Capítulo 112- Um futuro cheio de promessas
ANNE
Era a primeira vez em todos aqueles dias que estavam em Avonlea, que Anne acordava antes de Gilbert. Normalmente, ela adorava ficar com ele na cama até mais tarde, namorá-lo pelo tempo que quisesse, pois em Nova Iorque, apesar do rapaz nunca deixar de lhe dar atenção, seu tempo era sempre dividido em várias etapas do dia, e só quando ele voltava para casa à noite, era que podiam ficar juntos sem interrupção.
No entanto, na fazenda dos Blythes, eles encontraram tanto espaço para o amor de ambos, que podiam se curtir de verdade, e justamente por isso, aquele sentimento que os acompanhava a vida inteira tinha crescido cem por cento, e não havia mais nada no mundo que conseguisse separá-los.
Amar Gilbert era sua missão de vida, e todas as coisas que ele fazia por ela, sua maneira de estar sempre ligado em suas necessidades pessoais, a paciência com que ele lidava com suas crises emocionais, ajudando-a a enxergar o aspecto positivo de tudo, a faziam ver que seu marido era um homem extraordinário.
Ela não tinha mais dúvidas de que sua vida ao lado de Gilbert era a única que queria viver, pois Anne já havia experimentado o outro lado da moeda, o da solidão, o da carência, a falta dele junto a ela mais de uma vez, e nunca mais queria sentir que metade sua estava faltando, porque Gilbert era seu apoio, sua proteção contra suas dores, o único a quem ela permitia conhecer todas as suas vulnerabilidades, e em sua mente e coração sempre seria os dois contra o mundo.
Naquele dia em especial, contrariando sua rotina matinal, ela acabara perdendo o sono justamente por uma questão que vinha sendo debatida em sua mente sucessivamente. Bertha Shirley era o principal motivo de sua insônia, pois Anne estava dividida entre dois lados seus que estavam em pé de guerra naquele exato momento. Uma parte sua queria perdoar, deixar o passado para trás, e escrever uma nova história a partir dali, e a outra parte ainda queria se agarrar a sua mágoa infantil, ao ressentimento que carregara pela vida afora, a falta que sentira de ter sua mãe biológica por perto, apesar de todo amor que recebera dos Cuthberts.
Era difícil separar as emoções, e levar com leveza aquela situação. Anne sabia que às vezes era intransigente, batia o pé feito uma garota mimada, e fingia que Bertha ter entrado em sua vida não a afetava de forma especial. Mas a verdade era que desde que a mulher surgira em seu caminho, seu equilíbrio fora para o espaço. Ela revivera coisas dentro de si que pensara ter superado ou mesmo esquecido, mas o que pôde constatar foi que nem sempre o tempo era o melhor remédio ou levava embora traumas e mágoas incubadas.
Se não fosse seu marido, que era seu ponto de equilíbrio e apoio, ela ainda estaria mais perdida e talvez não conseguisse encontrar um ponto de conexão entre seu passado e presente, levando-a a um caos emocional maior do que o que estava vivendo no momento.
A mão quente de Gilbert em seu ombro a fez se virar e encará-lo com seus olhos tristes.
-Pensei que você não acordaria dessa vez. - Anne disse, sentindo os braços de Gilbert enlaçar sua cintura.
-Eu sempre sei quando não está deitada a meu lado.- Gilbert respondeu, beijando-a na testa. - Senti falta do calor do seu corpo contra o meu.
-Desculpe. Eu precisava pensar um pouco.- Anne disse, encostando sua cabeça na dele.
-Está usando minha camisa. - Gilbert disse, observando o tecido curto que mal chegava na metade das coxas dela.
-Não achei minha camisola. Onde foi que a escondeu?- Anne perguntou, olhando para o rosto bonito do marido que sempre lhe arrancava algum suspiro quando o observava em todos os detalhes. Gilbert era como um bom vinho, cada ano que passava ficava cada vez melhor.
-Depois eu te devolvo. - ele disse evasivo, com um sorriso torto brilhando em seus lábios.
Ela sabia da preferência dele de dormir pele contra pele. Isso era algo estabelecido entre os dois desde que o relacionamento íntimo de ambos tinha se iniciado, e esse detalhe não havia mudado com o tempo. Anne compartilhava da preferência do marido. Era uma delícia sentir o calor reconfortante de Gilbert enquanto dormia, pois era uma comunicação física tão prazerosa que ela esperava que nunca mudassem esse hábito em sua convivência diária futura.
-É a terceira camisola que você esconde e não me devolve. - ela comentou, enrolando seus braços em volta do pescoço dele.- Está querendo montar uma coleção de camisolas femininas?- ela continuou, cheia de humor, passando o nariz devagarinho pelo rosto do marido.
-Talvez, pois eu adoro todas as suas camisolas, mas o que eu gosto mesmo é de te ver sem elas.- Gilbert respondeu, correndo as mãos pelas costas de Anne que suspirou, encostando seu corpo no do rapaz que vestia apenas uma cueca boxer preta, exibindo seu físico invejável.- Mas não posso negar que você vestindo apenas minha camisa é a coisa mais gostosa do mundo.
-Que bom saber que ainda te provoco de alguma maneira depois de todo esse tempo juntos.- Anne respondeu, sorrindo ao sentir os lábios de seu marido em seu pescoço.
-Está brincando? Você é a única mulher que provoca meus sentidos vinte e quatro horas por dia. Adoro seu corpo, sua boca, seus olhos. Amo tudo em você.- Gilbert afirmou, colando seus lábios nos de Anne que como sempre se entregou completamente ao beijo de Gilbert. Ainda havia tanta paixão entre eles, que não precisava de muita coisa para que pegassem fogo com o mínimo de carinho.
Ela enlaçou a cintura de Gilbert com suas pernas, e o rapaz a carregou para dentro, sentando na cama com ela em seu colo. Anne deixou que Gilbert conduzisse o beijo como mais gostava, e quando suas bocas se separaram, ela apoiou a cabeça no peito dele, enquanto seu marido lhe perguntava:
-O que está acontecendo, amor? Eu sinto que não está tão bem.- com um grande suspiro e sem levantar a cabeça do peito de Gilbert, ela respondeu.
-Estou confusa com meus sentimentos.
-A respeito de Bertha? - Gilbert perguntou, e Anne concordou com a cabeça, não mais se admirando da percepção aguçada de Gilbert, que sempre sabia o que a estava incomodando. - O que está te aborrecendo tanto nessa situação?- ele perguntou, acariciando as costas dela.
-Às vezes quero perdoá-la, mas é tão difícil esquecer a dor que ela me causou. - Anne disse, levantando a cabeça e encarando a expressão séria e ao mesmo tempo terna do rapaz. Foi nisso que se apegou, naquele amor que ele lhe dava sempre em qualquer situação, o que era seu conforto e seu apoio incondicional.
-Você não tem que se forçar a nada, amor. Não cobre isso de si mesma, pois talvez seu coração não esteja preparado para dar esse passo ainda.- Gilbert lhe respondeu, beijando-a no topo da cabeça.
-O meu medo maior é que ela parta desse mundo levando em seu coração minha rejeição. E eu não queria ser responsável por isso. Sou humana o suficiente para entender que ninguém deveria terminar seus dias colecionando a raiva e o ódio que já recebeu na vida. - Anne disse, suspirando mais uma vez.
Ela vinha pensando muito nisso nos últimos dias. Talvez porque tinha se lembrado da culpa que Gilbert sentiu quando Sarah morreu, embora as circunstâncias tivessem sido diferentes. Seu marido sentia-se responsável por não ter salvo a vida da amiga, mesmo tendo feito tudo o que podia, enquanto que Anne tinha a oportunidade de resolver a questão com Bertha, e continuava não se esforçando para isso, e quando enfim se decidisse a fazê-lo talvez fosse tarde demais para isso. Sua mãe biológica estava com os dias contados, e se Anne não fizesse as pazes com seu passado quando ainda tinha a chance para isso, provavelmente carregaria esse sentimento ruim dentro de si pelo resto da vida.
-Você não tem culpa de ela ter te procurado somente agora, e justamente nessa situação. Eu entendo o ponto de vista dela, as decisões que tomou, mas também sei que justamente por isso, ela te causou essa ferida profunda e difícil de cicatrizar. Eu estou do seu lado, e se achar que não consegue perdoar Bertha totalmente pelo sofrimento que te causou, eu jamais vou te julgar. Esse é um direito seu, e nem sempre é fácil superar nossas barreiras emocionais.- Gilbert concluiu, e ao ouvir as palavras do marido, Anne compreendeu porque seu coração tinha escolhido aquele rapaz para amar, e nunca tinha permitido que o esquecesse, mesmo nos sete anos em que não colocara os olhos nele. Gilbert Blythe era o ser humano mais maravilhoso que ela já tinha conhecido, e era grata ao universo por aquele presente.
-Caso eu não possa perdoá-la, será que vou conseguir viver com isso depois? - essa também era uma preocupação recorrente. Não parecia ser algo cristão nutrir sentimentos negativos por alguém que estava lutando para viver seus últimos dias nessa terra com dignidade. Sempre ouvira quando criança nos sermões de domingo que perdoar era algo divino, por isso, Anne se perguntava se conseguiria chegar algum dia a essa elevação de alma e arrancar tantos sentimentos ressentidos e antigos do seu coração.
-Anne, não perdoar Bertha nas condições em que ela se encontra, não te torna necessariamente uma pessoa ruim. Eu conheço você, e sei o quanto é maravilhosa, mas você é humana, tem o direito de se sentir magoada pelo que te aconteceu na infância. Eu quero sim que você se resolva com sua mãe biológica, mas eu quero isso por você e não por ela, porque me deixa triste saber que você ainda carrega essa dor interna, e que posso fazer bem pouco para ajudá-la, pois sou um médico do físico e não da alma.- Anne segurou o rosto de Gilbert entre as mãos e respondeu mergulhando seus olhos azuis nos dele:
-Engana-se, Dr. Blythe. Você já fez tanto por mim, e nem faz ideia do quanto. Desde que entrou na minha vida ainda na infância, você tem me dado amor, e eu eu te agradeço pela enorme alegria de ter me escolhido para compartilhar sua vida. Você tem sido minha cura, Gil, para todas as coisas que já me feriram, e estar com você a cada dia nessa longa e dura jornada que ainda teremos juntos pela frente, é saber que mesmo que haja espinhos pelo caminho, obstáculos que podem nos derrubar, também existem as flores para amenizar a queda.- ela acariciou os cabelos dele antes de dizer:- Eu te amo, Gilbert Blythe completamente e para sempre. - Gilbert demorou para responder, e se manteve olhando para Anne por um longo minuto que a fez perguntar:- Por que ficou tão calado?
-Você me emocionou com suas palavras.- ele respondeu sem tirar os olhos dela.- Eu sempre te amei, Anne. Você sabe disso, pois tenho te repetido isso a tanto tempo que nem sei mais dizer quando foi que tudo isso entre nós começou. A única certeza que tenho é que nunca amei mais ninguém em toda minha vida, e nunca mais vou amar. Você disse que sou sua cura, mas você também é a minha, e é por isso que nós fomos feitos um para o outro.- o beijo que trocaram foi doce, mas também cheio de paixão e de tantas promessas feitas e refeitas em todo aquele tempo juntos.
Em seguida, Gilbert se deitou na cama, e fez Anne se deitar sobre ele, onde a manteve, ouvindo as batidas do coração dela sintonizadas com as suas. Ele sentiu as lágrimas de Anne caindo sobre seu peito, mas não disse nada. O rapaz apenas acariciou seus cabelos e deixou que ela chorasse silenciosamente suas dores , e para a ruivinha esse foi o único conforto que precisava.
GILBERT
Gilbert estava sentado em sua varanda com uma xícara de café nas mãos, enquanto observava Anne brincando a uma certa distância dele. Ela parecia triste, e pensativa, e embora, o rapaz conseguisse ouvir sua risada cristalina quando um dos bebês fazia alguma graça, ele sabia que os pensamentos dela não estavam totalmente integrados com o que ela fazia no momento.
Por dentro, ela estava brigando com suas próprias ideias e conceitos do que era certo ou errado dentro de sua relação com Bertha. Anne se cobrava demais, e isso a estava deixando deprimida, e o sorriso lindo dela que Gilbert amava mais que tudo tinha perdido um pouco de seu brilho incrível.
O jovem médico colocou a caneca vazia de lado, mas não saiu de seu posto de observação. Ele odiava ver Anne triste de novo depois de todos aqueles meses em que ela sofrera demais com o que lhe acontecera durante o seu período de convalescença e recuperação dos movimentos das pernas, mas como ele mesmo dissera a ela de manhã em que conversaram sobre aquela questão, ele bem pouco podia fazer além de apoiá-la no que ela quisesse fazer.
O que o confortava era que estavam em Avonlea, e Anne podia contar com seus seus amigos, e sua família para passar por aquele processo tão doloroso de lidar com suas feridas do passado. Em Nova Iorque, além dele, ela teria apenas Cole a quem amava como se fosse seu irmão para segurar as mãos dela e deixá-la chorar até que o processo de cura se iniciasse.
Gilbert tinha plenas certeza que o perdão que Bertha esperava de Anne estava a caminho, era apenas uma questão de tempo. A única coisa que desejava era que não fosse tão sofrido para Anne ter que colocar na balança tantos pormenores que a levavam a questionar sobre seus valores pessoais indefinidamente.
Ele já estivera nesse caminho, e sabia que não era algo simples. Mágoas mal resolvidas levava a atitudes intensas que bem sempre era bom para ambos os lados envolvidos, mas esse era o risco que se tinha que correr para alcançar o alívio, a liberdade e a paz de espírito que se almejava.
Sua esposa era uma pessoa muito sensível. Ela fazia de conta que não ligava para determinadas coisas, mas Gilbert sabia o quanto ela remoia certas situações e atitudes. No fundo ela continuava sendo aquela garotinha que vivera nove anos no convento esperando que a mãe voltasse para buscá-la. Era certo que os irmãos Cuthberts tinham dado a ela muito amor e uma família da qual sempre faria parte, mas a falta da mãe nunca fora totalmente suprida, e talvez fosse essa a real mágoa de Anne. Não ter sido capaz de deixar de amar a mãe, mesmo sem tê-la conhecido antes de dois meses atrás.
O celular dele tocou, e ele desviou o olhar de sua pequena família para identificar quem estava ligando naquele instante. Marilla Cuthbert estava do outro lado da linha, o que surpreendeu Gilbert, pois ele sabia que tanto ela quanto Matthew detestavam as tecnologias do mundo moderno.
-Bom dia, Gilbert. A Anne está aí com você? - Marília perguntou com a voz animada.
-Não. Você quer falar com ela?- Gilbert perguntou, ainda intrigado com o telefonema de Marilla.
-Na verdade você mesmo pode dar o recado. Eu descobri que nesse sábado é aniversário de Bertha, e quero fazer uma festinha familiar para comemorarmos a data.- outra coisa peculiar em Marilla. Era sua capacidade de fazer qualquer pessoa se sentir acolhida que a tornava uma pessoa tão única e especial. Muitas pessoas se enganavam com sua carranca e postura séria, que na verdade escondia um grande coração. Gilbert a conhecia desde criança, e ela sempre o tratara como da família, talvez já profetizando que aquele garotinho estudioso acabaria cedendo seu coração ao anjo ruivo que viera para Green Gables como um presente grandioso para todos.
-E você quer que eu convide a Anne.- o rapaz afirmou, adivinhando o motivo do telefonema.
-Sim. Eu sei que ela ainda não consegue perdoar Bertha pelo passado, e embora eu a entenda, acho que temos que tentar ajudá-las de alguma forma. Bertha não me pediu nada, eu apenas vejo a tristeza nos olhos dela quando fala de Anne. Ela sabe que errou, Gilbert, e lamenta esse fato profundamente. - Marilla explicou, porém Gilbert já sabia de tudo aquilo. Ele também lamentava pela situação entre ambas, e apesar de sentir simpatia por Bertha, era Anne que ele iria preservar e proteger sempre.
-Eu vou dizer a ela, mas não garanto que ela vá querer ir nessa festa, e se ela disser não, eu não vou forçá-la.
-Apenas tente, meu filho. Se Anne não quiser vir creio que Bertha entenderá, mas vamos esperar que isso não aconteça. Eu também convidei a Diana, Josie e Ruby. Quem sabe ela não se anima em vir se você contar a ela que as amigas estarão aqui?- Marilla disse esperançosa.
-Prometo que vou tentar. - Gilbert respondeu, sentindo uma grande afeição por aquela mulher tão bondosa e prestativa.
-Obrigada, meu filho. Nos falamos depois.- Marilla disse ao se despedir.
Gilbert voltou novamente sua atenção para Anne, que ainda brincava com os bebês, e decidiu se juntar à esposa e aos filhos. Ele ainda não sabia como acordaria o assunto sobre a festa de Bertha em Green Gables, pois pelo que notara de manhã, o estado de ânimo dela a respeito desse assunto não estava nada bom, e não queria que ela chateasse ou se sentisse traída por algum motivo.
-Posso me juntar a vocês? - ele perguntou assim que se aproximou deles.
-Claro que sim. Nem precisava perguntar, meu amor .- Anne disse, afastando uma mecha de seu cabelo das mãozinhas gorduchas de John que a puxava com vontade.
-É que vocês estavam em uma harmonia tão incrível que eu não queria atrapalhar.- Gilbert disse se sentando ao lado da esposa, e pegando Sarah no colo que assim que o viu, levantou seus bracinhos no ar em direção ao rapaz.
-Você faz parte dessa harmonia toda, querido. Nossa família não é completa sem você. - Anne respondeu, dando um selinho no marido.
-Você vai estar ocupada mais tarde? Eu queria dar um passeio com você. - Gilbert perguntou, pensando que seria melhor falar do convite de Marilla em outro ambiente, pois assim talvez ela se sentisse mais propensa a aceitar sem muitas preocupações. Ele conhecia Anne e a forma como ela reagia quando se sentia insegura, e no momento seus sentimentos contraditórios a estavam levando para um lado muito tenso de toda aquela situação, e uma palavra mal utilizada poderia ser o estopim para uma crise de ansiedade ou nervosa, e ele não queria que ela chegasse a esse ponto.
-Não vou estar ocupada, e vou adorar passear com você. - ela disse sorrindo, e Gilbert acariciou o rosto dela com carinho, sabendo exatamente onde queria levá-la.
Eles passaram mais algum tempo brincando com os bebês, e quando os gêmeos começaram a bocejar, ambos souberam que era hora de entrar e colocá-los para dormir.
No quarto, Anne se pôs a amamentá-los, e Gilbert lhe fez companhia mais uma vez. Agora que estavam em Avonlea, ele tinha mais tempo para participar desses momentos em família, e ver sua esposa amamentar os gêmeos que já não eram tão bebês assim era um de seus favoritos.
-Você fica linda demais quando está amamentando nossos filhos. - Gilbert disse, lançando a Anne um olhar carinhoso que a fez sorrir.
-Você sempre diz isso, e vou tornar a repetir que são seus olhos.- Anne disse, acariciando a cabecinha de John que enquanto mamava olhava para a mãe com adoração, o que fez Gilbert constatar que o menino era bem filho de seu pai, pois embora seu amor por Anne fosse em outro contexto não escapava da intensidade do amor apaixonado que o jovem médico sentia por ela.
-É que você nunca prestou atenção em si mesma nesses momentos. Existe um estado de graça em você que ninguém e nada supera, um brilho maravilhoso que te eleva a um ponto quase divino. Você transborda amor, felicidade e paz. - Gilbert a descreveu de forma tão apaixonada, que até mesmo ele se surpreendeu com sua eloquência naquele momento. Geralmente, ele não era expansivo quando elogiava Anne, pois preferia mostrar por meio de gestos como se sentia em relação a ela, mas talvez naquele dia inspiração fosse tudo o que ele precisava para arrancar dela um daqueles sorrisos que ele amava.
-É porque com os bebês e você eu encontro a paz que preciso para o meu coração. Se eu pudesse chamar algum lugar de paraíso, acho que poderia dizer que aqui, nesse momento, é o meu paraíso perfeito. - Anne respondeu de forma tão apaixonada quanto ele. Gilbert se aproximou e a beijou nos lábios, e depois deixou um beijo na testa do garotinho, enquanto embalava Sarah em sua cestinha que estava à espera de sua vez de ser amamentada.
Após alimentar a filha, Anne colocou os dois bebês em seus berços e esperou que adormecesse, e em seguida, ela e Gilbert desceram até a cozinha onde Mary e Sebastian os esperava para mais um almoço delicioso, regado a risos e bom humor do marido de Mary que era uma das coisas que fazia Gilbert desejar ficar na fazenda para sempre.
GILBERT E ANNE
Logo após o almoço, Gilbert levou Anne para o passeio prometido, e observando-a dentro do carro com seus olhos azuis perdidos em um ponto qualquer lá fora, ele percebeu que a expressão dela estava mais leve, e desejou que o assunto que teria que tratar com ela não a fizesse voltar para o limbo de seus pensamentos conflitantes que a fizeram chorar naquela manhã. Apenas esperava encontrar a forma certa de falar a ela sobre a festa de Bertha sem deixá-la tensa ou nervosa, ponderando se tanto ele quanto Marilla não estavam conspirando uma reconciliação entre ela e sua mãe biológica.
Totalmente contrária aos pensamentos de Gilbert, Anne estava se sentindo mais feliz naquele momento do que estivera de manhã com suas emoções confusas. Estar com Gilbert em Avonlea era a melhor coisa que podia ter feito nos últimos dias, pois sentir que estava em casa em meio a uma enorme rede de proteção de afeto de pessoas com quem sabia que podia contar em qualquer situação a deixava imensamente mais segura em relação ao que queria e devia fazer.
Ao passarem por uma placa na estrada, a ruivinha percebeu onde o marido a estava levando, e se virou para ele com o rosto todo iluminado e disse:
-Eu não acredito que você me trouxe aqui.
-Ainda se lembra desse lugar?- Gilbert perguntou sorrindo.
-Como poderia esquecer? Foi aqui que você me ensinou a nadar.- Anne respondeu, tocando o ombro do marido onde fez um carinho de leve.
-E foi aqui que ganhei o beijo mais doce do mundo.
-Foi no rosto, Gilbert. Eu tinha só nove anos.- Anne disse, rindo da lembrança.
-Eu sei, mas para um garoto de onze anos, tímido como eu era, senti o mesmo efeito que se tivesse sido na boca.
-Mas você não precisou esperar muitos anos para ganhar um beijo de verdade.- Anne o lembrou com um sorriso maroto.
-É verdade. E foi quando eu decidi que casaria com você um dia.- Gilbert confessou, parando o carro a poucos metros da praia de sua infância.
-Realizamos esse sonho oito anos depois. Acho que não nos saímos tão mal.- Anne ponderou, saindo do carro junto com Gilbert e entrelaçando seus dedos nos dele.
-Na verdade nós saímos perfeitamente bem.- Gilbert respondeu, antes de puxar Anne em direção a praia.
Eles caminharam um pouco, pisando na areia com cuidado, aproveitando a brisa da maresia, enquanto compartilhavam juntos mais um momento perfeito. Gilbert se sentou na areia, e Anne o acompanhou, abraçando os próprios joelhos e observando o vai e vem das ondas.
-Esse lugar é como um portal de lembranças da nossa infância. Lembro- me de seu pai sempre com a gente, Marilla e Matthew também. - Anne disse, deitando a cabeça no ombro de Gilbert.
-Eu também. Nunca mais voltamos aqui Parece que tudo aconteceu em outra vida.. - Gilbert disse, concordando com ela. Tanta coisa tinha acontecido através dos anos, que os afastaram inevitavelmente da vida que tinham antes, mas os laços ainda eram muito fortes, por isso eles sempre retornavam para suas memórias onde tudo tinha um sabor diferente.
-Mas estamos aqui agora. Isso não é incrível?-Anne perguntou, olhando para o mar calmo a sua frente. Sua vida em Nova Iorque raramente lhe proporcionava momentos assim. Naquela correria de uma grande cidade, os dias passavam rápidos demais e se tinha a sensação de que não se vivia o suficiente ou não se aproveitava a vida de verdade. Observar a natureza em toda a sua plenitude era um luxo para os cosmopolitas que tinham como cenário diariamente edifícios de concreto.
O braço de Gilbert em volta do de seu ombro, fez Anne desviar a atenção do mar para seu marido. Ele parecia tenso com alguma coisa, e assim como Gilbert a conhecia bem, ela também o conhecia, e sabia o que cada olhar, ruga na testa ou sorriso queria dizer, e naquele momento ele estava incomodado com alguma coisa.
-Você parece tenso.- ela comentou, fazendo Gilbert rir e pensar consigo mesmo que tinha sido besteira imaginar que conseguiria esconder de Anne alguma coisa.
-Estou tomando coragem para falar com você sobre um assunto.
-Então fala logo, assim a gente já resolve essa questão.- Anne respondeu aproximando o rosto do marido.
-Marilla me ligou hoje. - ele começou devagar.
-Aconteceu alguma coisa?- Anne perguntou, pensando em Matthew.
-Não. Ela ligou para fazer um convite.- ele continuou, preocupado com a reação de Anne.
-Que convite.
-É aniversário da Bertha no próximo sábado, e ela quer fazer uma festa familiar para comemorar a data, por isso ligou para nos convidar - Gilbert disse por fim, estudando o rosto de Anne que lhe perguntou:
-Era por isso que estava tenso assim? Era só ter me dito,Gil.- ela falou, massageando o ombro de Gilbert, se dando conta do quanto ele devia ter ficado preocupado com ela para planejar o que dizer palavra por palavra.
-Achei que ficaria chateada, pensando que Marilla tinha tomado partido de Bertha.- Gilbert disse, sentindo-se aliviado por Anne aceitar aquilo tão bem.
-Você conhece Marilla. Ela faria isso por qualquer um. Então foi esse o motivo desse passeio inesperado?
-Sim, ficou chateada?- Gilbert disse, abraçando Anne pela cintura.
-Claro que não. Eu acabei de ganhar um passeio incrível na praia com meu marido gostoso, como posso ficar chateada?-Anne disse cheia de humor.
-Você vai na festa?
-Não vejo motivo para não ir. Eu e Bertha não somos inimigas , apenas temos questões não resolvidas.- Anne respondeu, abraçando Gilbert pelo pescoço.
-Fico feliz que pense assim.- o rapaz disse, admirando o rosto da esposa que a cada dia parecia mais linda. - O que quer fazer já que estamos aqui?
-Eu quero beijar o meu marido, pois desde que chegamos nessa praia você não me deu nem um selinho.- Anne disse com os lábios próximos dos dele.
- Você quer um beijo?- ele perguntou, mordiscando o lábio dela inferior.
-Um está bom para começar. - ela respondeu de olhos fechados, e foi presenteada com um beijo quente que foi seguido por vários outros durante o tempo que permaneceram na praia.
Os três dias que faltavam para a festa de aniversário de Bertha passaram rápidos, e embora não estivesse tão animada assim para ir, Anne procurou mostrar uma dose de boa vontade para prestigiar tal data. Na verdade, ela pretendia marcar presença em Green Gables por pelo menos uma hora ou duas, e depois voltar para casa onde aproveitaria o resto da noite nos braços de seu lindo marido.
Mas para isso, ela também tinha que providenciar um presente adequado, mas não fazia ideia dos gostos de sua mãe biológica. Por isso, ela descartou presenteá-la com um vidro de perfume por considerar algo muito pessoal, e também deixou de lado a ideia de comprar uma roupa elegante, pois esse era outro item delicado que ela só compraria se soubesse exatamente do que a pessoa gostava.
Depois de perder um tempo considerável nessa questão, Anne decidiu vasculhar suas coisas e em meio a tantos objetos guardados e nunca utilizados ainda envoltos em embalagens de viagem, a ruivinha acabou encontrando o presente perfeito, o que também a fez repensar sobre sua presença naquela festa.
Talvez fosse a hora de dar mais um passo em direção a sua reconciliação com o passado, e tentar de alguma forma transformar sua mágoa em algo positivo que não só beneficiaria a si própria, mas também a todos os envolvidos naquela situação. Ela tinha sua própria família agora, e precisava entender que suas atitudes poderiam resultar em bons ou maus frutos no futuro, por isso, ela precisava refletir sobre tudo o que tinha acontecido antes, para buscar a melhor forma de agir dali para frente.
Quando o sábado finalmente chegou, Anne se arrumou com todo o capricho que aprendera em seus anos de modelo, mas sem exagerar demais, deixando o marido babando mais uma vez por sua beleza irretocável. Embora Gilbert não fizesse nenhum comentário sobre sua aparência, ela percebeu pelo olhar dele o quanto ele tinha gostado de vê-la em um vestido azul marinho que destacavam seus olhos azuis. Ele também não ficava atrás e sem necessidade de enfatizar que seu marido era o homem mais bonito que já tinha conhecido, e isso ela não cansava de repetir para quem quisesse ouvir.
Eles chegaram à festa de Bertha de mãos dadas, e foram recebidos pelos irmãos Cuthberts e a aniversariante que pareceu ficar surpresa por ver Anne ali.
-Meus queridos, que bom que chegaram.- Marilla disse, beijando a ambos no rosto.
-Onde estão os bebês?- Matthew perguntou depois de cumprimentar o casal com afeição.
-Ficaram na fazenda com Mary e Sebastian. Eles têm uma rotina de sono que seguimos a risca, caso contrário ficam chorosos e cheios de manha. - Anne explicou.
-Preciso ir até a fazenda visitá-los. Vou pedir para o Jerry me levar.- Matthew disse com um sorriso.
-Você será muito bem vindo. - Anne respondeu, beijando o bom senhor no rosto.
-Eu também posso?- Bertha perguntou, pois estava hospedada a convite de Marilla em Green Gables.
-Claro que pode. -Anne respondeu, encarando sua mãe biológica com serenidade.
-A Diana não veio?- Gilbert perguntou ao notar que a morena não estava por ali.
-A filhinha dela está doente. Ruby e Josie também não puderam vir, pois tinham compromissos com suas famílias.- Marilla respondeu os levando para a sala de estar onde havia um pequeno bolo, doces diversos, algumas bebidas, sucos, refrigerantes e aperitivos salgados.
Alguns amigos de Matthew e Marilla estavam por ali, e como Anne e Gilbert os conheciam desde criança, eles cumprimentaram um a um , depois se serviram de bebida e comida e ficaram na sala conversando até a hora de cortar o bolo. Anne esperou que os votos de feliz aniversário cessassem para ir até Bertha e puxá-la até a varanda da casa dos Cuthberts, pois queria entregar a ela seu presente:
-Eu não sei o que vai achar e espero sinceramente que goste. Não é nada caro, mas eu acho que o que esse presente representa é mais importante. -A ruivinha disse, observando Bertha abrir o pacote com cuidado.
Quando Bertha viu que dentro do pacote havia um porta retrato com uma foto de Anne, Gilbert e os bebês, seus olhos se encheram de lágrimas e Anne completou
-Seja bem-vinda à família, Bertha.- o que fez a mãe biológica de Anne responder com os olhos cheios de lágrimas:
-Muito obrigada. Você não sabe o que isso significa para mim. - e assim ambas se abraçaram, e Anne sentiu naquele momento todo o seu ressentimento começar a morrer.
A volta para casa foi ainda mais leve, com Anne e Gilbert sorrindo um para o outro. Assim que desceram do carro, uma chuva fina começou a cair, e sentindo-se leve como nunca, Anne puxou Gilbert pela mão e ambos começaram a dançar na chuva uma canção imaginária que tocava apenas em suas cabeças, e riam como os dois adolescentes apaixonados que foram um dia, consagrando mais uma vez aquele amor que sempre foi o pilar principal daquela família.
Quando chegaram ao quarto, Gilbert beijou a mão de Anne e disse:
-Estou muito orgulhoso de você mais uma vez. Você não sabe o quanto fiquei feliz por você ter se aproximado de Bertha essa noite. Foi algo extremamente importante o passo que deu em direção à sua liberdade emocional.
-Uma hora todos nós temos que crescer, e eu entendi que viver no passado quando eu tenho um futuro incrível pela frente era um ato puramente imaturo. -,ela enlaçou o marido pelo pescoço e continuou:- Eu quero continuar evoluindo, pois o seu amor por mim me faz entender até onde eu quero chegar com você ao meu lado.
-Eu estarei sempre aqui, como sempre estive, pois vou te amar pela minha vida inteira.- e então eles se beijaram de forma calma, assim como despiram um outro de suas roupas molhadas, e se deitaram na cama trocando outro beijo longo e apaixonado.
Anne suspirou ao sentir os lábios de Gilbert em seus seios, arrancando vários gemidos de sua boca, extasiada mais uma vez pelo prazer que ele podia lhe proporcionar com apenas algumas carícias. Ela desceu as mãos ao longo das costas dele, fazendo do pescoço masculino um dos alvos de sua louca paixão por ele, que voltara a queimá-la outra vez com sua intensidade.
Seus corpos rolaram pela cama, enquanto o desejo e a cumplicidade entre eles cresciam rapidamente. Era o reconhecimento que tinham um do outro que fazia cada ato ser mais perfeito que o anterior. Eles eram amigos, parceiros e amantes, e todo esse conjunto de fatores fazia com que cada carícia fosse cheia do mesmo sentimento de compartilhar e pertencer um ao outro.
Quando Anne desceu os lábios macios pelo corpo de Gilbert, o rapaz mergulhou em um universo dos sentidos que somente ela podia lhe proporcionar. Fazer amor com Anne era um ritual que ele aprendera a venerar, pois partilhar com ela seu corpo e suas emoções nesses momentos era algo único e especial, e ele sabia que mesmo que anos passassem seria sempre assim que viveriam esses momentos cheios de amor.
Anne enrolou suas pernas em torno da cintura de Gilbert, sentindo todo o seu corpo entrar em um frenesi completo. Gilbert sabia exatamente como deixá-la,completamente louca,e sentir a umidade em seu baixo ventre aumentar enquanto o toque dele fazia sua pele arder e entrar quase em colapso pelas sensações que se espalharam dentro dela e explodindo como fogos de artifício.
Então, ele a tomou como sua mulher mais uma vez, fazendo Anne gemer alto enquanto cravava suas unhas bem feitas nos músculos das costas de Gilbert, permitindo que ele lhe mostrasse quem estava no comando naquela noite. Assim, o êxtase chegou tão rápido que ambos sentiram como se fossem arrastados por um redemoinho cheio de prazer, onde seus corpos não tinham controle nenhum, e assim que a tempestade de sentimentos intensos se acalmou em seu íntimo, eles ficaram abraçados até que seu fôlego fosse plenamente recuperados.
Uma hora depois, em meio a uma banheira de água quente e espuma perfumada, aquele homem e aquela mulher fizeram tantas outras promessas as quais pretendiam cumprir em um futuro não tão distante, e começaram daí a escrever uma nova página na história daquele amor que sempre foi a pedra fundamental daquela união, e que seria eternamente a principal razão de terem juntos uma vida encantada.
Olá, pessoal. Essa história também está terminando, então espero que apreciem o capítulo e me deixem seus comentários para eu saber o que acharam. Beijos
.
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