Capítulo 82- Apenas diga sim
Olá, queridos leitores. Acho que a temperatura se elevou bastante neste capítulo, e espero que vocês gostem. Ficou longo, mais do que eu esperava, mas, ele está cheio de momentos de Anne e Gilbert, portanto, me enviem seus comentários, estou ansiosa por eles. Muito obrigada, e desculpem pelos erros ortográficos.
ANNE
Anne sentiu uma carícia molhada em seu rosto e abriu os olhos assustada, mas logo sorriu ao encarar dois olhinhos da cor de caramelo que a fitavam cheios de um amor tão genuíno que encheu o coração dela de alegria.
Fazia uma semana que Gilbert lhe dera aquele presente tão doce, e ela e Milk tinham se tornado inseparáveis. O cãozinho a seguia por todos os lados com verdadeira adoração, e Anne se apaixonara tanto por aquela bolinha de pelo branca que não perdia uma oportunidade de acariciar-lhe a cabecinha adorável ou carregá-lo no colo. Tanta devoção já tinha arrancado de Gilbert uma lista de reclamações, e a ruivinha não consegui a deixar de rir toda vez que seu noivo a olhava com as feições emburradas e dizia:
- Parece que perdi minha enfermeira favorita. Como pude ser substituído tão rápido?
- Não precisa fazer tanto drama, Gilbert. Você não foi substituído.
- Como não? Você passa mais tempo com ele do que comigo. Que situação! Acabei de arrumar um rival peludo. - nesses momentos Anne se aproximava com um olhar divertido no rosto, se sentava ao lado dele que apesar de estar melhor, ainda permanecia em convalescença, e dizia tocando-lhe as linhas do rosto com carinho:
- Não precisa ficar com ciúmes, amor. Você sabe que o meu coração é todo seu. - Gilbert fingia indignação e respondia com uma falsa seriedade:
- Não é o que tenho visto dentro deste apartamento a uma semana.
- Será que tenho de lembrá-lo de como eu te provei o meu amor ontem à noite? - os braços dela estavam em volta do pescoço de Gilbert, e ele se aproximava mais, deixando seus lábios se grudarem na face macia e corada de Anne enquanto dizia:
- Ajudaria muito se você me lembrasse, porque acho que não me recordo bem dessa parte. Assim, eles se envolviam naquele jogo que era só deles e de mais ninguém. Muito mais excitante do que a verdade e desafio que jogavam na escola, apenas para terem um motivo para beijarem quem quisessem. Porém, entre Anne e Gilbert isso nunca fora necessário, como não continuava sendo, pois assim como antes, durante toda aquela semana suas bocas estavam sempre dispostas a provar do amor um do outro, além da entrega de seus corpos em momentos intensos demais. Eles nunca precisaram de um motivo, de uma desculpa ou de datas especiais para deixar que tudo acontecesse como se fosse a primeira vez. Bastava o desejo, uma fagulha de paixão, para que ambos se envolvessem completamente na vibração um do outro. Era assim que Anne se sentia com Gilbert naqueles dias, como se tivesse encontrado em seu noivo um oásis cheio de delícias do qual não se fartava nunca. Quando se olhava no espelho via ainda seu rosto de menina, o mesmo que anos antes se encantara por Gilbert ao primeiro olhar. Porém, seu corpo tinha mudado, e não era tão inocente quanto antes, pois ela sabia exatamente que os anseios que habitavam dentro dele não eram mais os sonhos doces de uma garotinha, mas sim, os desejos de mulher feita que amava, e que se entregava ao mesmo homem todas as noites sabendo desde sempre que nunca haveria outro, porque ela era de Gilbert por inteiro, e se transformara ao longo do tempo por ele e por causa dele, e agora era difícil para ela associar aquela Anne que a fitava no espelho com os olhos brilhando apaixonados à garotinha insegura, falante e sem atrativos que se escondia por trás de roupas maiores do que ela, um chapéu barato e dona de uma imaginação sem limites.
Imaginação ela ainda tinha e muita, e apesar de ainda acreditar em príncipes e princesas, ela vivia o mundo real de maneira mais verdadeira, porque tinha perdido tempo demais sonhando com montanhas inatingíveis. Não precisava mais disso, mesmo que ainda tivesse a princesa Cordélia viva dentro de si, ela tinha seu próprio príncipe dentro daquelas paredes de concreto que nada se assemelhavam a um castelo, mas a fazia viver um conto de fadas diário.
Gilbert borbulhava em suas veias como uma boa taça de champanhe que ela experimentara poucas vezes, mas que a fizera descobrir um mundo de incalculáveis tesouros. Ele era seu prazer único e particular, e estar com ele todas as noites, sentindo o amor dele ser revelado em cada beijo sobre a sua pele era algo de qual nunca abriria mão, nem agora e nem em um futuro mais distante. Anne estava aprendendo a cada dia a valorizar suas qualidades de mulher, e sua capacidade de deixar que Gilbert a visse por inteiro. Não havia máscaras ali quando se amavam, não havia fantasias criadas por sua cabeça para fugir do medo, da solidão e da dor. Ela era cem por cento ela mesma, ela era quem nascera para ser, e não se lamentava mais por não ter o suficiente da vida, porque ela recebera bem mais do que esperava, ela ganhara Gilbert Blythe que de todos os homens perfeitos do mundo fora feito exclusivamente para ela.
Anne de levantou do sofá onde estivera deitada lendo um livro, e acabara adormecendo com Milk deitado sobre sua barriga. O animalzinho gemeu de frustração ao ser colocado no chão, e não resistindo, Anne o pegou no colo novamente.
Ela sabia que o estava mimando terrivelmente, e essa era outra causa das reclamações de Gilbert, embora ela soubesse que ele fazia exatamente como ela quando pensava que Anne não estava olhando. A questão era que Anne nunca tivera um animalzinho antes, e por isso, não se importava nem um pouco de estragar Milk com todos os seus mimos, ele já era um membro daquela família, e merecia too o amor que Gilbert e Anne pudessem lhe dar, e a ruivinha sabia que receberiam em troca cada afago e cada carinho, pois os cães eram criaturinhas divinas, tinham a áurea pura e o coração imaculado como anjos de quatro patas que vieram ao mundo para velar e cuidar de seus donos.
Anne foi até a janela com Milk aninhado confortavelmente em seus braços. Lá fora, o mundo parecia brilhar sob o sol suave em um fim de tarde que se punha no horizonte, deixando o céu avermelhado, antes de se despedir para dar passagem à lua que teria como companhia suas fiéis amigas estrelas. Faltavam três dias para o Ano Novo, e Nova Iorque se punha de novo cheia de luz pela nova aurora que se aproximava. Anne também tinha dentro de si uma nova expectativa de que no próximo ano muitas coisas mudariam, trazendo novos e maiores desafios.
Ela iniciaria a Faculdade de literatura logo após a segunda semana de Janeiro, e estava ansiosa para se ver novamente em um Campus universitário. Isso também seria algo novo para ela, porque ao contrário da outra vez, Gilbert não estava a quilômetros de distância, e ela não teria que esperar uma eternidade de uma semana para vê-lo. Bastava que o horário do intervalo chegasse para que ela o tivesse em seu campo de visão em menos de um minuto. Aquela proximidade também lhe dava a oportunidade de observar a amizade dele e de Dora de perto. Não que tivesse intenção de vigiar cada passo de Gilbert dentro da faculdade, tornando-se desconfiada e ciumenta. Ela não precisava disso, e ele muito menos, porque tão clara como era a água, a certeza do amor de Gilbert por ela era absoluta, e não tinha mais medo de perdê-lo para outra pessoa. Mas, não era por isso que ia deixar que Dora se aproximasse sorrateiramente e abusasse da amizade de Gilbert que não conseguia enxergar os verdadeiros sentimentos da loira por ele. Anne não achava que ela fosse uma pessoa ruim, e também não a culpava por estar apaixonada por seu noivo. Isso era o tipo de coisa que não se escolhia, e pelo que Gilbert já havia lhe contado, Dora vivia muito solitária dentro daquele Campus, longe da família, sem muitos amigos, e depois de sua decepção com Jonas acabara se isolando ainda mais, e a ruivinha não duvidava que fora ali que os olhos dela se voltaram para Gilbert, enxergando nele algo mais que amizade.
Pensado sobre aquilo naquela semana, Anne ponderou que se estivesse no lugar dela também teria se apaixonado. Gilbert era o tipo de rapaz encantador, educado, que sabia tratar uma mulher com respeito e consideração, além de bonito e charmoso, ele chamava a atenção por sua inteligência e eloquência ao falar. Qualquer mulher que prestasse atenção no comportamento de Gilbert ao redor de outras pessoas, olharia para ele uma segunda vez de maneira diferente. Ele era um bom rapaz, mas havia em suas várias camadas uma boa dose de sedução que inconscientemente fazia as garotas o rodearem como que atraídas por uma força poderosa. Ele já era assim quando o conhecera na floresta de Avonlea, com sua boina escura e um sorriso nos lábios, que insinuara muito mais do que meia dúzia de palavras trocadas ao longo do caminho até a escola.
Ela notara o olhar de Ruby em meio ao seu próprio encantamento negado tantas vezes. Josie também se derretia por Gilbert naquele tempo, mesmo que fingisse desdenhá-lo por trás de seus frequentes ataques de humor. Ela não podia dizer que Diana tivesse sido apanhada naquela rede de atração que engrossava a fila de garotas morrendo de amores pelo garoto mais inteligente da sala, porque ela logo se apaixonara por Jerry, e os olhares magnético de Gilbert perdera seu efeito, mas ela notara na Srta. Stacy um fascínio pelo seu pupilo dedicado e tão empenhado em se tornar um doutor, falando várias vezes com empolgação de suas inúmeras qualidades, sem contar que Marilla era outra fã de carteirinha de seu noivo. Era inegável o fato de que Gilbert era um sedutor inconsciente do próprio poder que exercia sobre mulheres de todas as idades e classes sociais, e sendo assim tão evidente esse carisma incomparável dele, como uma garota carente como Dora poderia ter ignorado tudo aquilo? Mas, isso não queria dizer que Anne não se importasse com isso. Era lógico que tinha ciúmes de qualquer garota que se aproximasse dele desejando algo mais do que uma simples explicação da matéria incompreendida em sala de aula, contudo, ela se sentia assim porque o amava e não porque se sentia insegura em relação a si mesma. Tinha sido assim no passado, quando achava que Gilbert pudesse olhar para qualquer garota e ver nela tudo o que Anne não era, e a ruivinha tivera um enorme trabalho em admitir isso em suas sessões de terapia. Porém, uma vez que enxergara o quão estúpida tinha sido por pensar assim, se libertara completamente do seu complexo de inferioridade em relação à aquilo.
Anne não pretendia atrapalhar a amizade de Gilbert com Dora, pois ela sabia que ele ficaria arrasado por perder uma amiga tão querida, mas ela seria obrigada a colocá-la em seu devido lugar se ela tentasse avançar o sinal novamente como fizera na véspera de Natal. De jeito nenhum Anne permitiria que ela colocasse as mãos em seu noivo novamente, e se ela sabia jogar sujo, Anne lhe mostraria que era mais perita em jogos do que ela.
A ruivinha saiu da janela, e colocou Milk em sua cestinha enrolado em uma manta onde se aconchegou com os olhinhos pesados de sono, e foi dar uma olhada em Gilbert que dormia tranquilamente. Ele se recuperara bem da pneumonia, mas ainda tossia um pouco, e seu estado febril agora menos frequente ainda o acometia às vezes. Sua respiração tinha melhorado, e ele não parecia tão cansado quando falava com ela. Contudo, ele ainda sentia um pouco de dor nas costas, e por isso, em sua última consulta, o médico lhe recomendara descansar por mais alguns dias, pois se ele tivesse uma recaída seria muito pior.
Gilbert não gostara muito da ideia, e reclamara por vários dias, pois sendo ativo como era, ficar confinado a um quarto daquele jeito era uma grande tortura, mas Anne não dera ouvido às suas lamentações. Como ela estava de recesso do trabalho, era-lhe muito fácil ficar de olho nele e impedi-lo de cometer excessos.
Ela entrou no quarto, ele ressonava com o rosto relaxado, os braços ao lado do corpo e a cabeça virada de lado. Anne foi até ele e ajeitou as cobertas que tinham descido até a cintura dele, deixando seu peito descoberto. Depois, deu a volta na cabeceira da cama com a intenção de fechar as frestas da janela que estavam semiabertas para arejar o quarto, mas que àquela hora já soprava um vento gelado ente elas, quando foi puxada por braços masculinos, e acabou caindo em cima de Gilbert que segurou firme em sua cintura, prendendo-a sobre o seu corpo.
- Onde pensa que vai, Sra. Blythe? - ele perguntou, olhando-a de forma insinuante, fazendo Anne automaticamente baixar o olhar para a boca dele que estava deliciosamente próxima da sua.
- Eu ia apenas fechar a janela. – ela respondeu simplesmente, sentindo seu corpo começar a ficar inquieto.
- Pode me dizer por que está me evitando? - ele perguntou sério, fixando seu olhar na boca dela também, e Anne percebeu que ele estava pensando a mesma coisa que ela.
- Eu não o estou evitando. O que o fez pensar isso? - Anne sorriu de lado, e Gilbert seguiu com seu indicador a linha perfeita do nariz dela.
- Está sim. Fugiu de mim o dia todo. O que o meu rival peludo tem que eu não tenho? - a mão dele afastou uma mecha de cabelo de Anne que caíra sobre o seu peito, colocando-a atrás da orelha da ruivinha, e sem querer ela sentiu um arrepio em sua espinha.
- Está com ciúmes de novo, Gilbert? Já disse que não tem motivos para isso. - ela tentou se libertar do abraço dele, mas, Gilbert foi mais rápido e prendeu as pernas dela entre as dele, e segurando o queixo dela com o polegar, forçando-a a olhá-lo de frente.
- Como não? Você passou a tarde toda naquele sofá da sala com Milk deitado em seus braços, onde eu deveria estar. – Anne o olhou surpresa. Quer dizer que o futuro Dr. Blythe a estivera vigiando enquanto ela dormia inocentemente na sala?
- Esteve me espiando, Gilbert? - ele sorriu fraco, ficando sem graça por ter confessado algo tão bobo que o fizera se sentir como um adolescente outra vez.
- Só um pouquinho. É que eu queria saber o que estava fazendo enquanto me deixava nesse quarto sozinho.
- Está tentando se justificar? - ele ficou sem graça de novo, e Anne riu, pois adorava vê-lo assim envergonhado. Era encantador e tão sexy ver Gilbert corado quando confessava que sentia a falta da presença dela como naquele momento.
- Não, eu estou apenas dizendo que teria adorado tirar aquele cachorrinho adorável de seu colo e tomar o lugar dele.- ele a apertou mais contra seu corpo e Anne estremeceu ao perceber que os dois estavam naquele jogo que começava a criar ao redor deles um clima mais quente do que deveria.
- E por que não o fez? - ela perguntou provocante.
- Você teria ficado zangada? - ele desceu as mãos pelas costas dela acariciando cada linha, e o corpo de Anne gemeu necessitado.
- isso é algo que não vai descobrir agora, pois deixou sua oportunidade passar.
- Tudo bem, eu aceito essa resposta. Mas, ainda não me disse por que me evitou o dia todo. - Anne sabia que ele não ia gostar da resposta, mas teria que falar ou ele ficaria ainda mais chateado, pensando mil e uma coisas em sua cabeça e nenhuma seria verdade.
- É que estou preocupada. Desde que você ficou doente tem ficado mais cansado do que o normal, e não acho que perdermos o controle como tem acontecido com frequência vai beneficiar sua recuperação. Eu sei que eu deveria ter mais juízo, mas você não facilita as coisas, e se prestou atenção no que o médico disse na última consulta, ele frisou que você deveria ter repouso absoluto. - Gilbert continuava apertando-a contra o próprio corpo, e Anne sabia o que aconteceria se ele insistisse.
- Você é que não entendeu. Eu sei exatamente o que é bom para mim, e no momento o que é bom para mim é ter você nessa cama a meu lado. - ele respirava rápido e Anne começou a ficar ofegante com as imagens que sua cabeça a fazia mentalizar dos dois juntos. Ela queria gritar para o seu cérebro parar como fazia quando era uma menina e começava a pensar demais em algo, mas aquilo não funcionava mais. Ela e Gilbert estavam em um jogo de adultos onde o ganhador e o perdedor teriam o mesmo prazer, e saber disso não facilitava as coisas de jeito nenhum.
- Gilbert, eu acho que não devíamos. - seu protesto saiu tão fraco que nem mesmo ela acreditou.
- Por que não? Eu quero você e é óbvio que você também me quer. Então, por que nos negar esse prazer? - a boca dele sobre a dela a fez respirar mais rápido ainda, se agarrando a ele sem conseguir resistir. O que Gilbert tinha que a seduzia com palavras, e que antes mesmo de tocá-la já a tinha em suas mãos? Era incrivelmente excitante ser desejada daquele jeito, e mesmo sabendo que a saúde dele ainda era frágil, Anne queria mais daqueles lábios sobre os seus. Seus dedos se enroscaram nos pelos do peito dele, e ela girou a cabeça deixando que seus longos cabelos os cobrissem durante o beijo. Ele desceu as mãos, e Anne as sentiu adentrar a sua blusa, e os dedos dele correrem por sua pele ao longo da coluna, e quando elas alcançaram sua nuca, e se afundaram em seus cabelos, Anne já ronronava feito uma gatinha. Gilbert aprofundou o beijo, e Anne o beijou com fúria, perdendo completamente o controle, quando estava a ponto de admitir derrota, a campainha tocou, e eles congelaram como se não pudessem acreditar que fossem interrompidos naquele exato momento.
Anne se separou dele, e se levantou em um salto, tentando ajeitar os cabelos e as roupas da melhor maneira possível. Quando achou que estava apresentável o bastante, ela deixou Gilbert no quarto e foi atender a porta. Assim que a abriu, a surpresa tomou conta dela quando o rosto de sua melhor amiga se materializou à sua frente, e ela disse quase em negação:
- Diana?
GILBERT
Olhar para ela era tudo o que Gilbert adorava fazer, e naquele momento em que ela se arrumava às pressas, o rosto vermelho de embaraçado como se ainda fossem dois adolescentes pegos por adultos fazendo algo que não deviam, e o sorriso tímido dançando em seu rosto, a tornava umas das mulheres mais adoráveis que Gilbert já tinha conhecido. O tempo não importava entre eles, e nem o nível de intimidade que tivessem, pois Gilbert sempre a veria através dos anos dessa mesma maneira. O amor em seu coração o deixara cego para a beleza de outras mulheres, e ele não conseguia ver em nenhuma delas aquela graça e simplicidade que aos olhos de Gilbert eram tão irresistíveis.
Anne saiu do quarto e ele continuou divagando sobre seus sentimentos por ela tão profundos a cada dia. Ele não conseguia sequer se concentrar em nada, se ela não estivesse por perto, e quando ela estava bem ali ao lado dele, a presença dela era a única coisa na qual conseguia pensar. Anne estava feliz, e consequentemente, ele também estava feliz, e vê-la com aquela luz maravilhosa de novo em seu rosto, o fazia ter certeza de que pagaria qualquer preço por mais caro que fosse para que nunca mais aquela alegria se apagasse.
As pessoas costumavam dizer que com o tempo, a novidade e excitação do início de uma relacionamento costumavam se abrandar, e o que sobrava era o companheirismo e a cumplicidade, mas, no caso deles, até aquele momento não provara ser verdade, pois a atração e o fascínio que sentira por Anne quando começaram a namorar e depois a se relacionar mais intimamente só aumentaram, e ele não pensava que algum dia se sentiria menos atraído por sua noiva. O que o prendia a ela não era apenas físico, ia além de qualquer explicação que ele tentasse dar a respeito daquela força que como um imã os mantinha unidos, era uma linguagem totalmente desconhecida mas que seus corações reconheciam porque se pertenciam, se encaixavam perfeitamente um no outro, eram como a lua e sol totalmente dependentes do calor um do outro.
O natal tinha sido há alguns dias, mas, Gilbert, apesar de não ter estado tão bem naquele dia como desejara, registrara cada segundo em sua mente como se fosse um filme, e tivesse gravado os melhores instantes daquela noite mágica. Fora o primeiro Natal que passaram longe de seus amigos, a não ser por Cole, que para a felicidade de Anne viera morar em Nova Iorque, e Gilbert sentira que foi um dos melhores natais de sua vida, porque estavam juntos naquele apartamento onde a vida começara finalmente a florescer. Ele simplesmente amara ver Anne agir como a garotinha que era quando ele a conheceu, abraçando o cachorrinho que ele lhe dera de presente como se fosse a joia mais preciosa do mundo. E nos dias que se seguiram, ela se apegara àquele animalzinho, que como não poderia deixar de ser, se apaixonara pela dona também.
Gilbert às vezes brincava que tinha ciúmes daquela atenção excessiva que ela dedicava ao seu amigo peludo, e se esquecia dele completamente, porém, isso era somente uma maneira dele ter um pouco mais dela por perto, porque na verdade, ele também estava amando aquele animalzinho todo branco, tão ansioso por atenção e por dar amor. Quando Anne se ausentava por alguns momentos, Gilbert aproveitava para brincar com ele, e mimá-lo ainda mais do que ela o fazia, mas assim que ela voltava, ele fingia que não ligava e até que tinha um certo ressentimento por Milk ter roubado o tempo e dedicação de sua linda enfermeira. Contudo teve um dia em que eles brincaram tanto, que ambos acabaram adormecendo, e quando Anne chegou, pegou Gilbert dormindo com Milk encostado em sua barriga, e ele não tivera como negar que o cachorrinho tinha ganhado sua afeição.
Era tão bom viver com ela como se cada dia lhes reservasse uma surpresa diferente. A tempestade tinha passado, os sonhos voltaram a fazer parte do seu ambiente diário, e todas as coisas que ele secretamente desejara pareciam possíveis agora que ele realmente atravessara a ponte que Anne tinha construído entre eles, e Gilbert enfim alcançara a plenitude de amá-la sem mágoa ou receio algum. Anne era sua mulher, ele ganhara essa dádiva quando a tornara sua, e renovaram as promessas que fizeram tempos atrás na noite de Natal com o segundo presente que reservara para ela. Gilbert baixou o olhar para a aliança que usava em seu dedo desde o momento que Anne a colocara ali, e a acariciou com um sorriso nos lábios.
Eles estavam casados, mesmo sem os votos da igreja, ainda assim ele se sentia abençoado pelas mãos divinas que colocara aquela mulher em seu caminho, e abrira os seus olhos para a preciosidade que havia naquele espírito livre e cheio de uma coragem que ele poucas vezes encontrara pelos lugares onde viajara, as pessoas que encontrara ou as experiências que vivenciara. E chamá-la de esposa deixava um gosto tão doce em sua boca, principalmente quando ela o olhava emocionada ao ouvi-lo se referir a ela assim. Gilbert sabia que Anne queria seu casamento na igreja. Eles tinham falado aquilo várias vezes, e ele vira os olhos dela brilhando enquanto discutiam cada detalhe, porém, aquilo levaria um tempo ainda, pois ele queria que ela tivesse tudo como tinha imaginado sem poupar coisa nenhuma. Contudo, o rapaz também tivera que satisfazer o desejo de seu coração que era tê-la completamente sua, e naquela noite em que superaram todos os limites, indo além das barreira de seus corpos, aquela aliança que tinham trocado simbolizava o compromisso que tinham um com o outro para sempre, e era um elo que nunca poderia ser quebrado.
Gilbert se mexeu inquieto na cama, já sentindo a falta de Anne. Ele pensou em se levantar e ir atrás dela para descobrir a causa de sua demora, mas ele relutou em sair da cama, e quebrar aquela sensação gostosa que enchia seu peito de paz. Seu olhar cruzou a fresta da janela semiaberta que Anne não tivera a oportunidade de fechar, porque ele a impedira, tão ansioso que estava por tocá-la. A noite já tinha caído, o ar já estava mais gelado. Não houvera nevasca nos últimos dois dias, mas o inverno estava em seu auge, e permanecer fora do apartamento em lugares abertos e sem proteção era humanamente impossível. Gilbert se cobriu melhor com o cobertor de lã grossa azul, e encarou o teto pensativo. Dali a três dias seria um Novo Ano, e novamente, ele e Anne comemorariam aquela data em Nova Iorque. Ele não tivera a alta que esperava do médico que estava tratando dele no hospital, que o condenara a mais uma semana de repouso e de ociosidade. Gilbert teria que ficar quase três semanas longe do trabalho além de não poder viajar com Anne como desejara, e esse fato o deixara extremamente aborrecido, porém, sua garota logo o fizera mudar de ideia com todo o seu jeitinho doce, e mãos de fada que provaram que ela era a melhor enfermeira do mundo. A cada reclamação dele, Anne calava com um beijo, a cada olhar feroz que ele lançava para os remédios que tinha que tomar nos horários específicos, ele ganhava uma massagem corporal que o deixava completamente rendido ao toque dela, e ele descobrira da maneira mais gostosa possível que sua noiva era uma feiticeira de verdade, e que ele não tinha nenhuma chance quando ela decidia jogar seu encanto para convencê-lo de algo.
Era bem verdade que Anne o andara evitando naquela semana por conta de sua enfermidade. Gilbert quase amaldiçoara o médico que dissera à ela que ele deveria ter repouso absoluto, e que devia ficar afastado de qualquer atividade que o fizesse se esforçar demais. Depois disso, ela passara a fugir dele sempre que as coisas esquentavam demais entre os dois. Se ele pudesse usar o sentido literal da palavra para como andava se sentindo naqueles dias, Gilbert diria que estava subindo pelas paredes de frustração. Anne o provocava e depois o deixava sozinho sem piedade nenhuma de sua crescente excitação. Gilbert tentara de todas as maneiras convencê-la a terminar o que começaram, porém, Anne sempre tinha uma desculpa para dar. E agora ela usava Milk como desculpa, como se o animalzinho não pudesse se virar sem a companhia dela por algumas horas, sim algumas horas, porque poucos minutos seriam pouco para ele satisfazer todos os desejos que tinha por ela. Se aquele era um plano para deixa-lo cada vez mais louco, Anne estava conseguindo, pois Gilbert estava à beira da insanidade se não pudesse tê-la logo.
Gilbert balançou a cabeça um tanto envergonhado por tais pensamentos cruzarem sua mente. Ele jamais seria capaz de confessá-los para ninguém, nem mesmo para Dora que era uma de suas melhores amigas, e com quem dividia boa parte de seus pensamentos mais íntimos. A garota com certeza pensaria que ele era um pervertido por desejar tanto sua noiva que vivia sobre o mesmo teto que ele, e com quem ele já partilhava uma grande intimidade sexual. Gilbert acreditava que até mesmos seus amigos de faculdade com quem convivia diariamente, e o consideravam o cérebro da classe se chocariam com o teor de seus pensamentos naquele momento. Mas, que culpa ele tinha se Anne era tão incrivelmente sedutora, e que o deixava daquele jeito toda vez que estavam perigosamente perto? Até o perfume dela era capaz de lhe causar sensações que fugia da normalidade de uma casal. Aquela garota reduzia seu cérebro tão normalmente ativo a um monte de pensamentos incoerentes, cujo elemento principal era ela própria. Gilbert desejava se controlar mais, porém, estava apaixonado demais para não se render, e ele não se lembrava de ter sentido isso com outra mulher alguma vez na vida. Deus! Se Anne pudesse imaginar como a queria naquele exato momento, com certeza já estaria ali em seus braços, beijando-o fervorosamente ao invés de estar atendendo aquela porta por um tempo considerável. Quem será que estava monopolizando toda a sua atenção quando ela deveria estar ali fazendo amor com ele?
Ele pensou novamente em se levantar, e ir até lá descobrir por si próprio, antes que ficasse maluco por aquela espera sem fim. Contudo, resolveu ficar mais um tempo ali no quarto, tentando adivinhar quem ousara aparecer ali sem avisar com antecedência, interrompendo o momento mais importante de sua semana. Anne estava quase cedendo quando a maldita campainha tocou, e ele já sabia por intuição que teria um trabalhão para convencê-la a continuarem do ponto em que pararam, e ele esperava fervorosamente que não fosse Cole Mackenzie o autor daquela proeza, porque apesar de gostar muito do amigo de Anne, e apreciar sua companhia e de Pierre, o rapaz não escaparia de sua fúria por estragar o momento de Gilbert com sua mulher.
De repente, Gilbert analisou o que estivera pensando e começou a rir. Só podia mesmo estar fora do seu juízo normal para pensar tantos absurdos. Aquela pneumonia não tinha enfraquecido seu corpo, mas também seu cérebro. Onde estava o Gilbert Blythe coerente, ponderado e dono de si mesmo? Definitivamente, estava perdendo a cabeça trancado naquele quarto. Por isso, ele se levantou, vestiu uma blusa de moletom por cima do pijama e se dirigiu até a porta. Ele a abriu devagarinho, pensando em dar uma espiada antes de entrar na sala de supetão. Seu coração quase parou, ao ver Diana Barry parada no meio da sala com Jerry ao seu lado, enquanto Anne a olhava chocada e não tirava os olhos de sua barriga de grávida.
ANNE e GILBERT
Anne olhava para Diana sem acreditar que a amiga estivesse ali. Ela não lhe enviara nem uma carta dizendo que viria, pegando-a completamente de surpresa. Sem querer, seu olhar se desviou para a barriga dela que já evidenciava um período de gestação adiantado, deixando-a ainda mais bela do que Anne e lembrava. Os cabelos negros chegavam até a cintura, a pele do rosto parecia brilhar viçosa, e os olhos tinham aquela expressão plácida que só as gestantes sabiam exibir porque era especial demais.
Anne esperou pela dor que costumava atacá-la em momentos assim. Mas, estranhamente ela não veio, deixando-a aliviada e intrigada ao mesmo tempo. Temera tanto esse momento com Diana, quando ficariam frente a frente, e ela não sabia como se sentiria, e ali estava sua resposta para sua inquietação sem sentido. Estava realmente feliz por ela e por Jerry, e não se sentia magoada. Não podia dizer que não sentia falta daquela sensação que só uma mulher grávida podia sentir ao carregar no ventre o filho do homem que amava, mas, não era mais aquele pesar angustiante, aquela dor que parecia rasgar suas entranhas, era apenas um sentimento de vazio com qual estava aprendendo a lidar sem sofrer demais.
A ruivinha deu um passo para abraçar a amiga, que estava séria e não lhe sorria, enquanto Jerry a olhava de um jeito sem graça quase se desculpando pela atitude rude de sua esposa que até outro dia tratava Anne com o seu fosse sua irmã. Diana continuou a encarar a amiga sem um pingo de simpatia no rosto e perguntou secamente:
- Vai nos convidar para entrar ou vai nos deixar plantados aqui fora nesse frio insuportável? - Anne se chocou com a raiva da amiga, não conseguindo entender por que ela a estava tratando daquela maneira tão seca, mas ainda assim respondeu um tanto sentida com o comportamento da amiga:
- Claro, por favor, entrem.
Diana passou por Anne sem sequer lhe lançar um olhar de carinho, enquanto Jerry a beijava no rosto com certo pesar no olhar: Anne sabia que Diana se comportava assim quando estava zangada. Ela ignorava a pessoa em questão, sabia dizer palavras que feriam e magoavam muito bem, mas, apenas não compreendia por que estava sendo alvo da fúria dela, se fazia meses que não se viam ou trocavam uma palavra, além da carta que amiga lhe enviara semanas antes, contando-lhe da gravidez.
- Não quer se sentar, Diana? - Anne perguntou ao ver a garota morena parada no meio da sala de braços cruzados e bufando sem parar.
- Não finja que se importa comigo, Anne. - Diana disse com sua raiva evidente estampada em seu rosto, deixando Anne cada vez mais perplexa com seu comportamento.
- Diana, é claro que me importo com você. Por que está agindo dessa maneira? Pensei que tivesse vindo me visitar. - Anne disse com o choro preso na garganta.
- Não, Anne essa não é uma visita social. Eu fiz questão de vir até aqui te perguntar pessoalmente por que tem me ignorado deliberadamente? Eu te mandei uma carta contando sobre minha gravidez, justamente porque fiquei preocupada com sua reação aos saber. Eu sei que esse é o seu maior sonho, e eu jamais faria qualquer coisa para te deixar magoada. Mas, parece que você não pensa da mesma maneira já que não respondeu à minha carta, me fazendo sentir mal por tê-la escrito, pensando no quanto mal eu poderia ter feito à você com minhas palavras. - a voz de Diana falhou, e ela começou a chorar, as lágrimas escorrendo abundantes pelo rosto.- Eu rezei para que me perdoasse, Anne, rezei para que minha irmã não me odiasse por ter algo que ela desejava tão desesperadamente, e tive esperanças que no Natal pudéssemos conversar, e então, eu te pediria perdão, mas, você não teve nem a decência de aparecer em Green Gables para passar o Natal com Matthew e Marilla, você não teve coragem de me encarar e dizer na minha cara que estava decepcionada comigo, e tem ideia do que senti com tudo isso?- Diana parou de falar nesse ponto da conversa porque não conseguiu mais controlar o choro. Jerry a abraçou enquanto Anne a fitava espantada, sem acreditar que a falta de comunicação entre elas gerara todo aquele mal entendido.
- Diana, não foi nada disso. Perdoe-me por não ter respondido sua carta, mas é que aconteceram tantas coisas que acabei me esquecendo. Não estou decepcionada com você e nem magoada, Eu fiquei tão feliz por você e Jerry estarem construindo sua própria família, e não fui passar o Natal em Green Gables, porque o Gilbert ficou doente e não pudemos viajar. Eu juro que não estava fugindo de você. Jamais poderia fazer isso, você é minha família. - Anne também chorava, e Diana olhou para ela um pouco mais calma e perguntou:
- Você jura que está me dizendo a verdade? Marilla me disse que o Gilbert estava doente, mas, pensei que você tinha dito isso apenas para justificar sua ausência no Natal, então, eu disse para o Jerry que precisava escutar dos seus lábios o verdadeiro motivo de não ter ido.
- É verdade, Diana. Anne não foi por minha causa. Se tem que culpa alguém, culpe a mim que não me cuidei direito e acabei com uma bela pneumonia no Natal. - Gilbert disse aparecendo de repente no meio da ela, e bastou Diana olhar para seu rosto pálido, e ainda não completamente recuperado para entender que tinha se enganado em relação aos motivos de Anne para não ir a Green Gables.
- Anne, perdoe-me. Fui uma tola por ter pensado tanta coisa negativa ao seu respeito. Mas, fiquei tão triste por você não aparecer no Natal que acabei tirando conclusões apressadas.
- Não há o que perdoar, Diana. Estou tão feliz porque está aqui. - ambas se abraçaram enquanto Jerry e Gilbert sorriam um para o ouro aliviados.
- Graças a Deus que vocês se resolveram. Eu não aguentava mais ver Diana chorando e fungando pela casa, porque você se recusava a falar com ela. - Jerry disse olhando para Anne com carinho.
- Desde que me mudei para Nova Iorque, tenho tentado me adaptar a tantas mudanças que acabei deixando coisas importantes de lado, mas, prometo retomá-las, assim que puder. Nunca deixaria que nada atrapalhasse nossa amizade. Seremos amigas para sempre, se lembra do nosso juramento? - Anne perguntou para amiga sorrindo.
- Nunca poderia esquecer de uma das coisas mais importantes da minha vida. - Diana, disse abraçando Anne novamente. - Depois, ela enxugou as lágrimas e de repente, olhou para a mão de Anne e disse quase gritando:- Não me diga que fez isso comigo, Anne? Você e Gilbert se casaram sem ao menos avisar seus amigos mais chegados? - Anne não pôde deixar de rir do ar chocado de Diana, e respondeu colocando uma mão no ombro da amiga para acalmá-la:
- Nós não nos casamos oficialmente, somente em nossos corações. Mas, Gilbert me deu essa aliança no Natal como símbolo do amor que nos une. E eu juro que quando nos casarmos de verdade, você será a primeira a saber.
- Ah, que coisa mais linda, Blythe. Eu não sabia que você tinha esse lado tão romântico. - Diana, disse dando um tapinha carinhoso no braço de Gilbert.
- Nem eu. Anne é que faz isso comigo. - Gilbert lançou um olhar para Anne cheio de significados que a fez corar.
- Mas, por favor. Me contem como está a vida de vocês aqui em Nova Iorque?
Desta forma, ele passaram boa parte do tempo conversando sobre todas as novidades que aconteceram durante aquele espaço de tempo em que não foi possível para que estivessem juntos. Anne falou do seu trabalho, do clube de leitura, da sua aprovação para a Faculdade de Literatura de Nova Iorque, e o quanto estava feliz por Cole ter vindo morar justamente tão perto dela. A ruivinha apenas não comentou sobre o seu desejo e de Gilbert de se casarem em Paris, pois ela era um pouco supersticiosa a respeito de certas coisas. Queria esperar que tudo estivesse certo primeiro para depois comentar, assim não daria chance para o azar de arruinar seus planos antes do tempo. Por último, ela apresentou à Diana o mais novo membro da família, e como esperava, a amiga se encantou com Milk. Anne sabia do amor de Diana pelos animais, mas assim como Anne, ela nunca tivera um porque sua mãe nunca permitira, dizendo que era alérgica a qualquer tipo de pelo, fosse ele canino ou felino. Por fim, quando se despediram, Anne disse com tristeza:
- Não querem mesmo passar o Ano Novo com a gente?
- Não podemos. Eu combinei com meus pais que os encontraria em New Jersey. Vamos passar o último dia do ano com meu parentes que vivem lá, mas, espero que vocês nos visitem logo em nossas casa em Avonlea. Quero muito que você seja madrinha do meu bebê. - Diana falou, abraçando Anne pela última vez.
- Será um prazer, minha amiga. – Anne disse feliz.
- Ah, quase ia e esquecendo. Marilla me pediu para te dizer que assim que você puder, vá até Green Gables. Parece que ela e Matthew têm novidades sobre os seus pais biológicos. - Jerry disse abraçando a cintura de Diana.
- É mesmo? A tanto tempo que espero saber algo sobre eles. - Anne disse animada. - Diga a Marilla que iremos assim que pudermos. – Jerry assentiu e partiu com Diana, que acenou para Anne antes de sumir nos degraus da escada que os levaria à saída.
- Você está bem? - Gilbert perguntou, assim que Anne fechou a porta. Ele ficara preocupado durante todo o tempo em que Diana estivera por ali, porque notara os olhares furtivos de Anne para a barriga da amiga. Gilbert prestara bastante atenção a algum sinal que indicasse que ela estava angustiada, mas, a não ser por uma leve tristeza, ela parecia bem confortável com a situação.
- Estou sim, de verdade. - Anne respondeu, rodeando-lhe o pescoço com os braços.
- O que será que, Marilla descobriu a respeito de seus pais? - Gilbert perguntou olhando para Anne com curiosidade.
- Eu não sei. Mas, seja o que for já estou ansiosa por saber- ela respondeu colocando sua cabeça no ombro de Gilbert.
- Eu prometo, amor, que assim que eu estiver bem para viajar, iremos para Green Gables. Eu também estou ansioso para que você descubra sobre suas origens. Eu sei o quanto isso é importante para você. - Anne balançou a cabeça concordando, e não disse nada. Tinha tantas coisas na cabeça, e tantas perguntas sem respostas.
Eles jantaram cedo, e foram para a cama. Embora, Gilbert estivesse louco para ter Anne em seus braços naquela noite, ele resolveu não insistir. Anne parecia muito vulnerável com a visita de Diana, saudades de Green Gables e por saber que estava a um passo de descobrir o que tanto desejava. Gilbert apenas a abraçou, como ela lhe pediu minutos antes de adormecer, e acordaram no dia seguinte exatamente daquela maneira.
Os dois dias seguintes antes do Ano Novo acabar continuaram calmos para ambos. Anne se limitava a cuidar da casa, de Milk e de Gilbert cujo estado ainda inspirava certa atenção, e ela também se ocupava com as comemorações para o último dia do Ano. Gilbert e Ann o passariam sozinhos, porque Cole e Pierre tinham outros planos, e os amigos de Gilbert da Faculdade estavam viajando ou com seus familiares. Por isso, eles decidiram que fariam uma celebração íntima e simples somente para ambos.
Na véspera de Ano Novo, Anne acordou animada ao pensar que em poucas horas, ela e Gilbert estariam entrando em uma outra etapa de suas vidas, e teriam mais trezentos e sessenta e cinco dias para fazerem de suas vidas o que quisessem, vivendo ainda mais intensamente aquele amor. Ela já sabia exatamente o que queria para aquele ano, além da faculdade que já estava encaminhada. Anne queria se curar completamente de suas mágoas, incertezas e medos, por isso continuaria com a terapia que somente estava lhe fazendo bem. Ela e Gilbert mereciam uma vida plena, e era o que lutaria para alcançar. Ver Diana dois dias atrás lhe deu essa certeza, pois ela queria aquele mesmo brilho no olhar que vira na amiga enquanto falava da sua vida com Jerry e o bebê que estava a caminho. . Anne estava feliz com Gilbert, mas ela sabia que lhe faltava algo. Esse fato, ela conseguia admitir sem se deixar levar pelas velhas sensações de fracasso. Ela queria um filho com Gilbert, e a realização desse sonho era o que faltava para que tudo fosse perfeito. Porém, ela compreendia que ainda não era o momento, e que queria outras coisas também antes de se focar nesse seu desejo. Ela precisava saber de suas origens, ainda mais agora que Marilla parecia ter algo importante para falar sobre eles. Isso não era mais porque se sentia inferior, era porque, ela como qualquer pessoa, merecia saber de onde viera, quais eram suas raízes, para que sua história de vida tivesse um começo, meio e fim.
Boa parte da sensação de que ela tinha de ser alguém pela metade não vinha apenas do fato de que talvez não fosse capaz de gerar um filho, mas também de sua necessidade de saber quem realmente era, e quais verdades genéticas corriam em suas veias pelo tipo sanguíneo que herdara de seus pais. Ela podia ainda ser a garota do orfanato, mas, pelo menos dessa vez, não sentia mais o peso disso. Ela estava livre, e precisava continuar a ser livre para que sua luta pelas suas próprias conquistas tivesse um gosto doce no final.
Anne entrou no quarto novamente, após ter tomado seu café da manhã, alimentado Milk e observou que Gilbert ainda dormia. Ela o olhou com atenção, e percebeu que enquanto estava em sua profunda inconsciência, ele se agarrava ao travesseiro dela e a ruivinha riu com ternura. Ele fazia isso sempre, especificamente todas as manhãs quando ela se levantava e Gilbert percebia isso consciente ou não inconsciente de que ela não estava mais ao seu lado, e era tão reconfortante saber que era amada com tanta devoção daquele jeito.
Anne decidiu sair para fazer suas compras finais de Ano Novo, por isso antes de sair como sempre fazia, ela deixou um bilhete para Gilbert avisando que voltaria logo, e em seguida, se dirigiu ao supermercado, onde comprou tudo o que precisava para o jantar especial daquela noite, e depois decidiu passar em uma floricultura e comprar algumas flores para enfeitar a sala, e deixar o ambiente mais alegre e festivo. Ela estava no processo de escolher violetas e um vaso apropriado para colocá-las na mesa de jantar, quando ouviu uma voz nada agradável atrás de si.
- Ora, mas que coincidência. Parece que nosso destino é nos encontrarmos assim.- Anne se virou para encarar Roy que lhe sorria com aquele jeito zombeteiro que Anne aprendeu a odiar.
- Olá, Roy. Como tem passado? - ela perguntou sem muita vontade.
- Melhor agora que te encontrei. - Anne suspirou desanimada. Ele ia recomeçar com aquilo, e ela não estava disposta de jeito nenhum a jogar.
- Quem bom saber disso. Agora se me der licença, preciso ir para casa. Tenho muito o que fazer hoje. - ela disse educadamente, indo até caixa pagar pelo que tinha comprado, no que foi seguida por Roy.
Quando estava prestes a sair, ele interceptou seu caminho e disse:
- Não vai falar comigo direito, Anne?
- Não temos nada para falar. - ela disse impaciente, tentando fugir dele, mas Roy não permitiu, segurando-lhe o pulso firmemente.
- É claro que temos. - o olhar dele foi atraído pela aliança que brilhava no dedo de Anne, e ele levantou o olhar na altura do dela, e perguntou com raiva:- Quando foi que se casou?
- Eu não lhe devo satisfações do que faço da minha vida. Se está vendo que não tem nenhuma chance comigo, principalmente agora, por que não larga do meu pé e fixa seu olhar em outra garota que nãos seja eu? - Anne estava indignada. Aquele rapaz estava passando de todos os limites novamente, e ela estava ficando cansada de suas investidas.
- Eu já te disse, eu não quero outra garota, eu quero você, e saiba que casada ou não, você vai ser minha. - Anne olhou com nojo para o rapaz, em seguida, ela conseguiu se livrar dele e voltara para casa, e todo o caminho até ela, a ruivinha ficou pensando o que faria para que aquele maluco a deixasse em paz.
Ela entrou em casa, e encontrou Gilbert no sofá brincando com Milk e ao ver aquela cena seu coração se enterneceu, e todas as nuvens negras se dissiparem da sua cabeça.
- Olá, querida. Por que não me esperou para ir ao supermercado com você? - Gilbert disse sorridente, e Anne se sentiu grata de novo por estar apaixonada pelo melhor homem do mundo, pois ela tinha certeza de que havia muitos Roys pelo mundo, e ela não estava afim de encontrar outros tipos como ele.
- Preferi te deixar descansar,- Anne respondeu indo até ele e dando-lhe um beijo.
- Algo errado? =- Gilbert perguntou ao perceber que ela estava com o corpo tenso. Ele conhecia todas as linguagens corporais dela e naquele momento ele sabia que ela parecia estar nervosa com alguma coisa.
- Não, é que andei muito hoje e estou cansada. - ela respondeu fingindo um bocejo.
- Não quer se deitar um pouco? - Gilbert perguntou ainda examinando o rosto dela com atenção.
- Não é necessário, meu amor. Eu vou me trocar e volto logo para começar os preparativos dessa noite. - ela o beijou, e foi até o quarto seguida pelo olhar de Gilbert que pensava consigo mesmo que Anne estava escondendo alguma coisa, porém, ele contava que ela te contaria mais tarde assim que estivesse pronta.
Ela retornou para a sala e ele começaram a preparar tudo o que seria servido no jantar, e quando terminaram a noite já estava caindo. Assim, eles foram para o banheiro onde cada um tomou seu banho, e se arrumaram para a grande ocasião. Anne resolveu colocar um vestido simples branco, sapatilhas brancas e deixou os cabelos soltos. Quando voltou para a sala, Gilbert a olhou admirado enquanto dizia.
- Que coisa mais linda! - Anne corou om sua costumeira timidez, enquanto admirava a figura de seu novo vestido com calça social preta e uma camisa branca aberta no peito por onde se podia enxergar metade de seus músculos daquela região.
- Obrigada. - ela respondeu e assim, eles se sentaram à mesa e se prepararam para comer a deliciosa refeição e sobremesa que prepararam juntos. Os olhares de Gilbert sobre ela a estavam deixando sem graça, por isso, Anne mudava de posição toda a hora na cadeira, sem encontrar uma jeito de escapar de sua intensidade. Então, quase perto da meia-noite, ele colocou uma música, pegou em sua mão e disse:
- Vem dançar comigo. - assim, Anne estava nos braços dele, muito consciente das sensações que começaram tomar conta de seu íntimo assim que os dedos dele deslizaram sobre o vestido bem na base da coluna. Anne mordeu os lábios devagar, enquanto Gilbert falava baixinho em seu ouvido
- Não vai fugir de novo de mim, vai? - Anne balançou a cabeça em negativa, e Gilbert começou a tocá-la devagar enquanto se moviam ao som da música. De repente, as mãos dele estavam em sua cintura, e desceram um pouco mais, até que alcançaram a parte inferior do corpo de Anne e a apertou de encontro a si. Logo estavam se beijando com uma fúria louca de quem se quer, de quem necessita, e de quem teria exatamente o que quisesse naquela noite. O vestido dela foi apenas uma barreira frágil entre os dois que foi retirado rapidamente, assim como todo o resto que ela usava. Gilbert também se despiu, e Anne não pôde deixar de admirar como centenas de vezes tinha feito, o corpo masculino perfeito que tinha diante de si, Era uma visão de tirar o fôlego e fazer com que seu sangue fervesse, antes mesmo que os dedos de Gilbert provocasse arrepios pelo seu corpo inteiro enquanto a deitava sobre o sofá da sala. Ele tinha pressa de senti-la sobre seu corpo, por isso, não quis perder tempo indo para o quarto. Ele já estava com a cabeça cheia dela, de seu aroma, de seu gosto, e assim que suas peles se colaram, Gilbert sentiu sua paixão aquecendo os dois.
Os toques eram lentos e sem pressa, as, a boca sobre a dela, exigia cada resposta que ela tentava ainda não dar. Gilbert a beijava como se nunca tivesse sentido a maciez daqueles lábios antes, e Anne também o beijava de volta naquela mesma proporção. Cada segredo de seus corpos eram revelados entre beijos e carícias sobre a pele que fazia a todo momento Anne arfar em busca de ar. Ela era toda daquele homem, e se entregava sem pudor algum, se deliciando com o desejo que crescia em ambos tão insaciável e intenso como da primeira vez. Eles se amavam, e se queriam, e não tinham vergonha nenhuma de mostrar um ao outro a face mais crua de suas vontades por mais primitivas que pudessem ser. E enquanto lá fora os fogos começaram a queimar, anunciando a chegada de um ano novo, Anne também sentia o amor explodir em seu corpo enquanto Gilbert dizia em seu ouvido:
- Um Novo Ano começa meu amor, então, diga sim a todas as promessas que te faço nesse momento. - Anne apenas assentiu, envolvida demais naquele momento para conseguir pensar com coerência:
- Diga sim para nossa vida juntos, para o futuro que estamos construindo. – ele a beijou com mais profundidade. – Diga sim para o que sentimos toda vez que estamos assim.- os dedos dele correram pelo abdómen dela, e Anne se remexeu levantando os quadris, desejando intensamente um contato mais profundo enquanto Gilbert continuava arrancando suspiros de seus lábios com suas palavras em seu ouvido.- Diga sim para todos os meus beijos que declaram os sentimentos de meu coração, diga sim para esse momento que nos encaixamos com perfeição.- a voz de Gilbert estava cada vez mais rouca, e Anne sentiu seu corpo todo estremecer pelo que ainda estava por vir. – Diga sim para o amor que fazemos neste instante, porque é quando nossas almas se entrelaçam, e eu me rendo completamente à você. - então, Gilbert parou de falar, pois não existiam palavras para descrever o que sentiam. Era grandioso demais, tão poderoso como a força do universo que os empurrava um para o outro desde sempre, Era o amor que declarava da forma mais pura em corpos que eram levados pela paixão não apenas carnal, mas espiritual também. Era uma doce loucura da qual não queriam despertar, era a união de dois corações que nunca deixariam de bater um pelo outro.
Quando os últimos fogos explodiram no céu, Anne também sentiu que todos sentimentos e emoções que os fizeram se entregar um ao outro naquela noite, se derramavam sobre eles como serpentinas de felicidade deixando suas almas em festa. Naquele momento, Gilbert tocou seu rosto com carinho, afastando os fios de cabelo que se grudavam em sua testa suada, lhe deu aquele sorriso que a fazia querer olhar para o rosto masculino tão amado para sempre. e disse levando a palma da mão dela aos lábios:
- Feliz Ano Novo, meu amor.
- Feliz Ano Novo, e minha resposta é sim para tudo o que você quiser. - Anne respondeu sorrindo também. – e então, seus lábios se encontraram novamente, e nada mais precisou ser dito, porque não precisavam. A única coisa que importava era aquele momento e todos os outros que veriam no novo ano que se iniciava, e Anne mal podia esperar para viver cada um dele com Gilbert intensamente.
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