Capítulo 49- Eu, Você e o Mar
ANNE
Anne respondeu a última questão da prova de Linguística e suspirou aliviada. Aquele era o último teste da semana, e nas duas próximas ela não teria avaliações, apenas estudaria as aulas normais do curso até o fim do próximo mês quando realizaria as provas finais do semestre, e teria dias mais tranquilos até que as férias chegassem.
Ela guardou seu material na mochila, se levantou e caminhou até onde estava a professora responsável por aquela matéria. Ela entregou o teste com um sorriso nos lábios, e saiu para o ar fresco da manhã. No pátio da Faculdade havia poucos alunos circulando pelos corredores, a maioria ainda se encontrava dentro das salas.
Anne se sentou em um dos bancos do campus e retirou uma maçã da bolsa. Na primeira mordida, ela pensou no que faria nas suas férias daquele ano. Gilbert não mencionara nada sobre isso, então, Anne não sabia se ele tinha algo em mente, pois não tinham discutido muito sobre isso nos últimos dias. Ambos andavam abarrotados de atividades da Faculdade que mal tinham tempo de aproveitar os momentos a dois.
A faculdade de Gilbert entrara em uma fase de grandes exigências, e ultimamente, toda vez que ele vinha para Avonlea, Gilbert trazia alguma matéria para estudar, assim, eles passavam fins de semana inteiros trancados no quarto de Gilbert e enquanto ele realizava os trabalhos que teria que entregar, Anne lhe fazia companhia lendo um livro, ou escrevendo suas histórias.
Apesar de sentir falta dos momentos a dois com Gilbert, Anne compreendia que ele precisava estudar, por isso, nunca reclamava. Era uma benção tê-lo por perto todos os fins de semana quando pensara que teria que ficar afastada dele por tempo indeterminado. Ela gostava de ficar com ele, mesmo não recebendo toda a atenção que estava acostumada, agora ela tinha uma outra rival que era a medicina, mas, não se ressentia disso. Preferia mil vezes ter Gilbert nos sábados à noite dormindo em seu colo, exausto por ter estudado horas infindáveis, do que não tê-lo hora nenhuma.
As lembranças dos dias que passara com ele em Nova Iorque ainda estavam em sua memória. Foram dias mágicos, cheios de paixão no quais ela e Gilbert se entregaram completamente ao que sentiam, não havendo limites para o que desejavam, ela descobrira dentro dela uma nova Anne, mais livre, mais ousada, mais apaixonada, assim como conhecera um lado mais fascinante de seu noivo, seu lado sedutor.
Gilbert era sempre comedido em suas ações, ponderado e prático, mas naqueles dias em Nova Iorque ele deixara uma nova faceta de sua personalidade vir à tona, e usara da sedução para conseguir de Anne o que queria. Ela se lembrava dos beijos quentes, de acordar com ele a cada manhã, sentindo seu hálito suave em seus cabelos, as mãos que insistiam em tocá-la mesmo quando ela não estava disposta a ceder, as palavras que ele usava para convencê-la sussurradas displicentemente em seus ouvidos, o jeito que ele a amava tão intensamente que não lhe dava espaço para resistir. Foram momentos incríveis de uma paixão tórrida que Anne sentia por ele sem que pudesse negá-la. Gilbert era um vício tão contagiante que sentia-o navegar pelo seu sangue transbordando até o seu coração, ela não conseguia e não podia se afastar dele, pois todas as partes dele viviam bem no fundo de sua alma.
E pensar que tudo começara com um flerte inocente entre dois adolescentes que nada tinham em comum. De um lado a ruiva esquentadinha que vivia no mundo da imaginação e que com suas frases bem construídas deixava sua marca no mundo por ser alguém tão peculiar, do outro, um garoto certinho, que tinha um futuro todo planejado, que era disputado a tapas pelas garotas mais bonitas de Avonlea. Em que momento a coisas tinham mudado?
Anne não saberia dizer quando foi que começara a se aproximar de Gilbert, e perceber que suas almas tinham uma conexão. Talvez naqueles momentos em que procuravam por um soletrar perfeito ela tivesse descoberto no sorriso de Gilbert algo mais, do que simples curiosidade de um garoto acostumado a ganhar sempre, sem nunca ter um concorrente à altura e encontrara em Anne um desafio estimulante, e o sentimento que nascera entre os dois tomara proporções gigantescas conforme admiração disfarçada de antipatia ia levando ambos para caminhos que nunca antes sequer puderam imaginar. Gilbert se tornara o homem que ela amava hoje, e fizera da garotinha petulante e sempre pronta para uma briga em uma mulher cheia de desejos, que não conseguia imaginar um futuro em que Gilbert não estivesse nele.
Quantas coisas aprendera com Gilbert, e quantas também ensinara à ele. Formavam um par perfeito como um quebra cabeça com todas as partes combinando. Gilbert lhe dava razões para amá-lo todos os dias, e ela não se cansava de encontrar outras novas que lhe provavam que aquele era o homem que o destino lhe dera, e que nunca mais seria a garota solitária que tinha sido no passado. Onde quer que estivesse, mesmo que fosse no meio do deserto do Saara, ela levaria seu amor por Gilbert no coração.
Anne terminou seu lanche e voltou para a sala de aula. Ainda teria duas aulas importantes, antes de ir para casa. Suas aulas de literatura estavam suspensas aquela semana, devido às provas, mas retornariam normalmente na próxima semana, por isso teria que preparar material suficiente naquele fim de semana. Ao meio dia estava pronta para voltar para Green Gables como sempre atolada em livros, e sabia exatamente o que Marilla iria dizer quando a visse chegar em casa com mais uma tonelada de material de estudo. Teria que encontrar um lugar para colocar todos aqueles livros, pois suas estantes em Green Gale não suportavam nem mais uma unidade. Talvez pudesse guardá-los em seu clube de leitura até que encontrasse um local mais apropriado para eles.
Quando estava se encaminhando para o ponto de ônibus ouviu uma voz conhecida chamá-la e ela se virou no exato momento em que Gilbert lhe lançou seu melhor sorriso. Ela não podia acreditar que ele estava ali, àquela hora do dia em plena sexta-feira. Por que ele não estava em Nova Iorque? Todas as perguntas que sua mente começara a lançar sobre ela a respeito de Gilbert perderam a importância, quando ele veio em sua direção e a enlaçou pela cintura, dando-lhe o beijo que ela aguardava há semanas, pois nos últimos dias sempre se despediam com beijos rápidos demais para o gosto de Anne, acostumada com o furacão que sempre abalava suas estruturas toda vez que Gilbert Blythe colava seus lábios nos dela.
E naquele momento, quando suas bocas se tocaram, Anne sentiu seu mundo girando e seu corpo reagindo ao toque cálido da língua de Gilbert em contato com a sua. A saudade do gosto dele a deixara carente, e com um suspiro enterrou sus dedos nos cabelos dele, forçando-o a aprofundar o beijo. Ela se esqueceu que estavam em público, que todo mundo podia ver os dois grudados como se fossem apenas um corpo, nada importava, ninguém mais importava, era apenas ela e Gilbert em seu mundo de amor particular.
Quando ele se afastou transtornado pela resposta intensa de Anne ao seu beijo, ele olhou para ela surpreso e disse:
- Querida, fui ao paraíso e voltei para a terra em um minuto. Adoro quando fica intensa dessa maneira. – ele acariciou seus cabelos, sua mão parando na curva do pescoço dela.
- Você não faz ideia da saudade que estava de você. Por que está aqui hoje? Não deveria estar em Nova Iorque? - ela o abraçou pela cintura, curtindo o calor do corpo dele se irradiando pelo dela.
- Teremos uma semana de recesso. Terminamos os exames ontem.
- Mesmo? Quer dizer que finalmente terei meu noivo para mim uma semana inteira, sem que ele seja refém dos livros de medicina?
- Sim, meu amor, faça o que quiser comigo, pois sou completamente seu.- Gilbert respondeu com uma malícia divertida.
- O que eu quiser? Isso me trás infinitas possibilidades.- Anne respondeu com a mesma malícia que Gilbert usara minutos antes,
- Pode me dizer o que tem em mente? – Gilbert a envolveu em um abraço apertado, não dando-lhe chance alguma de escapar. Ela quase suspirou, pensando na delícia que era ter o corpo de Gilbert colado no seu daquela maneira. Não tinham feito amor há dias, e somente agora percebia a falta que esse tipo de intimidade com Gilbert lhe fazia. E ela percebeu que ele se sentia da mesma forma, pois suas mãos não paravam de acariciá-la da nuca até abaixo de sua cintura, descendo e subindo em um vai e vem torturante.
- Se eu te contasse, perderia toda a graça. – ela disse sorrindo marota.
- Deus, como senti sua falta todos esses dias. Perdoe-me amor por não ter te dado a atenção que merecia nessas últimas semanas. Mas, a faculdade tem sugado todas as minhas energias. – ele a abraçou enterrando seu rosto nos cabelos dela.
- Tudo bem, eu sei que foi necessário. Mas, você vai me compensar depois, não vai?
- Pode apostar que sim. – ele respondeu beijando-a com paixão.
Anne se entregou ao beijo, sentindo os movimentos circulares de Gilbert em suas costas, e percebeu maravilhada o quanto seu corpo o reconhecia tão bem. Se estivesse em uma sala fechada, vendada. e com várias pessoas ao seu redor ela saberia com exatidão qual era o toque dele, pois sua pele o reconheceria em qualquer lugar.
Talvez esse fosse o conceito de se pertencer a alguém, sabendo que cada parte de si mesmo era a extensão da outra pessoa, como se tivessem sido feitas especialmente para se encaixarem uma comunhão perfeita.
Anne interrompeu o beijo quando percebeu a temperatura se elevar, e as mãos de Gilbert a pressionarem contra seus quadris em uma sugestão clara de que ele estava no seu limite.
- Amor, temos plateia. – Anne disse em voz baixa, ao olhar ao redor e ver algumas de suas colegas de sala assistindo a cena curiosas, assim como notou seus olhares interessados para Gilbert que estava arrasador em uma camisa azul clara com os primeiros botões abertos, deixando sua pele morena em destaque, e calças jeans desbotadas. Anne sinceramente não as culpava. Parecia que a faculdade de Medicina estava fazendo um bem enorme a Gilbert, que se antes era encantador com seus cachos caindo pela festa e sorriso gentil, agora tinha se tornado claramente irresistível com sua áurea de autoconfiança que nunca estivera ali antes, era como se ele soubesse exatamente tudo o que queria, para onde estava saindo, e qual era o seu objetivo principal depois disso.
Anne não deixou que o ciúme tomasse conta dela dessa vez. Apenas sorriu de maneira encantadora e atirou os braços envolta do pescoço dele, em uma afirmação clara de quem era a dona daquele moreno de tirar o fôlego.
- Anne, me perdoe. Não tive a intenção de embaraçá-la na frente de seus amigos. É que todos esses dias sem você tem afetado meus hormônios masculinos de um jeito totalmente inesperado. Acho que sua ida a Nova Iorque me deixou mal acostumado, pois ter você em minha cama todas as manhãs fez um bem enorme ao meu ego, mas agora tenho sofrido de uma abstinência terrível. Você é como uma droga em meu sangue, querida. Quanto mais te tenho perto de mim, mais eu te quero. – Anne sentiu a força do que ele dizia somente pela maneira como a olhava. Aqueles olhos castanhos que eram pura luxúria, a um incentivavam a cometer um pecado em plena luz do dia.
Ela controlou a tempo o efeito que as palavras de Gilbert tinham sobre ela, antes que realmente chegassem a ponto totalmente constrangedor. Aquele fogo entre eles não se apagava nunca. Era como uma fonte inesgotável de desejo que se renovava a cada segundo que estavam juntos, tornando o amor de ambos cada vez maior e intenso.
- Eu também me sinto assim, você sabe. Estou morrendo de saudades de você, mas teremos que deixar isso para mais tarde. Estamos no meio da rua, se você ainda não percebeu-, e não quero ser acusada de atentado ao pudor bem em frente da minha Faculdade.- ela disse, rindo cheia de felicidade por Gilbert estar ali
- Tem razão. Venha vou te levar para casa. – Ele pegou na mão de Anne e a levou até onde estava o carro, não sem antes perceber o olhar desapontado de algumas garotas ao verem Gilbert ir embora.
Era sempre assim. Gilbert Blythe sempre chamava atenção por onde passava, como se estivesse escrito na testa dele a palavra tentação, porque era isso que Gilbert era, tentador demais. Mesmo depois de todo aquele tempo com Gilbert, e já tê-lo visto de todas as formas possíveis, Anne ainda se surpreendia com os suspiros que ele provocava onde quer que estivesse, ela própria era pega pelo charme dele a todo momento, e não era algo calculado, ou ensaiado por ele, aquele magnetismo todo vinha de dentro, havia nascido com ele e o acompanharia pela vida afora.
Eles entraram no carro, colocaram o cinto de segurança e se encaminharam para Green Gables. Durante o trajeto até lá, Annes quis saber os planos de Gilbert sobre as férias que se aproximavam:
- Você já pensou em onde podemos passar nossas férias, Gilbert?
- Não, mas pensei que talvez pudéssemos discutir isso esse fim de semana, o que acha? – ele lhe sorriu com seus dentes perfeitamente alinhados.
- Claro. Mas, você sabe que não importa o lugar para mim desde que eu esteja com você. – ele tirou sua mão direita do volante e cariciou a bochecha de Anne com carinho, depois tornou a se concentrar na estrada.
- O Muddy nos convidou para irmos à praia à tarde. Eu acho uma boa ideia, pois faz tempo que não fazemos nada juntos.
- Sim, é uma ótima ideia.- Anne concordou. Ela adorava nadar, mas no inverno a água do mar era extremamente gelada, e era impossível de se dar um mergulho. Mas, como a primavera estava chegando, a temperatura do ar já se tornara mais agradável, e assim poderiam aproveitar melhor o dia na praia.
Gilbert abriu a porta do carro para Anne, assim que chegaram a Green Gables, e antes que ela entrasse ele segurou em sua mão e disse:
- - Passo aqui para te pegar às duas horas.
- Está bem. Estarei pronta. – Anne deu-lhe um beijo de despedida e entrou em casa.
Marilla estava na cozinha tomando uma xícara de chá, e assim que viu Anne entrar pela porta, ela disse com um sorriso:
- Há uma pessoa que quer falar com você na sala.
- Quem é? – Anne perguntou curiosa.
- Vá lá e descubra por si mesma. – Marilla respondeu fazendo ar de mistério.
Anne se dirigiu para sala e quando viu quem a esperava, ela abriu um sorriso feliz e quase gritou de surpresa.
- Jerry! Quando foi que chegou? - ela correu para abraçar o amigo.
- Cheguei hoje de manhã. – ele retribuiu o abraço de Anne.
- Diana já sabe que está aqui?
- Sim, ela foi me buscar na estação. Eu na verdade, só passei aqui para te ver rapidamente e te entregar isso. É de tia Josephine.- Jerry lhe estendeu um envelope no qual Anne reconheceu a caligrafia firme e elegante da tia de Diana.
Anne abriu o envelope onde havia uma carta que dizia o seguinte:
Querida Anne:
Espero que esta carta te encontre bem e com saúde. Sinto muita falta de nossas conversas, pois aprecio demais sua inteligência e vasto conhecimento sobre literatura. Infelizmente, não poderei ir a Avonlea tão cedo, pois muitos compromissos me prendem a Paris, mas quero que saiba que fiquei imensamente feliz pelo seu noivado com Gilbert Blythe, cujo romance acompanhei de longe, e espero poder ir ao seu casamento quando enfim ele se realizar. Como me sinto de certa forma madrinha desse amor tão lindo, estou lhe enviando duas passagens para que você e Gilbert possam viajar a Paris de férias ou em lua de mel se preferirem, e espero que enquanto estiverem por aqui possam me visitar
Com amor. Josephine.
Anne terminou a carta não creditando que Tia Josephine tinha lhe enviado de presente duas passagens para Paris. Gilbert ficaria encantado com aquela surpresa, agora elas tinham onde passar as férias.
- Obrigada, Jerry, por essa surpresa linda. – Anne disse beijando o rosto do amigo.
- Por nada, Anne. Ficarei feliz em mostrar Paris para você e Gilbert. É o melhor lugar para se star apaixonado. – Jerry comentou sorrindo.
- Concordo com você.
- Bem, preciso ir. Eu preciso visitar meus pais e desfazer minhas malas.
- Vamos à praia hoje à tarde. Você não quer ir om a gente?
- Josie convidou Diana hoje cedo, ela me disse. E parece que o Cole e Pierre vão também.
- Que ótimo1.- Anne batia palmas de contentamento. – É a primeira vez que reunimos todo mundo depois de muito tempo. Vai ser maravilhoso.
- Então, nos vemos lá Anne.
-Até logo, meu amigo.
Jerry se foi e Anne subiu para o seu quarto organizar os livros que trouxera, antes que Marilla se estressasse. Ela não via a hora de contar para Gilbert sobre o presente de tia Josephine. O noivo ficaria exultante, pois Gilbert sempre lhe dissera que conhecer a capital francesa era seu sonho, e agora poderiam realizá-lo juntos. Paris era uma das cidades mais românticas do mundo, e Anne não poderia imaginar lugar melhor para estar com Gilbert e celebrarem o seu amor.
GILBERT
Gilbert estava voltando parar Avonlea mais cedo naquela semana, pois ganharam uma semana de recesso depois das provas que realizaram na faculdade de medicina. Desta vez, ele pegara uma carona com um amigo de turma, que resolvera visitar a família, por tanto a viagem seria de curta duração.
Estava ansioso por chegar em casa, sempre se sentia assim quando o fim de semana se aproximava, porque por mais que estivesse encantado com Nova Iorque, não havia lugar no mundo melhor para ele do que Avonlea, onde era o seu lar, onde estavam seus amigos de infância, onde crescera, onde se apaixonara, e onde estava Anne.
Era sempre para ela que seu pensamento voava, quando não estava perdido entre seus livros de medicina. Anne era uma brisa fresca no final de tarde quando ele estava exausto de olhar para as mesmas figuras, estudar as mesmas formulas, ler sobre o mesmo assunto por horas infindáveis, e quando levantava os olhos cansados de páginas e mais páginas de seus livros de infectologia clínica. Lá estava ela com seus cabelos ruivos espalhados pelo seu colo, enquanto ela lia um livro como se nada no mundo pudesse preocupá-la. Anne fazia de tudo para não atrapalhá-lo, e por isso, encontrara uma maneira peculiar de estar com ele, sem que isso comprometesse seus estudos. Ela lhe fazia companhia em silêncio, e embora Gilbert não pudesse dar a ela a atenção que ela merecia, ele apreciava imensamente a presença de Anne do seu lado.
Era muito bom vê-la perdida e um universo paralelo ao dele, onde as fantasias dela se misturavam as palavras do livro que lia. Às vezes, Gilbert parava de estudar por um instante e observava cada uma de suas reações enquanto seus olhos azuis corriam soltos por cada sentença e ponto final. O rosto dela mudava de alegria pura para uma tristeza infinita em questões de segundos. Gilbert ficava maravilhado em poder enxergar o quanto Anne era intensa até mesmo nestes momentos, e ele até se sentia um pouco enciumado por perceber que ela conseguia se envolver na narrativa de sua história sem levá-lo junto.
Parecia loucura se sentir assim, mas a verdade era que não fazer parte destes instantes com Anne o deixava com ciúmes. Ele se sentia excluído e quando isso acontecia seu coração doía um pouquinho. Gilbert sabia que era um sentimento estranho esse que tinha, competir com um livro pela atenção dela não era uma coisa muito normal ou saudável de se fazer. Ele queria que todos os pensamentos dela lhe pertencessem, e mesmo ali com um livro aberto em seu colo capturando toda a sua atenção, Gilbert desejava que aqueles sorrisos que ela deixava escapar ou o olhar sonhador que a levava para longe fossem somente para ele.
Ele nãos sabia quando tinha se tornado tão possessivo assim, e era algo que ele lutava diariamente para controlar. Gilbert sabia que o que Anne fazia quando não estava com ele não deveria ser uma coisa que ele tivesse que levar tão a sério a ponto de incomodá-lo em demasia, Embora fossem noivos, cada um tinha a sua vida 'particular, seus estudos e interesses, e não deveriam perder sua individualidade em nome do que sentiam.
Mas, o amor tinha uma forma estranha de se manifestar às vezes, e lidar com seus altos e baixos era como estar em um carrossel de emoções, que levava as pessoas aos extremos de tudo. É lógico, que esse pensamento Gilbert guardava somente para si, jamais confessaria a Anne como se sentia, pois no fundo ele compreendia que eram absurdos demais tais sentimentos.
Ele chegou em Avonlea na metade do tempo em que gastaria se tivesse vindo de trem. Agradeceu ao amigo que o deixara perto da entrada de sua fazenda, e ele entrara em casa sentindo-se reconfortado pelo aconchego que sentia em seu lar.
- Gilbert, querido. Você conseguiu chegar mais cedo esta semana. – Mary deu-lhe um beijo no rosto ajeitando com as mãos o avental que usava para cozinhar,
- As provas terminaram e nos deram uma semana de recesso. – Gilbert respondeu. – Onde está Shirley? – ele perguntou em seguida, deixando sua maleta no chão da cozinha.
- Está dormindo. Ela agora criou uma rotina de dormir todas as tardes, o que me dá bastante tempo de folga para realizar as tarefas da casa.
- - Ela está crescendo, é normal que seu organismo comece a mudar, permitindo que Shirley tome suas próprias decisões em relação ao que deseja. Aos poucos ela vai ficar menos dependente de você, o que é uma fase um pouco estressante, pois você terá que redobrar sua atenção sobre ela. – Gilbert explicou à Mary.
- Bem, isso já está acontecendo, pois Shirley está passando da fase de engatinhar para àquela em que começa dar os primeiros passinhos. Minha princesinha está crescendo rápido.- Mary disse com certo pesar, Gilbert apenas assentiu, depois olhou para o relógio e disse:
-, Preciso ir. Anne sai da faculdade daqui pouco e quero estar lá esperando por ela.- Gilbert disse cheio de pressa.
- Não quer comer algo antes? O almoço está quase pronto.
- Não, eu como mais tarde. Não quero chegar atrasado e perder a saída dela. – ele beijou Mary no rosto, pegou as chaves do carro que estavam guardadas em seu quarto e saiu para encontrar Anne.
Quinze minutos depois, Gilbert estacionou o carro na frente da faculdade de Anne. e ficou esperando que ela saísse. Não teve que aguardar por muito tempo, pois dez minutos tinham se passado quando ela apareceu. Gilbert ficou a observá-la de longe enquanto ela caminhava em direção ao portão de saída.
Anne carregava uma imensidão de livros que tentava equilibrar em seus braços. Ela vestia um vestido simples azul que realçava maravilhosamente os olhos dela, um casaco também azul para protegê-la do ar frio da manhã. Os cabelos estavam presos em uma única trança, e Gilbert sorriu ao pensar que ela parecia uma garotinha quando usava os cabelos assim. O quer ele também não pôde deixar de notar, era como vários olhares masculinos seguiam a figura dela quando ela passava por eles, distraída em seus próprios pensamentos, sem sequer notar como ela chamava a atenção com seu cabelo ruivo incomum, corpo bem feito que mesmo escondido pelo vestido se denunciava quando ela caminhava com elegância, e um rosto de porcelana que faria a alegria de qualquer pintor que quisesse retratá-la. Gilbert sentiu uma pequena ferroada de ciúme, mas tratou de abafá-la, ele viera até ali para vê-la e não para se aborrecer com detalhes que estavam fora de seu controle. Anne era linda e chamaria a atenção onde quer que fosse, ele teria que se acostumar com isso, e deixar de lado a vontade que tinha de prendê-la em seu coração, longe dos olhares indiscretos de outras pessoas.
Ela ainda não tinha percebido que ele estava ali, por isso assim que ela tomou a direção do ponto de ônibus ele a chamou. Ela se voltou surpresa por encontra-lo ali àquela hora, pois ele sempre chegava à noite ou no sábado de manhã, e então, seu rosto se iluminou e ela sorriu como se tivesse ganho um presente tão esperado na noite de Natal. Gilbert sentiu seu coração se aquecer com o olhar amoroso que ela lhe lançou quando caminhou diretamente para onde ele estava. Assim, Anne estava em seus braços, os lábios dela sobre os dele em uma clara atitude de boas-vindas. Os livros foram esquecidos em cima do capô do carro, enquanto o beijo se tornava mais passional, e ambos se esqueciam de onde estavam e se perdiam nos braços um do outro.
Nos últimos dias aquele tipo de carinho tinha sido deixado de lado um pouco, pois Gilbert andava tenso demais com as provas que teria que realizar aquela semana, e apesar de passarem todos os fins de semana juntos, pensar em qualquer coisa que não fosse se sair bem nas provas estava fora de questão. Anne não reclamara nenhuma vez da falta de intimidade entre eles, e Gilbert sabia que estava devendo a ela momentos mais amorosos, e somente agora que a tinha em seus braços tão calorosa e tão doce é que percebia que sentia a falta dela desesperadamente.
Gilbert sentiu Anne acariciar seus cabelos na nuca, e ele a trouxe para mais perto, encaixando seus quadris nos dela, e adorando o contato de todos os seus músculos com as formas arredondadas do corpo dela. O beijo se aprofundou e Gilbert se sentiu embriagado pelo sabor de hortelã que a boca de Anne tinha, e isso serviu como um incentivador a mais para que ele a apertasse em seus braços, esmagando o peito dela contra o seu querendo mais e mais daquele beijo que parecia interminável e tão deliciosamente empolgante.
Então, ele se afastou porque o ar entre os dois acabou, e quando ele abriu os olhos tocou o rosto dela encantador dela dizendo:
- Querida, fui ao paraíso e voltei para a terra em um minuto. Adoro quando fica intensa dessa maneira.- ela lhe sorriu de seu jeito suave. E Gilbert pensou que poderia ficar olhando para ela daquela maneira para sempre.
- Você não faz ideia da saudade que estava de você. Por que está aqui hoje? Não deveria estar em Nova Iorque? – Anne se aconchegou mais em seus braços e ele lhe falou sobre o recesso que teriam na faculdade. O sorriso dela se alargou com novidade o que a fez dizer:
- Mesmo? Quer dizer que finalmente terei meu noivo para mim uma semana inteira, sem que ele seja refém dos livros de medicina?
- Sim, meu amor, faça o que quiser comigo, pois sou completamente seu.- Gilbert riu malicioso e o rosto de Anne corou levemente com as palavras dele, depois ela disse com um certo ar maroto:
- O que eu quiser? Isso me traz infinitas possibilidades.
- Pode me dizer o que tem em mente? – seus braços a seguraram mais perto, e ele começou a acariciar as costas de Anne sem perceber, enquanto suas mãos percorriam, o caminho tão conhecido por elas que desciam pela linha da coluna até pousar ousadamente a um palmo abaixo da cintura feminina. Ele sentiu Anne estremecer um pouquinho e continuar a falar com ele como se para abafar sua excitação crescente, não revelando qual seria as possiblidades que tinha em mente para os dois. Gilbert sorriu e depois se desculpou pela sua falta dos últimos dias.
- Deus, como senti sua falta todos esses dias. Perdoe-me amor por não ter te dado a atenção que merecia nessas últimas semanas. Mas, a faculdade tem sugado todas as minhas energias. – ele rodeou sua cintura e escondeu a cabeça na base do pescoço dela, de onde poderia sentir o aroma inconfundível de flores dos cabelos dela. Ao que ela respondeu:
- Tudo bem, eu sei que foi necessário. Mas, você vai me compensar depois, não vai?
- Pode apostar que sim. – Gilbert disse simplesmente aproveitando para tomar os lábios dela com paixão.
O controle de Gilbert se evaporava pouco a pouco. Cada vez que tinha Anne tão perto era como um teste de resistência avançado para ele. pois a mulher que estava ali e era objeto de seu desejo não o poupava de nada. Anne se entregava sem pudores e Gilbert sabia o quanto era tênue a linha que o impedia de continuar de um jeito que não teria volta, e seu desejo que aumentava a cada minuto. Anne o mantinha preso aos encantos dela sendo somente quem era, intensa e apaixonada, e ele amava profundamente essa característica da personalidade dela, pois desde a primeira vez que a conhecera, Gilbert enxergara a paixão que Anne demonstrava por qualquer coisa que lhe interessasse e se dedicava à ela incansavelmente, até que conseguia fazer todos ao seu redor se apaixonarem também pelas suas convicções. Sua noiva era uma mulher admirável e não era à tona que ela tinha conquistado seu coração completamente. Estava totalmente envolvido pelo beijo que o deixava cada vez mais quente, quando Anne desgrudou a boca da dele e disse:
- Amor, temos plateia. – Gilbert olhou ao redor, e percebeu os olhares e risos maliciosos no rosto das pessoas que passavam por eles, ou os observavam a distância, e então seu deu conta que estava expondo-a demais com seu ímpeto em beijá-la sem sequer pensar que aquele não era o melhor lugar para demonstrar quanta saudade tinha dela.
- Anne, me perdoe. Não tive a intenção de embaraçá-la na frente de seus amigos. É que todos esses dias sem você tem afetado meus hormônios masculinos de um jeito totalmente inesperado. Acho que sua ida a Nova Iorque me deixou mal acostumado, pois ter você em minha cama todas as manhãs fez um bem enorme ao meu ego, mas agora tenho sofrido de uma abstinência terrível. Você é como uma droga em meu sangue, querida. Quanto mais te tenho perto de mim, mais eu te quero. – Anne ofegou com aquela declaração tão explicita vinda dele, mas logo deixou que sua costumeira calma tomasse conta de seu semblante ao dizer:
- Eu também me sinto assim, você sabe. Estou morrendo de saudades de você, mas teremos que deixar isso para mais tarde. Estamos no meio da rua, se você ainda não percebeu-, e não quero ser acusada de atentado ao pudor bem em frente da minha Faculdade.- Gilbert concordou com as palavras dela, e decidiu levá-la para casa.
Enquanto iam para Green Gabes. Anne lhe perguntou sobre seus planos para as férias dos dois e ele respondeu que preferia decidir junto com ela o que fazer, e Anne respondeu que adoraria qualquer lugar em que pudessem ficar juntos. Neste momento, Gilbert se lembrou do convite de Muddy para àquela tarde:
- O Muddy nos convidou para irmos à praia à tarde. Eu acho uma boa ideia, pois faz tempo que não fazemos nada juntos.
Anne aceitou a ideia na hora, e Gilbert tinha certeza disso porque ela amava a praia tanto quanto amava os livros que abarrotavam o banco de passageiros de seu carro. Assim, quando chegaram à fazenda dos Cuthberts, eles se despediram e combinaram o horário que Gilbert passaria para pegá-la e irem à praia.
Em seguida, Gilbert dirigiu o carro até sua fazenda, pensando na tarde que teria ao lado de Anne e seus amigos, e seu coração cantou feliz por pensar que não havia lugar melhor no mundo que Avonlea, seu lar.
GILBERT E ANNE
'As duas horas em ponto, Gilbert chegou a Green Gables. Anne já estava pronta e trazia com ela uma cesta de piquenique, pois sabia por experiência anteriores que Gilbert e Muddy sempre estavam famintos, depois que nadavam no mar, por isso, ela enchera a cesta de guloseimas que Gilbert adorava.
Despediram-se de Marilla e Matthew e foram direto para a praia na qual chegaram em dez minutos. Eles desceram do carro, e Anne observou que a praia começava aos poucos ficar lotada de novo. Com a chegada da primavera dali a um mês, o ar gelado do inverno começava a abrir espaço para as temperaturas mais agradáveis da próxima estação e por isso as pessoas se sentiam mais dispostas a aproveitar o bom tempo para reunir a família e amigos em uma festa familiar.
Eles começaram a andar e procurar por seus amigos tentando enxergá-los no meio de um mar de rostos que tiveram a mesma ideia de curtir a praia naquele fim de semana especificamente. Depois de alguns minutos, eles os avistaram a poucos metros de onde estavam, e quando Diana acenou para eles, Anne percebeu que o primo dela Jean também estava lá. Ela olhou para Gilbert aflita, e viu a carranca que tomou conta de suas feições quando ele viu o garoto francês que tinha provocado a briga entre ele e Anne da última vez.
O que aquele garoto atrevido estava fazendo ali? Será que não aprendera a lição que Gilbert lhe dera no outro dia? Será que pensava porque vinha de uma família de posses, e devido a isso vivia uma vida de boemia longe das preocupações mundanas.relacionadas a trabalho e responsabilidades do dia a dia podia fazer o que quisesse? Gilbert não deixaria que ele se aproximasse de Anne, mesmo que ela ficasse chateada pelo seu excesso de zelo. Seu olhar estava duro quando olhou para Anne e quase cuspiu as palavras, que saíram de seus lábios sem que ele tivesse a real intenção.
- O que esse garoto veio fazer aqui, Anne?
- 'Por que me pergunta? Eu sei lá porque ele veio. Não nos falamos desde aquele incidente infeliz na sala de jantar de Marilla, não se lembra? – ela estava aborrecida por Gilbert pensar que tivera contato com Jean depois do que acontecera.
- Desculpe, amor. Não quis parecer desconfiado de você. Somente queria uma explicação porque esse garoto está aqui, quando ele sabia que eu e você estaríamos, Se ele pensa que vai dar em cima de você de novo na minha frente, ele está completamente enganado.
- Por favor, Gilbert. Controle o seu o seu ciúme, caso contrário não teremos nenhum prazer em nos juntarmos aqui.
- Está bem. Eu farei isso por você, mas se aquele idiota tentar alguma coisa, juro que não respondo por mim.
Gilbert abraçou Anne possessivamente pela cintura e chegaram até onde seus amigos estavam. Jean cumprimentou Anne e Gilbert apenas com um meneio de cabeça, mas todo o tempo em que estavam próximos, Gilbert pôde observar que o garoto olhava furtivamente para Anne com adoração, e ele descobriu sem satisfação nenhuma, que aquele garoto atrevido e estúpido estava apaixonado por sua noiva. A raiva travou o maxilar de Gilbert, que conversava com Muddy, mas não deixava passar nenhum detalhe do que estava acontecendo.
Enquanto isso, Anne lutava para controlar seu nervosismo. Ela podia perceber a raiva de Gilbert em cada gesto dele, pois conhecia todas as suas reações, melhor do que ele mesmo. Os músculos das costas estavam retesados e seu rosto possuía uma expressão impenetrável e dura que causava em Anne grande desconforto. Não sabia porque Gilbert se deixava afetar tanto pela presença do primo de Diana. Anne entendia sua irritação no dia em que ele chegara a Green Gables e pegara Jean se declarando para ela, mas naquele momento não havia nenhum motivo para aquela sua ira mal disfarçada.
- Diana, por que Jean está aqui? – Anne perguntou querendo um esclarecimento maior sobre a presença do primo dela ali, pois Anne tinha lhe contado o que acontecera, e Diana concordara com o ponto de vista de Gilbert, que o primo tinha mesmo sido muito atrevido.
- Perdoe-me. Anne. Eu não o convidei, ele veio sem minha permissão, e como a praia é pública não pude proibi-lo de vir. Mas, por favor, tente não se incomodar tanto com isso, não creio que ele tentará nada na frente de Gilbert.
- Espero que esteja certa, Diana, pois Gilbert não parece estar se divertindo nem um pouco.com essa situação. – neste momento, Josie disse toda animada.
- Anne, quero te contar uma coisa. Eu e Muddy vamos ficar noivos. Não é maravilhoso?
- É claro que sim. Estou muito feliz por vocês. -.
Josie e Muddy tinham se aproximado muito nos últimos tempos e esse fato fez com que realmente se apaixonassem, e Anne ficava extremamente feliz por ver que sua intuição sobre Josie não tinha falhado. A menina provara que era boa pessoa e que merecia confiança de todos, ela conquistara o coração de Muddy estava construindo seu futuro como enfermeira, e ainda tinha conquistado a amizade de Anne para sempre.
- Quando vocês vão oficializar o pedido? – Anne quis saber.
- Ainda não decidimos. Pensei que o Natal seria uma data apropriada, mas Muddy disse que a data está muito longe, então, estamos nesse impasse.- Josie disse sorrindo.
- Tenho certeza de que vocês vão encontrar uma data plausível juntos. – Diana disse animando Josie.
- Anne será que posso falar com você? – a menina olhou para cima e viu Jean parado na sua frente com os olhos implorantes. Ela imediatamente olhou para Gilbert, mas percebeu que ele estava entretido com Muddy em algum tipo de jogo, então ela disse rapidamente;
- Você tem cinco minutos. -Diana e Josie se afastaram um pouco para dar privacidade aos dois.
- Olha, eu queria te pedir desculpas pelo outro dia lá na sua casa. - Eu não quis te deixar em uma situação difícil com seu noivo. Mas, quero que saiba que tudo que disse é a mais pura verdade.
- Jean, está tudo bem. O Gilbert e eu nos entendemos. Agora, sobre os seus sentimentos por mim, quero dizer que fico lisonjeada, mas amo Gilbert e meus sentimentos não vão mudar.- o coração dela doeu ao desfazer as ilusões do rapaz, mas não podia mentir para que ele pudesse entender que na vida de Anne somente havia espaço para Gilbert Blythe.
- Eu já entendi, Anne. Não se preocupe, não vou incomodá-la com isso. Podemos continuar amigos?
- Claro, Anne disse sorrindo. Mas, de repente, ela sentiu mãos suaves, puxando para cima de onde estava sentada. Imediatamente, sentiu lábios de Gilbert em seus ouvidos dizendo;
- Vamos surfar.- e Gilbert a levou para água, puxando-a pela mão.
- Gilbert, espere. Eu não sei surfar. – Ela disse assim que pararam a pouco a metros da água.
- Eu vou te ensinar.- ele disse tentando fazê-la chegar mais perto da água.
- Gilbert, eu não quero aprender a surfar. O que deu em você, hoje? Está agindo feito criança. – Gilbert baixou a cabeça depois levantou-a e disse para Anne.
- Desculpe pela minha falta de jeito hoje. Foi a única forma que encontrei de tirá-la de perto daquele garoto. Vê-la com ele me tira do sério.- Gilbert encostou sua testa na dela, e pensou que estava agindo feito um louco naquele dia, mas a verdade era que estava tentando equilibrar o seu ciúme, antes que esmurrasse o nariz do francês de vez.
- Gilbert, eu sei que está com ciúmes de Jean. Mas isso é absurdo demais. Ele e eu somos apenas amigos.- Anne segurou na mão dele sorrindo.
- Você pode vê-lo como amigo, mas ele está apaixonado por você. Eu vi a maneira como ele te olha. - Gilbert disse sério.
- Não importa o que ele sente, e sim o que eu sinto. Eu te amo, Gilbert, e não existe possibilidade nenhuma de eu me sentir diferente em um futuro próximo ou longínquo. – Gilbert pegou no queixo dela e a trouxe para perto de seus lábios, beijando-a.
O beijo foi longo e cheio de fogo, como todos os outros beijos que eles trocaram naquele dia. Talvez por estarem a tantos dias sem se tocarem, cada instante tinha um significado diferente, e Gilbert desejou ardentemente estarem sozinhos para que ele pudesse amar Anne como desejava. Estava louco para beijá-la inteira, e ter o corpo dela junto ao seu. Anne o fazia queimar por dentro e por fora, e se controlar nessas condições era difícil demais. Ainda assim, se separaram, tentando mascarar suas emoções. Ninguém precisava saber do que se passava entre os dois, pois a isso eles dariam vazão ao que sentiam entre quatro paredes e não em uma praia cheia de gente.
- Eu também te amo, Anne. Me perdoe por ser um idiota.- ele disse beijando- a na ponta do nariz.
- Você não é idiota, amor. Está com ciúmes e inseguro, isso é normal. Tenho que lembrá-lo que agi assim também em Nova Iorque? Nós somos assim porque nos amamos, temos apenas que nos controlarmos para não deixar que isso afete nossa relação. Eu odeio brigar com você. – Anne o abraçou pela cintura, e Gilbert beijou no topo de sua cabeça.
- Eu também odeio brigar com você.
- Acho que agora quero aprender a surfar. Você me ensina? – ela disse cheia de empolgação.
- Claro. Vamos lá.- Gilbert disse, pegando emprestada a prancha de Muddy.
Assim, passaram o resto da tarde se divertindo na água e com os amigos. A tensão inicial que houvera entre Jean e Gilbert parecia ter melhorado consideravelmente, e Gilbert até tentou conversar com o francês em alguns momentos. Anne sentiu orgulho do namorado ao ver a cena, Gilbert era realmente um ser humano incrível, ele estava passando por cima do próprio orgulho para tentar amenizar o mal-estar que acontecera entre ele e Jean, e Anne sabia que ele fazia isso por ela. Não tinha como não amar alguém tão especial assim.
Quando começou a anoitecer, Gilbert a levou para casa. Se despediram no portão com mais um beijo quente que fez Anne sentir falta dele assim que se separaram. Combinaram de se ver na noite do dia seguinte, e Anne já sentia a ansiedade consumi-la logo que entrou em casa. Ela sabia que contaria os segundos até estar nos braços de Gilbert novamente.
Ela ajudou Marilla com o jantar, lavou a louça e organizou a cozinha. Logo que terminou as tarefas da noite foi para o quarto e tomou um banho relaxante. Vestiu uma camisola curtinha de seda branca, e quando saiu do banheiro levou o maior susto ao ver Gilbert sentado em sua antiga poltrona de estudo. Ele olhava pela janela, o peito nu sem camisa brilhando com a luz da lua que entrava no quarto. Ele parecia tão à vontade como se estivesse em sua própria casa, e a beleza dele a fez respirar fundo quando se aproximou de onde ele estava, e Gilbert lhe sorriu serenamente.
- O que está fazendo aqui? Ficou maluco? Marilla e Matthew estão lá embaixo.
- Não se preocupe. Esperei que eles apagassem as luzes. Isso quer dizer que já se recolheram. Eu não consegui ir para casa e ficar sem ter você em meus braços mais uma noite. Eu preciso de você, querida. – Ele a puxou para o colo dele, e Anne passou os braços pelo pescoço dele, ficando a um centímetro de seus lábios. Gilbert desceu as mãos pela coxa esquerda dela, acariciando-a devagar. Nesse momento, Anne se lembrou que não tinha contado a Gilbert sobre Paris.
-Querido, tenho algo para te contar. – ela disse, enquanto sentia a mão dele embaixo de sua camisola, passando por sua virilha, tocando sua barriga e chegando até os seios dela em uma carícia lenta e torturante.
- É mesmo? O que é? – ele perguntou deslizando os lábios pelo rosto dela e capturando-lhe o pescoço, mordiscando a pele sensível e perfumada de leve, fazendo Anne estremecer e fechar os olhos com a força das sensações que tomaram conta dela.
-Ganhamos... uma viagem... para Paris ...de tia Josephine. – ela mal conseguia se concentrar nas próprias palavras, pois Gilbert beijava o seu colo agora, e as mãos dele a apertavam com força sobre os quadris dele, fazendo-a sentir como ele a queria.
- Eu e você em Paris? Irresistível. – Gilbert disse, e Anne não sabia se ele se referia à viagem ou ao que estavam fazendo, pois os lábios dele devoravam o seu como se a necessidade que tinha dela era impossível de ser saciada de outra maneira. Ele levantou os braços dela e retirou-lhe a camisola suavemente pela cabeça, depois a livrou da lingerie enquanto seus olhos deslizavam pelo seu corpo todo nu no colo dele.
Anne era maravilhosa, não havia outra maneira de descrevê-la. Sua beleza gloriosa adornada pelos cabelos ruivos molhados, que lhe davam aquele ar selvagem que ele adorava. Passara o dia todo desejando-a, mas valera a pena, porque agora podia tê-la assim tão linda e tão sua pelo tempo que quisesse.
Anne mudou de posição e colocou as duas pernas em volta de Gilbert, sentindo o peito dele esmagar seus seios nus. Ela queria tocá-lo, e por isso ela teceu uma teia de beijos começando pelo pescoço dele e descendo até o seu peito nu onde mordeu a pele dele, enquanto suas unhas arranhavam o abdômen dele, fazendo Gilbert gemer involuntariamente.
Ela deu Graças a Deus pelo quarto de Marilla e Mathew serem no andar de baixo, porque assim não ouviriam os suspiros de Anne que foram se tornando mais alto cada vez que Gilbert a beijava, roçando seus quadris nos dele. Não suportando mais seu desejo por ela, Gilbert a carregou até a cama, se livrou das próprias roupas, e então a tocou de todas as maneiras possíveis. Anne se sentia como uma folha levada por uma rajada de vento forte, pois eram tantas emoções e sensações que explodiam em seu corpo que ela quase não conseguia se controlar.
Ficar longe um do outro todos aqueles dias tinha causado uma tensão sexual entre eles que foi crescendo até um ponto em que se transformou em dinamite pura, ameaçando explodir a qualquer momento. E foi o que aconteceu, quando todos os suspiros e gemidos de Anne se misturaram aos de Gilbert, quando toda a tensão de seus corpos atingiu um limite insuportável colidindo com sua paixão sem medidas, incendiando um ao outro em sua própria necessidade de satisfazer a fome que sentiam um da pele do outro, ficando quente cada vez mais quente até que se queimaram no momento final, quando seus corpos se moviam sem controle no ritmo um do outro e explodiram em volúpia pura.
Anne abriu os olhos para ver o rosto de Gilbert tão próximo ao seu parecendo relaxado e tão à vontade, as pernas dele enroscadas na suas, seus corpos suados e em paz.
- Amo você, Anne. E cada vez que estamos assim eu te amo mais. Eu não quero e não vou nunca me separar de você, pois mulher nenhuma é capaz de me deixar assim cada vez mais apaixonado a cada toque, Você é minha e nunca vou libertá-la do meu amor, - os olhos dele brilhavam tanto que emocionaram Anne até a alma.
- Você sabe que o que temos é especial demais, e eu também nunca vou querer me libertar do seu amor, pois é o que dá sentido a minha vida, é o que me faz ser quem eu sou. Você é e sempre será o amor da minha vida. – eles se beijaram, sem pressa agora, em uma ternura sem fim.
- Que tal amanhã você jantar lá em casa? Mary tem reclamado de sua ausência.
- É verdade, eu quase não tive tempo de visitá-la desde que a faculdade começou. Pode avisá-la que irei jantar com vocês com prazer.
- Bem, preciso ir. Já abusei da sorte demais por uma noite. – Gilbert se levantou, se vestiu e Anne o acompanhou até a janela.
- E quanto a Paris? – ela perguntou.
- Falamos sobre isso no jantar amanhã. O que acha? - ela assentiu e Gilbert lhe deu um último beijo.
- Agora durma, meu anjo ruivo. E se prepare porque amanhã pretendo matar mais uma pouco dessa saudade que estou sentindo de você.
Assim, ele se foi deixando Anne na janela observando-o desaparecer na escuridão. Ela então foi para a cama, sentindo-se exausta, fechou os olhos e adormeceu quase imediatamente com um sorriso nos lábios e muito amor em seu coração.
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Oi, pessoal. Gostaram deste capítulo? Gilbert com ciúmes de Anne não é mesmo uma delícia? Por favor compartilhem suas opiniões. Beijos.
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