Capítulo 98- Tudo de mim
Olá, queridos leitores. Mais um capítulo postado. Espero que gostem e me presenteiem com seus comentários. Desculpem pelos erros ortográficos. Beijos. Obrigada por tudo.
ANNE
Anne acordou sentindo algo macio e quente embaixo dela. Ela fez um esforço enorme para abrir os olhos, porque seus sentidos ainda bêbados de sono se recusavam a se afastar daquele calor que a convidava a continuar dormindo indefinidamente. Seus cílios piscaram pesados, enquanto seus lábios se abriam em um grande bocejo, assim como seus olhos azuis buscavam a causa daquele enorme prazer que sentia antes mesmo de despertar. Suas mãos desceram devagar sobre uma superfície lisa que subia e descia junto com a sua respiração, fazendo-a perceber instantaneamente que estava deitada sobre o corpo de Gilbert mais uma vez. Um sorriso suave se desenhou em seus lábios ao pensar em como era confortável e extremamente agradável dormir assim. Era um contato íntimo e totalmente excitante sentir seu amado dessa maneira, pois todo o calor que vinha dele naquele instante lhe dava a mesma sensação de conforto de um casaco de lã quando a aquecia no inverno. Talvez a comparação que acabara de fazer não fosse tão boa assim, mas, os sentimentos que aqueles braços em volta de sua cintura que a impediam de cair de sua posição atual, e a pele de Gilbert contra sua lhe provocavam, eram certamente tão aconchegantes e familiares que a faziam ter consciência do quanto era bom estar de volta para casa.
Ela virou o rosto que estava apoiado no peito masculino, e se deparou com olhos castanhos muito vivos e brilhantes observando seus movimentos. Anne mordeu a pontinha do lábio inferior de leve enquanto sentia as mãos de Gilbert subirem por suas costas e pararem em seus cabelos, os quais ele pegou abundantemente nas mãos.
- A quanto tempo está acordado? - Anne perguntou se equilibrando precariamente sobre os quadris estreitos dele, mas não desejando desistir daquele contato delicioso.
- Mais tempo do que imagina. - A voz de Gilbert era tão gostosa de se ouvir quando ele acordava. Era um som enrouquecido misturado com o som vibrante que saía de suas cordas vocais ao pronunciar cada palavra dita. Se tivesse uma maneira de gravá-la somente para si mesma, Anne sabia que aquele som seria o melhor dos despertadores que já tinha escutado como apoio para ajudá-la a acordar pela manhã.
- E você ficou todo esse tempo me olhando? - Ela perguntou passando as mãos pelos cabelos dele, enquanto um de seus dedos se enrolavam no cachinho que lhe pendia sobre a testa, puxando-o e modelando-o do jeito que mais lhe agradava.
- Sim. Eu precisava ter certeza de que você tinha mesmo voltado, e que tudo o que vivi nas últimas vinte quatro horas não foi apenas um sonho. - Aquele olhar carinhoso e cheio de amor era tudo o que ela precisava naquela manhã. Ela sentira tanta falta de todas as coisas incríveis que ela e Gilbert faziam juntos, e acordar daquela maneira era uma delas.
- Você sabe que é real, que estou aqui, e que nunca mais pretendo deixar você. - Os olhos de Gilbert lhe sorriam com aquela luz magnífica que brilhava em sua íris castanha. Era uma mistura de mel com chocolate, e o resultado era uma cor que ninguém nunca conseguiria reproduzir em uma aquarela, porque aquele tom raro somente seu noivo possuía, por isso, era tão singular assim como ele.
- Estou tão feliz que tenha voltado. Minhas manhãs nunca mais serão frias. Ter você em meus braços de novo a cada dia que eu despertar é a coisa que eu mais tenho desejado nesses dois meses infernais, e poderia facilmente desistir de todo o resto, porque sem você qualquer coisa que eu possa desejar parece uma bobagem sem tamanho. - Ele lhe disse acariciando-lhe a nuca, e Anne deitou de novo a cabeça no peito dele e respondeu:
- Você não precisa desistir de nada, porque vamos conseguir tudo o que desejamos juntos. – Ela tocou o rosto de Gilbert devagar, e pensou que somente agora ela tinha se dado conta de que todas aquelas semanas que não tivera Gilbert com ela, a vida apenas parecera fluir ao seu redor como se estivesse em câmera lenta como naqueles filmes antigos onde tudo acontecia em preto e branco. Ela fingiu seguir em frente, assim como fingiu que era forte o suficiente para andar por outro caminho, construindo novos sonhos por si mesma, para descobrir em seguida, que sua vida nunca teria as cores do arco-íris de volta se Gilbert não estivesse no fim daquela jornada com ela. Era assim que as coisas eram entre eles, tudo ou nada. Nunca ouve uma terceira opção. Estar com Gilbert era ter tudo e entrar de cabeça em um labirinto de emoções que Anne nunca tinha certeza como iria acabar, mas confiando plenamente no homem que a segurava nos braços agora e tão cegamente, sem hesitar, sem pular fora, sem desistir ou recuar, porque estar longe dele era sentir que o nada nunca seria preenchido, a sufocaria, a deixaria morrer afogada em um mundo vazio, triste, impiedoso. Era se condenar a nunca mais sentir aquele amor que a fazia suspirar, sonhar de olhos abertos, se entregar a todas as loucuras dos seus sentidos, que a fazia se sentir uma mulher de verdade
- O que está dentro dessa cabecinha nesse exato momento, Anne? - Gilbert perguntou enrolando uma mecha do seu cabelo longo em seu dedo que caia sobre seu peito lhe fazendo cócegas.
- Eu estava apenas me lembrando do quanto senti saudades desse apartamento, e de você. - Ela disse, distribuindo pequenos beijos pelo peito de Gilbert. O contato de seus lábios quentes sobre a pele dele sempre causava várias reações em seu noivo, e Anne adorava ver a expressão do rosto dele mudar para algo intenso somente por causa do toque dela. A respiração dele se acelerou um pouco e o coração seguiu um ritmo um tanto irregular, mas ele ainda encontrou forças para responder:
- Eu senti sua falta a cada dia, Anne, a cada segundo e a cada minuto. Foi como.se uma parte de mim tivesse sido arrancada, e nunca mais quero sentir isso de novo. Você foi o meu passado, é o meu presente, e será sempre meu futuro. E não adianta querer escapar de mim, porque eu nunca vou permitir. - Gilbert disse beijando-a por todo o rosto, e Anne suspirou com esse gesto. Ele sabia dar-lhe carinho como ninguém, fosse por meio de beijos ou toques. Como não se sentir especial em momentos assim? Como não sentir todas as coisas que ele tentava lhe transmitir por meio daquele olhar que sempre soube desvendar tudo dela mesma? Gilbert conhecia cada parte dela por dentro e por fora e seria inútil tentar esconder qualquer emoção dele, porque ele fatalmente saberia ler em seu rosto o que ela estava sentindo em poucos segundos.
- Eu não quero escapar. Quero que me abrace bem forte todos os dias com esses braços que são minha fortaleza assim como você é o meu lar. - Ela beijou o queixo dele, mordiscando-o de leve, enquanto Gilbert acariciava seus ombros nus bem devagar com seu polegar, massageando o músculo do local suavemente. Ela se sentia tão relaxada que podia dormir com o corpo de Gilbert como apoio o resto do dia contra o seu.
Anne o viu desviar os olhos de seu rosto, e ao seguir o mesmo caminho que o olhar dele, ela percebeu que seu noivo examinava com cuidado a caixinha de música que ele lhe dera na noite anterior, e que Anne deixara em cima da cômoda. Ela viu quando o rapaz a pegou nas mãos e a abriu, sorrindo ao enxergar a bailarina ruiva que se destacava dentro do forro azul, e depois disse para Anne:
- Você ainda não ouviu a música da caixinha.
- Você sequer me deu tempo para isso ontem à noite. - Ela disse com ar de malícia.
- Eu precisava sentir você por inteiro nesse apartamento onde as minhas melhores lembranças de você estão. - Ele disse beijando a ponta do nariz de Anne, e depois suas bochechas. - Mas, vou me redimir agora, pois quero que ouça a música e entenda porque ela é especial.
Gilbert entregou a caixinha para Anne, e assim que ela deu corda, a bailarina começou a rodopiar ao som de Romeu e Julieta. No mesmo instante Anne olhou para Gilbert e uma lágrima emocionada rolou pela lateral do rosto dela, e seus lábios tremeram pela emoção contida.
- É lindo, meu amor. Como conseguiu encontrar algo tão perfeito? - Anne perguntou observando a bailarina continuar a dançar com graça e movimentos suaves.
- Na verdade, fui atraído pelos cabelos vermelhos. A música foi uma grata surpresa para mim. - Gilbert respondeu com seus olhos também, fixos na bailarina e depois os fixou no rosto de Anne de novo. - É engraçado como tudo sempre me leva até você de um jeito ou de outro. Acho que vou começar a acreditar naquelas pessoas que dizem que duas almas quando se amam de verdade estão destinadas a se encontrarem ao longo da vida.
- Nós fomos feitos assim, Gilbert. Não existe outra explicação para essa conexão que temos. Eu sempre amei Romeu e Julieta, e depois que a encenamos juntos, essa peça passou a ser a minha favorita. Se parece tanto com a nossa história, não acha? Eu quero dizer, a parte que os protagonistas se apaixonam tão jovens e à primeira vista. - Anne disse fazendo um movimento para rolar para o lado e deitar na cama ao lado de Gilbert, mas ele não deixou, mantendo-a presa sobre o seu corpo.
- Você nunca me contou que se apaixonou por mim à primeira vista. - Gilbert disse bagunçando os fios de cabelo ruivo que caiam pelo rosto de Anne.
- Achei que isso já estivesse implícito em todas as nossas conversas. - Ela disse surpresa.
- Eu sei. Eu queria apenas ouvir você dizer isso com todas as letras mais uma vez. - Gilbert disse segurando na cintura de Anne com mais força.
- Não sabia que precisava tanto ouvir isso de mim. Por que simplesmente não pediu?
- Não quis parecer carente demais. - Gilbert disse parecendo envergonhado por confessar a Anne aquela fraqueza.
- Não seja bobo, amor. Eu o teria feito com prazer. Eu não tenho mais receio de falar o que sinto como naquela época. Então, Gilbert Blythe, já que precisa tanto ouvir isso, eu te digo. Sim, eu me apaixonei perdidamente por você no minuto em que te vi. Quer que eu repita de novo?
- Não, o que eu preciso agora desesperadamente é te beijar, e isso eu não tenho vergonha de fazer. – Assim seus lábios se juntaram pela primeira vez naquela manhã, e Anne enroscou seu corpo inteiro no dele. Os beijos de Gilbert sempre a levavam ao céu em questão de segundos, e seus corpos tão grudados assim só aumentavam aquela sensação divina. Ela queria mais, porém ele deixou que o beijo terminasse e perguntou:
- O que quer fazer, hoje? Temos um domingo inteiro para explorar.
- Eu quero o que você quiser. – Ela disse, pois realmente não se importava se ficassem o dia todo naquele quarto, ou se Gilbert quisesse fazer uma caminhada lá fora, desde que pudessem ficar cada segundo daquele dia juntos. Foram muitos domingos assim que passara na casa de Cole apenas desejando estar com ele, seu peito implorando pelo fim daquela saudade que somente Gilbert poderia aplacar, e agora Anne não iria largá-lo nem por um minuto sequer.
- Ainda está nevando? - Gilbert perguntou, e Anne esticou o pescoço para olhar pelo vidro da janela que ficava em seu campo de visão.
- Sim, mas, creio que menos que ontem à noite.
- Podemos fazer chocolate quente e comer com o seu bolo de aniversário que não provamos ontem. O que acha? - Ele perguntou fazendo um cafuné gostoso na cabeça de Anne que quase a fez desistir de se levantar.
- O que eu acho é que poderíamos ficar agarrados o dia inteiro nessa cama. Essa é minha ideia de diversão para hoje. - Ela disse com os olhos semicerrados. Gilbert girou o corpo e mudaram de posição, e dessa vez, ele ficou por cima do corpo de Anne, se apoiando com as mãos uma de cada lado dos quadris dela, tomando cuidado para não esmagá-la com seu peso.
- Vou te mostrar qual é minha ideia de diversão. - Gilbert desceu seu dedo indicador pelo colo de Anne, alcançou os seios, contornando cada curva saliente, fazendo o coração dela chegar até a garganta de tão alterado que ficou com aquele toque provocante. E assim, ele continuou seu caminho até chegar ao umbigo dela, onde depositou a ponta de sua língua fazendo movimentos circulares que enlouqueceram o corpo de Anne. Ela sentiu seus quadris se arquearem sem controle contra a sua própria vontade, enquanto Gilbert continuava a brincar com cada ponto daquela região levando-a ao auge de sua excitação.
- Adoro o seu gosto, é melhor do que chocolate, mais delicioso do que sorvete de morango com cobertura em cima, e com certeza mais saboroso do que qualquer sobremesa que já experimentei. - Muito mais do que o toque dele, as palavras de Gilbert conseguiam deixá-la mais quente do que aqueles banhos de sol que tomavam juntos na praia de Avonlea. Ele seduzia sua imaginação, abria as portas de todos os seus desejos escondidos, e fazia o corpo dela se dissolver em adrenalina pura. - Não se controle, amor. Não tem ninguém aqui a não ser nós dois, se entregue sem medo aos apelos de seu corpo, me mostre a mulher linda e intensa que você é.- Anne ofegava e transpirava, as sensações em seu corpo se tornando intoleráveis, mas ao mesmo tempo tão prazerosas que era impossível não se deixar hipnotizar pela voz de Gilbert que era o senhor de suas vontades naquele instante, enquanto ele continuava a beijá-la e tocá-la em lugares que ela sequer imaginara que sentiria prazer algum dia. Onde ele aprendera ser tão intenso assim? Esse Gilbert Blythe que a fazia delirar com o toque de seus dedos era tão diferente daquele rapaz que andava com ela pelos corredores da faculdade segurando em sua mão e sorrindo-lhe com uma alegria genuína dançando em todos os seus traços, mas, ao mesmo tempo se fundia com ele nessa faceta tão sensual que ele lhe revelava quando a fazia chegar a uma satisfação nunca imaginada.
Sem perceber Anne sentiu seu corpo relaxar, e quando abriu os olhos, ela se deparou com o sorriso largo de seu noivo que não perdia uma só reação sua como se estivesse fascinado com o que acabara de acontecer. Ela estendeu a mão para tocar-lhe o rosto, mas, antes que conseguisse tocar-lhe o queixo, Gilbert a segurou, e beijou cada dedo com uma devoção que fez Anne respirar fundo. Então, ele apoiou a cabeça entre seus seios, e a olhou daquele jeito maroto que ele amava e perguntou:
- E então, se divertiu?
- Essa pergunta eu deveria fazer a você. - Anne respondeu com o rosto queimando. Ela tentara não se sentir tímida, mas, certos hábitos ainda estavam agarrados a ela, e Anne imaginava que se livraria deles com o tempo, mas, naquele instante, ela não podia deixar de se perguntar que tipo de poder Gilbert tinha sobre suas emoções que a fazia se comportar tão despudoradamente.
- Eu amo ver você assim tão entregue a mim. Anne, você não sabe o que faz comigo quando me mostra tudo o que está sentindo com esses seus olhos incrivelmente expressivos. Eu queria que você pudesse se ver nesses momentos, é como ter a visão de um anjo no paraíso. - Ah, como ele sabia usar as palavras. Gilbert poderia não seu um poeta, mas, conseguia envolver Anne completamente quando a descrevia daquele jeito. Ela riu ao pensar que se pudesse dizer algo de si mesma nesses momentos como Gilbert dissera, ela se descreveria como um anjo devasso. Onde ela via luxúria, ele via pureza, e onde ela enxergava uma paixão sem controle, ele via apenas uma garota que desabrochava em suas mãos.
- Você faz isso tudo parecer tão natural. - Anne disse tocando-lhe os lábios.
-- É natural porque a gente se ama, e é verdadeiro porque você é minha e eu sou seu, e partilhar isso um com o outro é divino, Anne. Você não tem que se envergonhar de me deixar te ver assim, porque eu quero te ver dessa maneira, muitas vezes. - Ele beijou-lhe a testa de forma doce e Anne respondeu:
- Eu sempre sonhei em se livre, mas nunca pensei que poderia me libertar dessa maneira também. Quando eu te conheci, eu não sabia nada sobre esse tipo de amor. Tudo o que eu li nos romances não me deu nenhuma base para entender o quanto o relacionamento entre um homem e uma mulher pode ser intenso. Você me ensinou tanto, Gilbert, e por isso também, eu lhe sou grata, por ter me permitido ser a mulher que sempre quis ser, e saber que você me ama dessa maneira, e consegue me enxergar além do que sou do lado de fora me causa um tipo de felicidade que nunca conseguirei descrever.
- Você também me ensinou muitas coisas, me libertou de certas prisões internas das quais nunca pensei que me libertaria. Eu sou alguém melhor por sua causa, e é um privilégio poder vê-la sair de seu casulo e se transformar em uma borboleta tão linda, cheia de cor, de vida e de amor. - Anne o atraiu para ela e se beijaram muitas vezes, antes de resolverem se levantar e tomar café, enquanto Milk se sentava aos pés da mesa e lhes fazia companhia se esbaldando em seu potinho de leite, que fez Anne rir ao observá-lo.
- Esse peludinho parece um bezerrinho. Nunca vi um cachorrinho gostar tanto de leite assim. Isso é mais comum em gatos.
- Talvez ele tenha alma de felino. - Gilbert disse acariciando o animalzinho no pescoço.
- Isso não é possível, Gilbert. - Anne disse de braços cruzados.
- Quem pode saber? Tudo o que posso dizer é que nosso filhinho peludo está crescendo muito rápido e daqui a pouco já não será mais nosso bebê.
- Você parecem que se aproximaram muito nesses meses em que fiquei fora. - Anne disse divertida ao ver Gilbert brincando com o cachorrinho que esfregava o focinho em sua mão pedindo por mais carinho.
- Bem, não tínhamos mais que competir por sua atenção, então unimos nossa solidão e carência e ficamos amigos de verdade.
- Você nunca teve que competir por minha atenção, Gilbert. Isso é ridículo. - Anne disse balançando a cabeça.
- Isso é o que você diz, mas, devo confessar que morria de ciúmes cada vez que você dava um beijo nele que podia ser para mim. - Gilbert disse se aproximando sua cadeira da de Anne, e segurando no pulso dela com firmeza.
- Isso também é ridículo. Como pode ter ciúmes de um beijo canino?
- A verdade é que sinto ciúme de qualquer coisa que você dá mais atenção do que a mim. E quando tivermos nosso filho, vou sentir ciúmes de vê-la amamentá-lo também. – Anne parou de sorrir no mesmo instante, mas, tentou disfarçar seu desconforto mesmo sabendo que Gilbert podia vê-lo claramente em seu rosto. Ela sempre pensara que amamentar um bebê era a coisa mais linda do mundo, pois era o momento em que mãe e filho estabeleciam um elo que ninguém poderia quebrar. E pensar que talvez não tivesse a chance de sentir isso na vida ainda fazia sua garganta se apertar.
- Desculpe, amor. Eu não quis deixá-la triste. Falei sem pensar. – Gilbert disse abraçando-a pelos ombros, e encostando sua cabeça na dela.
- Não é culpa sua. Eu tenho que me conformar com isso, e eu prometo que vou conseguir superar isso de vez, Gilbert.
- Tudo a seu tempo, Anne. Você não tem que se forçar a nada apenas para me agradar. Eu estou aqui e te apoio. Se segure em mim e te dou toda força que precisar. - Anne olhou para Gilbert sentindo-se confortada. Ele era realmente incrível. Como era possível que nesses momentos ela o amasse ainda mais? Ela podia perder tudo na vida, que reconstruiria tijolo a tijolo quantas vezes fosse preciso, mas se perdesse Gilbert não teria o que reconstruir e isso era o seu maior medo.
- Que tal se nos deitássemos no sofá, e nos enrolássemos em uma manta quentinha, e passássemos o resto do dia juntinhos lendo um livro? - Gilbert sugeriu tentando animá-la.
- Apoio sua ideia cem por cento. - Anne disse se sentindo mais alegre.
Assim, durante aquela tarde, com Milk deitado no tapete, o jovem casal de noivos curtiu momentos de verdadeiro amor e cumplicidade, enquanto ainda nevava lá fora. Depois de dois meses longe um do outro, eles precisavam daquela proximidade que os confortava e apagava qualquer mácula de tristeza que ainda pudesse existir em seus corações. Anne acabou adormecendo no colo de Gilbert enquanto ele lia em voz alta uma página da Fogueira das vaidades de Virgínia Wolf que Anne gostava muito, e só acordou quando a campainha tocou, e Gilbert precisou se levantar para atender a porta. Quando o rapaz voltou para perto dela, ele trazia um telegrama na mão.
- Anne, é de Avonlea. - Ele disse lhe estendendo o envelope, o qual ela pegou com o coração batendo forte, pensando em Matthew e Marilla. Ela rasgou o envelope apressadamente e leu todo o conteúdo com as mãos trêmulas, e assim que terminou, ela levantou a cabeça com os olhos marejados e disse:
- É do Jerry. A Diana vai ter o bebê.
GILBERT
O relógio marcava exatamente meia-noite, mas Gilbert ainda não conseguira fechar os olhos e permitir que o sono viesse, e o fizesse mergulhar naquela paz característica quando se alcançava o estágio de semi-inconsciência natural do próprio corpo.
Anne já estava adormecida a horas, e embora sua aparente calma estivesse expressa em seu rosto, aquela visão não era o bastante para acalmar o coração de Gilbert. Por baixo da aceitação passiva da situação, havia uma tensão que ele pudera sentir quando os lábios dela tremeram de leve ao dizer que Diana ia ter o bebê. Gilbert sabia o que aquilo significava, e se perguntava por que a vida não se cansava de por a prova o coração de Anne. Mais uma vez ela era confrontada com seu trauma do passado, e mais uma vez ela choraria lágrimas de sangue escondida dele porque não iria querer que Gilbert sofresse com ela de novo, mas ele sabia, como sempre saberia quanta mágoa aquilo lhe causava.
Sentir-se impotente era o pior dos sentimentos, porque ele poderia fazer tudo por sua amada, menos curar-lhe aquela ferida que Anne carregava em seu velho baú de memórias e que ainda a acompanharia até que ela por si mesma conseguisse arrancá-la de vez. Ele daria qualquer coisa para que Anne não sofresse tudo de novo, barganharia até com sua própria vida se isso pudesse fazer Anne esquecer aquela dor e ser plenamente feliz como ela merecia ser, mas, ele compreendia que não bastava apenas desejar algo para que acontecesse. Ele não tinha o poder de mudar o que já fora determinado pelo destino, por isso, tudo o que podia fazer era oferecer seus braços como apoio, e seu amor para que ela soubesse que por mais pedras que ela encontrasse ao longo do caminho, ele sempre estaria no fim dele para segurar-lhe a mão.
Ele ajeitou melhor o travesseiro embaixo de sua cabeça, mantendo seus olhos abertos no escuro, sentindo Anne se agarrar mais em sua cintura, enquanto aconchegava a cabeça em seu ombro. Gilbert deslizou a mão pelo braço direito dela em um carinho suave, assim como ele fazia quando acariciava a cabecinha de Milk quando ele precisava de sua presença para se sentir seguro e dormir.
Eles iriam para Avonlea no dia seguinte, pois Anne insistira nisso. Ela disse que prometera a Diana que quando seu bebê estivesse prestes a nascer, ela estaria a seu lado. Por sorte, naquela semana não teriam aulas importantes, pois seria uma semana de eventos que costumavam organizar no campus, nos quais cada curso apresentava um projeto, e assim sua presença não seria tão obrigatória. Seu grupo de pesquisa tinha desenvolvido um trabalho sobre o mal de Parkson, e o principal objetivo era informar a mais pessoas acerca dessa enfermidade ainda não era tão conhecida. Anne lhe contara que a turma dela faria uma apresentação sobre as obras de Oscar Wilde, e como também já estava tudo pronto, seus colegas não sentiriam tanto a sua falta se ela não participasse pessoalmente, já que dera sua contribuição com pesquisa e montagem de tudo o que conseguira reunir sobre vida e trabalho do autor.
Consequentemente, o laboratório da faculdade onde ele trabalhava estaria fechado, e não haveria a monitoria na qual Anne costumava participar, assim poderiam viajar sem problemas. A única coisa era manter a ansiedade de sua noiva sobre controle, e confiar que ela não se sentisse afetada demais com todo o peso da situação.
O som do vento lá fora chamou sua atenção para o fato de que a neve continuava a cair. Era uma das últimas da estação, pois logo a primavera chegaria e o colorido das ruas de Nova Iorque voltaria a ser exibido com toda a sua força. Anne amava aquela estação, e parecia florescer junto com ela assim que as flores começavam a abrir seus botões para dias mais ensolarados e de temperaturas agradáveis.
Era a primeira vez que ela veria Nova Iorque sem a camada branca de gelo sobre os telhados das casas, e Gilbert já consegui a imaginá-la com aquele olhar encantado, e sorriso nos lábios enquanto seus olhos tentavam absorver as diferentes nuances e tonalidades das cores espalhadas pela cidade. Seria mais uma daquelas visões que ele guardaria em sua memória para se lembrar momentos mais tarde quando Anne não estivesse por perto.
O dia estava quase amanhecendo quando Gilbert conseguiu finalmente dormir, e acordou na manhã de segunda-feira se sentindo cansado e um tanto indisposto. As poucas horas de sono não foram suficientes para descansar sua mente preocupada pelo que ainda estava para acontecer naquela viagem, e por isso, ele sentiu o leve latejar já familiar em sua nuca que anunciava uma enxaqueca eminente. Ele tratou de tomar um analgésico antes que Anne acordasse, pois não queria que ela percebesse seu mal-estar e ficasse preocupada.
As dores tinham aumentado sua frequência naqueles dias, e Gilbert não se admirava, porque sabia que o estresse pelo qual passara com a separação de Anne fora a responsável por suas crises, e essa que se aproximava tinha como foco sua insônia da noite anterior, portanto, não era nada com o que ele devesse se preocupar realmente, porém, Anne era quase paranoica quando se tratava da saúde dele. Gilbert sabia bem por que e não a criticava por isso.
Anne apareceu minutos depois na cozinha e parecia estar tranquila apesar de tudo. Ela se aproximou dele, deu-lhe um beijo nos lábios e disse sorridente:
- Bom dia.- Gilbert correspondeu ao beijo e disse com uma mão apoiada nas costas dela:
- Bom dia. Dormiu bem? - Anne ficou o rosto dele com a ponta dos dedos e respondeu:
- Dormi muito bem. A companhia também foi incrível. E você?
- Não tão bem quanto eu gostaria, mas, não foi por causa da companhia. - Gilbert respondeu terminando de passar o café, e colocando-o na mesa para que tomassem juntos.
- O que aconteceu? - Anne perguntou com a testa franzida.
- Acho que a excitação de tê-la em casa novamente me tirou o sono. - Gilbert respondeu beijando Anne no rosto. Ele sabia que a desculpa que dera por sua falta de sono não era das melhores, porém, se Anne soubesse que ele não dormira porque ela lhe causava certa preocupação, iria se sentir culpada, e Gilbert não queria acrescentar mais nenhuma carga em cima daqueles ombros frágeis.
Eles tomaram café em silêncio, ao mesmo tempo em que partilhavam aquela cumplicidade de quem não precisava dizer muito para se entenderem perfeitamente bem. Contudo, algumas coisas ainda rodavam dentro da cabeça de Gilbert que procurou uma forma de perguntar a Anne o que desejava sem parecer que a estava protegendo demais. Desde as consultas com o Dr. Spencer, ele tentava dosar sua preocupação e excesso de zelo com Anne, mas nem sempre era fácil. Gilbert sempre tendia a querer facilitar-lhe o caminho para o que quer que fosse mesmo sua consciência lhe avisando que Anne era mais forte agora e daria conta de lidar com seus problemas de maneira mais equilibrada. O Dr. Spencer tinha dado um tempo nas consultas dela por quatro meses, porque queria que ela criassem mais confiança em si própria sem depender tanto do psicólogo, e depois se fosse necessário eles voltariam a se encontrar semanalmente.
Gilbert achava que Anne vinha se saindo bem naquele período de alta temporária, apenas naquela questão de filhos, ela ainda se mostrava fragilizada, não tanto quanto antes quando qualquer menção a esse assunto a deixava transtornada e deprimida, perdurando por semanas tal perturbação. Ainda assim, ele tinha que perguntar, mesmo sabendo qual seria a resposta que ela lhe daria. Anne não deixaria Diana passar por aquilo sozinha, mesmo que isso significasse arrancar fora seu coração.
Gilbert observou Anne por alguns momentos, vendo-a levar seu chá até os lábios tomando-o devagar, enquanto parecia analisar alguma questão importante em sua mente. Ele também não deixou de notar o jeito com que ela pegou uma torrada com delicadeza nas mãos, e espalhou por cima dela sua geleia de morango favorita e depois a mastigou devagar, passando a ponta da língua rosada no excesso de geleia que escorreu por entre seus dedos. Eram gestos simples, mas, que o hipnotizavam da mesma maneira. Olhar para Anne nesses seus momentos de completa distração dava-lhe a oportunidade de ver as melhores nuances dela sem que sequer ela notasse, e isso era sem dúvida uma das melhores coisas de tê-la de volta em casa.
- Amor, você tem certeza que ir para Avonlea é uma boa ideia? - Ele fez a pergunta que estava presa em seus lábios, e que demorara para deixar que seus lábios a formulassem por medo de estragar aquele momento tão bom com ela.
- Diana precisa de mim, Gilbert. Isso não é uma questão a ser discutida. Eu prometi a ela que estaria lá quando o bebê nascesse, e não vou quebrar minha promessa. Diana é como uma irmã para mim e sei que faria a mesma coisa por mim se eu estivesse no lugar dela. - Anne respondeu sem encarar Gilbert. Ela parecia querer convencê-lo de algo que não era tão simples ou tão confortável assim para ela.
- Anne, eu entendo essa amizade que vocês duas têm, e as admiro muito por serem fiéis a esse laço tão raro entre duas pessoas, porém, eu também acredito que ela entenderia se você não pudesse ir. - Gilbert não desejava fazer Anne pensar que ele não desejava que ela fosse até Avonlea e apoiar sua amiga em um momento tão especial. Contudo, ele queria que Anne avaliasse se aquele acontecimento não seria por demais estressante para si mesma, tendo em vista tudo o que já sofrera no passado.
- Eu sei que está preocupado. Eu posso ver em seus olhos, e te agradeço tanto por se importar comigo dessa maneira, mas, não posso fazer isso, e minha consciência não me deixaria em paz. - ele sabia que a resposta seria mais ou menos essa, mas, ele pensou que talvez encontrasse um argumento bom o bastante para fazer Anne pensar melhor. Entretanto, pelo olhar que ela lhe lançou, Gilbert sabia que seria inútil qualquer coisa que dissesse contrário ao que ela já tinha decidido.
- Está bem. Amor. Se é o que deseja, prometo que não vou mais questioná-la sobre isso. - Ele por fim se deu por vencido. Somente lhe restava ficar do lado dela.
- Obrigada. Gilbert. - Anne disse e o rapaz a olhou sem entender.
- Pelo que? - Gilbert perguntou segurando a mão dela com carinho.
- Por me amar dessa maneira, e por me fazer compreender que não estou mais sozinha e que nunca mais estarei enquanto eu viver. – Gilbert não pôde fazer mais nada a não ser beijá-la, porque algo lhe dizia que Anne precisava bem mais que palavras naquele momento.
Um pouco mais tarde, ele foi até o hospital onde Jonas trabalhava para pedir-lhe que o amigo o cobrisse durante os eventos da Faculdade naquela semana, pois ele teria que viajar com Anne para Avonlea por conta de um assunto de família.
- Fica tranquilo, Blythe. Eu posso fazer isso tranquilamente. Além do mais, foi você que organizou a maior parte de nossa apresentação. Pode viajar com Anne sem preocupação nenhuma.
- Obrigado, Jonas. Eu nem sei como agradecer. Vamos estar de volta no máximo no fim da semana. - Gilbert disse se sentindo aliviado. Não queria deixar seus amigos na mão, porém, Anne era sua prioridade e sempre seria. Ele ia se despedir, quando seu olhar se cruzou com os olhos verdes de Dora que parou de repente ao vê-lo por ali. Gilbert ficou calado de repente sentindo o ar ao seu redor ficar rarefeito, sua visão ficou um pouco turva, e ele sentiu uma sensação estranha invadi-lo, e o rapaz teve que respirar fundo para que voltasse a enxergar com clareza. Ao contrário do que Gilbert pensara, Dora não caminhou em sua direção, ela se limitou a cumprimentá-lo com a cabeça, e seguiu pelo corredor oposto ao que ele e Jonas estavam.
- O que ela está fazendo aqui? - Gilbert perguntou depois de alguns minutos em que ficara em um silêncio quase mortal, sentindo seu peito disparar de apreensão, e não sabendo de onde tinha vindo aquele sentimento.
- Ela conseguiu um estágio aqui por um ano. - Jonas respondeu observando a fisionomia estranha de Gilbert. - O que foi, Gil? Você está pálido.
- Não é nada. Eu não dormi bem essa noite, e creio que estou me sentindo um pouco cansado,
- Então, deveria ir para casa dormir um pouco. A que horas sai o trem para Avonlea? - Jonas perguntou preocupado com as olheiras em volta do rosto do amigo.
- Às quatro da tarde. - Gilbert respondeu sentindo-se ainda um tanto estranho e apreensivo.
- Como estão suas enxaquecas, Gilbert?
- Ainda as tenho, mas ocasionalmente. -
- Você deveria procurar um especialista nesta área. Existem tratamentos alternativos hoje em dia que aliviam demais esses incômodos. Se quiser posso te passar o endereço de alguns médicos que trabalham com medicina alternativa. Já ouviu falar dos Florais de Bach?
- Sim, mas nunca li nada a esse respeito. - Gilbert admitiu, mostrando-se interessado naquele tipo de tratamento.
- Os Florais de Bach são essências extraídas de flores que combinadas entre si tratam de várias enfermidades de fundo emocional. Você deveria experimentar. Minha mãe começou a utilizá-los e suas crises de enxaquecas melhoraram bastante.
- Talvez eu procure por um tratamento assim em breve.
- Me conte se decidir experimentá-los.
- Obrigado, Jonas. Agora vou seguir seu conselho e ir para casa descansar antes da viagem. Estou precisando de algumas horas de sono tranquilo.
- Boa viagem meu amigo, e até a volta. - Jonas disse se despedindo.
Gilbert deixou o hospital e voltou para casa caminhando devagar. Ele não tinha mentido. Estava mesmo se sentindo cansado por conta de sua insônia da noite anterior, e por esta razão, ele iria aproveitar que não teria que ir para o trabalho e dormiria o resto da manhã, pois não conseguiria fazer isso durante a viagem.
O rapaz chegou no apartamento e Anne estava na cozinha preparando o almoço, e assando algumas rosquinhas que levariam na viagem. Quando ouviu que Gilbert tinha chegado, ela perguntou:
- Amor, se estiver com fome, o almoço está quase pronto.
- Acho que vou me deitar um pouco e deixar o almoço para mais tarde. - - ao ouvir o que ele dissera, Anne saiu da cozinha, o barulho de seus passos rápidos fazendo um barulho seco no assoalho de madeira.
- Você não está se sentindo bem? – Ela perguntou com o rosto franzido de preocupação.
- Pare de se preocupar. Eu estou bem, apenas não dormi o suficiente a noite e quero me recuperar para a viagem. - Ele respondeu acariciando os braços dela com carinho.
- Tem certeza que é só isso mesmo?
- Sim, não é nada demais. Se eu dormir demais me chame daqui a umas três horas. - Ele beijou-a no rosto e se encaminhou para o quarto.
Assim que se deitou na cama, Gilbert sentiu uma sonolência boa tomar conta de seu corpo, e a última coisa que percebeu antes de adormecer foi a sensação gostosa de ser envolvido em uma colcha de lã e mãos carinhosas se perderem em seus cabelos.
ANNE E GILBERT
A viagem a Avonlea aconteceu como das outras vezes calma e sem grandes surpresas. Eles tinham pego o trem exatamente às quatro da tarde, trinta minutos depois de terem deixado Milk com Cole mais uma vez. O cachorrinho não tinha chorado tanto daquela vez, ao ser deixado para trás pelos seus donos que por falta de opção não puderam levá-lo com eles, fazendo Anne perceber com um aperto no coração que seu amigo peludinho estava se tornando independente e dali a pouco tempo não seria mais o seu bebê.
Outra coisa que a estava preocupando era a palidez de Gilbert. Seu noivo lhe dissera que estava bem, mas, havia alguma coisa naquela expressão distante dele que se entretinha com o cenário que da janela do trem ele podia contemplar abertamente que lhe era estranha.
Por outro lado, a ruivinha não podia afirmar com certeza que ele estava sentindo alguma coisa, porque a não ser pela cor que não lhe agradava, ele exibia um semblante plácido, e por vezes lhe sorria daquele seu jeito característico de quem estava apreciando imensamente a viagem e a companhia.
Talvez ela estivesse exagerando, como sempre fazia quando alguma coisa era relacionada a Gilbert. Anne ainda não tinha esquecido completamente o sofrimento que fora o coma de Gilbert, sua amnésia, e o processo doloroso de recuperação. Em Nova Iorque, ela não pensava mais tanto nisso, porque vivia uma realidade diferente do que fora aqueles meses que quase a enterraram viva em sua angústia e medo. Entretanto, estar de volta a Avonlea, trazia várias lembranças do que foram aqueles dias em que tivera que arrancar de dentro de si uma força que nem sabia que tinha, e despertara a cada manhã se sentindo oca por dentro como se seu espírito tivesse sido sugado e dissecado, e deixado sem nenhuma gota de sangue para aquecê-la em suas veias.
Tudo isso tinha passado, mas, o medo da perda permanecera, porque nessa época ela descobrira como era frágil o elo entre a vida e a morte, e o quanto o destino podia pregar peças dolorosas. Ela tentava cultivar bons pensamentos acreditando que suas esperanças sempre lhe trariam bons frutos. No entanto, o pessimismo às vezes encontrava o caminho do seu coração, e o contaminava com seu negativismo funesto, trazendo à tona os piores pesadelos de Anne, e fazendo-a temer por um futuro desconhecido que podia facilmente aniquilar com todos os seus sonhos. Por isso, olhando para o rapaz sentado ao seu lado e a quem aprendera a amar com cada fibra do seu ser, a garota ruiva não podia deixar de sofrer com a possibilidade de que o destino com suas mãos impiedosas determinasse que ela não o merecia, e o tomasse dela rindo em sua cara como uma piada de mau gosto e cruel.
O sol se pondo entre as nuvens lhe trouxe a razão perdida entre aquele breve instante em que seu coração se apertava por causa de algo improvável no momento, e totalmente incoerente, e Anne balançou a cabeça tentando afastar toda a sua preocupação pelo seu noivo que se mantinha calado com os olhos completamente absortos pelo que viam lá fora antes que anoitecesse, e o breu o impedisse de capturar em sua mente toda a adorável paisagem que prenominava pelos arredores. Tal movimento fez com que a presilha que prendia os fios de seus cabelos no alto da cabeça se abrisse, deixando que as mechas ruivas e volumosas caíssem pelos seus ombros em uma confusão imensa e adorável. Anne levou as mãos até a parte de trás de sua nuca para prendê-los novamente de um jeito mais prático, porém Gilbert não o permitiu que fizesse dizendo:
- Deixe-os assim. Eu adoro quando você permite que seus cabelos fiquem livres ao sabor do vento. Eles são brilhantes, simplesmente maravilhosos.
- Tem certeza de que não fico parecendo uma selvagem? Marilla sempre disse que garotas distintas e comportadas deveriam manter seus cabelos sempre impecavelmente arrumados.
- Pois, eu sou o seu noivo, e te digo Sra. Blythe, que não tem visão mais linda que esses seus cabelos que parecem chamas caindo-lhe pelos ombros. É até um pecado que os mantenha escondidos dessa maneira. - Gilbert tomou-lhe a presilha e a guardou em seu bolso. - Para ter certeza de que vai mantê-los assim a viagem toda. - Anne apenas sorriu ao pensar que Gilbert sempre conseguia o que queria dela, mesmo que fosse um mero pedido como aquele.
Eles chegaram em Avonlea às oito da noite, e como estavam cansados, foram direto para a fazenda de Gilbert. Mary e Sebastian os receberam com muitos abraços, surpresos pela visita súbita que os trouxera até ali aquela noite.
- Sejam bem-vindos, meus queridos. Não sabia que pretendiam nos visitar nessa época. Pelo que sei as férias da faculdade ainda não chegaram, não é? - Mary perguntou, levando-os para a cozinha e lhes servindo uma refeição quente e apetitosa, depois de horas dentro de um trem comendo comida pobremente temperada.
- Desculpem-nos pela hora, mas, viemos até aqui hoje, porque o Jerry nos enviou um telegrama dizendo que o bebê de Diana está prestes a nascer, e ela queria que eu estivesse aqui. - Anne respondeu comendo com gosto a sopa saborosa preparada por Mary. Ela sempre fora excelente cozinheira, e seus dotes culinários pareciam ter se aperfeiçoado com o tempo.
- Ah, Claro. Eu tinha me esquecido. - Mary disse olhando para o prato de Gilbert que continuava quase intocado e perguntou: - A sopa não está a seu gosto, Gilbert? Quase não o vi comer.
- Está excelente como sempre, Mary. Eu é que estou sem apetite. - o rapaz respondeu constrangido. Ele esperava que passasse despercebido sua falta de vontade de comer, mas, estava claro que Mary não deixaria que aquilo passasse em branco. Ele sentiu o olhar de Anne sobre ele, mas, fingiu que não viu o cenho dela se franzir de apreensão.
- E como está a vida em Nova Iorque? - Sebastian perguntou fazendo Gilbert respirar aliviado pela intromissão do amigo naquele momento que a atenção das duas mulheres estava sobre ele. Assim, a conversa passou a girar em torno de sua rotina em uma cidade grande, e também sobre a colheita da fazenda que estava próxima e seria bastante abundante naquele ano
Quando subiram para o quarto de Gilbert mais tarde, ambos estavam exaustos e por isso pouco se falaram, contudo, Gilbert não pôde deixar de perceber os olhos de Anne passarem por cada detalhe do ambiente como se quisesse gravá-los na memória.
- Anne, algum problema? - Ele disse se aproximando dela.
- Não. Eu estava apenas pensando em todos os momentos importantes que vivemos aqui. Nesse quarto eu fui feliz, chorei, me desesperei, me revoltei, sofri, amei, porém, o mais importante de tudo foi que você sempre esteve aqui comigo como a chave mais importante de tudo. - Ela se virou e o olhou com aqueles olhos azuis imensos que expressavam um amor por ele inesgotável, infindável, inesquecível, emocionando Gilbert de um jeito que o deixou arrepiado.
- Eu amo você, Anne. Eu sempre vou repetir isso até que você fique velhinha. - Os olhos dela marejaram e perderam aquele ar risonho de antes, ao mesmo tempo em que ela o abraçava apertado como se não quisesse mais se desgrudar dele. - Por que ficou triste de repente, amor. Eu disse ou fiz algo errado?
- Não, eu só não quero te perder. Prometa-me, Gilbert que nunca vou te perder, que sempre estaremos juntos não importa onde. Eu não suportaria se por algum motivo você se afastasse de mim. - Anne dizia aquilo com tanta agonia que Gilbert sentiu seu coração baquear, e então respondeu tentando acalmar aquela explosão súbita de ansiedade.
- Ei, você não vai me perder. Não ouviu o que eu disse? Eu te amo e estarei do seu lado para resto da minha vida. Essa é uma promessa que te faço. Pare de pensar besteiras, meu amor. Eu sabia que voltar para Avonlea nessas condições te deixaria assim. São lembranças demais, Anne, e eu não quero que fique desse jeito por causa delas. Levar você para Nova Iorque foi justamente com essa intenção, fazê-la construir uma nova história sem as arestas dessas lembranças machucando seu espírito. Você merece mais, merece tudo, e eu vou te dar o mundo se isso significar que será mais feliz. - Gilbert disse acariciando as costas de Anne como se acaricia uma criança que precisa daquele contato físico para se acalmar.
- Eu não preciso de mais nada se eu tiver você. - Anne respondeu, beijando-o nos lábios. Foi algo breve, mas bastante significativo para ambos como uma confirmação de tudo o que disseram um ao outro ainda a pouco.
- Acho que você precisa dormir. Está exausta e sensível demais, e amanhã terá que enfrentar mais um batalhão de emoções intensas, por isso, vamos para a cama agora. - Gilbert disse puxando Anne pela mão, fazendo-a se deitar no colchão macio enquanto ele fazia o mesmo, cobrindo a ambos com um cobertor grosso de lã, e logo estavam dormindo. No meio da noite, ele sentiu sede e foi até a cozinha em busca de um copo de água. Foi então que ele viu tudo rodar e a sensação de vazio em seu estômago se tornar maior, além da dor de cabeça que voltara a incomodá-lo. Ele se sentou no sofá da sala esperando que melhorasse rapidamente, antes que Anne desse por falta dele na cama, e viesse procura-lo ali na cozinha.
Foi Sebastian que o encontrou daquele jeito, com as cabeça nas mãos e mais pálido do que antes.
- Gilbert, está se sentindo mal? - Seu amigo lhe perguntou preocupado.
- Foi apenas um mal-estar repentino, nada mais. -Ele respondeu sorrindo fracamente.
- Tem certeza? Não quer ir para o hospital?
- Não seja bobo, Sebastian. Isso não é caso de hospital. Eu preciso apenas me alimentar e voltar para a cama. E por favor, não comente nada disso com Mary, e principalmente com a Anne. Ela já está atormentada com certos pensamentos complicados, e não quero eu ela fantasie sobre esse mal-estar também- Gilbert pediu e Sebastian concordou mesmo a contragosto. Ele não gostava de esconder nada da esposa, principalmente quando era algo relacionado com Gilbert, a quem amava como se fosse verdadeiramente seu filho
- Se é assim que deseja, eu prometo que não direi uma palavra, mas, acho que deveria procurar um médico. Seu aspecto não me parece nada bom. - Sebastian disse olhando-o com atenção.
- Farei isso quando voltar para Nova Iorque. - Boa noite. - Ele disse antes de voltar para o quarto e se deitar ao lado e Anne novamente e adormecendo quase em seguida.
Ao despertarem de manhã, Gilbert pediu a um empregado de Bash que avisasse a Jerry e Diana que estavam a caminho da fazenda dos Barry, porém, quando o empregado retornou, ele tinha outro recado para Anne. Jerry mandara lhe dizer que a esposa já estava no hospital esperando pelo nascimento do bebê que antecipara sua vinda ao mundo em dois dias. Deste modo, Gilbert e Anne seguiram para o hospital que ficava exatamente a uma hora da fazenda dos Blythe, e ao entrarem na sala de espera encontraram um Jerry extremamente nervoso e transpirando muito por causa da tensão.
- Como ela está? - Anne perguntou sentindo-se um pouco apreensiva por causa da amiga.
-Eles a levaram para dentro faz vinte minutos, e ela estava tão nervosa quanto eu. Eu a avisei que você tinha chegado e então ela pareceu relaxar um pouco, mas, depois disso eu não soube mais de nada. - Jerry disse se sentando no sofá com suas mãos segurando seu queixo.
- Calma, Jerry. Vai dar tudo certo. - Gilbert disse tentando fazer com que Jerry ficasse menos nervoso,
Quase uma hora e meia havia se passado até que tivessem notícias de Diana. O médico sorridente que surgiu no corredor do hospital tinha no rosto uma expressão bondosa, e Anne soube que Diana estava bem por intuição, antes mesmo do médico dizer.
- Quem é o marido da Sra. Baynard?- Ele perguntou olhando de Gilbert para Jerry.
- Sou eu. O amigo respondeu com um fio de voz.
- Meus parabéns. O senhor é o pai de um saudável garotão. - Com notícias tão promissora, todos sorriram com gosto, e Jerry quase não podia acreditar que Diana conseguira. Ela lhe dera um filho e ele nunca imaginara que um dia a sua vida seria tão perfeita.
- Podemos vê-la doutor?- Anne perguntou .
- Sim, venham comigo.
No quarto onde Diana se encontrava não daria para não se encantar com a cena da jovem garota de longos cabelos negros que segurava um garotinho de cabelos também escuros como se fosse uma preciosidade sem tamanho. Ela os viu entrar com um imenso sorriso nos lábios, deixando transparecer seu cansaço e sua felicidade ao mesmo tempo.
Seu olhar viajou do rosto de Jerry até o de Anne e depois voltou para o rosto do marido que a encarava ansioso por sua permissão para que se aproximasse, e disse com duas lágrimas grossas rolando por sua face corada:
- Venha conhecer seu filho, Jerry Baynard.
Anne observou toda a cena, e por mais que tentasse não conseguiu não invejar a amiga. Ela estava feliz por ela e Jerry, mas sentiu seu coração se afundar no peito ao pensar que aquela talvez fosse uma alegria que nunca teria ou que poderia dar a Gilbert, e a constatação disso mais uma vez a fez querer chorar, mas, sentia que não tinha o direito de estragar um momento tão lindo da amiga por conta de sua própria auto piedade.
Gilbert viu o rosto de Anne se entristecer, e quis poder fazer alguma coisa para que os efeitos colaterais daquele momento familiar não a maltratasse demais, mas sabendo naquele mesmo instante que nada podia ser feito. Anne viera dar seu apoio a amiga a quem prometera que estaria ali e cumprira, e o que isso estava lhe custando em termos de desgaste emocional somente ela poderia dizer, ele apenas rezava para que isso não desencadeasse outra crise e ela acabasse chegando ao fundo do poço mais uma vez.
- Anne venha ver seu sobrinho e me diga com quem ele se parece. – Diana disse toda feliz enquanto Anne caminhava em sua direção, segurando firmemente na mão de Gilbert como se de alguma forma o contato dos dedos dele lhe dessem a força necessária para passar por aquilo sem se sentir abatida internamente.
- Ele é lindo, Diana. Acho que ele tem os seus olhos, mas a boca e o nariz são do Jerry. - Anne disse encantada com o garotinho que encarava Diana com seus olhinhos negros como duas jabuticabas, reconhecendo por instinto que ali estava a sua mãe.
A dor que Anne sentia em seu íntimo não era tão forte, porque com o tempo, ela aprendera a controlar seus pensamentos e não deixar que eles a arrastassem para aquela escuridão sem fim e deserta, mais ainda era intensa o bastante para fazê-la querer se esconder em seu quarto e derramar todas as lágrimas que por milagre permaneciam em seus olhos. O aperto na mão de Gilbert foi mais for te agora, e ele desejou arrancá-la dali o quanto antes.
- Como vai chamá-lo? - Ela se forçou a perguntar.
-Brian. Eu e o Jerry decidimos juntos. - Diana respondeu maravilhada demais com o milagre que tinha em seus braços para perceber o ar triste de Anne.
- É um lindo nome. - Anne respondeu por fim.
Quando voltaram para casa, o fizeram mais uma vez em silêncio, porque na verdade não havia muito a se dizer de tudo o que acontecera, e Gilbert se preparou para uma noite de crise onde Anne despejaria toda a mágoa de seu coração sobre a cama, e passariam a noite inteira abraçados com Gilbert enxugando as lágrimas dela com todo o carinho e devoção que lhe devia.
Como era de se esperar, ela recusou o jantar, e ficou todo no tempo no quarto, pois falar com qualquer pessoa sobre aquilo era fazer sangrar a ferida aberta mais um pouco, e ela já se cansara de sentir a dor daquela maneira.
No momento em que Gilbert entrou no quarto, Anne estava na janela com seus olhos fixos na lua como se estivesse em uma prece silenciosa. Ele se aproximou devagar admirando-lhe a silhueta iluminada apenas pelo luar que favorecia de modo incrível suas formas por baixo da camisola de seda creme. A transparência era discreta, mas não deixava de ser provocante, entretanto, Gilbert tentou não deixar que sua necessidade insaciável por sua noiva desrespeitasse o momento pelo qual ela estava passando.
No entanto, quando Anne se virou e prendeu seu olhar no dele, foi ela quem se aproximou, envolveu o pescoço dele com seus braços e o beijou de jeito intenso, roubando instantaneamente de Gilbert toda a sanidade que ele tentava não perder.
As mãos dela foram para os botões da camisa dele, desabotoando como uma presa ansiosa cada um deles atirando-a no escuro do quarto, enquanto os lábios femininos seguiam uma trilha de fogo do maxilar até o peito, onde ela depositou beijos famintos e cheios de desejo. Quando Gilbert sentiu as mãos dela no zíper de sua calça jeans, ele a interrompeu perguntando.
- Anne, tem certeza de que é isso que quer nesse momento? - Ela o olhou mordendo o lábio inferior, deixando que Gilbert mergulhasse em seus olhos muito azuis naquela noite como um lago profundo misterioso e respondeu.
- .Sim, é o que mais quero e preciso. Dói tanto aqui dentro Gilbert. Só faça essa dor parar, por favor. - Como ele podia lhe negar algo assim? Ela precisava do amor dele para voltar a respirar normalmente, e Gilbert lhe daria o oxigênio necessário para que ela recuperasse sua força interior e voltasse a sorrir no dia seguinte, sentindo que a vida continuava valendo a pena por mais que espinhos insistissem em feri-la com seu veneno letal.
- Claro, meu amor. Eu vou fazer parar essa dor. Apenas confie em mim. - Gilbert respondeu beijando-a novamente, e tirando sua camisola delicadamente, e em seguida a roupa íntima que Anne usava. Ele a deitou na cama e antes de se juntar a ela, Gilbert se livrou de qualquer barreira que ainda o impedisse de senti-la em toda sua nudez maravilhosa. Seus lábios buscaram por cada recanto do corpo feminino dedicando especial atenção à cada ondulação que encontrava pelo caminho, tentando fazer Anne compreender que seu amor e desejo por ela nunca encontrariam nenhum limite ou obstáculo que pudesse fazê-lo desistir de amá-la como ela merecia totalmente e completamente
Anne mais do que as outras noites, não ofereceu nenhuma resistência. Ela precisava daquele calor em sua pele, daqueles lábios que desciam por seu corpo como se escrevessem um poema cheio de rimas e paixão. Ela precisava ouvir aqueles sussurros roucos de Gilbert que lhe diziam o quanto a ele a queria para sentir que seu coração que permanecia congelado desde a tarde no hospital, voltasse a bater naquele ritmo louco que a lembrava quantas emoções ainda conseguia experimentar quando sentia Gilbert envolvê-la naquela magia intensa de seu sentimento por ela.
Assim, ela também o fez experimentar daquele seu amor infinito, seu corpo queimando o dele com uma gama de sensações que ambos não podiam deixar de sentir e partilhar. Mesmo que aquele ato de amor daquela noite tivera começado por uma necessidade urgente de Anne de consolar seu coração magoado, de repente tinha se tornado maior do que isso, porque as chamas que sempre os queimavam quando estavam juntos precisavam apenas de uma faísca para se iniciarem, e fazer de seu íntimo um arsenal de toques e carícias que ambos não conseguiam resistir até que o final glorioso chegasse com a satisfação plena e imensa.
Suas bocas se tocavam sem parar, seus dedos dançando pela pele um do outro como se entregassem-se a melodia mais perfeita que seus movimentos poderiam criar. Os gemidos se espalhavam pelo ar, os sussurros ficavam presos em seus ouvidos, e as promessas que não precisavam fazer verbalmente estavam implícitas em cada entrelaçar de dedos que não se separaram uma só vez naquela noite.
Quando Anne se viu envolvida pelos braços carinhosos de seu amado despois que seu corpo saciado buscou pelo aconchego do dele, ela soube que a mágica entre eles tinha acontecido uma vez mais, e lágrimas de alívio foram sugadas por lábios tão doce que naquele instante foram capazes de curar com toda ternura sua alma em pedaços mais uma vez.
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