Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 114 - Lucy

ANNE

Era estranho acordar em uma cama que não era sua, e não ter o cenário do céu de Nova Iorque bem diante de sua janela. Foi com esse sentimento de estranheza, que Anne despertou naquela manhã nublada e demorou cinco minutos para lembrar de onde estava.

A festa de aniversário do marido de Bertha tinha acontecido no dia anterior, mas não fora esse o ponto alto de tudo. Fazer as pazes com sua mãe biológica e consequentemente com seu passado, deu a Anne um ânimo novo. Só depois de sentir o alívio que apenas o perdão traz foi que ela percebeu o quanto andava pesada nos últimos anos.

Seu coração parecia ter também alcançado um tipo de felicidade plena, pois depois de todos os percalços que enfrentara em seus vinte e dois anos de vida, ela fora premiada com as melhores coisas da vida. Um homem que além de ser seu melhor amigo, era o amor que teria a vida inteira, um companheiro para todas as horas e por quem seria eternamente apaixonada, dois filhos lindos que eram sua alegria, um trabalho gratificante, e as melhores pessoas do mundo ao seu lado.

Perdoar Bertha lhe dera a chance de entender que também estava fechando as portas do passado, não de forma negativa, pois as experiências que tivera ao longo dos anos lhe fizeram dar valor a coisas que realmente importavam, e que moldaram seu caráter para melhor.

Ela sabia que ainda teria muitas coisas que modificar dentro de si mesma, mas sentia que estava no caminho certo, uma vez que se dera a chance de errar, aprender com o erro e seguir em frente. Não havia mais nada que quisesse agora a não ser viver sua vida plenamente sem se apegar a coisas que pudessem fazê-la regredir, e cair novamente no buraco da autopiedade e mágoa. Anne compreendera agora que não fora a única a passar pela agonia do abandono. Bertha também fora abandonada, primeiro pelo homem que lhe jurara amor, depois pela família que não a acolhera quando mais precisava de uma mão amiga, e por fim pela vida que a derrubara mais de uma vez, mas felizmente não a fizera desistir.

Sua mãe era uma mulher forte, que não abaixara a cabeça para os obstáculos que tentaram impedi-la de continuar, e mesmo agora, com uma terrível doença enfraquecendo seu sistema imunológico, ela continuava lutando sem se abster, sem reclamar, sempre com um sorriso sereno no rosto como se seu caminho estivesse cheio de rosas e sem nenhum espinho. Era difícil imaginar uma situação assim, saber que seus dias estavam contados, e tentar realizar o máximo de seus sonhos possíveis, até que tudo se tornasse apenas um borrão no horizonte de sua existência.

Pensando em tudo isso, quase fez Anne se envergonhar da maneira como enfrentara sua paralisia temporária, porque mesmo sofrendo com aquilo, ela nunca correra risco de vida nenhum, e sempre soubera que não ficaria confinada em uma cadeira de rodas para sempre, enquanto que Bertha tinha que se levantar todas as manhãs, sabendo que aquele seria um dia a menos no calendário de sua vida, e Anne se perguntava como ela conseguia viver com essa sentença sobre a própria cabeça.

-Uma moeda por seus pensamentos. - Ela ouviu o marido dizer, enquanto as mãos dele corriam por seus fios despenteados e espalhados pelo travesseiro branco, onde Anne repousava a própria cabeça.

-Não é nada demais. Eu estava apenas pensando na coragem de Bertha em conseguir levar sua vida sem se lamentar por tudo o que em breve irá perder. - Anne respondeu, passando os dedos pelo rosto de Gilbert, cuja barba de um dia já começava a aparecer.

-Ela realmente forte, mas conheço alguém que é igualzinho.- Gilbert disse, aproximando o rosto da esposa e a beijando na ponta do nariz.

-Não acho que eu seja tão forte assim.- Anne respondeu, recusando a aceitar o elogio que o marido acabara de lhe fazer.

-É claro que é. A maior prova disso foi tudo o que enfrentou meses atrás.- ele a prendeu no círculo dos seus braços, e Anne descansou sua cabeça no peito dele como costumava fazer quando estavam juntos na cama. Acordar com Gilbert era ainda melhor do que dormir a noite toda com ele, pois ele sempre tinha aquele sorriso preguiçoso nos lábios e a voz rouca era capaz de fazê-la viajar por todas as fantasias que já tivera com ele.

-Não acho que seja uma grande comparação, pois depois de passado o risco da cirurgia, minha vida nunca mais esteve em perigo, e mesmo estando desesperada por não conseguir mexer minhas pernas, você sempre me garantiu que eu voltaria a andar. O que me faltou foi paciência, talvez um pouco da serenidade de Bertha para entender que meu corpo seguiria o seu próprio curso para a cura, e que não seria eu a estabelecer o tempo certo para isso. - Anne concluiu.

-Concordo com você em partes, mas não quanto à sua força. Você se manteve firme na disposição de se curar, e não desistiu. É lógico que houve momentos em que se sentiu fragilizada. Essa é uma condição normal a todos que passam pelo que você passou, mas não diminui sua conquista de forma nenhuma. Cada pessoa tem uma forma de lutar contra seus medos como luta pela própria vida, mas isso não quer dizer que existe um grau maior ou menor de coragem. Você se agarra aquilo que o momento lhe oferece, por isso é que te digo que você é tão forte quanto sua mãe. - Gilbert disse, fazendo Anne sorrir e entrelaçar seus dedos e dizer:

-Acho que esse foi o melhor elogio que me fez até hoje. O engraçado é que antes eu não queria ter nada que me fizesse ser parecida com Bertha, e agora me sinto particularmente feliz por saber que temos algo em comum.

-Eu sempre achei ambas muito parecidas, não só na aparência, mas em muitos aspectos no caráter também. Eu nunca te disse nada porque não sabia bem como receberia essas minhas palavras.- Gilbert falou, fazendo Anne se virar para ele para que pudessem se encarar diretamente nos olhos.

-Eu entendo. Realmente não estava aberta para aceitar nada que pudesse me igualar a Bertha no sentido físico ou emocional. Havia muito rancor em meu coração. - Anne disse, desenhando círculos com o dedo indicador no peito do marido.

-Fico feliz que tenha superado isso. Você não sabe o quanto sofri por vocês duas, principalmente, por ver o quanto você ainda estava magoada e eu não podia fazer nada para te ajudar. - Gilbert disse, beijando-a na testa.

-Você me ajudou muito, meu amor. Com seu apoio, sempre me dando colo quando eu precisei, e principalmente por me fazer ver pouco a pouco o quanto eu estava errada por não me libertar dessa mágoa infantil dentro de mim. Sou grata mais uma vez por ter o melhor marido do mundo ao meu lado.- Gilbert lhe deu um daqueles seus sorrisos que dispensava palavras, porque entre eles, seus olhares eram o único diálogo que precisavam.

Com delicadeza, Gilbert puxou o rosto dela em sua direção, e um beijo calmo se iniciou. Anne sentiu as mãos dele correndo sobre o tecido fino da camisola de seda que Bertha havia lhe emprestado na noite anterior, pois quando vieram para a festa, Anne não planejava passar a noite. Por isso não trouxera nada para dormir, assim como Gilbert que usava a calça do pijama do marido de Bertha que não tinha o mesmo porte físico dele. O jovem médico era um pouco mais magro, e por esta razão a calça ficara um pouco folgada, mas nem isso tirou a beleza dele, que para Anne sempre seria o homem mais lindo e sexy que já havia conhecido.

Gilbert abandonou-lhe os lábios para provocar-lhe a pele do pescoço, mas quando as mãos dele mudaram de rota, e chegaram até os seios de Anne, ela achou que era hora de barrá-lo antes que as coisas esquentassem demais entre eles para que pudessem parar.

-Não podemos, querido. - Anne disse, afastando as mãos de Gilbert de seu corpo.

-Estou sentindo sua falta. Ontem a noite não me deixou chegar nem perto de você. - Gilbert disse, com um bico de amuo que fez Anne olhar para ele encantada. Gilbert se tornava um garotinho mimado quando Anne lhe recusava uma noite de amor. E ele ficava tão adorável com aquele olhar carente sobre ela, que a ruivinha quase cedeu, mas ao se lembrar que estavam na casa de outra pessoa, ela resolveu manter sua posição sobre o assunto.

-Não vou me sentir confortável, fazendo amor com você em um quarto que não é nosso, e ainda por cima correndo o risco de alguém nos ouvir. Você não é exatamente silencioso, meu amor.

-Nem você. Principalmente quando te toco aqui. - ele disse, descendo a mão maliciosamente em direção ao sexo de Anne.

-Eu sei. Por isso precisamos nos controlar. Prometo que quando chegarmos em casa, vou te compensar por isso. - Anne disse, beijando-o no rosto.

-Você promete mesmo? - Gilbert perguntou, puxando-a em direção ao seu corpo.

-Sim.- Anne afirmou.

-Então vamos apenas namorar com beijos, e isso eu não vou dispensar de jeito nenhum. - ele murmurou, capturando os lábios dela, enquanto Anne apenas pensava no quanto amava aquele rapaz que era seu mundo inteiro.

GILBERT

O café da manhã foi servido assim que Anne e Gilbert se levantaram e foram em busca da dona da casa. Era a primeira vez que Gilbert via Anne sorrir de verdade estando ao lado de Bertha, e nunca ela lhe parecera tão bonita.

Havia uma serenidade naquele rosto perfeito que ele nunca deixara de admirar, e os olhos maravilhosos dela tinham um brilho diferente agora, como se viesse de dentro e ver tal transformação em alguém que por um bom tempo carregara suas batalhas interiores sozinha, era incrivelmente fantástico.

Observando a mesa cheia de gente, Gilbert também não podia deixar de pensar que indiretamente Anne acabara de realizar seu sonho de ter uma família maior, pois ele se lembrava bem de que quando eram ainda crianças, ela desejara ardentemente ter irmãos e irmãs, pais amorosos que se sentariam em pleno domingo em volta da mesa do almoço e jantar, e compartilhariam daquele momento feliz todos juntos. O engraçado era que o dia era mesmo domingo, estavam todos sentados à mesa, e a única diferença era que estavam tomando o café da manhã, mas mesmo assim estava valendo.

O olhar do rapaz se concentrou em Bertha que parecia ter rejuvenescido da noite para o dia. Ela sempre fora uma mulher muito bonita, mas que carregava uma tristeza profunda na alma, e que o deixava angustiado toda vez que a via, pois Bertha tinha olhos tão parecidos com os de Anne que Gilbert não conseguia ignorar um sofrimento tão profundo o qual sua esposa também levava dentro de si. Entretanto, agora que toda aquela agonia fora deixada para trás, Gilbert conseguia perceber que havia mais vida nela do que a semanas quando ele lhe dissera que talvez pudesse lhe prolongar um pouco mais seu tempo de vida.

Era certo que não havia cientificamente nenhuma cura possível para a doença de Bertha, e que fatalmente a levaria a morte cedo ou tarde, mas o amor, a alegria e a vontade de continuar lutando talvez fossem mais milagrosos que a própria medicina, e poderiam sim aumentar ainda mais a estimativa de vida.

Tal pensamento o levou a Sarah, sua tão querida amiga, por quem lutara com todas as armas que pudera, mas não conseguira vencer o curso da doença que a levara cedo demais. Por muito tempo ele se sentira culpado, eavaliara todo o percurso de sua carreira por um único fracasso. Fora Anne que o fizera entender que nunca seria invencível, uma vez que era tão absurdamente humano. As vitórias o fariam se sentir orgulhoso de si mesmo, e os fracassos o fariam repensar suas estratégias quando se visse diante de um problema parecido. Não fora fácil se enxergar pela mesma ótica que sua esposa o via, mas com o tempo, o rapaz aprendeu que tudo na vida era transitório, e que nenhuma verdade era absoluta.

A morte de Sarah, depois da de seu pai, fora a coisa mais difícil com a qual tivera que lidar, pois envolvia questões que o levara a duvidar de sua capacidade médica, assim como o tiro de Anne o fizera ganhar sua confiança de volta. Sua ruivinha sempre estivera por perto para fazê-lo se lembrar de quem era, e porque escolhera a medicina em primeiro lugar entre outras profissões nas quais ele também teria se saído bem, mas para as quais não teria entregado seu coração completamente.

Ele estendeu a mão e segurou a de Anne entre as suas, pois sentiu necessidade de tocá-la de alguma forma. Ela o olhou surpresa e perguntou baixinho enquanto Bertha falava com o seu marido:

-O que foi?

-Nada, eu só queria te sentir mais perto de mim.- ele respondeu, apertando a mão dela de leve.

-Está muito carente, Dr. Blythe. Vamos ter que dar um jeito nisso quando chegarmos em casa. - ela disse cheia de humor, deixando um beijo molhado no rosto dele, e depois voltou sua atenção para Bertha que acabara de lhe fazer uma pergunta.

Após o café da manhã, a mãe biológica de Anne a levou para conhecer o jardim, enquanto os filhos adotivos de Bertha ficavam cuidando dos gêmeos, e Gilbert fazia companhia para o marido da mulher mais velha, com quem conversou por algum tempo ao mesmo tempo em que não perdia um único movimento de Anne.

-A quanto tempo você e Anne se conhecem? - o homem mais velho perguntou enquanto ele e Gilbert se sentavam na varanda da casa, cuja vista dava para o jardim.

-A vida toda. - o rapaz respondeu com um sorriso.

-Então, foi um amor de infância?- o marido de Bertha perguntou novamente.

-Sim. Quando criança fomos os melhores amigos. Na adolescência nós nos apaixonamos. Aí ela foi embora, ficou famosa, e depois de sete anos, Anne voltou para Avonlea para visitar seus pais adotivos e acabamos nos reencontramos.- Gilbert contou, sentindo certa nostalgia ao se lembrar do seu passado com Anne.

-Que história incrível. É difícil imaginar que duas pessoas possam se amar a vida toda, embora eu acredite em amor à primeira vista. Acho que existe uma pessoa perfeita para todos nós, e quando a encontramos, nada mais importa. - o marido de Bertha filosofou, enquanto Gilbert pensava na complexidade que era a vida ao colocar duas pessoa em determinadas situações de conflitos, às vezes de difíceis soluções, e por diversas vezes tomavam caminhos diferentes até que se encontrassem outra vez para viverem seu sentimento por inteiro.

-Anne sempre foi a única garota certa para mim. Tive outras namoradas ao longo da minha vida, mas meu coração sempre foi dela. - o rapaz confessou.

-Eu sei o que quer dizer. Eu tive isso com minha primeira esposa, e quando ela morreu, eu senti como se meu mundo tivesse acabado. Então, Bertha apareceu e percebi que estava pronto para amar de novo.

-Deve ter sido difícil para Bertha quando chegou aqui. - Gilbert disse, se lembrando que ela lhe contara que trabalhara naquela casa como empregada.

-Sim, ela tinha os olhos mais tristes que eu já tinha visto em alguém e acho que foi isso que me fez amá-la. Aqueles olhos dizem muito sobre os sentimentos dela. - Richard afirmou.

-É assim com Anne, também. Até nisso são parecidas.- o rapaz revelou, observando a esposa rir junto com a mãe. Havia uma leveza entre elas que Gilbert não imaginara que seria possível. Era o poder do amor operando o seu milagre mais uma vez, mostrando que a raiva ou a decepção poderiam sim serem transformados em sentimentos positivos.

-Bertha sofreu muito por ter deixado Anne no orfanato, e se cobrava demais por isso. Eu sei que Anne tinha todo o direito de não querer ver Bertha por tudo o que aconteceu, mas quero que saiba que me sinto grato por ela tê-lo feito.

-Eu sempre a considerei uma pessoa de bom coração, e pessoalmente vi o sofrimento dela, mas também vi o sofrimento da minha esposa. Acho que ambas tiveram seus motivos e seus próprios conflitos pessoais, mas felizmente se acertaram, e isso é o que importa.- Gilbert respondeu, apreciando o brilho do sol nos cabelos ruivos, enquanto ela e Bertha conversavam a uma certa distância.

-Sim. Fico muito contente que ela tenha conseguido o seu propósito. Essa culpa gigantesca estava consumindo-a mais do que a própria doença dela. - Richard comentou.

-E como você está lidando com essa parte da situação?- Gilbert perguntou, se referindo a enfermidade de Bertha.

-Estou aprendendo a viver o momento como minha esposa. Ela não permite que fiquemos tristes por conta disso. Ela disse que não quer ninguém chorando por ela antes do tempo. Então procuro pensar no hoje, no que tenho agora e aproveitar cada minuto ao lado dela enquanto posso.- o homem mais velho disse com um sorriso triste.

-Eu sinto muito por toda essa situação. Gostaria de poder fazer mais por ela. - Gilbert disse, pensando mais uma vez em Sarah.

-Você fez mais do que pensa. Aproximar Bertha da filha dela foi o melhor tratamento que poderia dar a ela. Eu sinto que ela está mais forte que antes, e com muita vontade de viver o tempo que lhe resta. Antes parecia que vivia se punindo, mas agora sinto que perdoou a si mesma e está em paz.

Gilbert ia dizer que pensava o mesmo de Anne quando as duas mulheres se aproximaram, e a ruivinha disse com animação:

-Amor, eu estava conversando com Bertha e a convidei para irmos ao Hawaii em nossas próximas férias. O que acha? Poderia ser uma segunda lua de mel de casais.

-Para mim é uma ótima ideia. Qual a sua opinião, Richard?- Gilbert perguntou, encantado com a ideia. Anne parecia tão feliz que nem em sonhos ele frustraria seus planos.

-Se Bertha concordou, para mim não tem problema nenhum. Faz tempo que não fazemos uma viagem assim.

-Anne me disse que passaram a lua de mel lá. -Bertha comentou, se sentando ao lado dos dois homens na varanda.

-Sim,era o sonho dela. Foi uma viagem incrível. - Gilbert sorriu enquanto olhava para Anne, se recordando daquele tempo tão feliz.

-Gilbert também aproveitou demais. Ele até aprendeu a surfar.- Anne contou com um gracejo que fez todos rirem, e assim passaram mais algum tempo ouvindo as histórias de ambos sobre o Hawai, enquanto Bertha e Richard faziam o mesmo, contando sobre como tinham se apaixonado e se casado.

Após o almoço, Anne e Gilbert se despediram do casal e seus filhos, e voltaram para casa, pois o rapaz não queria enfrentar um trânsito muito pesado que fatalmente encontrariam se deixassem para retornar no fim de tarde.

Observando sua esposa durante o trajeto até a grande cidade, Gilbert não pôde deixar de notar o semblante iluminado de sua esposa enquanto ela brincava com os bebês, e um sentimento de alívio o atingiu, ao perceber que Anne começava finalmente a ser feliz de verdade.

ANNE E GILBERT

No dia seguinte à volta da casa de Bertha, Anne se encontrava deitada em seu quarto, e pensativa. Gilbert já tinha saído para o trabalho, e como ela nunca ia ao estúdio às segundas-feiras, a ruivinha tentava pensar em como passaria seu dia até que Gilbert voltasse para casa no fim do dia.

Ela já sentia falta dele, o que não era nenhuma surpresa. Sempre que tiravam férias juntos e depois voltavam à sua rotina, era a mesma coisa. Gilbert ocupava um enorme espaço em sua vida, e tê-lo como seu marido era o prêmio mais gratificante para uma garota que a vida toda se sentira fora do lugar, e não tão merecedora dos sucessos que acumulara em sua vida profissional.

Anne nunca se sentira suficiente, e sua eterna luta por superar sua carência emocional a levara por caminhos que só a deixaram ainda mais solitária e triste. Cedo aprendera que dinheiro e fama não mudavam o fato de que não se sentia amada como desejava, e que o abandono que sofrera por Bertha a tinha marcado por um tempo infinito. Gilbert fora o único que conseguira fazê-la se sentir satisfeita com quem ela era, sem precisar buscar por uma eterna aprovação pessoal de si mesma que nunca teria, pois sua ideia sobre si mesma não combinava com o que as pessoas falavam de sua beleza exótica e seu carisma surpreendente diante das câmeras. Somente Gilbert, Diana e Cole sabiam como ela era de verdade e se sentia por dentro.

Mas após tantos conflitos internos, ela estava livre para ser quem desejava, e se olhar no espelho, apreciando a mulher que tinha se tornado. Fazer as pazes com Bertha foi importante também, porque depois de acreditar que a boa mulher tinha sofrido como ela pela separação de ambas, foi que Anne percebera como sentira falta de ser amada dessa maneira.

Seu único problema agora era lidar com o fato de que isso não seria permanente, pois Bertha estava pouco a pouco indo embora de novo, e dessa vez não por vontade própria. Anne não conversara com Gilbert sobre como se sentia agora sobre a doença de sua mãe. Ela preferia celebrar a vida, e não pensar o que o futuro reservava para ambas, pois não queria entrar no mesmo estado depressivo que Gilbert entrara quando perdera Sarah.

Seu celular tocou, e ela viu que era uma ligação de Cole. Fazia tempo que não se falavam, pois o amigo andara muito ocupado com o trabalho dele, e assim pouco se comunicaram nos últimos dias.

-Olá, meu amor. Como você está? - o rapaz perguntou com seu tom de voz costumeiramente agradável.

-Muito bem, e você? Estou com saudades. - Anne respondeu, se sentando na cama para falar com o amigo.

-Eu estou ótimo, mas queria te pedir um favor, se não estiver ocupada.

-Eu nunca estou ocupada para você, querido. Do que precisa?

-Você iria até um orfanato comigo hoje? Jordan e eu queremos adotar uma criança, e a assistente social agendou nossa visita para hoje. Entretanto, ele está viajando em um trabalho importante e não pode adiar. Você iria comigo?- a voz dele parecia ansiosa agora, o que fez Anne prontamente responder:

-Que notícia maravilhosa, Cole. Você estava tão indeciso. O que te fez mudar de ideia, meu amigo?

-Você e seu apoio incondicional, e também sua história de vida. Sempre te admirei ao ver até onde chegou, a vida que construiu apesar de suas feridas interiores. Eu também quero fazer a diferença na vida de alguém, e mostrar que é possível ser quem desejamos se tivermos força de vontade para isso.

-Isso é lindo, meu amigo. Mas saiba que eu e Bertha nos acertamos, somos oficialmente mãe e filha agora. - Anne respondeu, sentindo-se genuinamente feliz por confessar aquele fato ao seu amigo tão querido.

-Isso sim é uma notícia maravilhosa. Mas quero que me conte tudo pessoalmente e com detalhes. E então, acha que consegue ir comigo?

-É claro que sim. Não deixaria de apoiá-lo em um momento como esse. - Anne respondeu, se levantando da cama no mesmo instante.

-Obrigado. Passo aí daqui a pouco. - Cole disse e Anne respondeu:

-Está bem. Até daqui a pouco então.- ela disse se despedindo do amigo.

Uma hora depois, ela o encontrou na frente de seu prédio, e o rapaz a levou até um orfanato conhecido no centro de Nova Iorque. Tantas lembranças tomaram conta de Anne ao se lembrar que vivera em um lugar assim por nove anos, e a sensação de abandono e carência era a mesma daquela época, e observando as crianças que brincavam por ali em grupos ou sozinhas, ela pensou nos próprios filhos e desejou que todas aquelas almas inocentes encontrassem um lar e fossem amadas como Sarah e John eram amados por ela.

-Está nervoso?- Anne perguntou, ao ver Cole apertar as mãos com força.

-Um pouco.- o rapaz admitiu, um pouco tenso.- Acha que vou ser um bom pai?-ele perguntou, deixando que Anne percebesse sua súbita insegurança.

-Você vai ser um pai incrível. Não tenho dúvidas nenhuma disso. - Anne respondeu, abraçando o amigo pelo ombro.

Eles entraram no salão principal da instituição, e uma moça morena com uma prancheta na mão se aproximou e perguntou:

-Você é o Sr. Mackenzie ?

-Sim. - Cole respondeu, sorrindo com sua usual simpatia, mas Anne percebeu que ele continuava nervoso.

-Me acompanhe até minha sala, por favor. - a assistente social disse, e sob o olhar de encorajamento de Anne, ele a seguiu.

Enquanto Anne esperava por Cole, ela decidiu dar uma volta pelo orfanato para conhecer o lugar, pois era a primeira vez que entrava em lugar assim desde seus nove anos. Ela tivera momentos tristes, mas não podia ignorar que também tivera momentos alegres, e como pareciam uma grande família quando se sentavam no refeitório para fazerem suas refeições diárias.

Sua curiosidade a levou para uma sala onde vários bebês estavam sendo cuidados. Observando cada um deles, e novamente pensando em seus filhos, a atenção dela foi atraída por um bercinho todo branco, onde uma garotinha de cachos ruivos a encarava com seus imensos olhos azuis. Anne sentiu como se estivesse se olhando em um espelho, e desejando saber mais sobre a garotinha, ela perguntou para uma das enfermeiras responsável pelo berçário:

-Como ela se chama?

-Essa é Lucy. Ela tem seis meses e veio morar conosco faz um mês. A mãe dela faleceu, e o pai é desconhecido. Lucy foi deixada aqui pelos avós que não tinham condições financeiras para criá-la. - a enfermeira explicou.

Os olhos de Anne não paravam de admirar o rostinho claro, onde algumas sardas se destacavam. Seu coração sofreu pela linda garotinha que parecia tão solitária com seus cachinhos de anjo lhe dando um ar ainda mais frágil e delicado. Quando estendeu a mão para tocar-lhe os cabelos macios, a garotinha segurou em seu dedão, e com lágrimas nos olhos e o coração batendo forte, ela se decidiu.

Às cinco da tarde, Gilbert saiu do trabalho um pouco pensativo, pois tinha ligado para Anne algumas horas antes, e ela lhe parecera tão estranha. Quando ele lhe perguntara se havia acontecido algo, ela lhe respondera que conversariam assim que ele chegasse em casa, o que aumentou sua preocupação.

Por isso, ele dirigiu o mais rápido que pôde, pegou o elevador ao invés de subir pela escada como gostava de fazer para se exercitar um pouco. Quando abriu a porta do apartamento, Anne o esperava sentada na sala, lendo uma revista. Ela parecia tranquila, o que acalmou um pouco sua ansiedade , e assim que o viu entrar, Anne se levantou, deu-lhe um beijo suave e perguntou:

-Como foi seu dia?

-Foi bem, mas você me deixou preocupado. O que queria falar comigo?- Anne sorriu , segurou em sua mão e respondeu:

-Venha comigo. Quero te mostrar uma coisa. - Gilbert assentiu, e a seguiu até o quarto deles. Quando entrou, seu olhar caiu sobre a cama onde uma bebezinha dormia, e surpreso, ele se virou para Anne, mas antes que ele formulasse qualquer pergunta, ela disse:

-Eu sei que fiz algo sem te consultar, mas quero que me escute de mente aberta antes que me diga qualquer coisa. - Gilbert assentiu e ficou esperando pelo que ela lhe diria, e assim Anne prosseguiu:- Hoje o Cole me pediu para ir com ele até o orfanato, pois ele e Jordan resolveram adotar um bebê, e enquanto eu estava lá, me deparei com essa princesa. A enfermeira me disse que ela perdeu a mãe e o pai é desconhecido, e foi deixada lá pelos avós que não podem mais cuidar dela. Então, eu não pude ignorar o fato de que a história dela é tão parecida com a minha, e pedi para assinar os papéis para adoção. Ainda não tem nada acertado, mas a assistente social me disse que em três meses poderá ser tudo legalizado e ela será nossa, se eu não mudar de ideia. - Gilbert se manteve em silêncio, e Anne intuindo que ele não havia gostado de sua iniciativa, ela disse:- Se você não quiser, eu posso registrá-la só em meu nome, e isso tira qualquer responsabilidade sua no processo.

-Posso pegá-la?- Gilbert perguntou, deixando Anne um pouco surpresa e também decepcionada por ele ainda não ter dito nada. Talvez devesse tê-lo levado ao orfanato e deixado que ele conhecesse Lucy antes de trazê-la para casa, mas ao imaginar aquele anjinho passando mais um noite naquele orfanato tão solitário, ela não pensou duas vezes e a trouxe para o apartamento, mesmo Cole lhe dizendo que ela deveria consultar Gilbert primeiro.

-Como é o nome dela?- ele perguntou mais uma vez já com a garotinha nos braços.

-Lucy.- Anne respondeu, e naquele instante a menina acordou, fixando seus olhos azuis no rosto do rapaz, conquistando-o no mesmo instante, e assim Gilbert falou:

-Olá, Lucy. Bem vinda à família Blythe. Muito prazer, eu sou o seu novo papai.

Com os olhos marejados, Anne viu Gilbert embalar a garotinha nos braços com todo o cuidado, deixando um beijo suave na testa dela. Sem se conter, a ruivinha o beijou, seu coração transbordando de amor e admiração que sentira por ele por toda vida, enquanto percebia mais uma vez e sem nenhuma dúvida, o homem incrível que Gilbert Blythe era.

Olá, pessoal. Este é o último capítulo dessa fic,  mas voltarei com o epílogo em alguns dias. Me deixem suas opiniões e votos para que eu saiba o que acharam. Muito obrigada por tudo. Beijos

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro