Capítulo 57- Meu romance trágico
Olá, queridos leitores. Eu decidi postar esse capítulo hoje, porque achei que vocês precisavam da continuação da história. mas, se preparem, pois ele está de doer. Eu sei que muitos de vocês adoram ler sobre o romance dos personagens principais e imaginar como é possível um amor tão perfeito, mas quero dizer, que mesmo quando o amor é absoluto e pleno ele não está salvo de passar por momentos de tensão e tristeza. Estamos falando de vidas humanas que mesmo na ficção representam o que realmente acontece na vida real. Por isso, ao lerem este capítulo quero que reflitam sobre isso, e depois me deixem seus comentários, me dizendo como se sentiram, e prometo que depois da turbulência, vocês terão lindos capítulos para lerem novamente. Quero dedicar este capítulo a todas vocês que tem me acompanhado semanalmente e comentado sobre os rumos da história, e quero especialmente dedicá-lo a uma pessoa que foi uma ótima crítica ao ler este capítulo antes de eu postá-lo ,e que me disse que sei como "fazer um coração doer".
Obrigada por tudo. Beijos.
Anne
- Tem certeza que isso mesmo que quer Anne, ficar longe de Gilbert?- Marilla perguntou olhando para a menina com espantada com a decisão que ela tomara.
- Não é para sempre, Marilla.- ou pelo menos ela pensava que não seria. Embora estivesse firme em sua decisão em resolver as questões de sua vida antes de se unir a Gilbert novamente, Anne esperava encontrar as respostas que procurava sem muita demora, porque seu sonho maior era se casar com Gilbert Blythe, e ela sabia que se levasse muito tempo para descobrir o que precisava sobre suas origens, ela corria o risco de não tê-lo mais no fim daquela jornada esperando por ela, e Anne não queria passar o resto de sua vida sem ele, mas se acontecesse de Gilbert encontrar outra pessoa, ela teria que deixá-lo ir, mesmo sabendo que seria a morte de seu coração.
- E você acha que ele vai te esperar, Anne? – Marilla perguntou novamente.
- Não o obriguei a esperar por mim, mas confesso que a ideia de não tê-lo por perto quando eu souber tudo o que preciso sobre mim mesma me deixa em agonia, mas eu o deixei livre para escolher o caminho que quisesse, não seria justo acorrentá-lo a mim dessa maneira. Eu o amo demais para pedir-lhe esse sacrifício.- Anne disse baixando o olhar entristecida
Estavam na cozinha de Marilla bem na hora do jantar, e Anne contara tudo o que acontecera entre ela e Gilbert para Matthew e Marilla. Seu prato ainda estava cheio de comida, mas não conseguia engolir nada. Era tensão demais para que tivesse algum tipo de fome, mesmo que não tendo se alimentado desde a hora do almoço quando comera apenas um sanduíche antes de ir para a praia com Josie. Tentou disfarçar sua falta de apetite tomando um copo de leite do qual seu estômago reclamou, deixando-a levemente nauseada.
Se Marilla percebeu alguma coisa não disse nada, e Matthew nunca fora um grande observador do comportamento humano, então nenhum dos dois parecia ter visto Anne apenas brincar com. a comida sem de fato ingeri-la.
Mas, esse não era o fato mais importante ali. O que realmente era essencial para Anne naquele momento era descobrir algo sobre sua família, e não conseguiria seguir em frente enquanto aquele pedaço de si mesma estivesse perdido em um lugar qualquer do passado.
- Você não tem medo de perder Gilbert para sempre, Anne? Você sabe que rapazes bons como ele não se encontram mais hoje em dia. Não está equivocada, filha? Por que terminar o noivado assim por causa de algo que nem sabe se encontrará as respostas que deseja? Gilbert não vai te esperar para sempre.- Matthew disse com seriedade. Ele quase nunca falava ou expressava suas opiniões abertamente a não ser que alguém lhe perguntasse. Mas, Anne sabia que ele estava preocupado com sua felicidade e também por que tinha muito apreço por Gilbert, por isso, falava daquela maneira.
- Eu sei que ele não vai me esperar para sempre, e não é o que desejo para ele. Eu o amo, Matthew, e é também por ele que estou fazendo isso. Quero que sejamos felizes, sem nenhuma sombra entre nós, mas enquanto eu não conseguir preencher o vazio desse lado da minha vida, não conseguirei ser a mulher que ele precisa.
- Mas, e se você não conseguir encontrar o que procura? O que vai fazer? Continuar com esse vazio? E se nesse processo você perder Gilbert? Então terá jogado fora o amor de sua vida por uma ilusão absurda.- Anne ouviu Matthew com atenção, sabendo que em muitos aspectos ele estava certo. Se perdesse Gilbert e ainda não encontrasse nada que a levasse até suas origens, então, o que lhe sobraria? Dor? Desilusão? Desamor? Era um risco que tinha que correr, e se tivesse consequências teria que lidar com elas, e se perdesse Gilbert teria que viver com as lembranças de tudo o que foram um para o outro. A pergunta era, estava preparada para isso?
Anne sabia qual era a resposta, mas fizera sua escolha e iria até o fim, precisava disso, não tinha mais como fugir, todo mundo tinha o direito de saber qual era o seu real sobrenome, onde estavam suas raízes, se tinha parentes, outros irmãos, onde nascera, essas informações eram essenciais na vida de uma pessoa. Anne somente não sabia por onde começar, talvez devesse voltar ao orfanato onde vivera para ver se conseguia alguma informação. Falaria com Diana e Josie, e pediria para que elas a acompanhasse. Ela levantou os olhos e viu que Matthew continuava observando-a preocupado, para acalmá-lo ela disse:
- Matthew, não se preocupe tanto, vai dar tudo certo. – Anne apertou a mão dele sobre a mesa.
- Eu não sei de gosto dessa situação também, Anne, mas, se precisar de ajuda, sabe que somos sua família, e podemos te ajudar a encontrar alguma coisa sobre sua família biológica. – Marilla disse, e Anne sentiu um carinho especial por aquela mulher tão maravilhosa que a amparou em sua casa quando ela mais precisara. Marilla tinha sido a mãe que Anne não tivera, embora em certos momentos ela não fosse a pessoa mais fácil do mundo de se lidar, mas nunca desamparara Anne em seus momentos mais difíceis.
- Obrigada, Marilla, mas, o fato é que nem sei por onde começar. O que sei é tão pouco.- Anne se lamentou.
- Nós vamos te ajudar, querida. Conhecemos muitas pessoas por aqui, quem sabe alguém não nos dá alguma pista do que aconteceu com seus pais. – Mary disse sorrindo para a menina.
- Acha que encontraremos alguém que poderá nos contar alguma coisa sobre meu nascimento? - Anne perguntou se sentindo estranhamente cansada.
- Não custa tentar. Acho que podemos também perguntar ao pastor de nossa igreja se ele não se lembra de alguma coisa. Algo que possa nos ajudar.
- Acho que Marilla tem razão. Tanta gente já passou por essas redondezas, participou de nossa igreja. E além de tudo, o pastor vive viajando por aí, quem sabe em uma de suas andanças ele não possa ter ficado sabendo de alguma coisa. - Matthew disse tentando animar Anne que parecia tão desanimada e tão pálida aquela noite.
- Vamos torcer para que ele possa nos ajudar, então. Bem, acho que vou para a cama, o dia foi cansativo demais para mim. – Ela se levantou da cadeira, e de repente ela sentiu a sala girar, ela teve que se segurar na beirada da mesa para não cair. Foi apenas um segundo, mas bastou para que ela sentisse uma pressão na sua nuca, o estômago revirar dentro de si, e calafrios fazerem seu corpo se arrepiar.
- O que foi, Anne? Está se sentindo mal? – Marilla perguntou preocupada, vendo Anne ficar extremamente pálida.
- Não é nada, Marilla. Acho que peguei um resfriado.- Anne disse, tentando acalmar a velha senhora que a olhava com atenção.
- Vá para cama então, querida. Quer que te prepare um chá de hortelã? - Marilla perguntou.
- Não é necessário. Acho que um boa noite de sono me fará me sentir melhor. Boa noite. – Anne disse com um sorriso forçado.
- Boa noite.- Matthew e Marilla disseram juntos.
Assim, Anne subiu as escadas, se sentindo pior a cada segundo. Caminhou com dificuldade até seu quarto, onde entrou assim que abriu a porta. Escovou os dentes, vestiu uma camisola e foi para a cama se cobrindo até o pescoço com uma manta marrom. Depois de alguns segundos, ela começou a se sentir um pouco melhor e tentou dormir, mas estava inquieta demais e precisou de quase duas horas para que ela enfim se aquietasse e conseguisse cair no sono.
No dia seguinte, Anne ainda sentia certo desconforto e uma pontada em sua barriga a estava incomodando. Não era uma sensação muito forte, mas mesmo assim, a estava deixando nervosa. Ela se levantou, tomou um analgésico e voltou para cama, esperando que o remédio fizesse efeito logo. E de fato, depois de algum tempo a dor desapareceu e Anne pôde descer as escadas e ajudar Marilla com os afazeres da casa, embora a velha senhora tivesse lhe dito que era melhor que ficasse deitada, Anne não concordou. Preferia ocupar sua cabeça, porque assim não tinha tempo de pensar em Gilbert e começar a chorar de saudade.
A manhã transcorreu tranquila, e depois do almoço, Anne resolveu repousar um pouco. O mal-estar tinha voltado e ela pouco comeu sentindo-se fraca e cansada. A ruivinha se deitou na cama e imediatamente seu pensamento lhe trouxe a imagem de Gilbert. Estava se sentindo tão fragilizada e a falta dele só piorava tudo. Como ela gostaria que ele estivesse ali com ela, pois tinha certeza que Gilbert faria tudo melhorar apenas com um sorriso, mas, então, ela se lembrou que não o teria mais ao seu lado, pois tinha afastado Gilbert de sua vida por tempo indeterminado, e não podia correr para ele sempre que algo não estivesse certo. Ela pedira espaço e ele lhe dera, e teria que respeitar a decisão que ela própria tomara.
Anne conseguiu dormir um pouco, e depois desceu para ver se Marilla precisava de sua ajuda para mais alguma coisa, mas quando chegou na cozinha já estava tudo pronto. Então, ela se sentou na sala e começou a ler um livro que iniciara a um tempo atrás, mas parara na metade, e não tivera tempo de terminar. Estava envolvida nessa leitura quando ouviu alguém bater na porta, e quando foi atender seu coração quase parou de bater. Gilbert estava ali, mais lindo do que se lembrava, mais maravilhoso do que sempre, e ela o amava mais do que o amara ontem, mas não se permitiu correr para ele como desejava, e nem deixou que ele percebesse o quanto precisava dele, tinha que ser forte senão tudo a que se propusera quando falara com ele da última vez iria por água abaixo. Por essa razão, disfarçou sua carência e disse com um sorriso:
-Gilbert! O que faz aqui? Aconteceu alguma coisa?
- Não exatamente. Eu só precisava falar com você. Será que a gente pode conversar?
Anne olhou para ele e sentiu as dúvidas inundarem o seu íntimo. Deveria falar com ele? Estava se sentindo ainda tão frágil que tinha medo de sucumbir ao que sentia, e se jogar nos braços dele de novo. Mas, que mal havia em só escutar o que ele tinha a dizer? Que mal havia estar com ele só por alguns minutos, desfrutar de sua companhia que sempre lhe fizera tão bem? Ela então lhe sorriu, e disse:
- Claro, entre. – E depois fechou a porta arás de si.
GILBERT
Gilbert estava sentado perto da janela. Passara a noite toda naquela posição, e o que sentia era um misto de tristeza e alegria, dor e alivio, certezas e dúvidas, mas seu coração ainda estava dolorido, porque mesmo que Anne tivesse lhe dito que não terminara definitivamente o noivado, ela também não afirmara quando voltaria para ele.
A entrega daquela opala para ele por parte de Anne tivera um simbolismo importante, que o fazia refletir sobre seu significado naquele momento. Quando Gilbert dera o anel a Anne ele a presenteara com o seu coração e uma promessa de que o "para sempre" seria possível para eles, e agora quando Anne pedira que ele o guardasse para que um dia quando ela se sentisse pronta, iria usá-lo novamente, Gilbert entendia que ela não rejeitara o seu amor, mas sim ela estava lhe pedindo que ele cuidasse de seu coração com carinho, como se fosse uma rosa no jardim de Mary que precisava ser regada, amada e respeitada, e que voltaria a florescer quando tivesse arrancado todos os seus espinhos e curado todas as suas mágoas, para voltar a encher a vida de Gilbert com seu perfume raro novamente.
O rapaz a compreendia, mais do que ela imaginava. Ele sempre soubera que Anne ainda possuía arestas que precisavam ser aparadas, e Gilbert acreditou que com o seu amor e dedicação ele conseguiria fazer todo o trabalho sozinho, mas, ele fora ingênuo demais.
Existiam certas coisas que deviam ser feitas somente pela pessoa a quem elas afetavam. Existiam certos tipos de sentimentos que precisavam ser compreendidos por si mesmos e pesadelos que deveriam ser exorcizados somente por nós mesmos, e essa era uma viagem na qual Anne deveria embarcar sozinha, por mais que ele desejasse fazer parte dela.
Ele a amava mais do que qualquer coisa no mundo, e daria sua vida por ela se tivesse a oportunidade. Odiava vê lá tão frágil e tão sozinha, mas havia certos limites os quais ele não poderia ultrapassar. Queria muito ajudá-la a enfrentar os seus demônios interiores, queria muito protegê-la de qualquer dor, mas mesmo para aqueles que amavam tão profundamente alguém como ele amava Anne, havia certos sofrimentos que não podiam ser evitados, pois faziam parte do amadurecimento e história de cada um.
Gilbert gostaria de ter a certeza de que tudo se resolveria tão rápido, que ele não teria tempo de sentir a falta dela, muito embora já sentisse e sempre sentiria, porque Anne era uma extensão dele, vivia em cada fibra de seu corpo e que nos últimos tempos se moldara à sua pele como se fosse ele próprio e não mais se separariam. Não importava a distância entre eles, não importavam os anos que passassem, não importava por quais caminhos tivessem que seguir ou o que o destino tivesse decidido por eles, sempre estariam juntos, pela brisa do vento, pelo amanhecer de cada dia, pelo bater incessante do relógio e pela voz que vinha de dentro dele e que chamava por ela a todo instante.
Era assim que Gilbert sentia o seu amor por Anne vibrar dentro dele como uma chama poderosa e envolvente, que tornava tudo o mais ao redor dele pequeno em comparação, e um sentimento assim nunca seria perdido ou dizimado, porque a história escrita por este amor deveria ser sempre contada e recontada por cada coração apaixonado que necessitasse de inspiração para continuar a crescer e espalhar pelo mundo a sua verdade.
Isso tudo o fazia pensar nas palavras de Anne quando lhe devolvera o anel de noivado. Como ela sequer podia pensar que ele amaria outro alguém além dela? Como ela sequer pudera imaginar que ele poderia dividir sua vida com outra garota que não fosse ela? Gilbert levara dezoito anos para encontrá-la e viveria mais dezoito esperando por ela se fosse necessário. Anne era sua motivação, seu único desejo, sua única emoção. Não havia limites para o que sentia por ela, assim como nunca teria fim a sua enorme admiração por aquela garota que lhe ensinara a sonhar de olhos abertos, a encontrar beleza em um uma simples flor do campo, a se alegrar com o canto de um passarinho e a sorrir com a sinceridade de seu coração. Nunca seria grato o bastante por Anne tê-lo escolhido para amar, por cada instante compartilhado com os dedos entrelaçados e suas almas em comunhão eterna.
Gilbert se afastou da janela, passando as mãos pelos cachos desfeitos de seus cabelos e esfregando os olhos cansados pela noite insone. Não conseguira dormir depois que ela se fora tentando compreender cada palavra que ela dissera. Estava feliz pelo amor de Anne por ele continuar inabalado, mas ainda não conseguia aceitar que ela se fora, embora não tivesse sido um adeus definitivo, esse hiato entre eles o estava afetando demais. Não queria ficar longe dela, não queria deixar de vê-la, e só de pensar que não ouviria mais a voz dela ralhando com ele, ou vê-la sorrir com prazer cada vez que ele lhe fazia um elogio, fazia-o prender a respiração como se estivesse mergulhado nas águas profundas do mar e permanecesse no fundo sem conseguir voltar a superfície.
Como sobreviveria a cada dia dessa maneira? Desde que Anne entrara em sua vida tudo se enchera de um colorido tão grande, que voltar a ver o cinza pintar de novo a cada amanhecer o deixava infeliz demais. Ele vivera por muito tempo entre o preto e branco, e depois de experimentar a magia que cada cor trouxera para seu espírito, Gilbert não conseguia se imaginar escondido nas sombras novamente.
O que deveria fazer? Qual a solução para aquele seu dilema? Ele compreendia a necessidade que Anne tinha por espaço, mas por que tinha que se afastar completamente dele? Poderiam ser amigos, mesmo que fosse difícil demais olhar para ela assim depois de tê-la amado como mulher, mas, Gilbert preferia isso do que viver contando os dias sem saber quando ou se a teria de volta.
- Gilbert, posso entrar? – O rapaz se voltou e viu Sebastian sorrindo timidamente na porta de seu quarto e disse:
- Claro, Bash. Fique à vontade. – Então, ele se sentou na beira da cama enquanto Sebastian ocupava a poltrona ao lado, e esperou o amigo dizer o que queria.
- Vim ver como você está, pois sequer desceu para o café da manhã. Estou preocupado com você, Gilbert. Quando te conheci, você estava com seu coração magoado pela morte de seu pai, e sua alma revoltada, mas isso, ao invés de fazê-lo desanimar parecia que o incentivava a continuar, como se não suportasse a ideia de ficar parado em um único lugar, mas agora, depois de toda essa situação com Anne, você parece que desistiu de seus sonhos, parou com sua vida, deixou que a dor tomasse conta de seu espírito, e isso não é nada bom. Vai acabar doente, Blythe e nunca te vi assim. Você precisa reagir, garoto. Eu sei que é duro, e triste, mas o mundo não acabou só porque seu sonho de amor não deu certo. Você não pode deixar de viver, é jovem demais para isso, e tem tanta coisa para realizar em sua vida. Seu futuro será brilhante se se permitir seguir em frente. – Enquanto Sebastian falava, Gilbert manteve sua cabeça baixa. Ele sabia que o amigo estava certo, mas não conseguia ver as coisas de maneira diferente. Enquanto estivesse nesse impasse com Anne as coisas nunca mais seriam as mesmas, ele levantou o olhar e disse com a voz cansada:
- Eu sei que tem razão, Bash, mas não consigo me animar. Sem Anne parece que nada faz sentido. Dói demais viver sem ela.
- Gilbert, eu juro que te entendo. Eu nem sei como reagiria se isso acontecesse comigo, mas, você está se destruindo, e isso precisa acabar. Vocês conversaram ontem e o que ela disse?
- Ela não terminou o noivado definitivamente, mas me pediu um tempo para resolver algumas coisas na cabeça dela que são prioridade agora.
- Então, Blythe, tudo o que pode fazer é dar o espaço que ela precisa, e apoiá-la em suas decisões. Amar alguém nem sempre é fácil, Gilbert, e tudo o que podemos fazer é esperar e torcer para que as coisas se resolvam no final.- palavras sábias aquela pensou Gilbert, mas, era mais fácil dizer do que fazer, e a maneira como estava se sentindo não o deixava em uma posição confortável de espera. Ele tinha impressão de que se não agisse logo, acabaria por perder tudo o que realmente valia a pena, e não podia deixar aquilo acontecer.
- E se no final ela resolver que não me quer mais? Não sei se conseguirei viver com isso, Bash. Anne já é tão parte de mim, que já sinto uma parte de meu corpo faltando sem tê-la aqui comigo. O que eu vou fazer se ela me deixar? – os olhos atormentados de Gilbert fizeram Sebastian apertar o ombro dele com afeição. Aquele garoto estava sofrendo demais, e não poder ajudá-lo deixava o coração de Sebastian tão pequeno que não suportava ver a angústia tão claramente exposta no rosto dele.
- Anne é louca por você, Gilbert. É só uma questão de tempo para ela perceber que vocês devem ficar juntos. Tenha paciência.
- Não consigo, Bash. Paciência é o que menos tenho agora. Não posso acreditar que ela colocou uma barreira entre nós de novo. Eu não estou suportando essa situação, por mais que eu tente fazer a vontade dela, ainda acho que está tudo errado, e que Anne está nos condenando a um sofrimento desnecessário.- Gilbert balançou a cabeça, mostrando-se aborrecido. Precisava fazer algo, estava cansado de esperar que o destino decidisse as coisas por ele.
- Se é assim, por que não vai falar com ela, e resolve essa situação o quanto antes? Mostre a ela o quanto a ama e o que ficará do lado dela no que ela precisar. Talvez tudo o que ela necessite seja um pouco de incentivo. – Sebastian disse encorajando Gilbert a lutar pelo seu amor.
- Tem razão, Bash. Preciso falar com ela. Não aguento mais ficar em meu quarto trancado, revivendo cada momento de amor que tivemos. Mas, posso te pedir um favor?
- Claro, meu amigo, o que quiser. – Sebastian disse sorrindo.
- Você poderia ir comigo? Estou ansioso demais para dirigir e talvez eu precise de um apoio moral caso as coisas não deem certo..
- Claro, Gilbert. E quero ser o primeiro a parabenizá-lo assim que fizer as pazes com sua ruivinha.
- Obrigado, meu amigo. – Gilbert disse apertando a mão de Bash.
Gilbert se vestiu e desceu para um café rápido. Antes de sair, ele explicou a Mary o que ele e Sebastian iriam fazer, e ela insistiu em ir junto, o que fez Gilbert rir divertido.
- Nossa, não sabia que estava precisando de todo esse reforço. Isso tudo é porque você não confia no meu charme para ganhar Anne de volta?
- Não, querido. Eu sei perfeitamente o quanto é charmoso e que não precisa de ninguém para ajudá-lo a conquistar sua garota. Na verdade, quero aproveitar para falar com Marilla. Faz tempo que não a vejo. – Mary explicou, sentindo-se satisfeita por ver que Gilbert estava aos poucos recuperando seu senso de humor.
- Tudo bem então, família. Vamos lá.- Ele esperou Mary pegar Shirley no berço e partiram para Green Gables. Quando chegaram lá, Sebastian estacionou o carro e disse:
- Pode ir. Vamos esperar você aqui no carro, e assim que tudo estiver resolvido no avise, que iremos até lá comemorar com vocês. – Mary disse cheia de expectativas boas.
- E enquanto isso, vou aproveitar para namorar a minha mulher. – Sebastian disse abraçando Mary pelo ombro, e levando um tapa de brincadeira no braço.
- Nãos seja assanhado, homem. – Mary disse rindo.
- Por favor, me desejem sorte. – Gilbert disse nervoso.
- Você já nasceu com ela, querido. Tenho certeza que vai dar tudo certo. -Mary disse, dando-lhe um beijo no rosto e vendo-o se afastar.
Gilbert andou até a porta da casa dos Cuthbert parecendo levar uma eternidade até chegar lá. Bateu na porta rezando para que Anne estivesse em casa. Não queria ter que passar mais uma noite como a do dia anterior na qual não conseguira dormir com tantos pensamentos atropelando sua cabeça.
A porta se abriu e Anne surgiu à sua frente, fazendo-o ficar em silêncio por um momento, apenas para contemplá-la melhor. Como ela podia ter ficado mais linda ainda de um dia para outro? Anne era a encarnação de um anjo ali, o rosto perfeito, os cabelos brilhantes e aquele oceano em seu olhar que encontrava com o dele em uma junção completa de sentimentos. Ela não precisava dizer o que sentia naquele momento, pois Gilbert podia ver claramente o prazer com que ela o recebeu.
- . -Gilbert! O que faz aqui. Aconteceu alguma coisa? – o rosto dela preocupado o enterneceu. Ela ainda se importava com ele.
- Não exatamente. Eu só precisava falar com você. Será que a gente pode conversar? – sua garganta estava seca quando disse isso, e esperou ansioso pela resposta dela. Por um momento ela pareceu vacilar, como se avaliasse os riscos daquela visita dele, mas depois seu rosto se iluminou em um sorriso e ela disse:
- Claro, entre.
GILBERT E ANNE
Matthew Cuthbert entrou em casa no exato momento em que Anne disse a Gilbert para se sentar na poltrona ao lado da sua. Ele olhou para os dois jovens e sorriu satisfeito para si mesmo, enquanto cumprimentava Gilbert com um meneio de cabeça, gesto que lhe era usual, e foi em direção a cozinha fazendo votos de que os dois se acertassem de uma vez. Assim que entrou, ele se dirigiu a única janela que existia naquele cômodo e olhou para fora preocupado. Desde o momento em que estivera no celeiro cuidando dos cavalos, e depois quando estava entrando em casa, teve a sensação de que estava sendo observado, mas tudo parecia tranquilo do lado de fora, o que o fez pensar que estava imaginando coisas. Marilla o viu franzir o cenho e perguntou:
- Algum problema, Matthew?
- Não, está tudo bem. Só estava pensando sobre algumas coisas. – ele mentiu, não queria deixar Marilla preocupada desnecessariamente. Ele foi até a garrafa de café e se serviu de uma xícara, depois se virou em direção à irmã que estava sentada na mesa e perguntou:
- Você viu que Gilbert Blythe está falando com Anne?
- Sim, espero que tudo dê certo, pois a coitadinha da Anne tem sofrido demais com toda essa história. Vamos torcer para que esse noivado continue forte e firme. – Marilla respondeu, e Matthew teve que concordar com ela.
Enquanto isso, na sala de visitas da casa, Gilbert estudava todas as reações de Anne que estava sentada bem próxima a ele, e tomava coragem para dizer o que precisava. Em sua carteira estava a opala de Anne, e ele a trouxera com ele na esperança de que a ruivinha se decidisse por usá-la novamente. Ele olhou para as próprias mãos e disse com o olhar fixos nelas:
- Anne, eu sei que conversamos ontem, mas, eu precisava muito te ver e te falar algumas coisas.
- Estou ouvindo. – Ela replicou com a voz suave que fez com que Gilbert levantasse a cabeça e mergulhasse o olhar dele nos dela.
- Eu vim até aqui para te dizer que te apoio na sua busca por suas origens. Eu sei que saber quem são seus pais é realmente importante para você. Mas, querida, eu sei que você acha que devemos ficar separados por agora, e respeito sua decisão. A única coisa que te peço é que me deixe ficar ao seu lado e te ajude a passar por isso da maneira como você me quiser, mas por favor, não me afaste desse jeito, Anne, eu só quero ficar perto de você. – Gilbert viu a dúvida no rosto da menina, e esperou pela resposta dela. Como ele precisava daquela garota em sua vida, ele pensou, viver sem ela estava fora de questão. Ele pensou em se aproximar um pouco mais, mas achou melhor ficar onde estava, não queria pressioná-la com sua ansiedade, por isso, ficou em silêncio e com a respiração suspensa enquanto Anne se decidia no que dizer para ele.
- Gilbert, eu não.- uma batida na porta interrompeu a conversa que estavam tendo naquele instante. Ela ia se levantar par atender o visitante inesperado, mas, Mathew veio da cozinha e disse:
- Não se preocupe, Anne. Eu atendo.- e se encaminhou para a porta.
- Quando ele a abriu ficou surpreso por ver dois rapazes jovens, um loiro e um moreno, cujo rostos não lhe eram estranhos. Matthew sorriu-lhes educadamente e perguntou:
- No que posso ajudá-los?
- Você não se lembra de mim? – um deles disse com uma voz desagradável que incomodou Matthew, mas, o bom senhor manteve sua postura polida e disse:
- Me desculpe, embora sua fisionomia não me seja estranha, não consigo me lembrar de onde nos conhecemos.
- Eu te disse que ele não lembraria da gente.- o rapaz disse para o outro que estava a seu lado. Depois, com um sorriso de desprezo ele disse a Matthew.
- É lógico que não se lembra, mas acho que isso aqui vai refrescar sua memória. – e então, ele apontou uma arma para Matthew que esteve escondida até aquele momento. O bom senhor olhou para o rapaz e o revólver que ele tinha nas mãos, e disse tentando manter a voz calma.
- Se isso é um assalto, quero avisá-los que não tenho nada de valor nessa casa. – e era verdade o que dizia, pois Green Gables era cheia de objetos decorativos que tinham apenas valor sentimental, pois ele e Marilla nunca se importaram em adquirir coisas valiosas para a casa por serem pessoas simples, e todo o dinheiro que ganhavam com a colheita de milho, Matthew depositava no banco de Avanloe, deixando apenas o suficiente para passar o mês com conforto.
- Olha, Mike. O velhote pensa que me engana.- o rapaz loiro disse com a voz de escárnio, depois olhou para Matthew com o cano da arma apontado para o seu coração e continuou -Eu sei que você ganha muito dinheiro com essa fazenda, e você vai me entregar tudo o que tem. Chame isso de justiça e não de assalto, afinal, você me deve por ter me despedido no mês passado com uma miséria de salário que mal dá para sustentar minha família. – Depois que o rapaz disse isso, Matthew se lembrou quem ele era.
Jeremy Carter tinha sido contratado junto com outros trabalhadores para ajudarem Matthew com a colheita. No princípio, ele se mostrara bastante dedicado ao trabalho, mas depois de dois meses, começara a chegar atrasado e muitas vezes bêbado, e Matthew tivera que despedi-lo para que não levasse os outros empregados para o mesmo caminho. Como dizia um velho ditado, um limão podre no meio dos outros poderia facilmente estragar uma dúzia inteira.
Matthew lhe pagara o salário referente aos dias que ele trabalhara, mas pelo jeito ele achara que Matthew não tinha sido muito justo, e por isso, aparecera em Green Gables com uma arma na mão exigindo algo a que ele achava que tinha direito. Matthew não se lembrava do nome do outro rapaz que estava com ele, mas ele sabia que ele também tinha trabalhado ali na fazenda junto com Jeremy.
- Sinto muito, informá-lo, meu caro rapaz, mas realmente não tenho nada de valor nessa casa. – Matthew aparentava calma, mas dentro dele seu coração estava disparado, precisava fazer algo para tirar aqueles rapazes dali, mas nada lhe ocorria. Foi então que Jeremy apertou mais a arma contra ele, e disse:
- Vamos entrar e eu decido o que tem valor e o que não tem. – Jeremy disse empurrando Matthew para dentro da sala.
Quando Matthew entrou ele viu o olhar aterrorizado de Anne que percebera o que acontecia ali na porta da sala de Green Gales, e que estava posicionada atrás de Gilbert que a protegia com o seu próprio corpo. Marilla acabara de entrar na sala e levara o maior susto, colocando a mão sobre o lado esquerdo do seu corpo como se quisesse controlar as batidas do seu coração, recebendo um olhar grave do irmão que em silêncio lhe pedia calma.
- Vamos lá, seu velho estúpido, onde está o dinheiro? – Jeremy parecia cada vez mais nervoso, pois gesticulava e falava alto, olhando para o seu comparsa a todo momento.
- Já disse que não temos dinheiro em casa.- Matthew respondeu tentando manter sua voz calma, mas o pânico estava vagarosamente se instalando em seu coração.
- Não é possível que não tenham nada em casa! E onde está o cofre? – Jeremy continuava gritando alto, fazendo tanto Marilla quanto Anne se entreolharem nervosas, enquanto Gilbert ficava na frente das duas, tentando passar-lhes um pouco de conforto.
- Não temos cofre, já disse! - Matthew disse também gritando, acabando dessa forma por se descontrolar.
- Você está mentindo, e eu sei disso, seu velho idiota! Mas eu sei de uma forma de te fazer falar. – Jeremy então olhou para o seu comparsa, se comunicando com ele por um movimento de cabeça. Assim, o rapaz moreno se aproximou de Gilbert, deu-lhe um empurrão e agarrou Anne pelo braço, trazendo-a para mais perto. Jeremy olhou maldosamente para ela e Matthew, fazendo com que um calafrio passasse por todo o corpo da menina. E então, ele desviou o cano da arma de Matthew e o apontou na direção da ruivinha.
- Eu te dou três minutos para me dizer onde está o dinheiro, ou sua querida filha receberá uma bala do cano dessa arma, e eu tenho certeza que nenhum de vocês querem isso. – Anne olhou apavorada para Gilbert, que observava toda a cena, tentando encontrar uma forma de afastar o perigo para longe dela, enquanto isso Jeremy começou a contar.
- Um...
- Por favor, já disse que não tenho dinheiro nessa casa, pegue o que quiser, mas não nos machuque. – Matthew implorava desesperado.
- Dois... Jeremy continuou contando.
- Por favor. – Matthew implorou mais uma vez.
- Três!- o tiro foi disparado sem que realmente alguém ali acreditasse que Jeremy tivesse coragem de fazer aquilo, nem mesmo ele.
Como se estivesse assistindo tudo em câmera lenta, Anne viu Gilbert se jogar na frente dela, salvando-a de ser atingida pela bala, mas sendo ele ferido no coração. Ao ver Gilbert caído no chão ensanguentado, Anne gritou mais que seus pulmões podiam aguentar, ajoelhando-se ao lado dele chorando desesperada.
O menino por sua vez, sentia uma calma envolvê-lo, podia perceber o sangue se esvair de seu peito devagar ao mesmo tempo em que sua cabeça começava a latejar terrivelmente. Ele olhou para o lado, e embora sua visão começasse a ficar embaçada, consegui ver a face de Anne banhado pelas lágrimas, os soluços tão doloridos aos seus ouvidos que sentiu seu coração ferido se despedaçar por vê-la naquele estado por sua causa. Gilbert fez um grande esforço para tocar o rosto dela, e quando o fez, Anne olhou para ele com as feições distorcidas pelo desespero. Com grande dificuldade, ele conseguiu falar, a voz saindo baixa e rouca enquanto suas forças o abandonavam aos poucos:
- Anne...... por favor..... não chore.... . Eu..... quero..... te dizer..... que ...... amar você....... e ser amado por você........ foi um privilégio....... eu ... – Anne olhou para ele, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto e caindo sobre o peito ensanguentado de Gilbert, e colocou suas mãos nos lábios dele, tentando impedi-lo de continuar,
- Por favor, meu amor. Poupe suas forças, não se canse assim. – ela segurou a mão dele entre as suas, procurando lhe passar algum calor, pois a sentia cada vez mais fria.
- Não.... me... deixe.... terminar... eu... não....tenho..... muito tempo.... Você......sempre foi.....o ........... meu....raio............de ...... sol.....minha.... garota.....valente.....minha....Anne.....with ....an...e. ... meu......coração..... sempre......será......seu....quero....que.....se....lembre.....que ....eu....te ...amo...... – a voz dele sumiu, a mão que Anne segurava amoleceu e ela notou com um desespero ainda maior que ele tinha perdido a consciência. A menina deitou sua cabeça sobre o peito dele e começou a soluçar sem parar enquanto dizia:
- Meu amor, por favor não me deixe. Eu preciso tanto de você, eu te amo tanto. Me desculpe por ter sido tão idiota por não perceber que a única coisa que eu precisava nessa vida era de você, nenhum sobrenome me faria mais feliz do que o seu. Por favor, Gilbert, abra os olhos, não me deixe aqui sozinha, por favor, eu não conseguirei viver em um mundo no qual você não exista. – ela continuou a falar com ele baixinho como se ele pudesse ouvi-la, e só se separou dele quando sentiu mãos fortes a segurando pela cintura, e separando-a dele. Ela não tinha percebido que enquanto estava ajoelhada ao chão ao lado de Gilbert, os bandidos tinham fugido, Mathew tinha saído para buscar ajuda e Sebastian tinha acabado de entrar na casa com Mary atraídos pelo barulho do tiro. Ele se abaixou ao lado do rapaz, sentindo-lhe os pulsos e disse para Mary e Marilla:
- Os batimentos dele estão fracos, precisamos levá-lo para o hospital imediatamente. – Assim, com a ajuda de Matthew, colocaram Gilbert no carro. Nesse momento, Anne se separou de Marilla que a tinha abraçado ao ver o seu desespero quando Gilbert perdera a consciência e disse para Sebastian e Mathew:
- Eu vou com vocês.- e se acomodou no banco detrás com a cabeça de Gilbert em seu colo.
- Matthew, eu não poderei ir, pois alguém precisa ficar em Green Gables.- Marilla disse ao irmão, olhando para Anne que não parava de chorar e seu coração sofreu por ela e pelo rapaz a quem estimava desde criança.
- Marilla, eu vou com ao hospital com eles. Você se importaria de ficar com Shirley até eu voltar.- Mary disse.
- Claro, que não. Pode ir tranquila.- a boa senhora respondeu com os olhos lacrimejando. Em seguida, pegou a garotinha no colo e entrou com ela para dentro da casa.
Assim, eles partiram para o hospital, com Sebastian ultrapassando todos os limites de velocidade, pois tudo o que lhe importava era salvar a vida do amigo que um dia lhe oferecera a chance de ser livre, trazendo-o para sua fazenda e dando-lhe uma vida digna e farta, agora era sua vez de retribuir-lhe o favor.
Sentada no banco do passageiro como Gilbert em seu colo, Anne acariciava o rosto dele com carinho, vendo com o coração apertado o rosto dele ficar cada vez mais pálido. Ela tinha notado que a cabeça dele também estava machucada, mas não se lembrava de como ele a havia ferido. E a todo momento ela rezava baixinho para que ele se salvasse, e voltasse a sorrir para ela com aquele sorriso dourado que sempre a fizera feliz. De repente, todos os outros problemas que a separaram de Gilbert perderam a importância diante da gravidade da situação.
Como fora tola, e idiota, como pudera se afastar da única pessoa que era a razão da sua vida? O que importava saber de suas origens e qual era o seu verdadeiro sobrenome, se Gilbert não estivesse mais ali? Em seu desespero ela rezava mentalmente "Deus, por favor, permita que eu veja os olhos castanhos dele de novo. Não o leve de mim, ou eu não terei mais nenhuma razão para continuar vivendo".
- Anne, você não está sozinha. Estamos todos aqui com você. – Mary disse, apertando a mão da menina para lhe dar força. – Tenha fé, minha querida, e tudo vai ficar bem. Logo, você e Gilbert estarão juntos de novo. – Anne apenas assentia mecanicamente, sem realmente ouvir o que estava sendo dito por Mary. Todas as suas forças e atenção estavam concentradas em suas orações, e na dor que parecia não querer abandoná-la.
Eles chegaram ao hospital e Gilbert foi atendido imediatamente, sendo levado para a mesa de cirurgia urgente. Assim, as horas de espera começaram, e Anne se sentia sufocar pela falta de notícias e a ansiedade que a consumia lentamente.
- Anne, você está se sentindo bem? – Mary perguntou, vendo-a mortalmente pálida.
- Sim. – Anne respondeu, mas na verdade, a mesma dor que sentira no dia anterior a atingia novamente a deixando enjoada, mas diante das circunstâncias, ela achou que era apenas o nervosismo e a tensão que a estava fazendo se sentir mal. Depois, de uma eternidade, o médico que operara Gilbert finalmente apareceu e disse:
- O paciente foi operado e está fora de perigo. Felizmente a bala não atingiu nenhum órgão vital, o que é muito bom. Porém, ao cair no chão ele deve ter batido a cabeça com força, porque sofreu uma pequena fratura cerebral. Não, é muito grave, mas quando se trata de algo assim nunca sabemos como o corpo vai reagir. Teremos que esperar que ele acorde da anestesia para ver como ele reagirá. – Anne ouviu as palavras do médico envolta em uma névoa. Sua cabeça latejava, e a dor que sentia antes parecia querer cortá-la ao meio. Tentou resistir, mas de repente, o espasmo de dor foi tão forte que ela dobrou o corpo para frente, enquanto a escuridão a envolvia completamente.
Anne abriu os olhos horas depois, e percebeu que estava deitada em uma cama de hospital com o braço preso no soro. Ela olhou para frente e viu que Mary estava ali sentada em uma cadeira ao seu lado. Quando ela percebeu que a menina estava acordada, ela pegou na mão de Anne e perguntou:
- Como se sente, querida?
- Um pouco zonza, mas estou melhor. Como está Gilbert? – Ela perguntou aflita.
- Bem melhor- ele já acordou da anestesia, e agora está dormindo no quarto ao lado.
- Preciso vê-lo. – Anne tentou se levantar rápido, mas Mary a impediu:
- Anne, eu preciso te contar uma coisa.- os olhos dela ficaram tristes e começaram a marejar como se ela fosse chorar.
- O que foi, Mary? Por que está assim? - Anne perguntou sem entender a reação de Mary.
- Querida, eu não sei como te dizer isso. – Ela fez uma pausa, parecendo tomar coragem, e Anne esperou com a respiração suspensa pelo que ela tinha a lhe dizer. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, Mary apertou suas mãos entre as dela com força e terminou a frase dizendo: - Você perdeu bebê.
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