Capítulo 81- Natal em Nova Iorque.
Oi, pessoal Consegui terminar o capítulo hoje, Como disse outro dia, estou péssima essa semana, então não vou falar do capítulo, pois minha opinião seria questionável. Somente posso dizer que está leve e romântico, então, espero que me enviem comentários sobre o que acharam. Muito obrigada por lerem minha história todas as semanas. Desculpem pelos erros ortográficos. Beijos. Rosana. Ah, seguindo a dica de uma leitora. Para quem não sabe, eu tenho uma outra história da Anne e Gilbert que se chama Corações em jogo, quem quiser conferir está no meu perfil. Beijos.
ANNE
Os ares festivos de Nova Iorque era uma das coisas mais inspiradoras que Anne já tinha visto, com exceção de Green Gables, que na opinião de ruivinha era o lugar mais encantador do mundo, a cidade tinha seu charme e o usava eficazmente entre os visitantes, que não conseguiam ir embora sem prometer que voltariam uma próxima vez para conhecerem cada recanto daquele lugar tão cheio de nuances e variedades tentadoras.
Enquanto caminhava pelas calçadas congeladas pela nevasca que caíra de madrugada, a garota ruiva enchia os seus olhos com a paisagem ao seu redor, e sorria se sentindo também em festa, porque sua época favorita chegara, e a menina dentro dela a fazia sorrir cheia de expectativas pelo que o Natal daquele ano lhe traria.
Ela tinha tanto a agradecer, apesar das tantas lágrimas derramadas à alguns meses, mas, se colocasse na balança todos os acontecimentos, veria que os ganhos foram bem maiores que as perdas. Aos poucos, estava voltando a ser feliz, e não se sentia mais culpada por isso. Por um bom tempo, ela acreditara que não merecia aquele sentimento bom, mas, as terapias com o Dr. Spencer estavam realmente funcionando, e a antiga Anne que vivia presa em uma redoma de tristezas estava novamente seguindo o chamado de seu coração.
Ela passou em frente a uma loja, e parou encantada ao ver uma árvore de Natal caprichosamente decorada. Seus olhos brilharam ao enxergar as inúmeras bolas coloridas que tornavam o ambiente tão mágico e tão cheio de luz, e pensou novamente em todas as bênçãos que recebera naquele ano, e como elas pareciam cair sobre ela como as luzes da árvore que iluminavam seu sorriso.
Anne viu seu reflexo na vitrine da loja e se observou por um momento. Estava longe de ser a mulher linda com a qual sonhara ser um dia, mas ficou satisfeita com sua face corada, seus olhos azuis que cintilavam com uma alegria nova e misteriosa, combinando incrivelmente com o gorro de lã azul em seus cabelos mais ruivos do que nunca.
Anne ainda não se sentia muito confortável com seus cabelos, pois mesmo em Nova Iorque onde havia tantas etnias diferentes, seus fios vermelhos acabavam chamando a atenção demais por onde quer que fosse, e isso por vezes a deixava desconfortável.
Gilbert costumava dizer que eles brilhavam à luz da lareira como joias em suas mãos, principalmente quando faziam amor no tapete da sala, com apenas uma manta cobrindo seus corpos e os cabelos dela esparramados pelo peito dele se perdendo entre seus dedos como fios de seda.
Anne fechou os olhos por um momento, tentando se enxergar como seu noivo a via, mas era difícil para ela conseguir formar em sua mente o rosto de sereia que ele dizia que ela tinha, e que o enfeitiçava com apenas um suspiro. Ela sabia que Gilbert dizia tudo aquilo, porque ele a amava, mas era incrível como ele realmente conseguia fazê-la se sentir assim quando estavam juntos. O amor dele a transformava da garota insegura com sua própria aparência, em uma mulher totalmente apaixonada e consciência de sua força e desejos.
Anne ajeitou o gorro em seus cabelos, e sorriu para seu reflexo na vitrine. As pessoas passavam, e não podiam deixar de notar aquela garota tão singular de cabelos como o fogo dando ao cenário todo branco de neve de Nova Iorque um colorido especial.
A ruivinha não parecia perceber os olhares curiosos que a observavam, pois seus pensamentos estavam divagando para outro cenário que não era exatamente aquele no qual sua presença parecia atrair tanta atenção. Anne estava pensando em Gilbert naquela manhã, e sua testa se franziu de preocupação.
Fazia uma semana que ele vinha tossindo e espirrando, o que não era nada incomum. Naquela época do ano por causa do frio, e do ar seco que entrava pelas narinas e parecia queimar os pulmões, mas quando viviam em Avonlea Anne nunca vira Gilbert adoecer, e vê-lo com o nariz congestionado, os olhos lacrimejantes e a voz áspera que incomodava a sua garganta dolorida, não era a imagem que associaria ao seu noivo sempre sorridente e bem humorado.
Gilbert levantara da cama desanimado, e após se vestir para o trabalho, ele se sentou na mesa da cozinha e ficou olhando fixamente para sua xicara de café sem coragem de levá-la a boca.
- Gilbert, querido. Está tudo bem? - Anne perguntou observando-lhe o rosto completamente sem ânimo.
- Sim. Estou apenas sem apetite. – Ele fez um esforço para sorrir, e Anne percebeu que ele tentava esconder seu desconforto. Ela vinha fazendo com que ele tomasse um chá contra resfriados fortes que Marilla lhe ensinara a fazer, mas, não vinha funcionando com o costumava acontecer em Green Gables. Tanto ela, quanto Jerry e Matthew o tomavam, e não passavam mais que dois dias doentes, porém, por alguma razão que ela desconhecia, o efeito dele era nulo em Nova Iorque, e Gilbert parecia estar pior ao invés de melhorar.
- Você precisa procurar um médico. Não estou gostando da sua aparência, Gilbert
- É só um resfriado, amor. Não precisa se preocupar tanto. - ele estendeu a mão e tocou a dela que descansava sobre a mesa, e Anne sentiu-lhe a temperatura quente demais em comparação com a sua.
- Eu ainda acho que deveria ir ao médico. Por que é tão teimoso? - Anne reclamou.
- Por que realmente sua preocupação é exagero. Você deveria estar fazendo planos para nossa viagem a Avonlea, não está animada? - ele tomou seu café devagar, e Anne percebeu aflita que ele engolia com dificuldade.
- Claro que estou, mas sua saúde é mais importante. Você precisa se cuidar melhor, amor. - Gilbert fez de conta que não ouviu a última parte do comentário dela e continuou a falar como se não tivesse sido interrompido.
- Você se lembra do nosso último Natal? - ele perguntou como seus olhos perdidos em algum ponto do passado.
- Como poderia esquecer? - Anne disse aquilo, mas, não como se fosse uma boa lembrança. Ela e Gilbert não estavam particularmente felizes no Natal do ano anterior, pois ela estava tentando lidar com a ideia de seu noivo ir para a Faculdade de Nova Iorque estudar medicina, enquanto ela ficaria em Avonlea sem ter ideia de quando se veriam novamente. Eles também não tinham comemorado a entrada do novo ano, e os dias que se seguiram à partida dele foram dolorosos e sofridos. Diana viera da França para salvá-la de sua inércia naquelas semanas, e então, Gilbert voltara trazendo com ele o coração de Anne que levara dentro de sua bagagem, e o devolveu a ela intacto como o seu amor.
- Esse ano eu quero que seja diferente. Vamos fazer uma festa e tanto, e reunir todos os nossos amigos, depois, quero ajudar você a investigar sobre seus pais biológicos, e quem sabe não poderemos ver o novo ano nascer com boas novas? - ele ia continuar a falar, mas um acesso de tosse o impediu deixando-o pálido, e Anne sequer conseguiu fazer um comentário sobre os planos que ele traçara para ambos naquele Natal, pois sua preocupação por ele se triplicou.
- Gilbert, por que não fica em cada hoje? Posso avisar no laboratório que você não está bem para trabalhar.
- Não se preocupe futura Sra Blythe. Estou perfeitamente bem. – Ele vestiu o casaco grosso de lá, as luvas de couro, sua inseparável boina vermelha, e se preparava para sair quando Anne disse:
- Então, me promete que vai para o trabalho de táxi. Não quero vê-lo exposto a todo o ar frio lá fora. - Anne estava cada vez mais aflita e a teimosia de Gilbert em não ouvi-la a estava deixando zangada com ele. Por que Gilbert não podia pensar em si mesmo pelo menos uma vez?
- Está bem. Se faz tanta questão e te deixa mais tranquila, eu irei para o trabalho de táxi. - ele a beijou nos lábios de leve antes de sair, e quando Gilbert fechou a porta, ela continuou preocupada com ele como estava naquele momento.
- Ei, Anne, aqui. - Cole acenou assim que viu a ruivinha virar a esquina, e ela deixou sua preocupação um pouco com Gilbert de lado para ir de encontro ao seu velho amigo. Aquele fora outro presente inesperado que ganhara naquele Natal. Cole aceitara o emprego em Nova Iorque, e viera com Pierre fixar residência na grande metrópole Americana, e o melhor de tudo era que seu apartamento era bem perto do de Anne, e por isso, poderiam voltar a fazer várias coisas juntos de novo, e Anne não cabia em si de contentamento ao pensar que sua vida estava entrando nos eixos novamente. Ela tinha um emprego, estava noiva do rapaz mais especial do mundo, estava voltando para a Faculdade e tinha Cole perto dela novamente. Como não se sentir grata por mais aquela dádiva?
- Bom dia, Cole. – Anne disse beijando-o no rosto.
- Bom dia, minha amiga. Está preparada para ver o resultado de seu teste?
- Sim, estou cruzando todos os dedos como precaução. Espero ter conseguido a bolsa. – Anne disse um tanto nervosa.
- Ainda tem dúvidas de que vai passar? Não devia nem estar preocupada. - Cole disse colocando seu braço enroscado no dela, e levando-a em direção à faculdade.
- Não quero criar falsas expectativas e me decepcionar. Prefiro ter certeza antes de começar a comemorar.
- Como quiser, minha amiga.
- E Pierre? Já se adaptou a rotina americana? - Anne perguntou olhando para Cole.
- Pierre é um viajante do mundo. Se adapta em qual qualquer. A única coisa que tenho que convencê-lo é aprender a falar inglês. Ele não gosta muito do idioma.
- Ele aprenderá com o tempo. A convivência com o território americano acabará levando-o a isso. - Anne disse tranquilizado Cole.
- Espero que esteja certa, e que o tempo abrande aquele seu orgulho francês. – Cole disse suspirando.
- Você está pensando em passar o Natal em Avonlea? - Anne perguntou enquanto atravessavam a rua e viravam na primeira esquina que levaria à Faculdade.
- Esses são os planos. Não confirmei nada com meus pais, mas quero muito estar com eles nesse ano. E você? Vai para Green Gables?
- Era o que eu e Gilbert estávamos planejando, mas ele pegou um resfriado que está me preocupando e não sei se seria uma boa ideia viajamos com esse tempo ruim. – Anne disse séria.
- Temos ainda uma semana pela frente. Talvez ele melhore até lá.
- Espero que sim. – mas, pelo estado dele naquela manhã, ela não estava bem certa disso.
- Eles caminharam mais alguns minutos em silêncio, pois Cole pressentindo que a amiga estava tensa, deixou-a sozinha com seus pensamentos.
Anne estaca temerosa e a ansiosa por saber os resultados de seu teste. Como dissera a Cole, não queria tirar conclusões apressadas. Em sua mente, realizara uma boa prova, mas quem poderia garantir que aquilo era mesmo verdade? Quem poderia afirmar que não fora apenas empolgação demais por conhecer tão bem o escritor sobre o qual fora o tema de sua prova? Era melhor que fosse com calma para não cair das nuvens antes do tempo.
Eles chegaram finalmente aos quadros de resultados, mas Anne não teve coragem de olhar, ela pediu que Cole o fizesse, pois estava nervosa demais. O rapaz atendeu prontamente seu pedido, enquanto a ruivinha fechava os olhos e mantinha os dedos cruzados em uma prece silenciosa.
- Anne, você passou, querida! Eu não disse que você estava preocupada a toa? Agora, abra os olhos e veja por si mesma. - o coração de Anne deu cambalhotas de alegria dentro de seu peito, e ela abriu os olhos ansiosa para confirmar a notícia que Cole estava lhe dando, e os arregalou mais ainda ao ver escrito em letras destaque:
Anne Shirley Cuthbert, ganhadora da bolsa do curso de literatura em primeiro lugar.
- Cole, eu não acredito. Você viu isso! - ela gritava feito uma garotinha, no que foi acompanhada por Cole efusivamente.
- Temos que comemorar. Que tal um chocolate quente à moda de Nova Iorque? - Cole sugeriu.
- Eu aceito. - Anne disse, saindo da Faculdade de braços dados com Cole sem que o sorriso abandonasse seu rosto. Nunca se sentira tão feliz como agora.
A vida estava lhe devolvendo pouco a pouco o que perdera, e não deixaria que mais nenhuma oportunidade em sua vida passasse sem que ela tivesse explorado todas as possibilidades. Precisava contar para Gilbert o mais rápido possível. Ele também fazia parte daquela conquista, pois s acompanhara noite após noite em seus estudos, e também tinha méritos a serem considerados. Anne tinha certeza que ele torcia por seu sucesso, assim como ela torcia para que ele fosse o cirurgião renomado que sonhava em ser, e eles teriam tudo o que mereciam porque sonhavam juntos, lutavam juntos, e estavam juntos pela vida toda, e mais tempo ainda se o universo lhe desse esse presente.
Anne e Cole foram até um café no centro da cidade, e pediram dois chocolates quentes com baunilha, e os dois amigos relembraram de seu período de adolescência na casa de Diana Barry, onde riam, choravam, dividiam seus dramas naturais da idade, e sonhavam com um futuro ainda por vir.
Para onde tinham ido os anos? Anne pensou. Dos treze até os 18 anos que tinha agora não era muito tempo se pensasse bem, mas, tanta água tinha rolado debaixo daquela ponte, que ela tinha a sensação de ter vivido dez anos em cinco.
Anne se sentia mais velha do que a idade que tinha, um pouco mais sábia talvez, mais cautelosa, mas não menos sonhadora ou rica em imaginação, pois fora essa sua capacidade de criar um mundo paralelo para si mesma que a salvara no passado de sua vida sofrida, e que a trouxera para aquela cidade mágica fazendo-a florescer novamente para uma realidade encantada. Isso não queria dizer que tudo era fácil, e que todas as suas mágoas tinham ido embora do nada. Cada dia era uma luta diferente, cada segundo um novo desafio, a diferença agora era que não estava mais fugindo ou fingindo que tudo o que passara tinha acontecido com outra pessoa. Ela enfrentava suas dores com mais coragem e vontade que no passado, porque recuperara seu gosto por estar viva, e tentava fazer de cada momento uma versão melhor de si mesma.
- Anne, eu não ia falar sobre isso, mas você está bem melhor que a última vez que conversamos, por isso, creio que você não vai ficar chateada com o que vou te perguntar. - Anne olhou-o que seu rosto sorridente concordando com Cole, e assim ele perguntou:
- Como você pensa em lidar com a gravidez de Diana quando se encontrarem em Avonlea? - Anne tomou um gole de chocolate quente e pensou na pergunta de Cole por alguns segundos e então disse:
- Não vou dizer que vai ser fácil, mas, estou preparada para ver melhor amiga se tornar mãe, principalmente, porque eu acredito que tanto ela quanto Jerry serão mais felizes ainda com a chegada de seu bebezinho. Eu também quero ter um filho, não desisti desse sonho, mas, entendo que Gilbert tem razão, ainda não é o momento, eu preciso me curar de todas as minhas dores, me tornar mais forte por dentro, para então pensar na possibilidade de ser mãe. Gilbert e eu ainda somos tão jovens, e temos tanta coisa para viver e descobrir. Nossos filhos virão um dia, biológicos ou não. - Anne disse aquilo tudo com a voz tão leve que fez Cole respirar aliviado.
- Estou tão feliz que esteja pensando dessa maneira, Anne. Eu sei o quanto sofreu com tudo o que lhe aconteceu, mas finalmente está reencontrando o seu caminho. - Cole disse segurando sua mão.
- Às vezes ainda dói. Não vou mentir, mas não é mais aquela angústia sem fim como antes. Eu consigo ter fé no futuro, e tenho esperanças de que tudo o que acontecer daqui para frente será para melhor. - a ruivinha se sentia em paz pela primeira vez ao falar aquilo para alguém mais que não fosse seu terapeuta, e ela se sentiu aliviada por não ter vontade de chorar daquela vez. Ela ainda não estava curada, seu próprio médico lhe dissera aquilo. Se levava um certo tempo para que todas as coisas voltassem ao seu lugar, e sentia que estava no caminho certo daquela vez.
Quando voltou para casa, após deixar Cole no apartamento dele, Anne se lembrou de tudo o que conversaram e se sentiu tão bem que sorriu o tempo todo. Ela entrou em casa e preparou uma sopa quentinha, pois logo Gilbert chegaria, ela queria cuidar muito bem de seu amor que precisava de todo o carinho do mundo, e uma boa refeição para se recuperar completamente.
GILBERT
Quando Gilbert saiu de casa para o trabalho aquela manhã, ele está a se sentindo péssimo. A dor de cabeça o estava matando, assim como as pontadas em seu peito e nas costas, e os calafrios constantes. Ele não queria deixar Anne preocupada, e nem frustrar os planos que fizeram para o Natal, pois ela não parava de falar sobre aquilo a dias, e fora uma tremenda falta de sorte ele ficar doente daquela maneira. Logo ele que raramente se resfriava, mas, ele tinha que se lembrar que os últimos meses foram tensos demais, e Gilbert acabara se descuidando de si mesmo. Não fora somente Anne que perdera o apetite, ele também não andara se alimentando como devia, e o resultado fora uma bela gripe que o deixava tão terrivelmente dolorido e sem vontade nenhuma de enfrentar as horas de trabalho pela frente.
Na verdade, a sensação de mal-estar começara alguns dias, mas ele não dera muita importância, porque não queria estragar o momento em que ele e Anne estavam vivendo. Ele estava adorando vê-la sorrindo com vontade, às vezes até gargalhando sem ter um motivo aparente.
Sua Anne estava de volta, e desde que a trouxera para Nova Iorque, essa era a primeira vez que sentia que sua vida com ela estava realmente começando. Gilbert ia e voltava do trabalho com tanta luz em seu coração, que parecia estar vivendo um sonho a tanto tempo acalentado, mas adiado por tantos percalços nos últimos tempos.
Agora, quando Anne olhava para ele, Gilbert não tinha mais receio do que via ali, pois os olhos dela estavam tão límpidos como as águas cristalinas do mar em Avonlea, e ele podia ler com clareza cada emoção que Anne lhe transmitia. Até o silêncio dela agora era diferente, porque não era mais pesado, sofrido ou magoado. Era uma calmaria que fazia bem ao coração e que dividia sua cumplicidade do momento com ele, e desde que começaram a trilhar aquela estrada de sentimentos juntos, Gilbert se sentia verdadeiramente parte do universo que sua noiva docemente criara para si. Não havia mais nenhum hiato a separá-los, nem uma linha em branco, ou palavras desconexas. Tudo tinha um significado verdadeiro, como se a história de ambos tivesse sido reescrita novamente, mas dessa vez com um final feliz, e não como um romance trágico sobre o qual Anne lhe falara uma vez.
Gilbert acreditava no amor deles, assim como acreditava que coisas boas viriam depois que as cortinas da alma de Anne foram abertas, o brilho do sol aquecera os recantos mais frios, e a poeira da infelicidade e fora banida para uma esfera distante da deles. Ele podia ver o nascer de novos tempos naquele rosto, assim como podia encontrar tantos tesouros escondidos debaixo do tapete do esquecimento, que Anne guardara por tanto tempo dentro de uma caixa inútil e sem grandes esperanças.
Mas, a alma fora liberta, e os sonhos voltaram a dar sinal de vida, e a ruivinha renascera em meio às cinzas de suas tragédias pessoais, e Gilbert podia facilmente reconhecer naquele rosto que despertava com ele todos os dias, a garota por quem se apaixonara que costumava testar sua paciência por sua recusa em aceitar que estavam no destino um do outro, e desafiar o seu amor até o ponto de ele admitir derrota e se jogar de vez nos braços dela.
Foram tempos insanos mas incríveis. Gilbert vivia pelos dias que passavam juntos, e quando a tormenta chegara partindo seus corações, o riso fácil de Anne, sua facilidade de falar com ele sobre tudo, e seu jeito simples de fazer com que cada segundo que estavam juntos fossem especiais de alguma maneira fora do que mais sentira falta.
Porém, os momentos se estavam vivendo naqueles dias eram diferentes de qualquer outro, porque Anne não tinha mais medo de deixá-lo ver como ela era por dentro, e se Gilbert pudesse usar umas das palavras difíceis que Anne adorava acrescentar as suas falas, ele diria que surpreendente era uma escolha acertada.
Tudo em Anne passava longe do que poderia ser considerado comum. Definitivamente, normal, engraçadinho, pouco atraente eram palavras que não a definiam de forma alguma. Tudo sobre Anne devia ser elevado a um grau de importância para chegar aos pés do que ela realmente era, e as pessoas que um dia disseram a ela que Anne era menos que um grão de areia, realmente não tinham olhos para ver o ser humano valoroso que ela era, e não mereciam sequer um olhar de consideração dela, e o que Gilbert fizera para merecer aquela mulher incrível, o rapaz não sabia, mas jurou que nunca permitiria que ela ficasse longe dele de novo.
O caminho do apartamento até o laboratório durou cerca de dez minutos, bem menos do que gastava quando fazia todo o percurso a pé, mas como prometera a Anne ele pegará um táxi, e estava quase cochilando quando o motorista parou em frente do laboratório. Ele pagou a corrida, e entrou no prédio a passos lentos, desejando não ter sido tão teimoso e ter ficado em casa embaixo de enormes camadas de cobertores de lã.
Apesar de seu mal-estar, Gilbert conseguiu trabalhar boa parte da manhã, e quando o frio em seu corpo fazia seus dentes baterem, ele bebia enormes quantidades de chá quente que pareciam aquecê-lo um pouco por dentro.
Naquele dia, Jonas aparecera por lá, e ao ver Gilbert de olhos e nariz vermelhos, ele disse em tom de brincadeira:
- Cara, o que aconteceu? Parece que está de ressaca.
- Antes fosse meu amigo. Eu peguei uma bela gripe. E nunca me senti tão mal na vida.- Gilbert começou a tossir e espirrar tanto que fez Jonas dizer;
- Devia ir até o hospital.
- Não acho que seja necessário. O que preciso é de uma boa dose de vitamina C.- Gilbert disse continuando a espirrar.
- Um estudante de medicina que não se cuida não me parece sensato, meu amigo.
- Não se preocupe. Ficarei bem logo. – Gilbert respondeu sentindo de novo a pontada em sua costas enquanto tentava respirar através de seu nariz congestionado. - Como você e Dora estão? Não a vejo desde que o recesso começou. – Ele continuou falando para disfarçar seu desconforto.
- Ele me convidou para passar as festas na casa dela. Eu aceitei, mas não percebi no convite dela nada mais do que algo casual. - Jonas disse desanimado.
- Eu disse que você deveria ter paciência. Dora não é mulher que perdoa fácil, e você aprontou demais com ela. - Gilbert disse.
- Eu sei, mas às vezes eu tenho a impressão que não é apenas isso. Eu muitas vezes me pergunto se ela não está apaixonada por outra pessoa.
- Bobagem sua. Se Dora estivesse apaixonada por outra pessoa, ela já teria dito. Ela não é do tipo que faz joguinhos- Gilbert disse espirrando outra vez.
- Não se essa pessoa fosse comprometida. - Jonas olhou para Gilbert, mas o rapaz não percebeu a insinuação. Ele estava se sentindo mal demais para pensar em qual quer coisa que não fosse sua cana e Anne.
- Bem, preciso ir. O hospital necessita desses exames. – Jonas disse, assim que a assistente de Gilbert entregou a ele um envelope contendo o resultado dos exames que ele pedira. - Se cuida desse resfriado.
- Vou cuidar sim. Boa festas, Jonas. Espero que dê tudo certo entre você e Dora. - Gilbert disse tentando sorrir.
- Eu também. Boas festas para você e Anne. - Jonas disse saindo para a rua novamente.
Gilbert trabalhou mais algumas horas até o horário do almoço. Estava se sentindo um pouco melhor, e por isso resolveu dar uma volta para movimentar seus músculos da perna que estavam doloridos por conta de ter ficado horas sentado examinando amostras.
O Centro de Nova Iorque estava todo decorado para o Natal, e as ruas principais pareciam um formigueiro de pessoas que se esbarravam a todo momento enquanto faziam suas compras de Natal. Aquela cena fez Gilbert se lembrar que ainda não tinha pensado em um presente para sua garota ruiva, e assim, decidiu que aproveitaria aquele momento de folga para escolher algo apropriado e que a faria feliz.
O rapaz andou cerca de dez minutos, mas nada do que viu era bonito o bastante ou especial, e ele queria algo que fizesse os olhos dela brilharem de alegria. De repente, ele viu algo que lhe deu uma súbita inspiração, e escolheu exatamente o que achava que ela se apaixonaria ao primeiro olhar, e acertou para que fosse entregue na noite de Natal. Inspirado pela visão do rosto de Anne, ele teve uma outra ideia brilhante, e comprou um segundo presente que ele sabia que teria um grande significado para ambos.
Satisfeito, Gilbert voltou para o trabalho, e foi somente quando pisou dentro do laboratório que ele se lembrou que não havia comido nada, mas não se importou. Não estava mesmo com apetite, e apenas tomou uma xícara de café que o deixou um pouco mais animado, porém perto do seu expediente acabar, a dor nas costas e em seu peito voltaram a incomodar, e ele agradeceu mentalmente por estar indo para casa.
Assim, como fizera de manhã, ele pegou um táxi, pois não se sentia bem o bastante para percorrer a distância do laboratório até seu prédio caminhando. Não era muito longe, na verdade, mas nas condições ele que se encontrava, dois quarteirões pareciam dez quilômetros.
Quando chegou em seu andar, e abriu a porta do apartamento, sentiu um aroma delicioso vindo da cozinha e soube que Anne estava em casa e se mantinha ocupada na cozinha. Ela também estava em recesso do seu trabalho, porque naquela época do ano, a livraria ficava aberta somente para as vendas, e o departamento em que Anne trabalhava só voltaria a funcionar depois das festas. Gilbert adorara a novidade, pois tê-la em casa era sempre o melhor de tudo. Ele não se importava que ela trabalhasse, porque aquilo lhe dava prazer, embora realmente não precisassem do dinheiro, porque Gilbert ganhava muito bem no laboratório, e Sebastian sempre depositava em um banco a parte dele da fazenda, que lhe era enviada todos os meses a Nova Iorque. Porém, Anne não queria depender financeiramente dele para comprar suas próprias coisas, por isso, o salário da livraria lhe dava esse tipo de liberdade econômica, e Gilbert não queria tirar isso dela. Contudo, ele ganhara um bônus por tê-la em casa todos aqueles dias e ia aproveitar cada segundo.
- Amor, que bom que chegou. Estou preparando uma daquelas sopas que você adora. Como está se sentindo? – Anne perguntou, examinando lhe o rosto assim que veio da cozinha.
- Estou melhor. – Ele mentiu. - Acho que vou me deitar um pouco, pois o dia foi cansativo. Você se importa de me chamar assim que a sopa ficar pronta? - Ele sorriu, admirando o rosto dela corado pelo calor do fogão da cozinha no qual ela estava lhe preparando a sopa.
- Claro que não. Mas, você está bem mesmo? - ela disse desconfiada, e ele tratou logo de dizer:
- Estou sim. Vou me deitar um pouco está bem? - ele a beijou rapidamente nos lábios, e foi para o quarto sob o olhar atento dela.
Uma vez lá dentro, ele se despiu, vestiu seu pijama, e se deitou embaixo de camadas grossas de cobertor, suspirando aliviado ao sentir suas costas doloridas tocarem o colchão.
Acordou o que parecia ser minutos depois, sentindo um frio terrível, enquanto ouvia Anne dizer:
- Santo Deus, Gilbert. Você está ardendo em febre. Vou te levar para o hospital agora. - Ele sentiu a mão suave dela em sua testa, e mal conseguia falar, pois seus dentes batiam uns nos outros evidenciando os tremores violentos de seu corpo. Ele a ouviu sair do quarto, e voltar com o vizinho do lado com o qual fizeram amizade a pouco tempo, e com a ajuda dele, Anne agasalhou-o o melhor que pôde, e assim o levaram para o hospital mais próximo.
Quando chegaram lá, Gilbert foi atendido quase que imediatamente, e depois de ser examinado pelo médico de plantão, o diagnóstico dado por ele foi o que o rapaz já desconfiava, mas quisera negar, pois arruinaria todos os planos dele e de Anne para aqueles dias festivos.
- O rapaz está com uma bela pneumonia. Não poderá sair de casa por uma semana, e deverá tomar toda a medicação prescrita se quiser se recuperar rápido.
- Pneumonia, doutor? É muito grave? - Anne perguntou preocupada.
- Os pulmões estão bem comprometidos, mas, se ele seguir o tratamento direitinho, ficará bom logo. - em seguida, o médico que aparentava ter uns quarenta anos olhou para Gilbert severamente e disse; - Me admira que um estudante de medicina não saiba os sintomas de uma pneumonia. - Gilbert baixou a cabeça envergonhado, e Anne percebeu no ato que ele sabia todo o tempo, mas omitira aquela informação dela.
- Na verdade, doutor, creio que temos um garotinho mentiroso por aqui. - Ao ouvir as palavras de Anne, Gilbert sentira mais vergonha ainda, pois realmente agira como um moleque, e brincara com uma coisa séria.
- Acho que uma semana de cama será punição suficiente para esse rapaz teimoso. - o médico disse rindo da cara envergonhada de Gilbert.
- Eu vou garantir que ele só saia de lá quando realmente estiver bom. - Anne disse séria.
Desta forma, voltaram para casa, onde Anne fez Gilbert tomar um banho, comer a sopa que tinha preparado e tomar o remédio prescrito.
Após estar devidamente alimentado e medicado, Anne o fez se deitar na cama, cobrindo-o protetoramente com uma manta de lã. A temperatura dele tinha baixando um pouco, mas ainda estava alta o suficiente para fazê-lo se sentir fraco.
- Anne, você está muito brava comigo? - ele perguntou, segurando a mão dela que lhe ajeitava os travesseiros.
- Eu deveria estar. Como você pôde mentir dessa forma para mim, Gilbert? Não se brinca assim com a saúde. - ela disse se sentando na cama ao lado dele.
- Eu não queria que mudasse seus planos por mim. Você estava tão ansiosa por passar o Natal em Green Gables. - ele disse se lamentando.
- Teremos outros Natais para isso. -Anne disse tocando o rosto dele com amor.
- Mas, eu tinha prometido que procuraríamos por suas origens.
- Gilbert, minhas origens onde quer que estejam vão continuar no mesmo lugar até que procuremos por elas, então, isso não justifica você arriscar sua saúde por isso. - Anne disse brava.
- Eu sei, me desculpe. - Ele estava se sentindo péssimo, e ver Anne chateada com ele por causa de uma mentira que contara pensando na felicidade dela o fazia se sentir pior.
- É claro que desculpo, amor. Eu só não quero que faça mais isso. Você é mais importante para mim que qualquer outra coisa. - ela respondeu beijando-o nos lábios.
- Deita aqui comigo. - Ele pediu sentindo-se carente dela.
- Sim. Só esperava um instante que vou tomar banho e escovar os dentes, e volto logo. - ele assentiu e a viu sair do quarto em direção ao banheiro, e quando ela voltou ele estava quase dormindo por conta do efeito dos remédios.
Ela afastou as cobertas, se deitou ao lado dele, e cobriu a ambos novamente, trazendo a cabeça dele para perto. Logo, Gilbert sentiu o calor gostoso que vinha da pele macia dela, e adormeceu pensando que estava no paraíso.
ANNE E GILBERT
Os dias que se passaram foram relativamente ocupados para Anne, que cuidava de todos os afazeres da casa, e de Gilbert que estava melhorando aos poucos.
Ele não era um paciente difícil de cuidar como ela tinha imaginado a princípio, pois comia toda a comida que ela lhe preparava sem reclamar, e tomava todos os remédios receitados pelo médico. A única coisa que Anne notara era que ele parecia extremamente aborrecido por ter que ficar de cama, enquanto ela cuidava dele, mas não dizia nada que denunciasse seus pensamentos.
Na verdade, Gilbert estava aborrecido por ver Anne atarefada com tantas coisas para fazer, enquanto ele não podia fazer nada para ajudá-la. Além de ter arruinado seu feriado, ainda estava lhe dando trabalho por conta de sua doença. Gilbert estava acostumado a cuidar dela e não a ser cuidado, e aquela inversão de papéis o deixava aborrecido.
Anne, por sua vez estava amando cuidar dele. Gilbert nunca se mostrara tão vulnerável assim, e era a primeira vez que ele demonstrava realmente estar precisando dela daquela maneira, e para Anne aquela era sua chance de retribuir por todo o carinho e atenção que recebera dele em Avonlea, e agora ali em Nova Iorque.
Ela ficara um pouco triste por não poderem ir para Green Gables, mas também não estava achando ruim passar o Natal em Nova Iorque. Seria realmente fantástico comemorar aquela data tão linda, naquela cidade maravilhosa que a acolhera tão bem.
Ela tivera uma outra surpresa interessante naquela semana. Quando ela fora falar com Cole sobre ela e Gilbert não poderem ir passar o Natal em Avonlea por conta da enfermidade de seu noivo, Cole lhe dissera:
- Então, também não irei. Assim. poderemos passar o Natal juntos aqui.
- Mas, seus pais não vão ficar chateados? – Anne perguntou surpresa com a generosidade do amigo.
- Eles já passaram muitos Natais sem mim, e um a mais não vai fazer diferença. Eu não vou deixar minha melhor amiga e seu noivo sozinhos nesse Natal. Pierre não vai se importar, e podemos preparar a ceia juntos. O que acha? - Cole disse animado.
- Eu vou adorar. - Anne disse abraçando-o com carinho.
Ela voltara para casa, e contara para Gilbert a novidade, e ele pareceu se animar um pouco, o que a deixou feliz. Anne também contara a ele sobre sua aprovação no teste da faculdade, e apesar é tê-la abraçado, beijado e dito que estava feliz por ela, Gilbert continuou bem abatido pelos dias que passaram.
Na véspera de Natal, ela acordara cedo, preparara o café da manhã de Gilbert, e assim que ele despertou, Anne o fez comer todo o desjejum e tomar os remédios necessários. Depois se arrumou para sair e disse:
- Gilbert, eu vou sair um pouco, pois combinei com o Cole de comprar o que ainda falta para a ceia. Você se importa de ficar um pouco sozinho? - ela o viu piscar várias vezes, imaginando que ele deveria estar com sono de novo, pois os remédios tinham esse efeito sobre ele. Assim verificou a temperatura dele, percebendo que ele estava um pouco febril e suspirou aliviada, pois aquela era a primeira vez na semana que a febre dele não estava alta.
- Promete que não vai demorar? - ele disse manhoso e ela riu ao pensar que ele ficava lindo naquela versão de garotinho carente. Gilbert não lhe dava trabalho nenhum como paciente, mas no quesito carência, ele já tinha ultrapassado a cota da semana, mas ela não ligava. Adorava vê-lo, mesmo que temporariamente, dependente dela, quando sempre fora o contrário.
- Não vou demorar. - ela disse, beijando-o na testa e saindo do quarto, mas antes, de sair para o dia frio e nublado de Nova Iorque, ela deu uma olhada ao redor do apartamento, e riu feito uma garotinha ao olhar feliz para a árvore de Natal que ela e Cole montaram na sala sob a supervisão de Pierre e Gilbert que dormiu quase todo o tempo, mas quis ver o resultado final. Anne viu os olhos dele marejarem, e teve certeza de que ele se lembrou do pai, pois dias antes ele lhe contara que era tradição na fazenda dele em Avonlea armarem a árvore de Natal juntos. Ao ver aquele rosto tão amado triste, Anne se aproximou, o beijou no rosto e disse:
- Eu te amo. Estou aqui e esse será o primeiro de muitos Natais que vamos passar juntos como um casal de verdade. - ele não dissera nada, mas a abraçava apertado, mostrando-lhe o quanto as palavras dela o emocionaram.
Anne encontrou Cole em frente do apartamento vestido com seu casaco de lã preto, especialmente vindo de Paris, e sua boina também preta que fazia um lindo contraste com seu cabelo loiro, e Anne pensou divertida que se o amigo se interessasse por garotas, arrasaria milhares de corações com seu rosto de ator de cinema.
Ambos passaram momentos divertidos junto, compraram todos os ingredientes que utilizaram na ceia daquela noite, e depois pararam para comprar algodão doce que Anne adorava, e o qual devorou em poucos segundos.
Em seguida, entraram em algumas lojas, onde ela ajudou Cole a comprar presentes que enviaria para sua família em Avonlea. Os dela, Anne já tinha enviado no começo da semana pelo correio, com uma carta explicando porque ela e Gilbert não passariam o Natal com Matthew e Marilla como planejado antes. E então, ela voltou para o apartamento, pois estava na hora do almoço, e Gilbert precisava se alimentar e tomar sua medicação no horário correto.
Quando abriu a porta do apartamento e foi para o quarto ver como Gilbert estava, ela parou de repente ao ver quem estava lá com ele.
Gilbert parecia dormir, e Dora estava sentada ao lado dele, e para a consternação de Anne, ela acariciava o rosto de Gilbert sem que ele notasse, pois seu sono era profundo.
Anne sentiu um nó no estômago ao ver a ousadia da garota dentro do apartamento deles, tocando o noivo dela como se tivesse algum direito.
Ela ficou entre disfarçar o que tinha visto, e deixar que Dora percebesse que ela tinha presenciado sua demonstração de amor em silêncio por Gilbert. Anne optou pela segunda opção. Não tinha sangue de barata, e embora Dora fosse amiga de Gilbert e a tratasse bem, Anne ia mostrar sutilmente que ela estava perdendo tempo com seu amor platônico por ele, pois ela nunca teria Gilbert de forma nenhuma.
- Que surpresa, Dora. Está aqui a muito tempo? - Anne disse sem sorrir, olhando diretamente para a garota, que se levantou da cama correndo e deixou cair o termômetro que segurava.
- Oi, Anne. Não faz muito tempo não. Fiquei sabendo por Jonas que Gilbert estava doente, e vim fazer uma visita a ele antes de viajar para a casa de minha família hoje. Ele abriu a porta e me deixou entrar. Então o fiz voltar para cama, pois ele parecia bastante febril. Estávamos conversando e ele adormeceu, assim, eu aproveitei para verificar-lhe a temperatura. – Ela falava depressa como se quisesse convencer Anne de suas palavras, mas a ruivinha fez questão de fazê-la entender que ela a tinha visto tocando o rosto de Gilbert.
- Eu vi. - a voz soou seca, e Dora percebendo a situação embaraçosa na qual se encontrava disse rapidamente:
- Acho melhor eu ir embora.
- Eu também acho. Gilbert precisa descansar, e já recebeu visitas demais por hoje.
- Claro. – Dora disse sem graça.
Anne a acompanhou até a porta, e disse antes de ela ir embora – Obrigada por vir. Você sabe o quanto Gilbert aprecia sua amizade. - ela fez questão de frisar bem a palavra amizade, para que Dora entendesse que não tinha nenhuma chance ali. A garota apenas sorriu e disse tristemente;
- Feliz Natal, Anne.
- Feliz Natal, Dora
Assim que a garota lhe deu as costas, Anne fechou a porta, se sentou no sofá da sala suspirando. Estava orgulhosa de si mesma por ter mantido a compostura enquanto dentro dela o ciúme por ver outra garota colocando as mãos em seu noivo entrava em ebulição. Esperava que com suas palavras ditas ainda a pouco, Dora tivesse entendido o recado, e não se atrevesse a fazer mais nada para se aproximar de Gilbert, ou Anne a faria conhecer o sangue quente de uma ruiva.
Ela acordou Gilbert uma hora depois, assim que o almoço ficou pronto, e ele perguntou:
- Faz tempo que chegou?
- Faz uma hora mais ou menos.
- E quando chegou você encontrou a Dora?
- Sim, mas ela logo foi embora, pois disse que ia viajar para a casa dos pais. - a voz dela era neutra, pois não queria que Gilbert soubesse do incidente que acontecera ali.
- Que pena! Nem me despedi dela. Acabei dormindo. Parece que é só o que tenho feito. - ele reclamou aborrecido.
- É compreensível. Você tem tomado muitos remédios. Mas, logo estará em forma de novo. - Anne disse tocando-lhe os cabelos.
- A que horas vai começar a fazer a ceia? Eu gostaria de ajudar.- ele disse esperançoso.
- De jeito nenhum. Você vai ficar bem quentinho aqui. Cole virá com Pierre me ajudar, não se preocupe. - Anne viu o olhar triste de Gilbert e o abraçou com carinho, tentando arrancar-lhe um sorriso
- Amor, não faz essa cara. Isso é para o seu bem. Eu sei que está frustrado com essa situação, mas logo você estará bem de novo. - Gilbert não sorriu, mas se mostrou menos contrariado quando Cole e Pierre apareceram para começarem a trabalhar na ceia.
Anne ficou feliz que Pierre já conseguia se comunicar com ela e Gilbert um pouco mais e inglês. Cole lhe contara que ele havia se matriculado em uma escola para aprender o novo idioma, e estava se saindo bem, apesar de sua falta de empatia com a língua.
Eles terminaram tudo em menos de três horas, e então, Pierre e Cole voltaram para o apartamento deles para se arrumarem para a celebração. Anne e Gilbert fizeram o mesmo. A ruivinha ficou impressionada com a beleza de Gilbert em uma calça preta a camisa vinho escura que deixava sua beleza morena em evidência. Ele também ficara impressionado ao ver Anne usando um vestido champanhe, deixando os cabelos soltos caindo pelos ombros, e com aquele sorriso que a fazia ser comparada por ele com um anjo,
Ele riu internamente ao pensar na surpresa que preparara para ela enquanto dizia com a voz rouca:
- Temos mesmo que receber convidados? Não podemos cancelar tudo e ter uma comemoração apenas para nós dois? - Anne enrubesceu com o olhar intenso dele, pois sabia o que havia por trás daquela palavras. Fazia Uma semana que não faziam nada além de dormirem juntos, e era de se esperar que a tensão sexual entre eles estivesse no auge.
- Amor, Nossa noite vai ser incrível. – Ela disse disfarçando as sensações inquietantes que faziam deu corpo reagir ao som daquela voz.
- Tenho certeza disso. - a insinuação estava ali de novo, clara como água. - mas, então a campainha tocou, fazendo Anne ir abrir a porta e receber seus convidados que estavam vestidos elegantemente para a ocasião.
Perto das dez horas, a campainha soou novamente e Gilbert pensou consigo mesmo que estava bem na hora, e que Anne teria finalmente a surpresa que preparara para ela a uma semana. Ela abriu a porta, pensando em quem poderia ser, quando se viu frente a frente com um rapaz que tinha uma caixa grande nas mãos. Ele sorriu ao vê-la e disse;
- Entrega para a Srta Anne.
- Sou eu mesma. Obrigada. - ela disse ao pegar a caixa que tinha vários furinhos do lado. Quando se virou, ela olhou para Gilbert, viu o sorriso maroto dele e percebeu que aquilo era obra dele. Ela tirou a tampa e seus olhos brilharam cheios de lágrimas ao ver o filhotinho branco adormecido, e com um gorrinho de Papai Noel na cabecinha de pelos macios.
Anne pegou o cachorrinho no colo, sentindo o corpinho quente, e se encantando com os olhinhos cor de mel que a encaravam confiantes.
- Gilbert-, por que não me disse? - ela acariciava as orelhas do animalzinho que já parecia estar totalmente à vontade com sua dona.
- Se eu te contasse estragaria toda a surpresa, e você sabe o quanto eu adoro te surpreender. - Gilbert disse feliz por ela gostado do presente.
- Ele é lindo, Anne. - Cole disse observando o cachorrinho todo branco sem nenhuma manchinha de outra cor em seu pelo espesso. – Qual é a raça dele? - Cole perguntou olhando para Gilbert.
- É um filhote de maltês. Gilbert respondeu adorando ver Anne tão feliz. Ele tinha realizado um desejo dela de infância, e aquilo o fazia se sentir incrivelmente eufórico.
- Podemos ficar com ele? - Anne perguntou sabendo das restrições das normas do prédio a respeito de animais nos apartamentos.
- Eu conversei como síndico e ele me disse que não tem problema desde que o animal seja pequeno, e cuidemos para que ele não incomode os outros moradores. Como pretende chamá-lo? - ele perguntou, e Anne pensou um pouco, e logo se decidiu dizendo:
- Milk.
- Não teria pensado em um nome tão apropriado e original. - Cole disse rindo se referindo a cor toda branca do cachorrinho.
- Obrigada, meu amor. Este é o presente mais lindo que recebi na vida. - ela foi até Gilbert e o beijou.
- Você me fez um pedido tão carinhoso no outro dia, que resolvi atende-lo no Natal. - Gilbert disse tocando o rosto dela com ternura e Anne lhe sorriu.
Assim, passaram horas agradáveis juntos naquela data especial. A ceia foi servida, e eles se deliciaram com cada comida preparada para aquela ocasião. À meia noite trocaram os presentes, depois jogaram monopólio como nos velhos tempos, e se divertiram a valer
Uma hora depois, Cole e Pierre se despediram e foram oara casa. Anne deu uma olhada no cachorrinho que dormia tranquilo na cestinha onde Anne o colocara com um potinho de água e comida do lado. Em seguida, ela foi ao encontro do homem que amava, e que estava adormecido naquele instante. Ela o observou dormir por um instante, em uma calmaria que lhe relaxava as feições bonitas e o deixava tão parecido com um menininho que fez seu coração suspirar mais uma vez naquela noite.
Ela então se despiu, e se deitou com ele, vestida apenas com uma camisola de seda branca, e logo também. Adormeceu embalada pela respiração de Gilbert que entrou em sincronia com a sua. No meio da madrugada, ela acordou sentindo as mãos quentes de Gilbert deslizarem por sua pele que formigava pelas sensações que somente o seu noivo conseguia provocar-lhe. Ele lhe tirou a camisola enquanto dizia sem tirar os olhos do rosto dela:
- Tão linda. - as carícias foram trocadas intensamente, enquanto Anne pensava em como poderia resistir aquele fogo que consumia sua alma, e que a fazia se virar para Gilbert implorando silenciosamente que ele não parasse nunca. Ele disse a que ela o enfeitiçava, mas ele não percebia que ela era totalmente seduzida, quando ele a olhava daquele jeito que a fazia se sentir tão única e especial. Suas peles estavam suadas por conta do calor das cobertas, e de seus próprios corpos que liberavam energia pura. Anne acariciou o peito de Gilbert, e depois deixou que ele a envolvesse naquele ritmo quente nos dedos dele que sabiam exatamente o que fazer para deixa-la louca por ele. A temperatura do corpo de Gilbert, que antes estava levemente alterada por causa de seu estado ainda febril, se elevou tanto que fez Anne se afastar por um instante para olhá-lo nos olhos. Ela queria resistir, pois sabia que Gilbert ainda estava enfermo e precisava descansar, mas os protestos dela foram abafados por mais beijos quentes que confundiram completamente sua cabeça, e ela não conseguiu dizer mais nada, pois toda a paixão que sentia por Gilbert parecia quase insana aquela noite. Assim, ele a amou com volúpia que aquela mulher linda e tão vibrante provocava em seu íntimo. Gilbert a queria inteira, cada gota de seu sangue, cada lágrima, cada sorriso ou olhar, ele a queria assim em seus braços pela vida inteira, ele a queria para além da eternidade.
Duas almas apaixonadas se uniram novamente naquela noite especial, enquanto seus corpos falavam a linguagem dos amantes, seus corações renovaram as promessas que tinham feito a muito tempo atrás, e que sempre os fariam se lembrar da força do sentimento que os embalara até ali. Seus beijos se tornaram mais ardentes, e seus corpos entraram em estado de alerta quando atingiram o grau mais alto de seu desejo. O prazer veio acompanhado da sensação de satisfação plena, de entrega total, e em seguida eles se abraçaram completamente relaxados.
Ainda com o olhar preso no dela, Gilbert abriu uma gaveta e de lá pegou uma caixinha que ao abri-la, Anne pôde ver o que havia dentro, e isso a fez prender a respiração em expectativa. Gilbert estava sorrindo quando pegou uma das aliança de ouro que estava na caixinha, e disse a Anne:
- Quer ser minha esposa até que tornemos tudo isso oficial? - Anne também estava sorrindo quando respondeu:
- Eu já sou sua esposa em meu coração. Pensei que já soubesse disso.
- Eu sei, mas eu queria algo que realmente simbolizasse nossa união que para mim será para sempre.
- Para mim também. E por isso, eu aceito ser sua esposa agora e sempre. – Gilbert beijou a mão dela antes de colocar a aliança em seu dedo, e ela fez o mesmo com a dele.
- Quero que a use junto com o anel de opala que te dei, até que eu te veja entrar em uma igreja em Paris toda linda vestida de noiva, e possamos eternizar esses votos que estamos fazendo agora simbolicamente.
- Eu te amo, Gilbert Blythe. Será que um dia você vai conseguir ver o quanto? - ela sorria tão maravilhosa ali a seu lado, que Gilbert teve certeza que nunca tinha visto coisa mais linda que aquela.
- Eu posso senti-lo em cada parte de mim porque você está aqui para sempre. – Ele disse apontando para o coração, e de novo se beijaram, sentindo que a vida os estava unido para sempre naquele instante
Muito mais tarde, ainda envolvida pelos braços protetores de Gilbert, a garota ruiva sorriu e adormeceu em seguida, olhando para a aliança que representava cada parte daquele homem que lhe dera tanto naquela e em muitas noites em que estiveram juntos e se sentiu infinitamente feliz e amada
l
-
-Mais uma leitora me pediu para divulgar sua história, caso queiram conferir o link é:
https://my.w.tt/tBXJe2ZeM6
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