Capítulo 55- Fantasmas no paraíso.
ANNE E GILBERT
Anne terminou de se arrumar para a festa de Mary e Sebastian se sentindo muito feliz. Quanto tempo havia se passado!, ela pensou admirada enquanto passava a última camada de batom nos lábios. Ela se lembrava de quando conhecera Sebastian com seu sorriso largo e sincero, sempre caloroso e engraçado, e também sempre disposto a caçoar de Gilbert, mas deixando transparecer por trás de suas palavras de deboche a enorme afeição que sentia pelo rapaz. Ele fora uma figura muito importante na vida de Gilbert enquanto atravessavam o Pacífico e seu noivo se distanciava cada vez mais de tudo o que conhecia e amava. Fora a sua amizade que o trouxera de volta para o mundo real, quando sua tristeza e revolta o enterrava cada vez mais dentro de si mesmo. A sua vinda para a América não fora nada fácil, mas Sebastian abraçara o convite de Gilbert em morar com ele como um novo recomeço para uma existência tão sofrida, mas, com sua força de caráter e espírito se adaptara mais rápido que esperara, adotando Avonlea como seu lar permanente.
Quando a doce Mary surgira em sua vida, ela preenchera o espaço vazio de seu coração, e o nascimento de Shirley viera coroar aquele relacionamento tão abençoado, embora nem tudo tivesse sido rosas, Sebastian e Mary superaram tudo e mereciam aquela festa para comemorar a bênção de estarem juntos e cada vez mais fortes.
Anne calçou as sandálias e desejou mentalmente que seu relacionamento com Gilbert fosse tão forte quanto o de Mary e Sebastian. Eles se amavam demais, mas Anne não tinha certeza se conseguiria passar por tantas coisas pelas quais Mary passara, inclusive o risco de perder a própria vida sem esmorecer. Era verdade que Anne já tivera sua cota de sofrimento no mundo, mas nada que se assemelhasse com o que Mary vivera, porque ela não só tivera que lidar com os infortúnios da vida, mas também com a discriminação da sua cor. Parecia tanto para uma figura tão pequenina e delicada como ela, mas que tinha uma alma e coração tão imensos que não cabiam dentro de si, e por isso ela e Sebastian mereciam o melhor que a vida podia lhes dar.
Anne sentiu certa inquietação se agitar dentro dela, e respirou fundo. Vinha se sentindo assim desde os últimos dias em Paris, e não sabia muito bem o que tinha desencadeado aquela ansiedade que a atingia sem que esperasse, mas, ela tinha consciência de um pensamento que a vinha atormentando e o qual não contara a ninguém nem mesmo para Gilbert.
De repente, Anne começara a se perguntar sobre as suas origens, quem tinham sido os seus pais e de onde viera. Eram perguntas que nunca fizera antes, pois quando criança a única coisa que lhe importava era se proteger do frio, encher de comida seu estômago que parecia eternamente vazio, e ter uma cama quentinha onde se deitar à noite, mas que agora se tornavam importantes demais. Ela e Gilbert iriam se casar e construir sua própria família, e Anne queria poder contar aos seus filhos sobre onde nascera e quem tinham sido seus a avós maternos. O problema para Anne agora não era ser órfã e sim saber sobre sua descendência, mas nem sabia por onde começar. Talvez conseguisse conversar com Gilbert sobre isso e ele pudesse ajudá-la a investigar um pouco mais sobre suas origens, e descobrir o que tanto desejava.
Anne afastou aqueles pensamentos de sua mente, pois percebeu que já era hora de descer e esperar por Gilbert. Ela passou uma gota do perfume que Gilbert gostava atrás de cada orelha e saiu do quarto.
Gilbert acabara de chegar quando ela pisou no último lance de escada, e o sorriso que ele lhe deu mostrava claramente que gostara muito do vestido azul marinho de corte clássico com o qual estava vestida.
- Vocês não querem mesmo ir com a gente? – Anne perguntou para Marilla e Matthew.
- Querida. Nós não podemos, pois eu prometi a Rachel que ia ajudar com. seu bazar da igreja. É uma pena que tenha coincidindo com a data da festa de Mary e Sebastian. Eu já me desculpei com ela, e ela entendeu. Não voltaremos para casa hoje, portanto não se preocupe conosco.
- Está bem, então Boa noite.
-Boa noite, querida. Se divirta. – Matthew e Marilla disseram.
Quando ela e Gilbert saíram para a varanda, o rapaz a agarrou pela cintura dando-lhe o maior susto.
- Deus, como senti sua falta.- Ele disse enterrando o nariz em seus cabelos
- Gilbert, nós passamos só uma noite separados.- Anne disse, com os olhos fechados, saboreando o toque dos lábios de Gilbert em seu rosto. Ela tinha que admitir que sentira a falta dos braços dele em sua cintura quando acordara de manhã.
- Não ter você em minha cama essa noite foi difícil demais para mim. Não vejo a hora de me casar com você é tê-la comigo todos os dias para sempre. – as palavras dele eram tão doces que acalmavam seu coração tumultuado.- Quero tanto te beijar.- ele disse olhando para os lábios pintados dos de rosa de Anne.
- Amor, eu também quero muito te beijar, mas se a gente começar você sabe que não sairemos daqui tão cedo. – Ela disse dando-lhe um selinho rápido.
- Está bem, eu concordo com você. Mas saiba que não vai escapar de mim mais tarde, senhorita. A propósito você está maravilhosa. – Anne apenas riu da cara maliciosa de Gilbert e entraram no carro.
Quando chegaram na festa, muitos dos convidados já estavam presentes, inclusive Diana e Jerry, Muddy e Josie. Eles se juntaram aos quatro amigos e começaram a conversar animadamente. De repente, Anne olhou para a porta e viu um rapaz que lhe pareceu familiar, e depois de pensar por alguns segundos se lembrou de quem era e disse ao seu noivo:
- Gilbert, aquele não é o Jonas?
- É mesmo. Mary disse que ele apareceu aqui na fazenda na semana passada com outros amigos da faculdade a minha procura, e Sebastian os convidou para a festa.- Gilbert acenou para que Jonas se aproximasse e Anne viu com prazer que Dora estava com ele, mas seu sorriso morreu quando viu a outra garota que estava com eles.
- O que ela está fazendo aqui, Gilbert? - ela perguntara ao ver Sabrina junto com os amigos de Gilbert.
- Eu não faço a menor ideia. Eu não sabia que ela e Jonas eram amigos - Gilbert respondeu enquanto via a morena de se aproximar de onde estavam.
- Quem é ela? - Diana perguntou a Anne.
- Uma oferecida que deu em cima de Gilbert quando eu estava em Nova Iorque. – Anne respondeu em tom baixo sentindo a raiva tomar conta dela enquanto observava Sabrina com atenção Ela tinha que admitir que a garota estava deslumbrante em um vestido vinho justo e curto, e com um decote profundo que revelava o início dos seios. Seus cabelos desciam negros e brilhantes até a cintura e balançaram naturalmente enquanto ela caminhava se equilibrando elegantemente em um salto agulha prateado.
- Boa noite, Gilbert. A festa parece bastante animada.- Jonas disse apertando a mão do rapaz.
- Sim , que bom que puderam vir.- Gilbert disse retribuindo o aperto de mão do amigo , dando um beijo no rosto de Dora, e apresentando-os para os seus outros amigos.
- Eu também não ganho um beijo de boas-vindas? – Anne ouviu Sabrina dizer, e rapidamente olhou para Diana que apertou seu braço em silêncio pedindo-lhe que tivesse calma, enquanto observavam Gilbert beijar o rosto de Sabrina sem graça.
- Olá Anne. Que prazer te reencontrar.- Dora disse beijando a ruivinha na bochecha e apresentando o outro rapaz que tinha vindo com eles. – Esse é Jack.
- Muito prazer, Jack. – Anne disse.
- O prazer é todo meu.- ele respondeu sorrindo para Anne, e depois desviou o olhar para Dora que falava com Diana, e Anne pôde perceber que havia bem mais que amizade na maneira como Jack olhava para a amiga de Gilbert.
Ela então percebeu que alguém a observava, e logo viu que Sabrina a fitava com um sorriso zombeteiro nos lábios, cumprimentando-a com um menear de cabeça que Anne não teve a menor vontade de retribuir. Ela se virou e continuou conversando com Diana enquanto suas mãos seguravam o braço de Gilbert firmemente.
Depois de algum tempo, Gilbert disse em seu ouvido:
- Querida, eu disse a Mary que ajudaria com os convidados, você se importa?
- Claro que não. Vou ficar bem aqui com nossos amigos. Só não demore muito.- Anne disse beijando-o nos lábios rapidamente, e viu com desagrado Sabrina sorrir para Gilbert com toda a sensualidade de que era capaz. O sangue de Anne ferveu de ciúme, mas ela se controlou a tempo contando até dez. Não faria uma cena no meio daquelas pessoas, pois Sebastian e Mary não mereciam aquilo.
Mas, durante toda a festa ela não perdeu um só movimento de seu noivo, que era seguido por Sabrina sutilmente, e quando ela agarrou o braço de Gilbert arrastando-o para a pista de dança improvisada da festa, Anne teve uma vontade imensa de agarrá-la pelos cabelos.
- Não ligue para Sabrina. – Anne ouviu Dora dizer.- Ela se insinua assim para todo mundo,. Você sabe que Gilbert te ama e jamais daria bola para uma garota vulgar como ela.- Anne apenas assentiu com a cabeça. Em outro momento talvez não se sentisse ameaçada por aquela garota insinuante, mas naquela noite em que se sentia tão vulnerável parecia que havia uma ameaça sobre sua cabeça que a fazia se sentir apreensiva. Sabia que Gilbert estava dançando com a garota para não ser mal educado, pois ela praticamente o forçara a aquilo. Às vezes quer a que Gilbert fosse menos cavalheiro, porque assim pouparia a ambos desse tipo de situação, mas Gilbert jamais seria ele mesmo se não agisse assim com as pessoas.
Ela se virou de costas para eles, pois não queria continuar vendo aquela cena e acabar surtando. Ela tinha visto Gilbert tentar se afastar da garota, mas ela continuara se agarrando ao pescoço dele sem largá-lo e para não fazer uma cena ele continuara dançando com ela até a música terminar. Quando Anne se virou novamente e olhou para a pista de dança, ela percebeu que nem Gilbert e nem Sabrina estavam mais lá. Seu coração se apertou enquanto olhava para todos os lados e não conseguia encontrar Gilbert. Ela saiu para fora e quando chegou na varanda, ela parou de repente não conseguindo acreditar no que via. Gilbert e Sabrina estavam abraçados e se beijavam apaixonadamente, ou assim ela pensou.
Anne levou a mão ao peito sentindo seu coração se despedaçar. O homem que ela amava, a quem tinha se entregado com paixão e com quem iria se casar estava nos braços de outra mulher como sequer se lembrasse do compromisso que tinha com ela.
A ruivinha fechou os olhos, rezando para que fosse apenas um pesadelo, que nada daquilo estivesse acontecendo, mas quando os abriu novamente percebeu com desespero que não estava sonhando. Eles não estavam mais se beijando, mas continuavam muito próximos, e ela observou que Gilbert falava algo para a garota enquanto ela o olhava com um olhar insinuante.
A dor a atingiu sem piedade fazendo-a gemer baixinho. Precisava sair dali ou se afogaria na própria angústia. Então, Gilbert virou a cabeça e arregalou os olhos quando a viu, empurrando Sabrina para longe dele e gritando o seu nome.
Anne se virou e saiu correndo. Não queria falar com Gilbert, não queria ouvir suas explicações para o que não tinha como ser explicado, não queria olhar para aqueles olhos castanhos que tanto amava, não queria ficar ali e ser humilhada. Ela passou por Josie e Diana que tinham visto toda a cena, e gritaram para que ela as esperasse, mas a ruivinha as ignorou e continuou correndo, arrancando as sandálias que impediam que se movimentasse com mais rapidez e continuou correndo descalça sem se importar com os arranhões que as pedras pelo caminho até Green Gables faziam em seus tornozelos e pés. Anne tropeçou várias vezes e na terceira vez ela perdeu o equilíbrio e caiu, ficando estatelada no chão e soluçando sem parar. Ela não conseguia tirar a cena do beijo de sua cabeça e sentia como se fosse morrer, pois a dor era tanta que não conseguia respirar. Sentiu mãos em seus cabelos e levantou a cabeça seu olhar se encontrando com o de Diana, que tinha em seu rosto uma expressão preocupada. Josie também estava lá e tanto ela quanto Diana ajudaram Anne a se levantar e a menina ouviu a amiga dizer:
- Vamos. Nós te ajudamos a chegar até Green Gables. - Cada uma a abraçou de um lado de sua cintura e as três amigas caminharam até a fazenda dos Cuthberts que não estava tão longe dali. Nem Diana ou Josie tocaram no assunto sobre a cena que se desenrolara na festa de Mary, preferindo ficar em silêncio dando apoio a Anne. Era impossível saber o que pensavam, mas Anne as agradeceu mentalmente. Não tinha condições de falar sobre aquilo. Doía demais e ela não conseguia parar de chorar, Seu mundo ruíra, seu sonho de amor fora abalado, e ela somente desejava que o chão se abrisse e a engolisse viva.
E todo o tempo ela se perguntava por que Gilbert fizera aquilo? Será que ele se envolvera com aquela garota em Nova Iorque? Por que se fosse diferente, por que ela teria viajado até ali? Anne se lembrou da maneira como Sabrina olhara para Gilbert durante a festa, e admitiu com desgosto que tudo naquela garota exalava sexo. Ela era linda, sofisticada e tinha um ar de mulher vivida que Anne não tinha. Qualquer homem cairia a seus pés, principalmente um rapaz como Gilbert, mas e o amor que ele dizia sentir por Anne não devia bastar? O que faltava nela que o fizera buscar em outra aquele tipo de satisfação? Seria curiosidade? Desejo de tocar outra mulher além de Anne? Mas, e todas as coisas que ele dissera a ela? As noites de paixão que tiveram juntos? As promessas e os planos que fizeram junto para se casarem? E a recente viagem que fizeram até Paris? Ele dissera que ela era a mulher perfeita para ele, teria mudado de ideia? Será que tinha mentido? Ela não conseguia acreditar que Nova Iorque o tivera mudado a tal ponto de fazê-lo não ser sincero com ela. Ela sacudiu a cabeça com tanta força que assustou Diana e Josie que se entreolharam preocupadas. Os pensamentos a estavam enlouquecendo, precisava de paz para entender tudo o que se passava dentro dela, mas se sentia ferida demais para encontrar uma resposta coerente.
Chegaram a Green Gables e entraram na casa. Anne foi direto para seu quarto seguida de Josie e Diana. Ela se atirou na cama escondendo a cabeça no travesseiro, enquanto Josie se sentava ao lado dela na cama e perguntava:
- Anne, quer falar sobre o que aconteceu? - a menina apenas balançou a cabeça se dizer nada.
- Independente de qualquer coisa, tudo o que tem que se lembrar é que Gilbert te ama.- Josie disse.
- Como pode falar de amor uma hora dessas, Josie? Não vê como Anne está magoada? Tudo o que ela não precisa é de sua amiga defendendo Gilbert Blythe.- Diana disse indignada.
-Eu não o estou defendendo, só acho que tem alguma coisa errada nessa história.- Josie disse na defensiva.
- Você viu a cena e eu também. O que pareceu estar errado além do fato de Gilbert estar com os lábios grudados nos de outra garota enquanto deixava sua noiva sozinha na festa? - Diana disse parecendo cada vez mais irritada. Josie ia responder, mas Anne começou a soluçar de novo, e elas interromperam a discussão. Ambas abraçaram a figura desesperada da amiga que estava esparramada na cama, esperando que aquele momento de dor passasse.
Enquanto isso, Gilbert corria até Green Gables mais rápido que suas pernas aguentavam. E por todo o caminho ele se recriminava mentalmente. Como fora burro. Por que não percebera o que Sabrina queria desde que o obrigara a dançar com ela, e Gilbert só o fizera porque não queria que ela fizesse uma cena e acabasse estragando a festa toda. Ele pensara que ela estava embriagada e não sabia o que ela faria naquelas condições. E quando ela dissera que não estava se sentindo bem, ele a levar a para tomar ar, imaginando que ela estava sentindo os efeitos da bebedeira. Foi só quando ela o agarrara beijando-o com ardor é que ele percebera que ela estivera fingindo o tempo todo, ele se separara dela enxugando sua boca com as costas das mãos mostrando a ela todo o nojo que sentia pelo tal ato, mas não fora rápido o bastante para impedir que Anne visse toda a cena e a interpretasse de maneira errada.
Ele sentira como se seu coração se congelasse ao ver o horror e a decepção nos olhos da mulher que tanto amava, e sentiu ódio de si mesmo por permitir que aquilo acontecesse, mesmo não tendo a intenção, e quando viu Anne correr para longe, o único pensamento que lhe ocorrera era que a tinha perdido, e ele quase parou de respirar com tal ideia Então, começara a correr atrás dela, pois não podia permitir que aquele incidente infeliz acabasse com sua vida. Gilbert então se lembrou que já passara por aquilo tempos atrás, mas naquela ocasião ele e Anne eram apenas duas crianças, e eles não estavam comprometidos como agora, mas fora muito difícil fazer Anne acreditar nele e permitir que ficassem juntos. Gilbert parou por um segundo, tentando respirar, mas o bolo em seu estômago o impedia, então ele se forçou a continuar andando. Precisava falar com Anne, não conseguiria esperar até o dia seguinte.
Ele conhecia sua noiva e sabia como exatamente ela agia naqueles casos, mas precisava convencê-la de que nada daquilo tinha importância a não ser o amor dos dois. Ela tinha que compreender que ele não tivera culpa e que fora vítima de uma louca que não conseguia manter sua libido sobre controle.
Ele chegou em Green Gables e começou a bater na porta gritando o nome dela, e quando a abriu ele deu de cara com uma Diana Barry extremamente zangada que lhe lançava um olhar feroz.
- O que quer aqui, Gilbert Blythe? Já não fez estrago o bastante por uma noite.
- Não é o que está pensando, Diana. Me deixe falar com a Anne.- ele implorava, mas a menina se recusava a ceder.
- Como ousa aparecer aqui depois daquela cena deplorável em sua fazenda? Nesse exato momento estou com tanto ódio de você que desejo que tivesse uma lousa por aqui para eu mesma atirá-la em sua cabeça. – os olhos de Diana faiscavam de raiva, mas Gilbert não se importou. Precisava falar com Anne, e ninguém ia impedi-lo.
- Me deixe falar com a Anne, Diana, por favor.
- Vá embora, Gilbert. Ela não vai falar com você hoje.
- Mas eu preciso explicar o que aconteceu. – Ele estava desesperado, mas Diana não se comoveu.
- Explique amanhã. Hoje eu duvido que Anne vá querer ver essa sua cara cínica.- ela deu-lhe a costas e bateu a porta na sua cara.
Gilbert se sentou nos degraus da entrada e colocou a cabeça entre as mãos Ele não podia acreditar que aquilo estava acontecendo com ele. Ele nunca sentiu tanto ódio por alguém como sentia por Sabrina. Se aquela estúpida o fizesse perder a única coisa que lhe importava na vida além da medicina, ele jurava que a faria se arrepender. Deus! Ele não conseguia imaginar sua vida sem Anne. Ela lhe era preciosa demais.
Gilbert começou a se lembrar de Anne tão linda em seus braços em Paris, a sua risada que o deixava encantado, e a paixão que demonstrava por ele quando se amavam e que o embriagava, e seu coração se contraiu de dor. Não podia perder tudo aquilo. Anne era sua vida, sem ela de que adiantaria continuar? Ele sequer olhara para outra garota desde que a reencontrara, e a ideia de nunca mais tê-la em seus braços o partia ao meio. Mas, não podia condená-la por não querer falar com ele fazendo o pior julgamento possível sobre sua conduta. Se estivesse no lugar dela, não agiria da mesma forma?
Ele continuou sentado olhando para a janela dela. Sabia que precisava ir embora, mas seus pés pareciam pregados no chão, então ele decidiu que ficaria ali a noite toda, pois mesmo que não conseguisse falar com ela, pelo menos sabia que podia contar com a presença dela no cômodo acima de sua cabeça. Ele se sentou embaixo da cerejeira favorita de Anne e se preparou para as longas horas que o esperavam na escuridão.
Depois do que pareceu ser uma eternidade, ele viu Diana e Josie indo embora, e uma luz se acendeu dentro dele. Isso queria dizer que Anne estava sozinha em casa. Sem demora ele escalou os galhos da cerejeira que era um caminho conhecido para ele, e pulou para dento do quarto de Anne pela janela. Ele a encontrou sentada em sua velha poltrona fitando o vazio. Os cabelos estavam soltos emoldurado seu rosto lindo que naquele momento estava coberto de lágrimas. Seus olhos se arregalaram se surpresa quando o viu, e ela perguntou quase em um sussurro:
- O que faz aqui? - não havia raiva nem em sua voz e nem em seus olhos, existia apenas uma grande tristeza que fez com que Gilbert sentisse vontade de chorar junto com ela. Anne não merecia passar por aquilo, ainda mais por causa dele.
- Eu precisava falar com você. Me explicar. – Ele disse se aproximando dela devagar e parando bem na sua frente.
- Não precisa se explicar. Eu entendo. Sabrina é linda e pode ter o homem que quiser aos seus pés.
- Amor, não existe ninguém no mundo mais lindo que você para mim. E Sabrina nunca me teve e nunca me terá. Eu só pertenço a você – sua voz era desesperada e ele precisava que ela acreditasse nele, mas parecia que não estava conseguindo. Ele se ajoelhou perto dela e tocou em seu braço, mas Anne se encolheu fugindo de seu toque, e aquilo doeu fundo nele, mas se recusava a desistir
- Amor, acredite em mim. Apesar de todas as evidências dizerem ao contrário, foi Sabrina que me beijou.
- Você gostou? - Anne perguntou.
- O que? - Gilbert disse não acreditando que Anne fizera mesmo aquela pergunta.
- Quero saber se você sentiu algum prazer quando ela te beijou.
- É claro que não. Eu te amo, como poderia sentir prazer beijando outra mulher. Eu quero e preciso só de você. - Anne balançou a cabeça como se não acreditasse no que ele dissera, então, Gilbert decidiu que a convenceria de outra forma.
Ele a puxou para os seus braços, e a beijou com toda paixão de que era capaz, enquanto Anne sentia seu coração disparar e seu corpo amolecer, e tentou bravamente resistir ao desejo que começava queimar dentro dela. Gilbert abandonou seus lábios e começou a beijar seu pescoço, enquanto suas mãos desciam para a barra do vestido dela e se insinuaram por baixo dele tocando-a exatamente como ele sabia que ela gostava. Quando as mãos dele alcançaram seus seios através do decote do vestido, ela gemeu baixinho colando seu corpo no dele sem forças para resistir. Então, Gilbert puxou seu vestido para baixo, deixando nua da cintura para cima, pois não usava sutiã aquela noite, e seus lábios beijaram quentes cada um dos seios dela, fazendo Anne respirar fundo sentindo sua cabeça girar.
Mas, quando Gilbert tentou avançar mais, Anne pareceu despertar do desejo que tomava conta dela e empurrou Gilbert para longe, vestindo seu vestido novamente, deixando Gilbert surpreso com seu gesto.
- Por favor, Gilbert vai embora.
- Anne, eu...Ele tentou se aproximar, mas ela o afastou dizendo:
- Por favor, eu preciso ficar sozinha. Eu não consigo pensar com você me tocando desse jeito, e se a gente fizer amor eu só vou me sentir humilhada depois. – Gilbert deixou seus braços caírem ao lado de seu corpo, ao perceber que não conseguiria convencê-la naquela noite. Tinha sido derrotado pela desconfiança dela. Por isso se aproximou de Anne, deu-lhe um beijo suave nos lábios e disse com a voz embargada:
- Por favor, apenas se lembre que te amo e que isso é tão verdadeiro quanto o meu coração.
Anne apenas balançou a cabeça assentindo, porque sabia que ele dizia a verdade, mas estava magoada e confusa demais naquele momento para perdoá-lo.
Gilbert saiu pela janela de Anne, fazendo o mesmo caminho que fizera antes, e quando chegou ao chão as lágrimas começaram a rolar uma a uma pelo seu rosto sem que ele pudesse evitá-las. Os soluços sacudiam seu corpo perturbando o ar calmo da noite que contrastava com seu desespero interior, e ele balançava a cabeça não acreditando que perdera o amor de sua vida.
Enquanto isso, Anne se olhava no espelho, mas na verdade não via nada. Se sentia tão vazia que não tinha mais nenhuma lágrima para chorar, mas a dor continuava la castigando seu coração incansavelmente. Ela olhou para sua mão onde a opala que Gilbert lhe dera brilhava na penumbra do quarto, e pela primeira vez em todo aquele tempo de noivado, ela a tirou de seu dedo.
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