Capítulo 44- Feliz Aniversário
Olá, pessoal. Estou postando mais um capítulo, como sempre de madrugada. Neste tempo de quarentena fico ansiosa e tenho problemas para dormir, então escrever me salva um pouco dessa loucura toda. Espero que apreciem e relevem qualquer erro de ortografia que eu possa ter cometido, e por favor, me mandem seus comentários, eu preciso deles para saber se minha história está agradando ou não. Então, deixo aqui mais um capítulo desse dramalhão todo com um toque de suspense. Beijos e muito obrigada por tudo.
ANNE
Um mês depois
Anne chegou em casa e colocou as compras em cima da mesa da cozinha. Ir ao supermercado era uma das coisas que mais odiava fazer, principalmente porque depois tinha que guardar todas as coisas em seus devidos lugares, e isso levava um tempo considerável que ela não tinha.
Ela se sentou no sofá da sala para descansar por alguns minutos e checar suas mensagens, e viu com prazer que havia uma de Cole. Estava com saudades do amigo que não via há mais de um mês, pois ele continuava na Califórnia totalmente envolvido com seu trabalho novo. Ele faria uma exposição dali dois meses, e estava ficando maluco com a carga de trabalho acumulada.
Muitas vezes de madrugada ele ligava para Anne, desesperado com medo de não dar conta, e ela entre bocejos e cochiladas tentava ajudá-lo da melhor forma possível com conselhos e incentivos, da mesma maneira que ele sempre fazia com ela, mas no fundo ela sabia que era apenas uma neurose da cabeça dele, pois, no final tudo estaria pronto e maravilhoso como sempre. Cole era um artista nato, e faria sucesso em qualquer trabalho em que colocasse suas mãos talentosas.
Ela abriu a mensagem que dizia:
"Olá, minha linda. Está tudo bem com você? Eu continuo atolado no trabalho, mas espero terminá-lo logo, e depois da exposição, vou tirar umas longas férias. Mas, estou te enviando esta mensagem para combinarmos sobre o que faremos em seu aniversário. Eu sei que ele está próximo, e sei também que você é avessa à comemorações deste tipo, mas, desta vez vou logo avisando que não vai escapar de mim. Nós vamos nos divertir à beça, garota, se prepare, pois não vou economizar na diversão dessa vez. Eu tenho um amigo que é dono de um clube aí em Nova Iorque, e eu já aluguei o espaço por uma noite, portanto, não adianta me dizer que não quer fazer nada para comemorar seus vinte um anos. Já está tudo pronto para o grande dia no próximo sábado. Alegre-se garota, vai finalmente dar o grande passo rumo à sua maioridade. Não se esqueça de convidar o seu namorado estiloso. A propósito, teve notícias de um certo alguém? Beijocas, nos falamos na sexta.
Anne suspirou pensando no quanto Cole era abusado. Planejar uma festa sem consultá-la era mesmo do feitio dele, e dessa vez ele fizera tudo de um jeito que ela não teria como escapar. Ele sabia o quanto Anne detestava badalações em seu aniversário, pois ela sempre preferira ficar em casa e celebrar com poucos amigos em algo bastante informal, mas, pelo jeito dessa vez teria que abandonar seus planos de sair com Francesco para um jantar mais íntimo e pessoal.
Fazia um mês que ela e Francesco estavam namorando, e tudo corria muito bem. Por ser um homem ocupado, Francesco não tinha muito tempo a perder, por isso, acabavam se falando na maioria das vezes por telefone, e se vendo somente aos fins de semana quando Anne ou ele não tinham nenhum compromisso de trabalho.
Ela gostava de como as coisas estavam acontecendo entre eles, sem pressa e sem pressões nenhuma, pois Francesco era um homem que apreciava as boas coisas da vida, como um bom vinho, um jantar a dois, ir ao teatro ou opera. Não era afoito como a maioria dos caras que Anne conhecia. Ele a tratava com respeito, nunca a pressionava para terem um relacionamento sexual, pois ele sempre lhe dizia que um relacionamento entre um homem e uma mulher era mais do que simples amassos e paixões intensas. Aos trinta e cinco anos, o que ele desejava não era uma mulher para levar para a cama, porque já tivera muito disso em sua juventude. Ele queria alguém para lhe fazer companhia, e ser sua parceira de vida, e se isso levasse a um casamento e filhos, ele se daria por satisfeito, se não chegasse a tanto, ele se contentaria em ter mais uma amiga em sua lista de pessoas importantes em sua vida.
Anne apreciava imensamente essa maneira dele ver as coisas relacionadas a um casal. Ele lhe dava segurança, para que ela conduzisse o namoro dos dois de um jeito que não atrapalhava e não causava estresse a nenhum deles. Ela não estava apaixonada, mas pensava que tinha boas chances de ficar. Francesco era o homem que toda mulher desejaria ter como namorado ou esposo, e Anne tivera a sorte de ele se interessar por ela. Tudo estaria perfeito, se não fosse por uma coisa.
Ela olhou para sua agenda que sempre deixava em cima da mesinha da sala, e a abriu em uma página específica. Dentro dela havia uma pétala seca do buquê de rosas que Gilbert lhe dera, e ela a guardara ali como lembrança daquele dia. Porque ela a guardara, Anne não sabia responder, quisera apenas ter alguma coisa para senti-lo mais próximo dela, embora jurasse de pés juntos que não pensava mais nele.
Embora se policiasse o tempo todo para não se lembrar da existência de Gilbert, suas lembranças sempre a pegavam de surpresa e o traziam para ela, sem que Anne esperasse ou desejasse. Era um tormento que ela tentava evitar diariamente, e na maioria das vezes ela conseguia, o que era como uma vitória para ela que passara onze anos de sua vida sem tirá-lo da cabeça um dia sequer.
Anne estava seguindo em frente, e esse um de seus objetivos agora, e estar namorando Francesco lhe dava uma vantagem que antes não tinha. Ela passava mais tempo acompanhada do que sozinha, e isso era algo que a ajudava controlar seu coração e seus desejos. Esquecer Gilbert era o que vinha tentando fazer, não aconteceria de uma hora para outra, mas esperava que conforme seu relacionamento com Francesco fosse avançando, ela iria gradualmente parar de amá-lo, deixando finalmente no passado tudo o que viveram juntos,
Ela se levantou e foi até a cozinha onde iniciou sua tediosa tarefa de guardar o que comprara no supermercado, enquanto seus pensamentos ainda continuavam trabalhando. A última vez que vira Gilbert ainda mexia com ela, principalmente porque dessa vez eles tinham mesmo dito adeus um ao outro, e desejado as melhores coisas para cada um também. Porém, as últimas palavras de Gilbert fizeram com que ela chorasse por dias, e daqueles oito meses de rancor e raiva profunda, as palavras dele eram a única coisa da qual conseguia se lembrar.
Por que ele dissera que amava quando sabia que ela não o queria mais? Por que atormentá-la com aquilo quando ele não tinha a intenção de ficar? Ele dissera que a amava, e depois voltara correndo para Charlote Town, mostrando-lhe mais uma vez qual era a propriedade do coração dele. Mesmo assim, levara dias para que pensasse nisso sem que seus olhos marejassem, o extremo cuidado de Francesco nessa época com ela fora essencial para que ela se recuperasse logo. Não contara nada à ele, porém, ele percebera seu estado de espírito e passara a tratá-la com mais carinho ainda. Essa era uma das muitas coisas que gostava em Francesco, ele não se intrometia em sua vida pessoal, apenas esperava que ela lhe contasse o que estava se passando quando quisesse ou estivesse pronta. Anne ainda não tivera coragem de fazer isso, apenas imaginava que o dia que conseguisse falar de Gilbert para Francesco seria porque ele não significava mais nada em sua vida.
Anne terminou de guardar as compras, e depois preparou para si mesma uma xícara de chá, foi até a janela e observou a rua atentamente. Isso era algo que vinha fazendo constantemente nos últimos dias, não chegava a ser uma paranoia, mas, depois do que acontecera no dia em que Gilbert viera se despedir, ela começou a ficar mais atenta a certas coisas com as quais não se importava muito antes.
Mas, a verdade era que, vinha tendo sensações estranhas desde então, sempre que saía para correr tinha a impressão de que estava sendo observada, como se houvesse alguém escondido em algum lugar seguindo todos os seus passos. Às vezes achava que estava apenas impressionada, e por isso, sua mente criava esse tipo de receio, afinal, morava em Nova Iorque onde havia todo o tipo de gente maluca, e não era raro ouvir que uma mulher sofrera esse tipo de problema, e a classe artística ou de modelos não eram as únicas a estarem na mira de algum louco, No seu caso especificamente, não acontecera nada de grave, nenhuma ameaça explicita ou evidente, por isso, não podia dizer que estava sendo seguida por algum stalker.
Coincidência ou não, ela andara recebendo alguns telefonemas estranhos que assim que atendia, a pessoa desligava. Não deixava de ser curioso, mas também não podia dizer que aquilo estava relacionado ao outro incidente, por isso, não contara a ninguém e nem acionara a polícia, pois não tinha nada concreto nas mãos para fazer uma denúncia.
Anne saiu da janela, e resolveu ligar para Marilyn falando do seu aniversário no sábado e convidando-a para a festa. Marilyn adorava este tipo de evento, e Anne tinha certeza de que não podia deixar de convidá-la. Ela discou o número da amiga, esperou que ela atendesse.
- Olá, querida. Como você está? - Marilyn disse com sua voz agradável e alegre. Ela era uma das pessoas mais alto astral que Anne conhecia. Em todos os anos de convivência com ela, Anne nunca a vida de mal humor ou infeliz. Ela dizia que a vida era muito curta para ser desperdiçada com coisas tristes. Marilyn era pura luz se pudesse ser descrita assim.
- Estou bem, sim. Eu estou te ligando para fazer um convite. O Cole alugou um clube para comemorarmos meu aniversário no próximo sábado, e ficaria muito feliz se você fosse.
- É claro que irei. Você sabe o quanto eu adoro festas, e não perderia a sua por nada nesse mundo. - Marilyn falava agora cheia de animação.
- Que ótimo. Você poderia estender o convite para as outras meninas? Cole me avisou muito na última hora, e não terei tempo de falar com elas.
- Claro, querida. Espero encontrar seu namorado por lá. Que rapaz inteligente! Ainda por cima é médico. Você é mesmo sortuda, menina. - Anne respirou fundo ao perceber de quem ela falava. Pelo que ela podia ver, Gilbert já conquistara mais um coração.
- Marilyn. Eu não estou namorando o Gilbert.
- Ah, não? Betsy me disse que você estava namorando, pensei que fosse ele. Desculpe -me.
- Eu estou namorando Francesco Agipi. - Anne esclareceu.
- O empresário da Itália? Desculpe -me a franqueza, querida, mas não acha que ele seja muito velho para você? - Anne não se aborreceu com a pergunta. Era algo com o qual teria que lidar eventualmente.
- Francesco é uma excelente pessoa. A diferença de idade é o que menos importa neste caso. – Anne respondeu com cuidado.
- Tudo bem, eu respeito sua opinião. Mas, você tem certeza que é mesmo isso que quer? Gilbert me pareceu tão apaixonado por você. Será que não está precipitando as coisas? - Anne mordeu o lábio antes de responder. Ela vinha evitando envolver seus sentimentos nas escolhas que estava fazendo, deixando o seu racional comandar os caminhos que estava tomando. Porque se fosse pelos seus sentimentos ela sabia exatamente aonde iria parar, e sequer queria pensar naquela possiblidade de novo, por isso, respondeu com toda sinceridade do que foi capaz, e esperava que sua resposta convencesse a amiga de uma vez
- Sim, eu sei o que quero, e Francesco é a melhor pessoa para mim no momento.
- Bem, se você tem certeza disso, acho que não preciso questionar mais nada. Nos vemos na sexta então. Até logo.
- Até logo. - Anne respondeu, aliviada pela amiga não insistir mais naquele assunto.
Porém, a pergunta e as palavras de Marilyn ficaram rodando em sua cabeça, e mesmo tentando ignorá-las elas continuavam importunando-a, e em um dado momento se perguntou o que Gilbert tinha de tão especial que cativava a qualquer pessoa que se aproximava dele, especialmente mulheres de todas as idades? Era irritante saber que onde quer que fosse teria sempre alguma coisa que a faria pensar nele, por mais que lutasse contra.
Mesmo em Nova Iorque, onde ela achou que estava livre da presença dele, em poucos dias que ficara por ali Gilbert conseguira bagunçar sua vida, e ainda envolveu seus amigos nisso mesmo que o tivesse feito inconscientemente.
Ela pensou desanimada quantos quilômetros teria que colocar entre eles para que se sentisse segura e livre do que sentia por ele? Quando se livraria da lembrança daquele sorriso que insistia e. invadir seus pensamentos? A resposta não veio como esperava, e ela tratou de concentrar sua atenção nas tarefas que realizaria, pois teria um dia longo pela frente.
GILBERT
Gilbert estavam em seu consultório analisando os exames de Sarah. Ainda não lhes pareciam muito bons, mas ele não esperava um avanço rápido, afinal tinham começado o tratamento há apenas um mês e os resultados não viriam de uma hora para outra. Era preciso paciência, tempo e ter esperança. Era isso que ele tentava despertar em Sarah a cada consulta, e ela estava reagindo bem, tinha crises de depressão, o que era normal no seu caso, porém, nunca se entregava o que era bom, pois assim não agravava o seu estado já tão delicado. Gilbert via que ela estava se esforçando, e que tirava forças da sua fé. Sarah sempre fora uma mulher religiosa, e em muitas situações ela era inabalável, e por isso a admirava e faria o possível para ajudá-la, pois ela merecia toda a sua dedicação.
Quando voltará a Charlotte Town, ele ligara para o irmão dela, e descobrira que Sarah estava ficando na casa dos pais. Então, ele fora até lá e se espantara ao vê-la tão magra, a pele de um amarelado doentio, e os cabelos totalmente sem vida. Ela se surpreendeu ao vê-lo ali, não sabia que Gilbert tinha conhecimento de sua doença, pois poucas pessoas tinham.
- Como vai, Gilbert? - Ela parecia estar envergonhada do seu estado, pois escondia as mãos em um vestido que parecia duas vezes maior que ela. Gilbert tentou agir naturalmente, embora estivesse chocado com a aparência dela, não o demonstrou porque sabia que se o fizesse, somente aumentaria o desconforto dela, e a última coisa que Sarah precisava era que tivessem pena dela, e não era por isso que estava aqui.
- Estou bem. E espero que você logo esteja também. - ele tentou sorrir e Sarah olhou para ele interrogativamente
- O que quer dizer? – Sarah perguntou.
- Bem, vou te contar porque vim até aqui. - Assim, Gilbert passou a meia hora seguinte explicando a Sarah sobre sua viagem à Alemanha, e sobre o tratamento desenvolvido para casos como o dela. Quando ele terminou sua narrativa, Sarah olhou para ele e disse emocionada e perguntou:
- Você fez tudo isso por mim? - Gilbert pegou na mão dela e disse:
- Não é porque não estamos mais juntos que eu te abandonaria em uma hora dessas. Somos amigos, Sarah, e você podia ter me contado sobre sua doença antes. - Sarah baixou a cabeça e falou com lágrimas nos olhos.
- Não quis atrapalhar sua vida. – eles sabiam que ela se referia a Anne.
- Mais do que amigos somos família, Sarah e eu te ajudaria de qualquer maneira.
- Obrigada. Nem sei o que dizer.
- Você não precisa agradecer. É o mínimo que eu poderia fazer nesse caso. – eles se abraçaram, e assim continuaram a conversar sobre o assunto que trouxera Gilbert ali. Em um dado momento, Sarah perguntou:
- E como você e a Anne estão? - O olhar de Gilbert endureceu, e ele respondeu com seu coração apertado.
- Não estamos mais juntos. - Sarah o olhou espantada:
- Como assim? Vocês pareciam que se amavam tanto.
- A gente se ama, o problema é que estamos em momentos diferentes. - ele desviou o olhar de Sarah para que ela não visse a sua dor escondida por trás de sua couraça de médico eficiente e prático.
- Eu sei que está sofrendo, Gilbert. Eu te conheço bem. Me diga a verdade. Esse rompimento entre vocês têm alguma coisa a ver comigo? - Gilbert disfarçou suas reações, não queria que Sarah soubesse o que tinha acontecido. Na verdade, seu rompimento com Anne fora culpa dele, por não ter sido capaz de cumprir uma promessa, não fora culpa de Sarah, e sim das circunstâncias.
- Não, acho que o maior culpado fui eu. Eu não soube lidar com certas situações e acabei perdendo a mulher de minha vida. - sua voz falhou e Sarah segurou na mão dele e disse:
- Não fique assim, Gilbert, se vocês nasceram um para o outro como me disse uma vez, é só uma questão de tempo para que voltem.
- Não sei, Sarah. É o que também espero, mas as coisas estão bem complicadas agora, então, o melhor a fazer é esperar. No momento quero focar no seu tratamento que espero iniciar imediatamente. Despediram-se horas depois, já deixando dia e hora marcados para iniciarem o tratamento.
Isso foi há um mês, e o tratamento vinha sendo realizado desde então. Gilbert tinha se atirado de cabeça no trabalho, porque assim não sobrava tempo para pensar em sua vida amorosa que estava um caos. Durante o dia, ele mal tinha tempo para respirar, pois voltara a trabalhar no hospital de Charlotte Town, além de cuidar do caso de Sarah pessoalmente. O problema estava sendo suas noites, quando não conseguia frear seus pensamentos, principalmente ali em seu apartamento, onde havia tantas lembranças de Anne. O local estava repleto da presença dela, foi ali que passaram os últimos dias antes de Gilbert viajar e o que deveria ser motivo de alento para seu coração, era um tormento que ia aos poucos magoando-o e matando duas esperanças de tê-la de volta. Era tanto amor misturado com saudade e dor, que Gilbert não sabia o que fazer para parar de sofrer.
Ele tinha certeza que Anne ainda o amava, mas o rancor que sentia por ele era maior e fora isso que a atirara nos braços de outro homem, e por isso a perdera, por isso continuava amando-a mais que tudo, por isso ele nunca seria feliz se não a tivesse de volta, e tê-la de volta não parecia ser algo que aconteceria facilmente. Ele teria que lidar com sua saudade, e a angústia de ter que esperar que Anne o perdoasse e ele pudesse voltar a procurá-la.
Não a via pessoalmente desde que voltara, e embora soubesse que devia respeitar a vontade de Anne de não manter contato, ele morria de vontade de ouvir a voz dela, de saber como ela estava, de conversar como antigamente e contar um ao outro como o seu dia tinha sido. Agora a única maneira de vê-la era pelas redes sociais, ou eventos transmitidos pela TV, onde ela sempre estava acompanhada pelo seu novo namorado. O ciúme o corroía ao vê-los tão perto um do outro, as mãos dele na cintura dela como Gilbert costumava fazer. Como era possível que tanto amor entre eles tivesse se resumido a isso? A essa falta que sentia dela e que não tinha fim? Ele queria ficar feliz por vê-la tão bem ao lado de outro homem, mas, seu coração não aceitava aquilo, Como também não aceitava viver longe dela assim. Aquele distanciamento todo não fazia sentido, e ele se perguntava se ela acordava durante a noite pensando nele, como acontecia com ele, e se levantava de manhã desejando que Gilbert estivesse deitado ao seu lado, como muitas vezes ele tinha desejado. Imaginar Anne fazendo amor com outro homem o deixava louco, era como feri-lo com brasa acesa. Ele procurava não pensar nisso, mas quando a via pela televisão ou internet sorrindo para aquele homem como fizera no passado para ele, Gilbert sentia seu mundo desmoronar, então, ele procurava consolo na única coisa que lhe restara, seu trabalho, mas era um alívio temporário, e ele sabia que voltaria a doer no instante em que pisasse em seu apartamento, e a solidão o atingisse em cheio.
Gilbert sabia que era aniversário dela naquela semana, por isso deixara marcado em seu celular para não se esquecer de mandar uma mensagem, embora preferisse fazer isso pessoalmente. Estava pensando sobre isso quando recebeu uma mensagem de Cole. A princípio, ele estranhou, pois raramente falava com ele, depois ficou ansioso pensando que poderia ter acontecido algo ruim com Anne. Mas, logo respirou aliviado ao ver do que se tratava.
Olá, Gilbert. Eu sei que deve estar estranhando essa mensagem, mas queria apenas convidá-lo para o aniversário de Anne. Sei que estão estremecidos, mas, tenho certeza de que ela ficará feliz ao vê-lo lá. Espero que não falte. Estou enviando o endereço e horário, tenha um bom dia, doutor.
Após ler o recado de Cole, Gilbert pensou se deveria ir. Será que Anne gostaria realmente de encontrá-lo no dia de seu aniversário? A saudade era imensa, e estar com ela era o que mais desejava, especialmente nesse dia especial. Então, Gilbert soube que sei coração já tinha decidido.
ANNE E GILBERT
Anne acordou cedo naquele sábado, mas ao de pensar no que a esperava à noite, teve vontade de afundar a cabeça no travesseiro e dormir o resto do dia. Ela sabia que Cole tivera boa intenção, e não queria parecer mal agradecida, mas a verdade era que não curtia grandes festas em seu aniversário, mas decidira fugir a regra daquela vez e aceitar o inevitável, ou deixaria Cole magoado.
Ela se levantou, tomou café e checou suas mensagens. Todas lhe desejavam um feliz aniversário e confirmavam presença na festa. Apenas uma mensagem não chegara ainda, a de Gilbert, e ela não sabia porque exatamente estava esperando que ele se lembrasse, uma vez que ele deveria estar muito ocupado com o tratamento de Sarah.
Uma ferroada atingiu seu coração, e Anne se sentiu mal por ter ciúme daquela situação, pois ela sabia que Gilbert estava envolvido naquela história levado pelo seu senso médico e não por algum sentimento romântico que pudesse ter por Sarah, mas mesmo assim, ela sentia que ele se importava mais com a ex-namorada do que com seu relacionamento com Anne, e fora por isso que ela terminara com ele em primeiro lugar, por saber que não conseguiria levar na boa aquele tipo de situação. Talvez ela tivesse sido mesquinha diante da gravidade de tudo, mas não seria hipócrita de dizer que pensava diferente agora, não ia passar por cima dos próprios sentimentos só para fazer Gilbert se sentir melhor, pouco se importava que dissessem que ela era egoísta, pois tentara ser compreensiva no início e no que isso resultara?
Ela passou o resto do dia se arrumando para a festa, e no horário marcado Francesco veio buscá la, elogiando sua beleza ruiva em um vestido preto de seda. Ele também estava elegante em camisa social cinza e calças pretas, e qualquer mulher ao lado dele se sentiria orgulhosa.
Chegaram ao clube rapidamente, e milhares de fotógrafos vieram até eles pedindo que fizessem pose juntos. e ao entrarem no clube Anne foi abordada por Diana e Jerry, Josie e Ruby, e ela mal pôde acreditar que eles estivessem ali.-
- Diana, que bom que conseguiu vir. -Ela disse abraçando a amiga.
- Cole me ligou e não podíamos deixar de vir. - Diana disse sorrindo.
- Mas, e Laura?
- Minha mãe ficou cuidando dela. Elas se divertem muito quando estão juntas. – Jerry respondeu. Depois, retirou uma caixinha do bolso, e falou:
- Marilla e Matthew te mandaram este presente, eles disseram que vão te ligar amanhã.
- Eles são realmente adoráveis. – Ela abriu a caixinha e viu que era um anel delicado de pérolas pelo qual ela se apaixonou no mesmo instante. Em seguida ela abraçou Ruby e Josie e as agradeceu pela presença em sua festa.
- Nós não poderíamos deixar de vir. - Ruby disse sorridente.
- É Stuart? - Anne perguntou ao vê-la ali sem a presença ilustre de seu noivo.
- Está viajando a negócios. Ruby explicou.
- E eu fiz questão de vir até aqui para lhe agradecer por ter me ajudado arriscando a sua própria vida. - Josie disse abraçando Anne novamente.
- Não precisa me agradecer. Fico feliz que esteja seguindo com sua vida de maneira mais saudável – Anne respondeu sorrindo.
Logo, ela apresentou Francesco para seus amigos, e todos passaram a se divertir a valer. Depois de alguns minutos, Cole se juntou a eles e a festa ficou completa.
Estavam todos dançando e tomando champanhe, quando Ruby que estava sorrindo e falando sem parar, ficou mortalmente pálida e parecia ter se congelado no lugar onde estava. Anne foi a primeira a notar o desconforto da amiga e perguntou:
- Ruby, o que foi? Está se sentindo mal? - A menina mal conseguia responder, apenas apontou com a cabeça para a porta, e Anne seguiu seu movimento e então entendeu porque Ruby ficara estranha. Muddy acabara de entrar, e para o espanto de Anne, ele vinha acompanhado de Gilbert. Imediatamente ela olhou para Cole, pois tinha certeza que ele era o responsável por Gilbert estar ali. O amigo, notando o olhar de Anne se fez de desentendido assim que percebeu quem a acabara de chegar. Anne respirou fundo, e como boa anfitriã que era, foi ao encontro dos dois para dar-lhes boas vindas.
Gilbert viu Anne se aproximar, e pensou consigo mesma como ela estava linda. Qualquer roupa lhe caía bem, mas aquele vestido preto fazia a imaginação dele pirar. Depois de tanto tempo sem vê-la, seu coração parecia enlouquecido dentro do peito. Ele teve que se controlar para não agarrá-la ali mesmo fazendo uma cena que embaraçaria os dois.
Anne chegou mais perto, em seus passos hesitantes, tentando respirar normalmente. Gilbert estava ali, e ela não conseguia acreditar que depois de tudo ele era ainda o único a fazer o coração dela disparar daquele jeito. Ele não parava de olhá-la, e ela temeu que ele pudesse perceber seu nervosismo, e tentou manter a todo custo seu rosto sereno, e um sorriso nos lábios.
- Oi, Muddy. Que bom que você veio, - Ela disse assim que se aproximou deles.
- Parabéns pela festa. Está linda. - Muddy disse dando-lhe um abraço. Quando foi a vez de Gilbert cumprimenta-la ela disse:
- Oi, Gilbert. Não o esperava aqui. - ele a abraçou e disse em seu ouvido fazendo-a se arrepiar
- Você está linda. - ela olhou nos olhos dele e respondeu:
- Obrigada. – em seguida, Anne tentou se livrar dos braços de Gilbert, mas ele a manteve presa, impedindo-a de se afastar. Porém, naquele momento uma música lenta começou a tocar e ele disse:
- Dança comigo. - Anne queria dizer não, mas aquele olhar castanho a atraía. Ela olhou para onde estava Francesco e notou que ele conversava animadamente com Josie, então, ela assentiu com a cabeça e Gilbert a puxou suavemente para s pista de dança, e começaram a se movimentar no mesmo ritmo. As mãos de Gilbert acariciavam suas costas em um movimento de sobe e desce que começava a mexer com as emoções de Anne de tal maneira que ela começou a ficar inquieta, e se aproximou mais dele sem perceber. Era como se o calor que vinha do corpo dele despertasse no íntimo dela um desejo louco por mais contato. O cheiro dele era tão bom, a lembrava todos os momentos que estivera com ele, e a fazia ter consciência do quanto sentia falta dos carinhos de Gilbert, do seu beijo, e de tudo o mais que vinha dele e que a fazia amá-lo ainda mais, pois mesmo que dissesse a si mesma que não o queria mais, isso não mudava o fato de que ainda o amava.
Enquanto dançavam, eles não disseram nada, era como se a comunicação silenciosa que havia entre eles bastasse e ambos não precisassem de palavras. Quando a música terminou, eles finalmente se afastaram e Gilbert disse:
- Anne...mas foi interrompido pela voz de Cole no microfone que pedia pela presença dela. Anne olhou para Gilbert como se desculpando e foi até onde o amigo estava. E antes que cantassem o tradicional parabéns para você, Francesco pediu a palavra e pegou o microfone que Cole segurava e começou a falar.
- Caros amigos. Eu conheço essa garota linda a bastante tempo, e somente agora consegui que ela me aceitasse como seu namorado. Mas, já faz algum tempo que sei que ela é a mulher perfeita para mim, por isso minha querida Anne... Ele tirou uma caixinha do bolso, abriu-a e de dentro tirou um anel de brilhantes e perguntou: - Aceita ser minha noiva?
A pergunta a pegou de surpresa, e por um momento ela não soube o que responder. Ela olhou para Diana, que balançava a cabeça como se pedisse silenciosamente que ela não aceitasse, para Cole que estava tão espantado quanto ela, e por último para Gilbert que parecia paralisado no lugar esperando para ver o que ela responderia.
Anne demorou ainda um minuto pensando que ali estava sua chance de recomeçar sem nenhum Gilbert Blythe em seu caminho. Enquanto sua cabeça lhe dizia que Francesco era seu futuro, seu coração gritava que Gilbert era o homem que amava. Ela então se decidiu por fim, dizendo para Francesco com um sorriso:
- Eu aceito. - muitos aplausos se seguiram enquanto Francesco dava-lhe um beijo e colocava o anel em seu dedo. Ela então tomou coragem e olhou novamente para onde Gilbert estava, mas o local vazio indicava que ele tinha ido embora. A partir daí a festa pareceu perder o brilho, e de vez em quando ela olhava para o anel que parecia pesar em seu dedo.
- Tem certeza disso, Anne? É isso mesmo que quer? - era Diana exigindo-lhe uma explicação.
- Sim. É isso mesmo que eu quero. Ela respondeu sem olhar para a amiga.
- Você se esquece que te conheço tão bem. Por que está mentindo se nos duas sabemos que você ainda ama Gilbert?
- Diana, não quero falar sobre isso. Já tomei minha decisão. - Anne disse teimosamente, sem querer admitir que a amiga tinha razão.
- Espero que não se arrependa depois, e seja tarde demais. – Diana disse encerrando a conversa.
A festa durou ainda por algum tempo, e circulando entre os convidados, Anne viu Muddy e Ruby conversando em um canto, e desejou que eles se acertassem, pois embora a amiga estivesse noiva, ela ainda era apaixonada por Muddy como havia lhe confessado, e de repente Anne se deu conta que estava na mesma situação. Sorriu amargamente ao pensar em que confusão tinha se metido, mas agora estava feito e não poderia voltar atrás.
Quando a festa acabou Francesco a levou embora-, e se despediram com um beijo em frente ao prédio dele. Anne não o convidou para subir, pois ela sabia que ele não aceitaria. Francesco era um italiano à moda antiga que achava que não ficava bem uma moça como Anne receber um homem estando sozinha em casa, mesmo esse homem sendo seu noivo. Ela achava isso bobagem, mas respeitava a maneira de Francesco pensar, ele fora criado assim, e ela deveria aceitar sua maneira de ser.
Anne estava se preparando para dormir, e já tinha até colocar o seu pijama, quando a campainha tocou. Anne imaginou que era Cole, pois o amigo fugira dela a noite toda depois que Gilbert chegou. Ela queria muito saber porque ele tinha convidado seu ex-namorado para a festa de seu aniversário quando ele sabia que ela estava empenhada em esquecê-lo.
Ao abrir a porta ela deu de cara com Gilbert que a olhava seriamente. Que mania ele tinha de aparecer na casa dela tarde da noite, ela pensava enquanto o convidava para entrar.
- Eu vim até aqui para te entregar isso. - ele disse assim que estava dentro do apartamento dela.
- O que é? - Anne perguntou olhando para a caixa que ele trazia nas mãos.
- É o seu presente. Quis te entregar na festa, mas não tive a oportunidade. - ela abriu a caixa e viu que o que havia dentro dela era o livro As Horas de Virginia Wolf. Anne olhou encantada par a o livro e ficou espantada por Gilbert ainda se lembrar que ela era fã daquela autora.
- Obrigada, Gilbert. Eu adorei.
- Então é assim que termina, Anne. - ele disse fazendo-a olhar para ele confusa.
- O quê? - ele pegou na mão dela, e apontou para o anel.
- É assim que termina nossa história, você noiva de outro homem? - a voz dele era triste e tocou o coração de Anne.
- Gilbert, eu...mas, ele a interrompeu e continuando a falar.
- Não precisa dizer nada, e nem precisa se explicar, eu sei que a culpa foi minha, eu te deixe o ir embora e te perdi.
- O que quer que eu diga, Gilbert? Que sinto muito e que me arrependo? - Anne perguntou na defensiva
- Não, eu é que devo sentir muito, e também tenho muito do que me arrepender, principalmente de não ter te convencido a ir comigo para a Alemanha. - Eles ficaram se olhando por um tempo que pareceu durar uma eternidade, então, Anne, quebrou o silêncio desconcertante e disse:
- Isso é passado Gilbert.
- Não para mim. Mas deve ser para você, pois decidiu seguir em frente sem mim. Anne não disse nada, e Gilbert continuou:
- Eu te amo tanto, Anne, e por isso, vou te deixar ir e ser feliz com quem quiser. - ele se aproximou e Anne fechou os olhos esperando pelo beijo que não veio, pois Gilbert depositou um beijo e seu rosto, deixando-a desapontada
- Adeus, Anne. Seja feliz. - ele tocou o rosto dela pela última vez, e saiu pela mesma porta por onde havia entrado.
Anne se sentou no sofá olhando o anel e o livro que tinha nas mãos, tentando coordenar seus pensamentos que naquele instante estavam em uma confusão total.
Uma batida na porta a fez- se levantar apressadamente, e correu para abrir a porta pensando que talvez fosse Gilbert que resolvera voltar e continuar conversando sobre tudo o que acontecera aquela noite. Porém, quando a abriu não havia ninguém, e sem querer olhou para baixo onde havia um caixa que não estava ali antes. Curiosa, Anne a pegou nas mãos e ao abri-la levou um susto, pois dentro havia uma rosa vermelha, uma cruz e um cartão que dizia: Feliz Aniversário.
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