Capítulo 104- Reconstruindo sonhos
Olá. corações em jogo atualizado. Espero que apreciem o capítulo e me deixem seus comentários. Beijos.
ANNE
Anne ajeitou seus cabelos pela terceira vez, passou as mãos pela blusa de seda branca, e tentou sorrir para si mesma no espelho, porém, nada parecia funcionar para afastar seu nervosismo.
Ela estava voltando para o trabalho, muito mais por incentivo de seu marido do que por vontade própria, pois ainda não se sentia preparada para enfrentar olhares curiosos e expressões de pena nos rostos das pessoas que a conheciam. Entretanto, Gilbert lhe dissera que era uma boa ideia que ela voltasse a ter contato com o mundo fora do apartamento, pois ela não poderia se esconder o resto da vida entre aquelas paredes solitárias. Anne até protestara dizendo que não poderia ir ao trabalho, pois como poderia deixar seus bebês ainda pequenos que dependiam dela com uma babá qualquer? Ela queria por si própria cuidar dos seus filhos, e não deixaria mais ninguém ficar com eles a não ser que ela estivesse por perto, ou Gilbert estivesse cuidando deles em seu lugar.
Porém, seus argumentos foram enfraquecidos quando seu marido aparecera com Norma a tiracolo, dizendo que a tinha contrato para mais uma função, já que ela já sabia de toda a rotina dos bebês. A enfermeira passaria a ir ao estúdio de modelos todas às vezes que Anne tivesse um ensaio ou uma nova campanha para fotografar, assim, ela cuidaria dos bebês enquanto a ruivinha estivesse ocupada, e a ajudaria nos horários de amamentação, já que esse era um dos fatores para Anne não querer retornar ao trabalho agora. Com tanto empenho de seu marido, Anne não teve coragem de dizer não. E mesmo se sentindo completamente sem ânimo para voltar ao mundo dos holofotes, ela decidiu que faria aquilo mais por Gilbert do que por si mesma.
Outra questão ali que a estava fazendo titubear era que ela não sabia se modelar continuava sendo o seu foco. No passado, ela adorava tirar fotos para diferentes campanhas, viajar pelo mundo, fazer turismo em lugares exóticos, viver a vida em um tipo distinto da realidade na qual se encaixava naquela época, e de repente ela se eu conta que era assim, porque sua profissão era tudo o que ela tinha. Seus amigos verdadeiros tinham ficado em Avonlea, seus pais adotivos a quem adorava estavam em Green Gables, e o amor de sua vida era parte de um passado que fora doce, mas que não lhe pertencia mais.
Entretanto, apesar de tudo o que se passara com ela nos últimos dois meses, Anne claramente enxergava a diferença de sua vida agora em contraste com o que fora aos seus dezoitos anos. Todos os seus dias eram ricos de dedicação, carinho, sorrisos, e principalmente de amor. Gilbert lhe dera tudo o que ela precisava para ser feliz, e ela não sentia mais aquele vazio, e aquela solidão triste que a fazia observar a vida de suas amigas com seus maridos e filhos, e ficava se perguntando se um dia teria uma família e alguém para amar.
Por mais que tivesse sonhado com tudo aquilo, Anne tinha ganho dos céus mais do que esperara. Ela tinha um homem a seu lado que valia o peso em ouro, dois bebês lindos, uma casa confortável que amava, e de onde tinha uma vista maravilhosa, amigos que se importavam com ela, e tudo aquilo seria perfeito se ela pudesse voltar a andar logo.
Essa era sua única tristeza nos últimos tempos, e apesar de Gilbert estar sempre lá para assegurar que aquela incapacidade era temporária, Anne temia em seu coração que nunca mais voltasse a pisar em terra firme em cima dos próprios pés.
Ela sabia que muita gente passava por isso, e após superar sua revolta inicial, passavam a viver uma vida normal dentro do possível, mas, ela não sentia que tinha toda essa força dentro de si, se caso viesse a perder o movimento das pernas para sempre. Anne nunca pensara em viver esse tipo de experiência, e quando lia sobre pessoas que por alguma razão ficavam paralíticas, ela se perguntava como conseguiam suportar viver uma vida limitada de repente pela fatalidade do destino? Agora ela estava na mesma situação, sentindo na pele o que era depender de outras pessoas para poder fazer muitas coisas que antes era capaz sem realmente ter que se esforçar tanto, e que naquele momento tinham se tornado um grande obstáculo contra os quais lutava todos os dias para vencer. Se aquele incidente infeliz que lhe acontecera era para que mudasse sua perspectiva de vida sobre alguns aspectos internos como muitos daqueles estudiosos que discursavam sobre causa e efeito pregavam, ela ainda teria que descobrir, pois não encontrava nenhum sentido para o que Peter Bells lhe fizera.
- Você está linda. Não precisa se preocupar com nada.- Gilbert disse, olhando-a pelo espelho, enquanto suas mãos massageavam lhe a nuca.
- Você acha mesmo?- Anne perguntou insegura, enquanto suas mãos tentavam alisar uma ruga imaginária na saia que estava usando.
- Eu não sei por que pergunta tanto isso, se sabe que é a mulher mais linda do mundo para mim.- Gilbert deixou um beijo no topo de sua cabeça, e depois colocou as duas mãos nos ombros magros de Anne, que o encarou com um olhar envergonhado.
- Desculpe-me. Eu sei o quanto tem se esforçado para que eu me sinta melhor a cada dia. Não quero parecer pessimista demais, mas, ainda tenho dificuldades para lidar com meus sentimentos a respeito do que aconteceu.
- Eu sei amor, e ninguém espera que supere tudo de uma vez. Mas, quero dizer que me sinto orgulhoso, pois apesar de tudo, você vem se esforçando para seguir com a sua vida.- ele abraçou-a pelos ombros e Anne segurou uma das mãos dele na sua e respondeu:
- Você e os bebês têm me ajudado muito. Vocês são a minha luz, sem isso acho que não estaria passando por isso de forma equilibrada.
- Você também é minha luz, Anne. Já me ajudou a superar tanta coisa, e por isso, eu quero fazer o mesmo por você.- ela se virou de frente para Gilbert devagar, o abraçou pela cintura e disse:
- Estou com medo, Gilbert, e sei que isso faz de mim uma covarde, pois muitas pessoas que não têm o mesmo apoio que eu reconstroem suas vidas sozinhas, e eu fico procurando desculpas para não encarar o mundo lá fora, porque aqui dentro eu sei como me virar, porém, longe dessas quatro paredes, me sinto como um grão de areia perdido no meio do deserto.
- Anjo, eu estou com você, não há nada a temer. Se sentir desconfortável demais no trabalho por conta de algum incidente ou motivo, é só me ligar.- ele disse, subindo e descendo a mão pelo pescoço de Anne com carinho.
- Ainda assim, me sinto covarde demais.- ela se lamentou.
- Você não é covarde. Todos nós sentimos medo de alguma coisa, e isso não torna ninguém melhor ou pior. Tudo o que é novo nos causa estranheza ou desconforto, mas, com o tempo acabamos por nos acostumar, e superar. – ele se inclinou e encostou a testa dele na de Anne e disse:- Você vai voltar a andar, amor. Só tenha mais um pouco de paciência.
- Eu queria tanto ter a mesma certeza que você tem.- Anne disse suspirando, ao mesmo tempo em que segurava o rosto dele entre as mãos.
- Ei, confie em mim, ou será que não me acha mais um bom médico?
- Para mim você é o melhor médico do mundo.- Anne disse toda derretida pelo seu marido. Amava momentos assim com ele, pois lhe davam uma energia diferente.
- Então, deveria acreditar quando o melhor médico do mundo lhe diz que vai ficar boa em breve.- Gilbert disse em tom de brincadeira.
- Eu acredito, só me sinto pessimista às vezes.- ela inclinou a cabeça e a encostou no peito de Gilbert, que a puxou devagar para si, rodeando lhe a cintura, e disse:
- Eu te amo, Anne, cada dia mais. Acredite apenas nisso, e tudo o mais vai ficar bem.
- Eu também amo você demais.- Anne disse, levantando a cabeça e oferecendo seus lábios a Gilbert que os tomou com carinho enquanto Anne se perdia toda naquele calor que a boca dele lhe proporcionava. Como sentia a falta dele! Precisava daquele homem inteiro para ela, e não apenas as carícias que trocavam furtivamente nos últimos dias. Elas não a satisfaziam mais.
Suas mãos se insinuaram por baixo da camiseta de Gilbert, que ao sentir o toque morno dela em sua pele, suspirou, mas, logo recobrou o controle de si e disse sussurrando:
- Amor, agora não. Você está indo para o trabalho se lembra?- ele segurou-lhe as mãos e encarou seus olhos azuis, fazendo Anne respirar fundo e dizer:
- Quase perdi o controle, me desculpe.
- Tudo bem. Ambos estamos carentes. Mas, acho que podemos esperar mais um pouco. Está tão perto de terminar esse nosso celibato forçado.
- Quando vou saber o resultado dos meus últimos exames?- Anne quis saber, pois estava ansiosa por boas notícias.
- Hoje mesmo.- Gilbert garantiu.- Está pronta para ir?- ele perguntou olhando para as mãos de Anne que tremiam de nervosismo.
- Sim, vamos logo que quero enfrentar esse fantasma de frente.- ela disse com coragem.
- Quer que eu a carregue?- Gilbert perguntou, sabendo de sua aversão pela cadeira de rodas.
- Creio que preciso me acostumar com "ela", não é? Não posso continuar te fazer me carregar por todos os lados. Preciso bancar a adulta e acabar com essa birra toda. Vamos lá, pode trazê-la, eu consigo.- Anne fez uma careta que fez Gilbert retrucar:
- Tem certeza? Sabe que não me importo nem um pouco em te carregar.
- Tenho sim. Não sou mais criança e sim uma mulher adulta com dois filhos. Você tem razão. A cadeira de rodas vai me dar mais autonomia até que eu consiga andar de novo.- Anne disse com uma determinação um tanto duvidosa para si mesma, mas, precisava se convencer de que poderia fazer aquilo com facilidade sem se sentir uma inválida de verdade.
Quando Gilbert voltou com a cadeira, ela a olhou por um segundo, tentando tomar coragem para se sentar nela, enquanto sua mente rejeitava totalmente a ideia. Por fim, ela olhou para o marido que compreendeu seu pedido silencioso, e a ajudou a se ajeitar sobre sua inimiga de meses. A sensação não foi tão ruim como as duas outras vezes que precisara dela, e conforme Gilbert a empurrou em direção a porta, Anne foi aos poucos ajustando seus sentimentos à sua necessidade no momento.
Logo eles estavam no elevador, com Norma e os bebês que dormiam tranquilamente em suas cestinhas bem atrás deles. Quando o elevador atingiu o térreo, Gilbert empurrou a cadeira até o carro, ajudou Anne a se ajeitar no banco do carona, enquanto Norma se acomodava com os bebês no banco de trás, e depois, ele próprio ajeitou seu cinto de segurança, e começou a dirigir indo em direção ao trabalho de Anne.
Quanto mais perto chegavam do estúdio, mais Anne ficava apreensiva. Era a primeira vez que vinha ali depois de tudo, e não podia dizer que se sentia exatamente confortável com a situação.
- O que foi, Anne?- Gilbert perguntou ao vê-la apertar as mãos nervosamente.
- Nada. Só me sinto um pouco ansiosa.- ela respondeu, tentando sorrir.
- Está com medo, não é?-Gilbert disse segurando em sua mão assim que estacionou o carro. Ela apenas balançou a cabeça concordando. Norma sentindo que o casal precisava de alguns minutos sozinho, saiu do carro com os bebês nas cestinhas, e se sentou em um banco a poucos metros do carro.
- Vem cá.- Gilbert disse, assim que ficaram sozinhos, abrindo o cinto de segurança de Anne e a puxando para seu colo.- Vai ficar tudo bem. É normal se sentir assim, mas depois que entrar lá e começar a fazer o que sempre amou fazer, vai ver que não é tão difícil assim voltar a se socializar.- Anne apenas concordou, e circulou o pescoço de Gilbert com seus braços, e escondeu seu rosto no ombro dele, e ficou assim até que sentiu seu coração se normalizar.- Está melhor?- ele perguntou assim que ela o encarou de novo.
- Sim. Acho que estou pronta para entrar.
Ele desceu primeiro para pegar cadeira de rodas no porta mala e depois a trouxe até Anne, a ajudou a acomodar nela, e depois empurrou até a porta, acompanhado de Norma e os bebês. Quando chegaram na entrada, um dos funcionários do estúdio esperava por Anne e disse:
- Pode deixar que eu a levo Dr. Blythe.- Gilbert assentiu, se virou para Anne e perguntou:
- Vai ficar bem?
- Sim.
- Só promete para mim que se qualquer coisa te incomodar ou se você não se sentir bem, vai ligar para mim.
- Ligo sim.- Anne concordou, e então, Gilbert se inclinou, a beijou docemente nos lábios, se despediu dos bebês com um beijo na testa de cada um, e só então caminhou para o carro.
- Vamos entrar, Sra. Blythe?- o funcionário perguntou.
- Sim.- Anne respondeu depois de respirar fundo e sorrir. E assim, e entrou no estúdio, torcendo para que aquele fosse um dia bom.
GILBERT
Deixar Anne por sua própria conta foi a coisa mais difícil que Gilbert fez nos últimos dias. Ele sabia que era o certo a se fazer, pois ela precisava voltar para o mundo real e enfrentar seus medos sozinha, mas, era quase impossível para ele não se envolver, depois de passar os últimos dois meses cuidando dela como se Anne fosse uma daquelas porcelanas pronta para se quebrar a qualquer minuto.
Gilbert sabia que ela conseguia sozinha, e que não necessitava dele todo o tempo ao seu redor, mas, aquela vontade de protege-la e cuidar dela era sua, e desde que se conheciam ele vivia para isso. Ele a amava tanto, e ver Anne enfrentar cada obstáculo todos os dias era um teste para o seu coração. Sua esposa era forte, mesmo quando acusava a si mesma de ser covarde, porém, alguém covarde não teria se colocado em frente a uma bala para salvá-lo, e era isso que ela parecia não perceber. Anne media sua força pelas suas fraquezas diárias, mas, não percebia que só o fato de se levantar da cama e não fugir dos desafios já era prova suficiente da sua força interior, e isso era mérito só dela, pois por mais que Gilbert a incentivasse, não significaria nada se ela não estivesse disposta a tentar.
Ele olhou várias vezes no celular naquele dia nos intervalos de suas consultas, e não sabia se devia ficar animado ou triste por não ter notícias dela, pois, seu silêncio significava que estava bem, e também que ele morreria de saudades até que chegasse em casa naquela tarde. Gilbert também estava sentindo falta dos bebês, pois todos os dias Anne lhe enviava um vídeo deles com ela em casa, e naquele dia isso não tinha sido possível, pois ela finalmente decidira lhe dar ouvidos e sair de dentro da bolha onde se enterrara ao longo de dois meses.
Era muito bom ver Anne emergindo de dentro de si mesma, e deixando que o mundo a visse novamente, tal qual como era. Estar temporariamente incapacitada de andar não mudava o fato de ele continuar sendo quem era. Isso não a tornava inferior ou a deixava em desvantagem. Na verdade, toda aquela situação só provava o quão extraordinária ela era, e o quanto ele era feliz por Anne ser sua esposa e mãe de seus filhos. Casar com ela fora a decisão mais acertada que já tivera na vida, e nunca se arrependeria de ter dado esse passo com ela.
Ele checou de novo o celular, e Gabriela que estava na mesma sala que ele notou esse fato e perguntou:
- Algum problema, Gil? Você não para de olhar para esse celular.
- Estou esperando uma mensagem de Anne.- ele disse sem tirar o olhar da tela.
- Ela voltou para o trabalho hoje, não é?
- Sim.- ele respondeu agora encarando a amiga.
- E o botão super protetor do Dr. Blythe está ligado novamente.- Gabriela disse em tom de brincadeira.
- Não tem como eu não me preocupar, Gabriela. É o primeiro dia dela fora de casa sozinha, e tenho medo do que possa acontecer.- ele disse ajeitando seu jaleco na gola.
- Se ela não ligou é porque está tudo bem.- Gabriela o alertou.
- Eu sei, mas, mesmo assim eu queria saber como ela está lidando com toda a situação.
- Relaxa, Gil. Você precisa deixá-la lidar com os problemas que surgirem sem você, pois Anne já se apoiou em você demais nesses dois meses, e está na hora de tomar as rédeas da própria vida.- Gabriela disse, cruzando suas longas pernas cobertas por sua calça jeans desbotada.
- Você está certa, Gabriela e conscientemente eu sei disso, mas tenta convencer meu coração que nesse exato momento só me diz que ela precisa de mim.- ele enterrou as mãos no bolso do jaleco e tentou não olhar de novo para o celular que ele deixara em cima da mesa.
- É difícil desapegar, eu bem sei como é isso, porém, isso é importante tanto para você como para ela. Tenta só um pouquinho.- Gabriela aconselhou se levantando da poltrona e deixando Gilbert sozinho.
Aquilo era mais fácil falar do que fazer, porém, ele tentou não correr para checar cada mensagem que chegava em seu celular, ou mesmo ligar para Anne para saber como seu dia tinha sido no trabalho, pois ele sentia que estava ficando paranoico de novo, e tinha jurado que isso nunca mais aconteceria. Fora ele que incentivara Anne a voltar a trabalhar, pois percebera que ficar em casa trancada o dia todo somente tendo os bebês como companhia não lhe fazia nada bem. Ela precisava ter contato com outras pessoas para voltar a ser quem era, antes daquele desprezível Peter Bells tirar o seu sorriso, e Gilbert queria sua Anne de volta, embora a amasse de qualquer jeito.
Após o almoço, ele não aguentou mais ficar sem notícias e ligou para ela. O som suave de sua voz o fez desejar tê-la por perto, e ele quase suspirou ao pensar nos beijos dela e todo o calor do qual sentia falta. Eles vinham se controlando tanto, e Gilbert sabia que precisavam esperar que sua lesão se cicatrizasse por completo para que pudessem voltar a ter suas noites de amor intensas, pois o bem-estar de Anne vinha em primeiro lugar.
- Oi, Anjo como você está?
- Estou bem. Não pensei que me divertiria tanto.
- Ficou feliz em ouvir isso. Eu te disse que tudo ficaria bem.- Gilbert disse aliviado, pois temera uma situação qualquer que poderia traumatizá-la, porém, ou ouvir-lhe a voz alegre no telefone só reforçava sua opinião de que fizera a coisa certa ao incentivá-la a retornar ao trabalho.- E os bebês?
- Eles estão bem . Todos adoraram os dois por aqui, e até me convidaram para tirar algumas fotos deles para uma futura campanha infantil, mas, eu disse não. Queria falar com você sobre isso primeiro, e também não quero expô-los ao meu mundo profissional assim tão cedo. Eu quero que tenham uma vida normal com uma infância normal, e só quando forem mais velhos talvez eu volte a pensar nisso. Acha que fiz bem?
- É claro, meu amor. Eu também não os quero nesse mundo de celebridades tão cedo. Embora eu respeite seu trabalho demais, quero que nossos filhos não tenham que se preocupar com fama quando ainda tem idade para serem amamentados. Se mais tarde, eles decidirem que querem experimentar as lentes de uma câmera profissional, não vou me opor de forma nenhuma.
- Obrigada pelo apoio de sempre. Vou demorar um pouco para ir para casa, pois temos muitas fotos para fazer hoje. Eu pedi a Norma que saísse um pouco com eles para o jardim, e creio que vou chegar em casa quase no mesmo horário que você.
- Tudo bem para mim desde que descanse o necessário e se alimente direito, você sabe que não pode se exceder.- Gilbert disse preocupado.
- Fique tranquilo. Vou ter duas horas de descanso onde poderei tirar o meu cochilo da tarde, e quanto à minha alimentação, o estúdio mandou comprar tudo o que gosto de comer. Estou bem amparada por aqui.- ele podia ouvir seu riso suave no telefone e isso acalentou seu coração mais do que esperava. Era muito bom ver Anne aos poucos voltando a normalidade de sua vida.
- Até mais tarde, amor. Se cuida.- ele disse ao se despedir, pois logo o próximo paciente estaria chegando para ser atendido.
- Vou me cuidar. Te vejo em casa. Eu te amo.
- Eu te amo também.- ele disse sorrindo, e desligou.
Com o coração mais aliviado, Gilbert voltou ao trabalhou e permaneceu assim até o fim da tarde quando seu horário chegou ao fim. Antes de ir para casa, ele passou pelo laboratório e pegou o resultado dos exames de Anne, e ao abri-los ele apenas sorriu com satisfação. Agora sim tinham um motivo para comemorar.
ANNE E GILBERT
Quando Anne chegou em casa naquela tarde, já passava das seis horas e ela estava exausta, mais feliz, pois o que pensara que seria um grande problema para ela acabara se tornando uma ótima experiência.
Nem ela mesma tinha percebido o quanto sentia falta de trabalhar, pois viera os últimos dois meses afundada em sua auto piedade e temor, que se esquecera como era estar dentro de um estúdio fotografando e tendo contato de novo com seus colegas de trabalho.
O medo inicial que tivera das pessoas a olharem com pena ou estranheza não tinha se concretizado, e agora se sentia feliz e agradecida por Gilbert tê-la convencido a voltar a sua vida de antes, com algumas restrições era verdade, mas, não deixava de ter sua normalidade. Ela se divertira muito no estúdio, todos se preocuparam em vê-la à vontade, nenhuma pergunta inconveniente foi feita, ela fotografara o tempo todo sentada, e pudera curtir e amamentar seus bebezinhos nos intervalos, que se comportaram incrivelmente bem, como se conhecessem aquele ambiente a muito tempo. Na verdade, eles conheciam mesmo, pois Anne trabalhara até quase o sétimo mês, então talvez alguma coisa em sua memória infantil os fizesse se lembrar das câmeras, e das luzes coloridas que enfeitavam o ambiente.
Norma fizera um excelente trabalho cuidando deles, e Anne estava extremamente satisfeita por Gilbert tê-la contratado desde do início apesar de sua resistência nos primeiros dias quando voltara do hospital a tê-la por perto, porém, agora conseguia enxergar o quanto ela era essencial em sua vida e na vida dos bebês que se adaptaram maravilhosamente à ela, e assim, cada coisa ia se encaixando no seu devido lugar.
- Amor, eu cheguei.- Anne disse quando Norma abriu a porta do apartamento para ela com Sarah e John cada um em uma cestinha profundamente adormecidos. Eles ainda estavam na fase das mamadas e seus cochilos ocasionais, adormecendo logo que eram alimentados.- Pode colocá-los no quarto, Norma, que depois eu dou banho neles com o apoio de meu marido. Vá descansar e obrigada por sua ajuda hoje.
- Por nada, Sra. Blythe. Amanhã cedo estarei aqui.- a enfermeira disse com um sorriso.
Depois de sua partida, Anne levou a cadeira de rodas até a cozinha, pois sentiu um aroma delicioso vindo pelo corredor, e foi verificar com os próprios olhos o que seu marido estava aprontando. Ao chegar na porta, ela teve a deliciosa visão de seu homem sem camisa, apenas de moletom, com um guardanapo atirado sobre os ombros, e se perguntou como Gilbert podia ficar cada dia mais gostoso, e parecia mais ainda a seus olhos agora que não podia tocá-lo como desejava.
Ele se virou de costas para pegar um tipo de tempero no armário, e a visão dos músculos dele definidos naquele local a fez suspirar, pensando que já estava sem ele tempo demais. Aquela abstinência tinha que acabar logo, ou ela iria ficar louca com aquela vontade que tinha de saboreá-lo inteirinho como fazia antes. De repente, ele ficou de frente novamente, e os olhos dela se perderam em cada gominho daquele abdómen dos deuses. Ela teve que apelar para todo seu autocontrole para não se aproximar e passar a ponta da língua em cada um deles. Para acabar com a própria perturbação, ela disse antes dele ter percebido que ela havia chegado:
- Estamos comemorando alguma coisa? O cheiro está ótimo.
- Você finalmente chegou. Como foi seu dia? – O jovem médico perguntou, antes de se aproximar de Anne, e beijá-la nos lábios.
- Foi ótimo. E o seu?- Anne perguntou rodeando a cintura dele com os braços.
- Cansativo, principalmente, porque pensei o tempo todo em você. Fiquei preocupado.- Gilbert disse, beijando-a no topo da cabeça.
- Não devia, foi tudo bem. Eu queria te agradecer por ter me convencido a ir para o trabalho. Eu me senti quase normal de novo.- ela disse abraçando-o mais forte pela cintura ainda, pois se pudesse ficaria assim para sempre.
- Você me perguntou se estamos comemorando alguma coisa, e eu tenho uma coisa para te mostrar.- Gilbert fez suspense, e Anne o olhou com curiosidade e cheia de expectativa.
- O que é?- ela perguntou com os olhos brilhando.
- Este envelope tem o resultado dos seus exames.- ele disse sorrindo, e Anne pegou o envelope das mãos dele com avidez e o abriu, ao ler o conteúdo dentro dele ela quase gritou de alegria.
- Eu te disse que você iria ficar bem, agora você apenas tem que se focar em sua recuperação completa. -Gilbert abaixou até ficar na altura do rosto de Anne, puxou seu queixo com o polegar e a beijou com todo o seu amor que Anne conseguia sentir pelas batidas do seu coração.
Quando se afastaram, Anne sorria e orelha a orelha e sentia como se um sol inteiro brilhasse dentro dela cheio e esperança e amor por aquele homem que salvara sua vida, e que era o seu marido.
- Que tal um banho antes do jantar? – Gilbert sugeriu, e Anne assentiu com entusiasmo.- Vou preparar a banheira para você.
- Depois você me ajuda com os bebês? Eles estão no quarto dormindo, e também vão precisar de um banho mais tarde.
- Claro, meu amor. Mas, primeiro vamos cuidar de você. -Gilbert disse, beijando-a no rosto e depois foi até o banheiro onde encheu a banheira de espuma perfumada, levou Anne no colo até lá, a ajudou a se despir e a colocou no meio da espuma, controlando a vontade de entrar lá com ela. Sua esposa estava tão linda, como os cabelos presos no alto da cabeça, desejável demais, provocante ao extremo. Ele saiu antes que mudasse de ideia, pois ainda não era o momento. Assim, ele voltou para a cozinha e terminou o jantar daquela noite.
Depois de um tempo, ele voltou ao banheiro para ver se Anne tinha terminado o banho e a encontrou dormindo, e olhando para ela tão sexy daquele jeito, Gilbert não resistiu. Era tempo demais sem ela, e ele precisava muito senti-la outra vez. Por esta razão, ele se despiu e se juntou a ela em um segundo, se aproximando devagar e começou a beijá-la devagar na testa, e desceu pelas bochechas, e quando chegou aos lábios , ela já estava completamente desperta e na mesma excitação que ele. Era sempre assim entre eles, um beijo e já queimavam um pelo outro, ainda mais agora que não tinham um contato assim verdadeiro desde que ela voltara do hospital.
- Quer que eu pare?- Gilbert perguntou, pois não queria fazer nada se ela não se sentisse pronta.
- Não, eu quero que me ame. Estou morrendo de saudade do seu toque em mim.- ela sussurrou, envolvendo-o com os braços, enquanto Gilbert encostava suas costas na borda da banheira para ter apoio, e trazia sua esposa para seu colo. Em seguida, ele devorou a região do pescoço dela, descendo até o ombro, mordiscando toda pele que encontrava pelo caminho, ouvindo-a gemer baixinho em seu ouvido, e aquilo o enlouqueceu mais do que qualquer toque dela em sua pele. Seus lábios alcançaram-lhe os seios, sugando os mamilos até que enrijecessem em sua boca, e viu-a jogar o pescoço para trás em uma clara expressão de prazer que o deixou alucinado por ela. Sua boca continuou a traçar beijos de fogo pelo tronco dela, suas mãos descendo e subindo pelas costas de Anne que suspirou alto, pensando no quanto aquilo era bom, e no quanto ela sentiu falta daquelas sensações excitantes que só Gilbert era capaz de provocar.
Anne tocou o peito dele com carinho, e depois substituiu as mãos pelos lábios, e sentiu a intimidade de Gilbert crescer embaixo dela, ao mesmo tempo em que seu corpo todo se arrepiava por antecipar o que viria a seguir. Ele voltou a beijá-la com ardor, enquanto suas mãos tocavam cada parte dela que se oferecia a ele cheia de desejo, fazendo Anne gemer cada vez mais alto.
Os dedos dela também o tocaram da forma que podiam e como ele gostava, e quando alcançou a intimidade dele. estimulando-o sem pressa, Anne viu Gilbert estremecer e apertar seu corpo com mais força contra si, e essa troca de carinho durou cerca de alguns minutos até que um estava pronto para o outro, e assim, Gilbert deslizou para dentro dela suavemente, experimentando, relembrando como era amá-la de forma completa, não apenas com carícias ou beijos ardentes, mas, também com seu coração. Primeiro eles começaram a se mover devagar com os olhos pregados um no outro, enquanto Anne via os olhos castanhos dele irem escurecendo conforme subiam mais um degrau na escada ampla do prazer a qual estavam alcançando lentamente, assim como Gilbert via o rosto dela mudar a cada nova investida sua, deixando-a ainda mais linda a seus olhos. Então, eles aceleraram os movimentos e logo explodiram juntos em uma onda alucinante de desejo, amor e loucura.
Quando seus corações voltaram a bater em ritmo normal de novo, Gilbert ajudou Anne a sair da banheira, e juntos se enxugaram e se vestiram, sentindo aquela conexão entre eles ainda mais forte do que antes, talvez porque o amor que fizeram aquela tarde fosse um reencontro da paixão que sentiam um pelo outro, e que nunca se extinguiria nem que se passassem anos.
Eles jantaram muito mais tarde, depois de banharem os bebês e Anne os amamentar. Ato que Gilbert fazia questão de observar, pois achava linda aquela comunicação entre Anne, John e Sarah formando um elo da família linda que estavam construindo juntos.
Ao se deitarem naquela noite, ele dormiram abraçados, sentindo em suas almas aquela sensação boa de terem reencontrado o caminho da felicidade novamente, esperando sem medo o que ao manhã lhes traria. Foi nesse espírito cheio de paz que Anne acordou, procurando Gilbert, mas não o encontrou, e logo viu o bilhete dele em cima do travesseiro lhe dizendo que tinha saído para correr e que logo voltaria.
Quando de fato ele chegou da rua, mais lindo do que nunca, todo suado, com sua camiseta regata grudada em um corpo que ela sabia bem o quanto era sexy e de enlouquecer qualquer mulher, Gilbert a puxou para um beijo que a deixou toda rendida e depois lhe disse com um sorriso mais brilhante que as estrelas a noite no céu de nova Iorque.
- Como foi a corrida?- Anne perguntou.
- Melhor depois da noite que passei com você.- ele disse com um olhar provocante, e então, ele lhe estendeu um envelope e continuou:- Peguei a correspondência, parece que essa carta chegou para você.
Anne olhou para o envelope em suas mãos, e viu que a carta não tinha remente. Deste modo, ela abriu o envelope e quando começou a ler as primeiras linhas ela congelou, e olhou para Gilbert que a encarou preocupado ao ver duas lágrimas escorrendo por seu rosto.
- O que foi, meu amor? De quem é a carta?- Anne respondeu com um olhar tão triste que doeu dentro dele.
- É da minha mãe.
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