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Capítulo 80- Mais um desejo, outro sonho


Caros leitores, Espero que gostem deste capítulo, e espero que me desculpem caso fiquem decepcionados com ele, confesso que não estava muito bem para escrevê-lo, mas o fiz mesmo assim, pois não queria deixá-los sem a atualização da semana. Espero pelos comentários que sempre me incentivam a continuar esta história com personagens tão inspiradores. Desculpem por qualquer erro ortográfico. Muito obrigada. Beijos.



GILBERT

A chuva fina que caía pela cidade de Nova Iorque tornava o panorama da cidade digna de um cartão postal. As árvores pareciam mais verdes, bebendo agradecidas cada gota que tocava suas folhas, aliviando a secura do outono, e início do inverno, enquanto várias pessoas pegas de surpresa pela mudança de tempo improvável, tentavam se esconder como podiam dentro de seus casacos, e outras mais atentas aos noticiários noturnos que ouviam em seu rádios à noite, enfeitavam as ruas com suas sombrinhas coloridas.

Gilbert fazia parte desse cenário e sorria de orelha a orelha  ao respirar o ar fresco que a chuva trazia, levando embora a poluição emitida por carros e meios transporte dentro de uma cidade grande. Ele se lembrou de sua fazenda, e enquanto esfregava suas mãos enluvadas em uma tentativa de aquecê-las um pouco mais, seu sorriso se alargou ao pensar que logo ele e Anne estariam indo para Avonlea encontrar suas famílias, e passar as festas de fim de ano com elas.

Gilbert sentia falta daqueles campos verdes, apesar de não ter dentro de si o espírito de um verdadeiro fazendeiro, ele amava a vida simples do campo, os vizinhos que conhecia desde sempre, e os amigos com quem crescera e dos quais somente se afastara para ir à faculdade.

Ele estava com saudades das tardes de domingo que passavam na praia no verão, os jogos de xadrez que jogava com Muddy e Sebastian, de sua irmãzinha do coração que a essa altura já tinha crescido um pouco mais e deveria estar distribuindo suas peraltices pela fazenda, deixando Mary de cabelo em pé, e fazendo Sebastian estufar o  peito de tanto orgulho.

Em Nova Iorque a vida passava rápida demais, e quando se piscava os olhos, uma semana inteira já havia se passado, e nem todas as atividades que precisavam ser realizadas eram terminadas, tornando-se cumulativas para a outra semana.

Gilbert passou as mãos pelos cabelos úmidos por causa da chuva. Ele usava uma capa que protegia suas roupas, mas não conseguia impedir que seus cachos se molhassem um pouco, e realmente ele não se importava. Gilbert gostava da sensação de frescor que a chuva lhe dava, fazendo-o pensar em recomeços e novas ideias. Era como se depois de um dia assim, quando o sol finalmente voltava a brilhar, um novo ânimo ressurgia fazendo brotar novas esperanças dentro do coração.

Além da chuva que ele amava, aquela semana estava tendo um gosto especial. Sua visita ao terapeuta de Anne fora muito importante para que ele confrontasse suas dúvidas e expectativas a respeito de seu relacionamento com ela. Desde que se curara da amnésia, sua vida tinha se tornado uma sucessão de culpas promessas com as quais estava sendo difícil de lidar. Gilbert finalmente compreendera que era apenas humano, e que tentar salvar Anne todos os dias de sua dor não era uma tarefa que cabia à ele. Ele podia apoiá-la, mas nunca impedir que ela se sentisse magoada por coisas que ainda viviam dentro dela. Amar alguém também implicava se abster de qualquer ato impossível de reparação quando não havia nada que se pudesse fazer para curar um coração partido. Anne teria que encontrar sozinha o seu caminho de volta para a luz, e ele poderia apenas segurar-lhe a mão e impedir que desistisse de si mesma, e qualquer coisa além disso seria arriscado demais. Gilbert estava aprendendo a dar tempo ao tempo e confiar que a cura viria cedo ou tarde, e que ele e Anne realizaram juntos tudo o que planejaram um dia.

Anne estava bem melhor do que quando chegará ali. Ela sorria mais vezes, voltara a escrever, e Gilbert até a pegara cantando no chuveiro. Ele achara adorável sua voz musical e afinada, e isso o fez se lembrar do coral de Natal que ela o fizera participar em seu último ano na escola de Avonlea.

Ele nunca gostara muito de cantar, mas participara porque ela insistira, e nunca se arrependera, pois ver os olhos dela brilhando enquanto entoava cantos natalinos junto com toda a escola, e segurava na mão dele fora a lembrança mais bela que tivera daquele dia, e nunca se esqueceria da beleza angelical de Anne e seus cabelos brilhando sob as luzes de Natal. Essas eram memórias lindas que vinham se juntando a tantas outras de igual importância, e que se acumulavam em sua bagagem e experiência de vida. Nem tudo com o que ele havia sonhado estava acontecendo como desejara, mas aceitar que as coisas mudavam conforme o vento do destino soprava sobre eles, era outro ponto sobre o qual Gilbert estava aprendendo a ponderar.

E Anne vinha se esforçando e muito para que o relacionamento de ambos continuasse em um ritmo mais sadio. Ela estava mais leve, e mais divertida, e sua fisionomia ganhara um brilho especial que não estava ali a meses. A ruivinha também estava aprendendo a deixar que o fardo do passado ficasse onde deveria estar, e tentava ver o futuro com outros olhos, assim como tentava superar certas dificuldades internas, e dividir com Gilbert tristeza e mágoas mal resolvidas.

Outro dia no café da manhã ela lhe contara da vontade que tinha de voltar a investigar sobre suas origens, e que fora discutida com seu terapeuta durante uma das sessões daquela semana. Era um desejo antigo que ficara relegado ao esquecimento por conta dos acontecimentos, conturbados que tomaram conta da sua cabeça, desgastando toda a sua energia física e mental, mas que nunca deixara de ser um ponto importante em sua vida. Anne queria muito saber sobre seus pais, se ela tinha parentes vivos ou se poderia encontrar pessoas que foram ligadas à eles em vida quem pudessem lhe dar algum tipo de informação.

- Eu sei que deve haver alguma pista sobre eles em algum lugar, mas não sei por onde começar. - ela dissera enquanto passava geleia em uma torrada e se servia de café.

- O orfanato onde você viveu antes não tem esse tipo de informação? - Gilbert olhou para ela por cima de seu copo de leite.

- Eles tiveram um grande incêndio a alguns anos atrás, e muitos documentos se perderam. Quando eu era criança perguntei à madre superiora se ela sabia o nome de minha mãe, e ela me disse que era Sarah, mas descobri em minhas investigações de sete meses atrás que seu nome verdadeiro era Berta e do meu pai Walter, e isso foi a única coisa que consegui apurar naquela época.

- Por que ela mentira para você? - Gilbert perguntou intrigado.

- Não sei, talvez por compaixão, por não saber realmente a verdade e não querer me deixar sem uma resposta. A madre superiora era bastante rígida e austera, mas naquele lugar era a única que parecia se importar com os órfãos famintos e carentes de amor daquele lugar, e não me  parecia uma pessoa capaz de mentir deliberadamente apenas para enganar uma garotinha como eu era na época.

- Deve ter sido difícil para você viver sob um teto tão frio e sem afeto. - Gilbert disse, pegando.na mão dela sobre a mesa e beijando-a de leve.

- Sim, você não tem ideia. Não era somente o fato de ser órfã, mas sim maneira como eu era tratada. Eu vivia me defendendo das crianças mais velhas que zombavam das minhas sardas, e cabelo ruivo. Eu era chamada de cenoura, Mortícia ruiva, por conta da minha pele branca, ratinho, e tantos outros nomes dos quais não quero nem me lembrar. Vivi nesse ambiente nocivo por anos, onde as freiras não se cansavam de nos lembrar que estávamos ali por caridade, e que se não fosse pelo convento, morreríamos de fome e de frio, como se a comida que nos davam fosse farta. Dividíamos tudo, até nossos cobertores e dormíamos amontoados para que as noites frias de inverno fossem menos impiedosas. É por isso que odeio tanto o inverno, pois tenho a sensação de estar sempre gelada até os ossos. - Anne baixou a cabeça suspirando como se tentasse encontrar forças para continuar seu relato, enquanto Gilbert a encarava chocado.

Ela nunca lhe contara muito sobre seus anos no orfanato, e somente naquele momento ele entendia porque. Gilbert sempre imaginara que a vida dela tivesse sido difícil dentro de um ambiente onde o abandono estava impregnado em cada canto, em cada parede, em cada tijolo de construção que mantinha aquele lugar em pé, mas pelo que ela lhe relatara, tinha sido intolerável e insuportável, e lhe doía saber que aquela garota maravilhosa tivesse sido submetida aquele tipo de tortura psicológica. Agora ele podia compreender a personalidade complexa dela um pouco mais, e entender porque ela sempre tivera por trás de seus olhos lindos uma sombra que se manifestava em momentos inesperados, e ali estava a explicação para aquela tristeza súbita e que não combinava de jeito nenhum com seu jeito jovial de encarar sua vida, traçando seus sonhos, descobrindo seu caminho mesmo depois de ter tropeçado em tantas pedras ao longo de sua caminhada.

Ainda assim, Anne sempre estava disposta a ajudar os seus amigos, dando sua cara a tapa e desafiando as regras mais injustas e duras, e nunca deixara ninguém ver que dentro de si ela gritava por uma justiça a qual não tivera acesso desde que nascera.

Uma raiva súbita tomou conta dele, ao imaginar a garotinha sofrida que ela fora sem ter ninguém que a abraçasse e dissesse que era amada. Ele olhou para a mulher sentada à sua frente, o olhar baixo cheio de um passado de privações, e se perguntou como alguém poderia querer machucar uma flor tão delicada e de um perfume inigualável? A beleza dela não tinha comparação, pois vinha de sua alma pura como os lírios que ele espalhara sobre a cama no outro dia, e sobre os quais ele a amara cheio de uma elevação espiritual, e veneração por aquela garota que era tão singular. Anne não merecia ter passado por experiências tão dolorosas, e que a deixaram marcada em brasa. Ela merecia bem mais do que o mundo lhe oferecera desde então, mas ele garantiria que dali para frente às coisas fossem diferentes. Talvez ele não tivesse como mudar a forma como Anne vivera seu passado, mas esperava ter discernimento o suficiente para ajudá-la  a tornar o seu futuro um lugar pleno de esperanças, de dias ensolarados e sem tempestades.

- Você nunca tinha me contado nada sobre isso antes. - Gilbert comentou ainda segurando a mão dela, e acariciando seus dedos devagarinho.

- Eu sei. Talvez porque temesse que se eu abrisse a porta do meu passado e te permitisse entrar, você passaria a me olhar de outra maneira, e se decepcionasse com quem realmente sou. - ela disse sem desviar olhar.

- É quem você realmente é?

- Uma vira lata sem sobrenome, um rosto anônimo na multidão que passaria despercebida pela vida, se não fosse por Matthew e Marilla que me deram meu primeiro e único lar de verdade. – Anne disse com aquela sua sinceridade usual que Gilbert achava maravilhosa.

- Nunca mais chame a si mesma de vira lata. Você tem muito valor, e o fato de ser órfã não a torna menos preciosa a meus olhos. Eu apenas sinto muito por suas cicatrizes e gostaria de ter estado lá com você para provar a aquele bando de covardes que a magoaram, que você nunca precisou deles para ser quem é, pois você tem luz própria e brilha por si mesma. - Anne sorriu-lhe abertamente, e Gilbert a fez se levantar e sentar em seu colo enquanto dizia.

- Você é maravilhosa. Nunca permita que alguém lhe diga o contrário. Você é minha Anne com e. É tão linda que poderia fazer qualquer homem perder a cabeça por você, por isso, me sinto feliz por ter sido o escolhido para viver a seu lado o resto dos meus dias.-  Anne beijou-o devagar, deixando que sua emoção falasse por si só, e depois respondeu com as mãos em seu ombro:

- Eu nunca precisei escolher, pois você sempre esteve presente em meus sonhos de menina.

- Obrigado por compartilhar sua história comigo. – Anne afastou um fio de cabelo da testa de Gilbert e respondeu:

- Eu precisava te contar, não quero mais ter segredos e nem enterrar dentro de mim coisas que não me fazem bem. Desejo que tenhamos uma relação sadia, sem culpas excessivas e dores no coração.

- Eu acho que começamos bem, não é? - ele a olhava com adoração, pois quanto mais a observava, mais linda Anne ficava, sem contar que o seu sorriso era o mais perfeito do mundo.

- Tem mais uma coisa que nunca te contei. Eu sempre quis ter um cachorro, mas nunca me foi permitido no orfanato, e quando fui para Green Gables, também não pude ter um, pois Marilla não permitiria.

- E por que está me contando isso- Gilbert perguntou rindo.

- Não sei. Acho que quis que me conhecesse melhor sem as ilusões que o fazem pensar que sou perfeita, quando na verdade sou igual a todas as garotas da minha idade, com sonhos e desejos comuns. - Ela brincava com um cacho de cabelo de Gilbert e ele lhe respondeu:

- Você é perfeita para mim, até suas imperfeições são adoráveis, e nada vai mudar a ótica do meu coração. - Anne sorriu apenas com os lábios e encostou sua testa na dele. Gilbert adorava quando Anne fazia isso, pois seus olhos ficavam tão próximo aos dele, dando-lhe a sensação de que podia mergulhar na alma dela, e desvendar cada segredo que ela ainda teimosamente tentava  esconder dele.

- Gilbert, eu sei que seus planos não estão saindo como o esperado, e me desculpe se sou em parte responsável por isso, mas quero que saiba que estou me esforçando, e vou ser a esposa que você tanto deseja.

- Anne, você é a esposa que desejo. Não mudaria nada em você, nem um fio de cabelo e nem uma sarda. Se você pudesse se ver pelos meus olhos saberia que nada no mundo me faria amá-la menos. Estamos enfrentando momentos complicados em nossas vidas, mas, construir um relacionamento com alguém todos os dias é um desafio necessário, e eu não espero que seja sempre fácil, e nem que seja um mar de rosas, mas temos algo a nosso favor. Temos um ao outro e isso é mais do que a maioria das pessoas têm, e eu não vou desistir de você nunca, e nem da gente, eu não poderia. - seus braços estavam no ombro dela, e seu polegar tocou o queixo de Anne devagar.

- Eu também não vou desistir da gente, e não mudaria nada em nossa história, e a reviveria mil vezes apenas para tê-lo aqui tão perto de mim. - eles se beijaram daquele jeito em que dois corações se encontram por um breve momento, e depois se separam tendo certeza de que a próxima vez sempre seria melhor que a última. Quando se afastaram, Gilbert perguntou:

- Eu vou te ajudar a procurar por suas origens. Podemos fazer isso quando formos para Avonlea passar as festas de fim de ano. O que acha? - Anne ficou em silêncio por um segundo, fitando-o como se não soubesse o que dizer, mas, logo ela respondeu com uma lágrima solitária escorrendo por seu rosto.

- Obrigada, Gilbert. Eu não sei como te agradecer.

- Você não precisa agradecer, amor. É a sua história e vamos resgatá-la juntos - Anne assentiu sorrindo, e depois olhando-o divertida, ela perguntou:

- Posso te fazer mais um pedido? -

- Claro- Gilbert respondeu tentando imaginar o que se passava na cabeça dela para fazê-la sorrir daquele jeito.

- Será que podemos ter um cachorro? - Gilbert não pode deixar de rir ao ouvir a pergunta de Anne e respondeu;

- Acho que podemos pensar no assunto. – ele estava feliz por ver que Anne estava voltando aos poucos a ser o que era.

É era sobre isso que Gilbert ainda pensava, enquanto caminhava rumo ao trabalho dela. A chuva tinha engrossado e ele começou a caminhar mais rápido, assim como várias pessoas que passaram correndo por ele tentando se proteger do aguaceiro a qualquer custo.

Como sua faculdade estava de recesso, pois o fim do ano se aproximava, Gilbert começara a trabalhar no período da manhã, assim, poderia passar mais tempo com Anne. Se ela passasse no concurso de bolsas para a faculdade no dia seguinte, ela também teria que trocar seu horário de trabalho para o período da tarde, mas Gilbert estava feliz por isso, pois poderiam voltar do trabalho juntos, e se encontrar no horário de intervalo da faculdade.

O rapaz respirou o ar fresco novamente, e andou mais alguns passos até alcançar a livraria onde Anne trabalhava, e entrou ajeitando os cabelos com as mãos. Naquele exato momento, um bando de crianças risonhas saíram da sala de leituras com os olhos brilhando encantadas com a história que acabaram de ouvir. Então, Anne surgiu, toda vestida de princesa em um vestido azul de cetim que chegava até os seus pés, as mangas eram bufantes e lhe trouxeram lembranças de um outro momento vivido junto com ela, e nos cabelos ela tinha uma tiara de cristal. Anne parecia ter saído de um conto de fadas, e Gilbert se recordou de livros que lera onde uma princesa encantada era a figura principal. Anne bem que poderia ser uma dela, pois seu rosto angelical parecia pertencer a outro mundo, e seu andar suave lhe dava um certo ar mágico, que lhe dava uma graça natural.

- Querido, não sabia que viria até aqui hoje, e com esse tempo. - Anne disse ao se aproximar dele colocando uma das mãos em seu ombro.

- Eu não poderia perder a princesa Cordélia em ação. – Gilbert se aproximou mais olhando-a de cima a baixo, encantado com sua figura brilhante naquele dia chuvoso.

- Você gostou? Não acha que ficou exagerado? – Anne perguntou, olhando-o com cara de dúvida.

- Você está fantástica. Nada em você fica exagerado. Qualquer coisa que vista vai deixa-la mais linda do que já é – Gilbert respondeu olhando-a apaixonado. – Eu tenho uma princesa em casa e não sabia.

- Pare de zombar de mim. Você me deixa encabulada. - Anne disse com o rosto corado.

- Estou sendo sincero, amor. Te olhar assim, me faz sentir como se eu estivesse dentro deu um daqueles contos magníficos infantis.

- Você parece propenso a elogios hoje, e por isso, vou aceitar suas palavras galantes. Mas, você ainda não me disse o que veio fazer até aqui?

- Vim te buscar para almoçarmos juntos. Terminei todo o trabalho do laboratório mais cedo hoje, e por isso já posso ir para casa. - ele sorriu para ela enquanto colocava uma mecha de cabelo dela atrás da orelha.

- Quer dizer que terei você o resto do dia para mim? - ele balançou confirmando, e ela deu-lhe um beijo no rosto dizendo baixinho em seu ouvido. - Isso sim é o paraíso para mim.

- É o meu também. – Ele respondeu com seus olhos acariciando-a.- Estava pensando em te levar e. um pequeno restaurante perto daqui onde servem uma sopa italiana maravilhosa.

- Eu aceito. O dia está mesmo propício para uma sopa quentinha.

- Princesa Cordélia. – uma vizinha infantil os interrompeu, e Gilbert olhou para baixo onde enxergou uma garotinha loira com os cabelos cacheados que lhe chegavam até a cintura. Seus olhos verdes completavam o conjunto, fazendo-a parecer um anjo ao sorrir exibindo seus dentinhos muito brancos.

- O que é,  Marcele? - Anne perguntou, se ajoelhado ao lado da garotinha.

- Pode me fazer uma dedicatória nesse livro que minha mãe acabou de comprar?

- Claro, meu amor. – Anne respondeu, pegando o livro da mão da garotinha, escrevendo algumas palavras, e assinando como princesa Cordélia.

Gilbert assistiu toda a cena com a respiração suspensa, observando todas as reações de Anne que beijava a garotinha no rosto ao se despedir. Ela se levantou e olhou para Gilbert sorrindo, e o rapaz examinou lhe o rosto para ver se havia algum vestígio de tristeza ou pesar, mas notou com alívio que Anne parecia bem tranquila.

- Tudo bem? - ele perguntou ainda preocupado com a cena que acabara de presenciar, e Anne respondeu.

- Sim. Estou bem. – Pode me esperar por um minuto enquanto me troco?

- Claro, meu amor. - Gilbert respondeu, sentindo seu coração bater normalmente de novo. Anne se comportara bem ao se dirigir à linda garotinha, e ele não notara nenhum olhar triste, ou sinal de angústia em seus olhos, o que era um bom sinal.

Anne voltou minutos depois vestindo suas roupas, e trazia nas mãos uma sombrinha enorme. Ao ver o olhar espantando que Gilbert lançou a sombrinha, Anne disse:

-Isso é para garantir que o futuro Dr. Blythe não se resfrie. - Gilbert balançou a cabeça como se não gostasse muito da ideia, mas não disse nada.

Assim, eles foram até o pequeno restaurante que à primeira vista deixou Anne encantada com seu ar aconchegante. Eles se sentaram na mesa, e um garçom logo veio atendê-los. Gilbert dispensou o menu e pediu sopa para dois que era a especialidade da casa. Logo, eles foram servido e Anne olhou para seu prato aspirando o cheiro delicioso antes de começar a comer.

Durante o almoço, Gilbert se sentiu satisfeito ao ver que sua noiva tinha recuperado o apetite. Ela ficara duas semanas sem se alimentar direito, e a perda de peso começara a ficar evidente, por isso, era bom ver que ela começara a aproveitar as coisas boas da vida novamente ao lado dele.

- Gilbert, que lugar encantador. Como o descobriu?

- Eu vim aqui algumas vezes com Dora e Jonas.

- Dora? - Anne perguntou e Gilbert estranhou o tom que ela usara para dizer aquilo.

- Sim. Nós viemos algumas vezes aqui depois da aula para almoçar. Mas, isso foi antes de você vir para Nova Iorque. - ele se apressou em dizer, e ao notar o ar estranho de Anne, ele perguntou:

- Não vai me dizer que ainda tem ciúmes de Dora?

- Não é ciúmes, é só uma impressão. - Anne respondeu séria.

- Que tipo de impressão?

- Não é nada, amor. É bobagem minha. Será que podemos ir? Ainda tenho que estudar para minha prova amanhã – ela mudara de assunto, e Gilbert sabia que isso significava que ele não devia insistir no assunto.

- Claro. Vou pagar a conta.

Eles saíram do restaurante e foram para o apartamento. A chuva continuava a cair, e parecia que ficaria assim o dia todo. Gilbert se sentou com Anne no sofá para ajudá-la a estudar, mas, o calor da lareira, e o barulho da chuva que batia de leve na janela, deixaram a ambos sonolentos, e quinze minutos depois estavam abraçados adormecidos no sofá.

ANNE

Era mais uma semana que chegava ao fim, e Anne ao invés se se sentir animada pela chegada do fim de semana. se sentia inquieta. Ela faria seu teste para a bolsa da Faculdade naquele dia, e não se sentia preparada, embora tivesse estudado exaustivamente por três semanas, isso parecia ter sido insuficiente para preencher o branco que tomava conta de seu cérebro naquele momento.

Anne tentou pensar em outra coisa, pois sabia que a tensão só a atrapalharia, mas estava presa na armadilha de sua emente que zombava dela por sua pretensão em querer passar em um teste para o qual não tinha capacidade nenhuma. De repente, ela percebeu o quanto queria aquilo, mesmo dizendo que estava fazendo aquilo por Gilbert no início. Com o tempo, isso realmente se tornara um sonho seu, e por isso, bloqueou a voz dentro de sua cabeça que tentava sabotar seu ânimo, respirou fundo e direcionou seu foco para outro caminho.

Anne foi até a janela e observou o céu ainda carregado de nuvens. Fazia dois dias que chovia com breves estiagens, e apesar de o tempo frio a desagradar terrivelmente, ela gostava do cenário que a chuva pintava lá fora. Parecia uma cascata que saía diretamente do céu, e caia gloriosa sobre a terra como uma benção.

Em Green Gables aquele panorama era ainda mais encantador, pois além das árvores que se pintavam completamente de verde, sua cerejeira parecia ganhar alma nova, ficando ainda mais viçosa e cheia de vida, e Anne pensava que era o milagre da natureza acontecendo e se renovando a cada nova estação.

Anne voltou para o meio de seus livros no apartamento, mas não voltou a estudar imediatamente. Tantas coisas tinham acontecido naquela última semana, e agora analisando-as com calma, ela compreendia a importância de cada uma delas.

Anne também sentia que estava se renovando, a passos lentos era verdade, mas com consciência. A terapia a estava ajudando a encontrar as páginas soltas de sua vida, e pouco a pouco ela estava costurando juntas cada uma delas. Falar do passado era um exercício e tanto para ela que não estava acostumada a se abrir dessa maneira sobre coisas que não lhe traziam boas lembranças. Quando fora para Green Gables ela pensara que estava deixando todos os espinhos para trás, mas eles continuaram ferindo-a sem piedade, e só agora ela tinha condições de entender quantos sentimentos ruins armazenara dentro de si. Felizmente a vida lhe dera os Cuthberts, seus amigos maravilhosos e o homem mais doce, mais companheiro e mais lindo do mundo, que a amava apesar de tudo, que estava do seu lado quando o acordava, e a abraçava, quando ia dormir. Ela não o escolhera, ele viera até ela pelas mãos do destino, mas se tivesse tido a oportunidade de fazê-lo, sua escolha não teria sido diferente. Gilbert era o seu ideal de companheiro para a vida, e saber que ele a amava acima de tudo lhe dava forças para superar qualquer coisa. Anne nunca fora de desistir de nada, e aprendera a lutar por cada pedaço de pão e por cada migalha de dignidade a que tinha direito, e o fizera sozinha, porque nunca tivera ninguém em quem pudesse confiar o bastante, e que se colocasse na linha de frente para lutar por ela.

Ela fora resistente porque precisara ser, mas esse seu lado ficara esquecido quando uma onda gigante de infortúnios atingira seu coração com o uma bola de canhão e a deixara rendida no chão por algum tempo, porém, era hora de se levantar, e vestir sua capa de boa vontade e otimismo, partindo para a próxima luta de sua vida que aconteceria naquele mesmo dia.

As sessões de terapia daquela semana ocorreram mais cedo do que o previsto, por conta de Anne estar ansiosa com a prova da faculdade. o Dr. Spencer achara por bem vê-la dois dias seguidos. Era engraçado com já estava se afeiçoado aquele homem de aparência simpática que sempre a tratava com imensa consideração. Quando Anne falava com ele, ela não sentia que estava compartilhando seus problemas com um profissional, mas sim com uma figura paterna que lhe dava conselhos, mostrando com exatidão os pontos positivos e negativos em sua maneira de encarar as coisas .Fora ele que a incentivara a ir em busca de suas origens, acreditando que esse fato poderia ajudá-la a ver a si mesma com outros olhos.

Ele também fora responsável por ela ter coragem de falar com Gilbert sobre seu passado no orfanato, algo que nunca fizera antes por ser difícil demais recordar e colocar para fora de maneira correta todo o horror que fora viver dentro daqueles portões que a afastaram do mundo por treze longos anos, até que os Cuthberts lhe deram um lar de verdade. Ela se sentira leve depois, como se tivesse se despido de uma mágoa tão profunda que lhe deixara cicatrizes mal curadas, porém, a maneira como Gilbert reagira ao seu desabafo, a fez ver como fora tola em não ter dito nada antes. Ela devia ter confiado que ele a apoiaria, ela devia ter acreditado que não estava mais sozinha em sua busca por sua identidade perdida, mas precisara de uma prova real de que as coisas mudariam para melhor.

Contudo, nem tudo nas sessões eram doces. Tinha seu lado amargo de se mexer na ferida, mas ainda assim não ela recuara do tratamento. Precisava passar por todo aquele processo por mais que quisesse fugir e se esconder no lugar mais escuro de seu ser. O Dr. Spencer lhe mostrara que sentir a dor em sua maneira mais crua enquanto se buscava um remédio para parar de senti-la, fazia parte da construção da nova Anne. Por isso, ele não deixara de perguntar-lhe na última sessão da semana:

- Me fale sobre seu aborto, Anne. - a ruivinha o olhara chocada e dissera:

- Temos mesmo que falar sobre esse assunto?

- É para isso que está aqui, não é? Para se livrar da própria culpa e permitir que Gilbert se livre da dele, portanto, não existe um momento ideal para isso a não ser a necessidade de fazê-lo. Por isso, respire fundo e me diga exatamente como foi perder o seu bebê

Anne não achou que conseguiria colocar em palavras o que sentira na época, mas, sob o olhar bondoso do Dr. Spencer, ela se viu falando quase sem parar de todos os acontecimentos. Em vários momentos tivera que parar para enxugar as próprias lágrimas com os lencinhos de papel que o Dr. Spencer mantinha em seu consultório para ocasiões assim, o que fez Anne perguntar quantas vezes em sua vida ele ouvira relatos parecidos com o dela? E lhe dera um certo conforto em pensar que ela não fora a única mulher a perder um filho, e que havia muitas como ela pelo mundo lutando contra sua própria culpa e inconformidade, mas ela pelo menos era amparada por um homem que não media esforços para que ela soubesse que era amada, e quantas delas tinham a mesma sorte?

- Por que você acha que se tornou metade de uma mulher? Você bateu nessa tecla várias vezes durante sua narrativa. - o Dr. Spencer perguntou não permitindo que Anne deixasse o assunto morrer, ou banalizasse sua importância.

- Eu não sei. É assim que me sinto desde então. Sinto que fracassei como mulher e que não poderei dar a Gilbert o filho que ele deseja. - admitir isso em voz alta, mesmo que já tivesse dito a mesma coisa para si mesma, era muito duro e dolorido, mas precisava ser dito para que perdesse a força e desse passagem para outro sentimento que a levaria a cura.

- Anne, você continua sendo a mesma pessoa que sempre foi. Sofrer um aborto não diminui seu valor como mulher, e não gerar outros filhos não te faz menos importante para as pessoas que te amam. Você diz que não quer decepcionar Gilbert por talvez não poder lhe dar um filho, mas você tem que se lembrar que ele já sabe disso, e ainda continua a seu lado com o mesmo amor de antes, então, não sei no que você se baseia ao dizer isso. Pelo que já conversamos, Gilbert nunca te cobrou nada, pelo contrário. O que eu acho é que você é quem se cobra isso como um meio de punição para que se um dia vocês chegarem a se separar, você possa cutucar um pouco mais sua ferida e dizer a si mesma que é exatamente isso que merece. Você precisa se olhar no espelho e se enxergar de verdade. Você não deve pensar que é avaliada pelo sua capacidade ou não de gerar um filho, talvez nunca tenha pensado no que vou te dizer, mas seu valor é ainda maior por não ter desistido apesar de toda a dor que ainda arranca suspiros de seus lábios e lágrimas de seu olhos, você é muito corajosa Srta Cuthbert.

Anne saíra do consultório pensando naquilo. O Dr. Spencer tinha razão. Ela viera para Nova Iorque para recomeçar, mas continuava agarrada a seus velhos traumas. Ela e Gilbert mereciam viver uma vida completa e não pela metade, e isso tinha que começar a mudar logo. Ela fechou o livro que estava aberto sobre a mesinha da sala, e decidiu que faria chocolate quente. Já estava quase na hora do almoço, mas, decidiu que pularia a refeição naquele dia. Gilbert ia ficar chateado com ela, pois, ele detestava quando ela trocava a refeição de verdade por qualquer outra bobagem, mas ela realmente não estava animada para cozinhar. Fora uma grata surpresa vê-lo em seu trabalho no dia anterior, ao mesmo tempo em que se sentia tola por ele vê-la vestida como o personagem de sua fantasia de criança. Mas, o encantamento genuíno dele a fizera perder a inibição, e as palavras dele a seguir a fizeram ver que o romantismo corria nas veias de Gilbert Blythe, mesmo que ele negasse de pés juntos, afirmando que era um homem da ciência.

- Eu tenho uma princesa em casa e não sabia. - ela também ia dizer que ele era o seu príncipe quando uma garotinha que participara de sua narrativa de histórias infantis os interrompera, pedindo-lhe que autografasse o livro que acabara de comprar. Anne se abaixara para falar com ela, admirando-lhe o rosto lindo. Quase pudera imaginar sua filha com Gilbert naquele corpinho gracioso, com a exceção dos cabelos, que em sua mente seriam escuros com os do pai dela. O que a deixara feliz fora que o pensamento lhe ocorrera de maneira natural, e não viera acompanhado pela sensação de perda como normalmente ocorreria. Porém, ela notara o olhar preocupado de Gilbert, e sabia exatamente o que deveria estar em seus pensamentos, e por isso, ela se apressara em deixá-lo ver que aquilo não havia lhe afetado de forma alguma.

Enquanto caminhavam até o restaurante, Anne aproveitara para observar Gilbert com atenção. Ele parecia mais relaxado também, o olhar se suavizara, as ruguinhas de preocupação ao redor de seus olhos tinham sumido, e ele voltara a ser o rapaz alegre e cheio de planos que fora no passado. Gilbert não sabia, mas ele era sua inspiração, olhar para ele daquela maneira era sentir o amor vibrar em suas entranhas, e encontrar nas linhas daquele rosto perfeito o poema mais incrível que já escrevera. Ele era um homem extraordinário e seria um médico melhor ainda, porque ele se importava com o sofrimento alheio e sua bondade ia além do coração. Era inevitável não se apaixonar por ele, assim como era impossível não ver sua vulnerabilidade quando se preocupava com ela. Anne tinha consciência do quanto tornara a vida de Gilbert difícil, por isso, ela decidira que dali para frente ela o faria sorrir todos os dias, porque vê-lo sorrir era a coisa que mais amava na vida.

Ela adorara o ambiente no pequeno restaurante, pois lhe dava uma sensação de estar em casa. O fogão a lenha lhe lembrou de Marilla, e Anne imaginou que àquela hora ela estaria envolvida com seus assados, vestida com um avental imaculadamente branco, os cabelos quase todos brancos presos em um coque austero, e o rosto vermelho pelas horas expostas ao calor do fogo. Toda a cena em sua cabeça a fez suspirar de saudade, e ruivinha não via a hora de viajar com Gilbert para Green Gables no Natal.

Anne contara a Gilbert a impressão que tivera do restaurante, e seu noivo lhe revelara que viera ali muitas vezes no passado. Ela deve ter deixado as claras seu desagrado ao ouvir aqui, pois Gilbert perguntara;

- Não vai me dizer que ainda tem ciúmes de Dora? - e Anne respondera. -

- Não é ciúmes, é apenas uma impressão. – e era mesmo verdade. Desde que Dora a ajudara, Anne começara a enxergar a amiga de Gilbert diferente, mas isso não queria dizer que acreditava que o que ela sentia por Gilbert era apenas amizade, seu jeito de olhar para ele denunciava outra coisa, e mesmo que Gilbert se recusasse a acreditar naquilo, Anne não era boba, e sabia muito bem identificar uma mulher apaixonada. Não estava disposta a dar sopa para o azar, por isso, iria observar aquela amizade bem de perto, pois caso Dora se cansasse do seu papel de amiga fiel, e partisse para uma abordagem mais explícita, Anne estaria pronta para ter uma conversinha com ela.

O barulho da porta sendo aberta anunciou a chegada de Gilbert. Ele estava tão bonito com os cachinhos perdidos em meio à sua boina vermelha, seus lábios curvados em um sorriso iluminado que assim que a viu ali sentada no meio da sala se alargou um pouco mais.

- Vejo que esteve ocupada. - ele disse apontando para os livros espalhados pelo tapete.

- Aproveitei a manhã de folga para repassar a matéria, mas continuo achando que ainda não estou preparada. - Anne disse suspirando.

- É claro que está. Apenas se sente insegura e isso é normal. Eu sei que vai passar sem dificuldade nenhuma. - ele disse se sentando no tapete ao lado dela.

- Você tem tanta fé em mim que me dá medo, Gilbert. - Anne disse se enfiando no meio dos braços dele que rodearam sua cintura, prendendo-a contra seu corpo.

- Eu acredito em sua inteligência extraordinária, Anne, e você devia acreditar também. Mas, não quero que se preocupe. Se você não tiver o resultado que espera dessa vez pode tentar de novo quando se sentir pronta para isso. - ela assentiu olhando para os lábios dele enquanto Gilbert falava, já sentindo falta deles contra os seus.

Anne o atraiu para ela e o que era para ser apenas um roçar de lábios se tornou um beijo profundo. Gilbert a trouxe para mais perto, suas mãos já se insinuando por baixo do suéter que ela usava, e quando chegou aos seus seios cobertos pela renda do sutiã, ele os acariciou por cima do tecido, e Anne sentindo que aquele carinho evoluiria para algo mais ousado, segurou-lhe as mãos e disse;

- Amor, não podemos. Eu preciso me preparar para a prova. - ela tentava não gemer contra a mão dele insinuante, mas estava ficando difícil não reagir quando ele encontrara o fecho do sutiã, e seus dedos carinhosos já acariciavam a pele macia dos seios de maneira enlouquecedora. Ela se inclinou para trás voluntariamente precisando mais daquele toque. Então, Gilbert atendeu ao seu pedido e parou de tocá-la relutante enquanto o corpo de Anne reclamava, mas ela sabia em sã consciência que era melhor assim. Precisava ter foco ou fracassaria, por mais que fazer amor com Gilbert fossem mil vezes mais atraente do que ficar perdida entre os livros

- Eu não pretendia me descontrolar assim, mas, querida, você é tão provocante que não consigo ficar perto de você sem te tocar. - Gilbert disse segurando-lhe as mãos com carinho

- Eu sei como se sente, e é assim comigo também. Mas, nesse momento não posso ter distrações me perdoe, meu amor.

- Não se preocupe. Vou te ajudar a estudar. Espere um pouco que vou até a cozinha pegar um copo de água. Ele foi e voltou com a testa franzida, e Anne sabia exatamente do que se tratava quando ele perguntou:

- O que aconteceu com a comida de verdade dessa casa?

- Não fique bravo comigo. Eu estou nervosa e não consigo comer quando me sinto assim.- Anne disse se desculpando.

- Não estou bravo, Anne, eu só me preocupo. Você sabe bem que estresse e má alimentação não são uma boa combinação para você. – Ele disse se sentando de novo ao lado dela.

- Foi só hoje. Prometo que vou prestar mais atenção na minha dieta diária.

- Acho bom. Agora vamos ao que interessa. - Assim, ele passou toda a matéria com ela, e fez algumas perguntas para testar o conhecimento de sua noiva acerca do assunto, e a cada resposta certa ele lhe sorria e lhe dava um beijo no rosto, e em nenhum momento ele largou sua mão.

ANNE E GILBERT

Anne estava sentada na sala onde ocorreria o teste e não parava de bater com a tampa da caneta na carteira. Estava nervosa, e tentava controlar sua ansiedade focando no quadro à sua frente, mas não estava fazendo um bom trabalho, sentiu suas mãos trêmulas e as juntou em posição de oração, tentando se lembrar de cada ponto importante que estudara com Gilbert nos últimos dias, revisando nomes de autores e suas obras.

Seu noivo a acompanhara até o portão de entrada e sentindo sua tensão, ele lhe perguntara:

- Quer que eu te espere?

- Não é necessário, e pode demorar bastante. Me espere em casa que assim que terminar tudo aqui te encontro lá. - ela disse com as suas mãos no casaco dele, enquanto o abraçava pelo pescoço acariciando-lhe o rosto. Depois olhou para ele, e disse com uma ponta de preocupação na voz:

- Você está se sentindo bem, amor? Estou te achando um pouco febril.

- É impressão sua. Estou perfeitamente bem. Não se preocupe. - ele disse disfarçando um espirro de Anne.

- De qualquer maneira vá para casa. O tempo está frio demais para que passe horas aqui me esperando. E eu não quero ter que me preocupar com você enquanto realizo este teste importante. Não conseguiria me concentrar. - Gilbert sorriu para ela e concordou. Ele também de sentira estranho quando acordara aquela manhã, e o fato de estar febril não o preocupava. O tempo vinha mudando constantemente com a virada de estação próxima e todo mundo acabava se resfriando, mas não queria deixar Anne preocupada com algo tão banal bem na hora da sua prova.

- Está bem. Boa sorte e não se preocupe com nada. – Ele disse ao se despedir.

Era óbvio que estava preocupada, e quase nem conseguia disfarçar. Mudara de posição na carteira várias vezes, enquanto pensava no quanto queria ter um bom resultado naquela prova. Era engraçado pensar no quanto relutara em fazê-lo, e agora tudo no que conseguia pensar era que queria aquela bolsa mais que tudo. E o mais importante era que não estava fazendo aquilo por Gilbert, ou por qualquer outra pessoa. Estava fazendo aquilo por si mesma, e por isso, não queria ficar decepcionada logo na primeira tentativa. Naquele instante, ela parecia estar ouvindo a voz do Dr. Spencer lhe dizendo, "você não tem que ser perfeita, Anne", mas mudar tão radicalmente esse tipo de pensamento não era nada fácil de fazer.

Anne olhou as pessoas ao seu redor e percebeu que havia uma garota morena do outro lado da sala que olhava em sua direção, e parecia tão nervosa quanto ela. Anne lhe sorriu e a garota retribuiu com outro sorriso, e a ruivinha sentiu um certo conforto ao pensar que não era a única pessoa insegura por ali. O teste finalmente começou a ser distribuído, e antes de preenchê-lo com seus dados pessoais, Anne olhou em direção à garota que a observara antes e disse apenas como movimento dos lábios. "Boa sorte", a garota fez o mesmo e ambas sorriram cúmplices. Em seguida, Anne fixou seu olhar na prova e sorriu. Todo o teste era baseado em seu autor favorito, William Shakespeare, e ela sabia todas as obras dele de cor. No final, havia uma redação crítica que deveria ser feita sobre a história de Hamlet, e Anne a realizou em questão de minutos. A ruivinha terminou o teste em menos de duas horas, e logo estava passando pelos portões da faculdade e caminhando para casa com a sensação de dever cumprido. Ela caminhava devagar, querendo saborear a sensação de bem-estar que estava sentindo naquele momento. Tinha certeza de que realizara uma boa prova, e esperava que os pontos que conseguisse por ela lhe ajudassem a conquistar a bolsa tão esperada. Ela atravessou a rua, e passou perto da loja onde funcionava o clube de leitura. Fazia algum tempo que não aparecia por ali. Especificamente desde que Roy se insinuara tão vulgarmente para ela, e por isso, ela tentava evitar um confronto direto com ele.

O rapaz estava a postos em seu lugar costumeiro, e conversava com uma garota que lhe dava atenção totalmente encantada pela beleza do rapaz. Anne balançou a cabeça desgostosa ao pensar que tipo de lábia ele estava usando para levar a pobre garota na conversa. Quando ele a viu, parou um instante de falar e a olhou de um jeito malicioso, acenando para ela em seguida. Anne não retribuiu o aceno, sentindo um arrepio de nojo e apressando o passo para sair das vistas do rapaz.

Ela chegou no apartamento um tanto eufórica, morrendo de vontade de contar a Gilbert sua experiência com a prova. Ele a esperava e quando Anne o viu, seu coração se perdeu em suas próprias batidas. Ele tinha tomado banho e vestira um suéter branco que realçava sua beleza morena. Ele também trajava uma calça preta que contrastava lindamente com o suéter e que moldava os músculos de suas pernas fortes com perfeição. O rosto estava corado e os lábios mais vermelhos que o normal, mas foram naqueles olhos castanhos como caramelo derretido que ela mergulhou, se atirando nos braços dele feliz.

- Pela sua animação posso imaginar que foi bem no teste. - Gilbert disse colocando sua mão direita no rosto dela.

- Eu acho que sim. Pelo menos não tive nenhuma dificuldade em realizá-lo .- Anne respondeu ainda se focando nos olhos de Gilbert, observando-lhe os cílios escuros.

- Eu tinha certeza disso. - Gilbert disse abraçando-a apertado.

De repente, Anne olhou para a mesa da sala onde havia um bolo e champanhe, e do lado dela uma caixa toda embrulhada de azul.

- O que estamos comemorando?

- Seu bom desempenho no teste. - Gilbert disse beijando-a toda no rosto.

- Não acha que é muito cedo? Nem sabemos os resultados. - Anne disse com um sorriso um certo.

- Eu não me importo com o resultado, Anne. O que quero comemorar é sua boa vontade em superar todos os obstáculos e continuar perseguindo seus sonhos, e também quero homenagear a companheira mais perfeita que um homem poderia desejar. — o olhar carinhoso dele encheu os dela de luz, ela lhe deu um selinho, e depois olhou para a caixa em cima da mesa e perguntou:- O que tem na caixa?

- Veja por si mesma. – Ele disse fazendo mistério, e Anne se sentiu como uma garotinha na noite de Natal. Ela deu um gritinho ao ver o que havia dentro.

- Uma coleção inteira de Jane Austen! Gilbert você é o melhor noivo do mundo. Obrigada, meu amor. - Ela se jogou nos braços dele de novo, abraçando-o com tanta força, que Gilbert achou que ela fosse sufocá-lo. Quando o rapaz conseguiu se soltar dela, ele disse:

- Tem um envelope dentro da caixa. - Anne sorriu de leve, pegou o envelope branco que dizia "para minha Anne". Ela o abriu, segurando uma folha branca que estava dobrada, e começou a ler:

Querida Anne,

Já que decidimos passar nossas vidas o lado um do outro para sempre, sinto que devo abrir meu coração. Você é o objeto de minha afeição e desejo. Você e somente você tem a chave do meu coração, e jamais poderia partilhar com outra pessoa o que temos construído juntos. Cometeremos erros, cairemos e nos levantaremos, tendo a certeza única e verdadeira de que nossas almas são um livro aberto de nossas emoções, e portanto, cada passo que dermos estaremos juntos lado a lado como deve ser. Quero apenas que saiba que nunca houve espaço para mais ninguém em minha vida desde que te conheci, minha Anne com e, sempre foi você e sempre será.

Com amor, Gilbert.

- Eu sei que não sou tão bom com as palavras como você, mas quero que acredite que tudo que está escrito aí é a confissão mais sincera do meu coração.

Anne levantou o olhar para ele, e pensou que ali estava o seu noivo, o amor de sua vida, seu futuro marido e pai de seus filhos biológico ou não, e disse com sua alma elevada por aquela carta tão simples mas cheia de amor:

- Está perfeito. Nunca ouvi algo tão lindo de alguém. - ela se aproximou, o puxou para ela e o beijou deixando que seus lábios lhe confessassem através daquele beijo todas as verdades de seu coração. Eles se separaram e ela disse baixinho:

- Venha. Temos muito que comemorar. - ela pegou-o pela mão e o levou para o quarto. Mal tinham fechado a porta, e Anne já tinha arrancado o suéter dele, suas mãos descendo pelo peito de Gilbert até alcançar o zíper da calça o qual ela abriu com facilidade, retirando-a e deixando Gilbert completamente nu diante de seus olhos. Seus lábios foram parar no pescoço dele, e seus dedos inquietos passeavam pelo corpo todo querendo senti-lo por inteiro em suas mãos

Por um momento, Gilbert ficou parado sem se mexer deixado que Anne tomasse a iniciativa daquela vez. Mas, sua passividade durou poucos segundos, pois era uma tortura tê-la completamente vestida sem poder tocar a pele dela como desejava fazer. Com habilidade, ele a foi despindo, cada peça sendo atirada para longe, enquanto Anne ia se revelando para ele pouco a pouco. Quando a última peça de roupa foi tirada, e ele pode observá-la totalmente nua, mais uma vez Gilbert registrou em sua mente a imagem da mulher mais linda que ele já vira na vida.

Ele a deitou sobre a cama e deixou que sua pele se colasse na dela, enquanto ele a fazia gemer sob seus lábios. Os toques eram ousados, fazendo com que suas mãos percorressem por lugares secretos e sensíveis. Anne sentia seu corpo entrar em combustão com aqueles lábios masculinos divinos, e com língua de Gilbert que lhe provocava desejos intensos e proibidos. Ela pertencia a aquele homem de corpo e alma, e nunca mais seria de nenhum outro, pois estava marcada pelo amor dele em todos os recantos de seu ser. Gilbert, por sua vez se envolvia cada vez mais na paixão que Anne lhe oferecia em seu corpo de mulher perfeito, o qual ele não se cansava de levar ao delírio todas as noites. Ela era sua mulher, e cada vez mais sua toda vez que se entregava a ele cheia de um profundo prazer. Não havia comparação para o que Anne o fazia sentir quando permitia que o corpo dele se tornasse uma extensão do seu próprio. E toda a volúpia os fez cavalgar por uma estrada cada vez mais distantes e quando alcançaram o infinito de seus mais puros desejos, eles se uniram em um breve instante pela luz de seu amor que os tornava amantes cada vez mais únicos e apaixonados.

Algum tempo depois, eles estavam sentados na sala vestindo apenas um roupão, comendo o bolo e bebendo o champanhe que Gilbert comprara. Ele a olhou pensativo enquanto Anne tinha sua cabeça descansando em seu ombro e depois perguntou:

- Anne, é muito importante para você que nosso casamento seja em Avonlea? - Anne estranhou a pergunta, mas respondeu olhando para ele:

- Eu realmente não me importo onde seja desde que você esteja lá me esperando no altar com todos os nossos amigos. - ele ficou em silêncio e continuou a olhá-la intensamente que fez Anne perguntar:

- O que tem em mente, Dr. Blythe?

- Que tal se casássemos em Paris? - ele respondeu com um grande sorriso nos lábios.

- Gilbert! Você acha que seria possível? - Anne disse encantada mostrando a ele que já se apaixonara pela ideia.

- Claro que sim. Tia Josephine me propôs isso quando estivemos lá, e eu lhe pedi que não lhe dissesse nada até ter certeza de que era isso que realmente queríamos. - ele disse acariciando-lhe os cabelos.

- Tia Josephine sempre tem as melhores ideias. - Anne disse sonhadora já se imaginando vestida de noiva e entrando em uma daquelas igrejas maravilhosas de Paris, ao som da marcha nupcial enquanto Gilbert a esperava com todo o amor do mundo. Seria realmente maravilhoso realizar um sonho assim.

- A Paris. - Anne levantou sua taça de champanhe em direção à de Gilbert que tocou a sua dizendo:

- Ao nosso amor.

E naquele instante cheio de encantamento, quando promessas foram seladas eles se olharam cúmplices, partilhando mais um sonho lindo de amor.

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