Capítulo 17- Revelações
GILBERT
Gilbert olhou para Sarah incrédulo. Não conseguia acreditar que ela estivesse ali. Por mais que tivesse desejado aquilo nos últimos dias, nada o tinha preparado para vê-la tão de repente, e sem nenhum aviso. Ele controlou a expressão de seu rosto, não querendo que ela percebesse o quanto estava chocado pela sua súbita aparição, mas se sentindo ao mesmo tempo aliviado, por saber que a sua agonia chegaria ao fim, que ele e Anne poderiam finalmente ficar juntos, e que aquela pressão em seu peito por conta da culpa que sentia chegaria ao fim. Não queria magoar Sarah, mas sabia que seria inevitável. Não se contava algo assim para alguém sem que a outra pessoa saísse ilesa.
Foram anos juntos, compartilhando momentos, mas uma coisa Gilbert não compartilhara, o seu coração. E isso por si só já era uma traição na concepção de Gilbert, mas nãos sabia disso naquela época. Ele estava ferido e magoado e ter Sarah por perto o ajudara a suportar seu sofrimento, não pensara que teriam que conversar sobre isso no futuro, e que a pessoa que mais o ajudara seria a que mais seria prejudicada naquele processo de término de relacionamento. Gilbert não queria que ela sofresse, mas não poderia continuar naquela situação que acabaria por magoar muito mais pessoas.
Ele não seria mais justo se mentisse para ela e continuasse arrastando aquele relacionamento indefinidamente. Sarah poderia odiá-lo agora, mas depois veria que isso era o melhor, o que o deixava triste era que a amizade que sempre tiveram não resistiria a toda aquela situação, e Gilbert em sã consciência sabia que não poderia exigir que ela fosse tão generosa a ponto de querer conservar algum laço entre eles.
Gilbert respirou fundo, colocou seu melhor sorriso no rosto e disse tentando se preparar para o que diria depois:
- Olá, Sarah. Você não me avisou que vinha. – foi até ela e lhe deu um beijo rápido, e sentou-se na poltrona ao lado dela.
- Eu também não planejei isso, mas como vou ter que ficar mais tempo cuidando de meu pai, tive que voltar para pegar algumas coisas que vou precisar. Como estão as coisas por aqui? - ela perguntou-lhe sorrindo.
- Estão bem. Sebastian e Mary saíram em uma pequena viagem, mas estão para voltar a qualquer momento. Minha folga termina hoje, então amanhã cedo devo voltar ao hospital para cuidar de meus pacientes regulares. – por que estava perdendo tempo falando sobre coisas tão práticas, quando deveria estar falando para Sarah o que realmente lhe importava? O problema é que não estava encontrando nenhuma brecha para começar a falar.
- Você parece estar passando mais tempo aqui do que no seu próprio apartamento. Passei por lá mais cedo, e me pareceu que você não dorme por lá há dias. – Sarah observou examinando-lhe o rosto com atenção.
- Na verdade vim para cá esse fim de semana, mas durante a semana eu fico por lá por ser mais perto do meu trabalho. Mas, você sabe que prefiro muito mais a fazenda, e só não moro mais aqui por conta da comodidade que meu apartamento trás.
- Eu sei. Você é mais do campo que da cidade. Não sei como suporta essa calmaria toda. Eu prefiro a cidade onde tudo acontece e não se tem vizinhos mexeriqueiros para se intrometer em nossas vidas. – Gilbert sabia da aversão de Sarah pela vida pacata de sua fazenda, e somente o acompanhara algumas vezes porque ele lhe pedira, mas ela nunca escondera que agitação da cidade a atraía consideravelmente, e que viver em um lugar como aquele a mataria de tédio. Mais uma coisa que ela diferia de Anne, que preferia a calma Avonlea à badalação de Nova Iorque, e isso somente mostrava a Gilbert porque ele e Anne combinavam perfeitamente.
Ele aproveitou a pausa que ela fizera para ir direto ao ponto que mais lhe interessava. Dar voltas e mais voltas no assunto não o estava agradando, e por isso resolveu falar de uma vez, antes que a oportunidade passasse e ele continuasse com aquela bomba em suas mãos.
- Sarah, precisamos conversar. Você se lembra que queria falar com você aquele dia no hospital mais não foi possível? – ele perguntou olhando-a nos olhos.
- Sim, eu me lembro. E depois não tivemos mais tempo para conversarmos. – de repente, ela apertou os dentes, levando a mão a cabeça.
- Você está bem? – ele perguntou, vendo-a empalidecer.
- Sim, é apenas minha enxaqueca que resolveu se tornar diária. E antes que pergunte, eu já' estou vendo um médico para tratá-la. Porém, você sabe que não é um problema simples de resolver.
- Eu sei. Você quer mesmo conversar ou prefere deixar para outro dia? – Gilbert sentiu seu coração se afundar com a possibilidade de ter que adiar aquela conversa de novo.
- Não. Vamos conversar agora. Não sei quanto tempo vou ficar fora, e faz tempo que você quer falar comigo. Se é algo que temos que resolver juntos, vamos tratar disso agora. – Gilbert respirou fundo novamente, e se perguntou como diria aquilo sem parecer insensível ao sofrimento dela, mas percebeu que deveria ser o mais honesto possível, pois Sarah não era o tipo de mulher que aturasse rodeos, sempre preferira as coisas às claras, não havia uma outra maneira de dizer o que pretendia, então ele falou:
- Sarah, eu quero terminar.
- O que? – ela perguntou parecendo mais pálida ainda do que a um segundo atrás.
- Eu não quero que pense que planejei isso, mas quero ser sincero com você.
- Então, seja. Estou esperando por uma explicação para você querer terminar uma relação que sempre pareceu ser satisfatória para nós dois.- ela disse fixando seu olhar nele.
- É esse o problema, Sarah. Satisfatório não parece ser suficiente para mim.
- Como assim, Gilbert? Você sempre disse que gostava de mim, e que gostava do jeito que conduzimos nosso relacionamento.- Sarah continuava pálida e Gilbert se preocupou, mas não ia desistir agora.
- E gosto, mas não como você merece. – ele respondeu.
- E de que maneira acha que deve gostar de mim?
- Você deve ser amada, Sarah, como a mulher maravilhosa que é. Eu não posso fazer isso, porque amo outra mulher.- ele por fim disse, vendo o olhar de Sarah endurecer.
- E você somente descobriu isso agora. Depois de desses anos de relacionamento? Ou quer me convencer de que se apaixonou por alguém do dia para noite, pois sei que isso não seria verdade. Eu te conheço muito bem e jamais isso aconteceria com você. É ponderado demais, pensa e analisa tudo com precisão, pesando os prós e os contras, não age por impulso, e isso o torna o excelente cirurgião que é. Então, pensando dessa forma, isso não aconteceu ontem, não é? – Sarah perguntou esperando que ele confirmasse o que estava pensando.
- Não, não aconteceu ontem. É um amor antigo. Eu te falei sobre ele, você se lembra?
- Você está me dizendo que quer terminar tudo comigo por causa de um amor de adolescência? Você ficou maluco, Gilbert? E os nossos planos para nos casarmos? E o futuro que planejamos juntos? – Gilbert estava se sentindo mal com tudo aquilo, mas o que poderia fazer? Como amenizar o golpe? Não havia um caminho mais fácil, teria que lhe contar tudo.
- Sarah, me desculpe. Eu errei por ter deixado isso ir longe demais.
- O que está dizendo? Que nosso namoro foi um equívoco? Que eu fui um erro em sua vida? – ela se levantou alterada, andando de um lado para outro.
- Não, Sarah. Eu estou dizendo que deveria ter sido sincero com você sobre meus sentimentos antes, e deixar você decidir se desejaria continuar ou não. Mas, fui egoísta, pois quando te conheci eu precisava desesperadamente de alguém que me ajudasse a sair de toda aquela loucura em minha cabeça, e você foi sempre tão maravilhosa comigo.
- Você nunca me amou, não é? – ela não esperou pela confirmação dele e continuou. – No fundo, eu sempre soube, mas quis me enganar dizendo a mim mesma que com o tempo você me amaria, mas, no fim eu fui somente conveniente para você.- Sarah se sentou novamente, sem olhar para Gilbert, segurando o queixo nas mãos.
- Sarah, não foi assim. Eu realmente queria me casar com você, mas as coisas se complicaram e eu não soube como lidar com elas. – Gilbert queria tanto que ela compreendesse, mas sabia que a situação era difícil demais para ambos.
- Essa garota voltou? É por isso que está aqui me dizendo tudo isso? - ela tornou a olhar para ele.
- Sim. – ele respondeu simplesmente.
- É a Anne, não é? – ele não respondeu de pronto, se perguntando como ela descobrira. Seu olhar devia ter revelado isso, pois Sarah respondeu o que ele mentalmente se perguntara sem dizer oralmente o que estivera pensando.
- Eu percebi no dia da festa pela maneira como vocês se olharam. Não foi um olhar de amigos, e sim um olhar intenso e cheio de sentimentos. Na hora, pensei ter imaginado tudo, mas você começou a mudar depois daquilo e eu não quis confrontá-lo diretamente sobre isso. Depois, me pai adoeceu e não tive mais cabeça para nada.
- Sarah, eu sinto tanto. Não queria que tivéssemos chegado a isso. – Gilbert disse com pesar.
- Sabe o que é pior? Eu não consigo te odiar por não ter sido sincero durante todo esse tempo. Eu te amo tanto que não consigo ter raiva de você. Não vou mentir dizendo que não estou magoada, por que estou. Mas, compreendo que não se manda no coração, e eu jamais iria desejar ficar com um homem que não me ama ao meu lado. Eu também não odeio a Anne. Diante das circunstâncias, eu não posso culpá-la pelo que está acontecendo entre nós.
- Sarah, eu nem sei o que dizer. – Gilbert sentia seu coração tão triste. Depois do que contara a Sarah, ela apenas se mostrava decepcionada com ele. Gilbert esperara por gritos, choro e lamentações, mas depois pensou que Sarah jamais reagiria assim, não era de seu feitio agir como uma mulher neurótica. Ela sabia se controlar muito bem, mesmo que estivesse furiosa. Mas, mesmo assim, sua aceitação passiva o surpreendera.
- Não quero que diga nada, Gilbert. Já me disse o suficiente. Não sei se vou conseguir perdoá-lo um dia, mas espero que seja feliz. Também não me surpreende que tenha se apaixonado por Anne, ela é uma mulher belíssima, muito diferente de mim.- ela se levantou, pegou sua bolsa e caminhou para porta.
- Sarah, você também é uma mulher muito bonita. Gilbert disse e estava sendo sincero.
- Mas não o suficiente para fazê-lo se apaixonar por mim. – ela lhe sorriu tristemente.
- O fato de eu me apaixonar por Anne não tem nada a ver com a beleza dela. Eu a amo por razões diferentes do que pensa. Essa coisa entre nós sempre existiu desde que nos vimos pela primeira vez quando eu tinha onze anos e ela nove. Ela realmente é linda, mas a essência que vem de dentro dela é que me faz amá-la mais.
- Eu espero sinceramente que você esteja terminando comigo por alguém que realmente valha a pena. Fique tranquilo, eu vou pedir transferência do hospital para a cidade de meus pais, assim você não terá que me ver todos os dias e se sentir constrangido.
- Você não precisa fazer isso por minha causa. Eu posso...- ela interrompeu o seu protesto dizendo:
- -Não estou fazendo isso por você, estou fazendo por mim. Não vou conseguir trabalhar ao seu lado vendo você feliz com outra mulher. E por favor, não me peça para sermos amigos, pois eu jamais conseguiria ser sua amiga, te amando como eu te amo.- ela abriu a porta e saiu, enquanto Gilbert a acompanhava sem saber mais o que dizer a não ser.
- Sarah, espero que você fique bem e que seja feliz.
- Você também. – ela respondeu sem sorrir.
- Estimo melhoras para o seu pai.
- Obrigada. – ela entrou no carro, fez uma manobra e partiu, deixando Gilbert na porta da sala, sem saber muito bem o que pensar de tudo aquilo.
Ele entrou em casa e se sentou no sofá pensando que estava finalmente livre para viver seu amor com Anne. Mas, apesar da alegria de poder realizar seu antigo sonho de amor, ele não se sentia feliz por ter magoado Sarah, embora ela tivesse se comportado melhor do que esperara. Sarah era uma mulher adulta e sempre resolvia seus problemas daquela maneira. Ao longo dos anos aprendera admirar sua calma à frente de vários problemas, algumas pessoas podiam confundir aquilo com frieza, mas Gilbert sabia que ela sempre agia de maneira adulta sem se deixar pelo desespero, por mais que o problema fosse difícil, Sarah era sempre prática e otimista. Era uma qualidade admirável, que Gilbert sempre apreciara nela.
Por outro lado, ele tinha que pensar em sua vida agoira, seguir em frente e planejar seu novo futuro que com certeza incluía Anne, se ela permitisse que ele fizesse parte de sua vida. Teriam que lidar com várias coisas, principalmente com a distância, pois a carreira de Anne estava toda em Nova Iorque e a dela em Charlotte towm. Por nada no mundo, ele pediria a Anne que desistisse de sua carreira por ele, pois achava importante que ela tivesse sua própria profissão. Talvez ele pudesse se mudar para Nova Iorque, pois médicos eram necessários em qualquer lugar e sua reputação o habilitava em trabalhar onde quisesse, assim seria muito mais fácil para ele mudar de casa do que privar Anne de fazer algo que ela amava.
Com esses pensamentos em mente, ele pegou o telefone e ligou para Anne. A voz doce dela atendeu a chamada no segundo toque, e ele desejou estar com ela naquele momento.
- Oi, Anne. Desculpe estar ligando a essa hora. Não, não é nada com o Mathew. Será que você poderia jantar comigo amanhã em meu apartamento? Tenho algo a lhe contar e é importante. Podemos marcar às oito horas? Quer que eu passe para te buscar? Está bem então te espero lá. Já estou com saudades, - ele sussurrou e sorriu ao ouvir a resposta dela. Se despediu e desligou o telefone, pensando que não via a hora de ver Anne e lhe contar as novidades, sabendo conscientemente que o dia demoraria a passar.
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Olá. Mais um presente para vocês. Por favor comentem, quero saber o que acharam. Feliz natal, Beijos.
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