Capítulo 43- Como no princípio
Olá, queridos leitores mais um capítulo para alegrar seu dia em épocas tão difíceis que estamos vivendo. Espero pelos comentários, e peço que relevem os erros ortográficos, pois escrevi de madrugada e quando puder eu edito. Beijos.
GILBERT
Gilbert olhava a janela do apartamento da Anne cuja luz ainda se mantinha acesa, e sentiu uma vontade imensa de subir até o andar onde ela vivia, bater em sua porta e verificar se ela teria coragem de se recusar a falar com ele quando estivessem cara a cara, mas balançou a cabeça e mudou de ideia novamente. Fazia quase uma semana que ele realizava o mesmo trajeto. Assim que escurecia, ele pegava um táxi, descia em frente do edifício de Anne, e ficava esperando-a chegar do trabalho exatamente às 5:30 da tarde. Em seguida, ficava observando-a cumprimentar o porteiro com seu sorriso deslumbrante, subir as escadas, sem paciência para esperar pelo elevador e desaparecer de seu campo de visão deixando seu coração entristecido.
Aquilo estava se tornando um hábito, ou talvez um vício fosse a palavra correta para seu comportamento que não era nada convencional para um cirurgião experiente como ele. Mas a verdade era que quando se tratava de Anne fazia coisas como se fosse um adolescente de quinze anos e não um homem de vinte quatro.
Mas, a culpa era de Anne se ele aparecia ali todos os dias no mesmo horário, tentando encontrar um meio de se aproximar dela, pois esgotara todas as suas tentativa de fazê-la ouvi-lo. Ela não respondia às suas mensagens, bloqueara seu telefone, também não lia os e-mails que lhe enviara diversas vezes, e a única coisa que restara fora esperar fora do apartamento dela feito um idiota apaixonado que não conseguia mais se concentrar em coisa alguma que não fosse reconquistá-la.
Ela o vinha cozinhando em banho Maria, como se pretendesse mantê-lo a distância segura de seu coração, brincando com suas emoções, levando-o ao limite de sua paciência e fazendo-o tomar de um remédio difícil demais de engolir, por que cada vez que Gilbert via Anne nos braços daquele homem que sequer sabia o nome, ele sentia o ciúme corroer cada pedaço do seu autocontrole, e se afastava antes que sua raiva fosse maior que seu lado civilizado, levando-o a cometer uma besteira desnecessária. O problema era que Anne Shirley Cuthbert era uma pedra no seu sapato, um desejo inacabado, uma obsessão antiga que o acompanhava desde sua tenra infância. Gilbert não escolheu amá-la, fora escolhido, ele não pretendia deseja-la daquele jeito, mas quem conseguia convencer seu coração do contrário? Dizer que era perda de tempo, que estava dando murro em ponta de faca, que estava se magoando por causa de uma mulher que não lhe dava trégua nenhuma, com quem não conseguia mais falar, pois o considerava persona non grata era inútil. .
Gilbert sabia que estava sendo um tolo, e que o responsável por seu infortúnio era ele mesmo, e que correr contra o tempo não o ajudava em nada-, já que o seu tempo naquela cidade estava se esgotando.
Sua cabeça lhe dizia que era para deixar Anne ir, viver sua vida com calma e tranquilidade , pois ele tivera sua chance e deixara escapar, mas ao mesmo tempo em que esses pensamentos cruzavam sua mente, ele sentia uma dor tão aguda que não o deixava se conformar em perdê-la, e seu outro lado implorava para que lutasse, porque ela valia a pena, e por que lá no fundo daquela alma ruiva havia muito amor ainda por ele, e então, a sua agonia recomeçava de novo e não havia previsão de que quando teria fim.
Não podia correr atrás dela para sempre, ou se jogar os seus pés toda vez que se encontrassem, já implorara demais pelo amor dela no passado, e não sabia se teria forças para continuar fazendo isso. Porém, havia uma coisa que mexia com sua cabeça naqueles dias, que continuava fazendo com que ele viesse para o mesmo lugar todos os dias. Vê-la com outro homem lhe dera a percepção de que ela podia ser feliz com outro homem que não fosse ele, e esse pensamento lhe era intolerável.
Gilbert olhou para o seu relógio de pulso, e percebeu que já era tarde e precisava ir, mas por alguma razão ele não conseguia se mover dali. Mesmo quando as luzes do apartamento de Anne se apagaram ele continuou no mesmo lugar, tendo consciência de que estar ali na escuridão da noite era o máximo que podia estar próximo dela. De repente, as lembranças de oito meses atrás quando se despediram no aeroporto cruzaram sua mente como em um flash, e Gilbert se lembrou dos olhos dela que o seguiram até o avião cheios de uma emoção que ele conhecia muito bem, pois se sentira do mesmo jeito. Quando embarcara, ele apenas desejara que o tempo passasse tão rápido, e que ele pudesse voltar para ela ainda mais apaixonado e cheio de saudades , mas as coisas não correram como ele esperara, e ficara por dias dividido entre cumprir sua promessa que fizera a Anne, e terminar o que fora fazer na Alemanha, e acabara escolhendo a segunda opção por pensar que o tempo naquele caso corria contra ele e a favor da doença de Sarah, pois ele sabia que a vida dela estava se esvaindo com a mesma rapidez que roubara vitalidade e disposição de seu pai.
O juramento de Hipócrates gritou dentro dele, ao lembrá-lo que qualquer vida humana deveria ser salva e colocada acima de qualquer interesse pessoal de um médico, e foi isso que fizera.
Entretanto, ele não culpava Anne por não entender o que a Medicina significava para ele, e também não a responsabilizava pelo término do relacionamento deles. Gilbert sabia dos riscos quando optara por ficar na Alemanha mais tempo do que estipulara, somente não calculara o tamanho do sofrimento que isso lhe causaria.
Ele respirou fundo, e caminhou até um ponto de táxi. Não quisera alugar um carro para que pudesse se locomover de um lado a outro, porque não ficaria muito tempo em Nova Iorque. Sua intenção fora ficar somente o suficiente para resolver sua situação com Anne, e depois voltar para Charlotte Town, pois tinha que começar a trabalhar no tratamento que ofereceria para Sarah. Ele não estava feliz com o rumo que as coisas tinham tomado. Estava voltando para casa de mãos vazias, e não era isso que desejava, mas no fundo ele sempre soubera que a Medicina era uma das profissões mais solitárias do mundo, salvava-se vidas, o que era gratificante, mas tirava tudo de alguém que desejava se dedicar a ela, sobrando muito pouco para compartilhar com quem estava do lado de fora.
Gilbert não se arrependia de ser médico. Ele gostava de cuidar de pessoas, e fazê-las se curarem ou melhorarem de suas dores. Tinha suas frustrações com seus fracassos, mas amava muito o que fazia, apenas nunca imaginara que pagaria um preço tão alto por ser um médico dedicado, e nesse caso o preço que pagara fora perder Anne.
Gilbert chegou no hotel, e foi recepcionado pela atendente com um sorriso. O nome dela era Isabella, e ela e Gilbert tiveram alguns minutos de conversa naquela semana em que ele estivera hospedado ali, e acabaram se tornando bons amigos. Ela também tinha um relacionamento complicado com o noivo que vivia em outra cidade, e esse fato em comum acabou aproximando os dois e estreitando os laços de amizade.
- Boa noite, Dr. Blythe. .
- Boa noite, Isabella.- Gilbert respondeu sorrindo.
- É então, conseguiu se acertar com a namorada? – Ela respondeu interessada em saber. Tinha se afeiçoado sinceramente aquele rapaz, e a sua história de amor a encantava, por isso torcia para que tudo desse certo para ele.
- Não, não falei com Anne. Não tive coragem. Eu vou voltar para casa em dois dias, então, achei melhor deixar tudo como está. – Ele disse tristemente.
- Eu sinto muito. - Isabella lamentou.
- Eu também. – Gilbert respondeu pegando o elevador que o levaria ao seu quarto.
Assim que entrou no quarto, ele verificou os dois recados que apareciam no visor de seu celular. Um deles era de um antigo professor de Faculdade, que pedira para que ele fosse até o hospital onde ele era diretor, pois queria falar com ele assim que ele pudesse. Gilbert respondera que estava retornando para casa, e que quando pudesse voltaria a ter contato.
O segundo recado era de Muddy, que pediu a Gilbert que ligasse para ele assim pudesse, e ele resolveu fazer isso naquele mesmo momento.
- Olá, Gilbert. Como você está? Tentei te ligar várias vezes, mas você não atendeu, então deixei recado.
- Meu celular estava fora de área. Você precisa falar comigo?
- Na verdade queria te fazer um convite. – Muddy disse todo animado.
- Muddy, não sei se estou a fim de me socializar nesse fim de semana, além do mais, volto para casa na segunda, então, pensei em passar esses últimos dois dias tranquilamente.
- Deixe de bobagem, Blythe. É mais um motivo para querer sair. Depois, você se enterra naquele hospital, e não terá tantas oportunidades de se divertir de novo.
- Está bem. O que manda? - Gilbert perguntou respirando fundo.
- Estou saindo com modelo, e ela vai participar de um desfile amanhã, e me deu dois ingressos Vips, e achei que você gostaria de ir comigo. - embora a animação de Muddy fosse contagiante, Gilbert não estava interessado neste tipo de evento, não era sua praia e com certeza se sentiria um peixe fora d'água naquele ambiente glamoroso.
- Muddy, não acho que me divertiria em um ambiente assim. Você deve ter outros amigos a quem gostaria de convidar.
-Você não aceitaria nem mesmo se soubesse que a Anne vai estar lá?- Muddy perguntou divertido.-
- O que? - Gilbert ficou sem fala por um segundo, o coração disparado enquanto a ansiedade tomava conta dele. Ver Anne de novo e se aproximar dela era tudo o que ele queria, mas será que deveria? Não queria dar ao seu tolo coração mais um motivo para ter esperanças.
- Sim, A Anne vai desfilar para uma marca importante. Achei que gostaria de saber. - Gilbert nunca tinha visto Anne desfilar, e sua curiosidade fora aguçada enquanto pensava que ela deveria ficar linda naquelas poses de modelo de passarela. Ele já a tinha visto em um cartaz, mas isso tinha sido a anos. Gilbert pensou melhor e resolveu que iria, pois seria a última vez que teria a oportunidade de vê-la, antes de partir
- Tudo bem, Muddy. Eu aceito. Não terei muita coisa para fazer amanhã. – Gilbert disse finalmente se rendendo a sua incapacidade de resistir a tudo que estava relacionado a Anne.
- Eu sabia que você não recusaria. - Muddy respondeu fazendo um barulho do outro lado da linha como se comemorasse Gilbert ter aceitado o convite. - Eu passo para te pegar amanhã às sete.
- Tudo bem, Muddy. Tenha juízo e boa noite. - aquela era uma frase que seu pai sempre usara quando elegerá adolescente e saía à noite para se divertir com alguns amigos, inclusive Muddy, e fez Gilbert sentir saudades.
- Pode deixar, amigão. Se cuida.
Gilbert desligou o telefone e ficou pensando em quanta saudade estava sentindo de Anne. Se falaram somente duas vezes desde que ele voltara, e em nenhuma delas tiveram uma conversa civilizada. Precisava vê-la pelo menos uma vez antes de partir, mesmo que fosse apenas para observá-la a distância. Com esses pensamentos em mente, Gilbert acalmou seu coração que ainda batia descompassado pelas lembranças da única mulher que ele realmente já amara, fechou os olhos e tentou dormir.
ANNE
O sábado amanheceu cheio de expectativas para Anne. Teria um grande evento de desfile para participar, no qual representaria uma marca famosa, e sempre se sentia nervosa, apesar de já ter participado de milhares de eventos assim. Seu coração estava apreensivo e sua cabeça a mil, Ela mal dormira à noite, e isso também tinha um bom motivo. Gilbert Blythe continuava em sua cabeça, mesmo que lutasse para arrancá-lo de lá. Ele parecia estar impregnado em seu sangue, de um jeito que não conseguia deixar de lembrar de cada detalhe daquele rosto que memorizara linha por linha. O cheiro dele estava em sua pele, e as lembranças não a deixavam exorcizá-lo de sua vida de vez.
E não melhorava nada o fato de ele ainda estar em Nova Iorque, pois ficava a todo momento procurando por ele em todos os lugares que ia, mesmo as chance de ele frequentar esses lugares fossem bem pequenas. Não queria pensar nele, mas ele era como um feitiço que a pegara de jeito e do qual não sabia se livrar. Seu amor por Gilbert parecia sempre estar acima de tudo, mesmo quando fingia que não se importava se ele ligava para ela ou não, ou se lhe mandava mensagens.
Era verdade que tinha bloqueado o número dele, quando percebeu que estava ficando ansiosa demais por suas chamadas, e também não respondia às suas mensagens mas não podia negar que esperava por elas todos os dias. Quando ele parara de enviá-las ela chorara, odiando a si mesma por não conseguir amá-lo menos, mas se manteve firme em seu propósito de não deixar que ele tivesse acesso a sua vida indefinidamente.
Fazia cinco dias que ele voltara e já tinha bagunçado sua vida, e seus nervos viviam em frangalhos. Anne sentia muita falta de Gilbert, especialmente agora que ele estava tão próximo. Sentia falta das conversas que tinham e como ele a ajudava a se sentir mais calma e segura de si. Estar com ele sempre fora a parte favorita do seu dia, e agora lhe doía não poder sequer lhe dizer um bom dia por mensagem.
Ela agia dessa forma para se proteger, cansara de ficar na linha de fogo entre ele e o seu trabalho, e Anne sabia que se acontecesse uma situação na qual Gilbert tivesse que escolher entre ela e a Medicina, ela sabia bem qual seria a escolha dele. Era uma rival tão injusta essa que tinha, porque nunca a venceria de fato. Se sentia como se fosse sempre a segunda opção, e não queria mais ocupar o segundo lugar na vida de Gilbert. Queria ser a única e absoluta, e se não fosse para ser assim, preferia nunca mais vê-lo. Talvez pensar assim fosse interpretado como egoísmo da parte dela, mas decidira que dali por diante se colocaria em primeiro lugar, nunca mais se deixaria dominar por um sentimento que a fizesse se contentar com migalhas de amor. Ela teria o pacote inteiro e não aceitaria nada menos.
Conversara com Cole sobre isso, e ele lhe dissera:
- Você sabe que sou do time Blythe, mas se acha que ele não te faz bem, o melhor a fazer é partir para outra.
- É o que estou tentando fazer, Cole. Eu e Francesco estamos nos encontrando novamente, você sabe. - Anne comentou com o amigo.
- Ah, sim. O italiano poderoso e lindo que me apresentou uma vez. Mas, você vai ter que me perdoar querida. Sou ainda mais o Gilbert que ele. Acho que tenho um fetiche por cirurgiões jovens. E te juro que se eu tivesse uma chance, e se ele não fosse tão hetero, eu jogaria algumas cartas na mesa, mas sei que é impossível. - Cole falou com seu ar afetado fazendo Anne rir.
- E por que é tão impossível assim? - ela perguntou.
- Que chances eu teria contra esse monumento de ruiva a minha frente? Querida, você pode estar pronta para desistir de Gilbert Blythe, mas ele não está pronto para desistir de você, e se não entendeu isso ainda é uma tola. - Anne dera de ombro ante essa afirmação, mas, não falara para Cole que estava lutando contra seu coração para colocar sua vida finalmente nos trilhos, e sem a influência de Gilbert para atrapalhar tudo.
Marilyn fora outra pessoa com quem quisera falar sobre o fato de ela ter contado a Gilbert sobre onde ela estava morando. Quando ela dissera para a amiga parar de bancar o cupido, a garota a olhara com os olhos arregalados e dissera-:
- Você está louca? Vai mesmo deixar aquele homem lindo escapar? - Anne revirou os olhos ao constatar que Gilbert tinha ganhado mais uma fã sem muito esforço.
- A questão não é essa. Você não sabe de toda a história. - Anne tentou explicar.
- O que sei é que você é uma tola, e não consegue ver o quanto aquele homem te ama. Ele não precisou me contar a história toda para eu perceber a força do sentimento que ele tem por você Não se finge sentir um amor assim, Anne. É grande demais para que seja possível. - Marilyn dizia aquilo com tanta convicção que qualquer pessoa acreditaria, e para ela lhe dizer isso era porque Gilbert realmente a tinha impressionado, pois Marilyn era uma das pessoas mais céticas a respeito de sentimento que Anne conhecia.
- Marilyn, creio que Gilbert ama mais a Medicina. É a coisa mais importante da vida dele.
- Não foi essa a impressão que tive. - Marilyn disse.
- Gilbert sempre será médico antes de qualquer coisa. – Anne respondeu com certa tristeza.
- Bem, querida. Você deve saber o que está fazendo. Não vou me intrometer mais. - Marilyn encerrara a conversa dessa maneira, mas Anne pensara sobre isso a semana toda.
Ela sabia o que estava fazendo? O que desejava realmente? Ela sabia qual era a resposta, por isso não ousava dizê-la em voz alta, ou acabaria caindo de novo no fascínio que tinha por Gilbert, e precisava se libertar dele o quanto antes.
Francesco era uma ótima pessoa, e Anne queria tanto se apaixonar por ele, sabia que ele era o homem certo para fazê-la feliz, mesmo que dentro dela sua alma inteira gritasse que estava errada. Ela se sentia segura com ele, seus encontros eram calmos, e sem grandes expectativas, que era exatamente o que ela precisava agora. Com Gilbert sempre havia aquela ansiedade na boca de seu estômago, aquele fogo que queimava sua pele e a deixava desnorteada, aquela sensação de estar sendo levada por um redemoinho que não sabia onde iria parar, era tão excitante quanto angustiante, a deixava exausta e também cheia de vida, tinha que admitir, mas não queria mais isso, não queria amá-lo daquele jeito a ponto de se sufocar. Queria o que tinha com Francesco, mesmo que não houvesse paixão, havia boa conversa, mesmo que não houvesse toda a excitação que os beijos de Gilbert provocavam nela, havia aquela sensatez de saber onde estava pisando, sem medo de estar sendo conduzida para um abismo interminável de sentimentos complexos e que machucavam.
O barulho do celular trouxe Anne de volta para o seu quarto onde aplicava uma máscara relaxante para o rosto, e hidratação nos cabelos. Duas mensagens haviam chegado, uma de Francesco lhe pedindo desculpas pois não.podia comparecer ao desfile naquele dia, pois ficaria preso em uma reunião de trabalho, e outra de Cole que dizia:
E aí minha linda. Está pronta para sua noite de glamour? Estarei lá com certeza na plateia, te aplaudindo como sempre e de desejando todo o sucesso do mundo. Vai lá e arrasa, ruiva. Te espero na saída para comemorarmos, se não tiver nenhum de seus pretendentes por perto para roubá-la de mim. Até mais, meu amor.
Anne riu da mensagem de Cole. Ele sempre fazia isso para deixa-la mais animada com seus desfiles. Ele sabia da insegurança que ela sentia toda vez que estava em uma passarela, e nunca tinha evoluído para pânico por conta desse cuidado que ele sempre tivera com ela. Cole era seu irmão não de sangue, mas de vida.
Ela se deitou na cadeira de descanso que havia em seu quarto e resolveu relaxar, esperando que os produtos agissem em seu rosto e cabelos. Anne colocou uma música suave, e fechou os olhos na esperança que a serenidade da melodia que ouvia também acalmasse seu coração.
GILBERT E ANNE
Os bastidores do desfile estava uma confusão de plumas, paetês, modelos e estilos de roupas de todos os tipos, garotas sendo maquiadas, vestidas, outras ainda passeavam pelos corredores usando apenas com um robe fino, em busca do look perfeito para aquela noite.
Anne estava em um canto da sala sendo maquiada por um maquiador famoso de Nova Iorque, enquanto um cabeleireiro experiente cuidava de sua cabeleira ruiva. Ela estava uma pilha de nervosos, tamborilava seus dedos na mesinha ao lado, tentando se distrair da tensão que tomava conta de seu corpo, Estava a ponto de chorar, mas se controlou, pois borraria toda a maquiagem, e gastaria o dobro do tempo para refazer tudo de novo, e em dia desfile grandes atrasos eram muito pouco tolerados. Anne desfilaria pela Dior, e as roupas que apresentaria eram fantásticas. Já tinha desfilado para essa marca antes, e sabia da qualidade dos produtos que vendiam, ela própria tinha várias roupas da Dior que tinham um excelente caimento e elegância. O ponto final do desfile seria um vestido lindíssimo que encerraria a noite com chave de ouro.
- Olá, querida. Vim te desejar boa sorte. - ela olhou para o lado e viu Marilyn toda arrumada para o desfile, ela representaria a marca famosa espanhola Zara, e estava lindíssima como sempre, com seus longos cabelos loiros e sedosos presos em um coque elegante.
- Eu também te desejo sorte. Estou um pouco nervosa. – Anne confessou.
- Não precisa, você sempre arrasa. – Ela disse sorrindo para Anne, e apertando suas mãos em encorajamento, e depois disse em uma voz com tom conspirador. - Você viu quem está na plateia?
- Não- Anne respondeu.
- Então vá ver com seus próprios olhos. - Marilyn incentivou.
Assim, Anne foi até a porta de entrada dos bastidores e deu uma espiada pensando que veria alguém famoso ou importante que viera prestigiar o evento, como sempre acontecia. Mas, seus olhos se arregalaram ao olhar para o meio da plateia e ver um charmoso e não menos lindo Gilbert Blythe conversando animadamente com Muddy. "Não, não e não "O que ele está fazendo aqui? ela gritou dentro da própria cabeça. Se não bastasse todo o seu nervosismo com o desfile, ainda teria que se preocupar com Gilbert observando-lhe cada movimento.
Aquilo ia ser um pesadelo sem precedentes. Ela voltou para os bastidores quase surtando com o coração disparado. Se pudesse abandonaria tudo naquele instante e correria para a segurança de seu apartamento. Mas, não.podia fazer isso ou seria multada em milhões por causar danos e embaraço para a marca. Por que em nome de Deus, Gilbert tinha vindo? Por que tinha que atormentá-la, até em seu ambiente de trabalho? Por que Gilbert tinha que estar sempre em seu caminho? Queria seguir em frente, mas como poderia se estava sempre esbarrando nele por ai? Ela viu Marilyn olhando para ela de maneira interrogativa, mas não teve tempo de dizer nada, pois avisaram que o desfile ia começar.
Logo, as modelos foram entrando uma a uma e fazendo o seu desfile, até que chegou a vez de Anne. Ela nunca achou que seria tão difícil entrar em uma passarela, depois de passar anos fazendo a mesma coisa, e daquela vez ela pressentia que seria três vezes pior. Mas, como boa profissional que era, ela fez sua entrada com um sorriso nos lábios, e tremendo por dentro. Anne chegou até o fim da passarela, e depois retornou pelo mesmo caminho que viera enquanto era aplaudida, e mesmo fazendo o possível para não olhar para onde Gilbert estava, em um vacilo dela seus olhos cruzaram com o dele, e aquela atração que sempre a empurrava para ele se fez presente, e tudo pareceu desaparecer no ar, como se só existissem os dois naquele espaço, naquele ambiente, naquele instante. Mas, então, Anne percebeu o que estava acontecendo e continuou seu caminho até o final, deixando Gilbert completamente fascinado.
Ele nunca a tinha visto assim, maquiada daquele jeito e vestindo roupas tão sofisticadas que pareciam terem sido feitas exatamente para ela. Seu andar ensaiado não deixava de ser sensual, e sua garganta chegou a ficar seca pela necessidade que tinha de ver mais daquela mulher que tivera nos braços tantas vezes, que sussurrara seu nome enquanto a amava cheio de paixão, aquela garota que fora sua melhor amiga um dia, e que naquele momento era o único amor de sua vida. Anne desapareceu de seu campo de visão, e Gilbert se sentiu ansioso por vê-la mais em seu habitat natural, onde ela desfilava sua graça, seduzia com seu olhar sutil, porém profundo, onde seu corpo representava uma marca, mas era toda ela em sua essência.
E logo ela retornou, e se Gilbert a achara linda antes, agora não tinha palavras para descrevê-la. Ela usava um vestido esplendoroso da cor vinho. Tinha uma calda comprida atrás, e na frente a saia do vestido era curta deixando as pernas bem torneadas dela a mostra enquanto andava. Quando ela fez o giro tradicional das modelos para mudar de direção para onde estava indo, uma chuva de fios rubros voaram ao redor dela em cachos perfeitamente enrolados nas pontas, e sem esperar Gilbert se lembrou de Anne deitada em sua cama com todas aquelas mechas espalhadas como um manto sedoso. Ele fechou os olhos, tentando capturar aquela imagem em sua mente, para ter algo mais para se lembrar dela quando fosse embora na segunda-feira.
Anne voltou para os bastidores sentindo o olhar de Gilbert sobre ela. Seu coração tinha ficado com ele, assim como tudo dela. Gilbert a tinha em suas mãos e ela sabia que recuperar cada pedacinho dela que ele tinha roubado levaria a vida inteira. Tanto ela quanto as outras modelos voltaram para os aplausos finais, e ela relanceou um olhar para onde Gilbert estava e percebeu desapontada que ele já tinha ido embora. Ela saiu da passarela e foi trocar de roupa, e enquanto checava algumas mensagens em seu celular, uma das camareiras do evento se aproximou dela com um buquê de rosas vermelhas na mão, e disse:
- Me pediram que entregasse a senhorita este buquê.
- Obrigada. - Anne disse sorrindo, imaginado que seria de Francesco. Mas, quando olhou o cartão que dizia "Você estava maravilhosa esta noite", ela viu que era de Gilbert, e ele assinara "com amor, G.". Ela respirou fundo para desfazer o nó que se formara em sua garganta, passando o dedo indicador devagarzinho sobre cada letra que ele escrevera com sua caligrafia caprichada.
- Que lindas as suas rosas" - Susan, uma das garotas do desfile disse admirada - Mas, não tão lindas quanto o moreno que as trouxe. Meu Deus, que homem mais sexy, o sorriso dele poderia levar qualquer garota ao céu. Quem me dera ser apresentada para um cara como aquele. - Anne ouviu tudo o que a garota dissera fervendo por dentro, pois a descrição que ela fazia com certeza era de Gilbert, e ela percebeu que odiava que ele estivesse em Nova Iorque se exibindo para todas as suas amigas, que olhavam para ele como se fosse um deus na terra, e logo depois se recriminou por ficar com ciúmes quando não tinha mais nada com ele.
Anne foi para a casa de táxi. Cole que ficara de vir para seu desfile, mandara-lhe uma mensagem na última hora dizendo que não conseguiria chegar a tempo. Ele estava na Califórnia trabalhando, e ficara preso no aeroporto por causa de mau tempo. Assim, ela estava sozinha naquela noite de sábado. Quando chegou em casa colocou as rosas em um vaso com água, deixando-as na mesinha da sala para enfeitar o ambiente. Depois, tirou a roupa, tomou um banho, vestiu uma camisola, indo para cama em seguida, onde pensou em tudo o que tinha acontecido naquela noite, inclusive nos olhares que ela e Gilbert trocara.
Ela acordou de manhã se sentindo ansiosa, por esta razão, ela tomou um café da manhã leve, vestiu roupas de ginástica e decidiu correr no Central Park Depois de uma hora de corrida, ela achou que era melhor voltar, pois como era domingo, ela decidiu que visitaria sua tia Amélia que não via a um bom tempo, e que já estava com a saúde precária. Quando estava na metade do caminho para o seu apartamento, ela percebeu que estava sendo seguida por alguém que ela não conseguiu ver se era um homem ou uma mulher. Anne começou a se sentir bastante apavorada, ao notar que conforme ela aumentava o ritmo, a pessoa também fazia o mesmo, ela diminuía, a outra pessoa copiava seu gesto. Seu pânico cresceu e ela não sabendo o que fazer começou a tremer, apressando o passo cada vez mais até que corria em disparada pela ruas de nova Iorque. Anne virou a esquina, e percebeu aliviada que era o seu prédio, ela correu mais um pouco em direção à entrada quando se chocou com uma montanha de músculos que a impediram de continuar, e que seguraram firme em sua cintura. Ela se virou para se defender com unhas e dentes do agressor quando viu aliviada que era Gilbert que estava ali. Sem pensar, Anne atirou seu braços envolta do pescoço dele, e começou a chorar copiosamente, ao mesmo tempo em que ele lhe afagava os cabelos.
- O que foi, Anne? Você está machucada? - ele perguntou preocupado com o choro dela; -
- Não. - ela respondeu com a cabeça enterrada no pescoço de Gilbert, e depois tentou contar o que tinha acontecido. - Eu fui seguida e estou apavorada.
- Você quer que eu chame a polícia? - Gilbert perguntou preocupado.
- Não. - Anne respondeu enxugando as lágrimas com o dorso das mãos. – Eu não tenho certeza do que vi, não sei se foi fruto da minha imaginação ou se confundi tudo em minha cabeça, não tenho nada como prova para dar a polícia.
- Está bem. Quer que eu te acompanhe até no seu apartamento? – Ela apenas balançou a cabeça concordando. Eles entraram no prédio, passando pela portaria e pegando o elevador, e todo o tempo Anne segurava na mão de Gilbert com força e a apertava cada vez que se lembrava do que tinha acontecido momentos antes.
Eles chegaram na porta do apartamento de Anne, e ela o convidou para entrar, e seus olhos recaíram sobre as rosas em cima da mesinha da sala.
- Obrigada pelas flores. Eu adoro rosas vermelhas. – Anne disse se sentindo meia sem jeito. Quase treze anos conhecendo Gilbert Blythe e ele ainda conseguia deixá-la sem graça, ela pensou. Como podia esquecê-lo se só de ficar frente a frente com ele sentia que seu coração ia sair pela boca? Ela tentou se controlar enquanto ouvi-o dizer.
- Você estava fantástica ontem à noite. Sempre pensei que esse tipo de trabalho não fosse para você, mas percebi que estava enganado, você nasceu para estar em cima de uma passarela, é maravilhosa demais para ficar escondida em um uniforme de professora de literatura. - Anne sentiu seu rosto ficar mais corado que o ruivo de seus cabelos e murmurou um obrigada quase inaudível.
- Bem, vim apenas me despedir. Volto para Charlotte town amanhã. - Anne sentiu um baque em seu coração ao ouvir aquela notícia. Então, Gilbert estava indo embora outra vez, e ela sentiu raiva de si mesma por se abalar tanto com aquela notícia.
-Quer dizer que está indo para casa? - ela se ouviu dizer e quis morder a própria língua pelo som sair magoado demais.
- Você sabe que tenho que ajudar Sarah. Foi por isso que fui até a Alemanha, e agora que tenho um pouco de esperança para dar a ela, não posso mais perder tempo. Tenho que começar a agir imediatamente.
- Ah, claro, Sarah. Quase tinha me esquecido. - Gilbert ignorou o som sarcástico da voz dela, estendeu a mão e disse:
- Adeus, Anne. Espero que ele te faça feliz. - ela pegou as mãos que ele estendia e respondeu.
- Adeus, Gilbert. Espero que consiga ajudar Sarah a melhorar, Ela é uma boa pessoa, e merece uma segunda chance. - Gilbert balançou a cabeça concordando com ela, e assim, ficaram se olhando por um minuto infindável, até que ela se inclinou para dar um beijo no rosto dele de despedida, mas, Gilbert foi mais rápido, e a puxou para seus braços, e logo seus lábios estavam sobre os dela, macios, exigentes e quentes, não deixando dúvidas nenhuma do que sentia naquele momento. Ela o enlaçou pelo pescoço, sentiu o calor das mãos dele em sua nuca, massageando-a de leve, enquanto ela colava seu corpo no dele querendo sentir pela última vez os músculos rígidos dele contra os seus. Ele intensificou o beijo, ela acariciou os cabelos dele, suas mãos macias correndo pelas costas dele, ao mesmo tempo em que ele apertava sua cintura.
Tantos sentimentos em um único minuto em que suas almas novamente se reencontraram, e se reconheceram. Havia tanto para dizer ali mas não disseram nada, havia tanto para partilhar, mas preferiram guardar para si mesmos seus pensamentos, suas emoções e seus desejos. Não era tarde demais para voltarem atrás, mas deixaram o instante passar, e quando Gilbert se separou de Anne, ele tocou o rosto dela com a ponta dos dedos e sussurrou em seu ouvido, "eu te amo para sempre". E assim ele partiu deixando-a sozinha, parada no mesmo lugar sem conseguir se mexer, foi quando a realidade da partida de Gilbert a atingiu e ela se jogou no sofá ente as almofadas e chorou até que adormeceu em meio a sua desolação.
Lá fora, alguém observava de longe quando Gilbert partiu, alguém que não deveria estar ali, alguém que queria vingança e que desapareceu nas sombras prometendo a si mesmo que ela não escaparia da próxima vez.
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