Capítulo 61- Lembranças pelo caminho
Olá, queridos leitores. Me desculpem por demorar alguns dias para escrever este capítulo, mas é que o trabalho, estudos e outras coisas pessoais têm me consumido, por isso a demora, mas espero que gostem deste capítulo.Tudo o que posso falar sobre ele é que o amor de Gilbert e Anne continua forte apesar de tudo o que têm passado, seus corações estão sempre juntos, e é realmente inspirador escrever sobre um sentimento tão incrível assim. Espero pelos comentários, pois eles me ajudam muito a saber se a história está agradando. Muito obrigada. Beijos.
GILBERT
Três dias, três longos dias e Anne não apareceu. Gilbert contava as horas, os minutos e os segundos desde o último dia que a vira, e seu coração ficava cada vez mais triste. Onde ela estaria? Por que ela não viera mais visitá-lo? Será que a ofendera de alguma maneira? Talvez não devesse ter dito que queria beijá-la, mas fora mais forte que ele, e consequentemente a assustara e a afastara provavelmente para sempre.
Como pudera ser tão estúpido? Anne tinha um noivo a quem amava, quantas vezes teria que repetir aquilo para si mesmo para que entendesse que ela estava fora de seu alcance?
Outro detalhe que ele não poderia esquecer era que ele também estava comprometido, o problema era convencer seu coração de que a garota que o olhava com malícia, e muitas vezes sorria com ironia, era quem ele escolhera para passar o resto de seus dias.
Sabrina era bonita, tinha um corpo bem feito, cabelos longos e negros até a cintura, e um andar sensual que ela fazia questão de exibir como se pensasse que desta maneira conseguiria seduzir quem quisesse. Mas, suas tentativas não funcionavam com Gilbert. O sorriso dela o irritava, o perfume forte que ela usava lhe dava enjoo, e os beijos que andaram trocando, mais por insistência dela, não o agradavam em absoluto. Então, por que continuar com um noivado que não o fazia feliz? ele pensara, mas então, Sabrina insinuara que ambos foram longe demais em certos momentos íntimos, o que fez Gilbert compreender o quão difícil era a situação na qual se encontrava. Não podia abandoná-la agora. Ele não era o tipo de cara que usava uma garota para ter prazer e depois a dispensava. Teria que honrar sua palavra e casar com Sabrina, era o que seu pai teria lhe dito para fazer, e desrespeitar a memória do homem mais íntegro que conhecera na vida, e trair os princípios que ele o ensinara, faria Gilbert se sentir arrasado e culpado.
Porém, por mais que tentasse, Gilbert não conseguia sentir nenhum tipo de cumplicidade com aquela garota, ela parecia mais distante para ele do que as montanhas geladas dos Andes. Ele tentara por vários dias se interessar pelas coisas que ela dizia, mas a sua futilidade lhe dava nos nervos. Como poderia se casar com alguém com quem não tinha nada em comum? Ele sentia falta do humor inteligente de Anne, a maneira como discutiam sobre tantos assuntos que ele nem via a hora passar. Nem sempre concordavam em tudo, mas até nas divergências eles encontravam uma maneira de se entender. Gilbert gostava de ver os olhos dela faiscarem quando ele dizia que ela estava errada sobre determinado assunto, era uma visão maravilhosa de se ter. Ela jogava os longos cabelos para trás, arqueava a sobrancelha como se o desafiasse a provar o que dissera, e os lábios se curvavam em um sorriso irônico dando-lhe a clara impressão que ela passaria os próximos minutos fazendo -o pagar por sua insolência.
Anne o encantava de maneiras diferentes, seu jeito eloquente de utilizar as palavras o surpreendia. Gilbert nunca conhecera alguém que usasse "esplêndido e magnífico" em uma mesma frase e que soasse tão perfeito quanto Anne, e a maneira como ela fazia tudo parecer uma aventura deixava Gilbert completamente envolvido por sua irreverência.
Ele sabia que pensava nela mais do que devia. Em um único dia falava no nome dela tantas vezes que lhe era impossível contar. Gilbert tentava não se deixar levar pelas lembranças daquela coleção de sardas adoráveis que ela possuía no rosto, mas, sempre era vencido por sua fascinação crescente por ela.
Seu próprio subconsciente o provocava, zombava dele durante o sono, pois sempre trazia fios vermelhos esvoaçantes ao sabor do vento até suas lembranças, enquanto lábios provocantes excitavam sua imaginação perdida em seus sonhos.
Era lhe proibido desejá-la, ele sabia, mas Gilbert já não era mais dono de sua própria vontade quando se tratava de Anne. Estava apaixonado por ela, de que adiantava tentar negá-lo, e iria se casar com outra mulher, torturando-se por não ter a quem realmente queria.
Que pena que Anne tivesse chegado tarde em sua vida, pois se a tivesse encontrado antes tudo seria uma verdadeira festa, pois tê-la por perto era sentir a primavera florescendo, mesmo quando a neve fria do inverno deixava tudo cinza e sem vida. Anne era o calor que ele precisava dentro de si, e que naquele momento estava apagado pela ausência dela. O que faria com aquele sentimento que transbordava por seus poros, quando sabia que suas chances de ser correspondido se igualava a zero?
Ele parara de se perguntar como aquilo acontecera, e aceitara naturalmente e com facilidade a familiaridade que sentia sempre que ela estava por perto. Parecia que ele conhecia Anne a tanto tempo, que pressentia o que ela ia fazer ou dizer em determinadas situações antes mesmo de acontecer. Talvez fosse o seu instinto lhe dizendo que ela era a garota certa na hora errada.
Ele sorriu para si mesmo ao pensar sobre isso. Ele nunca acreditara em intuição ou destinos, sempre fora pela lógica concreta das coisas, e não sabia porquê de repente, tudo para ele parecia ser algo já predestinado a acontecer. Será que mudara tanto e até disso se esquecera? Mas, do que realmente se lembrava afinal. Esquecera de tantas coisas sobre si mesmo que temia estar cometendo um erro terrível que lhe traria sérias consequências. Ele tentava todos os dias se recordar dos pedaços de sua vida que simplesmente tinham desaparecido de sua mente, mas os espaços em branco continuavam sem uma história, uma linha ou um momento que preencheriam as lacunas que estavam faltando.
Esse vazio o desesperava e quando perguntava aos médicos quanto tempo aquilo ainda duraria, eles lhe diziam que não devia se preocupar e quando menos esperasse, a memória voltaria como se nunca tivesse sido apagada, mas essa resposta não era o bastante para acalmar as preocupações de Gilbert, pois ele tinha a sensação que enquanto ficava confinado naquele quarto de hospital sem ter ideia nenhuma do que esperar do futuro naquelas condições, ele estava perdendo as melhores coisas de sua vida.
Gilbert se levantou da cama, e caminhou pelo quarto impaciente. Ele tinha sido liberado para se movimentar, e dali a alguns dias poderia ir até o jardim do hospital. Seus ferimentos estavam se cicatrizando bem e quase não sentia dor, a única que o estava incomodando era a dor do seu coração e essa nenhum remédio poderia fazer passar.
Ele foi até a janela e ficou observando o movimento do lado de fora do seu quarto. Pessoas iam e viam em passos apressados e ininterruptos, e Gilbert as invejava, porque por mais problemas que pudessem ter. isso era bem melhor do que aquele sentimento de se estar perdido entre dois mundos, ou ter sua vida dividida entre o antes do qual ele não tinha ideia de como fora, e do agora no qual ele tentava viver um dia de cada vez, mas a ansiedade o estava consumindo pouco a pouco.
- Ei, Blythe. Finalmente, conseguiu sair dessa cama. - Sebastian disse, feliz por ver Gilbert se recuperando tão bem.
- Sim, pelo menos estou me sentindo melhor. -Gilbert respondeu sem muito entusiasmo, o que deixou Sebastian preocupado.
- Você deveria estar feliz, mas por que parece que sua recuperação não é o que mais te importa nesse momento?
- Eu sei que deveria estar animado, mas o problema da minha perda de memória ainda me incomoda demais. - Gilbert disse se sentando na poltrona perto da janela.
- Você ouviu os médicos, isso leva tempo. Tenha mais um pouco de paciência.
- Quanto tempo mais vou ter que esperar? Não aguento mais esse branco na minha cabeça. É como se eu nunca tivesse existido antes do tiro, e toda minha vida fosse uma farsa. - ele abaixou a cabeça olhando para as próprias mãos. Gilbert sentia a garganta doer por lágrimas não derramadas, e fez força para que a pressão sumisse, mas a garganta continuava a apertar a ponto de sufocá-lo.
- Gilbert, é somente isso que está te incomodando? Me parece que existe mais coisas nessas camadas de tristeza que você não quer me contar. -Gilbert olhou para Sebastian com os olhos atormentados. Precisava desabafar ou iria explodir.
- Anne. – Ele disse simplesmente.
- O que tem ela? - Sebastian perguntou esperançoso. Será que Gilbert estava finalmente se lembrando de algo?
- Faz três dias que ela não me visita.
- É isso o incomoda tanto assim?
- Mais do que imagina, e mais do que eu desejaria. - ele suspirou desanimado.
- Qual é o real problema, meu amigo? - Sebastian incentivou Gilbert a continuar falando.
- O problema é que eu a amo. - Gilbert confessou em um fio de voz.
- Mas isso é maravilhoso. – Sebastian disse animado. Talvez a cabeça de Gilbert estivesse falhando, mas não o seu coração.
- Como pode ser maravilhoso se ela ama o noivo, e eu não tenho nenhuma chance com ela? - Sebastian riu internamente pela confissão do amigo. Ah, se ele soubesse. Pena que Sebastian fora proibido de contar a ele a verdade.
- Por que não conta a ela e vê como ela reage? Talvez ela também tenha sentimentos por você. Nunca se sabe.
- Você se esqueceu de Sabrina? Somos noivos.
- Blythe, você sabe que pode desfazer esse compromisso quando quiser. Se não a ama para que continuar? Isso não fará bem a nenhum dos dois. - Sebastian aconselhou, torcendo para que Gilbert levasse em conta suas palavras.
- Eu não posso fazer isso. - Gilbert disse suspirando novamente.
- Por que não?
- Ela me contou que tivemos momentos íntimos. Como posso abandoná-la nessas condições? Devo honrar o nosso compromisso. – Sebastian olhou para Gilbert boquiaberto. Então, esse era o argumento que Sabrina estava usando para manter Gilbert ao lado dela? Mas que garota odiosa. Mentia descaradamente sem se importar com o estrago que estava causando na vida de duas pessoas que se amavam e que nasceram para ficarem juntas. E Sebastian tinha certeza que ela fazia aquilo por capricho, pois duvidava muito que ela sentisse algo mais por Gilbert que não fosse desejo de posse, como se exibisse um troféu para quem quisesse ver. Se ele pudesse desmascarar aquela garota hipócrita, Sebastian o faria naquele instante, mas sabia que não podia fazer isso pelo bem de Gilbert. Falaria com Mary para saber como agir naquele caso. Não podia deixar o rapaz acreditar que devia seu sobrenome àquela garota.
- Talvez fosse melhor pensar sobre isso, Gilbert. Antes de tomar qualquer atitude. - Sebastian disse com a voz calma, mas por dentro a raiva fervia.
- A única coisa que preciso é ver Anne. Ela me faz tão bem, mas acho que ela não vai voltar mais. - Gilbert disse com a voz triste.
- Tenha fé, meu amigo. Logo ela virá te visitar de novo.
- Me sinto tão sozinho, Bash.
- Mas, você sabe que não está. Muddy tem te visitado sempre, assim como Jerry, além de mim e Mary.
- Mas não Anne. - ele disse com a voz cheia de dor.
- Ela virá, tenho certeza. - Sebastian disse com um sorriso.
- Olá, querido, cheguei. – era Sabrina que entrava no quarto naquele instante. Sebastian se despediu de Gilbert, e saiu apressadamente do quarto sem sequer olhar para ela, pois não suportaria ficar no mesmo lugar que aquela garota cínica.
Assim que Gilbert ouviu a voz de Sabrina, ele sentiu seu estômago se revirar. Quase se virou para a janela, ignorando a presença dela por completo. Mas, ao invés disso, ele deu um suspiro resignado e se preparou para mais uma hora de futilidade.
ANNE
Anne tentava estudar, mas sua mente voava para longe e ela não conseguia manter sua atenção por muito tempo nos livros que estava lendo. Fazia exatamente três dias que não via Gilbert, e ela não sabia exatamente como se sentia. Era tanto amor e tanta dor misturados que não havia uma parte de seu corpo que não sofresse com a distância, e com a saudade.
Anne decidira se afastar no dia em que Sabrina aparecera para ver Gilbert pela primeira vez no hospital, e seu coração fora novamente golpeado pela realidade de sua vida. Ela esperara que com suas visitas todos os dias ele conseguisse aos poucos se lembrar do noivado deles, e de como tinham se amado, mas nenhuma lembrança trouxera seu Gilbert de volta, e pela primeira vez ela tivera que encarar o fato de que talvez ele nunca se lembrasse, e a frieza daquela constatação a congelara por dentro, ferindo sua alma mais uma vez. Assim, aquele frio tomara conta de seu corpo inteiro, e Anne duvidava que algum dia iria se sentir aquecida de novo. Sem Gilbert ela não entendia porque deveria continuar.
Para não pensar nele, ela resolvera se dedicar seu tempo livre a revisar toda a matéria da faculdade, mas em questão de horas percebeu que não ia ser nada fácil. A escrita de seus autores favoritos não tinham mais o poder de encantá-la, assim como sua inspiração para escrever poemas se evaporara, ela nem mesmo conseguia criar uma história com coerência, e quando pensava na faculdade não sabia se teria forças para voltar. A verdade naquilo tudo era que não sentia mais paixão por nada, como se a dor de ter perdido seu bebê e o amor de Gilbert ao mesmo tempo tivesse drenado todos os bons sentimentos que ela tivera dentro de si sobrando apenas a solidão terrível que a arrastava para dias obscuros e sem luz. Agora todos os dias eram inverno para ela, o sol não conseguia mais penetrar a escuridão do seu espírito, e não havia como camuflar seu próprio desalento. Pela primeira vez em seus dezoito anos de vida, ela não tinha motivação e nem vontade de lutar.
Agora vivia de lembranças. Acordava e dormia com Gilbert em seus pensamentos, e passava o dia todo tentando não cair em depressão pela falta que sentia da presença dele. Será que algum dia pensaria em tudo aquilo sem chorar, sem sentir que uma parte dela morrera junto com o esquecimento de Gilbert?
Era difícil se levantar, era difícil se alimentar, era difícil fazer as coisas mais simples, por que não encontrava uma só razão para fazê-las. Diana a visitava diariamente, e era acompanhada por Josie ocasionalmente. Jerry voltara a ser seu velho amigo e lhe fazia companhia todas as tardes, conversavam sobre os velhos tempos e como a vida mudara desde então. Ele deixava que Anne chorasse em seu ombro quando alguma coisa a deixava triste, e para Anne isso era um apoio muito importante, mesmo que no fundo nada a fizesse se sentir melhor, a não ser que Gilbert voltasse para ela, mas isso estava cada vez mais distante de acontecer.
Anne fechou no livro que tinha nas mãos, e foi até a cozinha. Marilla estava lá fora em algum lugar em sua vasta horta, e Matthew estava na plantação de milho junto com os empregados da fazenda. Anne tomou um copo de água gelada e depois se sentou na varanda, cruzando as pernas sobre a cadeira de vime que fora colocada ali por Marilla a tanto tempo atrás. Ela vinha passando muito tempo por ali naqueles três dias em que se afastar do hospital, e era o único lugar no qual sentia um pouco paz. Seus olhos se perderam no horizonte e Anne se deleitou com uma paisagem de tirar o fôlego. Green Gables era encantadora em qualquer época do ano, e especialmente agora que estavam no outono, as folhas ganhavam um novo colorido, abandonando o verde e se misturando com o amarelo e vermelho, criando uma tonalidade sem igual.
Anne fechou os olhos por instante, e elevou seu pensamento até onde sua imaginação conseguia alcançar. Gilbert estava com ela e senti-a lhe as mãos em seus cabelos, os dedos passeando por seu rosto e tocando de leve os seus lábios, ela conseguia ver-lhe o sorriso, e o brilho dos olhos que a hipnotizava com seu jeito de dizer-lhe tudo sem que ela precisasse que ele usasse a voz. Ela foi um pouco mais longe e sentiu os braços dele em sua cintura, e o perfume masculino aguçando os seus sentidos, ela quase podia ouvir-lhe as batidas do coração, e entender a mensagem explicita no rosto de Gilbert que dizia "te amo", e uma alegria sem nome a fazia gargalhar como se pudesse estender a mão e abraçar o mundo em um segundo, mas então as sombras a atingiam novamente, e aquele breve momento de ilusão sumia no ar como fumaça, trazendo-a de volta ao presente.
Anne abriu os olhos e sacudiu a cabeça de leve, como se reprovasse o rumo por onde seus pensamentos tinham seguido. Aqueles momentos eram os únicos nos quais era feliz de novo, pois conseguia quase sentir Gilbert tão próximo novamente. Mas em seu íntimo ela sabia que nunca mais seria igual e nunca mais seria capaz de se entregar para outra pessoa. Gilbert a tivera por inteiro e não sobrara nada para mais ninguém.
A ruivinha olhou para o horizonte novamente, e viu que uma figura começava a se aproximar. Ela olhou com mais atenção e então reconheceu Jean vindo em sua direção com aquele seu sorriso largo no rosto, tão característico de sua personalidade, como se fosse uma marca pessoal e original.
- Olá, querida. A quanto tempo não nos falamos. – ele disse assim que se aproximou e beijou Anne no rosto.
- Parece que se passou uma eternidade desde a última vez que nos encontramos. – Anne disse sem entusiasmo. Ela gostava de Jean mas não estava bem para visitas. Queria ficar sozinha e a presença dele ali somente a fazia lembrar de um tempo que não poderia ter de volta, mas mesmo assim, se forçou a ser educada, ele não tinha culpa-se sua vida tinha dado uma guinada de quarenta graus e acabara se tornando um pesadelo infindável.
- Você não me parece nada bem, meu anjo. Seu olhar está tão triste que mal reconheço a Anne que era tão cheia de vida e vibrante. - Anne baixou a cabeça e não soube o que dizer, então sentiu a mão de Jean levantando seu queixo e acariciando seus cabelos com o se ela fosse algo tão precioso e raro, que lágrimas vieram aos seus olhos e inevitavelmente ela se lembrou quando Gilbert fazia o mesmo gesto, e a olhava com uma intensidade que a fazia ver o mundo através dos olhos castanhos dele.- Não chore, querida. Diana me contou o que aconteceu, e eu não tive outra alternativa senão vir vê-la. Estou aqui se precisar. Sempre estarei aqui para você. - a abraçou carinhosamente, e Anne se viu chorando agarrada ao suéter cinza dele. Aquele carinho espontâneo que Jean lhe dava era como uma chuva consoladora que amenizava seu sofrimento, e lhe trazia um pouco da calma que perdera durante aqueles três dias longe de Gilbert. Ela pensara ter feito a escolha certa, mas, agora não tinha mais certeza, doía mais não vê-lo do que estar com ele sem que a reconhecesse.
- Desculpe-me, Jean. Ultimamente choro por qualquer coisa. – Anne disse, se afastando do abraço do rapaz e enxugando as lágrimas com um lencinho de linho que tinha no bolso do vestido.
- Não precisa se desculpar. É compreensível que se sinta assim, depois de tudo o que passou e ainda está passando. – ele disse, pegando na mão dela e levando-a aos lábios. Depois, ele tocou o rosto dela e abraçou pelo ombro, trazendo-a mais para perto dele. Mas, Anne não se importou. Estava carente demais, e aceitou de bom grado o conforto que Jean lhe dava naquele momento, sem se sentir constrangida ou envergonhada. - Como está Gilbert? - ele perguntou.
- Não sei. Não o vejo há três dias. Estava sendo uma tortura ficar do lado dele sem que ele sequer se lembre de quem sou de verdade. Mas, agora me pergunto se fiz a coisa certa. – Anne disse pensativa.
- Talvez você precisasse desse tempo longe dele, e por mais sofrido que seja, às vezes ficar longe do que nos afeta nos faz ver as coisas com mais clareza. - Jean disse.
- Mas, estou com tantas saudades. Queria que ele estivesse aqui comigo. Queria que pudéssemos conversar como antes, rir das coisas mais simples, sermos felizes como éramos com todos o amor dos nossos corações. – Anne falava e parecia tão longe, como se fosse transportada para outro tempo e outra dimensão.
- Talvez seja a hora de voltar, Anne. Gostaria de ir até o hospital? Posso te levar. – Jean se ofereceu.
- Você faria isso por mim? – Anne perguntou surpresa.
- Claro que sim, princesa. Eu te disse uma vez que faço tudo por você. Eu continuo apaixonado, sabia? - Anne se sentiu constrangida como sempre ficava quando Jean tocava naquele assunto. Não queria magoá-lo. Mas também não queria dar-lhe falsas esperanças, pois mesmo que Gilbert não se lembrasse dela, o amor que ela sentia pertencia somente a ele e seria sempre assim.
- Jean, eu...
- Não precisa se preocupar, Anne. Sei que não tenho chances com você, e sei o quanto ama Gilbert. Não vim até aqui para isso. Queria apenas dar meu apoio como amigo. - ele disse, e Anne viu que ele estava sendo sincero.
- Bem, neste caso, acho que iria gostar muito de sua companhia até o hospital. - ela disse sorrindo.
Enquanto Jean a conduzia ao encontro de Gilbert, Anne não podia deixar de se sentir nervosa e cheia de expectativas, como ele estaria depois de três dias sem se encontrarem? Anne não tinha as respostas que gostaria, mas, esperava apenas que aquele encontro aplacasse a sua saudade e diminuísse os anseios de seu coração.
- ANNE E GILBERT
Gilbert estava novamente sozinho no quarto. Sabrina tinha acabado de sair e ele respirou aliviado quando a viu saindo do hospital pela janela do seu quarto.
Ela ficara duas horas com ele, tagarelando sem parar sobre coisas sem sentido para Gilbert, e ele se perguntou mais uma vez o que o fizera se interessar por uma garota tão fútil como aquela? Enquanto ela falava, Gilbert deixou seu pensamento viajar sonhando com outro rosto que não era exatamente aquele à sua frente.
Anne ocupava praticamente toda a sua mente, ele não conseguia parar de pensar nela, e por isso era fácil de se desligar e usar sua imaginação trazendo Anne para perto dele, sem que Sabrina percebesse, pois estava tão envolvida consigo mesma e com sua vaidade desmedida, que não conseguia notar o distanciamento de Gilbert.
Quem passasse pelo quarto e visse os dois juntos, pensaria que o sorriso que o rapaz tinha nos lábios era porque estava encantado pelo que a namorada dizia, mas nem de longe desconfiaria que naquele exato momento ele estava perdido nas lembranças de uma ruivinha que o deixava elevado daquela maneira, mesmo não estando ali presente naquele momento.
Por essa razão, a tagarelice de Sabrina não o incomodava, pois ele não prestava atenção realmente no que ela dizia, e até agradecia por não precisar responder a nada que ela dissesse, pois aquele momento era somente seu e de Anne.
Então, ele podia navegar no mar daqueles olhos que em sua mente o olhavam com tanto amor, e também podia beijá-la como e o quanto quisesse, pois ninguém poderia atrapalhar ou tirá-la dele, porque naquele instante tudo era perfeito, lindo e excitante.
Gilbert também podia tocá-la com a ponta dos dedos, contornando cada linha do rosto dela, acariciando lhe as bochechas rosadas, sentindo a textura macia dos cabelos que combinavam tão perfeitamente com ela.
Em seguida, ele desceria as mãos pelo pescoço alvo e macio, indo parar na curva dos seios que ele imaginava que eram perfeitos. E assim, suas mãos continuariam ao longo do caminho desvendando cada curva escondida pelo vestido, viajando pelo tecido e chegando até o zíper que separaria a pele dela do desejo de Gilbert de tocá-la e tê-la toda nua em seus braços. Nesse ponto, Gilbert impedia que seus pensamentos continuassem naquela jornada sensual, pois seria difícil esconder a excitação que estava dentro de sua cabeça, e que fazia seu corpo implorar pela realidade do que imaginara.
Por que se torturar daquele jeito se sabia que seus desejos eram proibidos e impossíveis? Anne jamais seria dele daquela maneira, muito embora ele percebesse pelas batidas do seu próprio coração quando estava com ela, que já a conhecia de alguns forma, e isso não fazia nenhum sentido para ele.
Às vezes quando tocava as mãos dela, ou a abraçava pela cintura lhe trouxesse uma sensação de que já fizera isso antes, mas não sabia precisar quando. Ele ficava confuso com esses pensamentos, pois uma luz parecia se acender em seu coração, e quando imaginava que uma lembrança chegaria até ele, aliviando sua preocupação em relação à perda de memória, tudo desaparecia de uma vez, deixando apenas um rastro de poeira.
E não era por falta de tentar Todos os dias ele buscava fragmentos de sua antiga vida em alguma porta fechada de sua mente, mas tudo o que conseguia era uma bela dor de cabeça por se esforçar demais, e ele acabava desistindo pelo menos momentaneamente, para recomeçar tudo novamente em outro momento qualquer.
Gilbert ouviu um pigarrear atrás de si e ao se virar encontrou Mary olhando-o com atenção.
- Olá, Mary. Como você está? - ele perguntou-lhe com os olhos amistosos.
- Estou bem, Gilbert. E pelo que vejo você está se recuperando bem. - Mary disse, e Gilbert teve a impressão de que ela estava sendo cautelosa na maneira como falava com ele.
- Algum problema? - Gilbert perguntou intrigado. Ela se aproximou mais dele, e seu rosto sério o deixou preocupado.
- Preciso falar uma coisa para você.
- Claro, Mary vamos nos sentar e você me conta o que tem de errado. - Ele voltou a se acomodar na poltrona perto da janela, enquanto Mary se sentava na frente dele., e começava a falar.
- Gilbert, Sebastian me contou o que você disse a ele sobre a Anne. É verdade?
- Sim- ele confirmou olhando dentro dos olhos de Mary para que ela tivesse certeza do que ele estava lhe confessando. - Eu a amo. Eu sei que não a conheço muito bem, mas, esse sentimento brotou dentro de mim no momento em que a vi, e não mais me abandonou.
- Sebastian me disse que te aconselhou a terminar tudo com a Sabrina. - na verdade Sebastian queria contar tudo sobre a farsa daquele noivado, mas Mary sabia que Anne não aprovaria. Ela decidira que ela mesma falaria com Gilbert. Assim, ela deixara Sebastian em casa com Shirley, pois se o trouxesse com ela, com certeza ele faria besteira e estragaria tudo-, e ela o conhecia muito bem.
- Sim, mas, ele deve ter te contado o motivo de eu não poder deixá-la.- Gilbert disse com o olhar triste.
- É sobre isso que quero te falar, Gilbert. Sabrina está mentindo.
- O que? – Gilbert perguntou parecendo atordoado pelo que Mary dissera.
- Vocês nunca tiveram nada íntimo. Sabrina mentiu descaradamente para te manter do lado dela. - Mary disse de maneira firme. Gilbert não conseguia acreditar que Sabrina tivera a capacidade de fazer aquilo com ele. Como ela pudera mentir sobre algo tão sério? Aquilo apenas lhe mostrava a falta de caráter que ela tinha, e de repente ele se deu conta que com aquilo que Mary acabara de lhe contar o livrava do compromisso que tinha com ela, e ele sentiu o alívio levar embora o peso que estava sentindo em sua alma. Como era bom poder voltar a respirar. Somente naquele instante ele percebera que vinha carregando uma opressão enorme no peito, pois desde que vira Sabrina em seu quarto de hospital pela primeira vez, Gilbert tivera dúvidas do que sentia por ela, e agora podia dizer com todas as letras, que nem mesmo atração física existia da parte dele. Tudo aquilo fora um engano, ele estava apaixonado por Anne e não fazia sentido nenhum continuar com aquele noivado. Falaria com Sabrina no dia seguinte e terminaria com aquela farsa.
- Se você ama Anne, por que não conta para ela? - Mary perguntou, sentindo-se feliz por Gilbert estar aos poucos se dando conta de seus sentimentos, e mantendo em seu coração o amor que sentia por Anne intacto.
- Não é tão simples, Mary. Ela ama o noivo e não posso tumultuar a vida dela só por que me apaixonei. - Mary podia ver o quanto era profundo o que Gilbert sentia por Anne, e mesmo que não conseguisse se lembrar com clareza seu subconsciente não o deixava se esquecer completamente.
- Mesmo assim, acho que deveria dizer, se arriscar. Talvez se surpreenda com o resultado. – Mary aconselhou-o sorrindo.
Uma hora depois que ela tinha ido embora, suas palavras continuaram martelando em sua cabeça. Será que deveria mesmo se arriscar? Será que se falasse para Anne que a amava, ela não acharia que ele estava louco e o deixaria falando sozinho?
Mas, de repente, ele sentia que precisava confessar tudo aquilo a ela ou acabaria sufocado por aquele amor que o pegara desprevenido. Não conseguiria mais manter isso em segredo dentro dele. Aquele sentimento tomara conta de seu corpo inteiro, e não havia um só poro em sua pele que não respirasse por ela.
Ele estava ainda se debatendo entre sua lógica e confusão mental quando viu Anne chegar no jardim do hospital. A euforia tomou conta dele e Gilbert queria correr ao encontro dela, segurar em sua mão, confessar o seu segredo mais íntimo. Mas, então ele viu que ela não estava sozinha. Junto com ela havia um rapaz alto, loiro e magro que mantinha sua mão sobre o ombro de Anne com possessividade. Será que era o noivo dela? Sua dúvida acabou quando, antes que ela entrasse, Gilbert viu-o puxar Anne pela cintura e beijá-la. Na verdade não existiu beijo nenhum, foi apenas um abraço e um leve encostar da testa de ambos para dar a Anne coragem para entrar no hospital e enfrentar a amnésia de Gilbert novamente. Porém, de onde ele estava, a visão lhe pregava peças, lhe dando a certeza de que tinha visto um beijo entre os dois. O ciúme queimou-o por dentro como ácido corrosivo, e o passado e presente se misturaram em um duelo de forças. Uma imagem veio a mente de Gilbert, visualizando a si próprio gritando com aquele rapaz que acompanhava Anne. Ele se viu dando um soco nele, enquanto ele olhava para Gilbert com o rosto desprovido de sentimentos ou qualquer emoção que denunciasse o que se passava por sua cabeça naquele momento.
Quando aquilo tinha acontecido? Será que não era apenas uma peça pregada por sua mente? Estaria imaginando coisas ou ele realmente conhecia aquele rapaz de algum lugar? E por que estavam brigando? Não teve tempo de ir mais a fundo em suas reflexões, pois viu Anne entrar no hospital, e ele sentou na poltrona para esperar por ela, disfarçando sua ansiedade o melhor que pôde. Entretanto, quando ele a viu surgir em seu quarto com um sorriso nos lábios, Gilbert se esqueceu completamente de sua decisão de ir devagar e contar sobre o que sentia por ela aos poucos. Em um minuto, ele registrou cada detalhe da aparência dela, sentindo-se mais uma vez enfeitiçado por aquela energia vibrante que vinha dela.
Anne usava um vestido todo florido sem mangas, que fez Gilbert pensar em um jardim perfeito com a essência dela, os olhos azuis estavam mais claros naquele dia, e os cabelos, ela prendera em um rabo de cavalo, que destacava ainda mais a beleza rara do rosto dela.
- Olá Gilbert. – Anne o cumprimentou com o coração acelerado. Após três dias sem vê-lo, seu amor parecia ter aumentado ainda mais. Os cabelos dele tinham crescido e precisavam de um bom corte, mas os cachos mais compridos lhe davam um ar selvagem que a atraia terrivelmente. As faixas envoltas no tronco dele tinham sido removidas, e somente deixaram um pequeno curativo onde a bala o tinha atingido. Ele deixara vários botões do pijama que usava aberto, e Anne teve uma visão tentadora do peito másculo dele nu, e então, ela se lembrou de todas as vezes que correu suas mãos por ele, e outras vezes que usara os lábios para tocá-lo, sentindo a força dos músculos que se ondulavam com facilidade em seus dedos. Imediatamente, ela sentiu a temperatura do seu corpo subir, fazendo-a ofegar baixinho, e para piorar a sensação, ele a olhava com aquele maldito sorriso, que era capaz de derrubar qualquer barreira que ela pudesse levantar entre os dois, então, ela engoliu em seco e pensou consigo mesma que estar ali sozinha com ele não seria nada fácil.
-- Oi, Anne. Pensei que não viria mais me visitar. - Gilbert disse controlando o tom de voz que estava um pouco trêmula, mas Anne não percebeu.
- Estive ocupada. Desculpe me por não ter vindo antes- ela se aproximou da janela e ficou olhando para fora, tentando fugir das emoções que faziam seu coração palpitar quando olhava para ele.
- Você é sempre bem-vinda. Sabe disso, não é? - ela assentiu com a cabeça, e seus olhos sem quer se cruzaram com o de Gilbert e ela ofegou novamente. Ele passeava o olhar pelo corpo dela sem qualquer cerimônia, e Anne se sentiu despida e venerável ali na frente dele. Por que ele não parava de olhar para ela daquele jeito? Era desconcertante e sensual ao mesmo tempo. Ela quis dizer algo para continuar a conversa, mas sua voz se recusava a sair, por isso, ela se virou de novo para a janela, ficando de costas para Gilbert.
Anne sabia que não era uma posição muito educada dar as costas para alguém, mas naquelas circunstâncias foi a única coisa que lhe ocorreu, caso contrário acabaria se passando por ridícula e se atiraria nos braços dele de uma vez. Mas para sua consternação, ela sentiu Gilbert se aproximar e ficar parado bem atrás dela, a ponto de Anne sentir-lhe a respiração em sua nuca, e ela soube naquele instante que já estava perdida
Gilbert observava a mulher parada à sua frente de costas para ele, e o rapaz sentiu uma grande necessidade de tocá-la de alguma maneira. O perfume que ela usava naquele dia era diferente do que ela costumava usar, e o odor inebriante aguçou o seu olfato, despertando-lhe todos os outros sentidos que pareciam estar embernando todo aquele tempo confinado em um quarto de hospital. Ele levou as mãos ais cabelos dela e os libertou da presilha que os prendia, e a visão das mechas caindo em ondas pelas costas dela excitou Gilbert de tal maneira que ele enterrou seu rosto nos fios brilhantes e perfumados.
- Adoro seu cabelo, são como labaredas de fogo vivas em minhas mãos.
Sem pensar e levada pelo que estava sentindo, Anne encostou seu corpo no de Gilbert. e logo as mãos dele estavam em sua cintura ao mesmo tempo em que sentia a ponta do nariz dele correr por toda extensão de seu cabelo fazendo-a suspirar baixinho pelo prazer que aquela simples carícia provocou nela. Gilbert queria tocá-la mais, queria senti-la bem perto, de preferência com seus corpos tão colados que ele pudesse sentir as batidas do coração dela contra o seu.
Anne não suportou mais os arrepios que o toque suave de Gilbert estava lhe provocando, e se virou de frente para ele, e esse movimento fez com que seus rostos ficassem tão próximos que Anne conseguia ver pontinhos esverdeados dentro dos olhos castanhos dele, e as pupilas escuras maiores que o normal denunciando o desejo que ele não conseguia disfarçar. Ela desviou olhar para os lábios dele e pediu mentalmente 'Por favor, me beije", mas Gilbert apenas olhava para ela sem dar nenhuma indicação de que faria o que ela desejava.
Embora ele quisesse muito provar os lábios dela, Gilbert teve que se lembrar que o noivo de Anne estava lá fora esperando por ela, e ele mesmo querendo o contrário, estava ainda comprometido com Sabrina. Ele desejava muito ignorar os próprios princípios e fazer exatamente o que seus extintos pediam, mas não conseguiu, porque seu senso de honra e responsabilidade eram maiores do que qualquer coisa, e não se sentiria bem deixando-os de lado para satisfazer seus próprios desejos. Assim, Gilbert fechou os, encostou sua testa na de Anne é disse,
- Por favor, diga que vai voltar amanhã. Eu preciso te contar algo. - ele necessitava resolver seu impasse com Sabrina, para depois falar com Anne sobre o que sentia.
Anne olhou para ele, tentando entender o que aquele pedido significava, mas acabou se rendendo à súplica explicita naqueles olhos que ela amava e disse;
- Está bem. - Gilbert soltou a sua cintura, e Anne, embora estivesse abalada pelo que acontecera entre os dois, e não tivesse vontade nenhuma de deixá-lo naquele momento, entendeu que precisava ir embora. Então, ela falou com o rosto corado e a voz um pouco alterada
- Preciso ir. – Gilbert concordou e ela deu-lhe um beijo no rosto, antes de sair e deixá-lo sozinho.
Enquanto a via pela janela caminhar em direção ao rapaz que a trouxera até o hospital, e quem ele acreditava ser o noivo de Anne. Gilbert sentiu seu coração se apertar e depois se expandir, enchendo-se de uma emoção tão forte que o fez sussurrar sem que ela pudesse ouvi-lo, pois se encontrava muito longe dali.
- Eu te amo Anne Shirley Cuthbert. - e nem percebeu que acabara de se lembrar do nome completo dela.
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