Capítulo 44- Com o inverno na alma
ANNE
Era mais uma manhã de inverno fria e cortante, onde uma brisa mais gelada ainda tocava a janela do quarto de Anne, deixando uma marca embaçada nos vidros de estilo colonial. Com o dedo indicador ela escreveu seu nome e de Gilbert, vendo-os desaparecer em seguida com mais uma rajada de vento que fez a casa estremecer.
Nevara a noite inteira, e havia pilhas de gelo na entrada da casa, assim como em todas as estradas que levavam até a estação de trem de onde naquele dia Gilbert partiria.
Seu coração estava tão pequeno dentro do peito, que Anne às vezes respirava mais profundamente, buscando por ar. Não havia nada que aliviasse a sua dor, nada que pudesse ser dito ou feito que impedisse sua alma de se estilhaçar em pedacinhos tão pequeninos que ela não conseguiria mais colá-los. Passara meses se preparando, e dias inteiros dizendo a si mesma que ficaria bem, porque ela e Gilbert se amavam e nada poderia mudar isso, mas não adiantara nada.
Ela passara a noite anterior insone, os olhos pregados no teto de seu quarto, as lágrimas rolando feito um oceano transbordante, e o resultado fora que acordara com uma tremenda dor de cabeça, os olhos e o nariz vermelhos como se estivesse com um grande resfriado. Em qualquer outro dia, isso a irritaria demais, mais naquele momento nada importava. Se o mundo estivesse desabando sobre sua cabeça não a afetaria, como também não importaria se o sol nunca mais nascesse, pois dentro dela o inverno tinha tomado conta de tudo, e o frio que sentia estava impregnado em seus ossos.
Anne fechou os olhos por um segundo, desejando que tivesse o poder de fazer o tempo voltar, pois assim adiaria mais um pouco a partida de Gilbert, e não estaria sufocando em sua própria agonia.
As festas de fim de ano tinham passado em um piscar de olhos, e Anne e Gilbert comemoraram o início de um novo ano sem muito entusiasmo. O que Anne se perguntava era por que a realização de um sonho tinha que trazer com ele os sacrifícios de outros? A única resposta que encontrara fora que a vida era cheia de desafios, e manter- se firme e confiante dependia da consciência e boa vontade de cada um, e que não havia vitórias sem perdas, ou alegrias sem dores, porque dessa forma tornaria o sacrifício mais significativo, e a conquista mais doce.
Entretanto, ela não queria ser colocada à prova, não queria que seu amor por Gilbert fosse testado. Ela não queria ter que se separar dele, mas o sonho de Gilbert exigia isso, e ela tinha que respeitar e tinha que apoiá-lo, mesmo que tudo dentro dela quisesse gritar de dor. Ela respirou fundo mais uma vez, abriu os olhos e se preparou para encontrar Gilbert. Ela o acompanharia até a estação de trem, e de lá ele iniciaria sua viagem até Nova Iorque.
Anne foi até o espelho e olhou com desgosto para sua imagem refletida. Ela tinha consciência que estava horrível, por isso carregou um pouco mais na maquiagem, na esperança de que escondesse os traços das lágrimas ainda visíveis em seu rosto.
- Anne, Gilbert chegou. - Marilla disse no andar de baixo. O coração de Anne se acelerou tanto que ela pôs a mão sobre o peito, tentando fazer com que as batidas voltassem ao normal. Ela colocou o chapéu, as luvas de inverno e rezou para que Gilbert não lesse em seus olhos a sua angustia extrema. Em seguida, Anne passou a mãos pelos cabelos, alisou a saia preta que usava e ensaiou um sorriso. Contou até dez, depois até vinte, e finalmente desceu as escadas.
Gilbert estava sentado de frente para a lareira. Tinha a cabeça baixa, e segurava nas mãos a boina que Anne lhe dera no Natal, e parecia imerso em pensamentos. O barulho dos passos da ruivinha na escada, fizera com que ele levantasse a cabeça e olhasse em direção a ela.
Anne sorriu com ternura ao ver as marcas escuras em volta dos olhos dele. Ele também estava sofrendo, ela podia ver a expressão ansiosa em seu rosto enquanto se levantava da poltrona, e caminhava em sua direção. Tantas lembranças chegaram até Anne em uma fração de segundos. Ela se lembrou do primeiro dia que ele voltara, como ela se sentira presa a aqueles olhos castanhos, o dia em que ele a salvara do incêndio na igreja, o primeiro beijo que trocaram, o medo que sentira ao descobrir que estava apaixonada, o dia em que ela se declarara para Gilbert quando pensara que já o havia perdido, a doença de Mary e a fragilidade de Gilbert, a primeira vez que fizeram amor, o pedido de noivado e tantos momentos perfeitos que se seguiram depois. E agora, ela teria que sobreviver com aquelas lembranças, até que ele viesse para casa e pudessem viver muito mais momento como aqueles. Ela seria capaz de suportar a solidão? Ela seria capaz de aguentar a distância entre eles? Será que o tempo passaria rápido ou demoraria a passar? Quantos pores- de-sóis veria sozinha e quantas noites de lua observaria de sua janela desejando que Gilbert estivesse com ela? Ela continuou a sorrir, mas as lágrimas queimavam em seus olhos, disfarçou o quanto pôde e então disse para Gilbert assim que ele rodeou sua cintura com seus braços fortes:
- Está pronto para começar uma nova vida?
- Acho que vou precisar de alguns dias até que me acostume com ideia. Custo a acreditar que isso está mesmo acontecendo.
- Mas, está, e você merece todos os méritos por sua dedicação e esforço. Quero que saiba que estou muito orgulhosa de você. – Anne o beijou de leve nos lábios, e Gilbert a estreitou em seus braços dizendo:
- Queria tanto que fosse comigo. – a voz soou emocionada, e Anne disse para ele mentalmente como se ele pudesse ouvi-la, 'por favor não faça isso, ou vou começar a chorar". Não queria que Gilbert começasse a falar sobre todas as coisas que não poderiam mais fazer juntos, pois aquilo somente aumentaria a intensidade da sua dor. Sebastian veio em seu socorro lembrando-os que deveriam partir ou Gilbert perderia o trem.
O menino se despediu de Matthew e Marilla que lhe deu uma cesta cheia de guloseimas inclusive as rosquinhas que ele amava. Então, Sebastian os conduziu até a estação de trem, e a cada quilômetro vencido, Anne sentia sua taquicardia aumentar e ela olhava para Gilbert que também estava dolorosamente silencioso naquele dia. Ele não falara nada todo o trajeto mas não largara a mão de Anne um minuto sequer. Às vezes acariciava os cabelos dela distraído, outras vezes ele a trazia para mais perto de seus braços como se quisesse mantê-la junto à si por mais tempo.
Então, chegaram na estação, enquanto Sebastian levava a bagagem de Gilbert para o trem, ele e Anne ficaram sozinhos para se despedirem. Havia tanta coisa para se dizer, mesmo tanto já ter sido dito. Anne se aproximou e tocou o rosto dele, se demorando em cada linha e ondulação. Como ela o amava, e como era difícil tocá-lo sabendo que demoraria muito tempo até que pudesse fazer isso de novo. Ela não queria que ele fosse, ela queria implorar para que ele ficasse, queria dizer que precisava dele, e que não suportaria viver sem a presença dele ao seu lado, mas não disse nada, pois sabia que seria egoísmo é fraqueza da parte dela, então, se limitou a sorrir para ele, enquanto escondia toda a sua carência cuidadosamente dentro de si.
Gilbert mergulhou seus olhos nos dela, tocou seus cabelos e seu rosto suavemente, e depois disse com sua voz rouca e emocionada:
- Você não sabe o quanto é difícil te deixar aqui. Eu sinto como se estivesse faltando um pedaço dentro de mim, e só me sentirei completo quando você estiver comigo novamente. – Ele a abraçou tão forte que Anne quase não conseguia respirar. Em seguida, ele a beijou, e foi um beijo tão diferente dos outros, pois continha todas as emoções reunidas, como se todo o amor do mundo estivesse contido naquele roçar de lábios que não precisavam de palavras para dizer o que sentiam. Anne sentiu como se chegasse até as estrelas e retornasse à terra muito lentamente, sua alma entregue naquele momento tão íntimo entre os dois.
- Promete que vai pensar em mim todos os dias.- Gilbert disse em seus ouvidos.
- Você sabe que sempre foi assim e sempre será. – Ela sussurrou de volta.
- Promete que vai esperar por mim, e que nunca vai desistir da gente.
- Eu vou te esperar para sempre se for necessário. Você ê minha vida, Gilbert. – Anne disse aprofundando o abraço.
- E você a minha. Eu te prometo que vou te escrever todas as semanas, e nunca permitirei que nada te afaste de mim.- ele beijou na testa dela, a ponta do nariz, o rosto e finalmente os lábios novamente. Então, ouviram a última chamada de embarque, e Anne sentiu que infelizmente chegara a hora. Ele estava indo embora , essa era a realidade que teria que enfrentar dali por diante.
Gilbert deu-lhe um último beijo e perguntou;
- Você vai ficar bem?
- Sim, não se preocupe.
- Nunca se esqueça do quanto te amo.- Gilbert apertou-lhe a mão com carinho.
- Eu também te amo, sempre e para sempre. – Anne respondeu.
Gilbert então se virou para Sebastian e ouviu-o dizer:
- Faça uma boa viagem, meu amigo.
- Obrigado, Bash. Cuide da Anne para mim.- Gilbert disse apertando a mão do amigo.
- Pode deixar.
Assim, Gilbert entrou no trem, e ficou na janela acenando para Anne, até que desapareceu na primeira curva da estrada. O olhar de Anne ficou perdido exatamente no local onde o trem tinha sumido. Agora era real, não havia mais como imaginar o que seria quando Gilbert não estivesse mais ali, pois ele tinha ido embora e Anne tinha ficado para trás com suas mãos tristemente vazias.
- Tudo bem, Anne? - Sebastian perguntara.
- Sim.- ela disse sorrindo fracamente. – Será que podemos ir para casa?
- Claro.- Sebastian respondera.
Chegaram logo a Green Gables, e Anne agradeceu a Sebastian pela carona. Ela entrou em casa e encontrou Marilla e Matthew esperando por ela. Assim que a viu, Marilla perguntou:
- Você está se sentindo bem?
- Sim, só estou um pouco cansada. Se você não se importa, vou para meu quarto agora.
- Claro que sim. Estaremos aqui se precisar.- ela disse amorosamente.
- Obrigada, Marilla. – Anne respondeu
Muito mais tarde naquele dia, depois que todos já tinham se recolhido, Anne estava deitada em sua cama quase adormecida, quando uma dor aguda a atingiu, passando por seu abdômen, costelas e indo direto ao coração
Ela arfou e se sentou na cama, buscando por ar, a angústia cresceu impedindo-a de respirar, e então, as lágrimas vieram explodindo em soluços altos e doloridos. A dor que sentia era como uma faca que nascera do seu desespero e que nada tinha de física, era sua alma implorando por misericórdia, era seu espirito sofrendo pela distância de Gilbert. Anne se deitou na cama novamente, se encolhendo a cada crise de choro, e quando a tempestade passou, abandonando finalmente seu corpo, ela se perguntou o que seria de seus dias sem a presença de quem ela mais amava? E a única coisa da qual tinha certeza, antes da abençoada escuridão a envolver, era que sua vida só voltaria a ter sentido quando Gilbert estivesse do seu lado novamente.
GILBERT
Eram seis da manhã quando Gilbert despertou. Ainda de olhos fechados ela estendeu o braço até o travesseiro ao lado, mas não encontrou o que estava procurando. Então, ele abriu os olhos e se lembrou que Anne não estivera com ele a noite passada, pois ela decidira que o deixaria descansar e para isso, ele precisava dormir mais cedo.
Ele tinha concordado a princípio, se deixando levar pelas razões dela, mas, agora pensando melhor, ele desejara que não o tivesse feito, pois acordara sem tê-la do seu lado, e aquilo o fazia se sentir extremamente sozinho. Com que facilidade ele se acostumar a ter o corpo de Anne encostado no seu quase todas as manhãs. Às vezes eles ficavam ali em sua fazenda, ou em Green Gables sempre que tinham uma oportunidade, pois decidiram naquele último mês que estariam sempre juntos até o último minuto, mesmo isso significando que teriam que se afastar um do outro assim que nascesse um novo dia, mas na noite passada, Anne parecera sensível demais, e então preferiram se despedir assim que disseram boa noite na varanda de Green Gables.
Sua vida académica iria finalmente começar, e ele deveria estar exultante, mas não estava. Ele conseguira o que mais desejava, mas valeria o preço que teria que pagar? Valeria a pena o sacrifício de se afastar de Anne? Ele não confessara para ninguém que também tinha medo de Anne se cansar de esperar por ele e decidir que seria melhor que continuassem suas vidas separados. Ela pensava que Nova Iorque poderia mudá-lo, mas o que ela não sabia é que ele temia que a distância entre eles também a mudasse, colocando o relacionamento de ambos em risco. E o pior de tudo era que fora ele que os colocara naquela situação, e. teria que se ar com as consequências.
Às palavras de Anne na noite de Natal ainda martelavam em sua cabeça. Ela tinha razão em tudo o que dissera, ele fora egoísta e arrogante, e a deixara de fora da decisão mais importante de sua vida, mas, não fizera isso com a intenção de magoá-la, só que fora exatamente isso o que ocorrera, e ter consciência disso o estava machucando por dentro.
Eles tinham um compromisso juntos, estavam noivos e iriam se casar, mas no fundo ele sabia que compromissos poderiam ser rompidos, e um anel de noivado não era garantia de nada. E se Anne acabasse com tudo não suportando os quatro anos que demoraria para ele se formar? É de ela simplesmente deixasse de amá-lo? Tal pensamento fez Gilbert se sentar na cana sentindo sua ansiedade aumentar. Uma vida sem Anne não valia a pena, pois ela era seu alicerce, seu incentivo, sua felicidade, e se a perdesse ele estaria perdendo seu próprio coração. Se ela soubesse como o tinha nas mãos. Se ela pudesse sequer imaginar que era por ela que ele seguia em frente e sem ela nem mesmo o título de médico poderia devolver o sorriso ao seu rosto.
Gilbert se levantou de vez e se vestiu, pois percebeu que seria inútil conciliar o sono novamente. Preparou o café da manhã, e se sentou a mesa para toma-lo enquanto seus pensamentos duelavam dentro de sua mente.
Ele queria ter respostas ou mesmo uma solução para tudo aquilo mas não havia meio termo. Era pegar ou largar, e ele fizera sua escolha, mas não estava certo de que ela faria doer menos o seu coração Ele estava arriscando tudo por um sonho que crescera com ele desde de criança, mas que agora significava viver quilômetros de distância da mulher de sua vida, e de novo ele se perguntou se valeria a pena.
Por que não escolhera uma faculdade mais próxima? Por que fora tão teimoso e cabeça dura insistindo em algo que do causaria sofrimento a ele e Anne? Mas, então se lembrou do pai, e de como ele costumava dizer que se Gilbert conseguisse entrar para a Faculdade de Nova Iorque, ele ficaria muito orgulhoso dele. E foi por isso que o fizera, quisera homenagear o homem que desejara o mundo para ele, quisera que se pai se sentisse orgulhoso, mesmo que não estivesse ali para ver Gilbert triunfar. Porém, naquele tempo ainda não existia Anne e agora estava dividido entre dois amores, e tudo o que queria era que não tivesse que sofrer por antecipação. Estava feito e não havia outro remédio a mão ser seguir com os planos de meses atrás. Anne dissera que estaria sempre ao seu lado e ele teria quer confiar que ela não desistiria no meio do caminho.
Gilbert voltara para o quarto, pois ainda era muito cedo e ficou esperando as horas passarem. O tique taque do relógio contava cada minuto que faltava para o início de sua grande aventura. Lá fora no vento balançava as árvores, e a neve que caíra a noite anterior deixava o dia ainda mais gelado. Tinha sonhado com um dia mais alegre para sua partida, mas a cor cinzenta do céu naquela manhã parecia refletir como ele se sentia por dentro.
Mas, precisava se alegrar e afastar aquela depressão absurda. Aquela despedida não tinha que ter um ar tão trágico. Seriam quatro anos difíceis, pois ele teria que se dedicar aos estudos integralmente, mas sempre voltaria para cada, isso era prioridade ara ele também, Anne vinha em primeiro lugar em tudo, e não permitiria que ela se arrependesse de tê-lo apoiado naquela empreitada. Sua carreira era muito importante para ele, mas o amor de Anne valia mais.
- Gilbert, está pronto? Temos que ir agora ou vamos nos atrasar. – Sebastian disse ao pé da escada.
- Já estou indo.- ele pegou sua mala, deu uma última olhada no quarto onde passara metade de sua vida E onde vivera tantos momentos importantes, e se dirigiu para a porta. Mentalmente também se despedira do pai, dizendo que seria o melhor médico que conseguisse ser para que ele onde estivesse pudesse realmente se orgulhar de Gilbert.
Mary o esperava com Shirley nos braços perto da escada, e deu-lhe um beijo no rosto quando ele chegou no último degrau.
- Faça uma boa viagem meu querido e cuide-se bem.
- Obrigado. E cuide bem dessa coisinha linda. – Gilbert beijou o rosto de Shirley com todo o amor de irmão que sentia por ela. Ele pegou seu casaco de inverno e o vestiu. Deu um último abraço em Mary e entrou com Sebastian no carro.
Quando chegaram à Green Gables Marilla veio atendê-los a porta.
- Bom dia, meus queridos. Entrem, vou chamar a Anne.
Gilbert se sentou na sala enquanto Sebastian entrou na cozinha para conversar alguns minutos com Matthew. O olhar dele se perdeu no fogo da lareira ouvindo o som suave de madeira se queimando.
Tinha tantas coisas para dizer a Anne. Durante o caminho até ali ele repassara tudo o que diria a ela, repetindo e repetindo até que memorizou cada palavra.
Porém, ao ouvir passos na escada ele se virou e esqueceu tudo o que planejara dizer. Lá estava sua garota, maravilhosa como sempre, o sorriso mais brilhante que o sol no inverno e que era capaz de derreter todo o gelo que sentia dentro de si.
Ele se levantou devagar, memorizado cada detalhe, do corpo dela, do rosto, dos cabelos e até mesmo cada nuance daqueles incríveis olhos azuis presos nos dele naquele momento, trazendo do fundo de suas memórias todos os momentos que viveram juntos.
Ele relembrou cada beijo, cada carícia, cada risada, a paixão entre eles sempre presente, cada palavra dita no calor do momento, cada abraço e cada toque de suas mãos. Tudo aquilo ele levaria com ele, não importava onde estivesse, aquelas recordações seriam como joias preciosas a darem-lhe forças ao longo daquela jornada que ele iniciaria dali a alguns momentos. Então ela estava em seus braços, e disse-lhe com a voz cheia de amor.
- Está pronto para começar uma nova vida? – ele ficou em silencio por um segundo antes de responder, pensando na pergunta que ela lhe fizera, Estava realmente pronto para aquela nova vida? Ele não soube responder Precisaria de tempo para pensar em tudo aquilo, pois naquele momento suas emoções estavam misturadas em um turbilhão de muitas outras perguntas sem respostas.
Acho que vou precisar de alguns dias até que me acostume com ideia. Custo a acreditar que isso está mesmo acontecendo.- estava sendo sincero, realmente tudo era muito novo, e levaria tempo até que sua cabeça conseguisse ordenar seus pensamentos, De novo Anne falou trazendo um pouco de normalidade para a sua confusão mental.
- Mas, está, e você merece todos os méritos por sua dedicação e esforço. Quero que saiba que estou muito orgulhosa de você. – as palavras de Anne lhe trouxeram lágrimas aos olhos, ele ficou envergonhado de chorar na frente dela como um garotinho magoado.
- Queria tanto que fosse comigo. – naquele momento louco em que suas emoções se inflamavam, ele a tomou nos braços e implorou mentalmente que ela fosse com ele, que ela dissesse que não poderiam ficar separados, e que o seguiria para onde quer que ele fosse. Mas ele sabia que nunca pediria isso a ela, pois Anne também tinha os próprios sonhos, e não poderia simplesmente deixar de vivê-los para estar com ele. Sua carência era que falava naquele momento, e ele não podia ser tão egoísta.
A voz de Sebastian lembrou-os que tinham que partir, pois se não se apressassem Gilbert perderia o trem.Assim, Matthew e Marilla vieram lhe desejar boa viagem, e a boa senhora o encheu de mimos, não esquecendo de acrescentar as suas tão amadas rosquinhas
Em seguida, seguiram para estação de trem em total silêncio quebrado apenas pelo barulho do carro rodando pelas estradas geladas. Gilbert queria dizer algo que fizesse Anne sorrir, pois ela estava tão quieta e séria, mas nada lhe ocorria, suas frases espirituosas e palavras engraçadas tinham desaparecido de sua mente. Ele a trouxe para mais perto, aspirando o perfume dos cabelos dela. Ia sentir falta daquele cheiro suave que ele sempre sentia em seu travesseiro de manhã. Gilbert escorregou as mãos até a cintura dela, apertando-a ainda mais contra si. Queria mantê-la assim para sempre, sentir o calor dela em sua pele a vida inteira, e nunca deixar que ela se perdesse dele.
O caminho até a estação foi dolorosamente curto. Em poucos instantes já tinham chegado. Gilbert pegou na mão esquerda de Anne e ficou olhando para ela, enquanto ela estendia a direita e tocava seu rosto. Ele fechou os olhos querendo mais daquela carícia. Seu amor por ela brilhou em seu coração como brasa quente fazendo-o respirar fundo para aliviar a pontada de dor que sentiu vibrar em seu peito. Ele abriu os olhos e correu as mãos pelos cabelos dela, se demorando mais naquele rosto belo cheio de sardas adoráveis. Ele a amava com todas as suas forças, e sabia que esse amor jamais diminuiria ou morreria, Anne estava em seu sangue e corria por suas veias, e onde quer que ele estivesse ela também estaria. As palavras saíram de sua boca suaves e vibrantes e ele não mais conseguiu contê-las.
- Você não sabe o quanto é difícil te deixar aqui. Eu sinto como se estivesse faltando um pedaço dentro de mim, e só me sentirei completo quando você estiver comigo novamente. – ele a abraçou e beijou como se fosse a última vez, como se ele precisasse da energia dela para continuar vivendo. Ele fraquejou novamente, enquanto a tinha em seus braços, ele sentiu que não suportaria aquela separação. Era duro demais, dolorido demais, ficar sem Anne era como parar de respirar. Ela era tudo entre todas as coisas, e ele não conseguiria viver sem ela. Mas, então seu bom senso prevaleceu, sabendo que agora era tarde demais para recuar, em um fio de voz ele disse quase sussurrando:
- Promete que vai pensar em mim todos os dias.- talvez fosse demais pedir aquilo para ela, talvez ele não tivesse direito nenhum de fazê-lo, mas ele precisava que ela lhe dissesse algo, qualquer coisa que lhe desse coragem para continuar.
- Você sabe que sempre foi assim e sempre será. – eram palavras mágicas que saiam dos lábios de Anne, elas o aqueciam por dentro.
- Promete que vai esperar por mim, e que nunca vai desistir da gente.- aquilo era mais que uma promessa, ele sabia, mas naquele momento, Gilbert precisava ter certeza de que quando voltasse ela ainda seria dele. E que se danasse a cautela que lhe dizia para ir com cuidado, ele precisava ter certeza de que não a perderia.
- Eu vou te esperar para sempre se for necessário. Você ê minha vida, Gilbert. – Ele quase chorou ao ouvir aquilo. Tudo o que queria era pertencer ao mundo dela para sempre.
- E você a minha. Eu te prometo que vou te escrever todas as semanas, e nunca permitirei que nada te afaste de mim.-. Anne precisava acreditar que ele falava a verdade e que em seu coração ela era a única e absoluta. Trocaram mais um beijo e depois outro, dessa vez de maneira mais intensa. Como ele se arrependia de não ter passado com ela a noite anterior e feito amor com ela até o amanhecer.
- Você vai ficar bem? - ele perguntou quando finalmente se separaram
- Sim, não se preocupe.- ela lhe deu um meio sorriso, e ele beijou a ponta de seu nariz dizendo:
- Nunca se esqueça do quanto te amo.- as mãos se entrelaçaram pela última vez.
- Eu também te amo, sempre e para sempre. – Gilbert guardou aquelas palavras em seu coração.
Sebastian se aproximou para se despedir, pois o último chamado de embarque acabara de ser dito pelo auto falante da estação.
- Faça uma boa viagem, meu amigo.
- Obrigada, Bash. Cuide da Anne para mim.- pelo menos teria a certeza de que ela estaria em boas mãos.
- Pode deixar.- Sebastian respondeu.
Gilbert entrou no vagão do trem sem tirar os olhos de Anne um minuto sequer. Ele admirou sua figura parada na plataforma, acenado para ele sem derramar uma lágrima sequer. Sua garota era tão corajosa, ele pensou. Mais corajosa do que ele havia sido. Sua alma estava pesada de angústia, e ele tentava a todo custo controlar o pânico que o envolveu. Estava fazendo o que era certo? Ir para Nova Iorque era mesmo o que queria?
O trem fez uma última curva e Anne despareceu do seu campo de visão. Ele se sentou em sua poltrona, olhando pela janela enquanto uma lágrima solitária escorria pelo seu rosto. Logo, outras vieram e seguiram o caminho da primeira, mas ele nem percebeu. Estava entorpecido demais pelas emoções que o inundavam naquele momento, e somente conseguia pensar na garota ruiva que deixara para trás, e que fora e sempre seria a única luz da sua vida.
ANNE E GILBERT
Anne não sabia quantos dias haviam passado desde que Gilbert fora para Nova Iorque, pois desde o primeiro dia entrara em uma inercia total. Ela fazia todas as tarefas que eram esperadas dela em Green Gables, e depois passava o resto do dia sentada em sua janela olhando para sua cerejeira favorita, e pensando em seu noivo.
Marilla olhava para ela todos os dias e ficava cada vez mais preocupada, pois Anne se fechara como uma ostra e não falava das coisas que mais a magoavam. Marilla acreditava que se ela se abrisse, o sofrimento seria menor, mas percebeu que a menina não mudaria de ideia mesmo que implorasse, por isso, pediu ajuda a Josie, que passou a visitar Anne todos os dias.
Josie tentava conversar com ela, mas Anne somente respondia por monossílabos, se mostrava tão esgotada emocionalmente que até falar qualquer coisa parecia ser um enorme esforço para ela. Mesmo assim, Josie continuou a ir até Green Gables todas as tardes e ajudava Anne com as refeições que ela também passara a fazer no quarto, pois não suportava o olhar de pena de Matthew e Marilla. Ela estava sofrendo a ausência de Gilbert e não conseguia dividir sua dor com ninguém. Estava agradecida por Josie fazer-lhe companhia, pentear-lhe os cabelos e tentar fazê-la sorrir, mas era inútil, sua alegria tinha ido embora no instante em que Gilbert entrara naquele trem, e nada parecia trazer sua luz de volta.
Ela sabia que tinha que reagir, que não poderia ficar daquela maneira indefinidamente. Tinha sua casa para construir e sua faculdade logo se iniciaria, por isso, precisava urgentemente sair daquela tristeza que tomara conta dela, e com a qual não estava sabendo lidar, mas era tão difícil e ela se sentia tão cansada que até acordar de manhã se tornara um grande sacrifício. Anne passara da fase de chorar, pois não lhe sobrara nenhuma lágrima, e evitava qualquer pensamento que a levasse por esse caminho, se sentia só e abandonada, mesmo sabendo que nada disso era verdadeiro. Marilla e Matthew a cercavam de amor e cuidados, Josie estava sempre por perto, e Mary e Sebastian a visitavam sempre com a pequena Shirley. Ela apreciava os esforços de todos eles para tentar fazê-la se sentir melhor, mas eles não entendiam que a única pessoa que ela queria era Gilbert e ele não estava mais ali, e ela não sabia quando ele viria para casa.
As cartas dele começaram a chegar uma após outra todas as semanas, e eram os únicos momentos nos quais se via alguma luz nos olhos dela. Ela se trancava no quarto e lia as cartas centenas de vezes até que soubesse as palavras de cor. Eram palavras lindas, cheias de amor e carinho que aqueciam o coração dela tão magoado, mas ele nunca dizia quando viria para casa, e essa incerteza a estava devorando por dentro.
Certa tarde estava sentada no mesmo lugar de todos os dias, quando ouviu a porta do seu quarto se abrir. Ela se perguntou irritada, quem poderia ter aparecido ali naquele momento sem avisar disposto a perturbar-lhe a paz? Quando olhou para a porta seus olhos se arregalaram de espanto ao ver quem tinha chegado.
- Vai ficar parada ai ou vai vir cumprimentar sua velha amiga? - Diana disse cheia de humor ao mesmo tempo penalizada ao ver o estado em que Anne se encontrava, o que tinha acontecido com sua querida amiga? Estava tão pálida que seu rosto chegava a ficar translúcido quando tocado pela luz do sol. Não conseguia acreditar que aquela era a mesma Anne com quem falara da última vez antes de ir para Paris.
Anne se levantou em um salto, correu para Diana e atirou seus braços em volta do pescoço da menina chorando copiosamente.
- Como soube que eu estava precisando tanto de você? – ela perguntou a sua velha amiga por entre lágrimas.
- Josie me escreveu na semana passada me contando toda a história, Então, larguei tudo em Paris e cá estou eu. – a alegria de Diana era contagiante, e mesmo em meio a sua dor, Anne se viu sorrindo. Sempre fora assim entre as duas, elas sempre sabiam o que dizer ou fazer para que a outra se sentisse feliz.
- Mas e o Jerry? - Anne quis saber.
- Ele já se adaptou bem em Paris, e pode muito bem se virar sem mim por um tempo. Eu não poderia deixar de vir até aqui sabendo o quanto você está sofrendo com a ida de Gilbert para Nova Iorque- ao ouvir o nome do noivo, Anne começou a chorar de um jeito que não chorava a dias. Diana a abraçou, levando-a de volta para a poltrona, e a fez se sentar novamente, pois Anne tremia tanto que ela temia que a menina desmaiasse.
- Anne, não fique assim. Eu estou aqui e vou cuidar de você. Não sofra desse jeito, você sabe que o Gilbert vai voltar, você somente tem que ser paciente.
- Eu sei, mas é que ele me faz tanta falta que dói demais não tê-lo aqui. – ela balançou a cabeça para afastar as lágrimas que ameaçavam a rolar novamente. Não queria dar a impressão para Diana de que estava se lamentando.
- Eu vou te ajudar a superar essa fase, afinal é para isso que servem os amigos. Que tal se tomássemos um chá? E depois quero passear no jardim, estou louca para ver o canteiro de rosas de Marilla.
Anne sorriu concordando. Como estava grata por Diana ter voltado, devia isso a Josie. Agora poderia acordar todos os dias, sabendo que sua vida sem Gilbert seria mais suportável. Passaram a tarde toda conversando, colocando os assuntos em dia como nos velhos tempos, e quando Diana foi embora Anne já se sentia bem melhor para alivio de Marilla que mal podia acreditar que sua menininha voltara a sorrir.
Nos dias que se seguiram, Anne foi voltando ao normal aos poucos. De manhã ajudava Marilla com as tarefas da casa, e a tarde Diana aparecia para lhe fazer companhia. Tomavam chá juntas, jogavam monopólio, visitavam velhos conhecidos, e quase sempre Josie se juntava a elas para irem ao clube de leitura e discutirem sobre algum autor em especial. Anne voltara a ler, e esse bom hábito lhe trouxera enorme benefícios, pois aguçava sua imaginação, refinava seu vocabulário, fazia-a se sentir menos solitária quando estava sozinha entre as quatro paredes de seu quarto.
A menina ainda sentia muita falta de Gilbert, mas agora não doía tanto quanto antes. Estava aprendendo a ser paciente e menos ansiosa em relação as coisas de sua vida. Porém, quando a saudade se tornava insuportável, ela visitava todos os lugares que já estivera com ele, e bastava que fechasse os olhos para que Gilbert estivesse com ela novamente. Anne conseguia ver o seu sorriso, ouvir a sua voz, e até sentir o toque aveludado dele em sua pele, e ela quase se sentia feliz de novo.
Naquela manhã, Marilla saiu de casa bem cedo, pois dissera que tinha que ajudar Rachel com seu bazar da igreja, e Matthew fora para a cidade renovar seu estoque de sementes, e Anne se viu sozinha em Green Gables sem ter muito que fazer. Então, ela trocou de roupa, deixou uma mensagem sobre a mesa dizendo aonde iria, e partiu em direção à praia.
O céu estava azul e soprava uma brisa suave, Anne estendeu uma toalha na areia e se sentou enrolada em um cobertor que trouxera em sua mochila. A calmaria do lugar a envolveu completamente, enquanto ela observava o vai e vem das ondas em um mar de cor inigualável. No inverno a praia ficava deserta, e muitas poucas pessoas se aventuravam em aparecer por lá, por isso, Anne adorava vir ali naqueles dias, pois sentia como se aquele lugar lhe pertencesse. Ela estava tão entretida com o cenário a sua frente, que não viu que a poucos metros um rapaz a observava. Ele viu quando a brisa bagunçou os cabelos ruivos dela, e impaciente ela colocou a mecha rebelde atrás da orelha. Um gesto tão simples, mas que fez o coração dele cantar de alegria e se agitar feito louco em seu peito.
Tinham sido tantos dias sem ela, como se uma década houvesse passado sem que pudesse chegar perto de Anne, e agora estava em casa e mal podia esperar para envolvê-la em um abraço. Ele se aproximou devagar, pois não queria assustá-la desnecessariamente, e então parou a poucos centímetros dela, esperando que a ruivinha notasse sua presença.
Anne continuou olhando para o mar encantada com tanta beleza, mas de repente sentiu que o sol escurecia como se alguém o tivesse escondido de alguma maneira, ela olhou para o lado tentando entender o que estava acontecendo e foi quando o viu.
Ela custou em acreditar em seus olhos, balançou várias vezes a cabeça sem conseguir acreditar que Gilbert estava ali. Ela fechou os olhos e tornou a abri-los para ter certeza que não era uma miragem, e que sua saudade não a estava enganando trazendo-o direto de seus sonhos para aquela praia deserta como uma ilusão de ótica. Mas então, ela entendeu que ele era real, que o seu amor tinha voltado para casa, e estava ali a poucos passos dela, bastava que se levantasse para conseguir tocá-lo, e foi o que ela fez, atirando-se nos braços dele, murmurando o nome dele baixinho, enquanto Gilbert a enchia de beijos, e suas mãos deslizavam pelo corpo dela sem parar.
Anne somente soube o tamanho de sua saudade quando sentiu os lábios dele sobre o seus, e quando sentiu o calor bom que vinha de Gilbert e que enchia toda a sua alma de luz. Ele parou de beijá-la, pois estava sem fôlego e disse com seu olhar carregado de desejo:
- Vamos para casa? – ela apenas balançou a cabeça concordando, e caminharam de mãos dadas até a fazenda dele sem dizer uma palavra. Não precisavam conversar naquele momento, poderiam fazer isso depois.
Assim que ele abriu a porta, Gilbert a pegou no colo e subiu as escadas tão rápido que quando Anne percebeu já estavam no quarto dele. Ele tornou a beijá-la agora com mais ousadia, sua língua se enroscando na dela, enquanto suas mãos a puxavam para mais perto. Ele tirou seu casaco, em seguida o seu vestido, as luvas de inverno, e por último seu lingerie de renda preta. Gilbert olhou-a da cabeça aos pés por um segundo, como se quisesse se lembrar de cada curva dela, e Anne sentiu seu corpo reagir àquela inspeção tão íntima. Deu passo à frente e colou seu corpo no dele, que também estava completamente nu naquele momento, e percebeu a respiração de Gilbert mudar.
Ele queria amá-la devagar, e prolongar cada momento ao máximo, mas a falta que sentia de Anne fez seu corpo agir diferente do que ele desejava, e ele foi pego de surpresa pela onda de desejo que tomou conta dele quando sentiu sua pele tocar a dela. Assim Gilbert a puxou para a cama, seu corpo cobrindo o dela, e seus lábios saboreando a cada centímetro dela até que Anne suspirou, arranhando a pele de suas costas de leve. Ele a queria na mesma intensidade que Anne o desejava e então entraram na mesma sintonia, e no mesmo ritmo do amor. Os movimentos dela eram lentos, e ela o prendeu em sua teia de toques e carícias até que fez Gilbert implorara por ela. E Anne se entregou como sempre o fizera e sempre o faria, porque ninguém no mundo a faria se sentir tão mulher como Gilbert, e quando o rapaz olhou para ela com seus cabelos ruivos revoltos, seus lábios entreabertos e os olhos azuis quase violetas, ele teve a impressão que estava vendo uma deusa cuja sensualidade ultrapassava quaisquer limites da realidade e que o seduzia com apenas um toque de suas mãos.
Ele a fez sua enquanto trocavam mais beijos molhados, enquanto seus corpos suados atingiam o prazer máximo de seus sentidos. Assim que as batidas de seus corações voltaram ao normal e a magia do momento foi sumindo aos poucos, Gilbert rolou para o lado e olhou para ela fixamente.
- Amor, o que você andou fazendo consigo mesma? Você perdeu peso, não é? – ele disse tocando o rosto dela com carinho.
- Foi tão difícil ficar sem você que simplesmente nada tinha graça. – ela baixou a cabeça envergonhada. Tinha dito a ele que ficaria bem, e não fora sincera.
- Ei, olhe para mim. Não estou zangado com você. – ele pegou no queixo dela e a fez olhar para ele. - Simplesmente me preocupa o fato de você ter ficado tão mal por minha causa.
- Não foi culpa sua, eu é que não soube lidar com a situação de outra maneira. Como conseguiu me encontra na praia?
- - Matthew me contou. Ele disse que você deixou um bilhete contando onde estava, e fui correndo te encontrar.- ele a puxou para os braços dele, encaixando seu corpo no dela, – Senti tanta sua falta, achei que não suportaria ficar longe de você. Passei muitas noites em claro, sem conseguir dormir pensando em você, me acostumei tanto em dormirmos quase todas as noites juntos que senti minha cama dolorosamente vazia a cada manhã, sem o calor de seu corpo e o perfume de seus cabelos em meu travesseiro. Eu sabia que seria difícil, mas não que fosse intolerável. Me atirei nos estudos, pois foi a única maneira de aguentar meus dias vazios, mas as noites eram piores, porque a lembrança de seu rosto me perseguia em meu sono e eu passava a madrugada toda na janela, olhando as luzes de Nova Iorque desejando fazer amor com você. – Ele beijou os cabelos dela, e suas mãos pararam na base da espinha, massageando-a de maneira relaxante. Anne estava hipnotizada pelas palavras e o toque dele, e tudo que desejava era que Gilbert a amasse de novo e de novo até que seus corpos fossem exauridos da saudade que sentiam um do outro.
- O que faremos, Gilbert? Eu tenho tentado fazer tudo que combinamos, mas confesso que não consigo sem você.
- Não se preocupe, meu amor. Tenho boas notícias. Por causa de toda minha dedicação, fui convidado para trabalhar no laboratório da faculdade, em um grupo de pesquisa. Terei que trabalhar e estudar mais horas, mas isso me dá o direito de folgar todos os fins de semana, e poderei vir para casa.
- O que? - ela tinha ouvido direito? Gilbert viria para casa todos os fins de semana.
- É isso mesmo que ouviu. Não te disse que eu daria um jeito? Não teremos mais que ficar se nos vermos por períodos longos e incertos. Podemos nos ver todos os fins de semana.
Os olhos de Anne brilharam como duas estrelas no céu em uma noite enluarada, e o sorriso que ela deu a Gilbert o fez perceber o quanto aquela notícia a deixara feliz. Seu sol estava de volta, sua Anne voltara para ele. Assim, eles se amaram de novo, e em um último momento de lucidez, antes de mergulhar de novo no fogo da paixão de Gilbert, Anne se lembrou que não falara para ele sobre a volta de Diana. "Contarei para ele amanhã. ", ela decidiu, e se deixou levar de novo pelos lábios dele nos seus que lhe prometiam o paraíso, e beijos molhados de amor ao amanhecer.
Este capítulo foi difícil de escrever, pois envolve muitos sentimentos e confesso que chorei em alguns momentos, pois parecia que sentia a mesma dor dos personagens. Espero que gostem e comentem.
Beijos.
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