lembrá-la que foi você quem começou tudo isso. – Anne fitou-o surpresa, seus olhos escurecendo de raiva quando disse:
- Está querendo dizer que te obriguei a ir para cama comigo? Porque se foi isso que está tentando me falar, eu é que devo te lembrar que não vi nenhuma resistência de sua parte.
- Não foi isso que eu disse. Apenas enfatizei que você tem me provocado a dias e que foi inevitável o que aconteceu. - esperava que ela acreditasse que fora apenas desejo que o levara a fazer amor com ela, e não o sentimento que ainda nutria por ela. Gilbert não queria que Anne descobrisse quanto domínio ela ainda tinha sobre seu coração.
- Só falta você dizer que dizer que fingiu todos os beijos que me deu. - ela continuava a se sentir ofendida, por isso, Gilbert decidiu não continuar com aquilo ou discutiriam o resto da noite.
- O que aconteceu foi porque nós dois quisemos, não vejo motivo para tanta discussão. Nós dois somos adultos e responsáveis por nossos atos. Eu não vou ser um canalha e dizer que fiz amor com você porque fui seduzido. Eu quis, você também e ponto. Satisfeita?
- Na verdade não, mas, como você disse não há o que discutir. - ela ficou em silêncio e Gilbert sentiu mal por deixá-la chateada. Ele tinha certeza que acabaria assim no momento em que ela tocou no assunto. Ele quis evitar aquele tipo de situação, mas não tivera habilidade suficiente para isso. Agoira ela estava triste e ele estava se recriminando por isso.
- Anne. - ele queria dizer algo para amenizar sua secura de momentos atrás, mas ela se levantou da mesa não dando-lhe chance e disse:
- Vou voltar para cama e quando o dia nascer quero ir para casa. – ela deu-lhe as costas foi para o quarto enquanto Gilbert permanecia na cozinha pensativo.
Era sempre assim naquela história, eles discutiam e Anne fazia-o se sentir a pior das criaturas. Quando eram crianças ele sempre resolvia qualquer picuinha entre eles com uma barra de chocolate. Bastava que Gilbert aparecesse com a guloseima para Anne esquecer a raiva e voltar a sorrir para ele, mas agora ele duvidava que ela fosse convencida assim tão facilmente. Gilbert sabia que ela queria uma resposta concreta que ele ainda não podia lhe dar. Por fim, ele se levantou da mesa, colocou a louça suja na pia para ser lavada no dia seguinte, e foi para o quarto também
Lá fora a chuva caía a cântaros, e o barulho dos trovões estava cada vez mais altos. Gilbert encontrou Anne encolhida na cama, tampando os ouvido parecendo aterrorizada, e então, ele se lembrou que ela tinha pavor de trovões. Ele se sentou na cama, tocou os cabelos dela e disse:
- Vem cá. – Anne se virou e olhou para Gilbert que lhe estendia os braços, e sem pesar em nada, ela se aninhou nos braços dele, deixando que sua cabeça se apoiasse em seu peito.
Enquanto a sentia estremecer a cada novo trovão que se fazia ouvir, Gilbert a estreitou ainda mais em seus braços, e pensou quase sorrindo que algumas coisas realmente nunca mudavam.
ANNE
Anne acordou ainda nos braços de Gilbert. A chuva havia passado, e o dia parecia anunciar uma manhã ensolarada, embora dentro de Anne os sentimentos fossem os mesmos. Ela se levantou da cama, e foi para o banheiro, procurou por seu pijama na secadora onde Gilbert o deixara na noite anterior, e o vestiu sem se preocupar por estar amassado, e também porque era a única roupa que tinha para vestir naquele momento.
Em seguida, foi até a cozinha, encheu um copo com leite frio que pegou na geladeira de Gilbert e o bebeu sentada na mesa da cozinha. Não procurou por nada para comer, pois como tinham jantado tarde ela não sentia apetite nenhum, por isso, o copo de leite seria sua única refeição aquela manhã.
Mesmo depois que o copo estava vazio, Anne continuou sentada pensando nos acontecimentos do dia anterior. Ela realmente ficara aterrorizada com o invasor em seu apartamento, e se sentia aliviada por ter conseguido fugir, e agora se perguntava se fizera certo correr até Gilbert em seu desespero, mas antes de encontrar a resposta, Anne sabia que o teria feito de qualquer jeito, por que era por ele que sempre procurava quando estava em uma situação complicada, salvos os sete anos em que não tiveram nenhum contato, todos os outros estavam cheios de episódios onde Gilbert fora seu salvador em alguma ocasião, então fora natural para ela ir direto para os braços dele quando se sentira ameaçada outra vez.
Não queria que ele pensasse que fizera aquilo de caso pensado, apenas para que ele a trouxesse até o apartamento dele e passassem a noite juntos. Na verdade, a única coisa que pensara quando chegaram ali fora que pelo menos por aquela noite ficaria em segurança, e não imaginara que iria agir tão ousadamente quando Gilbert entrara no quarto a sua procura. Anne deixara apenas que seu coração falasse por ela, sem realmente se preocupar até onde aquilo a levaria. Acabaram se amando como nos velhos tempos, talvez até tivesse sido melhor pelo menos para ela que não tinha percebido até então, o quanto sentia falta de Gilbert da cabeça aos pés, e passar um noite inteira dormindo ao lado dele, depois de terem se pertencido mais uma vez, lhe mostrara com o queria viver o resto de seus dias, e por egoísmo ou idiotice ela quase tinha jogado fora o amor de sua vida.
A noite não acabara como esperava. Apesar de ter revelado a Anne o tamanho de sua paixão por ela, Gilbert continuava fazendo jogo duro. Ele não a perdoara, e Anne não podia culpá-lo. Ela testara Gilbert demais, tomando como certo o amor dele por ela, e não levara em conta que até mesmo para quem amava havia certos limites que não deveriam ser ultrapassados, e Anne cruzara uma linha tênue entre o amor e ódio e ficara presa entre ambas e voltar atrás talvez não fosse tão fácil, mesmo que tentasse com todas as suas forças.
A conversa que tivera com Gilbert no chuveiro não fora muito animadora, embora ela sentisse que ele cederia a qualquer momento se ela insistisse um pouco mais, mas resistira porque compreendeu que usar a atração que prendia Gilbert a seus encantos apenas para conseguir a resposta que desejava, seria um jogo sujo demais.
Ela também não conseguira nada quando quisera discutir aquele mesmo assunto com Gilbert na cozinha momentos depois, e pela primeira vez ela pôde ver o tamanho da mágoa que causara a Gilbert, e soube então que Cole estava certo quando dissera que fora ela a causadora de todo aquele distanciamento.
- Anne, não acha que é muito cedo para estar acordada. - ela ouviu Gilbert dizer e se virou para vê-lo parado na porta encarando-a interrogativamente. Ele quase parecia o velho Gilbert de sua adolescência com os cabelos desalinhados e descalço, e Anne se lembrava bem da briga que era tentar fazer Gilbert domar seus cachos rebeldes, e agora lhe caiam tão bem assim, por que arrancava de seu rosto a máscara fria do Dr. Blythe que insistia em trata-la tão impessoalmente, e lhe devolvia um pouco do homem por quem era apaixonada.
- Achei que já era hora de liberá-lo de sua obrigação comigo, e voltar para casa.
- Tem certeza de que não quer ficar aqui? Não acho uma boa ideia você voltar sozinha para o seu apartamento. – Anne se sentiu tentada a ficar, não por medo do que encontraria em seu próprio apartamento ao retornar, mas sim, por que poderia ter um pouco mais de Gilbert antes de dar de cara com sua própria solidão novamente. Mas achou melhor declinar o convite, pois não queria abusar da hospitalidade dele, ainda mais porque o clima entre eles estava estranho.
- Sim, lá é minha casa e não posso me esconder aqui para sempre.
- Sabe que não precisa voltar se não quiser. - Gilbert disse se aproximando, e Anne se perguntou se ele estava tentando torturá-la ainda mais. Será que ele não sabia que ficar ali somente prolongaria sua agonia de não poder tê-lo com o queria, já que ele não parecia disposto a levar adiante o que tinham começado na noite passada.
- Mas, eu quero - Ela mentiu. – Todas as minhas coisas estão lá, realmente preciso ir.
- E vai vestida assim? -Gilbert perguntou apontando para o seu pijama sorrindo daquele jeito torto que fazia o coração de Anne falhar uma batida.
- Você está zombando do meu pijama Prada, Dr. Blythe? - Anne disse com um sorriso, tentando descontrair o ambiente que parecia tenso demais entre eles.
- Bem, você sabe que não entendo nada de moda. Para mim é um pijama como outro qualquer. Desculpe-me se ofendi seu gosto caro e refinado para roupas de dormir, Srta. Cuthbert. – Gilbert respondeu entrando na onda divertida de Anne.
- Está perdoado, doutor. Acho que vou chamar um táxi – Ela disse se levantando.
- Eu te levo. Espere um instante – ele logo retornou vestindo uma calça jeans, camiseta e tênis.
- Bastante esportivo. Anne disse admirando o físico perfeito de Gilbert naqueles trajes informais.
- Achou que nós médicos vestimos jalecos o tempo todo? -
- Basicamente. - Anne riu aproveitando aquele momento de descontração entre eles. Como sentia saudade do lado divertido de Gilbert. Ele não brincava assim com ela a tanto tempo.
- Pois, de enganou Srta. Cuthbert. Nos médicos sabemos aproveitar bem nossas horas vagas. - Gilbert parecia estar apreciando aquele momento tanto quanto ela, pois não parava de sorrir.
- Estou vendo. Será que podemos ir agora? - ela perguntou odiando estragar toda aquela clima gostoso que começara a surgir fazendo Gilbert se sentir visivelmente mais a vontade com ela.
- Certamente. – Ele concordou.
Logo, Gilbert estava estacionando em frente ao prédio de Anne, e antes que ela descesse, ele pediu:
- Lembre-se que me prometeu que iria à polícia. - Anne apenas balançou a cabeça confirmando, e Gilbert continuou:
- Por favor, me liga para que eu possa saber que está bem. - ele disse tocando os cabelos dela.
- E por que eu deveria fazer isso?
- Por que você sabe que eu me preocupo. - Gilbert disse olhando-a intensamente.
- Não, eu não sei Gilbert. Por que se preocuparia? Por que é meu amigo? Meu médico? Ou por que me ama? - Anne esperou que ele respondesse, mas a hesitação dele a deixou arrasada.
- Bem, é melhor eu entrar. - ela disse abrindo a porta do carro. - Gilbert segurou em seu pulso com carinho enquanto dizia:
- Anne, espere.
- Para quê, Gilbert? Para ouvi-lo dizer que sente muito pelo que aconteceu entre nós? Eu só tenho uma coisa a te fizer. Ao contrário de você, eu não me arrependo de nada. - ela beijou o rosto de Gilbert, saiu do carro e entrou no prédio sem olhar para trás.
ANNE E GILBERT
Entrar em casa sozinha não foi tão fácil quanto Anne esperava. Ela estava com medo, mas, não quis admitir isso na frente de Gilbert. Iria ser humilhante, depois de todos os foras que levara dele naquele dia, ser forçada a dizer que precisava dele para protegê-la. Não faria isso nem sobre tortura.
Se Cole estivesse ali, diria que ela estava sendo orgulhosa mais uma vez, e que não doeria nada se pedisse a ajuda de Gilbert para auxiliá-la a passar por aquela fase estressante se sentindo mais segura. Talvez ela fosse mesmo orgulhosa demais, e essa característica de sua personalidade acabava lhe causando problemas sérios, mas, dessa vez precisava preservar o pouco de dignidade que ainda lhe restava, pois ela praticamente tinha se jogado nos braços de Gilbert, e embora ele não a tivesse rejeitado no sentido amplo da palavra, também não tinha lhe dito que a amava e queria ficar com ela.
Anne não sabia o que pensar da atitude de Gilbert . Primeiro, no hospital ele a tinha tratado como o irmão e amigo preocupado que conhecera por toda vida. Depois, ele tinha feito amor com ela de um jeito que nunca fizera antes. Era como se quisesse recuperar todo o tempo que perderam longe um do outro, se entregando como ela ao que sentia, sem se preocupar em limitar seus sentimentos ou ações. Em seguida, voltara a ser frio como se os momentos íntimos que passaram juntos tivessem sido apenas algo casual e sem importância, e logo voltara a confundi-la novamente, ao mostrar-se carinhoso em frente do prédio dela. Gilbert era realmente um poço de contradição, e ele acabaria fundindo a cabeça dela antes que conseguisse entende-lo, pois até aquele momento não conseguira saber se ele a queria de volta, ou se preferia mantê-la longe, e Anne sabia que aceitaria qualquer acordo que ele resolvesse fazer para acertar as coisas entre eles desde que pudesse tê-lo perto.
Entre ter tudo e nada, ela preferia o meio termo, porque por mais revoltada que ficasse com a maneira com que Gilbert a vinha tratando, ela o queria de volta, ela precisava dele, e não ia desistir enquanto isso não acontecesse. Anne tinha consciência de sua própria culpa no comportamento de Gilbert para com ela, e pretendia convencê-lo que ela sabia exatamente o que queria dessa vez.
Assim que abriu a porta, Anne olhou ao redor para ver se conseguia detectar alguma mudança no ambiente como sinal de invasão ou algum objeto que pudesse estar faltando, mas tudo parecia estar no lugar. Ela foi para o quarto e examinou seu cofre particular e todas as suas joias estavam nos devidos lugares. Anne também procurou por fotos ou mensagens ameaçadora, mas não encontrou nada desse tipo dessa vez
Suspirando aliviada, ela se deitou no sofá onde havia largado seu celular na noite anterior, e ao verificá-lo, Anne percebeu que Cole deixara inúmeras mensagens. Assim, ela resolveu ligar para o amigo, antes que ele pensasse que algo ruim tivesse acontecido com ela.
No momento em que fez a chamada, Cole atendeu perguntando
- Santo Deus, Anne? Onde estava que não respondeu a nenhuma de minhas mensagens? – Ela pensou um pouco e decidiu não preocupa-lo mais e respondeu sabendo que viria uma chuva de perguntas e talvez recriminações em seguida:
- Passei a noite no apartamento de Gilbert.
- Como? Eu ouvi direito? Você é o Doutor delícia ficaram juntos afinal? – Ele estava quase gritando em sua excitação pela notícia, e Anne riu de leve ao se lembrar da torcida de Cole pelo seu relacionamento com Gilbert.
- Sim, ficamos juntos, mas eu não sei o que isso significa. - Anne disse com a voz um pouco sem o seu costumeiro brilho.
- O que quer dizer com isso, Anne? – Cole parecia confuso
- Eu estou dizendo que depois que passamos uma noite tórrida juntos, Gilbert voltou a me tratar com sua frieza odiosa. – Anne respondeu com certo desânimo.
- Você está me dizendo que ele a tratou mal depois de algo tão íntimo? Será que eu estava enganado sobre Gilbert? Nunca o imaginei no papel de um canalha. - Cole disse com a voz dura.
- Não o condene, Cole. Eu o provoquei e seduzi, e eu não disse que ele me tratou mal, apenas ignorou os meus sentimentos. - Anne disse tentando remediar a situação.
- É como você se sente depois de tudo?
- Me sinto triste, mas não estou arrependida. Foi a noite mais incrível da minha vida depois de tanto tempo, e amei cada segundo. - ela disse com sinceridade.
- E Francesco?
- Eu terminei tudo com ele por mensagem mesmo. Você me convenceu de que eu deveria usar a minha imaginação, e foi o que fiz. Tinha razão, aquele noivado foi uma estupidez da minha parte. - Anne disse se sentando no sofá.
- Pelo menos é uma boa notícia. E o que pretende fazer depois disso tudo o que me contou.
- Bem, não viu desistir de Gilbert se é isso que quer saber. Eu o amo demais e não quero perdê-lo, Cole. Agora sei que o magoei muito também e tem que haver uma maneira de eu consertar tudo. - Anne disse com a voz emocionada.
- Querida. Estou muito orgulhoso de você. Que pena que não estou por perto para te dar um abraço. A única coisa que posso dizer é que faça o que o seu coração desejar. Nós dois sabemos que amar alguém não é fácil, e se acha que o que sente por Gilbert vale a pena, então lute, meu amor, mostre a aquele homem o quanto seu amor por ele é verdadeiro.
- Gilbert sempre valeu a pena, Cole. Eu é que demorei para descobrir.
- Então, por que não vai atrás dele e diz tudo o que me contou? Aquele homem pode fingir o quanto quiser, mas eu sei que ele é louco por você. - Cole disse tentando animá-la.
- Você pensa mesmo assim? Acha que Gilbert ainda me ama? - Anne sentiu uma luz se acender dentro dela. Talvez nem tudo estivesse perdido ainda.
- Você ainda tem dúvidas? Gilbert Blythe beija o chão que você pisa desde que erámos todos garotinhos, e isso não mudou, posso te garantir. - Cole disse rindo.
- Obrigada por ser um amigo tão bom. Quando vai voltar? Sinto tanto sua falta. – Anne estava sendo sincera. Cole era seu melhor amigo, e não tê-lo por perto naquele instante a fazia se sentir fragilizada.
- Voltarei na próxima semana quando finalizar o meu trabalho aqui em Los Angeles.
- Estou com saudades. – Anne disse chorosa.
- Eu também. Quando eu voltar espero que tenha ótimas novidades, principalmente sobre um certo doutor.
- Eu também, meu amigo.
Assim que se despediram, Anne desligou, pensando que talvez fosse uma boa ideia procurar Gilbert ainda naquele dia. Não ia mais esperar. Perdera tempo demais.
No hospital Gilbert se preparava. Ele teria uma cirurgia importante dali a uma hora e precisava de toda sua concentração para que a operação fosse um sucesso. O problema era que Anne não saía de sua cabeça. Ele queria se convencer de que era apenas preocupação que o fazia olhar para o celular a todo momento, esperando ter notícias dela, mas seu coração batia em outro ritmo.
Quem ele estava tentando enganar? A noite anterior tinha significado mais do que ele pensara, pois quando Anne o olhara com seu olhos cheios de desejo ele soubera instantaneamente que estivera desejando aquilo desde que voltara da Alemanha. Somente não esperava que fosse tão intenso, e que o tiraria dos eixos.
Ele passara a manhã inteira pensando nela depois que a levara embora, e mesmo tendo decidido se manter longe da tentação de estar com ela novamente, lá estava ele desejando-a mais do que nunca. Que inferno de amor era aquele que exigia cada suor de seu rosto, e gota de sangue de suas veias? Nunca era o bastante ou suficiente apenas querê-la, ele tinha que esgotar todas as forças de seus músculos, e ar de seus pulmões para manter certa coerência em relação aos seus sentimentos por Anne sem que perdesse totalmente o senso e razão.
Ele era louco por ela, não podia negar. Toda sua alma, coração e mente eram dela, e nos adiantava dizer a si mesmo que estava procurando por encrenca ao deixá-la entrar em sua vida novamente. Seus lábios queriam se perder nos dela, seu corpo não parava de desejá-la, e seu coração já estava rendido a muito tempo.
Gilbert respirou fundo ao sentir seus instintos reagirem ao seus pensamentos. Estava enlouquecendo em se deixar levar assim por sua mente bem antes de uma cirurgia. Não era prudente, não era ético, não era como ele geralmente fazia as coisas.
Ele lavou as mãos e o rosto, acalmando assim a tensão em seu maxilar e ombros. Fez uma oração que aprendera com o pai em um ritual sempre repetido antes de qualquer cirurgia.
- Dr. Blythe, está na hora. - A enfermeira chefe veio avisar-lhe.
- Estou indo. – Gilbert disse, afastando qualquer pensamento aleatório de sua cabeça para somente se concentrar em sua longa e séria tarefa do dia.
Duas horas depois, Anne entrou no hospital a procura de Gilbert. Sentia-se ansiosa e nervosa, e não sabia bem como aquilo terminaria, mas queria tentar, abriria seu coração para Gilbert e deixaria sua insegurança de lado. O resto dependeria de Gilbert e do quanto ele a desejava em sua vida.
Ela se dirigiu a recepção para perguntar por ele quando ouviu uma voz conhecida dizer:
- Oi, Anne. Que bom vê-la novamente. - Anne se virou, viu Gabriela e sorriu:
- Olá, Gabriela.
- Veio ver o Gilbert? - Anne concordou com a cabeça.
- Bem, ele está em uma cirurgia, e não sabemos quando irá terminar. - Gabriela viu a decepção no rosto de Anne enquanto a ruivinha dizia:
- Que pena! Eu precisava tanto falar com ele.
- Fique tranquila. Assim, que ele terminar eu aviso que esteve aqui.
- Obrigada. – Anne disse com um sorriso triste, se virando para ir embora.
- Anne! - Gabriela a chamou e Anne olhou em sua direção enquanto ela continuava a dizer: - Eu torço por vocês dois.
- Obrigada. – Anne disse surpresa e foi embora.
Cinco minutos depois, Gilbert saiu da sala de cirurgia exausto, mas, satisfeito pois a operação fora um sucesso.
- Gilbert, como foi tudo? - Gabriela perguntou sorrindo.
- Bem. Agora temos que esperar vinte quatro horas para ver quais serão os reais resultados.
- Eu estava esperando por você para dizer-lhe que Anne esteve aqui quase nesse instante.
- Ela disse o que queria? - ele perguntou preocupado. Anne não viria falar com ele não fosse importante.
- Não. Ela apenas disse que precisava falar com você.
- Então, acho melhor ir atrás dela. – Ele disse sem pensar muito. Assim, correu para o estacionamento e dirigiu a toda velocidade. Se Anne estivesse em perigo queria estar lá para protege-la.
Um tempo depois Anne chegou em seu prédio, pagou o taxista e subiu os degrau da escada que levava até seu apartamento. Ela nunca gostara de elevador, e depois do que acontecera da última vez, ela abolira o uso dele completamente. Quando chegou no último degrau, ouviu a voz que mais desejara escutar naquele dia dizer:
- Anne! - ela se virou e viu Gilbert aos pés da escada, sorrindo lhe como a muito tempo ela não o via fazer. Ele parecia cansado, mas a olhava de um jeito bem diferente do que a tinha olhado na noite anterior. Será que tinha mudado de ideia a respeito dos dois?
Em resposta, ela pisou no segundo degrau para fazer o caminho de volta até ele, quando sentiu um empurrão em suas costas, ela começou a cair sem equilíbrio algum, e ainda tentou se segurar no corrimão, mas não conseguiu. A última coisa que viu, e ouviu foi o rosto preocupado de Gilbert enquanto ele gritava seu nome desesperado, e depois o silêncio e a escuridão a envolveu.
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