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Capítulo 75- Nosso ninho de amor


Olá, queridos leitores. Como prometido aqui está o capítulo dessa semana. Espero que gostem, e como sempre espero pelos comentários sobre o que acharam dele, pois são um grande incentivo para mim. Particularmente, eu gostei muito dele, pois mexeu bastante com minha sensibilidade, Não sei que tipo de reação ele vai causar em vocês, mas, espero que me digam, pois vou gostar de saber. Desculpe qualquer erro ortográfico. eu sempre corrijo antes, mas, como o capítulo é longo, acabo deixando algo passar. Muito obrigada por tudo. beijos.


ANNE

Uma semana havia se passado desde o aniversário de Gilbert, e Anne ainda tinha as lembranças daquela noite vivas em sua mente. Como esquecer o sorriso de Gilbert quando vira os presentes, seus olhares quentes e beijos ardentes depois? Eles se amaram como antigamente, e dessa vez foi mais incrível que antes, porque Anne descobriu entre um amasso e outro que não havia obstáculo que não conseguisse ultrapassar, quando Gilbert a levava a um estado de excitação profunda, fazendo-a acreditar que a lua estava a um centímetro de suas mãos.

E muitas luas ela alcançara com Gilbert aquela noite, além de caminhar por uma esfera diferente onde cada suspiro era sua entrega e rendição. Os livros que lera por toda a vida não a prepararam para aqueles momentos, em que seu corpo não mais lhe pertencia, ele agia por instinto, por paixão e desejo, e ela seguia cada movimento como se tivesse sido especialmente moldada para isso, guiada pelas mãos de Gilbert que a transformavam em uma mulher diferente cada vez que ele murmurava seu nome com a fúria do seu desejo por ela.

O que a deixava surpresa era que Gilbert também estava se transformando, do rapaz que a tocava nos primeiros tempo com certo receio e suavidade, não sobrara nada. Em seu toque havia muito mais fogo, e na maneira de abraçá-la nestes momentos havia muito mais segurança. Ele a despia como se ela fosse uma obra de arte, e a fazia flutuar até o topo do seu desejo quando os lábios dele lhe mostravam exatamente o quanto ele a queria.

Não havia jogos entre eles, nem mediam forças para descobrir quem dominava ou quem era dominado. Eles apenas se entregavam àquela energia que havia entre seus corpos que os conduzia a uma união perfeita todas as noites.

Havia mais amor entre aquelas quatro paredes, do que muitas pessoas buscavam encontrar uma vida inteira. E Anne sabia que era assim, por que ela e Gilbert nasceram um para o outro, e estava escrito bem antes de nascerem que se pertenceriam exatamente dessa forma.

Era uma pena que Diana ou Cole não estivessem ali para que ela pudesse dividir com eles suas experiências. Ela não era o tipo de garota que falava de sua vida íntima com suas amigas, como vira acontecer muitas vezes entre suas colegas quando ainda ia para a Faculdade. Anne sempre ficava de lado ouvindo suas confissões amorosas, mas fugia de qualquer pergunta endereçada diretamente à ela. Porém, com Cole e Diana sempre fora diferente. Eles sempre a ajudavam a descobrir coisas sobre si mesma que ficariam ocultas nas sombras o resto da vida, se não tivessem sido colocadas em cheque em determinados momentos.

Era lógico que nunca descreveria exatamente o que acontecia entre ela e Gilbert em seus momentos mais quentes, mas, havia sentimentos que gostaria de partilhar e entender, e que talvez Cole e Diana pudessem ajudá-la, como quando eram adolescentes e Anne tinha dúvidas sobre suas reações em relação a Gilbert. Cole sempre fora a voz do seu consciente, e Diana a voz de seu coração, e juntos sempre encontravam as respostas para tudo o que precisavam saber, por isso, que a ruivinha os considerava suas almas irmãs. Diana estava casada agora, e Cole dividia sua vida com Pierre em um apartamento que alugavam juntos, e Anne tinha certeza de que quando se encontrassem, eles teriam muito o que conversar sobre seus relacionamentos.

Era sexta-feira de novo, e pela primeira vez Anne conseguira acordar antes de Gilbert. Estava escuro quando se levantara, porque acordara ansiosa e não pudera mais dormir. Vários pensamentos a mantinham em alerta, e ela precisava descobrir o que realmente queria fazer de sua vida, para depois escolher por qual caminho deveria seguir.

Anne preparou o café, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Não queria acordar Gilbert antes da hora, pois ele teria um dia cheio entre a Faculdade e o trabalho no laboratório e precisava de todo o descanso possível.

Ela fez panquecas e bolinhos de chuva seguindo uma receita que Marilla lhe ensinara, e tinha certeza que Gilbert adoraria, porque o vira muitas vezes se deliciar na fazenda dos Cuthberts com aquelas iguarias. Em seguida, ela passou o café do jeito que Gilbert gostava, ferveu o leite, e quando tudo estava pronto, Anne foi finalmente acordá-lo.

Anne se aproximou da cama devagar, observando Gilbert atentamente enquanto ele dormia. Os cachinhos lindos emoldurados em sua testa eram tão macios e suaves ao seu tato, e como ela amava passar seus dedos sobre eles, principalmente quando estavam juntos na cama e ele a olhava com os olhos pesados de sono, e bastava que Anne acariciasse os fios rebeldes para que Gilbert adormecesse imediatamente.

Mas, naquele instante sua missão era outra, e ela ficou pensando como deveria acordá-lo. Anne fixou o olhar nos labios carnudos e vermelhos de Gilbert que sorriam de leve como se estivessem no meio de um sonho bom. Ela se perguntou com o que ele estaria sonhando, que mesmo antes de acordar já o deixava feliz? Ela pensou maliciosa que daria um bom motivo para que ele também ficasse animado assim que despertasse.

Assim, Anne se aproximou mais um pouco, esfregando a ponta do seu nariz no dele, Gilbert apenas se mexeu de leve, mas continuou dormindo. Logo, ela deslizou os lábios sobre ambas as faces dele, e quando alcançou a boca de Gilbert, ela o beijou possessivamente, sendo correspondida imediatamente. Após alguns minutos em que todo o ar de seus pulmões fora roubado, Gilbert descolou sua boca da dela e disse:

- Adoro quando me acorda assim.- Anne olhou-o com carinho e disse:

- Tentei surpreendê-lo, mas acho que não fui bem sucedida.

- Eu acordei no momento em que beijou meu rosto, mas eu quis ver até onde sua imaginação a levaria. - Gilbert disse olhando-a de um jeito que fez as velhas borboletas se agitaram em seu estômago. Ela sempre olhara para Gilbert com se fosse a primeira vez. Não importava quantas vezes dormissem e acordasse juntos, Anne teria sempre aquela sensação de que estavam começando a se amar naquele momento.

- Gilbert Blythe! Você está se tornando um belo manipulador. - ela disse brincando.

- É mesmo? E será que consigo convencê-la a se deitar comigo nessa cama novamente? - Gilbert disse tentando puxá-la de encontro ao peito, mas Anne resistiu enquanto dizia:

- Não acho uma boa ideia.

- Por que não? - Gilbert perguntou como se achasse uma afronta pessoal ela não querer ficar na cama com ele mais um pouco.

- Porque você não vai querer que as panquecas e os bolinhos de chuva esfriem. - ela disse marota.

- Não acredito. Você fez panquecas e bolinhos de chuva para o café da manhã? - os olhos dele brilharam de gula e Anne riu mais ainda.

- Sim, a moda de Marilla. Mas, não me responsabilizo pelo gosto se você demorar para se levantar dessa cama.

- Já estou levantando. – Gilbert disse, jogando as cobertas de lado, e correndo para o banheiro feito um moleque ansioso para comer sua comida favorita.

Ele voltou logo em seguida quase pronto para ir para a faculdade, só faltava calçar os sapatos. Logo após ele sentar-se a mesa, Anne lhe serviu as panquecas com groselha por cima, os bolinhos de chuva e o café com leite. Enquanto comia, Gilbert fazia cara de aprovação, mas não deixou de observar que Anne apenas bebia seu leite devagar e não ingeria nada do que preparava.

- O que foi, Anne? Por que não está comendo? - Ele perguntou com a testa franzida, pois ele sabia muito bem que quando o apetite de Anne era afetado, era porque algo a estava incomodando.

- Não é nada demais. Estou apenas ansiosa. - ela respondeu.

- Aconteceu alguma coisa que não estou sabendo? - Gilbert parou de comer para olhá-la nos olhos.

- Não, estou apenas tentando decidir se faço a inscrição para os testes da faculdade ou não. - Anne disse segurando seu copo de leite com as duas mãos.

Gilbert se lembrou que a data da inscrição terminava no dia seguinte, e então, ele olhou em cima da mesinha de canto, junto com a bolsa de Anne, os papéis estavam lá e já haviam sido preenchidos por ela. Ele olhou de volta para Anne, e disse com um meio sorriso:

- Parece que já se decidiu.

- Não totalmente. Tenho dúvidas se conseguirei passar nos testes. Faz meses que deixei a faculdade e não peguei em mais nenhum livro desde então.

- Amor, literatura é sua paixão. Eu duvido que terá dificuldades para passar. Aposto que consegue fazer os testes em um piscar de olhos, mas, se quiser posso te ajudar a estudar. - ele disse segurando a mão dela sobre a mesa.

- Mas, você odeia literatura. - Anne disse espantada pela boa vontade dele.

- Eu não odeio, só não é um dos meus grandes interesses. Mas, não me custa nada tentar te ajudar.

- Acha que consigo? - ela ainda tinha dúvidas, mas, talvez pudesse fazer uma tentativa daquela vez.

- Você consegue tudo o que que quer, Anne. Não preciso nem responder.

- Está bem. Já que você tem tanta confiança em mim, vou fazer a inscrição hoje. – Ela sorriu e Gilbert quase pulou da cadeira de tanta animação.

- Essa é minha garota. Você pode ir comigo até lá hoje, o que acha?

- Acho que me sentirei mais confiante se for comigo. Vou me arrumar e volto logo. - Anne disse se levantando e indo até o quarto.

Em poucos minutos, estava pronta, e Gilbert sorriu deslumbrado quando a viu. Anne colocara um vestido longo de mangas compridas azul marinho, que a deixava simplesmente maravilhosa. Por cima, ela vestiu um casaco de lã branco, e nos pés ela calçara botas pretas de salto médio, e nos cabelos soltos, ela colocara uma boina branca que combinava com ela perfeitamente.

- Meu Deus! Acho que mudei de ideia. Não vou mais levá-la comigo, caso contrário morrerei de ciúmes de cada cara que olhar para você. – Gilbert disse entrelaçando seus dedos nos dela assim que Anne se aproximou.

- Não seja exagerado, Gilbert. Não pode me esconder nesse apartamento para o resto da vida. - Anne retrucou arqueando a sobrancelha.

- Estou brincando, amor. Vou ter o maior orgulho de te apresentar como minha noiva para todo mundo do Campus de Medicina. - Gilbert disse beijando-a no rosto.

Desta maneira, ambos saíram para a manhã fria de Nova Iorque, e andaram de braços dados até faculdade de Gilbert onde Anne faria a inscrição. No caminho, encontraram Dora, que pareceu surpresa por ver Anne com Gilbert.

Um sinal de alerta soou no cérebro da ruivinha que olhou para Dora com o máximo de atenção possível, enquanto pensava ter visto algo brilhar nos olhos da outra garota, e ela se perguntou se seria desagrado ao ver Anne e Gilbert agarrados um ao outro. Mas, quando Dora falou com ela, a garota foi educada como sempre, e Anne não pôde comprovar se sua teoria tinha fundamento ou não.

- Bom dia, Anne. Veio acompanhar Gilbert até a aula hoje?

- Na verdade, ele veio me acompanhar. Vim fazer a inscrição para a Faculdade. - Anne tentou sorrir, mas não se sentia tão a vontade com Dora como antes.

-- Que alegria! Saiba que está fazendo Gilbert muito feliz. Ele não para de falar disso há semanas. - Dora parecia estar genuinamente feliz com a notícia, mas, Anne não conseguia acreditar nisso realmente.

- Bem, espero corresponder às expectativas dele. – Anne respondeu olhando para Gilbert que retribuiu o seu olhar.

- Você nunca me decepciona, sabe disso. – Gilbert disse aquilo de um jeito bem íntimo, como se somente ela pudesse ouvir e compreender o que havia por trás das palavras. Ficaram se olhando daquela maneira por exatamente um minuto, quando Dora quebrou a conexão entre eles dizendo:

- Você vai para a aula agora, Gilbert?

- Acho que vou esperar mais um pouco aqui com Anne. - Gilbert respondeu com a mão no ombro de sua noiva.

- Querido, pode ir. Não quero que se atrase por minha causa. - Anne jogou os braços ao redor do pescoço de Gilbert, como se marcasse seu território.

- Tem certeza?

-- Sim. Posso fazer isso sozinha. Agora vá. Vou te esperar para o jantar. - Anne disse, e sem que Gilbert esperasse ela lhe deu um beijo de tirar fôlego bem no corredor do Campus. Alguns alunos que eram amigos de Gilbert de sala passaram por eles assobiando e dizendo:

- Ei, Blythe. A aula de anatomia é só no final hoje. - Anne se afastou dele rindo e disse:

- Desculpe.

- Não tem importância. Eles zoam todo mundo por qualquer coisa. - ele respondeu acariciando o rosto dela.

- Agora vá. Não quero que perca mais tempo. Sua aula vai começar. – Gilbert se despediu de Anne e acompanhou Dora até a classe, enquanto Anne observava os dois rindo de algo engraçado que a moça dissera. A ruivinha sentiu uma pontada no coração, depois balançou a cabeça para afastar aquela sensação desagradável, e resolveu não deixar que aquilo estragasse o seu dia.

Ela fez a inscrição e saiu de novo para as ruas de Nova Iorque, se lembrando do convite que Roy lhe fizera no outro dia. De repente, ficou curiosa por saber como seria uma clube como aquele. Com certeza, não era nada parecido com o que tivera com Diana e Ruby em Avonlea, por isso, seria uma experiência e tanto participar de algo assim tão sofisticado e cultural .

Enquanto se encaminhava para a loja, Anne viu um parquinho onde várias crianças brincavam com suas mães, e sua velha dor adormecida, mas não esquecida, fez seu coração bater dolorido. Seus olhos de um azul vivo aquela amanhã, se encheram de lágrimas, e Anne fez um esforço tremendo para não chorar.

Ele não queria lembrar, mas sua mente cruel não ouviu as suas súplicas, e a fez reviver de novo sua mágoa mais profunda, e sua vontade de ser mãe aflorou novamente como antes. Anne se sentiu sufocar pela angústia, e levou as mãos ao peito como se conseguisse arrancar de dentro de si aquele sentimento ruim, que a impedia de seguir em frente, e a levava de volta para aquele momento no tempo, onde sua alma fora dilacerada pela perda de um de seus bens maiores que fora seu bebezinho. Uma sementinha que não tivera a chance de crescer, e que ao morrer levara parte de Anne com ela.

Deus! Ela precisava superar, ou acabaria se sentindo infeliz e incompleta o resto da vida. Relutante, Anne se afastou dali, indo em direção à livraria como havia planejado anteriormente, e ao chegar lá, seus olhos ainda conservavam os reflexos de sua tristeza.

Como no primeiro dia em que estivera ali, Roy estava na entrada da loja, e sorriu assim que botou seus olhos sobre Anne.

- Finalmente, você apareceu. – Anne tentou sorrir também, mas nunca fora boa para disfarçar suas angústias, e acabou que seu sorriso foi apenas um esboço enquanto ela dizia:

- Sim, quis participar hoje para ver como funciona seu clube de leitura.

- Você me parece triste. O que aconteceu? - Roy perguntou ao notar a expressão angustiada de Anne.

- Não é nada de importante. Apenas coisas da vida. - ela respondeu sem interesse de prolongar a conversa. - Onde fica o clube?

- Segunda porta à direita. Diga que é minha convidada. - Roy respondeu.

- Obrigada. – Anne disse e quando deu um passo, Roy segurou em seu pulso e disse:

- Se precisar de alguma coisa, saiba que estou aqui. - Anne se livrou das mãos dele com delicadeza, apenas assentiu, mas deixou claro pela sua expressão que não gostara nem um pouco da atitude do rapaz. Não eram íntimos para que ele tentasse uma aproximação sem sentido como aquela, e muito menos lhe dera liberdade para tocá-la daquela maneira.

Ela entrou na sala indicada por ele, e deu de cara com uma dúzia de mulheres que a olharam surpresas. Anne explicou o que fazia ali, e todas lhe deram boas vindas.

Assim que começaram a discutir sobre as obras de Jane Austen, Anne começou a participar da conversa, e logo se entreteu com o assunto. No fim fora lançado um desafio para que escrevessem um poema bastante amoroso, sobre alguém ou algo que lhes inspirasse particularmente. Imediatamente Anne pensou em Gilbert e em suas noites de amor, e as palavras ganharam vida assim que ela começou a deslizar a caneta sobre o papel.

GILBERT

A aula de Pesquisa Científica já tinha começado, e os pensamentos de Gilbert voavam para outro lugar, especificamente para as salas de inscrições. Estava ansioso para saber quando Anne faria a prova de admissão da faculdade, e somente teria essa informação quando chegasse em cada à noite, mas, esperava sinceramente que Anne não tivesse perdido a animação daquela manhã, e que realmente estivesse disposta a tentar.

Gilbert trouxera Anne para Nova Iorque com o intuito de ajudá-la com seus traumas, pois mesmo sabendo o quanto ela amava Green Gables e os amigos que tinha em Avonlea, aqueles ambientes foram palcos de coisas tristes que a magoavam demais, por isso, ele pensara que um ambiente neutro e ao mesmo tempo movimentado como Nova Iorque pudesse aos poucos curar suas feridas.

Estavam tendo um início de vida a dois maravilhoso. Gilbert não se cansava de olhar para ela a cada manhã, e pensar que agora ela estava ali e era completamente dele e de mais ninguém. Não era um pensamento possessivo, ele não queria que Anne vivesse apenas para amá-lo, como Mary o acusara uma vez em que tivera uma de suas crises de ciúmes. Ele desejava que Anne crescesse junto com ele, que aprimorasse seus talentos e que encontrasse outros que satisfizessem sua necessidade de ser alguém melhor e mais conectada com o mundo a sua volta.

Gilbert não pensava que Anne tivesse que melhorar nada. Para ele, sua noiva era perfeita exatamente como era, mas, não podia ser egoísta e limitar a vontade dela de evoluir, de ter sua profissão, e ser economicamente independente. Anne não era o tipo de garota que aceitaria de maneira passiva ser sustentada por um marido, vivendo uma vida monótona de dona de casa. Ela precisava mais que isso, pois uma vez ela lhe dissera que viera ao mundo para conquistar e não ser conquistada, por isso, Gilbert queria que ela tivesse todas as oportunidades possíveis de se encontrar como ser humano.

Era um presente tê-la a seu lado, e aos poucos ia descobrindo mais características sobre ela que o deixavam fascinado. Naquela manhã, Anne acordara antes dele e lhe preparara um café da manhã incrível. Ele sabia que ela não gostava muito de cozinhar, pois preferia muito mais ter um livro nas mãos do que passar horas em frente ao fogão. Mas, a ruivinha vinha se esforçando e o surpreendendo com sua habilidade em preparar deliciosas refeições, embora, ela não quisesse admitir para si mesma que também tinha seus talentos para cozinheira, ela estava se saindo muito bem nessa área também.

Ele só se preocupara por vê-la acordada tão cedo, pois normalmente era ele quem sempre despertava antes do sol nascer, mas na noite anterior tinham passado momentos intensos juntos, e Gilbert dormira mais do que pretendia. Porém, ele amara o jeito que ela encontrara de acordá-lo, e quando os lábios dela tocaram os seus, ele já estava bem desperto e louco para fazer amor com ela de novo. Mas, logo ela descobrira que ele já estava acordado e cheio de intenções no minuto em que se beijaram e dissera:

- Gilbert Blythe! Você está se tornando um belo manipulador. - e ao que ele respondera:

- É mesmo? E será que consigo convencê-la a se deitar comigo nessa cama novamente? – mas, Anne não aceitara o seu convite, preferindo lhe falar sobre o café da manhã especial que o esperava, e de fato ele adorou as panquecas e os bolinhos de chuva que ela preparara. Ele apenas não dissera a ela que ficaram iguais às que Marilla lhe servia quando ia até Green Gables nas manhãs de domingo, porque Anne não acreditaria e ainda o acusaria de estar tentando bajulá-la porque era seu noivo.

Apesar da surpresa gostosa que tivera ao acordar, Gilbert não pôde deixar de notar que Anne parecia um tanto distraída e até mesmo nervosa, e isso sempre acabava refletindo no apetite dela, que não tocara em nada que havia preparado com tanto esmero. E logo ele descobrira o motivo. A inscrição para a Faculdade ainda gerava dúvidas em sua cabeça, e Gilbert não conseguia entender por que alguém dono de uma inteligência excepcional dava pouco valor a si próprio, e não acreditava em sua capacidade de passar em um exame, que Gilbert tinha certeza que ela realizaria sem dificuldade nenhuma, por isso, quando Anne expusera seus receios sobre se ele achava que ela passaria ou não, Gilbert respondera:

- Amor, literatura é sua paixão. Eu duvido que terá dificuldades para passar. Aposto que consegue fazer os testes em um piscar de olhos, mas, se quiser posso te ajudar a estudar. - Anne o olhara um pouco cética quando ele dissera que a ajudaria a estudar, sabendo perfeitamente que Gilbert não tinha muita paciência com linguagens literárias, preferindo outros tipos de leitura, embora ele tivesse um conhecimento considerável de escritores e suas obras, como já provara a Anne em muitas ocasiões.

Então, ele a convencera que estava junto com ela naquele assunto, e qualquer que fosse a dificuldade, ele a ajudaria a superá-la. E assim, Anne aceitou o desafio de tentar se tornar uma das estudantes de literatura em uma das faculdades mais privilegiadas de Nova Iorque, e para tanto, ela se vestira à altura, deixando Gilbert boquiaberto com a maneira como ela se arrumara aquela manhã. Ele não pudera deixar de dizer quando a vira:

- Meu Deus! Acho que mudei de ideia. Não vou mais levá-la comigo, caso contrário morrerei de ciúmes de cada cara que olhar para você. – e Anne ralhara com ele, dizendo que ele não podia deixá-la trancada no apartamento deles para sempre, escondendo-a do mundo, fazendo-o se lembrar das idiotices que fizera no passado levado por seu ciúme excessivo.

Gilbert era bastante imaturo na época, e era a primeira vez que se apaixonara de verdade. Ele não sentia orgulho disso, mas conseguia entender, depois de tudo que ele e Anne viveram até ali, que era apenas um menino carente demais, mas que hoje, apesar de ainda sentir ciúme de Anne em determinadas situações, era muito mais maduro e que tentava lidar com suas inseguranças de maneira mais adulta. Ele apenas respondera ao seu comentário anterior, que sentia orgulho de quem ela era, e apresentá-la ao mundo como sua noiva seria um prazer.

Por fim, foram juntos para a Faculdade, pois Anne dissera que se sentiria mais segura com a presença dele. No caminho encontraram Dora, que fez questão de cumprimentar Anne, mas, ele de novo tivera a sensação de que Anne não apreciava mais sua amiga quanto antes, e nem mesmo quando ela dissera:

- Que alegria! Saiba que está fazendo Gilbert muito feliz. Ele não para de falar disso há semanas. - Anne pareceu se animar ou tentou se mostrar mais simpática, ela preferiu olhar para ele e dizer:

-Bem, espero corresponder às expectativas dele. – e Gilbert apenas a olhara de volta respondendo que ela nunca o decepcionaria em hipótese nenhuma.

Neste momento, Dora lhe perguntara se ele iria para aula, e Gilbert dissera que iria fazer companhia a Anne mais um pouco, mas sua noiva não permitiu que ele se atrasasse e ainda lhe deu um beijo, que fez Gilbert ficar sem ar. Ele teve que lutar contra si mesmo para se lembrar que estavam em lugar público, mas ainda assim, suas mãos escorregaram pelas costas dela, e ele só a largou quando ouviu seus amigos dizerem:

- Ei, Blythe. A aula de anatomia é só no final hoje.

Ele sentiu seu rosto corar de vergonha, enquanto Anne se desculpava por tê-lo levado à aquela situação, mas, Gilbert tinha quase certeza que ela fizera aquilo para provocar Dora, embora ele não desconfiasse bem porque. Ele não queria acreditar que depois desse tempo que Anne sabia da amizade dele e Dora, ela estivesse se sentindo ameaçada.

Gilbert fora para a sala de aula com sua amiga, sem realmente querer deixar Anne sozinha no corredor. Ambos sempre se apoiaram em seus momentos mais importantes, e não parecera certo deixá-la a própria sorte quando estava em um momento delicado de indecisão, mas, ela também não permitiria que ele ficasse, então, somente lhe restara entrar na sala de aula.

Ao se sentar em seu lugar de costume, Patrick, um dos colegas namorador de Gilbert veio sentar-se perto dele e disse:

- Blythe, conta aqui para o seu amigo quem era a gata no corredor. Que mulherão, eh? E o que é melhor, ela é ruiva. Eu nunca tive a sorte de sequer beijar uma ruiva. Conta aí qual é o seu segredo para atrair uma mulher como aquela? - Gilbert não gostou do tom que Patrick usou para falar de Anne, mas resolveu dar corda somente para ver até onde ele chegaria com aquela conversa.

- Por que quer saber? - Gilbert perguntou sério.

- Ainda pergunta? Quero o endereço daquela gata assim que você se cansar dela.

- Você é tapado ou o quê? - Dora perguntou, tomando as dores de Gilbert. – Aquela garota ê a noiva de Gilbert, então, tenha respeito.

- Noiva? - Patrick perguntou surpreso.

- É sim. Por que o espanto? Todo mundo sabe que o Gilbert é noivo. - Dora disse olhando-o com gravidade.

- Eu pensei que ele tinha inventado está história para manter a Sabrina longe dele.

- Bem, mas agora sabe que é verdade, então, pare de falar asneiras sobre a noiva dele.- Dora concluiu.

- Eu posso fazer mais uma pergunta? - Patrick disse ainda parecendo surpreso.

- O que é? - Gilbert perguntou de má vontade.

- Ela não tem uma irmã que ela possa me apresentar? Gêmea talvez? - Gilbert acabou rindo. Patrick era tão cara de pau que chegava a ser hilário.

- Sinto acabar com suas ilusões, meu amigo. Minha noiva não tem uma irmã. Agora volte para sua carteira e me deixe estudar em paz.

Depois dessa momento, ali estava ele em meio a uma aula importante, sem conseguir de fato se concentrar. Gilbert não via a hora de ir para casa e saber como tinha sido o momento da inscrição de Anne. Ele estava com medo que ela tivesse desistido assim que ele fora para a aula, porque ela não lhe parecera tão segura de que queria mesmo aquilo.

A última aula terminou ao meio dia, e o professor de anatomia passara um trabalho para que os alunos fizessem em duplas, e isso envolveria muita pesquisa, e um texto científico depois. Como sempre, Dora seria a parceira de Gilbert naquela tarefa, por isso, combinaram de se encontrar depois do trabalho dele.

Às cinco horas, Gilbert encerrou seu expediente, e queria correr para casa para ver Anne, porém, tinha aquele trabalho importante para fazer que não podia ser deixado para outro momento. Ao sair do laboratório encontrou Dora esperando por ele, e ela trazia nas mãos vários livros que pegara na biblioteca para o trabalho.

- Oi, Gilbert. Acho que esses livros são o suficiente para o trabalho. Mas, se precisarmos, eu tenho mais alguns no meu dormitório

- Dora, você se importa se fizermos o trabalho no meu apartamento? Estou louco para falar com Anne sobre sua inscrição na faculdade. - Dora assentiu dizendo.

- Claro. Não vejo problema algum. Mas, acha que Anne não vai se incomodar? Não quero interferir na rotina de vocês. – Dora disse, enquanto entregava alguns dos livros para Gilbert.

- Fique tranquila. Tenho certeza que ela vai entender que estamos fazendo um trabalho importante. – Gilbert respondeu.

- Nesse caso, vamos logo, pois temos muita coisa para ler e resumir. - Dora disse enquanto recomeçaram a andar em direção ao apartamento de Gilbert.

Quando chegaram no andar que Gilbert vivia com Anne, o rapaz observou preocupado que Anne não estava. Onde ela havia se metido? Não lhe dissera nada que ia sair a tarde.

Ele e Dora começaram a estudar, mas a cada cínico minutos seu olhar caía sobre o relógio em cima da estante da sala, e nada de Anne aparecer. Ainda assim, ele tentou se concentrar dizendo a si mesmo que Anne era adulta, e sabia muito bem andar pela cidade, e voltar para casa sozinha. Com esse pensamento em mente, ele mergulhou nos estudos, mas Gilbert sabia que não teria paz até ter Anne ali com ele sã e salva.

ANNE E GILBERT

Anne terminou de escrever seu poema, e ao lê-lo sentiu seu rosto queimar. Nunca tinha escrito algo tão íntimo, e não sabia bem de onde aquela ideia surgira, talvez suas noites de amor com Gilbert a tivessem inspirado daquela maneira, mas dificilmente conseguiria mostrar para alguém ou ler em voz alta o que escrevera, sem sentir que se expusera demais e da maneira mais explícita possível. Por isso, quando lhe perguntaram se queria compartilhar sua arte, ela simplesmente negou.

O que aquelas mulheres pensariam dela se estivessem a par do que ela escrevera? Nem mesmo para Diana, ela teria coragem de mostrar aqueles versos que eram sem sombra de dúvidas uma homenagem ao seu amor por Gilbert, mas, somente ela saberia que eles existiam, e não deixaria que ninguém mais os lesse. Ela olhou para o relógio, e se assustou com o adiantado da hora. Gilbert já deveria estar em casa preocupado com ela, pois Anne não o avisara que viria ali.

Na verdade, nem mesmo ela sabia. Fora uma decisão de momento, daquelas que se tomava sem pensar muito, E ela decidira na última hora que viria, pois queria afastar a tensão e os pensamentos inquietantes que tomaram conta dela naquele dia, e acabara por encontrar ali naquele clube de leitura o lugar perfeito para acalmar seu ânimo, e ainda discutir sobre literatura, que era o que mais amava na vida, depois de Gilbert.

Anne passara quase o dia todo ali. Fizeram uma pausa para o almoço, e ao retornarem da lanchonete onde todos tinham lanchado, discutiram sobre vários estilos de poesia, o que culminara com Anne escrevendo um poema totalmente diferente de sua maneira de se expressar.

Não era nada obsceno. Ela nunca escreveria algo assim, mas tão pouco era algo que pudesse sair exibindo por aí. Ela provavelmente poderia encará-lo como um desabafo, já que não tinha seus fiéis confidentes por perto, mas era algo que queria guardar para si mesma.

Anne dobrou o papel com cuidado, colocando-o no bolso do casaco que estava sobre uma cadeira, vestindo-o em seguida. Despediu-se de suas novas amigas do clube, e se dirigiu para a porta onde Roy já estava a postos, sorrindo-lhe com simpatia.

- Então, o que achou do nosso clube? - ele perguntou parecendo ansioso pela opinião dela.

- Eu gostei bastante, na verdade. Quando eu era mais jovem fundei em minha cidade um clube de leitura, mas não tão elegante quanto este. Era mais um refúgio para mim e minhas amigas quando queríamos fugir dos problemas que achávamos que tínhamos naquela época. - Anne sorriu de leve ao se lembrar de sua amada Diana e Ruby com seus cabelos loiros dourados. Mas, logo tornou a ficar séria quando percebeu que Roy a olhava com interesse.

- Então, você já era interessada em literatura desde criança. Isso quer dizer que eu estava completamente certo sobre você. - Roy disse sorridente, e Anne notou que ele ficava mais bonito quando sorria, mas, não tanto quanto Gilbert. Ninguém superava seu noivo quando ele resolvia usar o melhor dos seus sorrisos para convencer alguém sobre algo, ela pelo menos nunca resistia.

- O que quer dizer com isso? - Anne perguntou intrigada com as palavras do rapaz.

- Desde a primeira vez que te vi aqui pensei comigo mesmo que nunca tinha visto uma garota tão encantadora, e tão inteligente ao mesmo tempo. E quando vi seus olhos brilharem ao passar pelo corredor dos grandes autores, logo imaginei que o amor pela literatura estava em seu sangue.

- Você realmente não se enganou nessa parte. - Anne disse sorrindo.

- É uma pena que esteja noiva. E pela maneira como chegou aqui hoje, não creio que o seu noivo saiba tratar uma garota como você, ou ele não te faria sofrer assim.- Anne olhou-o indignada pela afronta. Ele nem sabia porque ela tinha chegado perturbada ali, e logo deduzira que tinha algo a ver com Gilbert. Sua língua queimava pela resposta malcriada que queria dar-lhe, mas, se controlou ao se lembrar que não era mais aquela garotinha vinda do orfanato que falava o que lhe desse na telha. Marilla a ensinara a ser educada mesmo nas piores situações, por esta razão, ela adoçara a voz, e esperava que suas palavras comportadas tivessem o mesmo efeito que teriam se fossem esfregadas na cara do rapaz com rudeza.

- Nessa parte você se enganou. Meu noivo é o melhor homem do mundo, e me trata como uma princesa. Antes de fazer um comentário tão infeliz sobre alguém, sugiro que guarde sua opinião para si mesmo. - Anne não esperou para ver o efeito de suas palavras sobre o rapaz, apenas se despediu com um rápido até logo, e se dirigiu apressadamente para casa.

No caminho de volta, ela teve que passar pela pracinha de novo, e andou o mais rápido que pôde, mas o universo naquele dia estava disposto a desafiá-la e colocá-la frente à frente ao seu drama do passado. Quando estava quase chegando na esquina que colocaria uma distância segura entre ela e aquele lugar que lhe causara lembranças dolorosas, uma bola colorida veio parar em seus pés e uma garotinha de cabelos escuros e cacheados veio ao seu encontro, em busca de seu objeto perdido.

Anne pegou a bola com cautela, se abaixou para falar com a garotinha de olhos escuros e pensou com o coração apertado como eles pareciam com os de Gilbert.

- Essa bola é sua, querida?

- É sim. - a menininha respondeu com sua vozinha infantil que fez Anne sentir a dor aguda em seu peito, abrindo caminho até sua alma.

- Então, aqui está. - Ela respondeu, tentando engolir o bolo em sua garganta.

- Posso tocar no seu cabelo? Ele tem uma cor tão bonita. - a garotinha perguntou olhando-a com seus olhinhos inteligentes.

- Claro, querida. Pode tocar. - Anne disse sorrindo, ao mesmo tempo em que sentia o bolo em sua garganta aumentar.

- Lizie, aí está você! Desculpe-me senhorita, se ela te incomodou. - a mulher que falava era muito parecida com a garota, por isso, Anne deduziu que eram mãe e filha.

- Não se preocupe, senhora. Ela não incomodou nem um pouco. – Anne respondeu, acalmando a mãe da menina que parecia aflita.

- Mesmo assim, peço desculpas. Ela não costuma fazer isso. - a mulher disse pegando firmemente na mão da menina.

- Tudo bem. Ela é uma menina linda. - Anne disse olhando para a garotinha com carinho

- Obrigada. Agora temos que ir. Vamos, Lizie, se despeça da senhorita.

- Tchau. - a menina disse com voz doce.

- Tchau, meu amor. - Anne respondeu, beijando-a na bochecha

Tão logo mãe e filha se afastaram, Anne sentiu uma sensação vazia em seu peito. Aquela garotinha tinha despertado todo o seu instinto materno adormecido, e a tristeza de meses atrás parecia tão viva como se tivesse acontecido exatamente naquele instante.

Anne pensou em Gilbert, e desejou tanto estar com ele naquele momento, por essa razão correu para casa, onde poderia abraçá-lo e ele faria a dor ir embora com suas palavras doces e seu amor imenso por ela. Porém, quando abriu a porta, Anne ouviu vozes que pareciam bastante animadas dentro do apartamento. Assim que entrou, a cena que viu deixou-a inquieta. Gilbert estava sentado na mesa com um livro aberto, e Dora estava bem próxima dele, suas cabeças quase se tocando, mas um pouco e podiam bem se beijar, pelo menos era essa a impressão que ela teve parada ali na porta. Seu coração murchou, e ela estava tão cheia de ciúme que quando Gilbert se virou e a viu, ela disfarçou tentando sorrir.

- Anne, onde estava? Fiquei preocupado. - Gilbert disse, e Anne pensou ironicamente que ele não parecia tão preocupado assim minutos atrás.

- Sai para dar uma volta e perdi a hora. - ela respondeu em tom neutro.

- Oi, Anne. Eu e Gilbert estamos fazendo um trabalho para a Faculdade. Espero que não se importe. – Dora disse simpática.

- Claro que não. Se me dão licença vou para o quarto descansar um pouco. Não quero atrapalhar vocês. – Anne disse deixando o casaco sobre o sofá da sala, e se dirigindo para o quarto.

- Anne, alguma coisa errada? - Gilbert perguntou.

- Não. Só estou cansada mesmo. Fiquem à vontade. - ela abriu a porta do quarto, e a fechou atrás de si.

Ao se ver sozinha, Anne se deitou na cama em posição fetal, abraçou o travesseiro, mas, não se permitiu chorar. Estava exaurida de emoções, apesar da tristeza em seu coração, ela sentia que seria inútil derramar qualquer lagrima. Nada aliviaria o peso de seus ombros naquela noite.

Enquanto isso fora do quarto, Gilbert conversava com Dora que disse assim que Anne fechou a porta do quarto:

- Acho que Anne não gostou de me ver aqui.

- Não, Dora. Acho que o problema é outro. - Gilbert ainda estava preocupado, mas não conseguia pensar no que tinha acontecido fora de casa para Anne chegar em ali com a expressão tão estranha.

- O que pode ser, então? - Dora quis saber.

- Não sei. Mas, vou dar um tempo, e depois tento conversar mais tarde com ela.

- Bem, creio que temos material bastante para o nosso trabalho. Vou organizar tudo, e depois fazemos uma revisão final. - Dora disse, pegando os livros e se despedindo de Gilbert. Ele a acompanhou até a saída, e depois se encaminhou para a porta do quarto, mas, como não ouviu nenhum barulho lá dentro, pensou que talvez Anne estivesse descansando e não quis incomodá-la.

Por isso, ele decidiu fazer o jantar, e quando estivesse tudo pronto ele iria até lá falar com ela. Eram nove da noite, quando Gilbert terminou de preparar a refeição de ambos, e Anne ainda não tinha saído do quarto. Então, ele não quis esperar mais. Porém, quando estava indo atrás de Anne, um pedaço de papel caído no chão lhe chamou a atenção. Ele ficou surpreso ao ver que era um poema, e aparentemente tinha sido escrito por sua noiva, assim, ele começou a ler:

Entre nós.

Existe entre nós este fogo que nos aquece em um único olhar.
Existe entre nós esse desejo que me faz levitar entre o proibido, e o que é sagrado
O que é profano e o que é abençoado.
E assim eu me envolvo nesse mundo de delícias

Que é ter os seus lábios deslizando sobre os meus.
Suas mãos em minha pele contam toda nossa história,
Que entre quatro paredes se resumem em um único suspiro,
Quando seu corpo tão ardente incendeia o meu.
Somos uma única chama feita para durar a noite inteira,
Somos uma paixão incandescente feita para queimar eternamente,
Nos seus braços sou a mulher que sempre quis ser,
Em cada beijo eu consigo me encontrar

E para novamente me perder,
Nesse sonho de amor que sempre foi
E sempre será você.

Anne

Ao terminar de ler as últimas palavras, Gilbert se espantou com a capacidade de Anne de colocar em um poema exatamente o que acontecia entre eles quando estavam juntos. Ele se espantou ainda mais por ela escrever algo tão íntimo quando nunca o fizera antes. Ela mais uma vez lhe mostrar mais uma de suas faces ocultas, e quantas mais ela teria? Gilbert desconfiava que nunca a conheceria totalmente, mesmo que vivessem mais de uma vida juntos.
Ele guardou o poema e entrou no quarto. Anne tinha tomado banho e estava na janela, vestindo apenas um roupão. Ele se aproximou e a abraçou pela cintura, beijando Anne no pescoço, e vendo deliciado a pele alva dela se arrepiar, e sua respiração ficar mais rápida.

- Eu estava com saudades. Por que demorou tanto para voltar para casa? - a voz no ouvido dela era sussurrante, e lhe causava arrepios involuntários. Suas pernas fraquejaram e ela se encostou em Gilbert, respondendo de olhos fechados, tentando assim controlar as sensações que começavam a subir pelo seu corpo.

- Eu te disse. Fui dar uma volta pelos arredores e me empolguei. Não foi nada demais. - Gilbert estava usando seu poder de sedução sobre ela como manipulação para descobrir o que queria, mas, Anne não estava com vontade de falar nada naquele momento, mesmo que ele a fizesse implorar por mais carinhos.

As mãos dele foram até o cordão do roupão e o abriu, e Anne sentiu o vento frio bater em sua pele nua vestida apenas com uma lingerie rosa de renda, mas ela nem sentiu o ar gelado de inverno, pois, as mãos de Gilbert estavam fazendo um bom trabalho mantendo-a quente, enquanto tocavam todos os pontos sensíveis do seu corpo. Ela tentou resistir, mas sabia que não conseguiria ignorar as carícias de Gilbert por mais tempo. Assim, sem pensar mais, ela se virou de frente, deixando que seu olhar se perdesse nos dele tão escuros como se fossem um poço de desejo. Em seguida, ela o enlaçou pelo pescoço, deixando que ele tirasse seu sutiã, jogando-o em qualquer canto do quarto, e tocando os seios dela que ardiam pelas carícias dele. Anne por sua vez, fez com que Gilbert tirasse a camisa, e seus dorso nu brilhou na pouca luz que entrava da rua na penumbra do quarto, e ela fez Gilbert gemer baixinho quando distribuiu beijos quentes por toda a pele dos pescoço e do peito dele.

Gilbert delirava entre as carícias suaves de Anne, que o impediam de pensar com coerência. Entrara ali para tentar descobrir o que a aborrecera, mas, acabara entregue mais uma vez aos encantos dela. Então, ele se lembrou das palavras do poema que ela escrevera, e percebeu quanta verdade ela declarara em poucos versos. Eles eram uma chama que se queimava em suas próprias labaredas, e sentiam uma paixão um pelo outro que duraria a vida inteira. Fazer amor com Anne era perfeito, porque eles se encaixavam completamente em todas as formas e medidas.

Gilbert atirou o roupão dela no chão, ao mesmo tempo em que se despiam mutuamente. A cama os esperava convidativa, e sem que Anne percebesse estava perdida entre os braços de Gilbert e mergulhando em seu próprio desejo misturado com o dele. Entre sussurros e suspiros ela foi amada, da mesma forma em que ofereceu a Gilbert todo o seu amor. Ela se esqueceu de tudo o que fora triste para ela naquele dia, para se deixar consolar pelos beijos doces de Gilbert em sua pele. Logo, ela correu as mãos pelos braços fortes dele, sentindo os músculos firmes entre seus dedos que não se cansavam de tocá-lo.

Então, Anne abriu os olhos e ficou extasiada com a visão do homem que amava com os cabelos revoltos, os olhos brilhantes, o rosto transtornado pela paixão. Assim, ela o beijou e deixou que suas línguas se enroscassem sentindo em seus próprios lábios o calor ardente de Gilbert que se espalhava por todas as suas terminações nervosas, e que deixava sua cabeça tão leve a ponto de fazê-la querer voar. Assim, ele disse com o timbre rouco de sua voz que a deixou arrepiada e cheia de mais desejo ainda;

- Agora vou provar a você que cada palavra de seu poema é tão verdadeira quanto a maneira como você me faz te amar.

E antes que ela pudesse entender o sentido do que ele dissera, Gilbert a levou ao ápice tão rapidamente que seus corpos se fundiram em um único movimento, e a montanha mais alta do mundo pareceu tão fácil de alcançar, porque o amor de Gilbert a conduzia para uma realidade paralela onde todas as cores se juntaram em um arco-íris perfeito. E quando seus movimentos cessaram e seus corpos relaxaram, foi que Anne entendeu o que Gilbert lhe dissera minutos antes.

- Você leu o meu poema!

- Sim, mas não foi intencional. Eu o encontrei caído no meio da sala. – Gilbert disse se sentando de lado com a cabeça apoiada em seu braço direito, enquanto olhava para Anne que estava adoravelmente corada. - Não devia sentir vergonha de algo tão bonito.

- Talvez eu ainda traga um pouco do moralismo de Avonlea em meu sangue. - ela disse de cabeça baixa.

- Mas não devia. Aqui somos só nós dois, e estamos construindo a nossas vidas juntos. Não somos mais crianças, somos um homem e uma mulher que se amam e que devem ser fiéis apenas a si mesmos. Você não precisa escrever um poema para mostrar como o amor é entre nós. Eu posso senti-lo todos os dias na ponta dos meus dedos quando entrelaçamos nossas mãos assim.- Anne olhou para Gilbert enquanto sentia a palma de sua mão encostada na dele, e descobriu que era fácil demais deixar o mundo lá fora quando tinha seu noivo sorrindo para ela daquela maneira. Ela não pensou mais em seu ciúme de Dora, ou no vazio que sentira aquela tarde ao se lembrar de seu filho perdido. Porém, Anne sabia que em algum momento no futuro teria que lidar com tudo aquilo novamente, mas não naquele instante em que tinha o homem mais lindo do mundo completamente seu.

O ontem não importava, o amanhã ainda demoraria algumas horas, mas o agora era a única coisa que fazia sentido e que bastava para fazê-la feliz. Sorrindo de um jeito maroto, ela o puxou para fora da cama, o que o fez perguntar:

- Para onde vamos? - os olhos dela eram pura malícia quando respondeu:

- Agora é minha vez de te mostrar como eu te amo.

Assim, ela o empurrou para o chuveiro onde o som de uma cascata de água caindo abafou todos os sussurros de mais um momento de amor.



Me respondam uma perguntinha. Vocês acham que a Dora está apaixonada por Gilbert? Beijos. tenham uma boa leitura.

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