Capítulo 84- Entre quatro paredes
Olá queridos leitores, espero que gostem deste capítulo e me deixem seus comentários sobre o que acharam da história, pois vocês nãos sabem como isso me ajuda em questão de motivação. Obrigada por tudo. Rosana.
"Tudo aquilo que somos,
Eu sempre vou encontrar,
Nas linhas desse seu sorriso,
Na beleza desse seu olhar.
Tudo aquilo que desejo,
É tão fácil de descrever,
Está em cada sussurro do vento,
Em cada doce amanhecer.
Tudo aquilo que procuro
Está em cada emoção,
Em cada beijo, em cada toque
Está na chama da nossa paixão.
Tudo aquilo que preciso
Eu sempre irei buscar,
Naquele breve momento em seus braços,
Na sua forma de me amar."
Anne Shirley Cuthbert.
GILBERT
- Me devolve isso, Gilbert! - Anne gritou, enquanto corria atrás de Gilbert para recuperar o chapéu que ele furtivamente tinha lhe roubado. Eles estavam na praia que se mantinha completamente vazia no inverno, e apenas ambos eram corajosos o suficiente para caminharem na areia enquanto o ar permanecia gélido, e o tempo fechado, mas sem realmente dar a impressão de que iria chover. Era uma daquelas manhãs felizes em que se acordava, e se tinha a impressão que tudo estava em seu devido lugar, a vida valia a pena ser vivida, e o mundo girava perfeitamente em seu próprio ritmo.
O riso cristalino de Anne encheu o ar, e Gilbert a olhou admirado. A trança única que ela fizera aquela manhã ao acordar já tinha sido desfeita, e os fios rebeldes voavam ao redor dela em uma dança louca ao mesmo tempo em que ela tentava alcançá-lo e ter de volta o chapéu de fitas azuis que Marilla lhe dera em um de seus aniversários a alguns anos atrás, e as duas safiras em seu rosto brilhavam risonhas à medida que ela analisava a distância que ainda teria que percorrer para alcançá-lo e ter de volta o objeto de seu desejo. Então, ela pareceu desistir, tentando a todo custo controlar sua respiração ofegante, porém sem deixar de sorrir, como se esperasse que Gilbert não fosse tão malvado, e não a fizesse esgotar todas as suas forças por causa de um capricho infantil de seu noivo que adotara um comportamento um tanto quanto peculiar àquele dia.
- Eu não posso mais, Gilbert! - Anne disse se jogando na toalha que trouxeram com eles para a praia, e que impediria que eles sujassem suas roupas de areia.
- Vai realmente desistir assim tão fácil? Pensei que seu espírito aventureiro ainda estivesse na ativa. Assim, você estraga toda a diversão. Anne. - Gilbert reclamou enquanto ele caminhava até onde ela estava sentada, e logo se juntou à ela.
Assim, que Gilbert se sentou ao seu lado, Anne lhe deu um empurrão, e ele caiu deitado na areia. Ela aproveitou essa posição vulnerável dele tomou o chapéu de suas mãos, se deitou por cima dele, e disse com os rostos bem próximos:
- Quem disse que eu desisti? - Gilbert encarou aquela face rosada pelo frio, os lábios ainda mais vermelhos, e todas as sardas que se espalhavam pelo seu rosto inteiro, e não pôde deixar de notar o quanto ela parecia leve e tão feliz aquele dia como muito não a via. Ele levou sua mão ao queixo de Anne, acariciando-o de leve, e seus olhos não conseguiam desviar dos dela. A ruivinha tomou a inciativa, e o puxou para um beijo longo, e Gilbert retribuiu deixando que ela conduzisse o beijo para onde quisesse. Ele manteve uma mão no rosto dela, a outra procurou pela mão livre de sua noiva, e a entrelaçou com a sua. Anne pressionou mais os lábios sobre os dele, sua língua se enroscando com a dele quente e vibrante, arrancando um gemido da boca de Gilbert que desceu as a mãos para a cintura feminina, se lamentando silenciosamente por ter camadas de roupas demais que o impediam de sentir a pele nua dela. Anne deixou que seus dedos afundassem nos cabelos fartos e escuros de Gilbert, chegando até a nuca, onde acariciou por alguns momentos, depois, enquanto o beijo se tornava mais urgente ela tocou o peito dele sobre a camisa, fazendo movimentos circulares com as mãos, e de novo Gilbert gemeu baixinho, ao sentir com que velocidade aquele beijo estava mexendo com sus emoções. Anne abandonou os lábios do rapaz e disse com um pequeno sorriso:
- Quem se rende agora? – Gilbert girou o corpo e fez Anne ficar em baixo do corpo dele, tornando a beijá-la até que ela se agarrasse ao pescoço dele, correspondendo do mesmo jeito que ele fizera antes, correndo os dedos pelo rosto de Gilbert deixando que suas mãos pousassem nas costas fortes dele protegidas por uma jaqueta de couro. Quando o ar começou a faltar em seus pulmões, eles se separaram trocando vários beijos curtos, até que sua respiração voltou a fluir normalmente.
- Acho que estamos quites. - Gilbert disse, olhando-a com maior intensidade, se levantando e ajudando Anne a se levantar também.
- Então, devo presumir que não houve vencedor dessa vez. - Anne respondeu sorrindo novamente.
- Não, ambos jogamos sujo e perdemos. Mas, é claro que você nunca resiste ao meu charme. - Gilbert disse para provocá-la.
- Parece que o tamanho do seu ego aumentou com a idade. - Anne devolveu a provocação.
- Está me chamando de velho, Sra. Blythe? - Gilbert perguntou se fingindo de ofendido.
- Não, estou te chamando de convencido. - Anne respondeu encarando Gilbert de frente.
- Um convencido que você ama. - ele disse, e a ruivinha não pôde discordar das palavras dele, e lhe sorriu em resposta. Um vento gelado começou a soprar, e ao ver Anne e estremecer. Gilbert pegou a manta de lã que trouxera com eles na cesta do piquenique, envolveu a si mesmo e a Anne com ela, e eles ficaram assim, observando o mar calmo sem nenhuma onda, o cheiro da maresia chegando até eles, enquanto a beleza rude daquele lugar os enchia de lembranças. Anne se ajeitou entre as pernas de Gilbert, encostando sua cabeça no peito dele, e perguntou enquanto Gilbert pousava as mãos nas coxas dela sobre a calça de lã que ela vestia:
- Você se lembra da primeira vez em que nos encontramos aqui?
- Sim, foi logo que voltei para Avonlea. – Gilbert respondeu, se lembrando que o dia tinha sido parecido com aquele, a diferença era que ele e Anne ainda não tinham se aproximado, e sequer eram amigos, mas, Gilbert se sentia tão atraído pelo jeito diferente de ela ser que desejou naquele instante que Anne não se mostrasse tão arisca à presença dele ali, e foi também a primeira vez que reconhecera o quanto os seus sentimentos por ela eram mais intensos do que esperara.
- Eu te convidei para se sentar ao meu lado, e quando nós olhamos, tudo o que eu quis era que você me beijasse, mas, eu era tímida demais para pedir. - Gilbert sorriu ao ouvi-la dizer aquilo. Ele também quisera muito beijá-la, e o teria feito se ela não tivesse fugido dele com a desculpa esfarrapada de que precisava ajudar Marilla.
-. Devia ter me pedido. Eu estava louco para te beijar. – ele a apertou mais na cintura, e Anne o olhou por cima do ombro e perguntou:
- Realmente? Eu sempre me pergunto por que entre tantas garotas lindas que poderia escolher, você preferiu a mim para dedicar o seu amor? - Gilbert a encarou surpreso com aquela pergunta? Será que não era óbvio? Anne sempre fora uma rosa rara entre os milhares de espinhos que enchiam a sociedade de Avonlea, e nem fora difícil para Gilbert compreender o quanto ela se destacava entre os cabelos louros e escuros daquela região onde viviam. Ele não a escolhera, ele simplesmente olhara para ela e vira em seu olhar azul tudo o que desejava para si mesmo, fora assim que se apaixonara, e fora assim que Anne se tornara moradora permanente de seu coração.
- Você sempre se subestimou. Anne. Será que nunca percebeu que nunca houve garota nenhuma que chegasse aos seus pés? Você tem razão em dizer que haviam muitas garotas bonitas por aqui, porém, elas eram somente isso enquanto você nunca precisou fazer esforço nenhum para chamar minha atenção. Bastava estar por perto para que eu perdesse o foco de qualquer outra coisa que não fosse você. Eu somente não conseguia entender por que fugia de mim. - Gilbert disse beijando-lhe o topo da cabeça, e Anne se envolveu mais no abraço dele ao mesmo tempo em que respondia a pergunta que ele lhe fizera:
- Não era exatamente de você que eu fugia, e sim dos meus sentimentos. Desde que te vi pela primeira vez, você me fazia sentir coisas que eu nunca tinha sentido antes, o jeito que me olhava, a forma como falava comigo. Eu nunca fui tratada com tanta consideração por alguém, principalmente por um garoto. No orfanato, eles costumavam zombar de mim o tempo todo, e com o tempo, eu comecei a ter uma péssima imagem de mim mesma. Então, eu não conseguia acreditar que alguém como você que podia ter a garota que quisesse, estivesse interessado em mim. Em minha cabeça era algo inconcebível, e totalmente absurdo, por esta razão, eu fugia, porque tinha medo de deixar que você entrasse em minha vida, e depois acabasse me abandonando como todo mundo, destruindo o pouco de dignidade que ainda havia em mim. - ao ouvi-la falar tudo aquilo, Gilbert se perguntou de novo, o que tinham feito com ela naquele orfanato para deixá-la tão insegura acerca de tudo? Destruir a fé que alguém tinha em si mesmo era algo muito covarde de se fazer, e Gilbert imaginava o quanto custara a Anne mudar aqueles pensamentos negativos que viveram dentro dela como um veneno poderoso, destruindo seus otimismo e podando seus sonhos.
- E agora? Como se sente a respeito de tudo isso? O que pensa a respeito de nós dois? - ele perguntou ansioso por saber. Queria ter certeza de que ela se sentia cem por cento dentro daquele relacionamento como ele se sentia.
- Hoje, eu tenho certeza de seu amor por mim, e sei que não existem mais barreiras que possam nos separar. Eu aprendi a enxergar a vida pelos seus olhos, Gilbert, e amar você foi a cosia mais maravilhosa que já me aconteceu. Eu desejo que fiquemos juntos para sempre, quero estar ao seu lado a cada dia, na alegria e na tristeza, eu quero que quando estivermos bem velhinhos, ainda possamos vir até esse lugar e nos lembrarmos de cada momento que vivemos juntos como agora. Eu não tenho mais medo do futuro, porque sei que você estará nele, se você está a meu lado, eu sou forte, porque o peso do mundo não está mais em meus ombros, eu me livrei dele no instante em que descobri que seu coração se fundiu ao meu, e não vivemos mais separados em nossos próprios mundos, estamos completamente unidos e somos apenas um corpo e apenas uma só alma.- Gilbert atraiu para ele e a beijou, pois não sabia como expressar de outra maneira o efeito que aquelas palavras causavam nele. Anne demorara tanto para se abrir assim, e ele jamais imaginara que ela pudesse ser tão profunda em suas palavras. Ele conhecia o coração maravilhoso que aquela garota possuía, mas, não alimentara esperanças de que Anne lhe mostrasse sem receio todas as suas facetas. Ela vinha a cada dia lhe revelando um pouco mais de si mesma, e cada descoberta era uma surpresa inesquecível.
O beijo terminou, e ele segurou o rosto dela entre as mãos, observando o quanto ela estava diferente. Ele sabia que a descoberta de particularidades sobre seus pais era a responsável por aquela metamorfose. Ele até a vira pentear os cabelos com mais orgulho aquela manhã, como se a cor deles tivesse ganhado peso de ouro diante de seus olhos. Saber que a mãe também fora ruiva fizera Anne aceitar com mais serenidade a sua herança genética.
- Você sabe o quanto amo você, não é? – ela assentiu, e Gilbert continuou. - Eu quero que nunca mais venha a duvidar disso. Não importa o que aconteça, o que tenhamos que enfrentar. Não importa se tivermos mais obstáculos pela frente, ou se tenhamos dias difíceis, eu quero apenas que olhe nos meus olhos, e se lembre que o que sentimos é para sempre, e nunca ninguém poderá tirar isso de nós. - Anne continuou fitando o seu rosto, seus dedos deslizando pelo maxilar dele, e Gilbert sentiu uma onda de ternura inundar o seu espírito. Ali estava uma garota que enfrentara furações, tormentas intermináveis, e vira seus sonhos irem ao chão. Mas, que se levantara, engolira em seco, reencontrara sua coragem em algum lugar obscuro de sua alma, e então foi juntando os pedaços de todas as suas esperanças, e recomeçara do início outra vez. Ali estava a mulher que amadurecera cedo demais, mas que mantinha em seus olhos aquele brilho no olhar que o conquistara desde a primeira vez, que agarrava sua mão como se a vida fosse uma grande aventura e ela quisesse partilhar cada segundo com ele, sem medo, sem dúvidas a assombrá-la como fora no passado. Ali estava Anne de Green Gables, o amor de sua vida, a garota de seus sonhos, sua única inspiração.
- Eu também te amo, Gilbert. E sei que será assim pelo resto de nossas vidas.
Eles ficaram ali por um bom tempo, trazendo às luz suas lembranças de tantos instantes lindos que guardaram com cuidado em suas memórias antigas. Eles apenas não falaram de momentos tristes que viveram ali também. Não queriam contaminar os sentimentos bons que estavam tendo com sensações ruins que não fariam bem a nenhum dos dois. Não estavam fugindo ou fingindo que nunca aconteceram, somente deixaram para outro momento quando realmente tivessem que discuti-los, não precisavam fazer aquilo naquele momento.
Quando o clima da praia se tornou insuportavelmente frio, eles reuniram suas coisas e voltaram para casa. Eles estavam felizes e seus rostos não escondiam isso, e isso fez com que Mary dissesse:
- Parece que tiveram um ótimo passeio.
- Tivemos sim, obrigada. - Anne respondeu alegremente.
- Onde está, Sebastian? - Gilbert perguntou, ao perceber que o amigo não estava com Mary na cozinha.
- Ele está no quarto brincando com Shirley. Eles se divertem tanto juntos. - Mary disse sorrindo. - Acho que Sebastian, ao se tornar pai, encontrou novamente seu espirito de menino perdido. - Gilbert entendia bem sobre o que Mary estava falando. Sebastian sempre trabalhara duro desde de criança para ajudar seus pais que eram pobres, e mal tinham o que comer na mesa, e por isso, a infância de Bash praticamente não existira, assim como sua adolescência. Aos quinze anos ele tivera que se tornar o homem da casa, pois seu pai acabara por falecer de um doença desconhecida. Assim, a vida do amigo se resumira em trabalho duro e responsabilidades grandes demais para alguém tão jovem, e Bash tivera que amadurecer antes mesmo que estivesse preparado para isso. Porém, quando viera viver em Avonlea com Gilbert, ele parecera recuperar um pouco de suas ilusões perdidas daquela época, e agora as realizava através de Shirley.
- Sebastian é um excelente pai para Shirley. - Gilbert afirmou.
- Sim, mas, às vezes acho que ele se diverte mais com a brincadeiras que fazem do que a própria Shirley. - Mary disse divertida.
- Gilbert. Acho que vou subir e tomar um banho quente. Meus pés e mãos estão congelados. - Anne disse interrompendo a conversa que estavam tendo ali na cozinha.
- Eu vou com você. Estou me sentindo um pouco cansado. - Ele disse abraçando-a pelo ombro.
- Está sentindo alguma dor? - Anne perguntou preocupada, e Gilbert logo imaginou que ela estivesse preocupada por causa de sua recente pneumonia.
- Não se preocupe, Anne. Eu não estou sentindo nada, é apenas cansaço mesmo. – ele tratou de acalmá-la.
- Espero vocês para o jantar. - Mary disse, vendo-os subir as escadas.
- Está bem. - Gilbert respondeu e acompanhou Anne até o quarto.
Assim que entraram, ela começou a se despir sob o olhar atento de Gilbert que a observava com um indisfarçável prazer. Ela ficou apenas de lingerie, e Gilbert deixou que seus olhos passeassem pela figura dela de curvas tentadoras que o fazia ter ideias em sua cabeça naquele momento, mas, que não ousava revelar a Anne, porque sabia que ela ficaria envergonhada se ele lhe dissesse o que estava pensando. Tanto tempo de intimidade juntos, e Anne ainda corava em certas ocasiões, e o mais incrível era que ele achava aquela combinação de sedução e inocência que ela alternava em diversos momentos tão excitante que elevava a temperatura de seu sangue quase como se ele entrasse em ebulição. Ela sorriu ao ver o olhar dele fixo em seu corpo, e perguntou cheia de uma malícia provocativa:
- O que está pensando, Sr. Blythe?
- A última vez que me perguntou isso, ao invés de eu te dizer, eu demonstrei. Quer que eu faça isso de novo? - ele estava ficando excitado com aquela conversa, e não era pouco.
- Talvez hoje à noite você possa me dar uma demonstração do rumo que seus pensamentos estão tomando nesse momento- ela lhe deu um último sorriso, não esperando pela resposta de Gilbert, e foi para o banheiro, deixando-o com todos os seus desejos à flor da pele.
Ele se deitou na cama, com o braço dobrado atrás da cabeça, se lembrando de duas noites atrás quando ela aparecera ali no meio da noite, e lhe declarara todo o seu amor. Eles passaram a noite juntos, e no dia seguinte, ambos decidiram que não ficariam em casas separadas, o único problema seria convencer Marilla daquilo. Gilbert não queria que ela pensasse que ele estava desrespeitando os Cuthbert, deixando-os em uma situação complicada perante a sociedade de Avonlea. Ele também não queria que Marilla achasse que com seu comportamento, ele estaria manchando a reputação de Anne. Contudo, ela não era mais uma garotinha e nem ele tinha mais dezesseis anos. Ambos eram adultos, e não precisavam da aprovação de ninguém para ficarem juntos, mas nem por isso, eles agiriam indiscretamente dando motivos para que pessoas inoportunas comentassem o tipo de relacionamento que tinham. Apesar de amar sua terra natal, Gilbert pensava que Anne e ele estavam melhor em Nova Iorque, porque lá não tinham que se esconder, e ninguém se importava com o que faziam entre quatro paredes.
Por esta razão, ele decidiu que somente voltaria a viver ali quando ele e Anne já estivessem casados e com suas vidas estabilizadas. Não desejava nenhuma Rachel Lynde bisbilhotando suas vidas, isso era um prazer desnecessário que não daria a ninguém.
Gilbert se levantou da cama, e foi até a janela. O vento que soprava estava mais forte, e o rapaz percebeu pelo jeito que o céu tinha escurecido, que teriam uma bela nevasca aquela noite. Ele ficou com o olhar perdido por alguns minutos na paisagem lá fora, quando sentiu braços macios em volta de sua cintura, e o odor de erva doce característico do sabonete que Anne usava, e que ele amava. Ele se virou para ela, e a encontrou sorrindo, vestindo um roupão quente, que pelo que podia ver, não havia nada por baixo. Anne enlaçou o seu pescoço, e aproximou seus lábios do dele, e antes que o beijasse, Gilbert disse:
- Você disse que iria esperar até depois do jantar para saber o que tenho em mente para nós dois. —ele disse, sua voz soando maliciosa e um pouco rouca, antecipando o prazer que teria ao tocar aquela pele macia.
- Isso, não quer dizer que não possamos nos divertir um pouco antes. - ela o empurrou para a cama, e enquanto a neve começava a cair lá fora, eles se perderam um no outro
ANNE
Eles estavam na cozinha da fazenda naquela manhã de sábado, tomando um belo desjejum em companhia dos pais de Shirley. Anne concentrou sua atenção em Gilbert que estava entretido em uma conversa animada com Mary, e os olhos dela se fixaram na maneira como seus lábios se mexiam enquanto ele falava, às vezes sorriam de lado, outras vezes se juntavam em uma curvatura séria enquanto ele os umedecia com a ponta da língua, fazendo com que um calor começasse a subir pelo seu corpo deixando-a mais corada que o normal. De repente, Gilbert olhou diretamente para ela, e Anne desviou o olhar envergonhada, sentindo certo alivio por ele não conseguir ler seus pensamentos completamente indecentes naquele momento. Então, ela se lembrou de como ela havia pedido para Gilbert acariciá-la na noite anterior, e ele tinha usado aqueles mesmos lábios para atender seu pedido. Anne sentiu a temperatura subir repentinamente, deixando-a desconfortável dentro das roupas de lã que usava.
Ela usou toda a sua força de vontade para não deixar que seu olhar se perdesse naquele rosto de novo, ao mesmo tempo em que se sentia uma verdadeira pervertida por sentir aquele tipo de sensação na mesa do café da manhã. Entretanto, não havia nenhuma culpa à espreita em sua mente, pois ela realmente não conseguia se arrepender de nada que ela e Gilbert faziam juntos, por mais que outras pessoas pensassem que era indecoroso uma mulher se entregar a um homem como Anne fazia. Ela apenas agia à medida em que seu corpo comandava seus instintos apaixonados. Anne não gostava de usar a palavra sexo para descrever os toques e carícias que ela e Gilbert trocavam, pois o sexo era totalmente egoísta e tinha somente um fim, a satisfação dos próprios desejos da carne, enquanto o milagre que acontecia no quarto de ambos cada vez que se entregavam às suas emoções, era algo lindo, puro de sentimento, era algo sagrado, cuja finalidade era única e simplesmente uma troca de vibrações, e partilha daquele amor infindável e descomunal.
Subitamente, ela ponderou sobre tudo aquilo e se deu conta de que por mais que vivessem em um mundo em constate estágio de progresso, a sociedade continuava a ser escancaradamente machista. Por que era errado, Anne sentir desejos pelo seu noivo e dizer a ele exatamente o que queria quando estavam juntos na cama, se ao homem era dado esse direito sem questionamento algum? No que um homem e uma mulher eram diferentes afinal? Por que uma garota tinha que reprimir suas vontades, escondê-las sob uma capa de refinamento e decoro, se um homem podia falar de suas fantasias abertamente, muitas vezes sem respeitar o sexo oposto, e deixar às claras quais eram suas reais intenções? Era injusto que se pensasse que uma mulher não podia satisfazer seus desejos da forma que quisesse sem ser taxada de vulgar e promíscua.
Aos poucos, Anne estava descobrindo que gostava das sensações que Gilbert provocava em seu corpo, a maneira como seus beijos se tornavam selvagens quando estavam no auge de sua gostosa loucura juntos, as palavras nem um pouco recatadas que ele sussurrava em seus ouvidos, e que a incitavam mais ainda a entregar tudo de si sem vergonha nenhuma. Na verdade, essa nova liberdade que ia ganhando espaço em sua vida a fazia ter certeza de que tinha direito a fazer e sentir o que desejasse sem dever nada a ninguém. E ela fora maravilhosamente presenteada ao ter um companheiro como Gilbert que não limitava suas ações, ele sempre a incentivava a dizer o que sentia, o que gostava ou queria sem julgá-la imoral por isso. Sua feminilidade estava cada vez mais à flor das pele, e Anne se orgulhava de ser uma mulher que conseguia enxergar além das imposições exigidas pela sociedade, e que vivia de acordo com suas próprias regras. Ela determinava como seria sua vida, como queria conduzi-la, e como faria amor com seu homem todas as noites.
Em razão disso, Anne colocou sua timidez de lado, e encarou Gilbert novamente que continuava com o olhar do outro lado fixo da mesa fixo nela, ao mesmo em que respondia às perguntas que Bash fazia a respeito de seus planos para a colheita daquele ano que naturalmente ficaria a cargo do marido de Mary, e ela compreendeu em um piscar de olhos que ele sabia o que ela estava pensando, pois podia ver no rosto dele os mesmo anseios. Ela se ajeitou melhor na cadeira e o desafiou silenciosamente a provocá-la mais do que tenha feito inconscientemente, e em resposta ele a olhou com tanta intensidade, que a ruivinha mordeu o lábio sem perceber, e só notou que o tinha feito quando viu a orbe castanha dos olhos dele ficar quase chocolate, e ela riu interiormente ao compreender que tinha ganho o jogo daquela vez. Embora, confessasse para si mesma que quase cedera à vontade silenciosa de Gilbert que lhe dizia exatamente o que gostaria que estivessem fazendo ao invés de estarem jogando conversa fora na mesa do café da manhã. Seu relacionamento com ele vinha pegando fogo ultimamente, e Gilbert tinha se tornado seu vício mais excitante, e como uma boa viciada ela precisava de grandes doses daquele homem e seus carinhos para acalmar a necessidade de tê-lo além da medida.
Eles terminaram o café ainda naquele clima quente, embora apenas os dois percebessem. Anne foi para o quarto se arrumar, pois devia uma visita à Diana, antes de ela e Gilbert voltarem para casa no dia seguinte. Gilbert surgiu logo em seguida, trancando a porta, e empurrando Anne contra ela, impedindo-a que escapasse dele:
- O que estava tentando fazer comigo agora a pouco? -Ele perguntou, seus lábios brincando com a pele do rosto dela.
- Não sei do que está falando. - Anne respondeu, fingindo não entender, mas se divertindo imensamente por ver Gilbert no seu limite.
- Você me provocou o tempo todo no café da manhã. - Anne não respondeu sentindo os beijos dele em seu pescoço, e as mãos de Gilbert segurando seu pulso.
- Deus! Você deve ser mesmo algum tipo de feiticeira. Não consigo parar de desejar você. - ele falava com a voz entrecortada pela sua respiração pesada, e Anne também estava achando difícil de se controlar quando tinha Gilbert pressionando seu corpo contar o dela. Ele tomou seu lábios com desespero, e Anne sentiu seu corpo reagir ao ataque dos lábios dele sobre os seus. Porém, ela logo se lembrou que teria que sair, e por isso controlou a urgência de seu corpo, até que os beijos de Gilbert foram perdendo a intensidade, e ele apenas encostou sua testa na dela respirando descompassadamente. Anne acariciou os cabelos espessos da nuca dele e disse baixinho:
- Amor, vou visitar a Diana. Você se importa? - ele abriu os olhos que anda mantinha fechados pela intensidade de suas emoções, e Anne percebeu que suas pupilas ainda estavam dilatadas, e Gilbert tentava se recuperar aos poucos depois do beijo intenso que trocaram.
- Não quer minha companhia? - ele perguntou olhando-a nos olhos.
- Eu adoraria, mas, não acho que você se divertiria ouvindo nossas conversas. - Anne lhe sorriu e Gilbert tocou seus cabelos.
- Está bem. Vou pedir para algum funcionário da fazenda te levar até lá de carro. Não quero te ver andando sozinha nesse frio. Vou aproveitar para ajudar Bash com a contabilidade. - Anne assentiu, Gilbert lhe beijou na testa, e saiu do quarto deixando-a sozinha 'para que se arrumasse. Ela trocou as roupas que estava vestindo por outras mais quentes, e desceu as escadas indo em direção ao escritório onde encontrou Gilbert e Bash examinando os documentos da fazenda.
- Vim apenas lhe dizer que estou indo, mas, que não pretendo demorar. - Anne disse para Gilbert que levantou os olhos dos números que verificava para dar-lhe atenção.
- Tudo bem, amor. Eu pedi para Peter te levar. Ele está lá fora te esperando.
- Até mais tarde. - Anne se despediu de Gilbert e Sebastian e se encaminhou para a porta. Assim, que ela se aproximou do carro de Gilbert, Peter lhe sorriu com respeito e abriu a porta do veículo para Anne. Ele tinha sido contratado para trabalhar na fazenda como braço direito de Sebastian, assim que Gilbert fora para a faculdade, e as rendas da fazenda começaram a aumentar. Ele era um homem sério, que cuidava de seu trabalho com bastante eficiência e responsabilidade, e Sebastian estava imensamente satisfeito com seus serviços prestados.
Enquanto Peter dirigia, Anne deixou que seus pensamentos a levassem até Green Gables e no dia em que descobrira quem eram seus pais biológicos de verdade. Era ficar tão feliz por saber que sua mãe fora professora e tinha cabelos ruivos como o dela. Agora, quando se olhava no espelho, Anne encarava a cor deles de maneira diferente, até com certo orgulho, e jamais imaginara que um dia isso pudesse acontecer. Ela também se lembrou que prometera passar os dias que ficaria por ali em Green Gables, mas quebrara sua promessa, e voltara correndo para a fazenda dos Blythes e para os braços de Gilbert. Matthew lhe dissera que discutiria com Marilla aquele por menor. E de fato, ela acreditava que eles tinham conversado, porque quando ela apareceu em Green Gables no dia seguinte para buscar suas coisas, Marilla não dissera nada, também não a recriminara ou a olhara com reprovação, mas, Anne se sentira na obrigação de se desculpar, pois Marilla fora como uma mãe para ela, e Anne não quisera parecer mal agradecida. Contudo, a boa senhora a olhara com afeto e dissera:
- Minha querida, você já é maior de idade, e não precisa da aprovação de ninguém. Eu te entendo e te abençoo. Não se preocupe.
E assim, Anne fora para a fazenda de Gilbert se sentindo mais aliviada. Não queria magoar, Marilla, e saber que ela não ficara sentida com ela fez com que Anne respirasse e dormisse melhor à noite.
Anne chegou na casa de Diana que por conta da gravidez vinha passando mais tempo na casa dos pais, e sorriu ao ser atendida por seu velho amigo Jerry.
- Que bom que veio nos visitar. Diana vai ficar feliz.
- Onde ela está? - Anne perguntou passando os olhos pelo ambiente simples, mas de extremo bom gosto, percebendo com prazer que cada pedacinho do lugar tinha a personalidade de Diana.
- Ela está no quarto. Por causa da gravidez ela se sente um pouco indisposta. - Jerry disse encaminhando Anne para os aposentos onde Diana repousava.
- Tem certeza que não vou incomodar. - Anne perguntou preocupada em atrapalhar o descanso de sua amiga.
- Claro que não, Anne. Ela vai adorar te ver aqui. - Jerry garantiu, e logo abriu a porta do quarto para que Anne entrasse. Diana estava deitada de barriga para cima cuja posição evidenciava sua gravidez mais ainda do que quando ela estivera no apartamento de Anne antes do Ano Novo. Suas feições estavam serenas, e a cabeleira negra reluzia mesmo no escuro, emoldurando seu rosto bonito. Ela abriu os olhos assim que ouviu a porta se abrir, e seu rosto se iluminou ao ver quem acabava de chegar.
- Anne, por que não disse que viria? - ela se sentou na cama enquanto Anne lhe dava um beijo nas bochechas.
- Eu também não sabia que viria, foi uma decisão de última hora. Como está se sentindo? – Anne se sentou na cama ao lado da amiga enquanto esperava que ela lhe respondesse.
- Sinto-me mais cansada que o normal, e um pouco enjoada de manhã, mas fora isso tenho me sentido muito bem.
- Que bom, Diana. Fico aliviada por saber que está se sentindo bem. Queria estar mais perto de você agora, minha amiga. - Anne disse apertando as mãos de Diana.
- Eu também, mas sei que está melhor em Nova Iorque ao lado do amor de sua vida.- Diana disse olhando para Anne com ternura.
- Apesar de amar Green Gables com todo meu coração, e valorizar nossa amizade, tenho que concordar com você. Se eu tivesse ficado aqui, não estaria agora vivendo o que sinto por Gilbert de maneira tão livre. Nova Iorque é outro mundo, a vida acontece de maneira diferente, e cada pessoa vive a sua vida exatamente como quer.
- Deve ser um alivio não ter nenhuma Rachel Lynde se metendo em sua vida. - Diana disse e Anne riu ao se lembrar da amiga fofoqueira d Marilla.
- Rachel é uma boa pessoa, apenas se interessa demais pela vida alheia. Às vezes fico imaginando como a existência dela deve ser frustrante, para fazê-la perder tanto tempo tentando encontrar a semana inteira algo sobre o que comentar e aumentar conforme sua conveniência.
- É verdade. - Diana comentou. - Então, você e Gilbert estão realmente bem?
- Sim. Parece que é sempre início de namoro para nós. Nunca nos cansamos um do outro. - Anne disse com os olhos brilhando.
- Você parece ainda mais apaixonada que antes, e fico tão feliz por ver a velha Anne de volta. Você não imagina o quanto me preocupei com sua situação quando foi embora daqui. Você ainda estava tão atormentada e fragilizada por tudo o que havia acontecido que temi por sua sanidade mental. Graças a Deus, você se recuperou, e está aqui comigo novamente. - Diana a abraçou e Anne retribuiu. Fazia-lhe tanta falta de Diana por perto, ainda bem que Cole estava em Nova Iorque e amenizava um pouco a carência que Anne tinha da amizade da garota morena.
- Eu ainda estou superando certas coisas. Gilbert me ajuda muito, e aos poucos estou recuperando meus sonhos. A perda do meu bebê ainda dói, mas, não mais como antes. Eu não me culpo mais, pois compreendi que foi algo que não dependia de mim, e que não sou a única a mulher a passar por isso. Ainda tenho esperanças de ser mãe um dia, mas, se não acontecer estou pensando em adotar um bebê. - Anne confessou, e Diana sorriu mais ainda.
- Oh, minha querida. Que sábia decisão. Um bebê adotado é um filho do coração, e tenho certeza que você e Gilbert vãos ser excelentes pais quando a hora chegar. - Anne apenas assentiu, sentindo seu coração leve a respeito daquele assunto também. Estava se libertando de todas as amarras, e logo seria livre como um pássaro finalmente. Era maravilhoso poder olhar o futuro e descobrir que havia ainda tanta coisa para explorar, e Anne queria experimentar cada uma delas e descobrir novas facetas acerca de si mesma. Ela era agora uma mulher adulta, e não havia mais espaço para seus dramas infantis ou de adolescência. O passado deveria ficar para trás, e ela sentia uma empolgação imensa ao pensar em quantas possibilidades o mundo poderia lhe oferecer, em quantas conquistas poderia alcançar, e quanto amor ainda poderia encontrar nos olhos castanhos de seu noivo, a quem venerava com paixão. De repente, ela se lembrou de algo e disse para Diana:
- Eu descobri alguma coisas sobre os meus pais biológicos. - Diana a olhou espantada, e depois se animou em pedir:
- Que maravilha. Anne. Vamos, me conte tudo o que descobriu.
Ela ficou com Diana boa parte da tarde, e quando voltou para casa em companhia de Peter que viera buscá-la no horário combinado, Anne se sentiu um pouco triste ao pensar que não tornaria a ver Diana tão cedo. Naquela semana ela voltaria para o trabalho, e na próxima suas aulas na faculdade se iniciariam, e Anne teria pouco tempo para viagens ou diversão, mas, prometera à ela que dali a quatro meses quando o bebê da amiga estivesse próximo de nascer, ela daria um jeito de estar com ela, pois queria dar seu apoio incondicional a sua querida irmã de coração.
Ao pisar novamente na fazenda de Gilbert, ele a esperava na porta, e seus lábios sorridentes denunciavam o quanto ele estava feliz por tê-la de volta em casa.
- Divertiu-se bastante com Diana?
- Sim, foi como nos velhos tempos. Sinto tanta falta dela. Gilbert. - Anne disse no aconchegando no abraço dele.
- Eu sei. Às vezes me sinto totalmente egoísta por tê-la afastado de seus amigos. - ele disse beijando-lhe a testa.
- Não deve se sentir assim. Eu já te disse uma vez e vou repetir. Minha casa é onde você está, e eu me sinto completamente feliz com você. - ela disse aquilo com tanta sinceridade que arrancou mais um sorriso maravilhoso dos lábios de Gilbert.
- Você gostaria de jantar agora? Mary já preparou tudo e está começando a pôr a mesa. - Gilbert perguntou.
- Eu quero sim, mas, antes vou tomar um banho. Você me espera? - Anne perguntou afagando os cabelos dele. Ela adorava aqueles fios macios que se enrolavam em seus dedos com tanta facilidade.
- Sim. Ele respondeu. Assim, Anne subiu as escadas sorridente pensando nas horas agradáveis que ainda teria ao lado de sua família.
Quando foram se deitar aquela noite, Anne pensou em sua viagem de volta para Nova Iorque e sorriu. Tinha tantas novidades para contar a Cole, e sabia que ele ficaria imensamente feliz por ela, pois o amigo sabia do quanta ela sofrera por não ter informações precisas sobre suas origens. Contudo, Anne sentia que a partir daquele momento sua vida realmente começaria a mudar, e com esse pensamento confiante ela abraçou Gilbert e adormeceu quase que imediatamente.
ANNE E GILBERT
A vagem de volta foi mais animada que a da ida, pois Ane não via a hora de estar em casa com Gilbert, seu filhinho peludo e seu amigo querido. Dessa vez, ela não dormiu, pois a excitação que sentia era tanta que não permitia que ela pegasse no sono. Ela e Gilbert namoraram todo o tempo que durou a viagem, e tiveram longas conversas divertidas e estimulantes. Quando o trem chegou em Nova Iorque, Anne respirou o ar gelado que pairava sobre a cidade, e se surpreendeu com a alegria que sentia ao observar aquelas ruas apinhadas de gente, e a agitação que as acompanhava à caminho de casa.
Ela e Gilbert foram direto para o apartamento de Cole que quando abriu a porta e viu que Anne estava de volta a abraçou e beijou todo animado.
- E onde está Milk? - Anne perguntou ansiosa por ver seu meigo amiguinho.
- Está dormindo na cestinha dele.- Cole respondeu ao mesmo tempo em que convidava Anne e Gilbert para entrar.
- E como ele passou todos esses dias sem mim?
- Não vou dizer que foi fácil, pois nos dois primeiros dias, ele chorou muito e nem queria comer, mas, Pierre tem muito jeito com animais, pois cresceu no meio deles, e conseguiu fazê-lo se alimentar e ficar mais calmo. – Anne ouviu o relato de Cole e seu coração doeu por saber que Milk tinha sofrido com sua ausência. Apenas esperava que não tivesse mais que se separar dele.
Ela se aproximou da cestinha onde ele estava deitado completamente adormecido, e ela o pegou no colo com seu coração transbordando de amor por aquela criaturinha tão inocente que trouxera um novo colorido para sua vida e de Gilbert. Embora o noivo reclamasse às vezes, ela sabia que ele amava o cachorrinho como ela própria. Milk abriu os olhos, assim que sentiu as mãos de Anne em seu pelo quente, reconhecendo imediatamente o colo onde estava aninhado. Ele ficou tão feliz que começou a lambê-la no rosto, os olhinhos estalados como se pudessem falar com ela. Era nítido o seu amor incondicional por ela, e até Gilbert ficou emocionado observando a cena.
- Olá, meu amor. Eu estou de volta, e prometo que nunca mais vou te deixar sozinho de novo. Eu sei que o tio Cole cuidou muito bem de você, mas, está na hora de voltar para casa. – Anne disse, e o cachorrinho a olhava como se entendesse cada uma de suas palavras.
Ela ficou mais um tempo na casa de Cole, por insistência dele, que queria saber tudo o que havia acontecido na viagem, e quais informações Marilla tinha sobre seus pais biológicos. Depois de satisfazer toda a curiosidade do amigo, ela e Gilbert foram para casa com Milk a tiracolo.
Ao abrir a porta do apartamento, Anne sorriu de orelha a orelha. Estava em casa, ali era seu lar, assim como Green Gables também era, com a diferença de que partilhava cada canto daquele apartamento com o homem que seu coração escolhera para amar. Enquanto Gilbert tomava banho, ela foi até a cozinha e colocou um pouco de ração no potinho de Milk e o observou comer com vontade. Ele parecia ter perdido peso naqueles dias em que ficaram separados, e isso a deixou preocupada.
- O que foi, Anne? – Gilbert perguntou ao vê-la com a testa franzida olhando para o cachorrinho assim que voltou para a cozinha.
- Não sei. Você nada acha que Milk perdeu peso? - Anne perguntou sem tirar os olhos de Milk.
- É normal, Anne. Ele passou esses dias chateado por não ter você por perto, e também está crescendo. Você tem que pensar que ele não será um bebê para sempre. - Gilbert disse abraçando-a pela cintura.
- Eu sei. - ela concordou.
- Quando é que vai parar de se preocupar com todo mundo e curtir um pouco? - Gilbert perguntou, tocando a ponta do nariz dela com seu dedo indicador.
- Acho que tem razão. - Anne disse encarando os lábios dele.
- Você precisa relaxar. Vem, eu te ajudo. - ele disse com o olhar cheio de intenções. E Anne se deixou envolver por todo aquele calor que o olhar dele lhe transmitia aquecendo-a totalmente.
Ambos acordaram no dia seguinte assim que o despertador tocou, e Gilbert se levantou relutante, seguido por Anne que o olhava divertida. Ela sabia que seria difícil voltar a velha rotina depois de passarem tantos dias vivendo momentos tórridos dentro daquele apartamento, mas as responsabilidades da vida adulta não podiam ser deixadas de lado, e por essa razão, se vestiram para o trabalho e tomaram o café da manhã juntos.
- Por que não fugimos para algum lugar? - Gilbert propôs enquanto bebia seu café sem açúcar.
- E para onde iríamos, meu amor? - Anne perguntou achando a proposta de Gilbert divertida.
- Não sei. Que tal um lugar onde ninguém pudesse nos encontrar?
- E o que diríamos quando voltássemos? Que fomos abduzidos? - Anne riu do próprio comentário.
- Sabe que não seria má ideia. - Gilbert disse rindo também. – Mas, é sério amor. Não queria ter que ir para o trabalho hoje. Queria poder passar com você mais um dia juntos.
- Não acha que já passamos tempo demais em companhia um do outro, e que está na hora de nos juntarmos ao resto da humanidade? - Anne perguntou segurando a mão de Gilbert sobre a mesa.
- Não, não acho. Ficar com você sempre será minha prioridade, e não me importo nenhum um pouco se o mundo todo desparecer desde que eu esteja com você.
- Meu noivo acordou romântico hoje. - Anne disse apenas para zombar um pouquinho dele.
- Você me deixa assim, Anne, todo clichê. Nunca pensei que me tornaria um romântico incurável, mas, olha só para mim, me derretendo todo pela minha mulher. - Anne se levantou, foi até Gilbert e se sentou no colo dele dizendo bem baixinho:
- Adoro quando me chama de sua mulher. É tão sexy. - Gilbert olhou para ela e seu coração falhou por um segundo. Ela estava tão linda aquela manhã com os olhos ainda sonolentos e um sorriso doce nos lábios, e aquela imagem o fez se recordar de como a havia beijado na noite anterior quando estavam em seu quarto, e ele desejou beijá-la da mesma maneira naquele exato momento, mas, quando se aproximou dos lábios dela, Anne o barrou dizendo:
- Não me olhe assim, Gilbert. Você sabe que temos horário para entrar no trabalho.
- Este é um bom argumento, mas, me promete uma coisa?
- O que?
- Que hoje à noite vai me deixar amá-la como eu quiser?
- Prometo. - ela disse com o olhar dele queimando seu corpo inteiro.
Anne ao acompanhou até a porta, e se despediram com mais beijos apaixonados, e Anne teve que empurrá-lo para longe dela dizendo:
- Comporte-se, Dr. Blythe. Alguém pode nos ver, e o que pensariam de nós? – Anne disse olhando para os lados, temerosa de que alguém os tivesse observando. Não queria ser motivo de comentários ali no prédio.
- Está bem, mas, se lembre do que me prometeu. - ele disse com os olhos cheios de malícia que Anne conhecia muito bem.
- Não vou esquecer. - ela assegurou dando-lhe um selinho rápido, antes que ele fosse para o trabalho de vez.
Ela fechou a porta suspirando, e logo imaginou no tremendo tédio que seria aquele dia. As horas demorariam uma eternidade para passar, e ela tinha certeza que contaria cada segundo até que voltasse para casa de novo. Desta forma, ela se arrumou como de costume, trocou a água do potinho de Milk, e colocou comida suficiente para que ele se alimentasse até que ela estivesse de volta à uma da tarde.
O céu de Nova Iorque estava claro naquele dia, diferentemente da tarde anterior em que chegaram de Avonlea. Ela sentiu o brilho do sol em seus cabelos, e um sorriso de pura alegria se desenhou em seus lábios. Ela estava tão feliz que mal cabia dentro de si mesma. A quanto tempo não sentia aquela bendita paz? O dia que nascera lhe trouxera um enorme bem-estar, como se todas as dúvidas, medos e temores tivessem sido levado com a nevasca dos últimos dias. Seu coração cantava de contentamento, e sem sequer perceber ela caminhou para o trabalho assoviando uma música que aprendera com Matthew quando ainda tinha treze anos, e nunca mais esquecera.
Anne chegou na livraria naquele estado de espírito encantador, e todos que a olhavam se sentiam inspirados pela beleza daquele rosto angelical que era pura delicadeza e risos fáceis. O dia transcorrera bastante calma, embora, Anne tivesse milhões de coisas para fazer, seu estado de graça continuou até quase na hora de ir para casa quando pensou que nada poderia abalar sua felicidade naquele dia. Mas, estava enganada, e percebeu isso no momento em que viu Roy Gardner atravessar a soleira da porta e caminhar em sua direção com um dos seus sorrisos mais cínicos. Anne sentiu seu sangue ferver, ao imaginar o que ele viera fazer ali, depois de tudo o que ela lhe dissera da última vez.
- Olá, Anne. Como passou a véspera de seu Ano Novo? - Anne se sentiu tentada a não responder, mas, não queria que ele percebesse o quanto a afetava negativamente, por isso, ela respondeu com um de seus sorrisos irônicos:
- A minha véspera de Ano Novo foi incrível, pois a passei com o homem mais maravilhoso do mundo. - Anne viu satisfeita a expressão sorridente dele mudar para decepção totalmente indisfarçável naquele momento.
- Você não se cansa de esfregar as virtudes de seu marido na minha cara, não é? Será que ele é mesmo isso tudo, ou você faz isso apenas para me provocar? – a raiva dele era nítida, mas Anne não se sentiu amedrontada. Na verdade, se sentia afrontada, por ele pensar que ela se importava com ele o bastante para querer provoca-lo.
- Eu não tenho o menor interesse em sua pessoa, e muito menos desejo provocá-lo. Por que não se convence de que não quero nada com você? - Roy se aproximou perigosamente de Anne, e ela deu um passo para trás, vendo claramente que a raiva dele tinha subido de nível e se assemelhava a ódio. E foi aí que ela realmente começou a se preocupar, pois não conseguia imaginar até onde uma pessoa vil como aquela poderia chegar. Ela olhou para os lados, procurando por ajuda, mas a portaria estava vazia, pois a atendente que normalmente ficava por ela estava ajudando a um senhor a escolher um livro na vasta coleção de literatura que havia por ali, e logo percebeu que não poderia fazer uma cena ali em eu local de trabalho.
A ruivinha quase deu um grito quando sentiu Roy pegar em seu pulso e puxá-la de encontro ao peito que parecia um muro de granito. Ela tentou se livrar, mas, quanto mais puxava seu braço, mais Roy a prendia junto a si.
- Me solta, seu maluco! – ela disse por entre dentes, odiando o olhar de luxúria que ele lhe lançou. Roy parecia se excitar com a raiva de Anne, e ela sentiu uma náusea enorme tomar conta dela ao fitar aquele rosto bonito, porém repugnante.
- Só vou te soltar se me der um beijo. - ele disse cinicamente.
- Eu não vou beijar você! - Anne respondeu desesperada ao ver que estavam sozinhos naquela ela, e que se ele tentasse alguma coisa, não teria ninguém para ajudá-la. O rosto dele foi se aproximando, e Anne procurava por alguma saída para sua situação. Subitamente, seu olhar caiu sobre uma enciclopédia em cima da mesa, e ao calcular a distância, percebeu que estava ao alcance de suas mãos. Ela deu um passo para o lado, e Roy não percebeu o motivo de seu movimento, e quando alcançou o livro, ela o agarrou com dificuldade, pois era bastante pesado e ela só tinha o apoio de uma mão, já que a outra estava firmemente presa por Roy. Mesmo assim, ela deu um impulso e o atirou na cabeça do rapaz que a soltou imediatamente surpreso pela reação dela, e pela dor que sentiu com o baque do livro em seu couro cabeludo.
- Sua ruiva estúpida, isso não vai ficar assim. Você vai pagar por esse ato insolente! – ele caminhou para saída deixando Anne sozinha que suspirou aliviada por vê-lo indo embora.
Ela juntou suas coisas, e dizendo um adeus apressado para a recepcionista da livraria, ela caminhou quase correndo para casa como se estivesse sendo perseguida por algum fantasma. Ela chegou no apartamento totalmente sem fôlego por ter percorrido toda a distância entre o seu trabalho e o edifício onde morava com Gilbert. Quando Anne se viu na sala de estar, ela pegou Milk no colo que tinha se aproximado dela alegremente por vê-la chegar, e o abraçou chorando incontrolavelmente. Aos poucos os soluços foram diminuindo, e o terror que sentira também fora embora, mas, ela continuou sentada no sofá por algum tempo, até que sentiu que estava mais calma e suas lágrimas tinham deixado de rolar.
Quando Gilbert chegou do trabalho, ela já se sentia dona de si mesma de novo, e ele não percebeu que a mão dela tremia um pouco quando a beijou.
- Como foi seu primeiro dia de volta ao trabalho? - ela disfarçou seu desconforto o quanto pôde e respondeu:
- Foi normal. Sem grandes novidades. E o seu? - ela teve o cuidado de perguntar.
- Foi entediante. Não via a hora de voltar para casa. - ele respondeu beijando-a na testa. - Parece que você já começou a preparar o jantar? - ele perguntou ao ver Anne cortando os tomates para preparar a salada.
- Sim. Achei que ia preferir jantar cedo hoje.
- Espere um instante que vou trocar de roupa e já volto para te ajudar. – Como prometeu, ele retornou à cozinha em poucos segundos, e logo o jantar estava pronto. Eles comeram sentados na cozinha, e conversaram bastante como havia sido o seu dia. Anne decidiu que não contaria sobre Roy aquela noite, porque não queria estragar o sorrisos de Gilbert por causa daquele rapaz asqueroso, mas, ela tinha consciência de que teria que fazê-lo em algum momento, pois seria um erro ocultar aquele assunto grave de Gilbert. Eles cuidaram da louça e da cozinha logo que terminaram de jantar, e enquanto Gilbert lia uma artigo médico sentado na cama do casal, Anne resolveu tomar um banho quente para aliviar a tensão que o episódio com Roy acumulara em seu ombro.
Após, cinco minutos que estava debaixo da água, ela sentiu braços masculinos envolverem-na, e ela se virou para encontrar o olhar de Gilbert cheio de desejo ao mesmo tempo em que sentia o corpo dele nu colado ao seu. Ele a virou de costa de novo, e a fez se apoiar em seu peito, deslizando os lábios pelos pescoço dela, e deixando que a ponta da língua brincasse com o lóbulo da orelha de Anne. Ela suspirou longamente e acabou deixando que todo o seu corpo se apoiasse no dele, enquanto ondas de calor subiam de seu baixo ventre até os seus seios, onde a mãos de Gilbert se concentravam naquele momento.
- Tão deliciosa. - ele disse e como sempre a fez se arrepiar até o último fio de cabelo. Gilbert sabia exatamente como deixá-la a um ponto em que Anne se esquecia de tudo, e somente a presença dele parecia tomar conta de seus sentidos. Ele desceu as mãos um pouco mais, e quando alcançou a intimidade pulsante dela, Anne parou de respirar por um segundo. Um sentimento tão selvagem tomou conta dela que ela foi incapaz de controlar a fogueira de sensações que incendiavam seu corpo e que a faziam desejar experimentar cada vez mais daquele fogo. Ela se virou de frente e ao beijou com sofreguidão, sentindo completamente tomada pelo aroma dele que invadia suas narinas totalmente íntimo e diferente do que já tinham feito antes. Eles já' tinham se amado no banheiro antes, mas, não com aquele frenesi que a fazia sentir como se tudo girasse em um circuito de desejo onde existia apenas seus corpos famintos e entregues à volúpia do momento. O barulho da água do chuveiro abafava um pouco os gemidos de ambos, mas aumentava ainda mais aquela sensação excitante de estarem compartilhando seus corpos de um jeito totalmente inesquecível.
Gilbert sentia Anne corresponder aos seus carinhos na mesma medida que seu desejo por ela crescia sem controle. Ele entrelaçou as suas duas mãos nas dela, porque apenas aquele gesto demonstrava o quanto estavam unidos em um só tipo de sentimento. Ela era tão ardente como as chamas da lareira que os aquecia no inverno de forma quase inextinguível, e ele sentia cada músculo o de seu corpo responder às carícias que ela lhe fazia sem inibição alguma. Ele queria sentir mais dela a cada minuto que passava, ele queria beber daquele oásis onde seu corpo se afogava sedento por mais toques que o levavam à loucura. Ela era só dele, assim como ele era dela, e ele amava cada parte daquela mulher extraordinária que conseguia reduzir seu corpo a um poço de desejos insaciáveis. Ela era seu começo e seu final, e mesmo quando sentia que ela estava tomando tudo dele naquele momento, Gilbert não se sentia um perdedor, pois a presença dela em sua vida todos os dias era o melhor dos presentes, e por isso, naquele instante de amor ele lhe entregou tudo a ela de si mesmo.
Ser amada por Gilbert embaixo do chuveiro trouxe emoções desconhecida a Anne, ela sentia que se entregava completamente da mesma maneira que Gilbert deixava que ela o tivesse totalmente, e essa percepção deixou-a completamente sem fôlego. Assim, ela permitiu que a mulher apaixonada que existia dentro dela perdesse qualquer inibição que ainda pudesse ter naquele instante de amor tão intenso entre os dois, e se mostrou a ele como exatamente ela era, livre de qualquer vaidade ou arrogância , liberta de qualquer receio de que Gilbert enxergasse as verdades de sua alma, e Anne o amou com toda a intensidade de seu coração, deixando que seu corpo mostrasse a ele por meio de suas reações apaixonadas como o amor que carregava dentro dela era enorme, envolvente e empolgante. E assim, quando Gilbert a levou para a cama e a possuiu sem se importar com o rastro de água que deixava pelo caminho, inundando o quarto todo, ela sequer percebeu os lençóis macios embaixo de si, pois ela flutuava em uma realidade cheia de sonhos que sua mente criara e quando tudo se tornou grandioso demais dentro dela para que pudesse ser controlado, ela se deixou inundar por uma luz tão brilhante que enchia sua mente e cada centímetro de sua pele de uma emoção tão conhecida e tão poucas vezes partilhada como fora naquele momento.
Uma sonolência tranquila começou a tomar conta dela, assim como de Gilbert que parecia envolvido na mesma camada de energia que tomara conta dos dois no momento final de seu ato de amor. Em algum momento daquela noite, eles trocariam os lençóis molhados da água do chuveiro, mas naquele instante Anne queria apenas adormecer naqueles braços que a enlaçavam protetoramente, que eram a única razão do seu sorriso, de seu suspiro e do bater do seu coração.
-
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro