Capítulo 69- Por um capricho dos deuses
Olá, caros leitores. Estou postando mais este capítulo e espero por seus comentários. Ele ficou bastante intenso para mim e não sei se vocês vão pensar o mesmo, mas como sempre tentei escrevê-lo com toda sinceridade de meu coração, utilizando como base a essência de seus personagens e sentimentos, e espero ter conseguido passar mais uma vez a emoção em cada palavra. Nunca escrevo somente por escrever ou somente para contar uma história que vai agradar o leitor, eu desejo que cada sentimento seja compartilhado com cada pessoa que dispõe de seu tempo para ler o que escrevo. Uma vez alguém me disse que o verdadeiro escritor se preocupa como suas palavras serão usadas, e de que maneira vão tocar quem as lê, então, procuro me manter fiel a essa verdade.Mais uma vez muito obrigada pelos incentivos que recebo a cada capítulo, vocês se tornaram muito importante para mim. Beijos, Rosana.
ANNE
Os olhos castanhos a observavam com atenção, esperando pela resposta da proposta que Gi acabara de lhe fazer, e Anne se viu perdida nas profundezas da alma dele, como se bem lá no íntimo daquele homem extraordinário estivesse a resposta que ela deveria lhe dar.
Gilbert estava convidando-a para ir para Nova Iorque com ele, mas o que aquilo deveria significar? Que deveriam viver juntos passando por cima de todas as regras em nome do amor que partilhavam? Parecia-lhe um convite ousado demais vindo ele, mas, por alguma razão esse pensamento a seduzia. Por que não deveria ficar com ele de vez? O que a impedia de passar o resto de sua vida com Gilbert, deixando para trás toda a sordidez de uma sociedade hipócrita que não hesitava em apontar o dedo para alguém que não vivia de acordo com o modelo perfeito de comportamento padrão? O que importava o que os outros pensavam quando em seu coração ela e Gilbert já tinham se unido e nada poderia fazê-la voltar atrás? Ela não precisava de um pedaço de papel, ou juras feitas em frente a um pastor para que ela e Gilbert pudessem viver na mesma casa e se amarem com liberdade. Fazia muito tempo que ela não vivia conforme a opinião alheia, ela deixara de pensar no que era certo ou errado quando se apaixonara por Gilbert.
Ele a salvara de acabar como a maioria das garotas de Avonlea que desde que nasciam eram condicionadas ao casamento arranjado, sem direito a escolherem seu futuro marido, e passavam a infância e adolescência se preparando para isso, perdendo sua juventude, inteligência e criatividade entre assados e bordados de seu enxoval. Anne agradecia ao céus todos os dias por ter sido adotada por Matthew e Marilla, que nunca lhe impuseram esse fardo, deixando-a livre para fazer suas próprias escolhas sem influência de ninguém. Marilla em seu lado externo podia ser bastante dura, e nos primeiros anos de Anne em Green Gables ela cobrara de Anne certa disciplina, ensinando-lhe tudo o que uma mocinha deveria saber sobre os preceitos cristãos sob o qual a comunidade de Avonlea vivia, mas Anne sempre tivera um espírito travesso que a levava para outros caminhos, onde o gosto pela aventura era o principal ingrediente de suas experiências de vida, e isso nunca fora podado ou limitado por Matthew ou Marilla.
E se não fosse por isso, não estaria agora avaliando o que Gilbert lhe dissera como um passaporte para um tipo de liberdade que nunca vivenciara antes. Porém, teria coragem para se libertar dos últimos grilhões que a prendiam ao mundo da etiqueta e dos bons costumes? Ela ousaria traçar um destino diferente do que almejara até ali? Ela teria coragem de mandar tudo as favas e viver com Gilbert a experiência mais excitante de sua vida? Ela ousaria entregar sua vida nas mãos dele de uma vez e deixar que o mundo inteiro fosse testemunha de seu amor livre, sem amarras, sem fronteiras e sem normas que ditassem como e quando deveria conduzir sua própria vida?
Mas, até que ponto ela estaria disposta a ir? Pensou em Matthew e Marilla, e se perguntou se seria capaz de colocá-los em uma posição que teriam que defendê-la das línguas ferinas, dos dedos apontados em sua direção julgando a ruiva órfã e sardenta como libertina e sem moral? Aquele pensamento pareceu pesar em sua resposta imediata, e esperou mais alguns segundos antes de começar a falar. Anne jogou o cabelo do lados, ajeitando uma mecha rebele que a brisa da tarde não cansava de importunar, e sem tirar os olhos dos de Gilbert ela perguntou:
- Você está me convidando para morar com você em Nova Iorque? -Gilbert continuava olhando para ela de maneira enigmática, seu sorriso ainda brilhando nos lábios atraentes que Anne nunca se cansava de beijar, e respondeu com outra pergunta, como se quisesse que ela descobrisse sozinha qual o sentido real de seu pedido:
- Não te aguarda a ideia de vir comigo para Nova Iorque?
- É lógico que me agrada a ideia de ir com você para Nova Iorque, mas, quero saber exatamente o que tem em mente. - Anne insistiu. Precisa entender o que ele estava pensando para lhe dar uma resposta concreta, embora ela estivesse confusa sobre o que decidir. Se fosse somente por ela, Anne aceitaria sem pensar, pois não tinha ninguém no mundo além de Matthew e Marilla para prestar contas, mas, justamente por pensar nos dois irmãos era que relutava em pensar sobre a o oportunidade de sair de Avonlea, e ir em busca da liberdade que Gilbert lhe acenava tentadoramente.
- A única coisa que tenho em mente é você. - Gilbert se aproximou de Anne, colocando seus braços ao redor do pescoço dela, atraindo-a para mais perto com seu polegar segurando o queixo dela com delicadeza. - Quero que vá comigo porque não suporto mais ficar longe de você, e nem imaginar que está aqui sozinha sem mim. Sei que talvez esteja te pedindo algo grandioso demais, mas, desejo muito que pense a respeito, Anne.
- Gilbert, você está sugerindo que moremos juntos sobre o mesmo teto? - Anne perguntou com franqueza. Não era algo que a chocava particularmente se era isso que Gilbert estivera pensando ao fazer o seu convite. Mas, havia coisas demais a considerar, não era algo que resolveria de uma hora para outra.
- Querida, o meu convite quer dizer que quero você comigo, não importa as circunstâncias, Mas, se isso é tão importante para você, podemos nos casar o mais rápido possível, e depois, quando nossa casa ficar pronta e eu estiver me formado, no mudamos novamente para cá.
Casar o mais rápido possível? Ser esposa de Gilbert Blythe era o seu sonho desde sempre, mas, não queria que fosse algo apressado. Anne queria tudo a que tinha direito, véu, grinalda, vestido branco, igreja enfeitada, um buquê de orquídeas, dama de honra, e Gilbert esperando por ela no altar, mais lindo do que nunca em um terno claro, e seus cachinhos desarrumados caindo-lhe pela testa. Essa visão momentânea a fez sorrir. Apesar de a vida já ter lhe mostrado o seu lado nada divertido um milhão de vezes, Anne não conseguia abandonar seus ideais românticos. Ela ainda pensava em Gilbert como seu Mr. Darcy, e ainda acreditava em final felizes, mesmo que sua imaginação criativa estivesse adormecida pelos recentes acontecimentos, lá no fundo de sua mente ela conseguia imaginar como seria seu casamento perfeito, e não teria isso se resolvesse casar com Gilbert agora somente para poder ir com ele para Nova Iorque com sua consciência tranquila.
- Parece que minha proposta realmente não te anima, não é? Desculpe-me, não quis parecer apressado ou insensível. Talvez não tenha sido uma boa ideia expor meus desejos assim.- Gilbert parecia chateado, e Anne detestou a ideia de deixá-lo aborrecido. Então, ela entrelaçou seus dedos nos dele e disse:
- Você sabe o quanto eu quero ser sua esposa. Casar com você é o que mais desejo na vida, mas, eu não gostaria que fosse algo assim tão impessoal. Eu quero uma igreja cheia de nossos amigos, e você me esperando no altar com esse seu sorriso lindo que amo tanto. Sei que pode parecer algo antiquado, mas quero algo para me lembrar a vida toda, até quando estivermos velhinhos. - Gilbert sorriu ao ouvir as palavras dela, e estreitou ainda mais os dedos dela nos seus ao dizer;
- Não é algo bobo ou antiquado. É o seu sonho e vamos realizá-lo. Eu também quero algo para me lembrar para sempre. Faremos do seu jeito meu amor. - ele a puxou para ele e deu-lhe um selinho carinhoso. - Mas, minha proposta ainda está de pé. Podemos arrumar um lugar para você morar perto do meu apartamento. Você poderia arrumar um emprego para se ocupar, e quem sabe não se anima e transfere sua faculdade para Nova Iorque no próximo semestre? - Anne olhou para ele surpresa. Ele pensara mesmo tudo aquilo naqueles poucos dias em que ficaram separados? Gilbert parecia já ter tudo planejado em sua mente, e Anne só não sabia o que aquela súbita presa dele tê-la a seu lado significava. Ela olhou pra o mar azul a sua frente, e nas ondas que quase alcançavam os dois ali ela fez suas perguntas, esperando que talvez encontrasse naquela imensidão o caminho certo a seguir. Está tão tentada a aceitar quanto recusar. Os dois lados da questão a dividiam. Ela não tinha dúvidas nenhuma de que viver com Gilbert seria maravilhosos, mas tinha receio de qual preço teria que pagar por isso. Não queria magoar Matthew ou Marilla, e sabia exatamente o que as pessoas de Avonlea pensariam se ela tomasse tal atitude. Não se importava com o que falariam dela, mas sim de que maneira isso atingiria as duas pessoas que lhe eram tão caras, e que abdicaram de seus próprios anseios para lhe dar um lar, e não gostaria de submetê-los a nenhum tipo de constrangimento ou vergonha naquela altura de suas vidas. Eles não mereciam isso, principalmente dela.
- Gilbert, por que essa ansiedade toda de me ter por perto? Não leve a mal minha pergunta, amor, mas pensei que tínhamos tudo planejado pelos próximos anos até sua formatura. - Gilbert a abraçou pelo ombro, e encostou sua testa na dela, suspirando.
- Eu sei, mas acho que esses planos não me servem mais. Tanta coisa aconteceu, e não vejo mais sentido em nada do que planejei antes. Eu não sou mais a mesma pessoa que era a quase seis meses atrás. Minha maneira de ver a vida mudou completamente. Antes eu achava que tinha tempo para tudo, que as coisas aconteceriam na hora certa, e que eu deveria continuar conduzindo meus sonhos e objetivos de maneira coerente e calma, e eles se realizariam com meu esforço e boa vontade. Porém, entendi da forma mais difícil possível que não temos controle de nada, que estamos nas mãos de um destino que brinca com nossas vidas e faz delas o que quer. Como uma tempestade tudo se transforma, o vento que soprava a nosso favor muda constantemente de direção, e eu não quero mais ser pego de surpresa novamente, e ver tudo o que sonhei ser levado de mim sem que eu possa fazer nada para evitar.- Gilbert agora abraçava Anne completamente, seus dedos enterrados nos cabelos dela, a respiração quente dele em seu pescoço, seus corpos tão grudados que Anne não mexia um músculo sequer, pois não queria perder aquela conexão com ele que a fazia se sentir segura e amada. Gilbert estava abrindo seu coração para ela, e era um momento que exigia atenção e cuidado, pois normalmente ele não se expunha assim, embora ultimamente ele a vinha surpreendendo com suas atitudes e explosões de humor; Mas, também, depois de tudo pelo qual ambos passaram, era de se esperar que até mesmo Gilbert que sempre fora ponderado em tudo o que fazia ou dizia tivesse sido afetado pelas mazelas da vida, por isso ela continuou ouvindo tudo o que ele queria lhe dizer:
- Não quero mais ficar longe de você, meu amor. Eu acho que já nos distanciamos demais. Eu velejei pelo Pacifico em busca de algo que somente você podia me dar, vivendo de lembranças enquanto me perguntava por que eu tinha ido se o que mais precisava estava aqui dentro destes olhos lindos. Depois, fui para Nova Iorque tentando realizar um sonho de menino, e egoisticamente não levei em consideração seus desejos e sua opinião, e criei um distanciamento desnecessário entre nós, e por último, a minha amnésia quase acabou com a coisa mais linda e importante de minha vida, sem contar os efeitos colaterais que causei a você. Definitivamente, quero você o mais perto possível de mim, onde eu possa te ver quando tiver vontade, saber como você está, te abraçar como agora, e nunca mais ver a tristeza em seu rosto partindo meu coração. Quero cuidar de você como merece. - Anne se afastou um pouco de Gilbert para olhá-lo nos olhos, beijou-o no rosto enquanto dizia:
- Você cuida de mim, Gilbert. Já fez tanto por mim, e talvez eu nem mereça tanto amor assim. – Gilbert tocou os lábios dela com os dedos e sorriu:
- Nunca diga isso. O amor que sinto é todo seu, e Deus sabe que ninguém mais do que você merece meu cuidado e atenção. Me deixe fazer isso por você, querida. Me deixe ser tudo o que precisa dessa vez. Eu sei que falhei em alguns momentos, mas, você nunca mais se sentirá sozinha. Eu prometo. - Anne queria dizer sim à proposta dele, queria poder jogar tudo para o alto e segui-lo para o resto da vida, mas, não podia resolver as coisas às pressas daquela maneira. Precisava pensar, pois seria um grande passo abandonar Green Gables, tudo o que conhecia e amava, e ir viver em outro lugar maior e cheio de gente desconhecida que corria de um lado para outro sem ter tempo de tomar um café com seu vizinho do lado. Amara Nova Iorque quando visitara Gilbert, mas fora apenas uma turista, e ela imaginava que morar lá seria algo totalmente diferente. Não era uma pessoa medrosa, e seu gosto por aventura não mudara, mas, Anne não sabia se estava preparada para se jogar de cabeça naquele convite de Gilbert, por mais que o amasse, não podia simplesmente arrumar suas malas e partir.
- Acho, que tenho que pensar um pouco sobre isso. - ela disse por fim.
- Claro, pense o tempo que quiser. Não quero que pense que a estou pressionando, e nem quero que faça isso somente por minha causa. Se decidir ir é porque é o que deseja também, mas, se recusar saiba que vou entender, e apoiarei qualquer decisão que tomar.
- Obrigada, meu amor. Prometo que te darei uma resposta logo. - Gilbert apenas a olhou com aquele seu olhar intenso que não precisava de palavras para mostrar o quanto a amava, e se beijaram longamente, enquanto a noite se aproximava.
Foram para Green Gables, assim que as primeiras estrelas começaram a surgir no céu, pois o clima estava mais gelado agora com o cair da noite e a brisa que soprava do mar. Quando se viu sozinha, depois do jantar com Matthew e Marilla, Anne pensou bastante nas palavras de Gilbert, e mesmo assim não tinha uma resposta concreta. Talvez precisasse de uma segunda opinião para que ela pudesse enxergar as coisa com mais clareza. Então, ela decidiu que falaria com as duas pessoas a quem tal assunto também iria interessar no dia seguinte, e somente mais tarde decidiria qual rumo daria para sua vida.
GILBERT
Gilbert deixou Anne em Green Gables e voltou para casa. Ele fez todo o caminho a pé, pois nas últimas semanas ele preferira não utilizar seu carro como meio de locomoção. Embora adorasse dirigir e a velocidade o atraísse, desde que saíra do hospital Gilbert vinha se exercitando com mais frequência, e o cansaço inicial que sentia antes tinha desaparecido completamente. O tiro que levara o deixara debilitado por um tempo, mas agora conseguia surfar, correr e caminhar sem problema algum, por isso resolver manter uma série de exercícios regulares para que não perdesse e essa vitalidade recém recuperada.
Mas, não era sobre sua saúde que pensava enquanto vencia a distância que o separava a fazenda dos Cuthberts e a sua. Pedaços de sua conversa com Anne vinham-lhe a mente, e Gilbert tentava imaginar o que ela decidiria, e desejava realmente que ela aceitasse o seu convite, pois não o fizera apenas porque fora levado por um sentimento egoísta visando somente os seus desejos, sua necessidade de tê-la por perto, e a falta terrível que ela lhe fizera naqueles quatro dias em Nova Iorque.
Gilbert sentia que ela precisava dele tanto quanto ele precisava dela, e queria recuperar o quanto antes cada pequena coisa que fora perdida enquanto ficaram separados. Ele fizera justiça por ela, e tirara o fantasma de Sabrina definitivamente de suas vidas, agora ele precisava vencer outros fantasmas que ainda rondavam o relacionamento dos dois, e ele sentia que não conseguiria isso vivendo sozinho em Nova Iorque enquanto Anne levava sua vida solitária em Green Gables. Havia outras coisas a considerar, e nesse caso estava pensando mais em sua noiva do que em si mesmo. Em Nova Iorque teriam a possibilidade de recomeçar, longe de tudo que pudesse lembrá-los a todo momento de tudo o que tinha acontecido. Ele queria ver Anne feliz, e não sabia mais se mantê-la em Avonlea pelos próximos quatro anos enquanto ele se esforçava para conseguir seu diploma em medicina era a coisa mais certa a se fazer.
Anne parecia bem em certos aspectos, mas, em outros ele sabia que ela precisava de ajuda, e esta era outra razão para que ele a levasse com ele. Mas, não queria que ela tomasse aquela decisão por ele, Gilbert desejava que Anne levasse em conta seus próprios desejos, colocasse suas necessidades em primeiro lugar, e se decidisse ir com ele, fosse porque ela descobrira que queria estar com ele tanto quanto ele queria estar com ela.
Estava claro em sua mente que Anne era tão forte, e resistente quanto era o seu coração, e passava por toda aquela turbulência que se abatera sobre sua vida nos últimos meses de maneira firme, e mesmo quando dava todos os indícios de que estava no seu limite, ela se mantinha em pé, e se apoiava muito pouco nele, embora Gilbert desejasse que ela o fizesse com mais frequência. A impressão que tinha era que Anne não queria que nem mesmo ele visse seu lado mais frágil, pois ela pouco falava das coisas que a incomodavam, deixavam tristes ou a faziam sofrer. Isso o aborrecia um pouco, porque dessa maneira, eles continuavam afastados emocionalmente de certa forma, e Gilbert sentia uma falta enorme do tempo em que falavam tudo o que sentiam sem hesitação. Mas ele podia culpar Anne por isso? Fora ele que a deixara sozinha para enfrentar seus pesadelos, e tudo o que podia fazer era tentar conquistar a confiança dela de novo.
Gilbert chegou em casa e se sentou na varanda. O sol se punha deixando no horizonte uma mistura de cores adoráveis que poderiam muito bem ser utilizados em um cartão postal, e de novo pensou em Anne, pois ela com sua alma poética, com certeza encontraria as palavras certas para descrever aquela cenário inspirador. Sua noiva tinha tantos talentos escondidos, e eles se sentia privilegiado por ter tido a sorte de presenciar em algumas ocasiões a manifestação de alguns deles.
- Precisa de companhia, Gilbert? – Sebastian disse, sentando-se ao lado dele na varanda com uma caneca de café nas mãos.
- Na verdade preciso de um confidente. – Gilbert respondeu sorrindo para o seu velho amigo, e se lembrando de todas as coisas que partilharam juntos naquela amizade de quase quatro anos. O tempo passara tão rápido desde que ele e Sebastian tinham se conhecido naquele navio, e Gilbert era somente um menino quando embarcara naquela aventura sem um rumo certo, e quando voltara já tinha dado os seus primeiros passos rumo a sua maturidade, trazendo em sua bagagem além de sua saudade de casa, um amigo para toda a vida.
- E o que o está aborrecendo tanto a ponto de se sentar aqui fora sozinho? – Sebastian perguntou, observando-o com atenção.
- Não estou exatamente aborrecido. - Gilbert respondeu retirando sua boina vermelha da cabeça, e ajeitando seus cabelos com os dedos. - Eu tive uma conversa séria com Anne esta tarde, e lhe fiz um convite que não tenho certeza se ela vai aceitar.
- E por que ela não aceitaria? Aquela garota faria qualquer coisa por você, Gilbert. Todos nós sabemos disso. - Sebastian continuou a observá-lo sem realmente entender o motivo de sua preocupação.
- Dessa vez não tenho tanta certeza disso. O convite que fiz não é algo tão simples assim.- Gilbert respondeu olhando para as próprias mãos.
- E que convite seria esse? Não consigo imaginar nada que faria Anne recusar algum pedido seu.
- Eu lhe pedisse que viesse para Nova Iorque comigo. - Sebastian olhou para ele espantado, depois coçou a cabeça como se avaliasse o que acabara de ouvir, tentando encontrar as palavras certas para dizer;
- Bem, creio que isso é uma grande passo para uma garota como Anne, não sei se seria o mais apropriado também. - Sebastian disse por fim, parecendo um pouco constrangido por expressar sua opinião sobre algo tão íntimo.
- Não é o que está pensando, Sebastian. Eu jamais colocaria Anne em uma situação da qual tivesse que se envergonhar. Eu propus a ela casamento imediatamente. - Gilbert explicou.
- E o que ela disse? - Sebastian perguntou colocando sua caneca de café agora vazia de lado.
- Ela me disse que seu sonho é ter um casamento tradicional, com a igreja cheia de gente, véu e grinalda, e que não está em seus planos se casar dessa maneira tão pouco convencional.
- E você ficou aborrecido com isso? - Sebastian perguntou, querendo saber como Gilbert lidaria com aquela situação.
- Para falar a verdade, eu não fiquei aborrecido. Se é o sonho dela, eu quero realizá-lo. O mais engraçado é que quando ela começou a falar que queria um casamento tradicional, eu percebi que é o que desejo também. – e aquilo era a mais pura verdade, pois ao mesmo tempo em que Anne descrevia o casamento de seus sonhos, Gilbert olhara para ela e ficou imaginado que Anne vestida de noiva com toda a sua exuberância ruiva seria uma visão impossível de esquecer, e assim, descobrira que não queria o perder isso por nada nesse mundo.
- Mas, então, como pretende resolver essa questão? - Sebastian perguntou confuso com o que Gilbert lhe dissera.
- Eu disse a ela que poderíamos encontrar um lugar perto do meu apartamento onde ela poderia viver tranquilamente, trabalhar, e quem sabe continuar seus estudos na Faculdade de Nova Iorque. Anne é tão inteligente que conseguiria entrar sem dificuldade nenhuma.
- Bem, essa seria uma boa solução, embora eu tenha que admitir que ainda seria um grande passo a ser dado por ela, mas Anne aceitou ou não?
- Ela me disse que tinha que pensar. - Gilbert disse suspirando. - Acho que se fosse somente por ela, Anne não teria nenhum problema em aceitar minha proposta, mas creio que o que está pesando mais em sua decisão é Matthew e Marilla.
- Ela te disse isso? - Sebastian olhou interrogativamente para Gilbert esperando sua resposta.
- Não, mas eu a conheço bem. Anne não faria nada sem a aprovação deles. Ela os considera demais para isso.
- Posso te perguntar por que de repente teve essa ideia? Quero dizer. Você tinha me dito que queria se formar para depois se casar com Anne. O que mudou?
- Tudo mudou, Bash. Até seis meses atrás eu achei que tinha meu futuro todo planejado, e que tudo aconteceria da maneira como desejei, mas de repente tomei um tiro, perdi a memória, Anne perdeu nosso bebê, e quase nos separamos. Não quero mais sentir que posso perder tudo que amo por um capricho dos deuses. Eu quero Anne comigo a cada passo do meu caminho, nunca mais vou me separar dela, eu enlouqueceria se isso acontecesse, Bash. Anne é minha vida, a mulher que meu coração escolheu para amar, eu não saberia viver sem ela. - o olhar de Gilbert era como um livro aberto, e Sebastian conseguia atestar a verdade de suas palavras, pois cada uma estava escrita em seus olhos.
- Bem, meu amigo. Creio que somente te resta confiar e esperar. - Sebastian disse colocando uma mão em seu ombro para lhe inspirar coragem.
- Eu sei. Essa é a pior parte. - Gilbert disse suspirando de novo.
- Enquanto isso, por que não jogamos uma partida de xadrez? Acho que isso pode te distrair. - Sebastian disse com seu sorriso largo.
- Boa ideia, Bash. Preparado para perder mais uma partida? - Gilbert disse zombando de Sebastian.
- O que está falando, meu rapaz. Nós dois sabemos quem é o melhor jogador aqui.
- Pois fique sabendo que não vou facilitar as coisas para você. E vou ganhar de novo- Gilbert ameaçou seu amigo em tom de brincadeira. Sebastian apenas riu e não disse nada.
Mas o rapaz não pôde cumprir a promessa, pois de quatro rodadas que jogaram, Gilbert perdeu todas, porque simplesmente não conseguia tirar uma certa ruiva de seu pensamento.
GILBERT E ANNE
Anne acabara de se levantar e ainda pensava na proposta que Gilbert lhe fizera. Na verdade, passara boa parte da noite pensando todos os lados da questão, e ainda não sabia ao certo o que faria. Gilbert a colocara em uma situação complicada e sair dela não seria tão fácil assim. Nem com toda imaginação do mundo, Anne sonharia que teria tanta dificuldade para se decidir. A questão era que por mais que dissesse a si mesma que deveriam continuar com o plano antigo, seu coração já tinha feito sua escolha e combiná-lo com sua cabeça era quase uma tarefa impossível.
Quantas vezes sonhara em dividir uma vida com Gilbert? Quantas vezes naquele tempo que estavam juntos ela desejara que não tivessem mais que se separar toda vez que faziam amor. e parte de sua alma ia com ele, já morrendo de saudade no minuto em que ele cruzava o portão de Green Gables em direção a sua fazenda? Mas agora que tinha essa realidade concreta em suas mãos, não sabia o que fazer.
Aquele convite era tão tentador, quase tão irresistível quanto o homem que o fizera, mas, não era mais uma garota impulsiva, aprendera a controlar sua necessidade absurda de experimentar tudo que lhe era oferecido sem receio algum, por isso, era tão importante ponderar se aquele futuro que Gilbert colocara em suas mãos era mesmo o que desejava para si.
Porém, refrear o fluxo de pensamentos que insistia em colocar ambos juntos em sua cabeça parecia uma tarefa difícil demais de realizar, por esta razão, terminou de se vestir, desceu as escadas, e entrou na cozinha onde Marilla acabara de preparar o café da manhã.
- Bom dia, querida. Já vou servir seu café.
- Tudo bem. - Anne respondeu, fazendo Marilla ficar um tanto incomodada com aquele silêncio que parecia fazer parte de Anne agora, tão diferente daquela garotinha tagarela que chegara a Green Gables e que nunca sabia controlar a sua língua colocando Marilla várias vezes em situações delicadas. A garota à sua frente mal dizia meia dúzia de palavras antes de cair naquele mutismo irritante, o que fazia Marilla pensar que ela ainda não tinha curado suas feridas dos últimos meses, embora a boa senhora nem desconfiasse que as mágoas de Anne fossem infinitamente maiores do que ela pensava. Mas, naquela manhã observando-a melhor, Marilla podia jurar que tinha algo incomodando-a, pois Anne prestava atenção no que comia. Ela quebrava a torrada em pedacinhos e os colocava na boca mastigando-os devagar, enquanto mantinha os olhos fixos em algum lugar à sua frente.
- Anne, está com algum problema? - Marilla perguntou quebrando o silêncio enlouquecedor que se instalara naquela cozinha.
Anne olhou para ela como se viesse de muito longe, enquanto parecia decidir se compartilhava com ela seus pensamentos ou não.
- Preciso de sua opinião, Marilla, e preciso que seja absolutamente sincera comigo.
- Você me conhece, e sabe muito bem que não tenho problema nenhum em dizer o que penso. - Marilla disse em seu tom seco que Anne conhecia muito bem.
- Gilbert me fez uma proposta ontem, e eu sinceramente não sei o que você e Matthew irão pensar disso.
- E que proposta seria essa? - Marilla de repente pareceu curiosa acerca daquele assunto. Anne inspirou fundo antes de responder:
- Ele me pediu para ir com ele para Nova Iorque – Ela esperou pelas recriminações que não vieram, e estranhou o fato de Marilla analisar suas palavras sem enchê-la de perguntas desconfortáveis como era do costume dela. E ela surpreendeu Anne ainda mais com sua pergunta seguinte:
- O que quer fazer Anne?
- Eu sinceramente não sei.
- Você ama mesmo esse rapaz? – Que tipo de pergunta era aquela, Anne pensou. Então, Marilla não sabia que somente Gilbert importava e mais nada? Por que estava lhe perguntando algo tão óbvio e comprovado?
- Você sabe que sim. – Anne respondeu.
- Então, por que está pedindo minha opinião se já se decidiu? - Marilla perguntou olhando-a nos olhos.
- Eu ainda não me decidi, Marilla, por isso estou te contando.
- Querida, você já tem dezoito anos. Pela lei, já é maior de idade. Não precisa mais de minha aprovação ou de Matthew para nada. - Anne olhou-a surpresa. Jamais pensara que ouviria isso de Marilla. Ela parecia tão presa às convenções. De repente, Anne pensou que talvez tivesse se enganado com Marilla.
- Mas, você não está zangada? Quero dizer. Você não acha a proposta dele ousada demais?
- O que ele te propôs realmente? Que viveriam sob o mesmo teto sem estarem casados? - Marilla perguntou sem um pingo de constrangimento, outra coisa que surpreendeu Anne.
- Bem, ele disse que podíamos nos casar imediatamente ou poderíamos encontrar um lugar onde eu pudesse morar perto dele, trabalhar e quem sabe entrar na Faculdade de Nova Iorque. - Anne levou sua xícara a boca e tomou um gole do leite que Marilla havia adoçado com mel.
- Eu não esperaria menos de Gilbert. Ele é um rapaz decente, assim como o pai dele foi. Acho que deveria ir com ele Anne, se isso é realmente o que seu coração deseja.
- Não tem medo que as pessoas comentem coisas desagradáveis ao meu respeito? - Anne perguntou impressionada com a reação tão calma de Marilla a respeito do que ela dissera.
- Você se importa? - Marilla perguntou de volta.
- Não por mim. Não quero causar nenhum constrangimento para você e Matthew. Vocês são a única família que tenho. - Anne disse, olhando para Marilla com afeição.
- Querida, o que importa são os seus sentimentos. Eu não me importo nem um pouco com o que vão falar de você ou de nós. Vivo nessa comunidade a tanto tempo, e sei exatamente como pensam. Não se preocupe, sei como lidar com as línguas maldosas de Avonlea. - Marilla disse, apertando-lhe as mãos com carinho.
- E Matthew? Você acha que ele vai se importar?
- Matthew beija o chão em que você pisa, o que decidir estará bem para ele. Está na hora de ser feliz Anne. Esqueça a dor e a mágoa dos últimos meses, e preocupe-se apenas em viver uma boa vida com Gilbert.
- Obrigada, Marilla. – Anne disse, beijando sua mãe de criação no rosto.
Ela esperou até depois do almoço para falar com Gilbert. Ainda não tinha certeza do que diria, mas precisavam resolver as coisas logo, e ela não queria mais perder tempo. Anne chegou na casa dele e bateu na porta, e o homem que amava a atendeu com seus olhos incríveis, e aquele sorriso que fazia sua cabeça girar. Gilbert olhou-a surpreso, pois não tinham combinado nada, mas seu coração se alegrava de vê-la ali, tão linda e cheia de vida, com a pele rosada, e ofegante como se tivesse corrido quilômetros até sua casa. Ele pegou a mão dela, e beijou sua palma, em uma carícia singela, mas excitante, que fez Anne sentir milhares de choques elétricos se espalharem por seu corpo, como se Gilbert a tivesse tocado inteira.
- Que bom que veio até aqui. Não a estava esperando, mas, confesso que não poderia ter tido surpresa melhor. - ele continuava a sorrir, enquanto Anne o observava com seus olho de amor. Gilbert era tão lindo, e mesmo agora com os cabelos desarrumados, de camiseta simples de algodão e calça jeans ele era incrivelmente irresistível. Como poderia dizer não a um homem como aquele que conseguia reduzir todas as suas vontades a uma paixão sem limites? Como podia não amá-lo quando a olhava com tanta adoração e tão apaixonadamente, e não fazia questão nenhuma de esconder o que sentia por ela? Anne conseguia ler nos olhos dele cada emoção e cada sentimento que lhe dizia exatamente o que precisava saber. De repente, observando-o daquela maneira, ela quase se esqueceu do que viera fazer ali.
- Será que podemos conversar? - ela disse.
- Claro. Vamos até meu quarto. Sebastian e Mary estão passeando pela fazenda com Shirley, e acho que lá teremos mais privacidade. - Anne assentiu, e Gilbert pegou em sua mão subindo as escadas com ela, e indo direto para o quarto dele.
Quando entraram pela porta, Anne sentou-se na cama e olhou para os próprios pés sem saber por onde começar. Estava nervosa, e se admirava com isso, pois depois de tanto tempo juntos, Gilbert ainda conseguia deixá-la inquieta. Ele era sem dúvida seu ponto fraco, e amá-lo a tornava vulnerável demais, ainda assim era o único com quem desejava viver sua vida inteira, e estava ali justamente para lhe dizer isso. Ele sentou do lado dela, e Anne sentiu o seu olhar analisando todos os detalhes de seu rosto. Como de costume ele pegou uma mecha de seus cabelos e ficou brincando com ela. Anne nunca ia entender aquela fascinação que Gilbert tinha por seu cabelo, quando ela própria nunca morrera de amores pela cor, mas seu noivo adorava seus fios rubros, e nunca se cansava de dizer isso a ela.
- Gilbert, eu vim te dar a resposta para o convite que me fez. - ele parou de brincar com seu cabelo, e a olhou em expectativa.
- Você já tem a resposta? Isso quer dizer que já pensou no assunto? - ele estava nervoso agora pela resposta que ela lhe daria, assim entrelaçou seus dedos nos dela, pois precisava sentir-lhe o calor, e a teria abraçado também, colando seus lábios nos dela, pois se sentia atraído pelo leve movimento que faziam quando ela falava, mas não quis interrompê-la, pois estava morrendo de ansiedade de saber o que Anne decidira.
- Sim, pensei no assunto. Mas, antes quero te perguntar uma coisa.
- Claro, pergunte o que quiser. – Gilbert sorriu tentando encorajá-la, embora seu coração batesse tão forte que mal conseguia se controlar.
- Eu quero saber se viver comigo é o que realmente quer? Estou te perguntando isso porque quero que pense em uma coisa. Somos jovens, Gilbert, e não duvido do seu amor por mim, mas eu fico me questionando se um dia não vai se arrepender de tomar essa decisão agora no auge dos seus dezenove anos. Por que se um dia no futuro decidir que foi um erro a sua escolha, eu não sei se suportarei perder você. - ela baixou o tom de voz, porque um nó se formou em sua garganta. O seu maior medo era que Gilbert um dia descobrisse que ela não era boa o bastante para estar com ele, principalmente se ela realmente não pudesse dar-lhe filhos.
- Amor, olha para mim. Quero que preste atenção em tudo que vou dizer. - Anne obedeceu, e Gilbert a prendeu com seu olhar. - Você diz que não duvida do meu amor por você, mas, creio que ainda não entendeu a dimensão dele. Eu nunca vou me arrepender de ter você em minha vida. Você a luz que me falta quando não está aqui. - ele pegou o rosto dela entre as mãos. - Eu preciso tanto de você que me peito dói de saudade quando estamos longe. E quero tanto você que minha pele implora pelo seu toque, e eu te amo tanto que não consigo imaginar um só dia em que não vá desejar estar com você todas as horas do meu dia. Por isso, eu te peço querida, me deixe cuidar de você e amá-la até que toda dor de seu coração seja substituída pela felicidade de estarmos juntos. - Anne mergulhou seu olhar no dele, e o calor que vinha dali era tão aconchegante. Ainda havia certas barreiras em seu coração que com o tempo e o amor de Gilbert seriam derrubadas uma a uma até que não restasse nem sombras delas.
- Eu aceito seu convite. Eu vou para Nova Iorque com você. - o sorriso que Gilbert lhe deu naquele momento foi radiante, como se o sol adentrasse pela janela iluminando tudo. Ele a puxou devagar para ele, seus lábios cobrindo os dela com cuidado. Anne rodeou o pescoço dele com seus braços, e suspirou quando sentiu a língua dele explorar toda a extensão da sua boca. O toque dele em suas costas foi delicado, e passearam ao longo de sua coluna até chegarem em sua cintura, onde ele acariciou e apertou-a contra o próprio corpo dele, enquanto a excitação tomava conta dos dois. Gilbert sentiu seu corpo faminto por ela, e por mais que disse a si mesmo para ir devagar, pois ainda não era o momento, seu desejo por ela era maior do que seu bom senso. Ele não queria ficar tão excitado com um simples beijo, mas, fazia tanto tempo que não sentia a pele de Anne contra a sua que sua abstinência por ela estava minando toda a sua capacidade de raciocínio. Ele a queria tanto, e Anne não estava fazendo nada para impedir que a boca dele corresse por seus pescoço, e suas mãos abrissem a blusa dela e procurassem sentir os seios quentes em suas mãos. O gosto dela era tão inebriante, e seus beijos o deixavam fora de si. O tecido de renda do sutiã de Anne o fez perceber aonde aquele momento sem controle os estava levando, e ele resolveu parar antes que entrasse em terreno perigoso, e Anne se apavorasse com a ideia de uma intimidade maior com ele. Resolveriam aquilo com o tempo, e ele voltaria a ter Anne em seus braços novamente como antigamente.
Um barulho na cozinha interrompeu aquele momento de breves carícias. E Gilbert se separou de Anne com relutância dizendo:
- Espere um minuto que vou verificar se Sebastian e Mary chegaram. - ele disse tocando-lhe o rosto com suavidade.
Gilbert saiu do quarto e Anne respirou fundo. Precisava resolver outro problema. Que a impedia de fazer amor com ele como antes. Ela queria tanto aquilo que sentia falta de partilharem cada toque e carícia, explorando um o corpo do outro com paixão. E a solução estava guardada na gaveta de Gilbert a quase um mês. Ela precisava apenas de um pouco de coragem para fazer o que deveria ter feito antes, mas não conseguira, por isso decidiu que enfrentaria seu medo e o faria naquele momento.
Anne foi até a gaveta, pegou o envelope dos exames, e o papel pardo parecia queimar seus dedos. Ela tomou coragem e abriu o lacre que o mantinha fechado, e em seguida Anne tinha os resultados que vinha evitando de ler em suas mãos. Gilbert voltou exatamente no momento em que Anne passava os olhos pelo conteúdo escrito, e seu coração deu um pulo ao ver o que ela tinha feito. Seus olhares se encontraram, e um soluço estrangulado saiu da garganta dela, e Anne levou as mãos aos lábios como se pudesse impedir que outros soluços seguissem o primeiro. Os olhos dela transbordaram, e no mesmo instante ela correu para Gilbert e o abraçou com força enquanto o papel que continha a sentença de sua felicidade ou infelicidade jazia no chão abandonado.
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