Capítulo 94- Nosso romance perfeito
Olá, caros leitores. Estou postando o capítulo da semana, e espero que gostem e comentem. Vou deixar que me digam suas impressões sobre ele. Desculpem- me pelos erros ortográficos. Muito obrigada. Rosana.
ANNE
Era mais uma manhã fria na vida de Anne Shirley Cuthbert que despertara antes do sol nascer, quando lá fora o breu das madrugada ainda pairava sobre toda a cidade.
Ela atirou as cobertas de lado, colocando as pernas para fora da cama, sentindo o ar gelado do quarto queimar suas bochechas, deixando-as mais rosadas que o comum. Ela tateou sobre a cadeira de sua penteadeira em busca de seu roupão de lã, e o vestiu sobre sua longa camisola branca de algodão, e pé ante pé, Anne foi até a cozinha preparar o café da manhã, pois em pouco tempo ela teria que ir para a Faculdade, e Cole para o trabalho.
O amigo andava tristonho naqueles dias, pois Pierre viajara para a França para visitar os pais, e Cole não pudera ir com ele por conta do trabalho que os dois realizavam juntos, e por isso, enquanto um estava fora o outro deveria ficar responsável por todo o projeto.
Anne vinha tentando animá-lo sem grande sucesso, o que não a surpreendia em nada já que mal conseguia animar a si mesma. Ela colocou água em uma chaleira, e enquanto a esperava ferver, a menina analisava sua própria situação. Estava a quase dois meses vivendo no apartamento de Cole, e não imaginara que aquela situação duraria tanto tempo. Seu desentendimento com Gilbert, se é que podia chamar assim o momento que estava vivendo, parecia não se resolver nunca, e não por sua culpa.
Anne tentara se aproximar, mas ele fugia de uma conversa mais séria entre os dois. Eles se viam todos os dias na entrada da Faculdade, e apesar de sentir que ele observava todos os seus movimentos, Gilbert parecia empenhado em manter distância, e o por que disso, Anne sequer podia imaginar.
Ele não aparecia mais na hora do intervalo, porém, Anne o pegara várias vezes observando-a trabalhar na monitoria, o que a fazia se perguntar o que ele pretendia com tudo aquilo. A teimosia de Gilbert chegava a ser irracional, e o pior de tudo era que a estava deixando louca. Anne morria de saudades dele, e aquela distância toda contribuía bem pouco para deixa-la menos ansiosa.
Desde que ele a beijara naquele restaurante no qual fora com Roy, ela não parava de pensar nele, e imaginar o que teria acontecido se Gilbert não tivesse interrompido o momento intenso que estavam tendo depois de semanas sem toque nenhum. Por causa disso, Anne passará a sonhar com isso todas as noites, e acordava sentindo-se quente e ofegante, desejando que Gilbert estivesse a seu lado e descobrindo contrariada que sua única companhia na cama era o travesseiro vazio.
Como ela queria odiar Gilbert por infligir aquele tipo de sofrimento físico aos dois, ela o queria desesperadamente e estava pronta a admitir isso para ele em voz alta, mas, o rapaz parecia achar divertido torturá-la assim. Desta forma, Anne também não iria se humilhar pedindo que voltassem já que ele estava disposto a fazer jogo duro, fingindo que aquela separação não o estava afetando também. Contudo, ela o conhecia bem demais para saber que por trás de seus olhares velados em sua direção, um furação se agitava dentro dele, e ele estava queimando lentamente assim como ela feito uma vela acesa. O problema era, Anne conseguir acalmar seu coração que não a deixava em paz um só segundo, e já perdera a conta de quantas vezes quase deixara seu amor próprio de lado, e correra até o apartamento dele para implorar que voltassem a sua vida de antes, quando tudo o que importava era o amor que davam um ao outro. Entretanto, no último segundo ela recuava porque não achava justo que somente ela engolisse seu orgulho e tentasse consertar aquela confusão que era responsabilidade dos dois, e assim aquele muro tão alto que fora construído entre os dois fazia um excelente trabalho em mantê-los longe um do outro.
O apito da chaleira fez Anne se concentrar melhor no que estava fazendo. Ela passou o café e estava terminando de fazer as panquecas quando Cole veio se juntar a ela na cozinha. A ruivinha olhou para ele, assim que o rapaz entrou e imediatamente ela percebeu que algo não estava bem com ele.
- Cole, tem algo errado? - ela perguntou ao vê-lo pálido e desanimado.
- Não sei, acho que estou apenas cansado. O trabalho de restauração dobrou agora com a ausência de Pierre, e creio que estou me esforçando além da conta. - ele disse com um suspiro, tomando apenas um gole de leite, e não tocando na panqueca que Anne acabara de colocar na sua frente.
- Então, precisa se alimentar melhor. Ontem eu vi que comeu bem pouco no jantar também. O que está tentando fazer, Cole? Morrer de fome até que Pierre volte da França? - ela disse ralhando com ele carinhosamente.
- Eu juro que não estou fazendo de propósito, e apesar de sentir muita a falta de Pierre, não estou a beira de uma depressão por isso. Estamos bem, e sei que ele vai voltar exatamente no dia em que me prometeu, então não tenho motivos para me sentir desesperado, o que não parece acontecer com uma certa pessoa que conheço. - Anne baixou a cabeça fugindo do olhar de Cole, porque sabia que ele estava se referindo ao seu comportamento na última semana.
- Anne, eu te ouço caminhar pela casa à noite, e me pergunto porque ainda está aqui. Se sente tanto a falta dele a ponto de ter insônia, devia acabar com essa agonia. – a voz dele era carinhosa e Anne apenas balançou a cabeça ao responder:
- Acho que o Gilbert não me quer de volta.
- Que maluquice é essa que está me dizendo? Gilbert é maluco por você, e aposto que se você der um sinal de que quer voltar, ele vai estar aos seus pés no mesmo instante. - Cole disse colocando o garfo de lado, desistindo de vez da panqueca.
- Por que tem que ser eu a dar um sinal? Por que ele não pode dar o primeiro passo? - Anne disse aborrecida. Ela também desistiu da panqueca e agora olhava para Cole com seus olhos azuis faiscando.
- Eu não disse que tem que ser você, mas alguém precisa ceder de alguma forma. Por que vocês dois se machucam desse jeito? O amor que sentem é lindo demais para ser dividido ao meio. Vocês deviam somar e não subtrair. - Cole disse balançando a cabeça.
Assim, quando estava indo para a Faculdade, ela se fazia a mesma pergunta. Tudo o que sabia fazer desde que conhecera Gilbert era amá-lo até o ponto de se esquecer de si mesma, e pelo que se lembrava, Gilbert a amava na mesma intensidade. Então, por que se magoavam daquele jeito? Por que estavam separados se tudo o que queriam era ficarem juntos?
Eram dois tolos teimosos, tinha que admitir, como também tinha que ser sincera consigo mesma e assumir que queria Gilbert de volta, que sentia falta da presença forte dele ao seu lado, assim como sentia falta daquele perfume másculo e amadeirado que era só dele entre os seus lençóis. Quando é que Gilbert ia entender que a necessidade que tinha dele ia além do físico, e essa carência não podia ser saciada por qualquer homem, a não ser que esse homem fosse ele?
Ela fizera uma experiência com Roy um outro dia em que ele insistira em levá-la para casa depois da monitoria. Quando ele fora se despedir dela, Roy quisera beijá-la e Anne cedera, apenas para descobrir que não era aquela boca que desejava. Gilbert Blythe estava em seu sistema como uma droga da qual nunca iria se livrar, e já que era assim, não fazia sentido buscar em outros braços a o que somente encontraria nos dele.
Ela se desculpara com Roy depois por não conseguir corresponder ao beijo dele. O rapaz dissera que entendia, mas Anne tinha certeza de que ele ficara magoado, e para seu alívio nunca mais ele tentara algo assim, e ela fora louca por dar-lhe abertura para que o fizesse. Mas, a verdade era que não tinha espaço em sua vida para outra figura masculina, a não ser para o senhor cachinhos rebeldes que brincava como suas emoções como se elas fossem uma bola de pingue pongue.
Ela pisou na porta da Faculdade e lá estava Roy Gardner a sua espera. Ele parecia sentir seu cheiro como um cão farejador, e embora Anne gostasse mais dessa versão dele de amigo dedicado, tanta devoção sentimental da parte dele a estava deixando incomodada. Ela não desejava que ele continuasse cultivando ilusões amorosas a seu respeito, e nunca mais aceitara nenhum convite dele para saírem, porque não achava justo ele se apegar cada vez mais a ela, quando Anne sabia que ela nunca se interessaria por ele como homem, mas , ele não parecia querer desistir e somente lhe restava impor limites de amizade que o fariam compreender que ela não estava disponível para qualquer homem solteiro que por ventura olhasse para ela com outros olhos que não fossem de afeto fraternal.
- Olá, querida, Anne. Está encantadora essa manhã. - ele sorriu e Anne tentou retribuir, mas tudo o que conseguiu foi mover os lábios de maneira sem graça.
- Obrigada, Roy. É gentileza sua.
- Você realmente não acredita nos meus sentimentos por você, não é? – ele perguntou, e Anne se sentiu desconfortável pelo rumo que a conversa estava tomando. A manhã nem começara e Roy já queria discutir coisas sobre um relacionamento que só existia na cabeça dele.
- Roy, eu não quero falar sobre isso. – Anne retrucou mostrando-se chateada com aquele assunto, o que fez o rapaz dizer:
- Desculpe, não vou mais falar nisso. Não fique brava comigo. - ele disse acariciando as bochechas dela com o polegar.
Sem querer, Anne olhou de relance pelo corredor, e seu olhar localizou Gilbert encarando-a como se estivesse petrificado. Seus olhos estavam tão escuros que Anne sentiu um calafrio percorrê-la da cabeça aos pés. Gilbert com certeza tinha visto o gesto de Roy e estava com ciúmes, pois seu rosto demonstrava claramente o sentimento e uma raiva latente e indisfarçável. Ela o encarou de volta, desejando que ele pudesse ler seu pensamento de que aquilo não significava nada, e que ele devia se acalmar, pois ela se lembrava bem do copo quebrado em sua mão no restaurante causado por sua falta de controle. Se ele fizera aquilo com um copo, o que aconteceria com Roy se ele resolvesse usar os punhos cerrados que ela estava vendo Gilbert apertar até que seus nós ficassem brancos?
O rapaz era calmo na maioria das situações, mas quando levado ao extremo não pensava antes de agir, e ela não queria que ele acabasse conseguindo uma expulsão por causa dela. Por isso, ela se virou e começou a caminhar em direção à sua sala de aula com Roy ao seu lado. Quando chegaram na porta, ela arriscou uma olhada cautelosa em direção à Gilbert e ele continuava parado no mesmo lugar, seu rosto bonito alterado pela fúria de ver Anne se afastar com um homem que não era ele.
Ela desviou o olhar e foi se sentar com Sharon que parecia particularmente feliz naquele dia, e tal fato a fez esquecer momentaneamente da cena desagradável com Gilbert no corredor.
- Parece que sonhou com os anjos essa noite. - Anne disse em tom de brincadeira.
- Sim, com um anjo chamado Jonas. - a menina disse sonhadora.
- Eu não diria que Jonas é um anjo, e se está iludida a esse ponto, sugiro que tenha cuidado. - Anne alertou a menina que parecia toda derretida pelo amigo galinha de Gilbert.
- Não se preocupe, Anne. Ele me pediu em namoro, e foi falar oficialmente com meus pais sobre isso. Então, creio que o caráter dele é melhor do que eu imaginava.
- Isso é realmente novidade para mim. – Anne comentou. Será que Sharon com seu jeitinho de menina travessa tinha colocado Jonas na linha?
- Ele confessou que está apaixonado por mim, e que quer levar a sério nosso relacionamento. - A felicidade dela com esse fato transbordava em seus olhos castanhos brilhantes.
- E você? Também está apaixonada? - Anne perguntou curiosa
- Completamente. - A menina respondeu sem hesitar.
- Bom, então somente me resta desejar que seja feliz. - Anne respondeu beijando-a no rosto.
- Obrigada. Isso me lembra algo. - Sharon disse entregando um envelope rosa para Anne.
- O que é isso? - Ela perguntou intrigada antes de abrir.
- É um convite para a festa do meu aniversário esse fim de semana. E espero realmente que vá.
- É claro que irei. Não perderia isso por nada. - Anne disse abraçando a menina com carinho, sem perceber o sorriso vitorioso estampado no rosto de Sharon.
O horário do intervalo chegou, e como sempre Anne foi a última aluna da sala a sair, porém, nesse dia seu atraso não foi causado por anotações que ela gostava de fazer no fim das aulas, mas sim pelo seu desejo deliberado de evitar que Roy a acompanhasse até o refeitório, porque queria lanchar em paz sem os olhares insinuantes dele sobre sua pessoa.
Logo que chegou lá, Anne foi comprar um sanduíche e um suco, pois se esquecera de trazer sua merenda habitual. Assim que pagou pelo que comprara, ela deu um passo para trás e acabou trombando com alguém que estava bem atrás dela, e ao se virar para pedir desculpas, ela se desequilibrou e acabou derrubando todo o seu suco na camisa branca do rapaz que para sua total consternação era Gilbert.
Seus olhares se encontraram em uma fração de segundos em que as mãos dele foram parar em sua cintura, evitando assim que ela caísse e o estrago fosse pior. O coração de Anne foi parar em sua garganta, enquanto os olhos dele variam todos detalhes em seu rosto, suavizando a seriedade em seu rosto com um toque de ternura. Involuntariamente, Anne espalmou as mãos no peito dele onde uma mecha amarelada se formava por causa do líquido derramado ali, mas nenhum dos dois parecia perceber esse detalhe.
Anne sentiu seu corpo se aquecer com a energia que emanava do rapaz a sua frente e a quem amava mais do que o seu próprio coração. Então, ela se deu conta do que estava fazendo, e retirou as mãos do peito de Gilbert, ao mesmo tempo em que ele soltava sua cintura, e ela conseguiu dizer meio sem jeito:
- Desculpe-me. Eu não tive a intenção.
- Não tem problema, Anne. - Gilbert respondeu sem deixar de encara-la
- Precisamos dar um jeito nisso antes que manche sua camisa de verdade.
- Não precisa. - ele disse sem se afastar dela
- Precisa sim. – ela disse e sem pensar pegou na mão dele, e o levou em direção à lavanderia da Faculdade onde ela esperava encontrar produtos próprios para tirar manchas como aquela.
No momento que entraram na lavanderia, ela disse:-
- Tire a camisa que eu vou dar um jeito nisso.
- Anne, eu disse que não precisa. - Gilbert disse em protesto.
- Não seja teimoso, e faça o que eu estou dizendo. - Ela disse com um tom autoritário.
- Anne, eu acho isso totalmente desnecessário. - ele tornou a dizer, e impaciente, Anne disse:
- Bom, já que vai teimar comigo, deixa que eu faço isso para você - e sem cerimônia, ela foi abrindo todos os botões da camisa de Gilbert sem notar a perturbação do rapaz que tentava disfarçar o seu incômodo com a situação. Quando ela alcançou o ultimo botão, Anne não pôde deixar de olhar para o peito forte dele que era uma tentação ali a sua frente.
Ela mordeu o lábio inferior tentando conter sua vontade de tocá-lo enquanto ouvia a respiração de Gilbert ficar cada vez mais irregular. Ela levantou o olhar a tempo de perceber os olhos dele cravados em sua boca ao mesmo tempo que milhões de sensações tomavam conta dela, como se fossem uma cachoeira indo de encontro ao mar aberto.
Gilbert umedeceu os próprios lábios, e Anne fechou os olhos incapaz de continuar encarando-o, seu coração tão disparado que ela achou que fosse ter um ataque de taquicardia. A mão dele em seu rosto a fez abrir os olhos, e observar a expressão naquele rosto tão amado que era profunda demais. Suas mãos sem controle foram parar no peito dele fazendo um carinho tímido, vendo os pelinhos de Gilbert se arrepiarem de repente, dando-lhe mais vontade ainda de continuar a tocá-lo, porém, as mãos dele seguraram o seu pulso afastando os dedos de Anne do seu corpo. Sem graça por sua ousadia, ela disse pegando um removedor de manchas
- Deixe-me resolver isso logo. - ela virou-se de costas e começou a esfregar o produto na camisa que ele lhe entregou, e a mancha foi tirada com facilidade. Assim que terminou, Anne e se virou de frente para ele e lhe entregou a camisa sem a mancha, e Gilbert a abotoou rapidamente até em cima, dizendo com seu tom de voz controlado.
- Obrigado, Anne.
- Por nada. - ela respondeu sem sorrir.
- Acho melhor a gente voltar, porque creio que o horário de intervalo já acabou.
- Claro. - ela respondeu com vontade de gritar por estarem se tratando como dois estranhos.
Eles caminharam lado a lado sem dizer uma palavra durante todo o caminho, embora Anne estivesse consciente da presença de Gilbert ao seu lado todo o tempo. Quando chegaram no corredor perto da sala de Anne, Gilbert disse:
- Creio que é aqui que nos separamos.
- Até mais. - Anne disse com vontade de chorar.
- Até mais, Anne. – Gilbert respondeu com suavidade. Depois se virou e caminhou em direção à sua própria sala de aula.
Anne assistiu o restante das aulas com a cabeça nas nuvens. Ela não podia acreditar em tudo o que acontecera, porém tal fato só comprovara duas coisas, uma que a teimosia de Gilbert era mais difícil de dobrar do que pensara, e a outra era que precisava tê-lo de volta nem que isso lhe custasse todo o seu orgulho e energia.
GILBERT
As horas de trabalho no laboratório já tinham se escoando naquela tarde, e Gilbert se preparou para ir para casa. Seus pensamentos estavam um tanto conturbados enquanto vestia seu casaco, e suas emoções continuavam um caos. Sentir-se em equilíbrio parecia o último item de sua lista de prioridades, porque viver como se estivesse se equilibrando em uma gangorra já se tornara parte de seu cotidiano. Seus altos e baixos emocionais o levavam ao extremo dos sentimentos, e desde que Anne se afastara, ele não sabia como controlar o que sentia.
A saudade era imensa e ele estava definhando de infelicidade pela falta da mulher que levara seu coração junto quando ele a deixara sair da sua vida, e ele não tinha esperanças nenhuma de tê-lo de volta. Como um castelo de cartas suas defesas iam desmoronando dia a dia, e o que sobrava era sua grande estupidez por ter agido por impulso, e sua lista de erros não parava por aí.
Tê-la beijado não fora sensato e muito menos fizera algum bem a si mesmo, mas quem podia culpá-lo por amar tanto aquela garota que quando estavam perto um do outro isso era tudo no que conseguia pensar? Seu total descontrole emocional o estava levando a bancarrota, contudo, o rapaz não sabia como sair desse círculo vicioso, onde era dominado por todo tipo de sensações confusas.
Gilbert não dormia direito desde o dia que reencontrara Anne no restaurante, porque não conseguia esquecer a plenitude que o invadira quando seus lábios tocaram os dela mais uma vez, dando -lhe a triste certeza de que o vazio que sentia só podia ser preenchido por Anne, e a impossibilidade de tê-la de volta o jogava na inutilidade de tentar não pensar nela, quando Anne era a primeira coisa que vinha a sua mente quando ele abria os olhos de manhã.
O gosto dela ainda estava em seus lábios, e a maciez que sentira de sua pele parecia ter se grudado tanto ao seu tato que ele não conseguia esquecer o prazer que fora fazê-la vibrar com seus beijos, trazendo a sua memória todos os momentos que ficaram assim.
Se ele pudesse voltar atrás e mudar o que acontecera, não a teria mandado embora, poderiam ter conversado e continuado suas vidas de onde pararam, mas, a realidade era outra agora, fazendo doer seu coração, e todo o mel que havia em cada amanhecer e anoitecer com ela, se tornara o amargo do fel de vê-la próxima a outro homem que estava fazendo o papel do qual ele desistira a semanas.
Deste modo, observá-la a distância quando estava com ele era se auto infringir um sofrimento que nunca pensara sentir, pois em sua cabeça e em seu coração Anne Shirley Cuthbert sempre seria sua e de mais ninguém, mas o tempo, senhor de todos os destinos, lhe mostrara o quão equivocado estava.
O seu amor por Anne não lhe dava o direito de posse, pois, ela era livre para fazer o que quisesse e com quem quisesse, e ser confrontado com essa verdade o deixara nocauteado por um certo tempo, sem saber como agir diante desse balde de água fria que tomara da vida. Ele tomara como certo o fato de que seriam um do outro para sempre, sem sequer imaginar, que os planos traçados para eles seriam outros, porém, Gilbert não conseguia se perdoar por ter participado efusivamente dessa mudança de planos.
Entretanto, Ele ainda queria as mesmas coisas de antes, e isso não mudara, apenas não sabia que direção tomar para que tudo voltasse a ser o que era. Gilbert quebrara sua promessa de que sempre cuidaria de Anne em todas as circunstâncias, e tinha certeza de que não seria perdoado por isso. Estava cansado de brigar consigo mesmo noite após noite, apontando os próprios erros que cometera nas últimas semanas.
Ele estava se sentindo sozinho demais para tentar encontrar desculpas para o seu comportamento de adolescente inconsequente, ao invés de ter agido como o homem que deveria ser. Ele queria Anne de volta e desesperadamente. Nunca precisara de alguém como precisava dela agora. Sua mente e seu corpo não conseguiam afastar os sentimentos que um simples olhar para ela lhe provocava.
Gilbert a vira naquela manhã conversando com o tal rapaz na entrada da Faculdade, e o modo como ele acariciara os cabelos dela sugerira a Gilbert uma intimidade que ele detestara constatar. O ciúme e a raiva pareciam estar em seu sangue constantemente agora como uma doença letal que seguia seu curso por todo o seu corpo, e ele não conseguia evitar de ser atingido todas as vezes que via Anne próxima do homem que usava todo o seu palavreado bonito para amansar o coração da ruiva. Gilbert gostaria de ter ido até lá e dizer a ele com todas as letras que Anne já tinha alguém que amava e cuidava dela, e que todo o charme no qual o rapaz estava empregando tanto esforço estava sendo desperdiçado, porém, o olhar de Anne em sua direção o pegara de surpresa, principalmente depois que ela o ignorara completamente, e fora para a sala em companhia do tal rapaz. Gilbert sentira a frieza dela em todos os seus ossos, e a sensação de perda fora maior.
Sem outra alternativa, ele fora para a sala de aula, mas sua concentração estava tão precária que se alguém lhe perguntasse o que seu professor de anatomia explicara, ele não saberia dizer uma palavra. Ele mal participara do grupo de debate que fora promovido na aula, e até aquele momento. Gilbert não conseguira escrever uma linha sequer do relatório do novo trabalho de pesquisa. Se seu pai estivesse vivo ficaria imensamente decepcionado com ele em ver o seu atual estado, totalmente sem rumo por conta de um sentimento com o qual não sabia lidar, mas apesar de entender que aquilo tudo o estava levando ao seu fracasso acadêmico, Gilbert somente conseguia pensar em Anne e em sua ausência que pesava dentro daquele apartamento como chumbo.
Era naquilo que pensava quando decidira ir para o intervalo no refeitório da faculdade, e como se tivesse sido premeditado, ele ficara bem atrás de Anne na fila da cantina, e somente percebeu isso quando o rapaz que estava em sua frente saiu da fila cedendo seu lugar para ele. O jovem estudante poderia ter dado meia volta e saído dali antes que tudo desandasse de vez, mas, ele não resistiu a sua necessidade de ficar perto dela mesmo que fosse alguns centímetros apenas, e então se deixou ficar bem atrás dela, seu perfume de rosas inundando suas narinas com a essência dela e doces lembranças.
Como não poderia deixar de ser, o destino zombeteiro não deixara que ficasse apenas nisso. Anne tivera que tropeçar, e derrubar todo o seu suco em sua camisa branca de algodão. Ele nem notara a macha honrosa que surgiu, pois seus olhares se fundiram sem escapatória, e Gilbert feito um tolo a deixara ver sua vulnerabilidade que estava à flor da pele sem ela. Uma saudade gritante se fez ouvir em seus pensamentos quando suas mãos agarraram a cintura dela tão naturalmente como se fosse um daqueles momentos em que eles se confessavam mutuamente todo o seu amor. Sem que esperasse, Anne o arrastou para a lavanderia e tudo do que vinha fugindo aquelas última semanas fora escancarado diante de seus olhos, quando o toque suave dela em seu peito o pegou de surpresa.
Gilbert não queria sentir, mas a avalanche de emoções represadas em seu eu mais íntimo vieram à tona sem que ele tivesse se preparado para elas, e ele viu a mesma necessidade naqueles olhos azuis , sua eterna perdição. Bastaria um passo, um toque mais ousado, um beijo que contasse a história de sua carência de todas aquelas noites para que revivessem todo o seu passado ardente, mas, sua consciência que sempre lhe ditava regras de decência o fizera recuar, e assim, o momento passou, a oportunidade de recuperar o que tanto desejava fechou as portas na sua cara, e mesmo seu coração dizendo-lhe que era um tolo, ele não conseguiu dar o passo que precisava, e agora se lamentava por ser tão racional quando devia deixar se levar pelo seu instinto que se comportava melhor que sua praticidade em tentar fugir do que sentia.
Sua caminhada até o apartamento não o acalmou como normalmente acontecia, mas, para sua sorte, ele não teria que ficar naquele apartamento sozinho naquele dia, pois iria para o alojamento de Jonas ajudá-lo com seu trabalho de pesquisa. Deste modo, ele tomou banho, alimentou Milk que àquela hora o observava com seus olhinhos sonolentos, e saiu para a rua novamente, coberto da cabeça aos pés. O inverno ainda estava longe de acabar, e Gilbert começara a detestar aquele ar gélido que o fazia estremecer a cada brisa que tocava seus cabelos. Nunca fora assim antes, mas, agora aquela estação que ele adorara no passado por conta das lembranças que tinha de sua infância com seu pai, também marcava o fim do período mais feliz de sua vida, onde cada floco de neve lhe fazia lembrar do quanto estava sozinho, muito mais do que fora aos quinze anos quando enterrara seu pai e seu melhor amigo.
Jonas o esperava com uma caneca fumegante de café, e toneladas de anotações para que pudessem colocar em ordem e darem início ao relatório que Gilbert fracassara ao tentar fazer antes, e a sua inabilidade em lidar com seus conflitos internos estava cobrando mais atenção de sua parte naquele momento, por isso, ele trancou a imagem de Anne e todos os sentimentos que estavam relacionados a ela para fora de seu consciente, a fim de que o Gilbert Blythe estudante de medicina e cientista nas horas vagas desse as caras finalmente e concluísse com êxito a parte que lhe cabia naquela tarefa a qual ele tomara como sua responsabilidade.
Após horas de trabalho ininterrupto, ele conseguira finalmente escrever algo com consistência, e felizmente não tivera nenhum tipo de bloqueio que o impedisse de cumprir com sua obrigação, e desapontar seus amigos de grupo. Gilbert sempre fora excelente com palavras técnicas de medicina, e organizá-las em um texto bem escrito nunca fora um problema para ele que desempenhava essa atividade com relativa facilidade, porém, suas constantes enxaquecas e desarranjos emocionais das últimas semanas o fizeram duvidar de sua capacidade de analisar resultados de pesquisa e explicá-los com exatidão, e estava aliviado por perceber que não tinha perdido seu toque especial para isso.
- Gilbert, está com fome? - Jonas perguntou afastando os livros, e alongando os dedos das mãos completamente doloridos pelos longas horas de escrita.
- Não muito. Acho que posso esperar até chegar em casa. - Gilbert respondeu terminando de escrever a última linha do seu relatório.
- De jeito nenhum. Você ficou comigo até agora e não vou deixá-lo ir embora sem comer nada decente. Que tal se fôssemos até a lanchonete em frente da padaria e comprássemos a sopa que eles servem lá? Seria algo bem mais consistente do que preparamos sanduiches sem graça. - Jonas sugeriu.
- É uma boa ideia. A Anne adora a comida que servem lá. - Gilbert disse sem pensar e só percebeu que tinha tocado no nome da ruivinha quando Jonas o olhou com um sorriso nos lábios.
- Você não consegue esquecê-la, não é?
- Não. E sei que nunca vou esquecer. - Gilbert confessou sem encarar o amigo.
- Gilbert, eu sei que já te disse isso várias vezes, mas, acho que não custa reforçar. Por que não a procura e diz que foi tudo um engano? Ninguém aguenta mais ver essa sua cara de desânimo quando chega na faculdade. Ela te faz feliz, cara. Por que continuar nessa tristeza se sabe que ela sente o mesmo?
- Jonas, eu juro que queria, mas, agora ela não desgruda mais daquele rapaz da peça. Toda vez que a vejo, eles estão juntos.
- Só apenas amigos, Gilbert. A Sharon me disse que ela continua sozinha. Quem sabe ela não esteja esperando que você lhe dê uma oportunidade para lhe falar o que sente?
- Não acho que seja o caso. Eu a mandei embora, e não acho que ela esteja tão ansiosa assim para ficar comigo de novo. - Gilbert disse ajeitando o cachecol de lã em volta do pescoço.
- Eu não sei mais o que te dizer para convencê-lo do contrário. Blythe, você parece que tem vocação para sofrer por amor. Todo mundo procura pela felicidade e você foge dela. Só tome cuidado para não acabar sozinho. Ninguém espera para sempre. – Jonas aconselhou e Gilbert não respondeu fazendo o rapaz suspirar.
- Antes que eu em esqueça. A Sharon me pediu para te entregar o convite da festa dela de aniversário que será nesse sábado.
- Não sei se irei. Confesso que não me sinto animado para festas. - Gilbert disse colocando o envelope no bolso do seu casaco
- Se você não for, ela vai ficar muito chateada. Por favor, Blythe. Faça um esforço. Você mais parece um fantasma que um ser humano vivo ultimamente. Onde está aquele cara prático e inteligente que enfrentava qualquer desafio de peito aberto? Eu estou sentindo muita fata do meu amigo irritantemente brilhante. - Jonas disse se levantando da mesa e pegando sua carteira em cima da mesa.
- Está bem. Diga a ela que vou, mas não prometo que ficarei por muito tempo. – Gilbert disse imitando o gesto do amigo.
- Ótimo. Fico contente que tenha reconsiderado. Agora vamos comprar o nosso jantar e quero que me ajude em uma tarefa.
A lanchonete não estava muito cheia quando chegaram lá, por isso não tiveram que esperar muito para fazerem os pedidos, mas, teriam que aguardar que outros pedidos fossem finalizados para que pudessem levar o deles para casa. Em razão disso, Jonas arrastou Gilbert para fora da lanchonete dizendo:
- Já que nosso pedido ficará pronto em meia hora, creio que você pode ir comigo a uma loja aqui perto escolher o presente de Sharon.
- Eu não sei se sou bom pra escolher presentes femininos. - Gilbert disse incerto.
- Você nunca comprou presentes para Anne? - Jonas perguntou de braços cruzados.
- Claro que sim.
- E ela gostou dos presentes? - Jonas perguntou novamente.
- Sim.
- Então, está confirmado, Blythe. Você é ótimo para escolher presentes para garotas. Agora pare de reclamar, e venha comigo.
Os dois amigos entraram em uma loja de artigos diversos onde havia uma variedade imensa de presentes para todos os gostos. Uma atendente simpática veio atendê-los e disse com um sorriso:
- Em que posso ajudá-los?
- Estamos procurando um presente de aniversário para uma garota. - Jonas respondeu esfregando uma mão na outra para espantar o frio.
- Qual é a idade dela?
- Dezoito anos.
- Venham comigo. - a atendente disse levando-os a um setor da loja cheio de artigos femininos.
- E então, Gilbert, o que acha? - Jonas perguntou inseguro.
- Você quer que eu escolha o presente de sua namorada? - Gilbert perguntou espantado.
- Foi por isso que te trouxe aqui. - Jonas disse impaciente.
- Mas, eu nem conheço o gosto da menina. Não acha melhor você mesmo escolher?
- Acontece, Blythe que não tenho experiência nenhuma com essa coisa de namorada e não quero desapontar Sharon dando-lhe um presente inadequado. Você tem mais experiência que eu nessa área, já que foi comprometido por tanto tempo. Vamos lá, não custa dar uma forcinha para o seu velho amigo. - Jonas deu um tapinha no ombro de Gilbert fazendo-o rir.
- Está bem, mas, eu tenho certeza de que ela ia preferir mil vezes um presente escolhido por você.
- Ela nem vai saber disso, Blythe. - Jonas respondeu, e Gilbert apenas balançou a cabeça inconformado com a cara de pau do amigo.
- Tudo bem, Jonas. Você venceu. - Gilbert disse, e lançou um olhar para a parte de joias finas que havia por ali, e seus olhos caíram sobre uma pulseira de prata delicada que a seus olhos combinavam muito com o jeito de Sharon. Ele apontou para a joia e disse:
- O que acha dessa pulseira, Jonas? Creio que Sharon iria gostar bastante dela.
- Boa escolha, senhor. - A atendente disse sorrindo, e Jonas respondeu.
- Vamos leva-la. - Jonas disse para a tendente depois olhando para Gilbert ele falou:- Eu sabia que você não iria me desapontar, amigo.
Enquanto Jonas pagava pelo presente, Gilbert deu mais uma espiada ao redor, e seu olhar foi atraído para uma caixinha de música ricamente adornada por enfeites dourados. Dentro dela havia uma bailarina cujo detalhe o fez sorrir. Ela tinha cabelos ruivos que o fez imediatamente se lembrar de Anne, e logo imaginou que ela adoraria ter algo assim em seu quarto. Ele deu corda na caixinha e uma canção suave começou a tocar fazendo seu peito suspirar de saudade, e em um impulso resolveu levá-la, pensando que talvez pudesse presentear Anne com aquele mimo em seu próximo aniversário que não tardaria a chegar.
Momentos depois, ele e Jonas saiam da loja com seus presentes cuidadosamente embrulhados em papéis de seda, e voltaram para a lanchonete onde o pedido que fizeram antes os aguardava. Após estarem devidamente alimentados, Gilbert resolveu que era hora de voltar para casa, pois já passava das dez da noite. A temperatura fora do alojamento de Jonas se aproximava do zero grau, e quando Gilbert finalmente pisou para dentro de seu apartamento suas mãos pareciam estarem congeladas assim como o resto de seu corpo. Por esta razão, ele preparou um chá bem quente, e depois foi para a cama coberto por uma camada grossa de mantas de lã, tentando imaginar quanto tempo levaria para que ele adormecesse já acostumado a ter a insônia diária como companheira de madrugada. Mas, estranhamente naquela noite, o sono veio tranquilo e com ele trouxe a imagem de um a garota ruiva de tranças, que com seus olhos incrivelmente azuis lhe prometia o paraíso na terra.
- ANNE E GILBERT
Era tarde de sexta-feira quando Anne chegou no apartamento de Cole exausta e faminta depois trabalhar horas na monitoria, e tudo o que queria fazer era comer uma bela sopa e descansar pelo resto do dia em companhia de um cobertor quentinho e um livro. Porém, seus planos foram frustrados quando pisou os pés dentro do apartamento, e encontrou Cole estirado no sofá totalmente encolhido, e com o rosto crispado de dor. Imediatamente a ruivinha esqueceu de seus planos de passar uma tarde tranquila e foi socorrer o amigo que parecia piorar a cada segundo.
- O que foi, Cole? - ela perguntou preocupada, percebendo imediatamente pelo rosto corado do rapaz que ele estava queimando de febre.
- Não sei. Acordei me sentindo péssimo, e fui para o trabalho, mas tive que voltar, pois minha cabeça está doendo muito.
- Não é para menos. - Anne disse verificando o termômetro que colocara no amigo assim que ele começou a falar sobre seu mal-estar, e sua apreensão aumentou ao ver que a febre de Cole estava alcançando os quarenta graus.- Precisamos ir para o hospital agora.- Anne disse e Cole não protestou, pois mal conseguia raciocinar por conta da dor.
Um táxi foi chamado, e logo eles estavam a caminho do hospital. Felizmente foram atendido assim que deram entrada na recepção, e Cole foi examinado pelo plantonista do local, cujo diagnóstico foi de uma infecção gástrica séria. Além faz alguns dias de repouso, o rapaz teria que fazer uma dieta rigorosa da qual Anne se comprometeu a cuidar pessoalmente.
Eles voltaram para casa tarde da noite, e após se alimentar com a sopa de legumes que a ruivinha preparou, tomar a medicação prescrita, o rapaz pôde finalmente descansar.
Anne passou a noite toda em vigília, de olho no amigo que as vezes falava dormindo por conta da febre que ia cedendo aos poucos. Ele a fizera prometer que não mandaria nenhum telegrama para Pierre avisando do seu estado, pois não queria estragar o momento familiar que ele estava tendo na França.
Atendendo ao pedido do amigo ela não o fez, embora não concordasse em esconder a doença dele de seu companheiro, mas como para ela a amizade vinha em primeiro lugar, Anne prometeu que cuidaria dele até que se recuperasse.
O sábado amanheceu ensolarado, mas não menos frio que os outros dias, e assim que despertou de sua cama improvisada no quarto de Cole, a garota se lembrou que aquele dia era o dia da festa de aniversário de Sharon ao qual ela não iria por conta da enfermidade dele. Ao saber que ela tinha desistido da festa Cole disse inconformado:
- Anne, eu estou doente mas não estou inválido e posso muito bem ficar sozinho por algumas horas.
- Mas, Cole. Eu não posso deixa-lo aqui assim. E se você passar mal e não tiver ninguém aqui para te ajudar? - Anne disse quase em desespero.
- Pare de me tratar como criança, Anne, e trate de usar sua imaginação para algo mais útil do que criar tragédias imaginárias em sua cabeça. Você precisa se divertir e ficar enterrada comigo dentro de cada não é o que imagino ser uma noite de sábado divertida para minha amiga. - ele a censurou com carinho.
- Cole, eu realmente não.me importo de ficar aqui com você.
- Sua amiga ficara desapontada. É isso o que quer? Eu agradeço por sua preocupação, meu amor. Você pode ir para a festa tranquilamente que vou ficar debaixo das cobertas quietinho. Eu prometo. – Ele disse tocando o rosto dela com carinho.
- Tudo bem, Cole. Mas, quero que se cuide muito bem, e que não faça nenhum tipo de esforço desnecessário. - Anne advertiu e ele respondeu cheio de graça:
- Sim, mamãe. - e os dois riram.
Assim, Anne passou o resto do dia pensando no que vestir. A maioria das suas roupas estavam no apartamento de Gilbert, e não estava com humor para sair e comprar algo novo para uma festa que não tinha animação nenhuma para ir, principalmente naquele momento em que Cole estava precisando tanto dela.
O problema era que ela tinha prometido a Sharon que iria, e a menina ficara tão animada quando Anne confirmara sua presença. Cole, tinha razão, decepcioná-la em uma data tão importante seria cruel, e qual amiga faria isso com a outra? Ela certamente que não, pois Anne sabia bem a mágoa que causava uma promessa quebrada e ela tivera uma lista ao longo de sua vida quando criança e adolescente, por isso, não queria ser uma dessas pessoas que não se importavam com sua palavra dada para alguém.
Desta forma, ela vasculhou em seu guarda-roupa algo que fosse apropriado para a festa na casa de Sharon, e acabou encontrando um vestido verde esmeralda que tinha comprado quando fora com Cole até uma loja no centro da cidade, e o amigo insistira para que ela provasse o vestido. Ele caiu no corpo dela feito uma luva, e Anne foi convencida a adquiri-lo, mas, ainda não tinha encontrado uma oportunidade para vesti-lo. Ele era de renda na altura do busto, e depois seu feitio era de um tecido parecido com lã indo justo até seus joelhos. As mangas também eram rendadas e tinham detalhes de flores por toda a extensão da barra dando um aspecto romântico a todo o conjunto. Nos cabelos, ela fez uma trança fina em cada lateral, prendendo-as atrás da cabeça com uma presilha em formato de borboleta, pintou os lábios com batom carmim, sua única maquiagem naquela noite, além de calçar sapatos pretos de salto médio e se deu por satisfeita com sua aparência. Antes de sair, Anne deu uma olhada em Cole, que ressonava tranquilamente em seu quarto, e finalmente pegou o táxi que o sindico tinha chamado para ela, antes de descer do quarto andar para o térreo.
A casa de Sharon ficava um pouco afastada do centro, por isso, Anne tivera que permanecer dentro do táxi quase quarenta minutos até que o motorista conseguisse fugir do trânsito do centro de Nova Iorque, e rodasse livremente para a periferia da cidade, levando a ruivinha finalmente ao seu destino. Quando o taxi parou em frente a um portão estilo colonial, Anne desceu, e entrou pela lateral onde não havia muito movimento de carros e pessoas que assim como ela, acabavam de chegar para prestigiar o aniversário da amiga. Logo que alcançou a porta, ela foi recepcionada por Sharon que abriu um sorriso radiante quando a viu.
- Anne, finalmente você chegou.
- Desculpe-me pela demora, mas, o trânsito estava pior que eu imaginei, e o táxi ficou preso em um engarrafamento. - Anne disse, beijando Sharon no rosto e pendurando seu casaco marrom de lã em um lugar que fora disponibilizado para isso.
- O importante é que você chegou. Fique à vontade e se sirva do que quiser. A mesa de comida e bebidas está bem ali. - Sharon apontou para o canto da sala, e pedindo licença para Anne ela foi recepcionar outros convidados que acabavam de chegar.
No momento em que Sharon a deixou, Anne olhou ao redor do ambiente e reparou que estava cheio de gente jovem, a maioria alunos da faculdade que ambas estudavam, inclusive algumas de sua própria sala. Depois de alguns minutos cumprimentando algumas pessoas, Anne resolveu tomar algo, pois estava morrendo de sede, e talvez comer alguma coisa, pois saíra de casa sem jantar. Ela encheu um copo de suco de laranja e pegou uma empada que parecia apetitosa e a levou-a boca. No momento em que deu uma mordida, ela sentiu o ar ao seu redor mudar, e como se fosse puxada por um imã ela se virou e encarou um par de olhos castanhos que a analisava maravilhado. A menina engoliu com dificuldade o pedaço de empada que tinha na boca, enquanto observava cada detalhe do rapaz do outro lado da sala que estavam gravados em sua memória.
Gilbert vestia uma camisa vinho que combinava maravilhosamente com seus cachinhos bagunçados para a alegria de Anne, que amava o cabelo dele totalmente ao natural daquela maneira. Para tornar sua aparência ainda mais atraente, ele vestia sua jaqueta preta de couro e calça jeans desbotada que deixava em um passado distante, o adolescente bonito que ele fora e evidenciar aos seus olhos, o homem feito incrivelmente viril que abalava cada estrutura do seu coração.
Ela estremeceu diante aqueles olhos que acariciavam sua figura delicada, e para acalmar sua garganta subitamente seca, ela tomou de uma só vez todo o suco do seu copo, desistindo da empada, pois seu apetite tinha se evaporado. Anne queria se virar e fugir daquele olhar que a despia inteira e que se escurecia cada vez que se demoravam em algum detalhe do seu corpo, mas, seus pés se recusavam a obedecê-la, e por isso, ela continuou no mesmo lugar sem se desgrudar do rosto de Gilbert que deixava bem claro o teor de seus pensamentos, enquanto Anne parecia sentir o toque dele em sua pele sem que Gilbert tivesse que se aproximar. Ela queimava, e o calor se tornou insuportável quase como se ela estivesse literalmente em chamas que a faziam ofegar. Em sua própria defesa, Anne deu um passo para trás se encostando na parede que estava próxima a seu corpo, e tentou respirar com normalidade, mas seu coração dava tantos pulos que ela pensou que ele saltaria para fora se caso Gilbert viesse em sua direção. Porém, isso não aconteceu, pois seu contato visual foi quebrado por Carlos que chamou a atenção de Gilbert ao apresentar-lhe um de seus amigos.
Anne fechou os olhos, e respirou bem fundo tentando recobrar a calma de si mesma, e com grande dificuldade, ela circulou pela sala consciente todo o tempo da presença de Gilbert e seus olhares sobre ela, e por causa disso, a ruivinha ficou em um estado de severa ansiedade, tentando criar coragem para falar com ele, contudo, toda vez que se virava, ele estava acompanhado de algum amigo, e Anne não tinha domínio do que estava sentindo para caminhar até onde Gilbert estava e começar uma conversa desinteressada. Aquilo era ridículo, e tão sem propósito. Como podia ficar tão tímida perto de alguém que a conhecia como a palma de sua mão? Talvez fosse por isso mesmo que não conseguia fazer o que seu coração ordenava, pois no momento em que eles estivessem próximos, Gilbert saberia o que ela estava sentindo apenas lançando um olhar para o seu rosto, e ela tinha que se preservar até que tivessem aparado todas as arestas entre eles, e pudessem deixar as claras o seu mais profundo sentimento.
Ela tentou se comportar normalmente, conversou com mais algumas pessoas, fingiu comer e beber quando na verdade nem sabia o gosto que tinha as comidas que experimentara, tudo o que conseguia perceber era Gilbert Blythe, o homem de sua vida naquela festa tão dolorosamente longe, torturando-a com seus olhos que a seguiam a festa toda. Após algum tempo, Anne começou a se sentir seriamente afetada por toda aquela tensão que a impedia de aproveitar a festa como deveria, e tomou a decisão de falar com Gilbert de uma vez e resolver todas as suas pendências amorosas ainda naquela noite. Contudo, quando olhou novamente para o lugar onde ele passara toda a noite, Gilbert não estava mais lá, e seus olhos desesperados varreram a sala toda em busca dele inutilmente sem o encontrar.
Jonas veio em seu auxílio ao notar seu rosto transtornado e perguntou:
- Qual é o problema, Anne?
- Você viu o Gilbert, Jonas? - ela perguntou sem olhar para o rapaz, seu olhar ainda em busca do seu amor.
- Ele foi para casa, Anne.
- O que? - ela perguntou. Como ele ousava deixá-la a noite toda em expectativa para ir embora sem sequer lhe dizer um oi? O que ele pensava que estava fazendo com ela?
- Ele me disse que estava cansado e que precisava ir para casa. Eu tentei convencê-lo a ficar, mas ele estava irredutível. - Jonas disse aborrecido pela noite que ele e Sharon tinham planejado para juntar o dois tivesse dado em nada.
- Ele não queria me ver, por isso, foi embora. - Anne racionalizou em voz alta, o que fez Jonas responder:
- Pelo contrário, Anne. Acho que ele queria demais, por isso foi embora, pois ficou com medo de não resistir.
- Eu não entendo. - Anne disse balançando a cabeça diante das palavras do amigo.
- Eu tão pouco. Mas, só tenho uma coisa a dizer. Se quer que tudo isso se resolva por que não vai atrás dele? Vocês precisam conversar e resolver como querem conduzir esse relacionamento daqui para frente. - Anne ficou em silêncio por alguns minutos, pensando no que Jonas dissera e no quanto ele estava certo. Mas, e se fosse atrás dele, e Gilbert a mandasse embora de novo? Ela aguentaria a rejeição? Mas, por outro lado, se não tentasse nunca saberia, e esse pensamento foi o que a fez se decidir.
- Você tem certeza que ele foi para casa? - ela perguntou com o olhar fixo na porta de entrada.
- Sim.
- Então, já vou indo. Obrigada pelo conselho Jonas. Você pode se despedir de Sharon por mim? - Anne disse já vestindo seu casaco e se encaminhando para a saída.
- Boa sorte. - ela ouviu Jonas dizer, antes de andar apressadamente para a rua. Por sorte, um táxi estava por perto. Ela deu o endereço para o motorista enquanto se acomodava no banco do passageiro, sentindo-se tremer internamente. Estava indo em busca de sua felicidade e não fazia ideia de como aquilo tudo terminaria, mas, não queria desistir sem lutar.
A pequena viagem até o apartamento de Gilbert pareceu durar uma vida inteira, e quanto mais se aproximava dele, mais nervosa ela ficava, e quando finalmente tinha chegado, ela desceu do taxi e subiu as escadas, rezando para que Jonas estivesse certo e Gilbert estivesse mesmo em casa. Anne bateu na porta com firmeza desejando que Gilbert não a deixasse muito tempo esperando ou acabaria perdendo a coragem que a duras penas conseguira reunir naquele breve espaço de tempo entre a casa de Sharon, e o corredor onde estava parada naquele momento,
De repente a porta se abriu, e lá estava Gilbert. Os cabelos mais bagunçados do que antes, e olhando-a interrogativamente como se não acreditasse que ela estivesse ali.
- Sem pensar, Anne desceu o olhar o peito dele excitantemente nu, e se perguntou em nome de Deus, por que toda vez que se encontravam naquele apartamento, ele aparecia daquele jeito na sua frente? Aquilo era abusar demais de seu autocontrole, mas mesmo com sua força de vontade abalada, Anne tentou concentrar seu olhar em outro ponto que não fosse aqueles músculos perfeitos.
- Eu posso entrar, Gilbert? Está frio aqui fora. - ela disse para quebrar o silêncio desagradável entre os dois.
- Claro. Desculpe-me, eu não esperava visita a essa hora. – ele disse despertando de seu pequeno transe, impressionado demais pela beleza de Anne naquela noite. Ela estava sempre linda, mas aquele vestido a deixara deslumbrante. Ele tivera que controlar todos os seus impulsos, para na agarrá-la na festa e obriga-la a vir para casa com ele, e agora, Anne estava ali, e Gilbert não conseguia acreditar que suas preces tivessem sido finalmente atendidas.
- Na verdade, eu estava indo para cama. – Ele continuou, e Anne estranhou suas palavras, pois ainda era cedo para que ele se recolhesse. Foi então que ela notou os olhos um tanto apertados, e as feições do rosto que as vezes se modificavam como se Gilbert estivesse sentindo dor.
- Você está se sentindo bem, Gilbert?
- É só minha velha enxaqueca. Não dê tanta importância para isso.. Ele disse tentando parecer despreocupado, mas, Anne sabia bem o quanto ele devia estar sofrendo com a dor.
- A quanto tempo está sentindo essas dores?
- A algumas semanas. - Gilbert confessou enquanto observava Anne tirar o casaco e o colocá-lo em cima do sofá.
- E por que não procurou um médico? - ela perguntou em tom de reprovação?
- Não achei que fosse necessário. - ele respondeu tentando manter uma distância segura dela antes que caísse em tentação.
-Francamente, Gilbert. Qual é o prazer mórbido de ficar sentindo dor? – ela perguntou e ele baixou a cabeça sem responder, assim ela continuou.
- Vamos para o quarto que vou ajuda-lo a aliviar a tensão que deve ser a causa dessa dor toda. - Gilbert ia protestar mas quando viu pelo olhar de Anne que ela não desistiria da ideia, ele apenas concordou silenciosamente enquanto a menina o seguia até o quarto que sempre fora dos dois.
Ao entrar ali, Anne tentou não se deixar afetar pelas lembranças que aquele lugar lhe causava. Ela ignorou cada imagem em sua cabeça para apenas se concentrar no homem que precisava de seu cuidado. Gilbert se deitou de bruços, e Anne começou seu trabalho de massagear suavemente a nuca dele, seus dedos habilidosos descendo até o ombro, apertando cada músculos de leve, desfazendo cada nó de tensão. Como Gilbert estava com a cabeça escondida em seu braço, Anne não podia ver que ele tentava a todo custo controlar os gemidos que lhe subiam aos lábios cada vez que as mãos macias dela alcançavam um ponto de tensão em suas costas.
A que ponto tinha chegado sua carência por ela, ele pensou. Apenas um toque inocente, e ele já ficava daquele jeito quase explodindo pelo desejo que Anne estava provocando nele. Quando as mãos dela continuaram descendo e chegaram perto de sua lombar, Gilbert se virou de frente fugindo do toque dela. Sem entender, Anne perguntou:
- O que foi? Eu te machuquei?
- Acho que machucar não é bem o termo que eu usaria. - ele disse com sinceridade o que fez Anne observar o rosto dele com atenção e compreender o que ele quisera dizer.
- Desculpe-me- ela baixou a cabeça envergonhada e Gilbert pegou o queixo de Anne com o polegar e puxou o rosto dela em sua direção dizendo:
- Por que veio até aqui a essa hora Anne? - Ela quis dizer que precisavam conversar e resolver aquele impasse que durava a quase dois meses, mas tanto as palavras quanto os argumentos que pensara usar para convencer Gilbert de suas intenções sinceras caíram por terra, assim como todas as defesas que fizera questão de desenvolver para não cair na armadilha do seu coração. Porém, de nada adiantava seus discursos para si mesma, suas explicações, se quando o seu olhar se fundia com o de Gilbert todas as outras coisas pareciam tolas, a não ser a verdade que havia nos olhos dos dois. Só amor brilhava em ambos os olhos como no primeiro dia em que se viram. Não havia mais muros que pudessem impedir o sentimento de jorrar como uma fonte abundante, e inundasse seus corações com sua força.
Anne não se afastou dessa vez, nem Gilbert tentou fugir. As mãos dela foram parar no rosto dele, seguindo a linha forte do queixo, contornando os lábios, acariciando suas bochechas, ao mesmo tempo em que Gilbert imitava seu gesto, sem deixar de admirar suas sardas incríveis O beijo foi inevitável, e suas bocas se moviam na mesma sincronia, primeiro de maneira lenta, e depois mais desesperadas porque eles precisavam do gosto um do outro para matarem a saudade que os torturava a quase dois meses. Gilbert puxou Anne para ele, aprofundando beijo enquanto ela se agarrava ao pescoço do rapaz como se nunca mais quisesse soltá-lo. Eles pararam de se beijar por um instante, pois suas respirações descompassadas lhes avisaram que precisavam de um mínimo de oxigênio entre eles Assim, o rapaz deitou Anne na cama, enterrando seu nariz no pescoço dela enquanto perguntava com a voz rouca:
- Por que demorou tanto para vir para casa?
- Porque você fez questão de me manter longe daqui. – ela disse enterrando as mãos nos cabelos dele.
- Isso não é verdade. - ele protestou, brincado com a pele do pescoço dela, passando a ponta do nariz por toda aquela região, fazendo-a se arrepiar inteira.
- Mas foi o que pareceu da última vez que estive aqui. - as mãos dela acariciaram o ombro dele, e em seguida ela deixou uma trilha de beijos pelo maxilar perfeito do rapaz, ouvindo com prazer a respiração de Gilbert se alterar.
- Eu estava com raiva, e descontei em você, me desculpe. - ao dizer isso ele se afastou um pouco e olhou no fundo dos olhos de Anne desejando que ela visse a verdade de suas palavras.
- Eu não vim aqui por isso, e quero que saiba que já o desculpei. Eu vim aqui apenas para te fazer uma pergunta?
- E qual é?
- É tarde demais para te pedir que envelheça comigo? - Gilbert sorriu diante da pergunta dela, e então se lembrou de algo e franziu o cenho fazendo também uma pergunta:
- E o rapaz da peça? Vocês parecem estar passando muito tempo juntos.
- Ele não é você. - Anne respondeu, entrelaçando seus dedos nos dele e disse:- Quando vai se convencer de que o único homem que existe para mim é você? Eu te amo, Gilbert. Sou completamente e perdidamente apaixonada por você.
- Eu também te amo demais. - ele respondeu.
E então mais um beijo aconteceu e esse veio carregado da paixão que comandava seus movimentos em uma harmonia perfeita. Suas almas se fundiram, para serem o espelho uma da outra, seus sangue de misturou correndo espesso por suas veias. Eles estavam tão sedentos um do outro que nem toda a água do oceano conseguiria aplacar essa necessidade de estarem juntos.
Em um instante estavam nus se tocando como se fosse a primeira vez. Os sussurros e gemidos se misturaram naquele quarto testemunha de um desejo que nunca fora brando entre eles. Em momento entre a sanidade e loucura, Gilbert levantou a cabeça e confessou para Anne:
- Você não sabe o quanto senti falta de sua boca em minha pele.
- Eu quase morri de saudades de nossos corpos grudados dessa maneira. - Anne também disse deslizando os dedos pelo peito quente e levemente suado de Gilbert.
- Não faz ideia de quantas noites eu passei insone desejando você. – Ele sussurrou com seus lábios de encontro ao pescoço de Anne, que sentiu ondas de calor tomarem conta de cada partícula de seu ser.
- Espero que seja o mesmo tanto de noites que sonhei em ter você do meu lado. - suas bocas se encontraram mais uma vez antes de continuarem suas confissões ao pé do ouvido.
- Eu sou completamente viciado em seus lábios, na sua pele, em cada curva do seu corpo que posso esculpir com minhas mãos. - Gilbert disse acariciando com a ponta da língua cada parte dela com devoção, arrancando mais suspiros incontroláveis da garota que se contorcia embaixo dele desejando que aquela noite não tivesse fim. Quase como se estivesse entrando em um estado de transe ela disse:
- Então, faça amor comigo e me faça lembrar como é ter você dentro de mim e ser completamente e totalmente sua. - ela sussurrou antes que Gilbert fizesse exatamente o que ela acabar a de pedir.
Os toques foram mais quentes, os beijos mais selvagens. Anne arranhou as costas dele de leve enquanto Gilbert a deixava complemente hipnotizada pelo seu jeito intenso de olhá-la a cada vez que suas mãos a faziam chegar perto demais do seu limite. Seus corpos estavam pegando fogo, seus sentidos liberando todo o desejo acumulado por tempo demais. Não houve espaço para pausas ou mais palavras de amor trocadas, tudo o que queriam era sentir aquela alegria imensa de se descobrirem um no outro mais uma vez. E quando chegaram ao ápice de toda aquela loucura, eles se entregaram como nunca a todas as sensações que inundaram seus corpos do amor que sentiam um pelo outro.
Momentos depois, Anne se encontrava nos braços de Gilbert, sentindo-se plena pela primeira vez em dias, E então, ele disse com sua voz ainda enrouquecida:
- Dorme comigo essa noite.
- Gilbert, eu não posso. O Cole está doente e Pierre foi para a França, por isso, eu preciso ficar com ele. - ela disse tocando os cabelos macios do rapaz.
- Por favor, Anne. Eu prometo que te levo amanhã cedo até lá, mas, fica comigo essa noite. Sinto falta de dormir com você. – O olhar dele implorava e ele não teve como negar algo que ela também desejava, e no fundo ela sabia que Cole iria aprovar.
- Está bem. Eu fico com você. – ela disse sendo recompensada com um sorriso maravilhoso.
Enquanto se acomodava ao lado de Gilbert para passar a melhor noite da sua vida em semanas, Anne lembrou a si mesma que ainda teriam que conversar sobre coisas que deixaram pendentes entre eles, mas naquela noite, e naquele instante, tudo o que queria era saborear o momento tão sublime de adormecer nos braços do homem que amava.
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