Capítulo 86- Nirvana
Olá, pessoal. Aqui está mais um capítulo. Eu espero que me digam o que acharam dele, pois seus comentários são muito valiosos para mim, me inspiram a escrever cada vez mais.Desculpem- me por qualquer erro ortográfico. Muito obrigada por tudo. O capítulo ficou longo de novo, e espero que não tenha ficado cansativo. Beijos, Rosana.
PS: Para quem ainda não sabe eu tenho outra história de Anne e Gilbert mais moderna. O nome é Corações em jogo. Caso vocês tenham interesse em lê-la, vão encontrá-la em meu perfil.
ANNE
- Anne, o que acha de comprarmos um carro? - Anne levantou a cabeça de suas anotações de suas aulas de Literatura, e encarou Gilbert espantada.
- Por que precisamos de um carro? - ela perguntou de volta, deixando seu caderno sobre a mesa da cozinha, e apoiando seu queixo nas mãos esperando que Gilbert lhe dissesse por que tivera aquela ideia repentina.
Era noite de quarta-feira, e ambos estavam sentados em seu apartamento aproveitando a companhia um do outro, ao mesmo tempo em que dividiam suas atenções com seus respectivos estudos. Eles faziam isso todas as noites, desde que voltaram para a faculdade, e Anne gostava de observar Gilbert concentrado em seus livros, aquele seu ar tão sério e compenetrado, já parecendo um verdadeiro médico e não apenas somente um estudante.
- Bem, eu pensei que se eu tivesse um carro poderia levar minha garota para passear com mais frequência. - Gilbert respondeu sorridente. Anne franziu a testa ante as palavras dele fazendo Gilbert perguntar:
- O que foi, não gostou da minha ideia?
- Bem, quer dizer que fui rebaixada de título? Eu deixei de ser a Sra. Blythe para apenas ser sua garota? – Gilbert gargalhou ao ver a expressão de afronta no rosto de Anne.
- Amor, você está mesmo falando sério? Não acredito que ficou ofendida com minha escolha de palavras. Quando digo que você é minha garota ou minha mulher quero dizer a mesma coisa.
- Não é a mesma coisa não. Sra. Blythe é muito mais distinto, e me sinto tão importante quando você me chama assim soa como algo permanente, duradouro e forte - Anne disse olhando para Gilbert tão séria que fez o rapaz voltar atrás no que dissera:
- Está bem, Anne, já que valoriza tanto as palavras, eu vou reformular o que disse. Eu pensei em comprar um carro para levar a minha linda mulher Sra. Blythe para passear. Ficou melhor assim? - Gilbert perguntou pegando na mão dela e acariciando cada um de seus dedos.
- Muito melhor, mas quero te dizer que as palavras são importantes Gilbert, mesmo que as pessoas não dêem a elas o devido valor. Anne respondeu com seu costumeiro ar inteligente de quem sempre racionalizava sobre o significado das coisas Ela realmente acreditava no poder das palavras, de como eram ditas e com que intenção. Durante toda a sua vida, Anne aprendera que uma palavra quando dita não podia ser apagada ou retirada da lembrança, pois por mais que se pedisse desculpas por ter ofendido alguém pelo mau uso de uma delas, era difícil deixar de lado ou simplesmente esquecer. Assim, como muitos mal entendidos poderiam ser evitados, se a sinceridade fosse verbalizada. Muitas pessoas diziam que um gesto valia muito mais que uma palavra, mas, aquilo nunca provara ser verdadeiro para ela. Era obvio que ações tinham seu lado positivo, mas, não serviam como substitutas para as palavras. Ela mesma não tivera que ouvir Gilbert dizer-lhe "eu te amo", um milhão de vezes até que realmente conseguisse acreditar, mesmo depois de ele ter-lhe feito tantas coisas para provar a genuinidade de seus sentimentos? Isso apenas comprovava a veracidade de sua teoria de que as palavras tinham mais força do que se podia imaginar.
- Tudo bem, meu amor. Vou me lembrar disso da próxima mais que quiser te dizer algo. - Gilbert disse rindo, seus dedos subindo para o pulso dela, fazendo Anne ficar um pouco mais consciente da presença dele naquele ambiente tão convidativo.
- Não zombe de mim, futuro Dr. Blythe. Você sabe que o que eu disse é verdade.
- Eu jamais faria isso, meu amor. Nem em sonho eu te desafiaria para uma discussão sobre isso, quando tenho certeza de que não teria nenhuma chance de ganhar. - ele disse rodeando o pulso dela com sua mão direita.
- O que disse? Finalmente admitiu que sou mais inteligente que você? - Anne perguntou com a sobrancelha arqueada enquanto o desafiava com o olhar.
- Não foi exatamente isso que disse. Apenas comentei que quando se trata de palavras, eu não consigo superar você. - Gilbert disse aceitando o desafio que via nos olhos dela, e Anne sentiu como se os velhos tempos na escola de Avonlea tivessem retornado, apenas imaginava que competir com seu noivo agora seria muito melhor, porque ao invés de receber comentários espirituosos de Gilbert Blythe, ela ganharia beijos e carinhos ousados.
- Não me venha com essa, Gilbert Blythe, eu ouvi perfeitamente você dizer que não consegue ganhar de mim em uma discussão.Quer que eu prove suas palavras? - Anne disse fitando-o com seus olhos muito azuis triunfantes.
- Não acho que isso seja necessário, nós dois sabemos quem é o cérebro dessa nossa relação. - ele disse tocando-lhe a face rosada e sorrindo de um jeito doce que fez Anne sentir seu coração bater em seu peito sonhador. Ela era perdidamente apaixonada por seu noivo, e somente por esse fato ela estava bem encrencada. Ele se levantou da cadeira onde estava sentado, se aproximou dela enquanto Anne continuava onde estava, e puxou a presilha que ela usava para manter seus fios longos preso em um coque no alto da cabeça, fazendo seus cabelos caírem soltos sobre os ombros em uma massa rubra de fios brilhantes.
- Você sabe que é mais inteligente que eu, meu amor, em tudo. Não preciso que prove nada para que eu admita que minha mulher é uma garota extraordinária, tão cheia de sabedoria que me faz admirá-la a cada dia um pouco mais. E tem mais uma coisa na qual nunca vou conseguir te vencer. - ele disse olhando-a de um jeito que entregava seus pensamentos completamente. - Em questão de beleza, eu nunca vou te vencer, porque você é a mulher mais linda do mundo. - o beijo dele foi doce, mas exigente, foi carinhoso o suficiente para tirar da cabeça de Anne qualquer tipo de ideia para contradizer o que ele acabara de lhe dizer, e quando seus lábios se separaram, Anne pensou que em questão de beleza masculina ela nunca encontrara em Avonlea ou mesmo naquela cidade imensa que era Nova Iorque, um homem mais lindo do que seu noivo. Os olhos dele brilhavam com o efeito do beijo que trocaram, e aquele rosto que ficava mais másculo a cada dia que passava podia muito bem servir de modelo para os heróis de seu romances de amor, sem falar do corpo que tinha os músculos em todas as formas certas que ela adorava tocar e beijar em todas as oportunidades.
Ela riu dos próprios pensamentos, imaginando o quanto Marilia se chocaria ao ver que todos os seus esforços de tornar Anne uma dama respeitável tinham ido por água abaixo, ela acabar se tornando uma pervertida da pior espécie. Mas, tinha como não ter pensamentos pecaminosos vivendo embaixo do mesmo teto de Apolo em pessoa? Gilbert era o culpado por ela não conseguir tirá-lo do pensamento cada vez que estavam afastados, e era pior ainda quando estavam juntos, pois ela não conseguia deixar de olhá-lo, se admirando todas as vezes como aquele homem perfeito podia ser completamente seu? Gilbert sempre fora um garoto bonito, mas, de que maneira, ele se tornara aquele poço de perdição que fazia a mente dela viajar para lugares onde em sã consciência nunca iria? Quanto mais, ele amadurecia, mais a atração que sentia por ele a prendia em sua rede, e foi assim que ela percebeu que estava realmente perdida de amor por Gilbert Blythe.
Em poucas semanas na Faculdade, Anne percebera outras coisas também. Coisas essas que ela tivera que suportar em Avonlea durante o tempo em que ela Gilbert namoravam, e que em Nova Iorque não eram nem um pouco diferentes, provavelmente pior até pela modernidade da cidade. As garotas continuavam olhando para Gilbert como se ele fosse um objeto raro em exposição, e aquilo a fazia se lembrar de Sabrina, e seus jogos nada sutis para se aproximar de Gilbert, deixando-a desconfortável. Em Avonlea, as garotas pelo menos disfarçavam um pouco mais seu interesse, não deixando passar de sorrisos discretos, e olhares furtivos, porém, ali, onde tudo era discutido abertamente, os olhares dirigidos a Gilbert nada tinham de inocentes, o jeito que se comportavam perto dele para lhe chamar a atenção beirava às vezes a indecência, e quando descobriam que ele era estudante de medicina a situação toda piorava como se um título tivesse o poder de mudar quem realmente ele era. Em outros tempos, Anne simplesmente teria se desesperado ao pensar no que faria para que seu noivo não corresse o risco de sucumbir à tentação de experimentar algo novo, mas, naquele momento em que sabia que a única direção na qual Gilbert olhava era a sua, ela não se importava nem um pouco de andar de mãos dadas pelos corredores da faculdade com Gilbert enquanto garotas e mais garotas , inclusive de seu curso a invejavam por estar noiva de um dos rapazes mais desejados daquela instituição . Ela podia sentir os olhares, e as vezes ouvir certos comentários nada amigáveis que preferia ignorar a seu respeito enquanto Gilbert a abraçava e a mimava com toda devoção durante os intervalos das aulas. Entretanto, Anne descobriu que nada daquilo de fato a afetava mais. Por que deveria ter ciúme de garotas que nunca significariam para Gilbert o que ela significava? Por que deveria ligar para o fato de que o olhavam como se ele fosse um bom partido em potencial quando era ela quem partilhava com Gilbert todos melhores momentos de sua vida? Por que deveria se sentir de alguma forma magoada quando alguma daquelas garotas elogiam Gilbert diretamente quando ele sequer notava, pois mantinha sua mente na medicina e seus olhares sobre ela? Era nesses momentos, que Anne percebia o quanto tinha amadurecido durante aqueles meses em que dividiam o apartamento, suas vidas e seu amor. Gilbert lhe dava segurança, e isso se refletia em suas atitudes. Seu relacionamento tinha chegado a um ponto em que não tinham mais segredos um para o outro , e não limitavam mais o que sentiam porque por experiência própria e não tão positivas assim lhes ensinaram que o tempo era algo relativo, e que deixar para amanhã momentos que poderiam ser vividos hoje era correr o risco de os perder para sempre, assim como deixar de dizer ou sentir coisas por medo ou inibição era não ter certeza se o futuro lhes daria as mesmas oportunidades, portanto, eles viviam intensamente minuto a minuto e dia a dia. Falar eu te amo também tinha um sabor diferente, e não existia mais aquele receio de estar se entregando demais .Por isso, toda vez que Anne dizia a Gilbert que o amava , ela o fazia sempre com a certeza de que era um sentimento retribuído e compartilhado e que não havia mais meio termo para aquela relação Eles viviam uma vida de marido de mulher, e embora ainda não tivessem as bênçãos da igreja, os laços eram os mesmos, assim como os compromissos assumidos e suas responsabilidades, pois ela já era uma Blythe em seu coração
A única coisa que ainda incomodava Anne era a cegueira de Gilbert em relação a Dora. Ela não sabia se ele realmente ignorava o que a garota sentia por ele, ou se ele fingia não ver para que a amizade não fosse abalada. Embora fosse sutil e nem de longe se assemelhasse ao completamente escandaloso de Sabrina, a amiga de Gilbert vinha se revelando uma jogadora inteligente. Anne a vinha observando de longe, e sempre que Gilbert estava por perto, ela dava um jeito de se aproximar e exigir sua atenção sempre com o pretexto de falarem sobre alguma matéria, prova ou trabalho.
Anne ainda não revelara a Gilbert suas suspeitas, porque ela sabia que ele teria que ver com os próprios olhos para acreditar que sua fiel amiga nutria sentimentos por ele além de amizade, e estava usando aquilo para mantê-lo ao seu lado e tirar vantagens dessa proximidade. Porém, ela se esquecia que Anne também sabia jogar, e com tanta habilidade que Dora se perderia no meio das regras. Anne tivera que lidar um bom tempo com garotas como a amiga de Gilbert, e aprendera com o tempo em como dar as cartadas certas. Assim como no jogo de xadrez que Gilbert a ensinara a tanto tempo atrás, Anne aprendera a sempre movimentar as peças ao seu favor, e se tornara uma exímia jogadora, portanto, ela não pretendia perder aquela guerra se Dora declarasse uma pelo amor de Gilbert.
- O que me diz, Sra. Blythe. Vamos comprar um carro? - Gilbert perguntou interrompendo os pensamentos de Anne, com as mãos acariciando seus cabelos. Ela realmente não pensava que precisavam de um carro ali em Nova Iorque, pois eles moravam bem do centro da cidade cuja localização ficava perto de tudo, bem diferente de Avonlea onde o mercado mais próximo ficava a três quilômetros. Mas, Gilbert parecia empenhado naquela ideias, e Anne o conhecia bem para saber que ele era bastante teimoso quando colocava algo na cabeça, por isso respondeu:
- Se é o que quer, vamos comprar um carro. Já tem algum modelo em mente? - Anne perguntou ajeitando os fios bagunçados de seus cabelos com os dedos.
- Eu pensei que você talvez quisesse ir comigo escolher um. - o sorriso dele era empolgante assim como sua animação. Ele se sentou na cadeira ao lado dela, e Anne o fitou nos olhos.
- Querido, eu não entendo nada de carros. Por que quer tanto que eu vá com você?
- Porque eu quero fazer tudo com você como o casal que somos, então, acho justo que você participe disso também. – As mãos dele estavam em suas bochechas, assim como ele a olhava cheio de expectativa. Era maravilhoso que Gilbert quisesse envolvê-la em tudo o que dizia a respeito dos dois. Embora, Anne não achasse que um carro fosse algo tão importante ela ficava feliz em participar daquela escolha mesmo assim, e se era algo que Gilbert desejava tanto, ela o faria por ele, mesmo não tendo a menor ideia de que tipo de veículo lhe agradaria mais.
- Está bem. Podemos ir no sábado. Se você estiver livre. - Anne respondeu vendo o sorriso dele se alargar.
- Vou estar com certeza. Não perderia esse momento com você nunca. - eles ficaram se olhando de mãos dadas por um segundo, curtindo a intimidade que tinham naquele apartamento que agora era o seu lar.
De repente, Anne bocejou, e o cansaço do dia começou enfim a dominar todas as extensões de seu corpo. Gilbert se levantou e disse olhando-a ternamente:
- Venha, amor. Vou te colocar na cama. Amanhã nós temos aula bem cedo, e você precisa descansar. - Anne ia dar um passo em direção ao quarto, quando Gilbert se adiantou e a pegou no colo.
- O que está fazendo, seu doido? - Anne disse surpresa por aquele gesto que era atípico de Gilbert. Ele vinha surpreendendo-a ultimamente. Agia feito um louco romântico, lhe falava coisas românticas principalmente na hora do amor, e Anne se sentia completamente rendida por aqueles olhos castanhos que eram seu paraíso na terra.
- Estou levando a bela adormecida para os seus aposentos. E quanto a ser doido, eu realmente sou, por você. - Anne riu feito boba ao ouvir Gilbert usar tais palavras. Tinha como não amar aquele rapaz tão galanteador? Ele a aquecia toda por dentro com se uma festa inteira acontecesse em todos o seu espírito. Anne se sentia eufórica, encantada e tão profundamente apaixonada, que podia sair levitando no próximo pôr do sol.
_ Gilbert, eu não sou nenhuma princesa para você falar dessa maneira comigo. - Anne disse encabulada, ao mesmo tempo em que estava adorando ser carregada para o quarto nos braços de Gilbert.
- Sim, você é, a princesa do meu castelo. - Gilbert respondeu colocando Anne com cuidado na cama. Logo, ele se juntou a ela, e antes de fechar os olhos ele ficou olhando para o rosto dela como se a estivesse vendo pela primeira vez. Ele costumava olhar para ela daquela maneira, e Anne tinha a impressão de que ele queria memorizar cada linha de seu rosto, cada detalhe de suas bochechas, e cada formato de suas sardas. No passado, ela sempre se sentira desconfortável de ser examinada daquela maneira, mas, com Gilbert, Anne sentia apenas aquele calor bom se espalhar pelo seu peito, abrindo portas para outras sensações incríveis. Ela realmente amava tê-lo a seus lado todas as noites, pois aqueles braços que lhe ofereciam tanto conforto eram também o único lar para o seu coração. O selar dos lábios foi rápido, quase como o farfalhar de asas de borboletas, contudo, até um toque sutil assim entre eles era cheio de emoção. Eles precisavam disso, mesmo que não se tocassem de outra forma, pois era a única garantia de uma noite bem dormida.
- Boa noite. Te vejo de manhã. - Anne murmurou fechando os olhos.
- Boa noite, meu amor, sonha comigo. - Gilbert disse beijando-lhe a ponta do nariz.
No dia seguinte, eles foram juntos para a faculdade, e como sempre, Gilbert se despediu dela em frente de sua sala, e seguiu caminho até a dele. Quando Anne entrou na sala, viu a figura desagradável de Roy Gardner sentado nos mesmo lugar de todas as aulas nas quais comparecia. Ele nunca lhe dirigia a palavra e nem tentava se aproximar, mas aqueles olhos a seguiam deixando Anne completamente incomodada, e ela lutou para se livrar daquela sensação. Seu olhar foi até onde Sharon estava sentada, e foi para lá que se dirigiu.
- Bom dia, Anne. - Sharon disse com sua voz jovial e animada.
- Bom dia, Sharon. - Anne respondeu no mesmo tom. Sharon lhe inspirava sentimentos bons, e estar perto dela lhe fazia lembrar sua adorada e insubstituível Diana. Quantas saudades tinha dela! Esperava que pudessem se ver em breve novamente.
-- Eu posso te dizer uma coisa? Promete que não fica zangada comigo? - Sharon disse parecendo tímida de repente.
- Claro. O que quer me dizer? - Anne a olhou com curiosidade.
- Garota, como seu noivo é lindo! – Anne riu da expressão sonhadora de Sharon e respondeu:
- Por que será que não estou surpresa com isso? Mostre-me uma garota nesse Campus que não olhe para Gilbert como se ele fosse um astro do cinema, e eu te pago a fortuna que quiser.
- Você não sente ciúmes? - Sharon perguntou admirada.
- Eu costumava sentir muito ciúmes no passado, mas agora não mais. - Anne disse com segurança.
- E nem precisa. Você também é linda, Anne e a maneira como ele te olha não deixa dúvidas nenhuma do quanto ele está apaixonado por você. - Sharon disse exibindo um olhar romântico que lembrou a Anne de si mesma anos atrás. Mas, tantas coisas aconteceram que ela acabara perdendo um pouco de sua essência romântica, porém, isso não queria dizer que não apreciasse mais uma boa história de amor. Ela ainda era fã de William Shakespeare de carteirinha. – Quem me dera ter esse cabelo ruivo maravilhoso! Quem sabe assim eu não atraísse o meu verdadeiro amor.
- Que bobagem 'é essa que está dizendo Sharon! Seu cabelo é lindo, e você é um encanto. Com esse seu jeitinho doce, logo encontrará o seu Mr. Darcy, assim como eu. - Anne disse acariciando os cabelos da menina com carinho.
- Vou manter todos os meus dedos cruzados para que tenha razão, Anne. - Sharon disse em um tom tão teatral que Anne quase gargalhou e interrompeu a explicação que o professor de Literatura clássica estava dando.
- Acredite em mim. Quando menos esperar terá um príncipe aos seus pés.
- Isso é fácil quando se é tão linda quanto você. Duvido muito que tenha problemas de baixa estima com essa pele perfeita e esses olhos maravilhosos. - Anne ouviu as palavras de Sharon, e balançou a cabeça. Se ela soubesse o quanto Anne tivera que lutar para chegar àquela aceitação tranquila de sua aparência. Foram anos odiando sua imagem no espelho, desejando ser uma pessoa completamente diferente. E fora somente a bem pouco tempo que Anne passara a gostar mais de seu cabelo, e isso acontecera porque descobrira que sua mãe tinha os dela da mesma cor. Não, realmente não fora fácil, mas, ao olhar para a garota de cabelos cacheados que a fitava como se ela fosse a sétima maravilha do mundo, Anne disse, o que gostaria que alguém tivesse dito à ela quando deixara o ambiente terrível daquele orfanato, e fora viver na maravilhosa e pacifica Green Gables:
- Toda garota tem seu encanto, Sharon. Ela apenas tem que olhar para dentro de si mesma e fazer um esforço para encontrá-lo. Existem vários tipos de beleza e cada uma é singular, por isso, quando alguém te fizer se sentir menos bela do que é, se lembre dessas palavras. - Sharon lhe deu um sorriso iluminado o que fez Anne se sentir muito bem.
As horas acabaram passando rápidas, e logo Anne e Gilbert se encontraram no intervalo. Dessa vez, eles ficaram junto aos amigos dele, e Anne não se importou porque já estava se acostumando ao bom humor e as insinuações maliciosas que acabavam sempre em uma grande piada. Dora
não estava por perto daquela vez, e Anne se perguntou se isso se devia ao fato de que Gilbert estava acompanhado, porém, não perdeu muito do seu tempo naquele tipo de questionamento, pois quanto mais Dora estivesse fora de suas vistas, mais fácil seria para Anne se esquecer de que ela existia.
Quando as aulas chegaram ao fim naquele dia, Anne foi para casa sozinha almoçar, pois Gilbert lhe dissera que precisava ir direto para o laboratório. Ele estava cheio de trabalho e não teria tempo de acompanhá-la, mas, voltaria para casa assim que seu expediente terminasse. Assim, Anne caminhou para casa apressadamente, pois também teria que ir para o trabalho logo após o almoço. Ao abrir a porta do seu apartamento, ela esperou encontrar Milk à sua procura com seus olhinhos felizes e lambidas de boas-vindas, mas, estranhamente, ele não veio ao seu encontro como normalmente fazia todos os dias. Anne o procurou pela casa, e foi encontrá-lo em seu quarto aninhado no tapete felpudo e quentinho que ela mantinha ao lado da cama. Quando ele a viu, não se levantou imediatamente. Ele apenas esticou a cabecinha e a olhou de um jeito triste que fez Anne se preocupar.
- Olá, meu amorzinho. Por que está escondido neste quarto? Ficou com saudades de mim? - ele abanou o rabinho sem muito entusiasmo e Anne o pegou no colo para ver o que havia de errado, e assim que o corpinho de Milk estava em seus braços, ela o sentiu extremamente quente, o que a fez pensar se ele tinha se resfriado, pois o ar gelado de Nova Iorque estava bem propício a isso. Ela o levou até a cozinha, e tentou alimentá-lo, e nem mesmo o cheiro de seu petisco favorito o fez se interessar pela comida que Anne colocara em seu potinho de ração. Assim, ela preparou uma refeição rápida para si mesma, pensando no que faria com seu amiguinho que parecia adoentado. Ela resolveu que o levaria para a casa de Cole como normalmente fazia, iria para o trabalho, e quando retornasse se ele ainda não estivesse bem, ela o levaria a um veterinário.
Anne chegou no trabalho ainda preocupada com Milk, por isso, passou metade do dia com a cabeça distraída, desejando que ele estivesse melhor quando ela fosse buscá-lo no apartamento do amigo. Assim, ela passou o dia entre atarefada e o coração angustiado, rezando para que o dia passasse rápido e ela pudesse ir para casa verificar como Milk estava. Enfim, seu expediente terminou, e quando Anne estava saindo deu de cara com Roy Gardner que a olhou demoradamente com aquele jeito atrevido que lhe causava engulhos, rindo de algo propositalmente como se estivesse se divertindo com alguma piada particular. Felizmente, ele não lhe dirigiu a palavra, e logo Anne se despediu da recepcionista que trabalhava na parte da frente da livraria, e correu para a casa de Cole em busca de seu amiguinho peludo
- Como ele está, Cole? - Anne perguntou preocupada assim que o amigo lhe abriu a porta.
- Nada bem, Anne. Ele não quis comer o dia todo e parece realmente adoentado. - Cole disse notando-lhe o olhar angustiado.
- O que você acha que pode ser? - Anne perguntou olhando para Milk em sua cestinha que sequer tinha se levantado para brincar com ela.
- Quem pode saber? - Cole disse dando de ombro; - Enfermidades são misteriosas às vezes. Pode ser apenas um simples resfriado ou algo mais sério. Se eu fosse você não esperaria para descobrir.
- Tem razão. Vou levá-lo a o veterinário imediatamente.
Assim, ela enrolou Milk em sua mantinha grossa, tendo o cuidado de agasalhar-lhe as orelhas e a cabeça, saiu da casa de Cole e foi direto a um veterinário que tinha perto de seu apartamento, pedindo fervorosamente que nada de ruim acontecesse ao animalzinho que em tão pouco tempo tinha se tornado o outro amor de sua vida.
GILBERT
Gilbert já tinha analisado aquela amostra milhares de vezes, e ainda não tinha chegado a um diagnóstico exato. Por fim, marcou na etiqueta inconclusivo, e o deixou de lado para ser analisado mais tarde novamente.
Ele passou as mãos pelos cabelos, massageando a nuca dolorida por ter ficado horas a fio na mesma posição e caminhou até a cafeteira mais próxima e se serviu de um café expresso. A janela naquela sala estava aberta, por isso Gilbert tinha acesso ao lado de fora do laboratório, onde uma brisa gelada soprava, e anunciava mais uma noite de nevasca. A Gilbert lhe agradava esse tempo mais frio, e a neve não o incomodava em absoluto. Ele crescera em um lugar onde o inverno era ainda mais rigoroso que em Nova Iorque, e por isso, se acostumara a temperaturas abaixo de zero.
Nova Iorque ficava encantadora sob a neve. Era como observar um espetáculo perfeito que enchia os olhos de puro encantamento. Os flocos de neve dançavam pelo ar como se pesassem quase nada, e depois eram depositados no chão como minúsculos diamantes que reluziam com seu brilho ofuscante.
Gilbert riu de seus próprios pensamentos. No passado, ele nunca parara para observar que tipo de impacto a paisagem ao seu redor podia causar nas pessoas, ou que tipo de mensagem poderia conter. Contudo, a convivência com Anne também despertara esse seu lado, e já encontrara diversas influências da ruivinha em sua observação anterior. Ela há mais deixaria que um cenário assim passasse despercebido, e encontraria uma forma poética de descrever o que estivesse diante de seus olhos com a alma apaixonada que tinha, e ela por si só era alguém apaixonante. Ver as coisas pelos olhos dela era algo totalmente incrível. Ela tinha um jeito de enxergar o que havia além de um simples crepitar de fogo na lareira, que fazia Gilbert se admirar de sua capacidade de usar as palavras de um jeito totalmente fantástico que dava vida a sua narrativa, e era quase impossível não viajar junto com sua imaginação tão criativa e fértil.
Anne seria uma ótima escritora se um dia se decidisse seguir por esse caminho profissional, mas seu amor ao magistério era algo do qual ela não abria mão , por isso, ela sempre dizia que escrever era apenas um passatempo para manter sua mente ativa e sadia, e que ensinar estava em seu sangue assim como no de sua falecida mãe como ela descobrira recentemente, por isso,, a literatura era apenas uma das portas que ela utilizava para tornar a sua prática pedagógica mais interessante.
Anne seria uma professora maravilhosa, Gilbert não duvidava nem um pouco disso, assim como estava se tornando uma mulher admirável que ele amava mais do que tudo no mundo. Quando ele a conhecera, jamais poderia imaginar que aquela garota marrenta, desbocada e desafiadora se tornaria seu bem mais precioso do mundo. Gilbert sempre fora fascinado por sua inteligência incomum, mas nunca teria pensado que todo esse encantamento se tornaria algo maior que ele próprio, e desta forma ele se via totalmente envolvido por aquela personalidade inigualável que lhe dava mil motivos todos os dias para amá-la mais.
Sua rápida adaptação a vida em Nova Iorque e a faculdade também era espantosa. Ela não precisara de muitos dias para transformar aquela cidade em seu novo lar, assim como não precisara de muito tempo para se tornar alguém indispensável na vida dele. Gilbert precisava de Anne em todos os sentidos.
Era tão fácil conviver com ela. Gilbert aprendera a conhecer todos os seus estados de humor, assim como aprendera a amar Anne de maneira livre, demonstrar seus sentimentos, falar sobre eles e não guardá-los apenas para si. Essa nossa versão do amor de ambos dava lhe oportunidade de enxergar seu futuro juntos positivamente Não havia mais as dúvidas de outrora. O medo ou a incerteza do que estava por vir não assustavam mais Gilbert que sentia a força dos sentimentos tão palpáveis em suas mãos. Viver o momento se tornara imprescindível, assim como fazer planos, e apesar de todos dizerem que ele e Anne tinham muito tempo pela frente, Gilbert preferia não se arriscar, pois ele já sentira na pele os caprichos do destino que um dia quase lhe tirara Anne e muitas das pessoas que amava, e por isso, ele tentava diariamente ter algo concreto nas mãos, algo que lhe mostrasse as direções que seu coração deveria seguir, e que lhe servisse como uma ponte entre o presente e suas aspirações.
Gilbert também tinha outros sonhos que vinham tomando conta de seus pensamentos ultimamente. Ele nunca fora de se apegar a bens materiais, mas secretamente ele vinha acalentado a ideia de ter um carro. Enquanto estava vivendo sozinho em Nova Iorque, ele não pensara muito nisso, mas agora que Anne estava com ele, esse pensamento o acometida com mais frequência.
Ele queria ter liberdade para levar Anne a lugares diferentes a qualquer hora e quando quisesse sem estar preso a horários de trem ou disponibilidade de táxis, aproveitando dessa maneira tudo o que Nova Iorque tinha a lhe oferecer. Ele esperava também convencer Anne a aprender a dirigir. Isso em Avonlea ainda era algo impensável, pois a maioria dos homens achavam que carro e mulher não combinavam, e que isso pertencia ao mundo masculino, porém, em Nova Iorque as mulheres estavam cada vez mais se tornando independentes, ocupando cargos que antes eram claramente vistos como uma função feminina inexistente, mostrando sua competência e se equiparando ao homem em todas as estâncias. Assim, dirigir um carro se tornará algo indispensável no dia a dia da mulher Nova Iorquina, que trabalhava fora, cuidava do marido e dos filhos, e ainda se empenhava em ir para uma boa faculdade e se especializar em com maestria na área que mais lhe aprazia.
Gilbert queria aquela liberdade para Anne, ele desejava que ela alcançasse todo o sucesso do mundo, pois ela o merecia. Uma mente inteligente como a dela deveria ser estimulada além de seus limites, e ser admirada por quem quer fosse, especialmente por ele que considerava sua mulher uma das pessoas mais brilhantes que já conhecera, e tudo o que ele pudesse fazer para que ela alcançasse os altos graus de satisfação em sua vida, Gilbert o faria, pois ele queria aquela garota ao seu lado feliz, realizada como profissional e mulher, e que se sentisse acima de tudo muito amada por ele.
Sem contar que ela ficaria extremamente sexy por trás de um volante. Ele já podia imaginá-la com seus cabelos ruivos esvoaçantes ao vento, aquelas joias em seu rosto brilhando como pedras do mais raro diamante, suas lindas sardas se sobressaindo ainda mais em um rosto corado pelo prazer que a velocidade lhe daria e da liberdade que estaria sentindo naquele momento enquanto ele estaria sentado ao lado dela embevecido de amor e orgulho.
Ele falara com ela na noite anterior sobre sua intenção de comprar um carro e ela o olhava interrogativamente e perguntava:
- Por que precisamos de um carro? - Gilbert respondera que queria levar sua garota para passear, e ele viu o rosto ofendido dela quando não a chamara de Sra. Blythe. Ele fizera aquilo de propósito, pois sabia que ela iria reclamar. Gilbert gostava de provocar Anne e deixá-la brava com certas atitudes dele, apenas pelo prazer de ver a fúria se instalar em seu rosto. Ela simplesmente ficava maravilhosa quando estava com raiva, e às vezes ele sentia saudades de vê-la assim, discutindo por algo que não concordava, lutando para defender seu ponto de vista, se enchendo de tanta vida que Gilbert acabava completamente fascinado e apaixonado mais uma vez.
O lado feminista de Anne o deixava completamente no chão. Mesmo quando ela o colocava em seu devido lugar por algo que dissera ou fizera que a desagradara, ele não podia deixar de sentir o que sentia por ela. Anne era forte, e era dessa fortaleza que ele se alimentava todas as noites para ser um homem digno de ser amado por ela. Gilbert nunca encontraria ninguém como ela, e jamais poderia esquecê-la enquanto vivesse. Ela era uma vibração da natureza, selvagem em sua origem, refinada em seu interior, quente e ao mesmo tempo doce quando faziam amor.
Ela conseguia envolver a todos com seu encanto, e ele percebera que aquilo já tinha acontecido em sua roda de amigos da faculdade. Patrick e Carlos a adoravam, e ficavam tão impressionados com sua mente ágil e sua maneira eloquente em discutir qualquer assunto do qual estivessem falando que sua maior predileção era desafiá-la a expor suas opiniões durante os intervalos entre as aulas.
O peito de Gilbert se enchia de orgulho ao ver o quanto sua mulher estava desabrochando novamente para o mundo acadêmico. Ele amava observá-la estudando junto com ele depois do trabalho com tanto afinco e dedicação. Era um outro lado dela que estava se mostrando novamente para ele, e aquele rosto lindo cheio de determinação ali na sua frente lhe tirava o fôlego mais do que queria admitir.
- Ei, Blythe. Eu te atrapalho? - Gilbert se virou, e viu Dora parada a sua frente carregando alguns livros da faculdade com os dois braços que os segurava firmemente para que não caíssem.
- Na verdade, não. Estou na pausa para o meu café, mas devo retornar em dez minutos. - Gilbert respondeu olhando para Dora que lhe sorria alegremente, e parecia estar de excelente humor.
- Não vou tomar muito de seu tempo. Eu queria saber se pode me ajudar com a pesquisa que o professor de Patologia nos passou ontem?
- Claro. Ainda sou seu parceiro não é?- ele viu o sorriso dela diminuir um pouco ao se lembrar de que Gilbert lhe dissera sobre ela mudar de parceiro de pesquisa se tivesse vontade.
- Sim, ainda somos parceiros, e me desculpe mais uma vez por minha indiscrição daquele dia. Eu realmente não tenho nada a ver com sua vida pessoal – ela disse meio sem jeito.
- Tudo bem. O que importa é que entendeu muito bem quais são os limites entre minha vida particular e acadêmica. – ela balançou a cabeça assentindo, e depois o rapaz lhe perguntou;
- Quando vai iniciar a pesquisa?
- Mais tarde na biblioteca. Você tem algum compromisso? - ela perguntou colocando os livros que carregava em cima de uma das mesas da sala do café do laboratório, para que assim pudesse aliviar um pouco o peso deles.
- Não. Preciso apenas ir para casa avisar a Anne, e depois podemos nos encontrar lá. – Gilbert sugeriu.
- Está bem. - Dora respondeu, tentando reprimir uma careta ao ouvir o nome de Anne, o que não passou despercebido a Gilbert.
- Dora, me diga uma coisa. O que está acontecendo entre você e a Anne? - Dora o olhou com a testa franzida e disse:
- Não está acontecendo nada. Nós mal nos falamos.
- É justamente por isso que estou perguntando. Vocês costumavam conversar, e até pareciam gostar uma da outra. - Gilbert respondeu intrigado.
- Pare de bobagem. Nós nos falávamos ocasionalmente. Não éramos propriamente amigas.- Dora disse dando de ombro, mas aquilo não convenceu Gilbert.
- Eu ainda acho que você está em escondendo alguma coisa. Eu percebi o clima gelado entre vocês duas.
- Eu somente posso responder por mim. Agora, quanto a Anne, eu acho que talvez ela esteja com ciúmes. - Dora disse sem encarar Gilbert, olhando para as próprias unhas das mãos.
- Por que ela estaria com ciúmes. Dora? - Gilbert ponderou se aquilo seria verdade. Depois de todas as declarações que fizera para Anne será que ela ainda pensava que Gilbert poderia olhar para outra mulher?
- Eu acho que ela está com ciúmes de nós dois. - Dora disse encarando-o de um jeito malicioso que não agradou em nada a Gilbert.
- Ela não teria porque sentir ciúmes de nós dois. Anne sabe que a amo, e que tudo o que existe entre nós é apenas amizade. - o rosto de Dora corou um pouco e Gilbert não conseguiu entender a razão disso. De repente, ela parecia muito apressada em sair dali.
- Bem, Gilbert, precioso ir. Eu te espero na biblioteca às seis da tarde para nossa pesquisa.
- Até lá então, Dora.
Gilbert voltou ao trabalho com a conversa que tivera com Dora em sua cabeça. Ele notara o comportamento de Anne toda vez que a amiga de Gilbert estava presente, mas, não levara aquilo a sério. Afinal, ele já provara à ela o quanto a amava e não podia acreditar que ela ainda pudesse duvidar de seus sentimentos. Se fosse assim, eles teriam que conversar seriamente e esclarecer aquilo de uma vez por todas.
Às cinco horas, ele foi para casa caminhando pelas ruas geladas de Nova Iorque. O tempo tinha mudado repentinamente e as nuvens escuras que se aproximavam mostravam que a nevasca anunciada de manhã estava próxima. Felizmente, seu apartamento não ficava tão longe e essa hora Anne já estava em casa segura e aquecida. Ela detestava o frio, e Gilbert tinha certeza de que a encontraria em frente a lareira, enrolada em um cobertor grosso e uma xícara de chá nas mãos. Foi essa imagem que o fez andar ainda mais rápido, pois precisava vê-la antes de sair novamente para fazer a pesquisa com Dora. Por um momento, ele se arrependeu de ter marcado com a amiga aquela noite. Tudo o que queria era se enroscar com Anne no sofá e namorarem até a hora de irem para a cama, mas, não seria possível, pois ele prometera à Dora que a ajudaria, e como estavam no mesmo grupo não poderia deixá-la na mão.
Ele chegou em casa ansioso para pelo menos dar um beijo e um abraço em Anne, mas, quando abriu a porta a decepção ficou clara em seu rosto, ao notar que ela ainda não havia chegado. Gilbert franziu o cenho ao tentar imaginar onde ela estaria justamente naquele tarde em que iria nevar. Pelo jeito ela realmente nem passara pelo apartamento, pois não havia nenhum sinal de Milk por ali. Por um segundo, ele considerou a hipótese de ir até o apartamento de Cole, e perguntar se ele sabia onde Anne poderia estar quando a campainha tocou, e ele foi abri-la apressadamente.
- Dora! - ele disse surpreso pela garota estar ali quando eles tinham combinado de se encontrar na biblioteca.
- Desculpe-me por aparecer aqui assim sem avisar, mas, é que a biblioteca está fechada por causa da nevasca, e vim avisá-lo para que não fosse até lá à toa. E queria saber se poderíamos fazer a pesquisa aqui mesmo? - Gilbert olhou para Dora sem jeito. Ele se lembrava bem da última vez que Dora viera fazer um trabalho com ele, e Anne parecera não gostar nem um pouco, porém, não poderia dispensá-la daquele jeito depois dela ter caminhado naquele frio todo para chegar até ali e avisá-lo sobre a biblioteca estar fechada. Empurrando sua preocupação para o fundo de sua mente, ele disse:
- Claro. - ele se afastou para ela entrar, e Dora lhe sorriu, olhando-o intensamente, ao mesmo tempo em que sua mente lhe dizia que aquilo era um erro, mas ele a ignorou.
GILBERT E ANNE
A neve lá fora começara a cair suavemente e em pequenas quantidades, fazendo Anne fechar seu casaco até o pescoço, onde ela ajeitou seu cachecol azul e sua boina de lã que lhe aquecia a cabeça. Ela olhou para Milk enrolado em sua manta de lã, a cabeça virada de lado e os olhinhos fechados. Ele respirava rapidamente como se sentisse alguma dor, e Anne acariciou o pelo tão branco quanto a neve que cobria as calçadas se sentindo terrivelmente preocupada.
Ela estava na clínica veterinária perto do apartamento, e seria a próxima a ser atendida, mas mesmo assim, ela se sentia inquieta, pois queria que aquilo terminasse logo. Anne estava extremamente preocupada com seu amiguinho e vê-lo sofrer daquele jeito sem poder fazer nada a deixava aflita de mais.
- Srta. Anne. A Dra. vai atendê-la agora. - a recepcionista da clínica lhe disse sorrindo.
- Obrigada. - Anne disse aliviada, e acompanhou a garota até o consultório da veterinária que atenderia Milk, e entrou na sala cuja porta estava aberta.
- Olá, eu sou a Dra. Clarice Jackson. Em que posso ajudá-la? - a veterinária disse apertando a mão de Anne.
- Eu trouxe esse meu amiguinho para ser examinado, pois ele não passou muito bem o dia de hoje. - Anne tirou Milk da cestinha, e o colocou sobre a mesa onde a veterinária o examinaria.
- Muito bem. Vamos ver o que está acontecendo com essa coisinha fofa. - A Veterinária disse afagando-lhe a cabecinha com carinho. Depois de alguns minutos, ela já tinha o diagnóstico, e assim que a Dra. Jackson terminou o exame, Anne perguntou ansiosa:
- E então?
- É apenas uma virose. Normalmente costuma se tornar séria quando não percebida a tempo, mas, no caso de Milk ela ainda está no início. Vou receitar alguns remédios que ajudarão em sua recuperação mais rapidamente. Quando ele estiver melhor, você terá que vaciná-lo a cada seis meses para aumentar a imunidade dele. Vou marcar outra data para que você o traga novamente aqui, e possamos verificar se ele está se recuperando como o previsto.
- Obrigada, Dra.- Anne disse, assim que a consulta terminou, sentindo-se mais clama.
Ela caminhou para ao apartamento sentindo o odioso frio tomar conta de seus ossos apesar de toda a roupa quente que usava. Ela protegeu Milk o quanto pôde, e suspirou aliviada quando se viu em frente ao edifício do apartamento de Gilbert. Ela subiu as escadas e logo estava abrindo porta com a chave, e ao colocar os pés para dentro ela viu Dora e Gilbert conversando animadamente. Seu sangue gelou, seu olhar escureceu e a raiva que sentia parecia que ia engoli-la. O que aquela garota estava fazendo ali no apartamento, quando Dora sabia eu não era bem-vinda? Naquele momento, Gilbert a olhou sorrindo e disse:
- Oi, amor. Onde você estava/? Cheguei em casa e não te encontrei. Ficou presa no trabalho? - Anne demorou para responder, pois seus olhos estavam pousados em Dora que a olhava com certa ironia e um sorrisinho vitorioso nos lábios.
- Não. Fui levar Milk ao veterinário. Ele não passou muito bem o dia hoje. – Anne respondeu nem se dando ao trabalho de cumprimentar Dora, pouco se importando se estava sendo mal educada ou não.
- E como ele está? - Gilbert perguntou parecendo preocupado, contudo, Anne não parou para analisar os sentimentos de Gilbert a respeito da enfermidade de Milk, pois ela só queria sair da sala e não olhar mais para a cara daquela garota abusada.
- Está melhor. Já foi medicado e vai se recuperar. – ela respondeu e depois continuou:- Pelo jeito, vocês estão estudando e por isso não vou atrapalhá-los. – Anne disse se encaminhando para a cozinha.
Lá dentro, ela deixou sua fúria vir à tona por meio de pensamentos que teriam fuzilado Dora se ela estivesse por perto. Como ela ousava vir até seu apartamento enquanto Gilbert estava sozinho? Com certeza tinha flertado com ele enquanto pôde, aproveitando-se do fato de que Anne não estava por perto para vigiá-la. E Gilbert? Como ele podia ser tão ingênuo? Se não o conhecesse diria que estava adorando toda aquela atenção que recebia de Dora. Enquanto ela estava no veterinário se preocupando com Milk, Gilbert estava ali com a garota que era a rival de Anne por seu amor. Lágrimas de raiva lhe vieram aos olhos, enquanto ela ajeitava Milk na cestinha e o enrolava melhor em sua manta. Ele parecia mais tranquilo agora e respirava normalmente, o que significava que o medicamento que a médica ministrara na clínica já estava fazendo efeito. Ela ficou assim alguns minutos, observando o cachorrinho dormir, amaldiçoando Dora e Gilbert por estarem juntos na sala trocando sorrisos, e odiando a si mesma por estar na cozinha sozinha e chorando por causa disso.
Anne não ouviu a porta da sala bater, indicando que Dora tinha ido embora, como também não ouviu Gilbert entra na cozinha e pegá-la enxugando as lágrimas que não paravam de cair.
- Anne, amor. Por que está chorando? Milk está tão mal assim. – ele se aproximou tentando abraçá-la, mas ela se afastou.
- Não, ele já está melhor. - ela respondeu fungando alto.
- Mas, então por que está chorando desse jeito? - Anne lançou-lhe um olhar magoado e na hora ele soube porque ela estava daquele jeito.
- Anne, não vai me dizer que está assim por que a Dora estava aqui? Isso quer dizer que ela estava certa quando disse que você estava com ciúmes da gente. – o olhar de Anne endureceu quando ela ouviu aquilo e perguntou tentando controlar o seu tom de voz.
- Ela disse o que?
- Ela disse que você está com ciúmes da nossa amizade, por isso você a tem tratado tão estranhamente. - Gilbert respondeu sem perceber que Anne estava no auge de sua raiva.
- Gilbert, às vezes custo acreditar na sua ingenuidade. Será que não percebe, Gilbert? - ela não queria falar alto com ele, mas, na condição em que se encontrava sua raiva a estava mantendo em um estado de completa efervescência.
- Não percebo o que, Anne? - ele perguntou com as mãos nos quadris, e Anne ficou com vontade de socá-lo por ser tão cego em relação àquela garota dissimulada.
- Será que não percebe que esta garota está apaixonada por você e que está fazendo de tudo para ficar entre a gente? - ela disse de uma vez. Gilbert precisava enxergar aquela verdade, e parecia que aquilo não aconteceria se ninguém lhe dissesse com toda as letras. Gilbert era tão inteligente para certas coisas, mas para outras, ele a enfurecia quando se deixava enganar daquela maneira como se fosse facilmente manipulável.
- De novo essa história, Anne? Quantas vezes vou ter que te dizer que a Dora e eu somos somente amigos? – ela percebeu que Gilbert também estava irritado, mas, nem se comparava com a fúria que ela estava sentindo.
- Você pode querer ser somente amigo dela, mas, aquela garota está, louca para ter algo mais com você, por favor, abra os olhos e acredite no que eu estou te dizendo.
- Não seja preconceituosa, Anne. Será que não pode aceitar que um homem e uma mulher podem ser amigos sem estarem romanticamente envolvidos?
- Do que foi que você me chamou? Repete agora mesmo! - Anne agora gritava não podendo acreditar em seus ouvidos. Gilbert tinha mesmo a chamado de preconceituosa? Logo ela que lutava com unhas e dentes contra qualquer forma de discriminação? De repente, ela não reconhecia o rapaz ali na sua frente, porque de todas as pessoas do mundo que poderiam dizer aquelas coisas a respeito dela, Gilbert era o último que imaginaria que lhe diria tal coisa.
- Anne, eu somente disse que sua visão está totalmente distorcida nesse caso. Seu ciúme de Dora a está impedindo de ver que está exagerando. – Anne o olhou incrédula, ela ia dizer mais alguma coisa, mas desistiu ao ver que aquela discussão era inútil. Ela simplesmente saiu da cozinha, vestiu seu casaco, seu cachecol, e se encaminhou para a porta.
- Anne, aonde você vai com esse tempo? – Gilbert perguntou ao vê-la saindo pela mesma porta pela qual entrara a quase uma hora atrás.
- Para qualquer lugar longe de você. - Ela saiu para fora do apartamento e bateu a porta com tanta força que as paredes do apartamento tremeram com o impacto, assim como Gilbert sentia tudo desabando dentro dele. Ele não acreditava que Anne e ele tiveram sua primeira briga depois de meses vivendo em um paraíso particular. Mas, por que Anne tinha que ser tão irracional às vezes? Por que ela deixava que seu gênio forte comandasse suas ações e acabava causando um atrito maior do que deveria? Ele passou as mãos pelos cabelos desfazendo seus cachos escuros, e foi até a cozinha onde Milk estava descansando. O cachorrinho abriu os olhos no minuto em que Gilbert entrou na cozinha, e começou a chorar baixinho pedindo sua atenção. O rapaz afagou cabecinha do cachorro cujos olhinhos inteligentes o olhavam com simpatia, e perguntou em um fio de voz:
- E agora, o que eu faço para desfazer essa confusão?
Lá for, Anne corria pelas ruas cheias de neve, sem se importar com o frio. Tudo o que queria era ir para bem longe, e não ter que encarar Gilbert depois do que ele lhe dissera. Ela chorava e os soluços se tornavam cada vez mais altos, conforme ela aumentava a velocidade e escorregava algumas vezes pelo caminho. Em seu desespero, ela nem percebeu para onde estava indo, e depois de alguns minutos correndo por aquela imensidão branca gelada, Anne parou ofegante, e se perguntando que direção deveria tomar? Não conhecia ninguém naquela cidade, além de Cole, e por isso, não conseguiu pensar em ninguém melhor do que o amigo para ajudá-la naquele momento.
Desta forma, ela foi até a casa do amigo, e assim que chegou no apartamento dele, ela bateu na porta rezando para que ele estivesse lá. A porta foi aberta, e Cole a olhou assustado ao ver o estado em que ela se encontrava, os olhos vermelhos de tanto chorar, o nariz escorrendo e o rosto crispado como se ela estivesse contendo uma grande dor dentro de si mesma.
- Anne, aconteceu alguma coisa com Milk, com Gilbert? - ela balançou a cabeça violentamente, enquanto se atirava nos braços dele e começava a chorar copiosamente.
- Querida, fique calma. Vamos entrar e me conte exatamente o que aconteceu para te deixar assim.- Cole a levou para o sofá, enquanto Pierre aparecia com uma xícara de chá e dizia em seu inglês ainda fraco.
- Bebe... Anne. Vai... te ... fazer... bem.
- Obrigada, Pierre. – ela agradeceu fungando, e enxugando as lágrimas que ainda escorriam com as costas das mãos. Com o incentivo de Cole, ela contou sobre sua discussão com Gilbert, e o rapaz afagou-lhe os cabelos dizendo:
- Anne, eu tenho certeza que Gilbert disse isso no calor do momento. Ele realmente não falou sério.
- Como ele pôde me chamar de preconceituosa? Como ele pôde me magoar desse jeito? - ela se sentia ainda tão zangada, mas, seu coração já sofria por estar longe de Gilbert. Porém, não queria voltar para casa se sentindo daquele jeito, pois, fatalmente ambos acabariam discutindo de novo, e ela não queria acabar sua noite daquele jeito.
- Anne, você sabe o quanto Gilbert te ama. Por que não vai para casa e conversa com ele de maneira civilizada? Vocês sempre se entenderam tão bem. - Cole disse tentando fazê-la voltar à razão.
- Cole, eu não quero voltar para casa agora. Será que eu não poderia passar a noite aqui? - ela perguntou esperançosa, ao mesmo tempo não querendo atrapalhar a privacidade do amigo e Pierre.
- Claro, meu amor. Vou arrumar o quarto de hóspedes para você. - Anne assentiu tristemente.
Enquanto isso, no apartamento, Gilbert se sentia ansioso. Onde Anne poderia ter ido com aquela neve e aquele frio todo? Como ele fora estupido em não ir atrás dela quando Anne saíra do apartamento enfurecida daquele jeito, e ele soubera que tinha agido mal assim que ela batera a porta atrás de si. Gilbert magoara Anne, e estava se odiando por isso. Por que não ficara calado quando ela dissera aquelas coisas sobre Dora? Por que não tinha ignorado sua própria irritação e deixado passar aquele momento para depois conversarem sobre tudo com mais calma? Agora, por sua culpa, Anne estava lá fora e ele não tinha a menor ideia de como encontrá-la. De repente, em um estalo, uma ideia lhe ocorreu, e ele soube exatamente onde ela deveria estar.
Em questão de minutos, ele estava no apartamento de Cole, e assim que o rapaz se materializou em sua frente, Gilbert foi logo perguntando angustiado:
- Cole, ela está aqui?
- Sim, Gilbert. Por favor entre. – o rapaz disse com calma.
- Eu preciso falar com ela. Por favor, você pode chamá-la para mim?
- Gilbert, Anne chego aqui muito nervosa, e Pierre preparou um chá calmante para ela. Nesse momento, ela está no quarto de hóspedes descansando. Por que não vai para casa, e volta amanhã cedo para conversarem? – ir para casa sem Anne? Gilbert se perguntou. Não, aquilo era impensável. Ele não conseguiria dormir sem ela a seu lado, sem contar que ficaria se recriminando a noite toda.
- Cole, por favor. Eu realmente preciso falar com ela. Eu sei que agi errado e quero me desculpar. – Cole olhou para Gilbert e se comoveu com o seu desespero. Ali estava um rapaz completamente arrependido e apaixonado, e ele romântico com era, não podia deixar que aquela história tivesse um final ruim àquela noite.
- Está bem. Ela está no segundo quarto a direita.
- Obrigado. - Gilbert disse colocando uma mão no ombro de Cole em agradecimento.
Ele chegou na porta do quarto e girou a maçaneta que não estava trancada, e entrou no quarto que estava fracamente iluminado apenas pelo abajur. Anne estava deitada de costas e percebeu pelo movimento de sua cabeça que ela estava acordada. Ele sentou do lado da cama e tocou as costas dela fazendo-a se virar para ele, e olhá-lo com espanto por sua presença ali. Havia mágoa no olhar dela e isso fez seu coração doer. Era tudo culpa dele e Gilbert tinha consciência disso, ele apenas estendeu a mão e tocou a face dela macia dizendo:
- Amor, me perdoa, eu não queria magoar você daquele jeito. Esqueça tudo o que eu disse. Eu realmente sou um idiota que não sabe tratar uma garota como você. —Anne levou a mão dela aos cabelos dele e disse quase sorrindo:
- Eu também quero pedir desculpas. Não devia ter saído de casa daquele jeito. Foi realmente muito infantil da minha parte. - Gilbert se aproximou mais um pouco e entrelaçou suas mãos nas dela.
- Não, a culpa foi toda minha. Eu devia ter ouvido o que você tinha a me dizer sobre a Dora e ficar do seu lado. Perdoe-me se te fiz pensar que valorizo mais minha amizade com ela do que o nosso amor. Se quiser eu me afasto dela, pois não quero mais que briguemos por isso. - seu polegar escorregou pela face dela, e Anne fechou os olhos saboreando aquela carícia que acalmava sua alma. Logo, ela os abriu novamente e respondeu:
- Gilbert, eu não quero que se afaste da Dora. Eu sei o quanto a amizade dela significa para você, e eu jamais te pediria uma coisa dessas. Quero apenas que imponha limites, e a faça entender que a amizade que sente por ela nunca evoluirá para algo mais. - os olhos dele estudavam o rosto dela, fazendo-o pensar o quanto Anne era importante para ele, e quase estragara tudo por conta de sua falta de jeito em lidar com os sentimentos dela sobre aquela questão.
- Ela não é uma má pessoa. - Gilbert disse simplesmente.
- Eu sei que ela não é má pessoa, ela apenas tem sentimentos românticos por você e não sabe lidar com eles. Eu não a odeio e nem a quero mal.- Anne disse encostando sua testa na dele.
- Você é uma pessoa incrível. - Gilbert disse beijando-a na testa, e Anne olhou-o de um jeito maroto e respondeu:
- Você sabe que tudo isso é culpa sua, não é?
- Culpa minha? Por que? - ele a olhou tentando entender o que exatamente aquelas palavras significavam.
- Sim, por que tem que ser tão infernalmente lindo e ainda por cima tão bom rapaz? É impossível resistir a esse seu jeitinho de rapaz preocupado com o bem-estar de todo mundo. Qualquer garota se derrete por você, futuro Dr. Blythe. - Gilbert sorriu e a abraçou enquanto dizia:
- Isso inclui você?
- Principalmente eu. Sou completamente apaixonada por você, meu amor. – Anne colocou as mãos dos dois lados do rosto dele, enquanto admirava os olhos castanhos perfeitos dele.
- E eu por você. - ele a puxou para ele, e se beijaram naquela conexão que sempre fazia Anne sentir que cada vez que os lábios de Gilbert tocavam os dela, ele era capaz de fazer a alma de ambos se juntarem de uma forma perfeita e inesquecível.
- Vamos para casa? - ele sussurrou, assim que se separaram.
- Sim. –ela lhe respondeu sorrindo.
Assim que saíram do quarto, Cole e Pierre olharam para os dois com um sorriso de satisfação no rosto.
- Eu sabia que se reconciliariam. - o amigo de Anne comentou.
- Eu vou voltar para casa com o Gilbert. - Anne disse beijando o rosto do amigo para se despedir.
- Obrigado por cuidar dela por mim. - o rapaz disse com sinceridade.
- Eu sempre vou estar aqui por ela sempre que Anne precisar. - Cole disse olhando para a ruivinha com afeto.
Eles voltaram para casa abraçados, tentando se proteger da neve que caía lentamente e do frio que parecia mais cortante que horas atrás, mas, Anne sequer sentia, pois se sentia completamente aquecida pelos braços e Gilbert que não a soltaram nem um minuto desde que deixaram o apartamento de Cole.
Quando já estavam dentro de casa, Anne foi dar uma olhada em Milk e percebeu que ele estava dormindo tranquilamente, e a temperatura do corpo dele tinha voltado ao normal, deixando-a aliviada por ele já parecer bem melhor.
- Por que não toma um banho quente e troca essas roupas molhadas enquanto preparo algo para comermos? - Gilbert sugeriu, e Anne concordou, voltando momentos depois já vestindo um pijama confortável e os cabelos completamente soltos caindo em ondas por seus ombros.
Eles jantaram em um clima completamente aconchegante, e depois foram para o sofá, deitando sobre ele abraçados e enroscados um no outro.
- Sabe o que eu gostaria de fazer agora? - Anne perguntou olhando para o rosto de Gilbert tão perto dos seu.
- O que? - ele perguntou enquanto suas mãos deslizavam pelos braços dela.
- Jogo de soletrar. - Gilbert a olhou surpreso e perguntou:
- Por que pensou nisso agora?
- Não sei. Fiquei pensando nisso outro dia e me deu saudades de quando nos desfiávamos na escola, e eu sempre ganhava de você.
- Isso é mentira, Sra. Blythe. Se ganhou alguma vez de mim foi porque eu deixei. - Gilbert disse com um sorriso cínico no rosto que fez Anne responder de pronto:
- Eu nunca precisei que me deixasse ganhar, pois sempre fui melhor que você nesse jogo.
- Está querendo me desafiar?
- É essa a ideia. - Anne respondeu rindo.
- Ok. E qual será o prêmio do ganhador? - Gilbert quis saber.
- Que tal todos os beijos que quisermos?
- Acho que tenho uma ideia melhor. - Gilbert disse com malícia enquanto sussurrava no ouvido de Anne no que tinha pensado.
- Acho que é uma ideia totalmente pervertida, mas, quero dizer que a aprovo completamente.
- Muito bem, a primeira palavra é apaixonado. - Gilbert disse e Anne a soletrou com perfeição, e assim abriu todos os botões e da camisa de Gilbert e a jogou no chão.
- Agora você deve soletrar a palavra desejo. - Anne falou, e como Gilbert não errou nenhuma letra foi a vez dele tirar a blusa de Anne, e assim prosseguiram até que todas as peças de roupa de ambos estivessem amontoadas no chão. A próxima palavra valia um beijo quente e a segunda carícias ousadas, e quando perceberam já estavam ofegantes e ansiando por mais do que aquele jogo sexual no qual se envolveram. Anne disse a próxima palavra que Gilbert deveria soletrar, mas, antes mesmo que o fizesse, ele esmagou seus lábios em um beijo que fez o corpo dela todo formigar. Ele a deitou por cima dele no sofá, e Anne perguntou totalmente dominada pelo desejo:
- Já se cansou de jogar? - ele a envolveu toda em seus braços e respondeu louco para beijá-la de novo:
- Eu não preciso de jogo nenhum para fazer com você exatamente o que está em minha mente agora. – as mãos dele correram por seu corpo, e Anne sentiu uma paixão selvagem nascer em seu íntimo. Apesar de seu corpo já estar tão acostumado com as carícias de Gilbert, as sensações que tomaram conta dela foram mil vezes mais intensas que nas outras noites em que estiveram assim. Talvez fosse pela excitação do jogo que fizeram, ou maneira cuidadosa com que seu noivo a estava amando naquele momento como se quisesse que ela entendesse a dimensão do seu amor por ela, a verdade era que Anne estava adorando se sentir totalmente entregue a Gilbert mais uma vez. Em um dado, momento, ele parou de beijá-la para olhar para seu rosto totalmente afogueado e dizer;
- Você é toda perfeita, Anne. Amo todos os traços de seu rosto, assim como adoro cada curva de seu corpo. Como pode pensar que existe qualquer mulher no mundo que chame a minha atenção quando eu tenho essa garota maravilhosa na minha cama? Você é a minha rainha, minha musa inspiradora, a mulher da minha vida, e eu te amo demais. - se Anne ainda tinha qualquer dúvida de que aquele rapaz magnifico lhe pertencia, ela se desfez totalmente. Como podia duvidar dos sentimentos de Gilbert quando ele a fazia se sentir tão adorada e amada que seu coração parecia que ia explodir? Sua paixão por ele tomou caminhos perigosos que nenhum dos dois se importou em arriscar tudo. Eles se queriam como uma volúpia que lhe dominava os sentidos, eles se desejavam com um fogo inextinguível que os fazia arder naquela dança frenética de seus corpos elevados pela paixão. Gilbert estava totalmente perdido no calor de Anne, enquanto ela se sentia voando cada vez mais alto nas asas daquela emoção que a fazia sentir cada toque como se fosse mais uma dose do amor que Gilbert lhe dava, assim como o rapaz sentia milhares de sensações diferentes se espalharem por seu corpo cada vez que Anne usava seus lábios para mostrar a ele como o amava. Como um viciado que precisava de algo mais para aplacar sua necessidade física de se sentir em êxtase, Anne era a droga favorita de Gilbert, pois o levava a um frenesi tão imenso que o horizonte era um limite muito fácil de se cruzar. Seus corpos entrelaçados enquanto a lareira os aquecia tornava aquele momento tão especial para ambos que nenhum deles tinha pressa que se acabasse. Fizeram amor por horas intermináveis, e cada vez que alcançavam um ponto de prazer extremo, outro se sobrepujava àquele fazendo seus corpos estremecerem completamente rendidos pelo poder do que sentiam, e quando se entregarem para ondas de prazer pela última vez, foi como se tivessem finalmente atingido o nirvana perfeito de seus sonhos.
- Eu amo você. - Anne disse antes de adormecer sobre o peito de Gilbert, e ele apenas sorriu antes de se juntar a ela naquele momento de calma e tranquilidade onde nada poderia mudar o que significavam um para o outro.
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