Capítulo 73- União perfeita
Olá, queridos leitores. Estou postando este capítulo hoje, como já havia dito, tem sido difícil escrever por conta do estresse dessa quarentena, mas, não queria deixá-los sem o capítulo, então, deixarei que me digam o que acharam. Amo muito essa história e todos os personagens que fazem parte dela, então, tento manter-me fiel a minha ideia inicial de falar de um amor puro e sincero entre duas pessoas que realmente se completam. Obrigada por todos os comentários que recebo e os favoritos também, e espero mais uma vez contar com eles como um incentivo para que eu continue esta história. Então, por favor, não deixem de comentar. desculpem por qualquer erro ortográfico. Muito obrigada. beijos.
ANNE
Era seu último dia em Green Gables, e Anne já se sentia saudosa de tudo o que vivera naquelas terras de gramado tão verde, que fora seu verdadeiro lar em todos aqueles anos desde que Matthew fora buscá-la na estação de trem.
Naquela época, Anne temera não se adaptar a rigidez de Marilla, a escola que no primeiro momento não lhe dera nenhuma chance, e às regras de convivência impostas pela sociedade local. Seu único consolo fora Matthew de quem segurara a mão em todos os instantes que a insegurança inquietava seu coração.
Não fora fácil, mas aos poucos ela encontrara uma maneira de ser aceita, e depois que conhecera Diana, o vento da esperança começara a soprar a seu favor. Anne fora forte, como sempre tivera que ser, pois por muito tempo tivera somente a si mesma com quem contar, decidir seus passos, em que direção seguiria com sua vida, descobrir os seus próprios valores, e quem ela desejava ser.
Se pensasse bem sobre aquela época, ela nunca imaginara que chegaria tão longe, pois sua cabeça por mais sonhos que tivesse, compreendia que não havia muito no mundo para uma órfã como ela, e que deveria se contentar com o pouco que conseguisse, porque ninguém daria nada de graça para uma garota que nem sabia de onde vinha, não tinha parentes que a quisessem, ou irmãos para compartilhar suas incertezas ou ilusões acerca de sua vida futura.
E com orgulho podia dizer que alcançara bem mais que sua imaginação um dia pudera sonhar. Green Gables lhe dera tudo o que uma verdadeira família poderia lhe oferecer. Matthew foi o pai amoroso e sempre presente, o amigo leal que lhe dera excelentes conselhos em seus momentos mais incertos-, e Anne jamais o esqueceria por sua bondade, generosidade e paciência com a menininha indisciplinada que ela fora nos primeiros tempos.
Marilla fora dura com ela, e no início, Anne morria de medo dela e de sua cara sempre carrancuda, que dificilmente deixava um sorriso suavizar as linhas de expressões da sua testa, que o tempo colocara ali por anos de carência e solidão. Mas, ela também sabia ser maleável, e com a convivência, Anne percebera que Marilla tinha dentro de si um coração enorme, e que também sabia dar amor, mesmo ensinando os princípios básicos da educação e bons costumes ditado como regras pela sociedade de Avonlea.
Por causa de Marilla, Anne aprendera a ter modos, e deixara de ser aquela garotinha sempre na defensiva que usava os punhos para resolver qualquer pendência com alguém. Não que deixara suas convicções de lado. Por vezes Marilla ficava maluca ao lidar com o lado obstinado de Anne em fazer justiça a todo custo, e a ruivinha nunca fora boa em controlar seu temperamento intempestivo.
Anne riu ao lembrar dos sermões que levara de Marilla quando criança por alguma maluquice que tivesse feito, e sentiu seu coração transborda de amor por aquela mulher corajosa, que desistira de seu amor por lealdade à própria família. Era triste pensar que ela teria sido uma excelente esposa, e uma mãe melhor ainda, mas, por aquelas decisões do destino que ninguém entendia, acabara se tornando uma mulher solitária tendo apenas seu irmão como companheiro de vida.
Anne passou as mãos por sua escrivaninha, onde passara horas estudando como um desafio para superar um certo menino Blythe que era uma pedra em seu sapato, e que por causa dele nunca conseguira ser a melhor aluna da sala, porque ou eles empatavam nas notas, ou Gilbert a vencia por causa de sua péssima compreensão em geometria.
Quem diria que se apaixonariam daquela maneira um pelo outro, que ficariam noivo e dividiriam suas vidas em uma cidade grande como Nova Iorque? Aos treze anos, Anne sequer pensava que podia ser uma boa esposa, quem dera viver com Gilbert em um lugar tão grande quanto aquele. Mas, em seu coração, nada superaria o que Green Gables significava para ela. O único lar que lhe dera amor fora aquele, antes, apenas tivera uma casa para morar, onde nada era de graça, pois pagava por cama e comida com seu trabalho, e era apenas vista como uma boca a mais para ser alimentada.
Em Green Gables foi que ela aprendera a amar as pessoas sem medo de abrir seu coração. E por esta razão fora possível para ela se deixar amar também, embora tivesse dificuldade a princípio de acreditar que sua figura tão sem atrativo e até mesmo considerada esquisita para alguns, pudesse causar algum sentimento positivo em alguém que não fosse repulsa.
Anne somente parara de questionar sobre a sinceridade do amor de alguém por ela, quando Gilbert a convencera que ela era digna de ser amada como qualquer garota da sua idade. Fora o amor dele que transformara suas aspirações como a princesa Cordélia de seus sonhos em um castelo de verdade, onde tinha seu príncipe para passar o resto de seus dias sem medo da solidão. Amar Gilbert a tornara alguém melhor, a fizera acreditar mais em si mesma, a fizera sonhar mais alto do que antes e descobrir que nenhuma estrela era difícil de alcançar desde que se trabalhasse para isso.
A menina lançou um olhar para o quarto todo e pensou o quanto de Gilbert havia nele. Dormira e acordara com ele ali secretamente tantas vezes, e fora a melhor época de sua vida, pois descobrira que o amor carnal não significava nada, se o seu coração não estivesse envolvido, e amar Gilbert dessa maneira a fizera perceber que nunca mais sentiria com alguém aquela comunhão de almas que tinha com ele quando se entregavam um ao outro. Green Gables também lhe dera isso, um amor infinito capaz de atravessar fronteiras, lutar uma guerra inteira e se manter intacto em sua forma mais pura. Anne nunca mais encontraria no mundo inteiro um lugar assim onde seu lar também fosse o seu coração.
Ela lançou um olhar para sua cerejeira, e uma lágrima caiu sem que esperasse. Foi até a janela e tocou as folhas remanescentes que o outono permitira que permanecessem em seus galhos, e pensou em quantas vezes lhe confidenciara seus segredos mais profundos, e como uma boa companheira que era ouvira cada um deles através dos anos, pena que aquela árvore majestosa não pudesse falar , pois se conseguisse se fazer ouvir, com certeza teria lhe dado conselhos valiosos que Anne levaria pela vida afora, mas já valera a pena ter acordado a cada manhã e recebido um bom dia pelo farfalhar alegre do vento em seus ramos.
- Falando com a cerejeira de novo, Anne? - ela se virou e viu Matthew Cuthbert olhando-a com o carinho no qual crescera toda a sua adolescência, e sorriu para ele com ternura.
- Acho que a princesa Cordélia continua em meu sangue afinal.
- Na verdade, minha querida, ela nunca saiu de você. Estava apenas adormecida em seu coração. – Matthew disse se aproximando e colocando um braço ao redor do ombro de Anne. - Como se sente indo para Nova Iorque?
- Me sinto feliz, ansiosa, temerosa, tudo ao mesmo tempo. - Anne respondeu com um suspiro, colocando seus braços ao redor da cintura de Matthew e aninhando sua cabeça no peito dele.
- Você será feliz em Nova Iorque, tenho certeza. Ainda mais por que estará com Gilbert, não há nada a temer, Anne.
- Eu sei, mas sentirei tanta falta de casa. – Anne disse com a voz chorosa.
- Os passarinhos foram feitos para deixarem seus ninhos, e voarem em busca de seu próprio lugar no mundo, e você mais do que ninguém merece essa oportunidade. – Matthew acariciou seus cabelos suavemente.
- Obrigada Matthew por ser o pai que eu nunca tive. Você não sabe o que significou para mim viver com você e Marilla em Green Gables todos esses anos. Se você não tivesse me encontrado naquela estação, só Deus sabe o que teria sido feito de mim.
- Nós é que temos que agradecer. Você tornou a vida de dois velhos uma grande aventura. Se você nunca tivesse vindo para cá eu nunca saberia como é ter uma filha, e eu e Marilla teríamos acabado nossos dias implicando um com o outro, sem deixar nada de valoroso para trás. – Matthew disse sorrindo.
- Eu dei muito trabalho quando vim para Green Gables, não é? - Anne perguntou, olhando para o rosto tão amado de seu pai adotivo.
- Eu posso te dizer que valeu a pena cada segundo. E foi ainda mais prazeroso vê-la crescer e se tornar essa moça linda e inteligente que é hoje.
- Eu tive muita sorte de ter sido adotada por vocês dois. – Anne levou a mão ao rosto de Matthew e acariciou suas feições cansadas.
- Estou muito feliz por você ter encontrado o amor com Gilbert Blythe. Não existe ninguém melhor no mundo que eu desejaria que fosse seu esposo. -Matthew disse segurando as mãos de Anne entre as suas. - E saiba que ainda estou esperando aquele netinho.
- Matthew. - Anne disse com o rosto corado. Não se sentia confortável falando de um assunto assim com Matthew. Parecia um sacrilégio discutir sua vida sexual com seu pai adotivo.
- Não sei porque ficou envergonhada. O amor verdadeiro deve ser vivido em toda sua plenitude. Não devia se sentir constrangida por você e Gilbert desfrutarem dos prazeres que um sentimento assim causa em pessoas que se amam. - Anne se surpreendeu com a maneira com que Matthew falou de seu relacionamento com Gilbert. Não achou que sua aceitação da intimidade que partilhavam fosse assim sem recriminação nenhuma. Matthew era um homem de muitas facetas agradáveis, e aquele modernismo fora de época com certeza era a melhor delas.
- Acho que você deveria falar com Marilla. Por fora ela é durona, mas por dentro sei que está chorando feito criança. – Matthew disse mudando de assunto.
- Acha que ela não vai se importar se eu lhe der um abraço? Desde que vim morar aqui ela nunca gostou muito de demonstrações de carinho exageradas. Sempre me disse que isso era pura perda de tempo.
- Você conhece Marilla. Ela finge que não liga, mas no fundo ela é bastante sentimental, só não gosta de demonstrar por medo do que as pessoas vão pensar dela. É pura bobagem, eu sei, mas aquele mau humor todo não passa de uma capa que ela usa para que ninguém saiba como ela realmente se sente.
- Vou falar com ela, então. Está quase na hora do jantar, acha que agora seria uma bom momento? - Anne perguntou incerta.
- Claro que sim. Tenho certeza de que ela está esperando por isso, só não sabe como dizê-lo.- A afirmação de Matthew fez Anne se decidir.
Assim, quando estavam no meio do jantar, Anne olhou para Marilla que mantinha a cabeça baixa enquanto cortava um pedaço da carne de seu prato, e começou a dizer com a voz um pouco trêmula:
- Marilla, eu queria te agradecer pelos bons anos que tive em Green Gables, pelo carinho e respeito com o qual vocês sempre me trataram. Se vocês não tivessem me livrado daquele orfanato, nem sei qual teria sido o meu destino. Eu sei que não fui uma menina muito fácil, quando cheguei aqui não tinha disciplina nenhuma, estava sem rumo, e tão ansiosa para encontrar um lar, e você com sua mão generosa e como uma mãe zelosa me ensinou como me tornar uma pessoa decente. Muito obrigada. - Marilla não disse nada, e Anne não soube mais o que dizer. Ela olhou para Matthew pedindo ajuda, e com a cabeça ele lhe pediu que se aproximasse de Marilla.
Anne se levantou e chegou perto de Marilla, esperando que ela tivesse alguma atitude, pois aquele silêncio dela a estava preocupando. Quando ela menos esperava, Marilla levantou o rosto cheio de lágrimas e a abraçou pela cintura, dizendo com sua voz abafada pelo choro.
- Eu te amo, Anne. Você será sempre e minha menininha.
- Eu também te amo, Marilla. – E ambas ficaram assim até que Marilla a soltou, enxugou as lágrimas rapidamente na barra do avental que estava usando e a encheu de perguntas sobre Nova Iorque, e todas as coisas que ela estava levando, aconselhando a não esquecer de colocar na mala um item ou outro que Anne não tinha se lembrado de empacotar, adotando aquela postura que Anne estava acostumada a ver em todos aqueles anos de convivência.
Antes de dormir aquela noite, a ruivinha foi até a janela, e seu olhar de perdeu na imensidão de estrelas que brilhavam convidativas, e Anne fez uma prece silenciosa para que a nova vida que estava iniciando com Gilbert fosse tão abençoada como a que tivera em Green Gables, e que ela pudesse encontrar o fio do seu destino que ainda estava perdido, e que voltasse a ver a vida com os mesmo olhos da menina que fora antes, e que ela e Gilbert tivessem uma existência longa e feliz juntos.
GILBERT
Era mais um dia comum para a população de Avonlea, mas não para Gilbert, que vinha sonhando com aquele momento há semanas. Faltava apenas um dia para que Anne fosse com ele para Nova Iorque, e aquela alegria que o deixava cego para qualquer outra coisa que estivesse acontecendo o fazia sentir que poderia alcançar a lua, se tivesse como chegar até lá.
Fazia tempo que a vida não lhe sorria desse jeito, e a sensação que ele tinha era que estava recomeçando de onde tinha parado meses atrás, quando o tiro que levara lhe roubara dois meses de sua vida, e quando a devolvera, todos os seus sonhos estavam em pedaços, atirados pelo ar sem piedade. E Gilbert foi recolhendo-os um a um com a paciência e o cuidado com que sempre fizera tudo em sua vida, e no dia seguinte estaria recolhendo mais um e juntando-o a todos os outros que no final o levaria a um só caminho que era seu casamento com Anne.
- Nunca te vi sortir tanto, Blythe. Nem no dia em que ganhou sua bolsa para medicina. – Sebastian disse, assim que viu Gilbert tomando seu café da manhã.
- Acho que depois de todos esses meses, essa é a primeira vez que me sinto realmente feliz. - Gilbert disse sem conseguir parar de sorrir.
- Aposto que isso tem o dedo de uma certa ruivinha.
- Você sabe que ter Anne comigo depois daqueles dias sombrios, é a única coisa que me faltava para que eu fosse feliz. - Os olhos de Gilbert brilhavam tanto que até Sebastian acostumado com a paixão do rapaz pela ruivinha ficou admirado.
- Há muito tempo que não te vejo tão animado com alguma coisa.
- Você também não ficaria se o amor de sua vida aceitasse passar o resto de sua vida com você? Eu sempre disse que ela era o meu sol, e agora todos os meus dias serão iluminados e nunca mais a perderei de vista.
- E o casamento? Acha que será logo? - Sebastian perguntou se servindo de um pouco de café com leite.
- Poderia ser amanhã mesmo se Anne quisesse, mas já te contei o sonho dela, então vai demorar mais do que eu gostaria. - ele suspirou um tanto impaciente. Ele não se importava em ter um casamento simples, mas também não queria desapontar Anne. Ela merecia ter seu casamento dos sonhos. Gilbert queria muito que ela tivesse seu sobrenome, mas podia esperar maus um pouco desde que ela estivesse com ele.
- E a faculdade? Ela pensa em voltar a estudar?
- Nós não falamos muito sobre isso, mas pretendo convencê-la. Eu sei que é importante para ela ser professora. Anne ama demais essa profissão, e eu também não consigo vê-la fazendo outra coisa. - Gilbert disse por fim.
Ele realmente esperava que Anne reconsiderasse. Não fazia sentido ela deixar de lado algo que visivelmente a completava. Talvez com um pouco mais de incentivo e até que chegassem a Nova Iorque, Gilbert tentaria deixar plantada aquela ideia em forma de sementinha. Quem sabe com o tempo não desse bons frutos?
Ele e Sebastian encerraram a conversa momentos depois, e Gilbert voltou para o seu quarto. Ele e Anne não se veriam naquele dia, pois ela lhe pedira um tempo para se despedir de cada cantinho da casa onde fora tão feliz, e queria fazer isso sozinha.
Gilbert preparara várias coisas especiais para fazer com Anne na próxima semana. Ele não teria aula, e também tirara folga do laboratório onde trabalhava meio período, pois achava importante passar aquela primeira semana junto com sua noiva a fim de que ela pudesse se adaptar mais facilmente a uma nova rotina.
Gilbert não queria que ela tivesse motivo para sentir saudades das coisas que deixaria para trás. Ele sabia o quanto ela era apegada a Green Gables, assim como também a Matthew e a Marilla, mas ansiava que ela pudesse enxergar com o tempo o apartamento que ele preparara com tanto amor e carinho como o início sólido de uma vida a dois.
Aquelas últimas semanas estavam sendo bastante esperançosas para ele. Agora que os momentos mais turbulentos pareciam ter passado, a antiga Anne vinha ressurgindo lentamente da escuridão na qual tinha mergulhado. Ele via com prazer seus olhos brilharem por coisas que a um mês a trás não pareciam interessá-la de forma alguma. Seu sorriso parecia se mais sincero, e ela já não estava mais tão resistente às carícias dele. Gilbert se sentia aliviado por sentir que mais alguns passos estavam sendo dados para a libertação completa de Anne de seus medos e frustrações, e também estava feliz por fazer parte desse processo. Queria que ela confiasse nele como antigamente, e por isso estar com ela a cada caminhada era de suma importância para Gilbert.
Mary estava quase servindo o jantar quando ele deixou seu quarto naquele dia. Passara a maior parte da tarde organizando alguns livros, e escolhendo alguns para levar para o novo apartamento, e também outros objetos que queria que fizessem parte da decoração. Encontrara um porta retrato antigo com uma foto do casamento de seus pais, outro com uma foto sua em seu primeiro dia na escola, um globo terrestre que ganhara do pai quando ele começara a mostrar certo interesse por conhecer mais sobre outros países, e um dicionário com termos médicos que ganhara da Srta. Stacy antes de ir para a faculdade de Nova Iorque. Eram coisas simples, mas queria conservá-las com ele, pois cada uma lhe trazia uma lembrança de algum momento especial em sua vida.
- Ansioso para voltar para Nova Iorque? - Mary perguntara assim que ele sentara a mesa naquela noite.
- A ansiedade é porque Anne vai comigo, e não por causa da cidade. Você sabe o quanto Avonlea significa para mim.
- É claro que sei, querido, como também sei que a presença de Anne é o que mais conta, não é? Espero que construam uma vida linda juntos. - Mary dissera enquanto lhe servia um pouco da sopa que fizera. - Vamos sentir saudades de vocês.
- Nós também. Prometo que voltaremos sempre para visita-los.
- Acho bom, pois Shirley precisa muito da presença do irmão mais velho dela, por isso trate de cumprir a promessa, pois vou cobrá-la de você com certeza. - Mary fez cara de brava e Gilbert riu.
- Até quando finge ficar brava você tem cara de boazinha, Mary.
- Ah, isso é com você, pois quando ela fica brava comigo é uma verdadeira megera. - Sebastian disse zombando de Mary que lhe deu um tapa de leve e retrucou.
- Se fiquei brava com você alguma vez é por que mereceu.
- Está vendo, Gilbert, como ela me trata depois de lhe dar todo o meu amor e carinho? - Sebastian disse fazendo uma careta.
- Não reclame Sebastian. Você também recebe todo o meu amor e carinho todos os dias. - Mary disse ainda se fingindo de brava.
- Eu sei, é por isso que te amo tanto. - Sebastian disse sorrindo.
- Eu também. – Mary respondeu apertando a mão dele.
Gilbert sorriu diante daquela discussão familiar amorosa. Ele sempre se sentia inspirado ao olhar para aqueles dois. Mary e Sebastian tinham nascido um para o outro, assim como ele e Anne, e nada naquela vida poderia destruir o que construíram juntos.
Ambos eram uma lição de vida que Gilbert aprendia todos os dias, pois vê-los enfrentar o que estava por vir com coragem, mesmo sofrendo na pele o preconceito que ainda pesava sobre eles, mostrava a Gilbert que ele e Anne poderiam sim criar um jardim sobre pedras, bastava que segurassem na mão um do outro como via Sebastian e Mary fazer agora, e tudo ficaria perfeitamente bem.
Mais tarde naquele dia, Gilbert estava se preparando para ir para a cama, quando seu olhar foi atraído pela lua. Estava uma noite bonita e o céu parecia um tapete carregado de estrelas que de onde Gilbert estava, a impressão que ele tinha era que pequenos pontinhos de luz iluminavam o universo inteiro, o que o fez pensar se Anne também estava admirando aquele espetáculo incrível.
Em Nova Iorque, o céu não tinha aquele beleza durante a noite, e essa era uma das coisas que ele sentia falta por lá. Sempre que estava na janela de seu apartamento, Gilbert sempre buscava encontrar um céu como aquele, mas a única coisa que encontrava era os enormes arranha céus que dificultava sua visão da lua e das estrelas.
Por essa razão, ele queria guardar aquele panorama maravilhoso em suas lembranças para que quando não pudesse enxerga-lo dessa forma, ele o encontraria em seu coração, e tendo Anne ao seu lado, não seria nada difícil, pois entre todas as estrelas ela sempre fora a mais brilhante, a mais inspiradora, a mais verdadeira, e fora ela que em todos os momentos o guiara em seu caminho para casa.
Gilbert foi para a cama, mas não conseguia dormir, estava ansioso demais para que o dia amanhecesse. Ele virou várias vezes na cama, mas sua mente insistia em ficar se lembrando de Anne, e da grande viagem que fariam no dia seguinte. Ele devia tê-la visitado naquele dia, e se certificado de que ela estava mesmo feliz com a escolha que fizera. E se ela desistisse no último minuto? E se de repente ela lhe dissesse que tinha mudado de ideia, e que ir para Nova Iorque com ele era má ideia? Gilbert balançou a cabeça com força para espantar seu inesperado ataque de dúvidas. Anne não faria isso com ele, não o abandonaria no último minuto, não destruiria os planos que fizeram juntos com tanto cuidado, e não deixaria que nada ficasse entre eles novamente.
O amor deles era forte, e Gilbert não tinha motivos para pensar que Anne não cumpriria com o acordo que fizeram, mas ainda sim, uma pontinha de medo o fazia sentir um frio no estômago que o impedia de dormir.
Depois de alguns minutos se debatendo em suas incertezas, Gilbert tentou se acalmar e deixar de lado aqueles pensamentos que o estavam angustiando, e por fim quando conseguiu dormir, foi a imagem de Anne que o fez mergulhar no mundo do sono de maneira calma e confiante.
GILBERT E ANNE
Eram quase nove horas quando Gilbert foi buscar Anne em Green Gables naquela sexta-feira em que iriam para Nova Iorque. A manhã estava incrivelmente clara, enquanto um sol brilhante inundava todos os lugares com seus raios, deixando o dia ainda mais inspirador.
Quando bateu na porta dos Cuthberts, Gilbert estranhamente se sentia nervoso, como se fosse a primeira vez que estivesse vindo ali. Ele conhecia Marília e Matthew Cuthbert a vida inteira, e a fazenda deles sempre fora grande fonte de divertimento quando criança para ele e Muddy que adoravam nadar no riacho que dava para o fundo da propriedade de Green Gables.
Mas, aquela era uma situação diferente. Gilbert estava ali para levar embora o seu bem maior que era Anne, e mesmo contando com a aprovação deles, Gilbert se perguntava se não haveria da parte deles um pouco de ressentimento. Porém, quando Marilla abriu a porta e lhe deu um daqueles raros sorrisos, Gilbert se sentiu realmente bem vindo, e todo aquele medo inicial se foi.
- Gilbert, que bom que chegou. Estava preparando um café fresquinho antes que você e Anne viajem para Nova Iorque. Por favor, venha comigo. - ela o pegou pelo braço e o levou até a cozinha onde Matthew estava esperando pelo desjejum
- Onde está Anne? - Gilbert perguntou ansioso, e Marilla deve ter percebido, pois deu-lhe um tapinha no ombro e disse:
- Ela já está descendo. Fique tranquilo. – Gilbert sentou-se à mesa, enquanto Marilla lhe servia uma xícara de café, e um pedaço de bolo que ele mal tocou, pois estava nervoso demais.
- Não gostou do bolo? - Matthew perguntou observando a sobremesa intocada no prato de Gilbert.
- Claro que sim, Sr. Cuthbert. É que já tomei café em casa, e não quis ser mal educado com a Sra. Cuthbert. Ela pareceu-me tão feliz por servir-me esse pedaço de bolo que não quis desapontá-la. - Gilbert disse sem graça.
- Matthew, pare de implicar com o rapaz. – Marilla disse repreendendo Matthew, depois se virou para Gilbert e disse. - Não ligue para esse velho tolo, Gilbert, ele tirou o dia para ser engraçadinho hoje.
- Ora, Marilla. Eu estava só brincando. Quis apenas descontrair o ambiente, pois se você não percebeu Gilbert parece mais tenso que a corda de um violino. - Gilbert ficou sem jeito com as palavras de Matthew, e baixou a cabeça para esconder o próprio embaraço
- Matthew Cuthbert, já chega! – Marilla falhou novamente. – ela então colocou um braço no ombro de Gilbert e perguntou:
- O que o aflige, meu rapaz? - Gilbert se ajeitou na cadeira antes de responder e disse sem olhar para Marilla.
- Fiquei pensando que talvez a Anne pudesse mudar de ideia.
- É por que pensou isso? - Matthew perguntou com simpatia.
- Não sei, fiquei com medo de ela simplesmente desistir. Ela tem andado muito inconstante nos últimos tempos. - ele disse suspirando.
- Mas, não sobre isso. – Marilla respondeu. - Essa viagem é a única coisa que a tem deixado feliz ultimamente. Ela jamais desistiria dela.
- Eu sei que é bobagem. Fiquei apenas inseguro. Não quero perdê-la de jeito nenhum.
- E não vai, Gilbert. Eu falei com ela ontem à noite, e ela está tão ansiosa quanto você. - Matthew afirmou.
- Fico feliz em ouvir isso. - Gilbert disse arriscando sorrir, pois seu maxilar estava tão travado que começava a doer de tanta tensão. - Está mesmo tudo bem para vocês? Não se arrependeram de me dar permissão para levar Anne comigo para Nova Iorque?
- Ela nunca precisou de nossa permissão, você sabe disso. Anne sabe o que quer, e nunca recuaria diante de uma recusa nossa. Mas, não nos arrependemos. Temos certeza que sair de Green Gables é o melhor para ela. Aqui existem muitos traumas que ela precisa esquecer. - Matthew disse aquilo com tanta convicção que Gilbert acreditou nele, mas, o rapaz somente voltou a respirar normalmente quando Anne surgiu na porta da cozinha com suas malas na mão, e disse:
- Estou pronta. - o sorriso era tão maravilhoso quanto a mulher a quem ele pertencia, e Gilbert soube naquele instante que tudo daria certo.
Matthew os levaria até a estação de trem no carro de Gilbert, e depois o devolveria para Sebastian na volta, por isso, tanto Gilbert quanto Anne se despediram de Marilla que tinha os olhos rasos d'água enquanto dizia:
- Cuide bem da nossa menina, Gilbert.
- Pode deixar. Anne sempre será minha prioridade. - ele deu-lhe um beijo no rosto e Marilla abraçou Anne que dizia emocionada:
- Virei visitar vocês assim que puder.
- Ficaremos esperando. - Marilla disse com um último abraço.
Entraram no carro, e Anne se aconchegou a Gilbert que a abraçou pelo ombro enquanto algumas lágrimas ainda escorriam por suas bochechas. Ele sabia que estava sendo duro para ela partir, então não disse nada, porque Anne precisava daquele minuto consigo mesma.
Fizeram todo o caminho até a estação em silêncio, pois Anne parecia pouco propensa a conversar e Gilbert respeitou sua necessidade de recolhimento. Teriam muito tempo para conversar quando chegassem a Nova Iorque, principalmente sobre tudo o que fariam juntos dali para sempre.
Ao chegarem à estação, Muddy e Josie estavam lá esperando por eles, e ambos se despediram dos dois amigos com alegria e tristeza ao mesmo tempo.
- Vou sentir falta de nossas conversas. Você sempre foi mais madura que eu em tudo. - Josie disse abraçando a amiga.
- Vou sentir sua falta também. – Anne disse retribuindo i abraço.
- Espero que tudo dê certo para vocês, e esperamos para sermos convidados para o casamento em breve. - Muddy disse apertando a mão de Gilbert em sinal da amizade que partilhavam a anos.
- Claro. Vocês serão nossos padrinhos assim como Jerry e Diana. – Gilbert disse.
- Cole também. É uma pena que ele tenha voltado para Paris na semana passada. Queria muito ter me despedido dele direito. - Anne disse se lamentando.
- Ele prometeu que irá à Nova Iorque com Pierre a fim de nos visitar. Não precisa ficar triste, meu amor. – Gilbert disse afagando-lhe os cabelos.
Logo eles ouviram o apito do tem anunciando a última chamada. Anne e Gilbert pegaram suas malas e enquanto se dirigiam para a entrada do trem, Gilbert disse para Muddy e Josie;
- Venham nos visitar um dia desses.
- Iremos com certeza. – Muddy respondeu.
Dessa forma, começaram sua viagem rumo a vida de que agora seria o seu lar. Anne se acomodou perto da janela, e pensou com carinho nas pessoas que amava e que ficaram para trás. Iria começar tudo de novo, tentando construir uma vida para si mesma e Gilbert. Ele vinha sendo tão paciente com ela, e esperava não desapontá-lo de forma nenhuma.
- Você está bem? - Gilbert perguntou examinando-lhe o rosto ainda úmido das lágrimas que derramara ainda a pouco ao se despedir de Josie.
- Sim, Estou bem. Não se preocupe. - Anne disse apertando seu ombro com carinho.
- Eu sei que está sendo difícil, mas você logo se acostumará. - ele disse tentando encorajá-la.
- Gilbert, eu estou triste por deixar Green Gables, mas estou ainda mais feliz por estar deixando a fazenda com você. Qualquer lugar no mundo é o paraíso para mim se você estiver lá comigo. - Ande disse seu olhar prendendo o dele, e Gilbert não teve outra alternativa senão beijá-la com todo o amor que transbordava por seus poros.
Quando se separaram ofegantes ele disse:
- Você é o amor da minha vida. Nunca seria feliz em lugar algum sem você.
- Eu queria te agradecer por ser tão paciente comigo. Sei que não tenho sido muito fácil nos últimos tempos – Anne disse brincando com os cachos escuros dele.
- Valeu a pena. Eu faria tudo de novo se você me pedisse. - Gilbert a aninhou em seus braços, e Anne pensou mais uma vez na sorte que tinha por Gilbert estar disposto a lutar por ela, e pelo sentimento que tinham um pelo outro.
- Você é tudo que existe para mim nesse mundo, Gilbert. Quero que se lembre disso quando for difícil demais acreditar em qualquer outra coisa. - Anne disse beijando-o no rosto.
- Eu acredito em nós dois, e isso me basta. - Gilbert olhou-a como se a acariciasse, e depois disse ajeitando a cabeça dela em seu ombro.
- Por que não descansa? Temos um longo caminho até chegarmos a Nova Iorque.
- Mas, e você?
- Você sabe que tenho dificuldades para dormir quando viajo. Acho que vou ficar observando a paisagem esplêndida lá fora. – Gilbert apontou para a janela.
- Quer companhia? - Anne disse encantada com as diversas misturas de cores que podia ver na natureza por onde passavam.
- Se quiser. - disse Gilbert.
E assim passaram boa parte da viagem com os olhos percorrendo cada pedacinho da região que seus olhos podiam enxergar, e depois de algumas horas de viagem, Anne adormeceu, e Gilbert ficou todo bobo observando-a dormir tão tranquilamente.
A quanto tempo não a observava dormir assim? A quanto tempo não a via tão relaxada em seus braços. Depois que perdera o bebê, Gilbert nunca mais a vira dormir daquele jeito com a respiração calma, e o semblante parecendo feliz. Na maior parte do tempo, Anne tinha pesadelos dos quais não se lembrava, e acordava sempre parecendo cansada e sem ânimo, por isso, era um alívio ver que ela estava conseguindo descansar de verdade-, mesmo que a poltrona do trem em que estavam não fosse tão confortável assim.
Chegaram em Nova Iorque de tardezinha, e Anne já estava bem desperta quando desembarcaram na estação apinhada de gente. Pegaram um táxi e foram até o apartamento que Gilbert tinha alugado, e estava ansioso para mostrar a ela. Assim que abriu a porta, Anne ficou encantada com o que viu. Logo na sala de entrada, havia várias bexigas com um cartaz escrito" Seja vem vinda, Anne".
- Que lindo, Gilbert. Foi vice quem fez isso? - ela perguntou apontando para o cartaz de boas-vindas.
- Não. Acredito que essa boa ideia tenha sido de Dora. Foi ela quem me ajudou com a decoração. – Gilbert explicou sorrindo.
- Preciso agradecê-la então, por esse gesto tão lindo.
- Eu também. Confesso que ela me pegou de surpresa. – Ele pegou na mão de Anne e continuou:- Venha, vou te mostrar o resto do apartamento.
Dessa maneira, Gilbert apresentou a Anne cada cômodo que ele e Dora tinham arrumado com capricho, e Anne se apaixonou à primeira vista pelo lugar. Ela ficou admirada com o cuidado com que Gilbert tinha decorado cada parte do apartamento, e se sentiu incrivelmente emocionada por ele ter pensado nela ao fazê-lo, pois cada pedacinho daquele lugar tinha algo que a fazia se sentir bem, e estava tão grata que não sabia como dizê-lo. Pararam em frente à um quarto e quando Gilbert abriu a porta, ele disse:
- Este é o seu quarto. Espero que goste dele. Tentei imaginar como você gostaria de decorá-lo, mas não tenho muita certeza se vai gostar do resultado. É claro que pode mudar o que quiser aqui assim como no apartamento todo. Quero que se sinta totalmente em casa.
- Meu quarto? - ela perguntou sem entender. Então, dormiriam em quartos separados? Gilbert não a queria com ele? Ela tentou sorrir, mas seu desapontamento foi maior.
- Achei que gostaria de ter um canto somente seu até que se acostume com a nova vida aqui. Então, o que achou? - ele disse cheio de expectativa.
- É lindo. Obrigada. - ela disse fingindo uma animação que não sentia.
- Coloquei todos os livros que gosta aqui nesta estante. Espero que não tenha esquecido nenhum clássico. - ele sorria feliz sem notar a tristeza no olhar de Anne. Ela passou os dedos por cada livro e se virou dando a Gilbert um sorriso que nada tinha de sincero
- Você até se lembrou de Mark Twain. Acho que temos esperanças para você Blythe. Quem sabe não consigo fazê-lo ler um desses livros uma noite dessas comigo?
- Vou pensar no assunto. - Gilbert disse com um olhar de quem duvidava que aquilo fosse mesmo acontecer. - Agora porque não toma um banho? Vou fazer nosso jantar.
- Está bem. - Anne disse concordando.
Assim que Gilbert saiu e fechou a porta, ela se sentou na cama e olhou ao seu redor. Ela amara o apartamento. Tudo o que Gilbert fizera ali a agradara enormemente, menos a questão do quarto. Não era assim que pensara que seria quando ele a convidara para morar com ele em Nova Iorque. Anne acreditara que viveriam como um verdadeiro casal, e não que ficariam em quartos separados. Aquilo a magoava muito, logo agora, que estava superando sua resistência a respeito da intimidade entre eles.
Mas, e se Gilbert estivesse cansado de esperar, e daquela maneira estava lhe dizendo que preferia que ela ficasse longe dele por enquanto? Ela não podia acreditar que a paixão dele por ela tivesse se apagado de um dia para outro. Mas, era possível, não era? Anne confiara demais nisso, e agora iria pagar pelo seu erro.
Ela foi para o chuveiro chateada. Tomou um banho rápido, prendendo os cabelos no alto da cabeça, pois se os molhasse demorariam demais para secar por causa do comprimento tão longo, e não queria dormir com eles molhados. Anne colocou um vestido leve branco, e foi até a cozinha ver se Gilbert precisava de ajuda para preparar o jantar.
Logo que a viu, ele a olhou de cima embaixo, engolindo em seco ao constatar o quanto ela estava linda, mas não disse nada, por que ele não queria que ela soubesse o que ele estava pensando.
- Quer ajuda com o jantar? - ela perguntou se aproximando.
- Se quiser pode preparar a salada. – Ele respondeu, sentindo o perfume dela rescender pela cozinha, fazendo Gilbert imaginar a batalha que teria que travar consigo mesmo aquele dia para se manter longe dela.
A cozinha era pequena, e por isso era inevitável que se esbarrassem sem querer. E cada vez que isso acontecia, Gilbert se afastava, deixando Anne cada vez mais magoada com ele. Ela não poderia saber que dentro do rapaz seu sangue borbulhava, e que ele tentava bravamente resistir ao desejo que crescia cada vez que a pele dela roçava na dele sem querer.
Eles terminaram de preparar o jantar e arrumaram tudo sobre a mesa, mas Anne pouco falou ou comeu, frustrada pela situação na qual se encontrava.
- Não gostou da comida, Anne? - Gilbert perguntou observando a menina brincar com a comida em seu prato.
- Está deliciosa, mas acho que estou cansada demais para comer. - ela respondeu tentando sorrir mas falhando na tentativa.
- Por que não vai para a cama? Eu arrumo tudo por aqui, não se preocupe. – Anne olhou para Gilbert descrente com o que ouviu. Ele estava mesmo mandando-a para a cama como se fosse uma garotinha de oito anos? A raiva dela começou a crescer e ela respondeu antes que explodisse:
- Tem razão. Dormir é tudo o que preciso. Boa noite. - Anne deu-lhe um beijo no rosto e foi para seu quarto, deixando Gilbert sozinho.
A ruivinha fechou a porta com cuidado, mas tudo o que queria era batê-la com força até que Gilbert entendesse o tamanho de sua ira. Em seguida, Anne tirou o seu vestido e atirou-o ao chão, vestindo uma camisola de seda branca e foi para a cama logo depois de escovar os dentes, se aninhando entre as cobertas. Porém, horas tinham se passado e ela não tinha conseguido dormir. Resignada, Anne se levantou e foi até a cozinha tomar um copo de água, mas, parou de repente ao se deparar com Gilbert saindo do quarto usando um moletom, sem camisa e os cabelos molhados do banho.
Santo Deus! Gilbert era uma mistura de Adônis com Apolo parado ali no meio da sala, e se Anne deixasse sua imaginação voar ela sabia muito bem aonde a levaria.
- Parece que está tendo problemas para dormir como eu. - Gilbert disse com os olhos passeando pelo corpo dela. Coberto por uma camisola transparente que claramente delineada seus seios mal escondidos pelo tecido fino que a fazia ter consciência de que ele podia ver bem mais que aquilo.
- Eu não sei qual é o seu problema para dormir, Gilbert, mas o meu eu posso ver claramente. – Ela disse se aproximando devagar.
- É mesmo, e qual seria? - ele perguntou sem tirar os olhos dela.
- Eu não tenho você na minha cama. - Gilbert arregalou olhos com as palavras de Anne, seu coração começou a pulsar forte e seu corpo esquentou. Ela o estava provocando, e ele não sabia se conseguiria resistir por muito tempo. Que droga! Ela tinha mesmo que vestir aquela camisola transparente que a deixava incrivelmente sexy? Em dois segundos estaria louco por ela é não sabia como evitar aquilo
- Anne...- ele começou. Não.podia fazer o que estava pensando. Anne ainda não estava pronta, e ele acabaria metendo os pés pelas mãos.
- O que não entendo é por que estamos dormindo em quarto separados, Gilbert. - ela continuava de aproximando.
- Eu achei que era melhor assim. – Ele respondeu com dificuldade, sua respiração estava falhando e seu bom senso também.
- Melhor para quem? – Anne quis saber a poucos centímetros dele.
- Achei que era melhor para iniciarmos nossa vida a dois sem pressa..- ele tentou explicar não conseguindo mais pensar direito. A tensão sexual entre eles era enorme, e Gilbert mal conseguia se mexer, preso na teia de sedução que Anne estava jogando sobre ele.
- Pois, eu vou te mostrar como eu quero que nossa vida a dois comece. - ela deu mais um passo e estavam cara a cara. Imediatamente suas mãos envolveram o pescoço dele, e seus lábios se colaram ao dele com urgência.
A boca de Anne sobre a sua era puro fogo, e quando Gilbert percebeu estava queimando junto com ela tão intensamente que seu corpo implorava por mais. Ele a afastou um instante para dizer:
- Se continuarmos daqui não sei se conseguirei parar. - A voz rouca dele a deixou deliciada e assim ela respondeu:
- Não quero que pare. Será que não entendeu que eu quero você? - Gilbert olhou para Anne, e viu em seus olhos o desejo jorrar como uma cascata abundante, ele então parou de pensar, e desceu sua boca sobre a dela feroz, enquanto suas mãos corriam desesperadas pelo corpo dela, sentindo-lhe a maciez sobre o tecido, e desejando ardentemente tê-la nua em seu braços.
Anne colou mais seu corpo ao dele, arranhando-lhe as costas devagarinho, e quando chegou na parte lombar masculina ouviu Gilbert gemer baixinho, sussurrando seu nome de um jeito que fez Anne desejá-lo ainda mais
Incapaz de resistir, Gilbert a puxou para seu quarto, e assim que fechou a porta, ele despiu- se e despiu Anne completamente.
E de repente, eles estavam pele contra pele, desejo contra desejo, suas línguas se enroscando em uma dança louca de paixão. Cada parte do corpo de Anne se incendiava ao toque de Gilbert, e ela se sentia como se estivesse em outro mundo, seu sangue se desintegrando, sua consciência sendo reduzida a pó. Anne não conseguia mais pensar, apenas sentia as mãos de Gilbert ditando as regras de cada movimento, e tudo que desejava era se fundir com ele naquela doce loucura da qual sentira falta todos os dias nos últimos meses. Fora tempo demais sem os lábios dele sobre a sua pele, e uma eternidade sem aquelas mãos que sabiam bem como despertar sua paixão.
Gilbert estava perdido na mesma vibração de Anne. Seus corpos suados trocavam carícias que o deixavam fora da realidade que estavam vivendo. Seus sentidos tinham sido aguçados, seu desejo por ela estava sendo levado além dos limites possíveis, e os dedos e os lábios dela sobre seu corpo já tinham roubado sua razão. Eles eram uma fogueira difícil de ser saciada, seus beijos famintos arrancavam suspiros um do outro, e quando Gilbert sussurrou em seu ouvido:
- Eu te amo tanto, Anne, e preciso de você agora. - o pulsar insistente em seu ventre lhe disse que era hora de se libertar daquela prisão. Assim, ela se entregou, como a tanto tempo atrás, deixando de lado o medo que podara seus sentimentos, permitindo que o amor de Gilbert a curasse completamente.
Eles voaram juntos nas asas daquela emoção tão pura que tornava tudo intenso e perfeito, e quando atingiram todos os limites de sua paixão imensa, o prazer chegou em ondas gigantescas que os deixou incapazes de emitir qualquer som ou dizer qualquer palavra.
Minutos depois, Gilbert ainda tinha o corpo de Anne sobre o seu, e continuaram a se abraçar, não querendo se separar, e quebrar a magia daquele momento que fora especial demais para ambos.
- Eu te amo, Gilbert Blythe. E sabe o que acabou de fazer por mim? Você me fez alcançar as estrelas e a lua de uma só vez – Anne disse ainda com a voz trêmula.
- Você não sabe o quanto esperei para fazê-la minha de novo. Não pensei que isso aconteceria tão rápido depois de tudo – Gilbert disse com as mãos nos cabelos de Anne, acariciando-os lentamente. Nesse momento, Anne levantou a cabeça
- Eu sempre fui sua, meu amor. Eu somente precisava de um tempo para voltar a me sentir assim.- ela sorriu, e Gilbert acariciou os lábios dela com a pontas dos dedos.
- Você compensou cada instante de espera essa noite. - Anne o olhou intensamente, mordeu o lábio inferior do jeito que ela sabia que o provocava, depois começou a beijar o peito dele de maneira lenta e torturante, fazendo o corpo inteiro de Gilbert se arrepiar de prazer, e sem parar de beijá-lo ela disse:
- Me faça me lembrar outra vez como é me sentir sua.
E pela noite adentro, Gilbert a amou, levando-a não só até as estrelas, mas além delas.
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